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CORONA VÍRUS EM NEVERLAND

   Este texto é escrito por inspiração de um belo artigo de Luiz Felipe Pondé. A filosofia que ele expressa é 99% a minha. Algo me incomodava nesta crise mundial, um certo mal estar indefinido, e Pondé conseguiu desanuviar minha mente. O que ele escreve colocou a primeira marcha neste meu escrito. Aqui vão as outra quatro.
  Convivo com duas classes sociais. A classe média e a classe dos que lutam para comer. Quando pensei em escrever este desabafo, imaginei que só as classes mais abastadas poderiam ser alvo do que falarei. Mas agora percebo que não. Mesmo os mais pobres, aqui no Brasil, São Paulo, vivem na mesma ilusão. Para eles a coisa é ainda pior. Eles não têm como pagar pela ilusão. Vamos ao que Pondé disse e ao que eu falo do meu ponto de vista.
  O vírus escancara a fragilidade de um certo tipo de pessoa. Aquela que vive na ideia de que tudo é possível se voce desejar. O corpo é meu e faço com ele o que quero. Mas não só isso, também a ideia de que a vida é minha e ela está aqui para me servir. A vida e a existência vistas como um tipo de serviçais. Pessoas que acreditam no "direito à felicidade", uma invenção fabricada, e portanto artificial, criada ao fim da segunda guerra mundial. Desumana no sentido de que nada na humanidade predispõe à felicidade. A vida é uma luta, uma guerra, uma disputa. É assim para o esquilo, para o macaco e para o tigre. A vida não é um desenho da Disney. Os animais estão em constante e eterna luta e se voce crê que o humano é apenas mais um animal, e não um filho de Deus, então saiba que sua vida é como a do salmão, briga por sobreviver.
  A vida é assim e não há como escapar. Mas o mundo de 2020, na verdade o mundo desde 1945, consegue fazer com que ignoremos isso. Podemos passar vinte ou até 60 anos de nossa vida  crendo que Bambi existe e que se " a gente se unir e quiser com bastante vontade, o bem será de todos". Até que um dia, sozinho na sala de espera de um médico, voce descobre ter um câncer. Então a vida Disney acaba. E voce descobre que a leoa que morria de fome na savana, cercada por hienas, era igual a voce. Seu corpo te trai. Sua mente te condena. Bem vindo à natureza real, Bambi. A vida é lutar por viver. A felicidade é apenas uma miragem criada por gente que nunca achou que ia ter de sobreviver. Que ia apenas tentar ser feliz.
  O vírus joga na cara de 3 bilhões de pessoas, ao mesmo tempo, que a morte existe. Que seu condomínio não te protege dela. Que todos podemos morrer amanhã. E veja que coisa:  Provavelmente sua morte será de câncer! Educados para crer que desejar é poder, e que a vida é a busca pela felicidade e não pela sobrevivência, nos tornamos histéricos com essa afronta desse vírus maldito. O pavor nos domina. E as hienas, felizes, esfregam as mãos.
  Usamos então a antiquíssima válvula de escape. Um bode expiatório. A culpa pela peste era do judeu, era do feiticeiro, era do bárbaro. Agora é do chinês, é do Bolsonaro, é do italiano. Queremos crer que há um culpado para assim podermos o eliminar, e o eliminando vencer a morte. Que infantil ainda somos! O inimigo é um vírus. E ele pouco se lixa para suas opiniões. Não comer carne ou fazer ioga não vai te salvar. Na vida todos nós morremos no final. Hoje, amanhã ou em 2100.
  Para a classe média, essa vida Disney é absoluta. A morte não existe e as pessoas do meu meio são boas e positivas. Para os mais pobres percebo que já surgiu o mesmo fenômeno. A pessoa não tem o que comer, mas vive na fantasia de que sua vida é um filme policial em Los Angeles, que ela é um astro do Rap, ou que sua vida é a busca da felicidade, e que desejando com fé, ela virá. Como diria Paulo Francis: weeeeeellllll........
  O movimento hippie aconteceu porque pela primeira vez os adolescentes não precisavam trabalhar. O capital criou tanta riqueza que o mundo viu um fenômeno inédito: gente de 15 anos tendo tempo livre e dinheiro pra consumir. Surgiu a indústria pro jovem, indústria que hoje é hegemônica. E jovens têm desejos. E o comércio os atendia e atende. Já. E ser feliz é o maior dos desejos.
  Problema: Claro que ninguém sabe o que é ser feliz. Mas não faz mal. Vamos querer algo indefinível. Vamos pagar por ele. E é aqui que entra o texto de Pondé: Vamos nos deprimir por ele. Depressão óbvia: Se voce quer algo que não sabe o que é, voce jamais encontrará. E ao não encontrar vai se deprimir. Pior, se condenará por ser incapaz de o encontrar. Imaginará que todos os outros são felizes e que voce não é.
  Pois bem. Junte um universo de iludidos estilo Disney, crentes na bondade natural do mundo, e junte à deprimidos que falharam em achar a felicidade dentro desse mundo Disney. Jogue então um vírus sobre eles, o que resultará?
  Os deprimidos dirão: Eu avisei. E com um sorrisinho de superioridade irão prognosticar: vai piorar muito! Que satisfação ver os que voce imaginava felizes tão apavorados, né?
  Os crentes no mundo fofo argumentarão: Há algo de errado neste NOSSO mundo perfeito!  O mundo é maravilhoso e a natureza é benéfica. São eles ( chineses, bolsonaristas, italianos, ricos, americanos, petistas ) os culpados! Eles destroem a nossa Neverland!
  Ambos são o resultado de cinco gerações que jamais viram uma guerra ou tiveram de enterrar quatro ou cinco irmãos ainda bebês. ( Calma! Estou escrevendo pra voce. Não para um sírio ou um afegão. E se voce vive na periferia, e teve meia família perdida no tráfico, voce sabe que não é de voce que falo ). Essa geração, que pega inclusive os eternos adolescentes de 55 ou 65 anos, jamais cresceu e jamais desejou crescer. Eles exibem imaturidade como troféu. Alcançar a felicidade passa por ser jovem pra sempre. Somos tão burros que não notamos que a fase mais dura da vida é exatamente a adolescência. Viver 50 anos nela é coisa de masoquista hard. Todos o somos.
  Pra esse povo a palavra serenidade não existe. Como não existe a palavra responsabilidade. Honra. Abnegação. Pragmatismo. São esses que esperam, como todo teen, que um pai resolva tudo por eles. E esse pai se chama estado. Igreja. Grupo. Se a morte nos ronda, o governo que nos livre dela. Se a fome aparece, o pai que nos alimente.
  Somos covardes. Vergonhosamente covardes. Acreditamos realmente que Bambi é mundo real. Que temos o direito de ser Peter Pan. Que a Neverland é nossa por direito de nascença.
  Meu pai foi da última geração a ignorar a ideia de felicidade. Nascido em 1926, no fim do mundo, ele fazia uma cara de surpresa absoluta quando eu reclamava, aos 14 anos, não ser feliz, não estar realizado, não ser livre. Usando a linguagem dele, meu pai dizia:
Que porra de conversa é essa? Estuda e trabalha, a vida é só isso. Seja bom e honre quem voce ama. Felicidade....que ideia mais idiota...
  Para meu pai, esse vírus seria apenas mais uma das muitas mortes que ele viu.
 Mas para nós, que horror, o vírus nos joga na cara que apesar do smart phone da academia, a morte é democrática, irreparável e invencível.
 

CONTRA UM MUNDO MELHOR - LUIZ FELIPE PONDÉ

     Pondé é um cara de grande importância pra mim. Lendo seus escritos na Folha, lembrei, com alegria, dos textos de Paulo Francis. Não que eles se pareçam, mas Pondé compartilha com Francis o desejo de remar contra o esperado, o comum, o bem aceito. Ele consegue isso dizendo apenas aquilo que muitos pensam mas evitam dizer. Vivemos o tempo da hipocrisia, fingimos não ter preconceitos, não ter impulsos violentos, fingimos uma civilidade que na verdade não é civilizada, é apenas covardia. O espírito da manada voltou em forma de ovelha. Ovelha do bem, multicolorida.
    Ele cunhou um dos termos que mais gosto: o inteligentinho. Nada define melhor o povo que serve água aromatizada, ceviche e fala sobre ecologia light que a palavra inteligentinho. O inteligente mirim recicla lixo, não fuma e só usa drogas naturais. Ele é um carinha que respeita as mulheres, deixa os filhos livres para experimentar tudo ( desde que seja do bem ), e tem um vira lata salvo do abrigo. Há um texto neste livro, hilário, que descreve esses seres iluminados.
   O livro, curto, é composto por alguns textos. Pondé reafirma sua posição como trágico. Ser trágico é ser o anti-inteligentinho: saber que não temos poder nenhum sobre o destino e sobre nossa vida. Inclusive e principalmente sobre nosso corpo. Os gregos sabiam que éramos joguetes nas mãos dos deuses. Deuses que eram como reis temperamentais. Mudavam de humor e com isso nos castigavam ou protegiam. Nada na vida grega escapa ao humor imprevisível desse destino. Nossa vida é apenas um barco perdido num mar feito de acaso.
   Gosto desses textos, mas Pondé me conquista nos dois últimos: aquele que fala de Jó e da Biblia Hebraica. Fico espantado no modo como Pondé descobre a validade do pensamento judaico. A imagem do vazio, do deserto, do grão de areia, do nada...Somos um grão de areia no Sinai. Deus, um vazio, um nada, nos concede a graça, mas apenas quando conseguimos nos aproximar desse vazio. A solidão necessária à essa graça. Me surpreendo ao notar que essa aproximação de Pondé, essa quase aceitação da fé, se constrói do mesmo modo e pelos caminhos que a minha: o niilismo, a negação do sentido, a descoberta da beleza, o vazio cheio de nada, a graça. E o silenciar.
   Pondé diz escrever cada vez menos. Isso se deve à desconfiança em relação às palavras. Mas também à inutilidade de fazer. À preguiça que advém do nada. E, adendo meu, ao horror ao excesso de "coisas", sintoma do mundo moderno, mundo lotado de objetos, palavras e acontecimentos fúteis.
   Leia Pondé. Este é um bom começo. ( No texto acima cito alguns pontos do livrinho ).

