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Rebel Without a Cause but it's just all the gay shit

O MAIS ICÔNICO DOS FILMES GAYS: REBEL WITHOUT A CAUSE, FILME DE NICHOLAS RAY COM JAMES DEAN. ( QUE ATOR HOJE NÃO IMITA JAMES DEAN? )

O filme começa numa longa, e muito aborrecida, sequência numa delegacia. Clichés sobre clichés são derramados sobre nossos ouvidos. Isso porque hoje, em 2021, estamos realmente cansados dessa conversa de "meus pais não ligam pra mim". Mas em 1955, isso era uma enorme novidade. Okay, já disse que a sequência é chata, mas lá está James Dean e nós logo sentimos o óbvio: ele é Ethan Hawke. Jared Leto. Joaquim Phoenix. E um inesgotável etc. Fato muito interessante: a geração de Jack e Al e Warren amava James Dean mas não o imitava de modo tão explícito. A geração que começou nos anos 90-2000 repete cada gesto, cada olhar, cada tom de voz do ator de 1955. ------------- James Dean, como por exemplo Joaquim Phoenix ou Christian Bale, durante todo o filme, nunca se senta num sofá simplesmente. Ele coloca as pernas no encosto e deixa a cabeça pendendo junto ao chão. James Dean não atira uma pedra ao longe, ele estica o braço atrás das costas e joga a pedra por detrás do pescoço. Ao abrir uma porta ele nunca pega a maçaneta e abre a porta, ele se joga contra a porta, torce o pulso e abre a porta se atirando ao espaço seguinte. Não há um único gesto de Dean que não seja "criativo". Ele interpreta o ato de fumar um cigarro como um malabarismo original. Ele não é apenas um ator, atua como artista. Não haveria o Coringa sem James Dean. ( Aliás seu raro riso no filme é Coringa em 100%. Um ruído de dor e de raiva ). -------------- Tudo que atores como Phoenix consideram cool nasceu aqui. -------- Eu escrevi abaixo sobre a hora certa de morrer? Bem....se vivo James Dean, pasmem!, teria a idade de Clint Eastwood!!!!! James Dean poderia estar vivo e ter feito filmes com Quentin Tarantino e Sidney Lumet. Talvez fosse ele o cara do Ultimo Tango. Ou não. Talvez ele não tivesse sido mais que um tipo de Montgomery Clift, o primeiro ator moderno do cinema, Clift o foi, mas morreu em 1967 doente e junkie, uma caricatura de si mesmo. James Dean morreu na hora certa. E levou Marlon Brando com ele. Pois há uma teoria que diz que Brando perdeu toda a motivação assim que Dean morreu. Fato: Brando foi um gênio enquanto Dean viveu. Competitivo ao extremo, Marlon precisava de alguém que corresse em sua raia. Outro fato: Brando nunca foi um adolescente. Mesmo em The Wild One ele parece adulto. James Dean não teve tempo de fazer um adulto. Outro fato interessante: Brando é perigoso sempre. James Dean não parece perigoso. Ele é carente. O tempo todo. Jovens de 2021 não são mais Marlon Brando. Não lembram em nada o rebelde feroz de The Wild One ou o Kowalski de Um Bonde Chamado Desejo. Mas eu convivo com bandos de James Dean todo dia. Jovens de sexualidade confusa, ressentidos, calados, quietos, deprimidos, sem onde ficar. Eu falei sexo? -------- Nicholas Ray era gay. Nos reprimidos anos 50. Se casou com Gloria Grahame, uma atriz mega sexy, eu a adoro, sou louco por ela, que era ninfo e bissexual. Sal Mineo, James Dean e Natalie Wood são os 3 astros deste filme. Dean morreria no ano seguinte. Sal Mineo, gay, teria uma vida de drogas e muita dor e seria assassinado nos anos 60. Natalie Wood teria casos com toda Hollywood, de Sinatra à Warren Beaty e morreria afogada