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KUROSAWA/ KEVIN KLINE/ STEVE MARTIN/ DORIS DAY/ TOM COURTNEY

A SOLIDÃO DE UMA CORRIDA SEM FIM de Tony Richardson com Tom Courtney e Michael Redgrave
Com seu lançamento em DVD, muito critico inglês passou a colocar este filme entre os dez mais da ilha. Feito em 1963, conta a saga de um teen pobre e desiludido. A mãe tem amantes, a casa é suja e cheia, as namoradas tolas. Ele rouba uma padaria e é preso. Na Febem inglesa ele se destaca como atleta. Mas as coisas nunca são fáceis. Richardson faria Tom Jones em seguida, e Redgrave faz o diretor da Febem. Tom Courtney tem um desempenho mágico. Sujo. O filme é magnifico. Nota 9.
UM FILME FALADO de Manoel de Oliveira
Uma enfadonha aula de historia. Melhora na interação final entre os atores. O sentido é óbvio, a Europa começou no mar de Portugal e termina na nova ordem atual. Bem...não deixa de ser bonito.
A ESPIÃ DAS CALCINHAS DE RENDA de Frank Tashlin com Doris Day e Rod Taylor.
O titulo ridículo não estraga o prazer de ver este tolo filme pop. Tashlin começou como cartunista do Pica Pau. Seus filmes têm sempre a leveza do humor visual. Doris é confundida com uma espiã. Ruy Castro, fã de Doris, não gosta do filme. Eu gosto.
MY BLUE HEAVEN de Herbert Ross com Steve Martin, Joan Fusão e Rick Moranis
Não gosto. Um dos piores filmes do grande Martin. Nem ele salva essa chatice sobre um delator de NY sendo protegido pelo tira do FBI Moranis. Fuja!
TEMPO DE RECOMECAR de Irwin Winkler com Kevin Kline, Hayden Christensen e Kristine Scott Thomas.
Um homem que fracassou como pai e marido descobre que vai morrer. E dá sentido a sua vida reformando sua casa. Kevin está excelente. Mas...em 1952 Kurosawa fez o mais triste dos filmes, Viver, onde Shimura faz uma praça antes de morrer. Impossível comparar.  O japonês é a obra de um deus.
SONHO DE AMOR de Charles Vidor Com Dirk Bogarde e CapucineHorrivel! É sobre Liszt… mas nada faz sentido.
AS AVENTURAS DO CAPITÃO GRANT de Robert Stevenson com Hayley Mills e Maurice Chevalier.
Bela adaptação de Verne. Ação na medida certa. Apesar dos efeitos ruins, tem boa direção, bom roteiro e produção Disney. Os atores são ótimos!
A MAIOR HISTORIA DE TODOS OS TEMPOS de George Stevens com Max Von Sydow
O diretor de Shane e de tantos grandes filmes faz a vida de Jesus sem emoção. O ator favorito de Bergman faz Jesus. Dura quatro horas e levou anos para ficar pronto.