PONDÉ

   Houve um tempo em que eu lia e escrevia sobre Pondé. Mas me desinteressei. Tive uma sensação de que ele começava a se repetir e pior, parecia querer criar choque. O texto sobre o Natal, acho que em 2012, me deixou chateado e desisti.
  Agora vejo uma entrevista com ele e fico impressionado. O caminho que ele segue é muito parecido com o meu. Ele vê a absurda pretensão dos "puros", o perigo dos grupos e que, como filosofia, o cristianismo é muito mais sofisticado que qualquer outra corrente de pensamento. Pelo simples fato de que o cristão sério, verdadeiro, se entende como ser imperfeito, falho, e assim ele não pode se guiar por sua própria opinião. A vaidade se coloca como mal maior e o ego como a grande infelicidade. Esse, modo de viver que confesso ainda estar longe de alcançar, seria o caminho virtuoso.
  Me impressiona também o fato de Pondé perceber que ciência é também questão de fé. Você crê no big bang ou na evolução e assim joga todo o resto fora. A dúvida se desfaz. Crer em Darwin ou em Freud se torna um consolo. Idêntico a fé em Deus. Consolo e modo de não se inquietar. Com a diferença de que o cristianismo te dá um código de postura perante a vida, a dor e o próximo. A ciência não.
  E para minha grande satisfação Pondé cita Chesterton, o mais belo dos pensadores! Bem vindo de volta a meu coração homem!

O MUNDO DOS FOFOS

   Querido caro Pondé...Voce voltou a ter 14 anos? Teu texto de ontem parece coisa de teen que levou fora da namorada! Nele, pra quem não leu, voce diz que os fodões se dão bem com as mulheres e que os fofos levam chifres. OK. Qual a nova? Isso é verdade, concordo, mas também pode ser mentira. Depende da mulher, depende do grau de fofura e de maldade, depende de tanta coisa! Entenda Pondé, sua teoria pode ser verdadeira, mas o que me decpciona é a forma como voce a formula. Posso desenvolver?
   Digamos assim: O mal desperta paixão, o bem desperta amor. A relação de bondade fica sempre perigosamente próxima a irmandade, e a relação maldosa, incerta, violenta, está mais próxima da nossa irracional vida instintiva. Sim, o tal do "bom marido" pode ser às vezes a imagem anti-masculina por excelência. Já fui namoradão e sei o que é se sentir "traidor" de seu lado mais masculino. Casamento é coisa de mulher, isso é verdade, ele castra o macho. Mas...não existe algo de heróico também na figura do amante fiel? E o grande pai ( tipo O Sol é Para Todos, o personagem de Gregory Peck ), ele não é um super de um herói pai-viúvo-bom cidadão?
   Sim, talvez o segredo seja o fato de ele ser viúvo...ou não?
   Garotas sentem um tesão irrefreável por caras maus. Mas será que depois de se machucarem com eles, elas ainda sentem o mesmo tesão? Ou elas apenas se conformam com o bonzinho disponível? Fêmeas amam predadores, mas somos humanos ou não? Para sermos machos temos de ser solteiros forever? Ou maridos ruins? Será?
   Fui muito mau, é fato, em dois relacionamentos e confesso, elas não me esqueceram. Fui muito legal em um outro, e tomei um pé nos fundilhos. Me contradigo? É isso que sinto falta em Pondé, ele fecha a questão, dá a resposta, que é sempre superficial. Ser um marido fiel, é coragem ou é medo? Ser um bom pai, é conformidade ou é heroísmo? Nunca abrir mão de sua liberdade e de seu estilo de vida, é virilidade ou infantilidade?
   E isso como se resolve? Não se resolve! Segurança mata o desejo, fofura transforma tudo em amizade, na verdade os homens se adaptaram a mulher ( achando que elas queriam isso ) e passaram a ter deprês pós-parto, cultivar rosas brancas e discutir relação. No passo seguinte começaram a "curtir" os babys, ficar em casa e depender do salário da patroa. Sejamos sinceros, qual a mulher que sente tesão por um cara que passa talco na bunda da filha? Me contradigo? Não ia ser contra o veredicto do Pondé? O que tento é não chegar a veredicto nenhum. O cara bacana e feminista, boa gente e sem agressividade é um fofo. Há quem goste. Geralmente por falta de opção. Mas o bom marido também pode ser atraente. Se ele mantiver algo do garoto tosco que um dia ele foi. E não expor certas áreas secretas de sua vida ( que podem nada ter de tão secreto ).  Na verdade nada mudou. Ela ainda quer o rapaz cheio de graxa nas mãos e de sonhos ousados na cabeça. E que pareça querer às vezes se ir. E ele quer ainda ter seu mundo de faroeste, duelos a vencer e amigos a quem ajudar. Mas principalmente com amplas estradas, terras de ninguém.
   Dá pra casar e não abrir mão desse mundo?

QUE QUEREM OS HOMENS DAS MULHERES?...INSPIRADO POR PONDÉ.

   Os homens querem mulheres que os admirem. Simples assim. Fui feliz enquanto sentia ser admirado. E ao mesmo tempo essa era uma admiração que me relaxava. Eu podia ser infantil, frágil e bobo, ela me dava essa colher de chá. Contanto que eu continuasse a ser admirável.
   O que era ser admirável? Ser diferente do comum. A mulher procura um homem que demonstre força. Mulheres perdem o tesão ao se deparar com a fraqueza. Essa força não significa bíceps. Significa poder, decisão, coragem, algo que recorde heroísmo. Simples assim.
   No mundo do trabalho é bacana valorizar a delicadeza, os bons sentimentos, a mansidão. Faz de conta então que as mulheres gostam disso. Até gostam,,, num amigo. E algumas confundem isso com amor. Mas não. O amor quer o herói, seja o herói completo ou o anti-herói. Como diz Pondé, O Fodão.
   Em minha vida fui fodão e fui doce. Äs vezes ao mesmo tempo. Perdi sempre ao insistir na fraqueza. Ao hesitar. Ao ser gracinha. E sempre ganhei quando decidido, forte, solitário, original. A imagem do homem solitário que sabe se virar e ir sempre em frente é irresistível para uma mulher.
   O resto é papo furado.
   Daí o apelo de ricos vencedores. E ao mesmo tempo do mal aluno, do skatista, do cigano, do cowboy ou do marujo. Todos parecem fortes ao seu modo. Claro que são mais e são menos que isso. Mas o tesão feminino nasce nessa imagem. A do fodão.
   Mulheres que não gozam ou que humilham seus maridinhos delicados...A noite na cama em quem elas pensam? Naquele aluno do fundão de 1985, Naquele jogador de futebol do time vencedor. No salva-vidas calado da praia, no guitarrista de blues do bar da esquina ( que o maridinho pensa ser um fodido ). E até no bicheiro que anda de camisa aberta na rua.
   O desejo é do predador. O resto é ilusão.

AFINAL UM BOM TEXTO DE PONDÉ

   Descartar as religiões como "tolice" e colocar todas no mesmo lugar das superstições é das coisas mais idiotas que a modernidade fez. É preciso conhecer aquilo que elas falam, mesmo que voce não creia em Deus ou na Alma Imortal. Não importa. Religiões dizem muito sobre aquilo que somos e mais que tudo, afirmam verdades que continuam a ser verdadeiras. Para sempre. Ou pelo menos enquanto formos humanos.
   A base de toda mísitica é sempre a mesma: a morte do Eu. Um faquir sofrendo sobre pregos ou fogo, um monge se isolando do mundo comum e se esquecendo de si-mesmo, um "soldado de Allah" ou uma freira trabalhando entre famintos africanos...Todos buscam a mesma coisa, esquecer o Eu. Não há religião onde o Eu manda. Cristo sacrificou sua vida, seu Eu por uma verdade. Assim é com toda religião, pagã, cristã ou oriental. A morte da individualidade, no êxtase dionisíaco ou na negação da vontade individual.
   Porque, como disse Pondé, ser um Eu cansa. Porque o Eu só existe como desejo. Nós somos um Eu quando queremos algo. Ou quando queremos ser Eu. Ele nos pede coisas, atos, vitórias, conquistas e auto-realização. Pior que tudo, ele se pensa único. O Eu sempre sonha ser o protagonista da vida.
   As religiões sabem. SOMOS FELIZES APENAS QUANDO O EU SE ESQUECE DE SER. Quando morremos e vivemos na inconsciência de ser um Eu, na consciência de ser MAIS UM ENTRE TANTOS. Vem daí o Amor.
   O amor nos alivia porque faz com que esquecemos daquilo que somos. Pensamos no outro, em sua alegria, em sua paz. Não queremos mais ser um Eu, queremos nos dar ao outro e ser algo sem nome. Daremos nossa vida, alegremente, por esse outro. Pelo amor. E creiam, esquecer seu desejo exclusivo, suas vontades, abdicar livremente de paz e conforto pelo bem de outro, não há maior alegria.
   Como não existe desespero maior que perder esse amor e voltar ao tédio do desejo do Eu. Voltamos então a trabalhar, comer, beber, comprar e transar, e voltamos a perceber que na satisfação dos sentidos físicos vive a dor de saber que eles são pouca coisa, são futeis, são falíveis, são apenas desejos ilusórios dos sentidos, do Eu.
    Não desejar nada, e continuar amando. Essa a contradição de toda religião. Essa a paz. Nada querer, nada temer. O medo cessa pois nada há a perder. A paz nasce onde não há desejo. Porque desejar é sempre querer. E querer é jamais poder ter. Criar vazios que serão vazios para sempre.
    Quem viveu a satisfação plena dos sentidos sabe do que falo. O vazio vive nessa satisfação plena.
    Pondé fala da tolice que é querer se conhecer. Desejar se auto-entender é cair na sedução do Eu. Megulhar dentro do Eu e se submeter a sua ditadura. Ditadura que tem apenas uma mensagem: Quero Quero e Quero! Como um baby chato o Eu pede pede e pede.
    Nikos Kazantzakis dizia que somos livres ao nada querer. Como diziam os hindús, que imaginavam o inferno como um lugar onde se deseja todo o tempo e nunca se sacia.
    Pondé termina dizendo que a pior expectativa é a da vida eterna. Ser um Eu para sempre.
    Lembro que uma vez pensei que a pior coisa do mundo seria ser para sempre Eu. Imaginem que horror! Ser condenado a ter para sempre, por séculos e milênios, seus medos, desejos e atos.
    Mas imagino a eternidade, e quase a sinto, como despersonalização. Nunca consigo crer numa eternidade onde eu continuo eu e voce voce. Nunca! Mas o que pressinto é uma possibilidade de eu e nós sermos aquilo que temos em comum. E isso não é o eu. Memória e desejo. Isso com certeza morre com a carne. Se algo fica, não é um eu.
    Fugi do tema. Meu eu me levou fora do tema.
    Esquecer do que se quer, essa é a alegria de viver.