no começo dos anos 80. Não se sabe até hoje se foi suicidio ou assassinato. ----------------- Faz pouco tempo que assisti um filme que tinha Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Kirk viveu mais de 100 anos. Doris chegou aos 97. Bacall aos 85. Os 3 morreram nesta década. Não há contraste maior entre os dois elencos. -------- Voltando a Ray, ele é o cara que fez Johnny Guitar, aquele western sobre duas lésbicas que se odeiam por se amarem. Sim, o cara era foda. E o que Nick Ray nos dá aqui? Um imenso filme gay. ----------------------- Na delegacia James Dean conhece Sal Mineo. E Mineo tem uma das atuações mais comoventes da história. Em cada cena nós vemos com clareza pornô o modo como ele se excita e se derrete na presença de Dean. A boca úmida à espera dos beijos e o coração aos pulos. Há uma cena que me fez gargalhar, e eu imagino como Nicholas Ray deve ter se divertido em ver os censores de Hollywood não perceberem nada...Sal Mineo encontra Dean no portão de casa e enquanto fala vai aproximando seu rosto de anjo do rosto de dor sem solução, de James Dean. Sal não fala, balbucia. Então James Dean entra em casa e o que vemos? O pai de Dean caído na escada com uma bandeja. USANDO UM AVENTAL ROSA COM FLORES AZUIS!!!!! Eu comecei a rir muito. É inacreditável. Então vem uma longa sequência que se traduz no desejo de Dean para que o pai seja menos maricas. ------------- Natalie Wood é outro caso perverso e delicioso. Ela passa todo o filme com uma expressão de quem precisa devorar um homem JÁ! E troca, alegremente, o namorado morto pelo desconhecido James Dean ( quem não ? ). O modo como Dean e Wood se beijam é extremamente 2021: ele pega a mão dela e a leva com ele. Sem palavras se beijam. E é isso. ------------- Estamos a séculos do elaborado flerte de Cary Grant ou Gary Cooper. -------------- Já para o fim do filme, Wood e Dean vão à uma casa abandonada. E, claro, cheio de ciúmes, Sal Mineo pede para entrar. Se forma um ménage. Dean é dos dois. Mas Sal é sadico. A turma do cara que morreu vem bater nele. Uma curra. Óbvio. Ah sim! Dennis Hopper tá na turma. Sendo o que sempre foi: um sádico maluco. -------- Posso ainda falar do beijo na boca que Natalie Wood dá no pai. E como ela fica furiosa quando ele não aceita o beijo. A menina precisa de um homem. Qualquer homem---------- Pouco antes de morrer o namorado de Natalie Wood, o chefe da gang que não aceita Dean e Sal por eles serem gays, só um bobo não nota isso, confessa que "gostou de conhecer Dean"....e morre no penhasco. Um macho que não aceita seu impulso gay latente e se pune por isso....kkkkkk....estou brincando? Ora, o filme é uma imensa brincadeira! Imagino como, na casa de Ray, ele e Gloria não riram pacas da seriedade das críticas dos jornais. ---------------------- Sociologicamente o filme é um monumento. Fala da primeira geração rica, a primeira leva de adolescentes na história do mundo a não ser obrigada a trabalhar desde os 14 anos. E com tempo livre, sem onde gastar sua energia, se perdem em dor, tédio e no futuro, em rock n roll. Nicholas Ray viu, genialmente, que haveria um outro componente, a carência emocional-sexual. Hormônios não gastos em esforço de trabalho ou guerra seriam soltos em desejo sexual febril. O filme é sobre um triângulo: um gay, um bissexual e uma ninfomaníaca. Exatamente como eram Ray, Gloria e James Dean. Como eram Marlon e Clift. -------------------- Uma comédia.