NASHVILLE/ LASSE HALLSTROM/ ROBERT WISE/ HELEN MIRREN/ FRED ASTAIRE

   NASHVILLE de Robert Altman com Ronee Blakely, Keith Carradine, Scott Glenn, Jeff Goldblum, Barbara Harris, Lily Tomlin, Ned Beatty, Henry Gibson, Geraldine Chaplin, Karen Black, Elliot Gould, Christina Raines...
Quando lançado em 1976 muito crítico disse ser o maior filme americano desde Citizen Kane. No Oscar ele venceu apenas a melhor canção, a bonita I`m Easy, de Carradine. O grande campeão daquela noite foi Rocky e isso revelou o futuro do cinema. Stallone venceu Altman ( e Lumet, que perdeu com a obra-prima, Networks ). Com os anos 80 Altman afundou, Rocky durou e Nashville se tornou um cult. Visto hoje a primeira coisa que fica clara é a imensa dívida que Paul Thomas Anderson deve a Robert Altman. Nashville lembra muito o melhor de Anderson. É um vasto painel, crítico, muito crítico, sobre uma porção de pessoas, gente nada especial, ou, muito comum, gente que se revela muito original, como todos o são, pessoas que são captadas em seu mais ridiculo, mais patético, mais sofrido. Em Nashville, capital country, vai acontecer mais um festival de música caipira. Os personagens lá se encontram. O velho cantor famoso, com sua peruca e seu visual ridiculo, meio racista, vaidoso e medroso. Já aqui se revela e genialidade do filme: fosse outro o caso, este personagem seria uma caricatura. Aqui não é. Pode até ser cômico, mas é sempre real. O filme é tipico do realismo do cinema feito nos anos 70. Os lugares e as pessoas são como são, pobres, feias, tolas, vazias, e assustadas. Uma repórter da BBC tenta fazer uma matéria, uma dona de casa canta na igreja e tem dois filhos surdos. Uma cantora sem talento faz um strip. Um motoqueiro mudo anda a esmo pelas ruas. Uma hippie de LA devora homens. Um velho no hospital espera pela morte de sua esposa. Um soldado do Vietnã olha tudo aturdido. Um trio se separa e o cantor transa com toda mulher que encontra. Um RP procura apoio para seu candidato a presidente. Um carro de som anda pelas ruas espalhando slogans politicos. Uma cantora enlouquece no palco. E mais campus, igrejas, drogas, e muita, muita música caipira. Altman exibe a América que os americanos tentam ignorar, o centrão, a zona atrasada, fechada, piegas, chorosa, saudosa, religiosa, preconceituosa. A região que elege os presidentes e que os derruba ou assassina. A região onde nasceu o blues, o rock e o jazz. E onde nascem os mais loucos artistas, psicóticos, gênios. O filme é uma festa de vozes embaralhadas, músicas muito ruins e algumas muito boas, cenas sempre fortes, atores sublimes e sacadas espertas. Uma obra-prima. sim, e que não poderia ser mais diferente do cinema que se faz hoje. Nashville não faz uma só concessão. É adulto, dura 3 horas, mostra o que deve mostrar e nunca cansa. Obrigatório mesmo para os que odeiam country music. Nota DEZ!!!!!!
   A CEM PASSOS DE UM SONHO de Lasse Hallstrom com Helen Mirren e Om Puri.
Vamos ao extremo oposto de Nashville. Aqui tudo é bonito, limpo, elegante, colorido e infantil. Não deixa de ser um bom filme. É gostoso de se ver e muito melhor que 99% do que rola por aí. Começa na India ( sim, O Brasil não é o país pobre queridinho, a India tomou o posto que poderia ter sido nosso ). Uma familia de cozinheiros perde tudo e vai à Europa. Deixam a Inglaterra "" porque na Inglaterra toda comida é ruim"". Acabam na França. Abrem um restaurante no campo, de frente a um rival, et voilà..... Helen Mirren, minha atriz favorita, é a dona do restaurante rival. Uma megera. O filme tem cara de festa. É bobo, mas não ofende. E os atores são ótimos. Gostei. Hallstrom, sueco que se revelou com Minha Vida de Cachorro, sabe contar uma história. Nota 6.
  BRIGADOON ( A LENDA DOS BEIJOS PERDIDOS ) de Vincente Minelli com Gene Kelly, Cyd Charisse, Van Johnson
O tema é ótimo, o filme não. O motivo, dizem, foi a desconfiança da MGM. Deram pouca grana, e em vez de ir à Escócia filmaram tudo em estúdio. Mas não é só isso. A coreografia de Kelly é banal, dói dizer isso, e a direção de Minelli é desinteressada. Na Escócia, dois americanos se perdem. Encontram uma cidade que parou no tempo. Descobrem que ela é um feitiço. A cada cem anos ela surge para viver um dia e depois dormir. O filme, baseado em sucesso da Broadway, não fez dinheiro. É um musical chato. Nota 3.
  CATIVA E CATIVANTE de George Stevens com Fred Astaire, Joan Fontaine, George Burns e Gracie Allen.
Passado na Inglaterra ( que se parece demais com a Califórnia ), mostra Fred como um ator que se apaixona por nobre inglesa. Todos os filmes feitos por Fred na RKO merecem ser vistos. Três são obra-primas de humor e elegância, The Gay Divorcée, Top Hat e Swing Time. Os outros são ''apenas"" ótimos. Se voce quer saber o que é o hiper-profissional cinema dos anos 30, eis seu filme. Ele é leve, bobo, superficial e delicioso. Músicas de Gershwin e coreografia de Hermes Pan. Nota 8.
  TIM MAIA de Mauro Lima com Babu Santana, Cauã Reymond, Alinne Moraes e Robson Nunes
Metade bom, metade ruim. Todas as cenas com Tim jovem são ok. Quando entram as drogas o filme cai e fica óbvio. Pior, chato. Tim Maia, gênio, merecia filme melhor. Mas até que vale a pena. Tem as músicas, boas cenas de show, bela reconstituição de época. ( O que é aquele Roberto Carlos????? ). Nota 5.
  PUNHOS DE CAMPEÃO de Robert Wise com Robert Ryan
Uma obra-prima. Acompanhamos em tempo real a hora e meia da vida de um boxeur. Noite de luta, ele se despede da noiva e vai ao local da luta. Ela anda pela cidade, ele se prepara para a luta. O ambiente é sujo, pobre, realista. Vem a luta. Luta que foi arranjada. Mas ele não aceita e luta de verdade.... Robert Ryan tem uma grande atuação. Faz um lutador derrotado, velho, cansado, desiludido. Robert Wise ganhou dois Oscars. Um por West Side Story e outro por A Noviça Rebelde. Mereceu os dois. E poderia ter ganho outro aqui. Touro Indomável baseou suas cenas de luta neste filme. Dura apenas hora e meia. É um monumento. Wise foi um grande, muito grande mestre. Cada corte, cada rosto é um drama completo. Obrigatório. Nota DEZ!!!!!!!!