CRENÇA NO IMPROVÁVEL, O AMOR.

   É lógico que o amor não existe. O que chamamos de amor é uma invenção artificial, mera fantasia criada por poetas. O que existe e pode ser provado é a excitação do sexo e o desejo de procriar. O que nos une a alguém é nossa vaidade e nosso medo de estar só.
   Mas o amante continua amando apesar da lógica.
   É lógico que Deus não existe. Criação artificial, fantasia de gente infantil com medo da vida e do vazio que é o mundo. Vaidade e medo, apenas um consolo.
   Mas o homem de fé continua acreditando.
   Digamos que voce seja dono de um carro. E que voce saiba tudo sobre esse carro. Como ele funciona, de onde ele veio, como ele deve ser guiado. Voce até mesmo leu um manual de direção. E sabe imaginar a sensação de dirigir.
   Mas digamos que voce nunca dirigiu.
   Esse é o erro básico de ateus falando sobre religião. Leram tudo sobre ela, sabem o que é e como funciona. Até mesmo imaginam o que seja a fé. Mas jamais estiveram dentro dela. Sabem toda a teoria, desconhecem qualquer tipo de prática. Seus textos, para quem conhece o que seja fé, são irrelevantes.
   Escrevo isto porque Marcelo Coelho me surpreendeu com um texto extremamente superficial. Ele fala sobre um grupo antirreligioso inglês que anda escrevendo nos metrôs: "Provávelmente Deus não existe. Então, pare de se preocupar e aproveite a vida."
   O que seria aproveitar a vida? Coelho fala de Francis Spufford, um autor inglês que rejeita esse grupo. Diz que a frase é tipica daqueles que têm o mercado como religião.É a fé da propaganda: Joguemos fora o que é velho e sejamos felizes!!! Coelho também acha a frase idiota, mas se perde ao mostrar, para ser fiel a sua fé no ateísmo, afinal, intelectuais são proibidos de crer, que um deficiente crer no bondoso Deus seria também uma crueldade. Deus bondoso? Desde quando? Jesus tentou ensinar a bondade. Tentou e foi traído. Deus não é bondade. Ou maldade. É o todo. Essa ideia é inalcansável para aquele que só leu o manual.
   Esqueçamos o texto de Coelho e vamos a frase. Ela diz, "pare de se preocupar..." Mas não são os ateus que se preocupam com Deus? Crentes não se preocupam com Deus. Eles obedecem dogmas. Não se preocupam. Aproveitar a vida. O que é aproveitar a vida? Ateus aproveitam a vida? Como e porque? Não crer em Deus é aproveitar a vida? Que tipo de vida? É outro conceito tipico de quem nunca esteve dentro da fé e apenas a conhece em imaginação. Para esses, ter fé é ser limitado, quando na verdade não ter fé é deixar de ter uma das maiores possibilidades que a vida oferece, a crença na própria vida. Naquilo que ela tem de eterno, de atemporal, e sim, de mágico.
   Voltando a Coelho.
   Ele diz que se pode viver sem crer. Será? O amor é tão "improvável" quanto Deus, e crer no amor é viver mais completo. Há quem creia em Marx, em Darwin ou em Freud. E como ocorre com as religiões, essa crença ajuda o fiel a suportar a vida e a perceber algum sentido na confusão. Me parece que viver sem crer é impossível. O completo descrente não existe. E toda crença é improvável para quem não crê.
   A grande questão nunca é colocada por qualquer e por todo ateu:
   Se Deus existe ou não é irrelevante. O que importa é crer no improvável. Ter a força de acreditar em algo que é improvável, essa é a graça da fé. E é esse tipo de sentimento que é incompreensível aos ateus.
   Gostaria de colocar outra questão.
   Porque existe uma militância antirreligiosa? Qual seu objetivo? O que incomoda tanto em toda religião?
   Termino falando do texto de Pondé de segunda-feira ( mal escrito esse texto...)
   Pondé fala de intelectuais como seres especialmente arrogantes. Todos eles com suas quedas por ditaduras, pensamento único, todos pensando ter a chave da verdade única.
   Concordo. Intelectual, por mais que isso lhes doa, é como padre: Está sempre no púlpito pregando. Anda pela rua em silêncio de igreja, ou falando e nunca escutando. Dono da verdade única. O padre é o primeiro intelectual da história do ocidente.
   Bem... Pondé então critica os marxistas e os cristãos, que têm a mania de explicar tudo pela sua crença e a desprezar quem não compactua com ela. Verdade. Mas Pondé espertamente "esquece" de evolucionistas e de psicanalistas, seitas que também crêem poder explicar tudo por uma única e "genuína" fé. Óbvio que aqui faltou honestidade a Pondé. Se é para criticar intelectuais, vamos criticar todos, inclusive a si-mesmo.
   Pondé coloca a culpa da decadência da família e das relaçõea afetivas nas costas de sociólogos e sexólogos. "Esquece" que essa decadência começa com os antirreligiosos. A igreja foi a base da familia, do poder do pai e da comunidade. Quando Deus foi morto a familia morreu junto. Pondé culpa as aulas de educação sexual...Ora, quando essas aulas são instituídas a familia já se fora, já era perdida.
   Ele chora também a transformação do bandido em vitima. Culpa o marxismo por isso. ( Não sou marxista, mas Pondé o demoniza tanto que dá até vontade de ser um fã de Fidel...), a culpa tanto pode ser do marxismo, que sim, viu o bandido como vitima e vingador, como da incompetência da autoridade, que ao mostrar sua desorganização e suas corrupções, deixa os bandidos menos bandidos.
   Pondé critica os que sobem em púlpito e bradam a verdade. Mas o que ele faz? O que fazem aqueles "pensadores" que vão ao café filosófico? ( Aliás nunca vi café por lá. Muito menos filosofia. Deveria se chamar Água e Alunos ).
   O que faço eu aqui a não ser expor, vaidosamente, minhas teorias chupadas de tudo aquilo que li? E que talvez eu nem tenha entendido...
   Respeito o intelectual que não tem certezas, assim como o artista que não funda movimentos. Por isso é que me interesso por religião e abomino igrejas.
   Voltando a crença. Sim  Marcelo Coelho, voce está errado. Todos precisamos de crenças para viver. E na verdade essa crença é a fé no amor. Precisamos nos unir por amor a alguma coisa da vida. Seja improvável ou não. Seja o amor ao sexo, ao dinheiro ou a filosofia e a arte. Mas entenda, por ser improvável, o amor se expande em amores improváveis. Ilimitados.
   Amar a Deus seria então amar tudo aquilo que é divino e improvável, secreto e incomunicável: a vida.