NICHOLSON/JAMES DEAN/SCORSESE/ELLEN

CADA UM VIVE COMO QUER de Bob Rafelson com Jack Nicholson, Karen Black e Susan Anspach
Este filme causou profunda impressão em sua época. Mostrava com clareza a crise de toda uma geração. Cenas como a da lanchonete são usadas até hoje como exemplo de atuação ( Jack, aqui em atuação fantástica. ) O filme está longe de ser uma obra-prima. Algumas cenas são ruins. Mas ele tem algo de muito profundo, muito sincero e principalmente : ele inventou o tal "filminho independente tristinho ". Acompanhamos a crise de nosso herói com interesse e assistimos Jack Nicholson criar o perfeito herói existencial. Seu personagem está no limite. É uma figura de Antonioni em filme cem por cento americano. O final, uma longa tomada silenciosa, dolorosa e árida, é sim uma obra-prima. Jack nunca mais foi tão sincero. Ele é o desamparo, e faz isso sem uma careta, um grito, uma esquisitice. É de verdade. Este filme, irregular, fica em sua memória. Nota 8.
A BONECA DO DEMÔNIO de Tod Browning com Lionel Barrymore e Maureen O'Sullivan
Uma decepção. Os primeiros minutos são aquele delicioso terror dos anos 30, mas depois a melosa trama MGM toma conta de tudo. Browning, o gênio dos góticos da Universal, afunda no romantismo Metro. Não é a toa que ele abandonaria o cinema logo em seguida. Nota 3.
A PELE de Steven Shainberg com Nicole Kidman e Robert Downey Jr.
Uma pretensiosa bobagem. O filme tenta mostrar o porque de Diane Arbus fotografar gente esquisita. Inventa, lógico, um motivo romântico, e afunda numa chatice moderninha. Nicole está fria e distante e Downey alheio. O filme é lixo pseudo-sério. Nota Zero.
DOLLS de Takeshi Kitano
O visual é bonito. Frio com cores quentes, bem japonês. Mas em sua tristeza pop-teen, Kitano nada tem a dizer. Filmes deprê só se justificam quando têm grandes atuações ou quando são cheios de significados´poéticos. Aqui os atores não podem atuar ( são pastiches ) e o significado se esgota em dez minutos. É imperdoávelmente chato, vazio, sem vida. Como um belo boneco jogado ao canto, ele não respira, não se move, nada diz. Exemplo supremo da confusão que há entre arte e tédio, profundidade e tristeza. Ser triste não é ser profundo, e ser entediado e entediante não significa "filme de arte". Nota 4 pelo visual bonito.
A VIDA DE LOUIS PASTEUR de William Dieterle com Paul Muni
Muni foi grande ator. Aqui se mostra a luta de Pasteur para ter suas idéias aceitas. Filme biográfico da Warner : curto, objetivo, simples. Se assiste com prazer. Se esquece logo. Nota 6.
VIDAS AMARGAS de Elia Kazan com James Dean, Julie Harris e Raymond Massey
Tem alguma coisa muito irritante aqui. É James Dean. Que ator foi esse ? Ele popularizou essa coisa de que o ator deve ser "artista" e portanto deve criar sua atuação única. Então TUDO o que Dean faz é criativo : se ele pega um copo ele o pega pela borda, criativamente. Quando corre, corre de lado, braços para a esquerda e pernas para a direita. Todas as falas têm gemidos, tosse, pausas e murmúrios incompreensíveis. Ele anda tropeçando, senta-se criativamente e até o olhar é "original" : torto, semi-cerrado, louco. Foi um gênio ou um retardado ? Com James Dean termina a era dos atores "naturais" : Cary Grant, Bogart, James Stewart. Nasce a era do ator "criativo", era que dura até hoje ( Vemos tudo de Sean Penn, Nicholas Cage e principalmente de Johnny Depp em Dean. ) O filme, baseado em Steinbeck, fala do amor de pai e filho. O pai não o aceita e tudo o que ele faz é errado. A fotografia é belíssima, mas, que coisa ! James Dean estraga o filme !!!!!!!! Nota 6.