007/ LINCOLN/ COLE PORTER/ WILLIS/ TOM HANKS

   A VIAGEM de Tykwer e os Wanchowski com Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugh Grant
Em 1998 nada era mais excitante que Run Lola Run e Matrix. Em 2013 nada é mais cool que meter o pau nos diretores desses dois filmes ( Shyalaman é outro ex gênio daquela geração ). Este filme não tem pé nem cabeça! Faz uma mistureba de espiritismo, fisica, futurologia e termina como apenas uma ode óbvia a all you need is love. São três horas de profundo tédio. Tom Hanks se diverte em imitar Alec Guiness, faz um monte de personagens.  É a única diversão do filme, descobrir quem é quem debaixo daquela montanha de maquiagem. Nota 1.
   LINCOLN de Spielberg com DD Lewis e Tommy Lee Jones mais a grande Sally Field
Escrevi sobre ele abaixo. Como aula de história, vale. Como cinema é enfadonho. Lincoln fala e fala e murmura. Salas escuras e negociações. Lewis está ok. Tommy é o único que dá vida ao filme. Longe de ser um grande filme, não diverte e jamais emociona. Mas dá dignidade a profissão de politico. O que hoje é louvável. Cavalo de Guerra era bem melhor. Quem quiser saber mais sobre o presidente, veja o muito superior filme de John Ford. Nota 6.
   SKYFALL de Sam Mendes com Daniel Craig
Ó James Bond...então é esse o nosso Bond versão 2013? Craig não é mal ator de todo, ele apenas nada tem a ver com o personagem. Fleming sonhava em ver Cary Grant como Bond e ninguém é menos Cary Grant que Craig. Esse Bond tem cara de burro com suas orelhas de abano. Nada sedutor, ele parece sempre estar fingindo ser James Bond. Well...cada época tem o Bond que a reflete, Danny é um pseudo-Bond numa época de virtualidades. O filme tem ação banal, enredo pobre e nunca mostra aquela coisa divertida e sacana que fez a lenda de Bond. Alguns criticos o elogiaram. Com certeza são aqueles que nunca gostaram de 007. Nota 1
   E A VIDA CONTINUA  de George Stevens com Jean Arthur, Cary Grant e Ronald Colman
Este roteiro é muito esquisito. Começa como drama, vira comédia leve e termina como drama novamente. A impressão é a de que as 3 partes não se unem. Fala de um acusado de assassinato que foge e se esconde na casa de ex-namorada. Um famoso juiz se hospeda lá... Stevens foi um dos gigantes de Hollywood e o fato deste filme ser agradável, mesmo tendo roteiro tão confuso, mostra o quanto Stevens sabia dirigir. Ele começou como montador nos filmes de Laurel e Hardy, sabia dar ritmo aos filmes. Nos anos 50 Stevens faria clássicos como Giant, e Shane. Cary está meio fora de papel e Colman domina o filme com muito tato e humor. Agradável. Nota 6.
   ALTA SOCIEDADE de Charles Walters com Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly
Um filme com Bing e Frank cantando ótimas canções de Cole Porter. O que mais se quer? Grace Kelly, bonita como uma deusa. E ainda tem Louis Armstrong fazendo Louis Armstrong. O filme, modelo de chique, fala de uma moça frigida que vai se casar. O ex-marido fica por perto e a perturba. O roteiro é uma simplificação da peça de Philip Barry que fez a glória de Kate Hepburn. Hollywood teve duas aristocratas atrizes: Kate e Grace, as duas fizeram este papel. O filme é alegre, leve, colorido, elegante, um exemplo do que antes se chamava de "diversão civilizada". As canções de Porter são sensacionais, saltitam. True Love foi um hit depois regravado por George Harrison. Grace brilha intensamente. Frank nunca esteve tão simpático. Nota 9.
   HUDSON HAWK de Michael Lehmann com Bruce Willis, Danny Aielo e Andie MacDowell
O filme que quase acabou com a carreira de Willis. Superprodução, foi um fracasso em 1991. É uma comédia sem graça que fala de plano para roubar pedras que formariam uma máquina de Leonardo da Vinci que transformaria chumbo em ouro. As piadas não têm graça, Willis está exagerado e a ação é confusa. De qualquer modo há a bela Itália e o estilo de Andie. Nota 4.
   ZOOLANDER de Ben Stiller com Stiller e Owen Wilson
Fuja! Nada aqui tem graça. Nota Zero.
  