ENO, PONDÉ, LEMOS, JORNAL, ÁFRICA E RIO

   Fotos antigas nas paredes. De Paris, de São Paulo nos anos 30, de NY. Uma pintura pós-moderna. Dois sofás: um deles desconstruído e o outro um tipo de coisa chique em estilo vitoriano. Livros. Belas edições de luxo. Poemas de Goethe, um estudo sobre o cinema japonês e uma imensa bio de Lacan. O morador, sem tempo ( ou vontade? ou interesse? ) jamais leu nenhum dos livros. Mas diz gostar deles. O quadro nem é muito olhado e as fotos espelham um passado que nunca lhe interessou.
   As almofadas estão sempre impecáveis.
   Pondé escreveu ontem sobre esse tipo de ser. O cara que mora em casas que têm montes de coisas que não servem para nada. O senhor da sala de visitas. Sala que nunca é usada. E livros que jamais são lidos. O cara tem uma cafeteira italiana, aparelhos de academia, máquina de sorvete, cursos de vinhos e queijos, e nada disso é usufruido. Porque tudo isso é trabalho inutil pra ele. E ele simplesmente nunca trabalha "á toa".  Nunca estuda. Nunca observa. Tudo o que ele faz é "pela carreira". Só estuda, trabalha e vê o que é "pela carreira". Brega. Sua casa faz parte da "carreira".
   Essas casas traem seu dono. São mortas. Tudo nelas é mais que morto, na verdade são não-nascidos. Os objetos não respiram, não envelhecem, não se sujam. Nessas casas não existe história.
   Pensei que só eu sentisse o tédio que essas casas dão. Eu as chamo de casas de "luzinhas amarelinhas". Ambientes assim abundam em filmes e séries de tv inteligentinhas. Completamente bregas. Tudo é sempre novo, limpinho e sem cheiro. A casa não é lugar pra se viver e trabalhar, é um tipo de vitrine, um tipo de cartão de acesso ao mundinho brega-novo rico. Laboratório onde se cria o tédio.
   No mesmo jornal Ronaldo Lemos fala sobre Eno no Rio.
   Brian Eno lançou um desafio ao Rio. Que ele assuma seu papel de Nova África. O que seria isso?
   Desde sempre Eno fala que o problema dos computadores é o de que eles têm pouca África. Nerds têm um componente africano muito baixo ( substitua africano por dionisíaco que talvez voce entenda ). Daí que o mundo da informática tem uma ausência de africanês. É frio, impessoal, previsível e sem calor. Cabe ao Brasil trazer esse componente africano ao mundo. Brasileiros criando uma nova Microsoft ou Apple.
   Ele fala mais. Por 50 anos a música foi central por ser uma forma de se receber a África.
   Vamos desenvolver essa frase. Por 50 anos. Não era antes? Não. Antes de 1950 a música ficava muito atrás da literatura, do teatro, do ballet, do cinema, e até da pintura. A transformação da música em coisa sempre presente se dá a partir da explosão do rock e da hiper-venda de discos, fitas, cds e agora i pods etc. O que Eno fala é que o mundo sentiu-se fascinado com a africanização. O mundo começou a rebolar, a se soltar, a improvisar, a colorir, a batucar, a gingar. ( Dionisio? ). Isso fez do século XX um século negro, radicalmente diferente de qualquer outro.
   Mas esse processo se esgota. E a música perde sua força. É preciso que o mundo receba algo de radicalmente novo. Que invada computadores, telas, a vida. Isso poderia ser o Brasil. Uma brasilização do mundo. A miscigenação radical. O improviso como dom e não como falha. O acaso. A hiper-africanização brasileira.
   Eno deu aparelhos para os cariocas onde eles criaram discos de Eno ao vivo.
   Lembro então que Eno e Bryan Ferry foram alunos de Richard Hamilton, o criador da POP ART. Todo o discurso de Eno é consequência da POP ART. O olhar sempre adiante, a busca pelo mais colorido, mais vivo, mais excitante. A celebração. Ferry uniu a isso o olhar romântico do cinema anos 40, a publicidade e a escultura. Eno caminhou para a tecnologia e o futurismo. O Roxy foi essa usina caleidoscópica que falava de Bogart, Jerry Hall e Calvin Klein, Greta Garbo, Elvis e TV, Tango, carros e Funk, tudo numa canção.
    Ando lendo Borges.
    Diz que a maior invenção grega foi a conversa. A conversa como arte e como prazer maior.
    Concordo. Mas digo também: a divisão de nossas forças entre Dionisio e Apolo foi genial. Casas apolineas ( sem o gênio de Apolo, um tipo de Apolo fake ), computadores sem Dionisio ( e o que são os hackers? Uma tentativa de dionisiar a máquina? ) Temos mais um momento decisivo, ou o mundo continua a reprimir o dionisiiismo ou tenta equilibrar a coisa....
     

PONDÉ, YEATS, MARTELL, POLITICA E CINEMA COM ALMA

   Pondé citou Yeats na segunda-feira. O poema em que o irlandês fala da terrível certeza que todo canalha tem, e das hesitações que acometem os justos e bons. Dá até vontade de crer nos gnósticos e dizer que nosso mundo é obra do mal. Porque, como bem notou Yeats e como Pondé crê, quem segue o mal sente-se forte, duro, "em casa"; enquanto que o que segue o bem sempre sofre uma sensação de inadaptação, de fraqueza e de dúvida. Terroristas nunca hesitam.
  Ler Bernanos dá muito medo.
  O mal cobra um preço a quem ousa ser bom. Essa a raiz, terrível, do catolicismo puro. O bem só pode sobreviver a custa de nosso sacrificio. Nada pode ser mais antipático que dizer essa verdade.
  Falando de coisas mais amenas....
  Um amigo fala do voto. A questão é simples meu amigo. Assim como a arte e a religião perderam sua aura ( de acordo com Benjamin ), ou seja, não significam mais transformação e não mais repercutem, não têm identidade, a politica também se transformou em mera ciência. Voce vota e elege alguém. Pura mecânica. Um partido faz o papel de polo positivo e outro de negativo. Um precisa do outro para existir e um repele o outro. Entorpecido nesse campo magnético, cheio de eletricidade e de "verdade", voce aperta um botão. Veja bem, até aqui, você aperta um botão...
   É só isso, um ato banal.
   É claro que se voce tiver alguma cultura, todo o passado da politica vem a sua cabeça ( como vem o passado da arte ou das igrejas ), mas é mero flash-back. No eterno agora a politica nada mais significa. Não há a possibilidade de história, de reflexão ou de consequência. Politica-no-eterno-agora, como arte e igreja no eterno- agora, nada mais tem a dizer. Torna-se mera ferramenta.
  Pondé citou Yeats e um dia citou O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, em seu melhor texto. Bom gosto ele possui.
  Um outro amigo me diz que anda cheio de vontade de rever A PALAVRA de Dreyer. Bem... Ebbert sempre fala que todo amante de cinema chega um dia a Dreyer, Ozu e Bresson, e descobre que os três são os "santos" do cinema. Austeros, profundos e capazes de milagres com quase nada. Dreyer transformava um filme em catedral de silêncio e de horror=Sublime ( para quem não sabe, o Sublime é a união do terrível com o belo ). Ozu fazia o milagre de conseguir de um nada de roteiro uma épica sobre gente comum. Ele transformava familias banais e sentimentos vulgares em atos de profunda nobreza. E Bresson dava aulas sobre o sentido da vida em imagens reais. Ele modificava o real sem que percebêssemos. Fazia documentários sobre a alma.
   Questão de aura. Mas ainda têm público?
   Leio comentários no youtube sobre A VIDA DE PI. Quase ninguém entendeu uma saga tão simples. Somos uma geração que sabe tudo sobre o efêmero e nada entendemos sobre o atemporal.
   Perdemos nossa aura.

O MAIS HORRENDO LIVRO JÁ ESCRITO: SOB O SOL DE SATÃ- GEORGES BERNANOS

   Mouchette é uma menina de 16 anos. Grávida, ela pressiona seu velho amante a assumir o filho. Mata-o. Acaba por abortar. Dentro dela vive um demônio.
   Um ignorante, bruto, ríspido camponês é um santo. Ele sofre sem parar. Tem dúvidas, o medo lhe corrói a alma. Não dorme, vive em pesadelos. Num estrada encontra o diabo, que é um homem que deseja lhe ajudar. Depois encontra Mouchette, que o desafia, e a qual ele vence. O padre-camponês-santo não sente força, sente piedade. E essa piedade destrói Mouchette que se mata.
   Passa o tempo e ele é reconhecido como santo. Mas continua em agonia. O mundo é dor, é medo, é desejo que não tem fim. Ele quer morrer. Deus está na morte, está na distância. Satã vive no coração de todo homem...
   Foi Pondé quem me chamou a atenção para este livro. A mensagem é clara: Deus está perdendo a guerra, o mundo é do mal. Esse é o catolicismo puro, duro, dificil, triste. O livro, lançado em 1926, surpreendente sucesso na época, é o mais cansativo, deprimente, árduo que já li. Kierkegaard perto dele é diversão. As mais duras conclusões de Heidegger ou Freud são alegres piadas de criança. Bernanos vai ao âmago, vai ao inferno. Santo é aquele que vê o mal, que sente o mal, que agoniza a todo segundo.
  Georges Bernanos se dizia um não escritor. Dizia não escrever, antes, desabafar. Escrevia em trens e cafés, pois assim podia erguer a vista do papel e ver gente, escapar do transe de seu texto. Páginas que parecem escritas com sangue, com desespero, com faca.
   Maurice Pialat filmou este livro em 1983. Bresson filmou 3 livros de Bernanos. O catolicismo francês sempre foi o mais seco, sofrido e conservador. A vida deve ser pobre, deve ser o extremo da simplicidade. Todo excesso, todo riso, todo conforto é obra de Satã.
   Ler Bernanos é sufocar, se afogar, morrer para a vida, negar o mundo, odiar o sol, submergir no horror. Após este volume estou pronto para ler qualquer coisa. Nada pode ser mais terrível. Se ele estiver certo, tudo o que vemos, sentimos e pensamos é engano, mentira e jogo da maldade pura.
   Que Deus tenha fé em nós é questão respondida. Perdemos tudo.