MOSQUETEIROS DA INDIA de James W. Horne com Laurel e Hardy
Uma das alegrias da vida é saber que O Gordo e o Magro existiram. Seu humor ingênuo é delicioso. Como acontece com Keaton, amamos seus filmes porque amamos a eles mesmos. Laurel foi um gênio e Hardy o complementa com perfeição. A vontade é de vê-los para sempre. Enquanto houver humor "do bem" ( os irmãos Marx são o humor "do mal" ) eles viverão. Not 7.
ALICE NÃO MORA MAIS AQUI de Martin Scorsese com Ellen Burstyn, Kris Kristofferson, Harvey Keitel e Jodie Foster
Ellen exigiu que o desconhecido Scorsese a dirigisse aqui. Ele fez um filme maravilhoso e ela ganhou o Oscar de atriz ( vencendo Gena Rowlands e Liv Ullmann ! ). Sua Alice é apaixonante e o filme tem a mais engraçada e deliciosa relação mãe/filho que já assistí. È um filme vivo, ágil, eletrizante e engraçadissimo ! Apesar de a vida de Alice ser uma desgraça... Veja o começo do filme : a criança Alice canta e num corte de 27 anos mais tarde, vemos a câmera correr e invadir a vida atual de Alice ( ao som do Mott the Hoople. O filme é do tempo do glitter. Lembra muito, no visual, Quase Famosos de Crowe ). Temos aqui três atos : o primeiro é drama puro. Alice perde o marido e cai na estrada. No segundo, ela conhece Keitel e o filme mostra o que é : comédia amarga. No ato três ela acaba em lanchonete e encontra o amor. O filme, que já era perfeito, ainda fica melhor. O elenco todo brilha ( o filho é um tipo de jovem Woody Allen que ouviu muito T.Rex... hilário ! ), Jodie é uma menina-macho que adora roubar, Keitel é um doido infantil e Kris um cowboy maduro. Mas Ellen teve aqui uma chance de ouro. Nos apaixonamos por sua Alice otimista e tão judiada. Quanto a Martin... ele vinha de dirigir Mean Streets e aqui, sempre com a câmera na mão, em movimento, usando cores claras e quentes e deixando os atores improvisarem muito, faz uma de suas maiores e melhores obras-primas e seu mais divertido filme. Única tristeza desta delícia : ela acaba. Alice deveria durar para sempre, ser box de 50 discos. Obrigatório para quem ama cinema, vida e mulheres. Nota trocentos zilhões.
A GLÓRIA DE MEU PAI de Yves Robert
Marcel Pagnol foi teatrólogo, poeta, romancista e cineasta. Foi acima de tudo um embaixador do que a França tem/teve de melhor. Este filme, baseado em suas memórias de infância, foi sucesso imenso nos anos 90 na Europa. Que filme ! Lí o livro e posso dizer que o filme é melhor. E é corajoso, pois é um filme sobre a alegria, a felicidade e o prazer de viver. Ou seja, o que vemos é desprovido de drama, de suspense e de vilões. Uma família feliz viaja em férias para a Provence. Caçam, comem, bebem, vivem. E é só isso. O filme nunca surpreende, acompanhamos a história com prazer calmo, discreto e feliz. Quando termina pensamos : é só isso ? Mas então, ao acordar no dia seguinte, nos pegamos com saudades de seu mundo. Pois o mundo do filme é nosso melhor universo. O lugar onde se fez nossa arte, nossa boa-vida, nosso amor. Tudo que nele é mostrado é atemporal, é encantador e nada tem de extraordinário. Nota 7.
O CASTELO DE MINHA MÃE de Yves Robert
Continuação do filme acima. Mostra mais uma vez as mesmas coisas. O achei melhor que o primeiro. Os franceses são desconcertantes. Fazem os filmes mais chatos do mundo. Verborrágicos e metidos. Mas também fazem, como ninguém mais, filmes sobre o prazer de viver. Tudo aqui é prazer : a luz, os pássaros, a comida, o vinho. Observe o gigantesco pão. Observe a cena em que as janelas são abertas. As caminhadas. É um filme feito de luz, de gente de bom coração. Mostra uma sociedade que não poderia ter acabado. Tem, em seu final, o único travo amargo de todo o filme : Marcel adulto, cineasta famoso, recorda a morte de sua mãe. Uma frase é dita : " e é isso a vida: momentos alegres cercados por imensas tristezas..." O filme é momento de alegria. Nota 8.