XINGU/ GEORGE STEVENS/ KON ICHIKAWA/ CAMERON CROWE/ ELECTRA EURIPIDES/ GARY COOPER/ ZÉ TRINDADE

   COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO de Cameron Crowe com Matt Damon e Scarlett Johansson
Há algo de errado com a gente. Simplesmente somos incapazes de levar "o bem" a sério. O século XX entupiu nossa cabeça com a ideia ( absurda ), de que apenas aquilo que é "do mal" pode ser verdadeiro. Quem viu este filme? Fala do luto, da morte, da reconstrução. Mas tudo sob a ótica de gente do bem. Pessoas que são como eu ou como as que eu conheço. Mas o doentio em nosso mundo é que essas pessoas que conheço só se interessariam por este filme se ele fosse do mal. Se o pai fosse um viciado em heroína e pedófilo talvez eles o assistissem. Se o papel de Scarlett fosse o de uma maníaca tarada e ladra, eles fizessem fila para ver. O estilo Jornal Nacional é o que predomina. Para as massas, prédios explodindo e viagens fabulosas, para os pseudo-cultos, a exposição de podridão e de personagens "do mundo real". Mundo real de quem, cara pálida? O meu não é. Este filme é melancólico pra caramba, não foge de assuntos dark, mas tudo sob a ótica da bondade, do ser legal. Senti aversão em 3/4 dele, tudo me parecia fofo, bobo, mas só no fim percebi que aquilo tudo era muito mais eu-mesmo que baboseiras metidas a artesinha-para-principiantes que abundam por aí. Em um mundo mais saudável este filme seria um hit. E meus amigos teriam corrido para vê-lo e depois o discutido comigo. Mas ele não tem auto-punição, sangue, sexo doentio, drogas pesadas, necrofilia...Tem apenas um cara tentando sobreviver e uma familia com problemas sérios de uma familia banal. Como a minha. E provávelmente como a sua. Damon está ótimo e Scarlett, desglamurizada, tenta atuar. É sua melhor interpretação. Crowe não desiste. Desde Singles ele tem um interesse: gente legal em mundo errado. O final deste filme é lindo de chorar. Mas alguém ainda procura a beleza na arte? Nota 7.
   UM LUGAR AO SOL de George Stevens com Montgomery Clift, Elizabeth Taylor e Shelley Winters
Monty faz um desajustado. Em seu rosto vemos que ele não tem lugar, mal sabe o que é. Mas para seu azar ele sabe o que quer. E desajeitadamente tenta obter esse objeto. E paga pelo erro. O filme não faz nenhuma concessão. É duro. E maravilhosamente bonito. Stevens sempre buscava a perfeição. Cena a cena ele trabalhava duro para ser perfeito. Conseguia. Tudo aqui é superlativo: atores, fotografia e roteiro. Jovens diretores costumam estudar este filme nas escolas de cinema. O que conseguem aprender? Ou melhor, o que a Sony e a Viacom deixam ser tentado? Filme de crime sem vilão e sem mocinho. Tragédia que beira a magnitude. E composta de gente comum, normal, o que o torna mais forte ainda. Nota DEZ!!!!!!!
   ARROWSMITH de John Ford com Ronald Colman, Helen Hayes e Myrna Loy
Um dos primeiros filmes sonoros de Ford, tem um visual cheio de sombras e belos cenários expressionistas. Começa devagar, mas vai crescendo até seu final dramático. Fala de um médico que exita entre ser um pesquisador ou um sanitarista. No final vai para o Caribe enfrentar epidemia. Apesar do Caribe ser um país de fantasia, é lá que o filme atinge seu melhor ponto. Há clima, magia e suspense. Colman parece artificial demais, um Melvyn Douglas cairia melhor. Myrna Loy infelizmente aparece pouco, seu charme e sofisticação parecem de outro universo. É um filme bom, mas longe da gigantesca estatura de Ford. Se parece muito com as bios que a Warner faria em seguida. Nota 6.
   FOGO NA PLANÍCIE de Kon Ichikawa
É o mais próximo do inferno que podemos chegar. Nas Filipinas em 1945, soldados japoneses, cercados por soldados americanos, não têm o que comer. Acompanhamos um soldado tuberculoso vagando pela floresta. No caminho ele encontra desesperados como ele. O homem em seu limite. Canibalismo. Alguns começam a comer os feridos e um deles chega a comer a si-mesmo. O cinema japonês é rico em filmes que vão ao limite. E aqui Ichikawa filma sem sensacionalismo. Tudo é como é. Eles não são do mal ou do bem, são organismos que tentam viver. O objetivo da vida seria a própria vida. É um dos filmes mais desagradáveis já feitos. Mas atenção, Ichikawa nunca busca o sensacional ou a chantagem emocional, não faz escãndalo, o filme é elegante. Chocantemente elegante, ele prova que isso pode ser feito. Nota 8.
   ELECTRA de Michael Cacoyannis com Irene Papas
Impressionante. Numa vasta planicie, Cacoyannis filma a tragédia de Euripides do modo como tudo deveria ser 2500 anos atrás. Cabanas, roupas de lã grossa, gente feia. Irene está assustadora. Sua Electra é infelicidade completa. Ela precisa e deve se vingar. O irmão, Oreste, exita, mas acaba por cometer o crime. A trilha sonora de Mikis Theodorakis é uma obra-prima. A fotografia de Walter Lassally também. Se eu fosse freudiano diria que todo nosso inconsciente mora aqui. Se eu fosse jungiano, diria que este filme mostra nossos arquétipos. E se eu acreditasse em pura biologia, diria que nossos gens foram poluídos por essas experiências. Como sou apenas eu-mesmo, digo que é um filme digno de um texto chave de nossa cultura e de nosso senso do que seja o trágico. Jamais se farão filmes como este novamente. Nota 9.
   THE PRIDE OF THE YANKEES de Sam Wood com Gary Cooper e Teresa Wright
Eis o que seria um filme pop antigo. A biografia do jogador de beisebol Lou Gehrig, seu sucesso e sua aposentadoria ao se descobrir com doença fatal. Sinal dos tempos, o filme mostra sua infancia pobre, sua escalada e seu estouro. Os primeiros sinais da doença também, e NÃO mostra a doença. A cena final, linda, mostra Lou entrando no túnel dos vestiários, sumindo no escuro, e fim. Tempo em que havia o pudor de se poupar a crua exposição de intimidades intimidantes. Quem teria prazer em assistir a dor de um câncer? Gary Cooper é um monstro de carisma. A gente o segue com os olhos, gosta de olhar pra ele e de o escutar. Sam Wood era o diretor dos grandes hits ds MGM. Este foi um dos maiores. Absolutamente ultrapassado, totalmente familia, e uma deliciosa nostalgia. Nota 7.
   ENTREI DE GAIATO de JB Tanko com Zé Trindade, Dercy Gonçalves, Costinha e Chico Anísio
Brasil dinossauro. Zé Trindade é meu humorista brasileiro mais querido. Passei a infancia repetindo seus bordões ( "O que é a natureza...."), um malandro simpático. Ainda se pode crer em malandros simpáticos? Dercy é outra malandra. Os dois tentam enganar um ao outro, e depois resolvem roubar um hotel. Ingênuo e bobinho, quando termina deixa uma sensação de "quero mais". Cauby Peixoto aparece cantando e tem Moacyr Franco com "Me dá um dinheiro aí!". Nota 5.
   MINHAS TARDES COM MARGUERITTE de Jean Becker com Depardieu
Já falei deste filme alguns meses atrás. Mas ele voltou a cartaz e devo dizer que é o melhor filme para se ver em SP. Tudo o que falei do filme de Crowe vale para este com uma diferença, este é melhor. Simples, triste, solar ao mesmo tempo, é cinema sobre gente e não sobre bailarinas de cartoon dark ou viciados em sexo de manual de arte-para-iniciantes. Tomo radical posição ao lado de O Artista e de Hugo contra a moda emo. E sei que esse cinema que hoje combato é culpa do meu heroi Bergman. O gênio da Suécia criou o cinema como arte-da-crise existencial, e um bando de pseudo-artistas tenta a 50 anos repetir seus passos. Acabam por fazer uma versão teen dos dramas bergmanianos. Fazem um tipo de PERSONA para iletrados. Aqui não. Becker faz um filme longe desse mundo de baboseiras. Depardieu é apenas um bronco que descobre a cultura. É lindo, é real e é profundamente humano. Imperdível!!!!! Nota 8.
   XINGU de Cao Hamburger com Felipe Camargo e João Miguel
O que deu errado? O tema é o melhor. Os cenários de sonho. Mas não emociona jamais. Voce vai ver um filme como este para sentir frisson, adrenalina e até lágrimas. Nada disso ocorre. Voce se interessa e não se entedia, mas nunca seu coração dispara. Uma entrevista com os heróicos irmãos funciona muito mais. Creio que somos um país de documentários. Não entendemos o espetáculo. Um doc com este tema funciona como show mais que este filme. O que é uma contradição. Mas merece ser visto pela beleza plástica e a nobreza de seu tema. E a coragem de Cao ao empreender uma obra tão dificil. Mas devo dizer, é frustrante. Nota 6.