OS INGLESES, OS FRANCOS, DARNTON, TV E JANE AUSTEN

    O excelente Joe Wright lança em Londres, agora, Anna Karenina. Keira Knightley faz Anna. Pelas criticas que leio, o filme é lindo. Mas nada tem a ver com Tolstoi. O melhor diretor jovem da Inglaterra filmou a obra-prima de Tolstoi após filmar Desejo e Reparação e Orgulho e Preconceito. Voce já vai entender o porque de eu ter escrito isso.
   A Tv às vezes surpreende. Robert Darnton foi entrevistado ontem no Roda Viva. Ele é o melhor historiador do mundo. E agora está digitalizando a biblioteca de Harvard. Fala uma coisa preocupante. Arquivos digitais podem desaparecer. Nada prova que eles vivam mais que um livro impresso. Temos livros de mais de 500 anos. Um livro digital pode sumir no ciberespaço. Um website dura em média 40 dias...
   Darnton é bem humorado, sabe falar e diz, brincando, que vive no ´seculo XVIII. Seus livros sobre o iluminismo são obrigatórios. Não pense que ele condena a internet. Ele é fascinado pelo assunto. Mas avisa: a época do autor como gênio, do homem que cria e sabe tudo está encerrada. Cada vez mais o homem será um ser grupal. Toda obra intelectual será um trabalho em equipe. Seja filosofia, romance ou cinema.
   Logo depois a Cultura passou um doc sobre Merce Cunningham. Trechos de uma obra com música eletrônica e cenário de Andy Warhol. Fascinante.
   Conheço um novo colega. Fez filosofia em Londres. Locke, Hume, Berkeley, Adam Smith.
   Ingleses são diferentes de franceses. Como cerveja e vinho.
   Franceses amam a comida. Ingleses vêm na comida um mal necessário. Preferem o jogo.
   Todo sonho de um francês remete a Paris. Ingleses sonham com casas no campo. Lareiras, xícaras de porcelana e sofás macios e imensos.
   Em maio de 68 franceses foram às ruas gritar por marxismo e liberdade sexual.
   Em maio de 68 ingleses estavam em casa estudando exoterismo, poesia medieval e tomando chás de ervas suspeitas. O protesto era em casa, na cama ou num comicio organizado. Em Paris faziam barricadas.
   Os franceses criam teses, planejam a vida, tecem utopias. E os homens devem se adaptar a elas.
   Ingleses observam a vida e depois tecem teses baseadas no que viram. Suas utopias se adaptam aquilo que foi visto.
   Para um francês a mente é um misto de desejo, preconceito e linguagem. Para um inglês é uma lousa em branco que vai sendo escrita aos poucos.
   Franceses metidos viram intelectuais.
   Ingleses metidos viram professores.
   Na França há o dever de se sonhar com um estado onde todos sejam iguais.
   Na Inglaterra o ideal é que todos possam ser diferentes.
   A França ama Napoleão e o ser que tem um grande destino.
   A Inglaterra ama o industrial que constrói e domina o mundo pelo trabalho.
   Todo francês termina por ser um entediado diante de uma taça de vinho.
   Todo inglês acaba por ser um conservador numa sala cheia de panos e pratinhos.
   Os franceses estão cheios de Descartes, Balzac e Rousseau.
   E os ingleses se entupiram de Wordsworth, Shelley e Keats.
   Um canta o homem politico e as construções da mente abstrata.
   O outro sonha com o campo e constrói o real.
   Ambos amam o dinheiro. Um tem vergonha disso. O outro o esconde.

   Pondé falou isso de forma mais Podeniana ontem.
   Volto a Joe Wright.
   Ingleses sempre retornam a Dickens. Ou Jane Austen, Keats, Shakespeare. Os pés firmes na cultura escolar. Um frenesi com a idade média. Não é outra coisa que fez Harry Potter, O Senhor dos Anéis. E um músico pop inglês sempre vai ter seu momento de "menestrel romântico".
   Detrás de um guarda-chuva sempre há um almirante, um pirata ou um bardo.
  

A AUTO-AJUDA DAS SOMBRAS ( PONDÉ, O VAMPIRO FUNKY )

  Está escrito no rosto de Pondé o deslumbre pela fama. Quando ele fala tudo tem um acento de "veja como falo as verdades". E pior, por várias vezes ele cai na tentação da piadinha fácil. Seria delicioso se fosse um cara tipo CQC, mas é um filósofo. Pondé não sabe, mas em seu reducionismo tolo, faz o papel de auto-ajuda dark, um tipo de new-age para quem se vê como muito superior à new-age.
   Uma hora falando o óbvio: "Gente! O ódio é real e existe em todos nós!" Caramba! Ninguém sabia disso! Ele conseguiu ser mais primário que o mais banal dos consultores-psicólogos de programa feminino. O triste é que eu sei que de banal Pondé não tem nada. O problema é seu deslumbre.
   Ele simplificou tanto algumas coisas que me dá a sensação de que ele pensava estar falando para um bando de crianças. Dizer que irmãos têm como laço apenas a trepada acidental dos pais é reduzir algo de hiper-complexo a uma piadinha imbecil.  Um irmão, no mínimo, é alguém que interfiriu poderosamente no destino de uma criança. Alguém que compartilhou uma casa, um afeto, um estado emocional familiar. Foi testemunha participante de um drama. Muito mais que mera trepada acidental.
  Quando ele falou de cristianismo, aí a coisa degringolou para a pura tolice. A base do cristianismo não é e nunca foi o "ame a todos". A frase é "Amar o próximo como a si mesmo", e o centro da proposta é o terrível "Como a si mesmo". Amar a si mesmo é a grande dificuldade. Esse amor NÂO é uma imposição, é um alvo inatingível, mas que deve ser tentado. A virtude está na tentativa. Culpa por não conseguir amar? Aprenda a conviver com ela baby.... É isso que nos dá o livre-arbítrio.
   Pondé quase se trai quando fala da inveja. Dá pra ver em sua cara uma coisa tipo : "EPA!"  Ele fala das invejas e cita o dinheiro, o sucesso, as mulheres...mas esquece, para mim de propósito, a principal: a inveja da bondade. Temos um ódio invejoso terrível de quem é bom, de quem parece inocente. Invejamos aquele que parece ter pouco ódio e nos consolamos o imaginando reprimido, fraco ou simplesmente estúpido.
   A marca da auto-ajuda é o reducionismo. Transformar o complexo em simples. Todo livro desse estilo fala de coisas muito importantes de um modo retardado. Pondé se faz um tipo de auto-ajuda das trevas. Seu show de humor cansa.
   Invejo seu sucesso. Deploro sua babaquice.

PARANÓIA, NARCISO ET RELAXADÃO & BUUUUM!

Coincidências não existem. Estou relendo Thomas Pynchon e sai uma resenha sobre um novo livro dele. Então, o que escrevo aqui vai em estilo Pynchoniano ( menos complexo, claro ).
Pynchon escreve no estilo EUA-1967. Paranóia. Um monte de gente e de coisas e de vozes e de tempos e de pontos de vista e de cenários. As páginas têm um excesso de vidas e de personagens e de coisas que acontecem. & então voce ri & ao mesmo tempo sente medo and irritação. Fica meio louco com aquilo tudo. ENERVADO. Saul Bellow e Philip Roth ( só naquele tempo ), também escreviam assim. Acho que começou com Thomas Wolfe em 1930. É uma escrita tipo BOOOOOOOOOOOOM!
Hoje/agora/2012 o que define a escrita é o oposto dessa nóia esquizóide: depressão e desencanto. Nada acontece de relevante e tudo parece o mesmo. Tipo hmmmmmmmmmmmmm..................
O Nobel não ter ido às mãos de Pynchon até agora é uma humilhação para os suécos. hmmmmmmmm......
Paulo, eu, tem saudades de coisas da pré-adolescência por que na pré-adolescência ele ainda podia ficar o dia todo de pijama. E comer chocolate sem parar SEM pensar em barriga ou diabetes ou dentes. ( E aos quase 50 Paulo não tem barriga nem diabetes e tem todos os dentes ). Pondé escreve para trouxas como eu. E ninguém tem humor para notar que quando ele chama seus leitores de tolos ele está os diferenciando dos inteligentinhos? De qualquer modo, Pondé, que tem uma figura hilária, fala do narcisismo como mal maior do Facebook.
Na India de 200A/C, budistas imaginaram o inferno como um lugar onde todos sentem um desejo que se renova indefinidamente. Voce quer, obtém, e continua querendo. Para sempre. E nesse querer voce deseja ser reconhecido como o grande obtedor. Eis nosso mundo em SP ano de 2012.
Tenho um amigo, Ribovaldo de Camarinha. Ele recebeu 239 parabéns em seu aniversário. Ficou feliz pacas com isso. No fim de semana ficou triste, não tinha ninguém on line. Não dá mais pra viver de pijamas. A gente fica todo o tempo tentando seduzir alguém. Na rua, no trabalho, e agora em casa, aqui em frente a esta tela. Tentamos ser bonitos ou engraçados ou inteligentes ou bem loucos. Queremos atenção de 239 pessoas TODO O TEMPO.
Paulo, eu, pensava que aos 50 iria relaxar. Finalmente poder deixar a barba crescer, comer de tudo, beber, esquecer a vontade de ter uma "boa imagem" e então só ter relaxo. Paulo, eu, começa a perceber que aos 90 irá morrer arrumando a camisa e vendo se a pele está bronzeada. Pior: nossas crianças desde sempre já estão nessa: belas fotos para seu álbum no Face e dietas para evitar problemas aos 40 anos. Pelo menos Paulo, eu, soube ainda o que era ir á escola com cabeleira suja e jaqueta qualquer coisa. Cabelo sujo não por compor um tipo, cabelo sujo por falta de cuidado. Relaxadão.
Todos os meus professores tem cara de Johann Sebastian Bach. Os invejo por isso.
Inácio Araújo desabafa, enfim. Diz que num espectro de dezenas de canais a cabo, a oferta de filmes é paupérrima. Sempre do mesmo. Ou seja, deu tudo errado. A diversidade de meios não diversificou a oferta. Criou um rebanho. Nunca o cinema foi tão uniforme. Daí Inácio lembra da Sessão da Tarde dos anos 70. E conta que qualquer garoto da época tinha na Sessão da Tarde uma oferta muito mais rica de filmes que existe em todos o cabos de hoje. E eu lembro que minha cinefilia começou na Sessão da Tarde. Creia, eu assisti Fritz Lang, Hawks, Huston, Nicholas Ray, Billy Wilder e Otto Preminger nas tardes da Globo. Hoje eles passam o que?
Jack Endino gosta da sonoridade dos lps gravados em 1971, 1972... Trnasformer de Lou Reed tem a melhor sonoridade da história do som. Só ouvindo. E tem de ser no vinyl, não adianta voce baixar, vai soar como soa tudo. Aliás, tudo tem um som igual. Seja uma banda pesada de Chicago, seja uma banda suja de New York, um cantor pop de Londres ou um metido de Birmingham, todos têm aquele som cheio, compacto, brilhante, que deixa tudo como o mesmo. Se voce ainda tem um tocador de bolacha, bota qualquer coisa gravada entre 71/ 77 e toca. É outro universo. bateria que tem personalidade, baixo lá e voz acolá. Tudo tem um som definido, limpo, distante. Tem ar entre os sons. Treina seus ouvidos.
Aula de Fono: tem gente que não consegue perceber a diferença entre duas vozes que soam juntas. Tem gente que não escuta mais. Só identifica timbres e mais nada. O ouvido pode ficar analfabeto.
Fato: Sabia que não há um só orgão feito para a fala em nosso corpo? Nada no ser-humano foi genéticamente criado para a fala. Assim como as mãos não foram criadas para escrever ou tocar piano, as cordas vocais ( que não são cordas e nem vocais ) não existem para a fala. Existem para ajudar a engolir e respirar. Só. Isso prova a imprevisibilidade da vida. O improviso que a vida é. Por que usamos algo que é pra engolir para a fala? Nunca ninguém vai saber. Então se chuta.
Tentei ser meio Pynchon. Mas ele, gênio, já teria neste espaço criado uns 20 personagens e soltado cinco frases originais. Eu, Paulo, apenas papagaeio.
BUM!