3 grandes ( e muito influentes para os dias atuais ) filmes.

A MONTANHA DOS SETE ABUTRES.
Filme de Billy Wilder com Kirk Douglas. Este era o filme favorito de Wilder. Talvez por ter sido seu mais odiado filme e imenso fracasso. A partir dos anos 80 começou a ser reavaliado, se tornando um de seus mais importantes filmes. Mas porque foi tão incompreendido e hoje é tão atual ? Vamos a sua história : Douglas é um repórter fracassado que trabalhando num jornaleco de uma cidadezinha do Novo Mexico vê a chance de dar a volta por cima. Um homem está soterrado numa mina indígena. Prolongando a agonia do resgate ele poderá monopolizar jornais, rádio e tv, pois o que vende é desgraça, e se ele fizer dessa desgraça uma novela a audiência será gigantesca. Douglas passa a atrapalhar o resgate, iludir a vitima, corromper os politicos. No final, tudo dá errado, mas não há catarse no filme. Todos e tudo continuam tão podres como sempre. Wilder prova que todo comediante é um grande pessimista. Este filme, que nada tem de engraçado, desnuda o verdadeiro Billy, o artista que viu o nazismo de perto, o fim do império aus´tríaco, a degeneração da civilização européia. Nada dá alivio na tensão deste filme : o repórter é um verdadeiro filho-da-puta ( não há melhor definição ). Sua alegria com a súbita fama é revoltante. O xerife da cidade é um ladrão e o empreiteiro, um pau-mandado. A esposa do acidentado é uma vagabunda e a população da cidade aproveita a´notoriedade do lugar para faturar. Um circo grotesco se forma ao redor da tragédia. O final, em que sempre esperamos algo de xaroposo ou consolador, é duro, amargo e forte. Nada alivia. Kirk Douglas faz a perfeição o reporter. Ele nasceu para esse tipo de egoista cinico. Um forte retrato do mundo do espetáculo, onde o maior espetáculo é aquele que conjuga dor/morte/absurdo. ( Vide acidente da Air France ).
JUVENTUDE TRANSVIADA
Filme de Nicholas Ray com James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo e Dennis Hopper.
Cenas em delegacia. Três jovens são entrevistados pelo serviço social. Natalie é uma filha que ama demais o pai e não é aceita por ele. Mineo é um garoto rico porém sem contato com os pais, e Dean é um desajustado que vive mudando de cidade. Seu pai é um fraco maricas, dominado pela esposa. Dean estréia na escola, é amado pelo personagem de Mineo e cria inimizade com a gang da escola. Vem a muito famosa cena do racha e o final, belo e dramático, em mansão abandonada. O filme inaugura o tipo de drama adolescente que seria chavão por cinco décadas seguintes. E ainda vemos nele traços daquele filme independente americano dos anos 90 e 2000. Mas porque ele é ainda tão atual, tão válido ? Vamos a apreciação: primeiro o fantástico Sal Mineo. Na época ele era namorado do diretor Ray e a bandeira que ele dá é flagrante. Seu personagem se apaixona por Dean e passa todo o filme sofrendo por esse amor gay irrealizado. Como isso passou na ferrenha censura de 1955 é um mistério! Seu rosto de baby, seus modos de efebo, tudo nos deixa surpresos e faz parte da imensa riqueza do filme. Filme, longe de ser perfeito, que afunda nas cenas dos "adultos" e que tem a minha muito querida Natalie Wood canastrona e mal definida. Ela compromete, e compromete muito. E tem, acima de tudo, James Dean.