UM LUGAR AO SOL - GEORGE STEVENS, DEMASIADO HUMANO, DEMASIADO HUMANO...

   George Stevens já era um diretor famoso quando em 1941 foi para a Segunda Guerra. Até então ele era basicamente um diretor de comédias, um excelente diretor de comédias, que começara fotografando filmes de Laurel e Hardy e evoluíra para as produções A. Na guerra ele comandava um grupo que era encarregado de filmar e fotografar batalhas e tomadas de cidades. Stevens esteve no dia D e mais importante, foi seu grupo o primeiro a entrar em Dachau. George Stevens foi o primeiro a ver e registrar câmaras de gás, pilhas de ossos e corpos jogados como lixo. De volta a seu país, ele nunca mais dirigiu uma comédia. Este filme, considerado por muitos um dos melhores filmes já feitos na América, é uma sinfonia sobre compaixão, sobre desamparo e sobre o azar.
   Montgomery Clift é um rapaz pobre que cruza o país para encontrar um tio rico. Lhe pede um emprego e passa a trabalhar na fábrica do tio. Se envolve com colega de trabalho e a engravida. Mas ao mesmo tempo começa a ser surpreendido pelo interesse que desperta numa rica herdeira belíssima. Tudo, que poderia ser sorte e alegria, se faz desencanto, erro e crime. O filme é de uma melancolia absoluta.
   Baseado em clássico de Theodore Dreiser, o roteiro não faz concessões. Clift é um rapaz triste. Em seus olhos e nos seus modos vive um tipo de "estrangeiro", de homem que nada sente por inteiro, de alienado. Marlon Brando levou a fama, mas o ator que criou o modo moderno de atuar é Clift. Torturado, complicado, profundamente infeliz, Clift morreria aos 45 anos de alcoolismo. Seu trabalho aqui é impressionante. Jamais sentimos raiva ou pena dele, sentimos proximidade, compaixão.
   Incrível pensar que Elizabeth Taylor tinha 17 anos aqui. Foi seu primeiro filme sério e ela está lindíssima. Faz com leveza e coquetismo a milionária que cai de paixão por Clift. As cenas de beijo dos dois são plasticamente imbatíveis. O filme fez dos dois, amigos para toda a vida. Shelley Winters faz a proletária engravidada. Há uma cena, em que ela vai ao médico para tentar aborto. A cena lentamente se transforma  numa luta surda, cruel, tristíssima entre Shelley e a verdade.
   George Stevens se fez famoso pelo seu capricho. Filmava muito, gastava meses em montagem, era um perfeccionista. Nos extras Roubem Mamoulian diz que ele tinha o mais corajoso dos estilos: cenas longas, sem movimento de câmera, sem cortes e enfeites. E são cenas maravilhosas! A beleza do filme está ligada ao tema. Nunca é uma beleza gratuita. Como diz Warren Beaty em outra entrevista nos extras, Stevens dirige sem se exibir. Como faziam Renoir, Wyler e Zinnemann, é a direção invisível, não intrusiva, que conta e mostra, que nos faz esquecer que aquilo é um filme.
   As cena se fundem em outras cenas. É um efeito encantatório. O rosto de Liz Taylor se apaga lentamente enquanto um carro passa correndo numa estrada. Ou o lago brilha ao luar e desaparece dando lugar aos rostos de Clift e Liz. As cenas se embaralham, se torcem, fluem como brilho de sonho. Aliás, todo o filme tem um aspecto maravilhoso de sonho ( ou melhor, pesadelo ). Mas não é só na forma ou em seus atores que reside a grandiosidade de A Place in The Sun. É na humanidade do todo que ele nos toca mais fundo. Aqui não há um vilão. Não há um herói. Os milionários são apenas homens, assim como os operários. As duas mulheres se comportam como amorosas e assustadas apaixonadas. Nenhuma delas é ruim ou boa. E Clift, numa atuação mágica, faz um assassino que nunca parece ruim ou esperto, e um herói que é todo mentira, tristeza e distancia.
   Vencedor de 6 Oscar, sucesso de bilheteria, feito antes de SHANE, este é um filme inesquecível.