THE RISE AND FALL OF PONDÉ AND THE LITTLE SMARTS FROM MARS

   E o glamouroso Pondé coloca o rabitcho entre as pernas e explica aos inteligentinhos tudo que eles jamais poderão chegar perto de entender. Affff...a explicação de Pondé faz tudo aquilo que ele condena: vulgariza, higieniza e pasteuriza. Ele consegue em um só texto desagradar seus negativos ( os inteligentinhos que nunca entenderam patavina do que ele fala ), e gente como eu, que sempre o levou a sério. Pondé jogou alto com sua coluna de Páscoa. Errou por arrogãncia. Sua conclusão hoje cheirou a capitulação. Pior, ele nunca escreveu um texto tão simplório. Falo aqui o que ele não falou.
   A vida é violenta. Viver é matar. O leão adulto trucida uma zebra filhote e a come ainda viva. A vida só pode existir com a morte de alguém ou de algo. Isso é óbvio. Povos primitivos vivem em comunhão com essa lei, neles não se fez a divisão entre humano e natural. A religião desses povos dramatiza a vida, a torna explicável. O conceito de bem, de piedade não existe. O que há é o que é. Com o perdão dessa frase.
   Todas as religiões pré-históricas sacrificavam gente. Em imensas hecatombes de sangue. Maias, aborigenes, navajos, zulus... e mesmo ´civilizações que nos são próximas, como gregos clássicos ou celtas, tinham sacrifícios. Os judeus são os primeiros a praticarem o sacrificio animal e apenas animal. Se dá entre eles uma radical divisão, o homem se faz à parte do cosmo. Instituem um deus único. É nesse momento que o homem passa a olhar para a natureza com estranheza e depois com horror. Foi esse o momento que Nietzsche tanto condenava. Ele não era contra a religião, era contra a religião civilizada.
   O homem sempre foi um bicho estranho. Nos rituais de morte e massacre ele teatralizava aquilo que lhe aterrorizava. Matava para suportar a consciência do fim, maldição que só ele possui, a certeza da finitude. Enchia-se de sangue na tentativa frenética de não mais temer o seu sangue.
   Lendo Comte-Sponville, Pascal e Spinoza, tomo consciência da revolução sem paralelo que foi o cristianismo. Pela primeira vez, de súbito, instituia-se uma religião sem sacrificio ritual. Tudo se faz símbolo. Mais que isso, a piedade deixa de ser sinal de fraqueza e passa a ser força. É a primeira religião do amor e apenas do amor.
   Pondé temeu dizer isso. Perdeu-se em bobagens e enrolou-se. Tentou pela primeira vez agradar.
   O homem comia cérebros ( há quem os coma ainda ), matava rivais e se enchia de sangue. E ao contrário do que ele diz, não há uma só evidência que diga que esse ato de destruição não fosse considerado mágico. O ato de comer o inimigo era homenagem ao rival, e como qualquer antropólogo sabe, era uma comunhão em que o eu-que-comia se tornava o eu-que-era-comido. No Brasil os indios comiam macacos para ser macaco e cobras para ser cobra.
   Isso é rompido. No mundo pós-cristão voce não é o que come ou aquilo de onde vem. Passa a ser aquilo que faz. Isso começa com o cristianismo onde voce é o bem que voce pensa e realiza. Matar se torna um pecado. Voce não precisa mais matar para sobreviver à ideia da morte, voce vive simbolicamente a morte de um Deus para superar a sua morte futura. A poesia mora muito perto destas afirmações. O inconsciente é vivo neste universo.
   O que Pondé nos deu, em dois capítulos, foi sensacionalismo barato. Tudo aquilo que ele não pregava.
   Que mal....

NOEL COWARD, PONDÉ, ROBERTO DA MATTA, BOB GRUEN E TELMO MARTINO

   Alvíssaras! Comemorem! Dêem vivas! Noel Coward está tendo uma peça exibida em SP !!!!! Eu bem que senti que o ar de SP está um pouco mais wit. Noel Coward em cartaz é um privilégio tão sublime como ter disco novo de Bryan Ferry para ouvir. Noel é do tempo em que ser educado era objetivo de uma vida. A peça é Blythe Spirit e está no teatro que fica no Shopp Eldorado. Lugar horroroso que deve ter de súbito se tornado very classy. Essa peça, que foi filme de David Lean, trata de espirito que volta à Terra para atazanar ex-marido. Rex Harrison fazia o marido no filme. Nas telas o que eu recordo foi do colorido e das frases de Noel, uma profusão de linhas inteligentes. Humor britânico.
   O que me deixa assim assim é saber se há público na cidade para prato tão fino. Afinal, mesmo no teatro as pessoas regrediram e desaprenderam a escutar. E depois, a Inglaterra, como vimos em O DISCURSO DO REI, ainda tenta fazer peças e filmes com alguma elegância. O filme com Colin Firth, cá na selva, jamais foi apreciado como deveria. As massas preferiram o grand-guinol de segunda categoria de CISNE NEGRO e outras estultices. Bem...há quem evite o glamuroso O ARTISTA por achá-lo "dificil".... Glamour é hoje um tipo de sânscrito para o frequentador de cinema.
   Como estamos abaixo do Equador e nada aqui pode ser perfeito, Noel Coward tem em seu elenco Adriane Galisteu. Galisteu recitando Coward é como colocar Elba Ramalho para cantar Cole Porter. O encontro da buxada de bode com Dom Perignon.
   A soberba Barbara Gancia criticou Pondé na Folha. Mas Barbara é moça fina e sua critica foi apenas uma chamada à razão. Pondé se tornou um tipo de araponga de jornal. Ele grita e incomoda, mas ninguém entende o que ele fala. Eu já sabia que para a Páscoa ele mandaria algo cheio de sangue, crueldade e canibalismo. Afinal, o que ele queria dizer? Que o mundo pós-cristão é muito mais civilizado? Ora, isso qualquer intelectualzinho de barba e blusa vermelha sabe. Barbara fala que quem escreve em jornal não deveria ter uma atitude tão suicida. Pondé ataca o leitor e se coloca acima de quem o lê. Bem....Paulo Francis se colocava muito acima de quem o lia e era adorado por isso. O que me parece ser o erro de Pondé é que ele baba naquilo que redige.
   Roberto da Matta escreveu que existem obras que tomam o artista. Que quando um regente comanda uma orquestra que toca Mozart não é ele que rege Mozart mas sim Mozart que toma o maestro. Depois ele diz que até um cantor banal como Rod Stewart se torna maravilhoso quando grava Cole Porter ou Gershwin. Ora...eu tenho os cds em que Rod canta Cole e não há nada de maravilhoso lá. Como também já vi Mozart ser regido como se fora Berlioz. A grande arte só assume o comando de um artista quando ele previamente habita o mesmo endereço do autor. Rod é genial cantando folk e blues, isso porque ele vive nesse mundo. No universo do pop ninguém gravou a canção americana dos anos 20/40 decentemente. E olhe que vários tentaram, de MacCartney à Bowie e Ferry.
   Há uma expo de Bob Gruen na Oca. Bob é do tempo em que rock stars eram big stars. Suas fotos pegam a era em que o rock tinha a relevância que hoje é dada ao esporte. Se Bob fosse começar hoje e fotografasse os atuais rock stars todas as fotos teriam de ter legenda. E o visitante ganharia um Who1s Who na entrada. Bem...se começasse hoje Bob Gruen fotografaria apenas Lady Gaga. Ela em uma pose tenta imitar tudo o que Bob clicou por toda a vida.
   - Esta coluna é uma homenagem ao rei das colunas: Telmo Martino.