Existe uma teoria que diz que Marlon Brando só foi Marlon Brando duas vezes : no Chefão e Último Tango, feitos no mesmo ano, para provar que ainda era o maior; e entre 50/56 com o objetivo de suplantar primeiro o gênio Montgomery Clift, e depois para esmagar o absurdamente carismático James Dean. E o que faz aqui James Dean ? Ele faz miséria! Cada cena com ele, cada pequeno gesto de mãos, toda expressão facial, a maneira de pular palavras, engolir as sílabas, balbuciar pensamentos, tudo nele nos deixa abismados, aturdidos, estupefatos. Ele sobra no filme, sobra naquela época. Todos lá parecem ser gente de 1955, mas Dean, como Brando na época, parece ser atemporal. Ele é de 55, mas é também um jovem louco de 67, um rebelde de 77, um bacana de 87, um esportista irriquieto de 97, um astro teen de 2007. Creia, sua influência é tamanha que não há ator desde então que não o tenha estudado, imitado, encorpado. Nicholson, Pacino, Cage, Depp, e todos os outros. Eles falam como Dean ( aquela voz grave e baixa, frases ditas devagar, pensamentos emitidos pelo meio, não sorrir, mas não ser sério, um ar de sofrimento superado, um charme de bad boy sensível ). Mas o mais fantástico é que eles não imitam James Dean apenas na técnica de atuar. Johnny Depp fazendo o pirata não é Dean, mas Johnny Depp numa entrevista é James Dean! A voz é a mesma, o olhar é o mesmo, o tédio identico, as roupas são as que JD usaria. ( JD e JD...). É como se todo ator americano desde então sonhasse em ser genial como Brando, mas fosse na vida pessoal um clone de James Dean. Assista este filme e deixe seu queixo cair. No mais, um comentário sobre Nick Ray : ele se tornou ídolo de Goddard e depois de Wim Wenders. Dá pra entender o porque. Este filme tem movimentos de câmera e angulações que antecipam o cinema dos dois e até mesmo o video-clip. Ray, bissexual, rebelde, esquisitão, fez aqui seu filme mais niilista. Por fim, uma tragédia: Dean morreria no ano seguinte numa Porsche Spyder. Aos 24, com apenas 3 filmes. Natalie morreria afogada aos 40, após uma vida de álcool e droga. E Sal Mineo se mataria aos 30. O que foi este filme ? Uma radiografia do que viria a seguir, para eles mesmos e para a América.
CONTOS DA LUA VAGA
Filme de Kenji Mizoguchi. Se o filme de Wilder mostra o espetáculo desagradável do mundo atual e se o filme do mito James Dean mostra o espirito desconfortado em que existimos, esta obra de Mizoguchi mostra o conflito entre dinheiro e alma e a guerra entre mulher e homem. No Japão do século XVI, assolado por cruel guerra civil, acompanhamos dois homens; um artesão ambicioso e um outro que sonha ser um samurai. Vemos então o que acontece. Massacres, ingratidões, muita crueldade ( a morte da esposa chega a ser insuportável ), estupros e assombrações. O filme começa como um libelo socialista contra o dinheiro e termina como poesia metafisica à favor das mulheres. Mizoguchi, o mais japonês dos cineastas, filma cenas de rara beleza. A travessia do lago, a princesa-fantasma seduzindo o artesão, e o final: a sequencia do retorno ao lar, momento de triste e absurda beleza poucas vezes vista igual. Um maravilhoso e inesquecível filme-poema, comentário sobre tudo aquilo que importa na vida. O diretor, ele mesmo dono de biografia dramática ( a irmã foi vendida como gueixa para salvar a familia da fome ), filma tudo com deliberada precisão. Poucos cortes, poucas fusões e uma câmera sempre leve, flutuando, observando. Este amado filme ( dos mais amados da história do cinema ) fica como documento de uma sensibilidade muito refinada, inteligente e de profundo amor às mulheres. São elas as guardiãs da sabedoria. Os homens, tolos, precipitados, erram todo o tempo, elas remendam nossos farrapos. Mizoguchi crê nessa idéia, demonstra-a com perfeita beleza e faz uma obra inesquecível.