SHANE, UM LIVRO INTEIRO SOBRE O FILME DE GEORGE STEVENS ( HEIDEGGER E O WESTERN )

   Paulo Perdigão, programador de filmes da Globo, lançou em 2000 este livro. São 190 páginas analisando cena a cena o monumento SHANE ( Os Brutos Também Amam ) de Stevens. Para quem adora o filme é obrigatório, mas não vou falar de tudo aquilo que ele fala. O que mais me alegrou é o paralelo que Paulo faz entre o western e a filosofia de Heidegger. Ele sintetiza algo que eu intuia mas não conseguia ver com muita clareza.
   O cowboy é aquele que vive no limite entre dois mundos. Não faz parte da cidade/familia, e nem é parte da marginalidade. Não é da cidade e nem do campo. Não está no presente e nem pensa no futuro. Ele está na solidão e me movimento. E vem daí a filosofia Heideggeriana: o cowboy se debate por se sentir preso. Preso numa condição existencial. Mas o que ele não percebe é que ele é o único personagem realmente livre. A angústia perante o vazio e a falta de propósito é a própria sensação de liberdade. Os fazendeiros jamais ousam pensar em liberdade, o mesmo acontecendo com os homens da cidade. Eles vivem nas formas que foram para eles construídas. O cowboy é o ser que saiu dessa forma e se lançou ao limite, ao vazio. Ele sente a solidão, mas nesse sentimento ele pode ver o que acontece a seu redor. Ele vive no vazio dos espaços e dos dias, mas ele sabe, intuitivamente, que foi ELE quem escolheu, foi ele que assim o desejou.
   Todos os grandes heróis trazem embutidos em si esse trajeto existencial. Ninguém melhor que o cowboy exemplifica isso de forma tão nítida.