WALTER SALLES E PONDÉ ( TRECHOS OU THE BEST OF... )

   Limpeza de arquivo de fim de ano. Vai pro lixo este ano minha coleção de Trips e recortes de Pondé e Walter Salles ( gosto de tudo isso, mas preciso de espaço ). Reproduzo o que mais me pegou dos dois.
   24/06/09. Walter Salles fala sobre o fim do cinema independente. Cito, não comento:
   Em vários países o cinema independente passa pela maior crise desde que há 50 anos a Nouvelle Vague e Cassavettes o inventaram.
   Nos EUA os estúdios fecharam várias distribuidoras que haviam criado para lançar ou co-produzir filmes. A New Yorker films, responsável pelo lançamento nos EUA de Godard, Kiarostami e Zhang-Ke, fechou. Mais de 90% dos filmes apresentados em Sundance nunca serão exibidos em salas de cinema. O paradoxal é que com a crise, se tornou mais fácil produzir um filme de 200 milhões que um de 5. A lógica dos estúdios é menos filmes com massivo lançamento. Produzir só o já testado. Não correr riscos. E tome sequels, adaptações de HQ e séries de TV. A safra de 2007 será a última interessante ( ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, NÃO ESTOU LÁ, SANGUE NEGRO ).
   Na Europa a politica cultural protecionista entrará em crise com a quebra do mercado. A TV, que lá ajuda a financiar filmes, passa a só produzir aquilo que possa dar ibope.
   Wim Wenders diz que um filme como ASAS DO DESEJO, hoje não encontraria produtor. Na época a decisão sobre uma produção era outra. Pensava-se a longo prazo, colocar um filme em poucas salas e dar tempo, para que ele criasse seu público. A questão é: mesmo se colocado hoje em poucas salas, há público para um filme como ASAS DO DESEJO?
   Foi-se o tempo em que EASY RIDER ficava vinte anos em cartaz numa sala de Paris. Essa sala, aliás, fechou em 2008. Uma rede de fast-food comprou o lugar.
   A crise de agora ( 2009 ) se refletirá em 2011/2012... que é quando o que se produz hoje ( 2009 ), entra em cartaz.

  Textos de Pondé, publicados entre julho de 2009 e outubro de 2010.

  Lembro-me do impacto que o livro MORRO DOS VENTOS UIVANTES teve em mim. Vi as versões do livro no cinema inúmeras vezes.
  A alma romântica habitando um corpo moderno enfrentará o mundo devastado pela arrogãncia idiota dos modernos, pela objetividade morta da ciência, pelo niilismo do dinheiro, pela certeza cética da inutilidade da verdade. Em uma palavra, será exilada.
  Romanticos aprendem a falar a lingua do mundo banal. Se voce o encontrar num desses jantares inteligentes o confundirá com a espécie mais cínica de pós-moderno. Rirá do amor, defenderá os bebes de proveta, afirmará a vitória do relativismo. Ele manipulará, como quem manipula germes, os códigos da vida devastada.
  O romântico não é um idiota nostálgico, ele é um sobrevivente. Sente-se como uma espécie caçada, um mutante nascido em ambiente hostil. Esse ser é mais perigoso que voce, que ri cercado pela crença boçal de que o mundo seja seu.
  Quem se sabe desde o inicio derrotado detém uma fórmula de poder invisivel que o torna perigoso. Porque não combate pela vitória, mas sim porque sua natureza é combater pelo não-futuro. Resistir é nesta alma uma primeira natureza.
  O romantico é uma espécie de contradição insolúvel no progresso definitivo da vida programada. São caçados como praga. São inimigos de uma vida perfeita.
  O desafio para um romantico é aprender a lidar com suas sensações num mundo onde elas nada significam.  Ao encontrá-lo devemos ter por ele o respeito que merecem as espécies em extinção.

  Um homem deve reconhecer seus ancestrais. Existem várias formas de ancestralidade. Nossos autores prediletos são nossos patriarcas.
  O ceticismo dos gregos, de Montaigne, de Hulme abalou para sempre minha capacidade de ter fé na razão, não em Deus, como pensa a vã filosofia. Nunca acreditei muito no ser-humano. Santo Agostinho e Pascal me ensinaram que o cristianismo é a história de um homem combatendo, ingloriamente, sua natureza afogada no mais sofisticado orgulho e na mais profunda inveja (de Deus ).
 
 

É BOM SER HOMEM ! É BOM PRA #@%##$!!!!!!

André Barcinski nos traz uma matéria com James Ellroy. Não sei se é verdade ou tipo, mas Ellroy diz não saber nada de facebook ou internet ou o diabo a quatro. Justo! Ele diz que para se escrever bem não se pode ficar conectado. Verdade. Tenho amigos que deixaram de escrever após o facebook. Escrevem suas besteirinhas na rede e esquecem de seus sonhos do "grande livro que vou escrever". A internet é um anti-deprê, um consolo para escrevinhadores frustrados. Como eu.
Eu escrevia muito melhor antes de meu blog ou do facebook. Me concentrava mais, elaborava melhor, tinha menos ansiedade. A caneta e o papel não são SIMPLES saudosismos. Eles são calmos, quietos, não elétricos. Na internet voce acaba se dispersando entre amigos, noticias e correspondência. A inspiração se vai. Não há espaço morto, silêncio interno, atemporalidade.
Ellroy diz não ler nenhum autor vivo. Na verdade não lê mais nada. E nem vê filmes. Sua narrativa ele a deve a Beethoven e Bruckner. Bom.... Todo bom autor escreve musicalmente. Stendhal era puro Mozart e Tolstoi é Beethoven. Mas acho dificil um escritor não ler. Todo autor é um viciado em letras, em texto, em palavras.... Mas é um prazer ver um autor tão pouco intelectual. Show.
James Ellroy é um homem homem, e esse texto casa com o texto de Pondé, texto que fala do homem homem, o homem não feminino, raça em vias de desaparecimento.
O homem compreensivo ( conheço alguns ) daqueles que ama a mulher "enquanto gente", é brochante. Mulheres com homens assim são poços de frustração. Pondé diz que a mulher deseja sim, embora às vezes envergonhada, ser um objeto ( de vez em quando ), ser tratada como ser desejado, ser diferente do homem, ser-fêmea, que deve ser protegido, tomado, cercado, dominado.
Meninos criados por pais de rabo de cavalo, que meteram em suas cabeças coisas como : "mulheres são como nós", "Respeite-as enquanto humanos", podem fazer o que? Tratá-las como irmãzinhas. Esses meninos têm aquele rostinho inofensivo, aquela voz suave-sonsa que tanto enxameia as ruas de toda cidade. As mulheres inteligentes, liberadas, se envolvem com esses tipos democráticos, e depois de dois anos se vêem, coitadinhas, ansiando pelo cafa da padaria ou o jogador de futebol da praia.
E o menino, que tolinho, se vê trocado pelo quarentão de barba suja ( " Porque? Porque?" ), ou pelo adolescente tapado caiçara.
No meio da beijação noturna, das azarações de verão, tudo o que elas querem é uma mão suja de graxa, uma boa pegada e o olhar de quem as vê como objetos magníficos para serem roubados.
O resto é consolo....

LUIZ FELIPE PONDÉ E EU, MEDIEVAIS OU BARROCOS? ROMÂNTICOS?