MICHAEL POWELL/ LEAN/ HEPBURN/ FRED E GINGER/ CHOW

KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow com Stephen Chow
Imenso sucesso na Asia, este filme é o que pode ser chamado de festa de reveillon. Ele é muuuito engraçado e é feito com uma técnica cinemática assombrosa. Chow usa todas as referências possíveis : Tarantino, Keaton, Tati, Scorsese e ainda Fred Astaire ( há bela homenagem a Top Hat ). Sem dúvida é um dos grandes filmes deste milênio. É ver para crer. Nota DEZ!!!!!
OS 5 VENENOS de Chang Cheh
Clássico da Shaw Brothers. Fala de grupo de ex discipulos Shao Lin que procura tomar posse de fortuna. É cada um por si. As lutas são estupendas, os cenários muito criativos e a diversão está garantida. Como já falei, após esse aprendizado de filmes orientais, fica dificil para mim engolir a parte de ação de filmes como Batman, Homem de Ferro e que tais. Nota 7.
O ESPIÃO NEGRO de Michael Powell com Conrad Veidt e Valerie Hobson
Para Scorsese e Coppola, Michael Powell foi um gênio, o maior diretor da Inglaterra. Eu concordo. Todos os seus filmes variam entre o genial e o excelente. Além do que ele fez de tudo : comédia, drama, musical, fantasia, aventura, filme experimental. E culminou com A Idade da Reflexão, o filme mais alegre da história. Este é de seus primeiros filmes e fala de espião nazi que trabalha na Escócia. Suspense hitchcockiano, belo clima de fatalidade, tudo feito com rapidez e simplicidade. Um gênio em seu nascimento. Nota 7.
UMA MULHER DO OUTRO MUNDO de David Lean com Rex Harrison
Mas a maioria acha que David Lean é o maior dos ingleses ( Spielberg e Fincher o colocam nas alturas ). Sem dúvida foi um gigante. Aqui, no começo de sua hiper vitoriosa carreira, ele adapta uma peça de imenso sucesso de Noel Coward....Ah Noel Coward....Nada foi mais pop no final do imperio britânico que Coward ( lá entre 1915/1955 ). Suas peças, suas canções, as frases que ele dizia... Noel era o inglês que todo inglês queria ser. A partir de 1959, quando os Angry Men tomaram a cena, Noel Coward se foi para o limbo. Waaaal....esta peça/filme trata de fantasma de esposa que volta a terra para atrapalhar o casamento de ex-marido. Há ator de comédia fina melhor que Rex Harrison ? O filme é uma efervescente bobagem. Nota 7.
PAT E MIKE de George Cukor com Kate Hepburn, Spencer Tracy e Aldo Ray
Kate e Spencer tiveram um caso extra-conjugal que durou toda a maturidade dos dois. Mas, por ele ser um fervoroso católico irlandês, jamais se divorciou da esposa. A imprensa, que respeitava muito os dois, sabia de tudo mas não divulgava nada ( belos tempos éticos ). O caso só veio à tona quando a esposa de Tracy morreu. Nesse tempo de affair ( que terminou com a morte dele em 1967, foram 35 anos de caso ), os dois fizeram uma série de comédias adultas. O tema era sempre sobre casais de opostos, ela geralmente sendo uma feminista e ele um machão bonachão. Alguns desses filmes se tornaram clássicos absolutos e outros nem tanto. Este, que fala de esportista fenomenal ( Kate ) que se sente insegura quando assistida pelo noivo chato, é dos menos bons. É bacana ver como eram o tênis, o golfe e o basquete na época, mas Cukor está em seus dias de preguiça. ( George Cukor tinha o dom da imagem. Fez alguns dos filmes mais "belos" do cinema. Sabia ser chic, esperto, leve. Mas por ser um grande festeiro e colecionador de arte, as vezes parecia fazer filmes preguiçosos, feitos no piloto automático. Este é desses. ) De qualquer modo, é sempre um prazer ver Kate em ação. Nota 5.
FOLLOW THE FLEET de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ele é um marinheiro em folga. Ela é sua ex-noiva. Ele tenta reconquistá-la. Com as músicas de Irving Berlin fica fácil. O filme é dos menos geniais da dupla: é "apenas" delicioso. Ginger Rogers está belíssima e apimentada como sempre. Fico imaginando a alegria que deveria ser em 1937, ver esse filme e em seguida levar sua menina para jantar e dançar.... Nota 8.
TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Cenários art-déco em branco. As paredes são brancas, os móveis são todos em branco, o chão é prata, os objetos de vidro. Van Nest Polglase e Carrol Clark faziam esses sets que eram como o paraíso na tela. O filme fala de homem que conhece garota, se apaixona, a perde e tenta a reconquistar. Astaire consegue o milagre: dizer tudo dançando. Para entender a genialidade dos melhores musicais é preciso entender isso : quando a música começa, a alma dos personagens fala. Ouvimos e vemos o que eles pensam e sentem. E ninguém fez isso melhor que Fred e Ginger. Cada passo e cada olhar transmitindo tudo aquilo que voce já sentiu ou viveu com alguém. Isso é magia pura. Este foi o maior sucesso da dupla e salvou a RKO do vermelho. Um dos maiores clássicos do cinema, homenageado em Wall E, em Kung Fu Hustle, em A Lenda e mais uma infinidade de filmes. Ele é sempre usado como " a coisa mágica que ficou do passado lembrando ao homem que viver vale a pena ". Quem fez mais que isso? Nota impossível.
SWING TIME de George Stevens com Fred Astaire e Ginger Rogers
Os críticos mais "sérios" consideram este o melhor filme da dupla. Eu discordo. Acho o mais esquisito. A parte cômica é a menos ótima, porém, a parte musical é a melhor. Jerome Kern fez uma seleção de canções que variam do sublime ao inesquecível. Bojamgles of Harlem em que Fred se pinta de negro e homenageia seu ídolo ( Bill Robinson, o gênio do taps ) é dos maiores momentos da história das telas. Mas tem mais: a cena na neve ( que lindo set ! ) e a hora em que se canta The Way You Look Tonight, quem já amou irá se comover. Mas a magia insuperável nasce quando Fred e Ginger se despedem "para sempre", e tentando reatar ele canta Never Gonna Dance ( para mim, junto com Falling in Love Again, as duas músicas que melhor retratam o amor ). Nesse momento, junto a escadaria em set vazio, Fred consegue em música e dança, transmitir todo o desespero de alguém que percebe o amor partir. É de uma beleza aterradora ! Bergman precisa de duas horas para fazer o mesmo efeito ! ( E Bergman é um gênio ! ). Quando Ginger afinal cede e começa a dançar com ele, voce percebe então : eis a tal "arte americana", a arte puramente da América, a arte de se dizer muito se usando pouco, a arte de se comunicar a muitos um segredo de poucos. O filme, em que pese suas várias cenas erradas, se afirma como um monumento ao sentimento de amor. Nota DEZ.
SHALL WE DANCE de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Eis o meu favorito ( ou será The Gay Divorcée, que preciso rever ). É o mais tolo de seus filmes, quase um cartoon. E por isso eu o venero. Fred é Petrov, um americano que se finge russo bailarino clássico. Ginger é uma apimentada sapateadora yankee. E vêm os desencontros de sempre: mal entendidos, frases ferinas, muito bom humor e os números que contam exatamente o que eles sentem. A trilha é de George Gershwin... precisa dizer mais ? Todas as canções são clássicos do jazz. Cenários em branco e prata, figurinos chics ao extremo ( os anos 30 são estranhamente a era da depressão e ao mesmo tempo o ponto mais chic do século vinte ). Quando estou chateado e quero me reerguer é fácil : boto este filme pra rodar ! Foi o primeiro da série que assisti ( lá se vão vinte anos ) e foi na época uma revelação. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!
CIÚME: SINAL DE AMOR de Charles Walters com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger sempre brigou com Fred. Ela queria ser uma atriz séria e achava que Fred lhe roubava o mérito. Quando a dupla acabou, ela conseguiu ser a tal atriz séria e logo ganhou seu Oscar em drama. Dez anos depois da separação, eis que os dois se reencontram aqui. E é um filme estranhamente triste ( o único dos dois ). É claro que é uma comédia, mas há algo de muito melancólico em todas as cenas. Eles fazem um casal que se separa porque ela quer ser atriz séria. Fred não a esquece ( na vida real ele jamais foi apaixonado por ela ) e no fim eles se reencontram ( felizmente tem um final feliz ). Ginger está já madura, ainda leve e linda, mas com algo de sério naquela menina dos anos 30. Fred envelheceu bastante. Continuava insuperável ( faria em cinco anos seu grande clássico: A Roda da Fortuna ), mas não é mais o jovem alegre e tolo da década anterior. E tudo isso dá ao filme algo de muito doído: a consciencia da passagem do tempo. Torna-se o único musical trágico da história. Nota 7.