Que Pondé é um meu irmão espiritual todos que me lêem sabem. E neste texto de 4 de julho ele só confirma isso. Do cacete!
É hilária a forma como ele chama os "meninos" ( meninos são seres anódinos, felizinhos e fofos, que adoram tudo o que é moderninho e ousadinho ), de "inteligentinhos". Inteligentinhos, devo dizer, é melhor que meninos. Mas, como não sou plagiador, continuarei a chamar esses fãs de festivais de cinema e de festinhas louquinhas de meninos. Afinal, assim como os inteligentinhos, os meninos pensam estar livres da Idade Média. Passam pela vida dormindo em caminhas de seda azul.
Não sei se sou medieval ( para quem não leu, o tema de Pondé é Bernanos, o pecado e a era medieval. Pondé, como eu e Jung, sabe que a idade média é para sempre. Que quanto mais voce a nega e renega, mais ela fica louca e forte em seu sub sub sub ).
E que frases de Pondé!!!!!
A salvação dos meninos é como a salvação da Bela Adormecida.
O pecado é nossa substância.
Dois minutos na companhia de um inteligentinho é morrer de tédio.
A liberdade é um tormento.
O pecado é uma paixão pela aniquilação do ser.
ESSES BONS MOÇOS NADA ENTENDEM DA VIDA, E POR ISSO TIRAM DE NÓS NOSSA ÚNICA DIGNIDADE: A LUTA INTERIOR CONTRA NÓS MESMOS.
Sou um medieval graças a Deus. Não acredito no homem e muito menos em mim mesmo.
Eu sei que sou feito do mal, e voce, inteligentinho, se acha do bem, eis sua miséria. Voce é uma folha de alface, eu sou um réptil.
Todas essas frases estão no texto de Pondé. Mas ele fica ainda mais terrível ao dizer que são os pecados que fazem com que nos conhecemos. Penso eu mais que isso: são eles que nos fazem homens.
A avareza, com seu culto ao dinheiro e ao corpo perfeito ( que Bernanos chama de câncer da alma ); a luxúria e seu culto ao gozo, luxúria que nos faz mudos; ambição que traz a cegueira e a inveja que ao desejar tudo dos outros destrói tudo o que temos. Pecados que são de todos e que os inteligentinhos, belas adormecidas, pensam não ter. Eles pensam que pecado é invenção cristã, culpa inculcada para dominar os outros... tolos meninos, quem já leu textos pré-cristãos sabe que toda civilização tem pecado e castigo.
O que me surpreende é saber que existe gente que nega o pecado. Absurdo sofista, relativismo vazio, síndrome de avestruz! Então não existe pecado? Somos todos seres puramente biológicos sem conceito de moral que vivem numa boa? Ao contrário do que o muito perdido Nietzsche percebia ( queria perceber ), a força não está na amoralidade, a força heróica está na consciência da falha, do pecado e da falta. Ser um bicho nada tem de heróico. E Nietzsche queria apenas isso: absolvição para seus pecados negando o pecado e o castigo. Coisa de menino inteligentinho.
Mas Pondé a horas tantas diz ser niilista. Descrê em tudo, inclusive nele mesmo. Seria então ainda um medieval? Ou esse conflito não faria dele um barroco, época de dúvida e da união de opostos inconciliáveis? O medieval tem certeza em seu pecado, mas crê na igreja e em seu rei. Não seria então Pondé um barroco, com suas dúvidas e medos? Romântico, talvez seja essa a resposta. Um ser solitário e revoltado, uma pedra no caminho dos meninos.
O que me importa é o bem e o mal, a dor e a dádiva, a alma e a carne.
Amor sem preço? Prazer sem dor? Vitória sem dilaceramento? Isso existe?
Sirvo a reis e procuro pelo deus que não conheço ( e duvido ). Creio em palavras medievais como missão, paixão, maldição, azar, benção e abnegação. Se elas, assim como o pecado, são invenções culturais, pouco muda, somos seres de cultura.
Pecadores entre névoas de maldição, almas sombrias divididas entre medo e desejo, heróis lidando com egos ditatoriais, e um Deus, quer exista quer não, regendo as idéias que nos atormentam.
PS: no RODA VIVA de ontem ( dia 4 de julho ) um escritor angolano, jovem, amigo de Mia Couto, cujo nome me fugiu. Em dado momento ele fala do mistério da escrita, da inspiração como posse, mistério..... um entrevistador sorriu e balançou a cabeça. Eis a imagem do inteligentinho ( estéril e beladormecida ), e o artista xamânico/medieval, seu oposto.
Eis tudo.

AMY WINEHOUSE e LUIZ FELIPE PONDÉ

Cito texto da revista Serafina de domingo: ( escrito por Luiz Felipe Pondé )
E Amy não faz ridiculo de boazinha, coisa rara na cultura dominada pela breguice.
...haja saco para roqueiros que cantam em nome de um mundo melhor.
A imagem de astros pop morrendo de overdose nos anos 60/70 fazia parte da ética contra o sistema. De lá para cá a caretice de se preocupar com o corpo tomou conta do mundo. E artista bonzinho é artista fraquinho.
Não é que se morrer de overdose voce é talentoso. Pode ser apenas mais um idiota da fila.
A virtude básica da tragédia é a coragem de viver sabendo-se amaldiçoado pela finitude e pela falha trágica, ou seja, a desmedida ( hybris, em grego antigo ). A desmedida é o passo que leva o herói a maldição, o exagero passional, a revolta diante do destino.
Estamos todos condenados a gargalhada da morte. A DIFERENÇA É QUEM RI DE VOLTA PRA ELA, DANÇANDO OU QUEM CHORA DE MEDO.
Por isso Nietzsche dizia que o que move a vida da maioria é o RESSENTIMENTO DIANTE DA GARGALHADA DA MORTE QUE NOS HUMILHA.
Aristóteles já dizia que o terror trágico ( a desmedida, o desespero, a morte ) que toma conta dos heróis nas tragédias gregas, nos contamina e nos ENLOUQUECE DE PAIXÃO ( pathos ) por eles. Mas por que ?
SIMPLESMENTE PORQUE ELES NÃO PARECEM TER MEDO COMO NÓS.

Magnífico e simples este texto.
Escrevi sómente alguns trechos. O que acrescentar ?
Poderia dizer que o herói vive por nós aquilo que ansiamos mas tememos viver. Poderia ainda acrescentar que a morte nos humilha por sempre vencer no final, ela está invicta nessa competição.
Pois até Cristo teve de se submeter a ela ( e vencer na prorrogação ).
A desmedida é a medida do herói. E penso que o grande talento sem a desmedida poderá ser genial, mas jamais um herói. É a diferença entre Henry James e Tolstoi. Entre Shelley e Wordsworth.
Rir de volta e dançar diante da morte. Equilibrar-se no abismo. É essa a imagem dos melhores westerns. Brincar com o terror, bailar diante dos tiros, sorrir ao inimigo.
Nada define melhor a condição humana : o que dança ( Zorba ) e o que assustado e acovardado empurra canetas, digita besteiras, ou muito pior, ri daquele que ousa o desmedido.
Fica claro então que aquele que zomba do herói trágico, do apaixonado radical, do dançarino no abismo, aquele que zomba por medo, por rancor, por covarde despeito, esse se coloca ao lado da morte, no time do cinza sem vida, e é irônico que por covardia diante da morte esse tolo bunda mole opte por ser um semeador de coisas mortas.
Nada define melhor para onde caminhamos.
PS: Tão necessário quanto ouvir Amy Winehouse é ler a bio de Patti Smith. Tudo o que faz da vida ato de desafio está lá escrito.

SEX,DRUGS & ROCK'N'ROLL (E MAIS NADA)

Não é um escrito sobre rock. É sobre o artigo de Pondé na Folha de ontem. E sobre umas coisitas mais.
Todo pseudo-MODERNO precisa de um símbolo de poder para ser contra. Aquele bode velho, aquele boneco em que ele pode bater e ser aplaudido por sua "rebeldia" pelos outros pseudos. E de preferência esse bode velho deve ser completamente MAL ENTENDIDO, não analisado, deve ser vítima de absoluto preconceito. Sim, os pseudos se acham seres isentos de todo preconceito. Mas revelam seu preconceito absoluto no ódio ao bode velho.
Hoje esses pseudos não têm mais um rei para odiar. Não têm mais tiranos ( neste nosso mundo do ocidente ). Estão livres da repressão sexual de pais e professores. E não conseguem ser contra a ciência ou o mundo como ele é. Pois isso exigiria deles aquilo que não possuem: coragem. Então eles batem em bode beeem velho, a igreja.
Eu não falo de energia nuclear ou de ópera. Não sei nada sobre átomos e sobre canto lírico. Admito isso. Poderia palpitar, mas sei que só falaria bobagens. Eis porque não tem o menor sentido o que os pseudos fazem. Eles nada sabem sobre aquilo que atacam. A igreja não tem mais nenhum peso em nossa politica, não dita mais regra alguma, não exerce mais nenhuma opressão, mas os ateus e bem-resolvidos pseudos continuam a tecer suas lorotas sobre o papa e a fé. Filho juvenil falando sobre seu coroa.
Pondé fala coisa que sinto na carne: amor é muito caro, sexo é barato.
Há uma pista que a igreja dá: a vulgarização do sexo e essa coisa modeninha de se confundir sexo com amor, de se pensar que amor é carne, leva ao tédio, ao não-amor, ao eu absoluto.
O papa não é um idiota. Ele é um grande teólogo e não se iluda, ele dá pistas sobre onde devemos ir. O que não significa que lá irei. Somos todos livres, não é?
Pondé diz algo genial: NADA HOJE É MENOS ACEITO QUE SER CONTRA O MUNDO BALADEIRO. Vivemos a ditadura da balada e do sexo casual. VOCE TEM DE SAIR E SE JOGAR, VOCE TEM DE TRANSAR MUITO. Se não for assim, voce tem um grave problema.
Bullshit!
Temos à vontade sexo, drogas e rocknroll, e mais nada. O mundo se tornou só isso.
A infelicidade, ao contrário do que os libertários do século XIX pregavam, não vem da repressão sexual. A doença é não conseguir amar. O amor cura tudo, por mais ridiculo que isso pareça hoje. E amor não é pau no buraco. Amor não é beijar vinte na balada. Amor não é viajar junto. Amor é encontrar alguém que é parte de voce. Alma irmã que tem face que te remete a sua origem. Paz absoluta. Sexo só não é ginástica quando vem como sinal de amor.
Drogas e rocknroll idem. Só tinham sentido quando eram sinal de algo além de si-mesmos. Ficar louco para fazer loucura ou ouvir rock para pular não tem nada de transcendente. Apenas carne e osso. O lema sexdrugsrocknroll significava tentativa de extase. Hoje é lata vazia.
Jesus Cristo foi revolucionário por ser o primeiro homem a colocar o amor ao outro como bem supremo. Buda ou Confúcio não tocavam nesse tema. O tema da igreja ocidental é a compaixão. Nada a ver com o egoísmo do sexo. Sexo é posse, amor é se dar. Inteiro.
Em mundo de azaração, ficação, vale tudo, valor de bunda, malhação vitrinesca, botox, tudo se torna vendável, tudo se torna carne, tudo envelhece e perde o valor. O amor não faz parte de nada disso. Ele vive no eterno, no que nunca envelhece, no etéreo, na alma ( seja alma um símbolo, uma fé ou um vazio ), na religião. Quem ama de verdade está sempre perto da religião, seja ela qual for. Saiba disso ou não, seja ateu ou crente.