SHANE/GODARD/DON CAMILLO/PETER O'TOOLE

TROCANDO AS BOLAS de John Landis com Dan Akroyd, Eddie Murphy e Jamie Lee Curtis
Uma dupla de velhos milionários ( Don Ameche e Ralph Bellamy ) faz uma aposta e transforma o sem-teto Murphy em rico executivo. Não é muito engraçado. Causa tristeza ver nos extras Eddie dizer hoje, que desde esse filme ( de 1983 ) tudo o que ele fez foi só por dinheiro. O prazer de atuar se encerrou nesse filme... De qualquer modo, este é um exemplo de uma grande época da comedia americana, a da geração de Steve Martin, John Belushi, Chevy Chase, Leslie Nielsen, Bill Murray e Martin Short. Nota 5.
DON CAMILLO de Julien Duvivier com Fernandel e Gino Cervi
A série de Don Camillo fez enorme sucesso popular na Europa dos anos 50. Fernandel era um superstar por lá e assisiti este dvd recém lançado pensando em ver uma comédia tolinha e ingênua, bem nostálgica. Qual não foi minha surpresa ( boa ) ao me deparar com uma comédia profundamente humana, real e com enorme viés político !!!! Fernandel é um padre de direita, Cervi é o prefeito, comunista, e o filme trata das birras dos dois. Didaticamente se mostra o lado "rato de igreja" da direita e o lado "só nós sabemos a verdade" da esquerda. O roteiro é maravilhosamente criativo, coisas acontecem todo o tempo, o filme surpreende e jamais aborrece. Este é o tipo de filme familiar, popular e inteligente cuja receita foi perdida no histerismo do mal gosto atual. ( Claro que existem excessões ! Mas são tão poucas.... ) Nota 7.
VELOZES E FURIOSOS de Rob Cohen com Vin Diesel e Paul Walker
O fato de em 2000 eu não ter morrido na avenida Giovanni Gronchi às 3 da manhã de um sábado atesta a existencia de anjos da guarda. Após ver este filme em estréia no cinema, saí dirigindo feito um doido, insandecido pela adrenalina que o filme tem. Revendo-o agora, noto que filmes de muita adrenalina ( como Matrix, que é o melhor exemplo ) tendem a parecer embustes na segunda olhada. É como se já estivéssemos vacinados contra a adrenalina do filme e ela não mais fizesse efeito. Na verdade são filmes feitos com esse propósito : veja e jogue fora. Mas que os carros são legais, são !!!!!! A trilha sonora é do cacete também. Nota 5.
KES de Ken Loach
Um poema sobre um garoto tentando sobreviver em meio a aridez geral. O filme chega a doer de tão belo. Tem também uma partida de futebol que é comédia magnífica ! ( Porque os garotos escolhem o Totenham ? Porque os Hotspurs, assim como o Newcastle, sempre foi o time dos proletários ). Filme que dignifica o cinema, enobrece a profissão de diretor e nos faz felizes como espectadores. O segredo é só um : Loach crê no ser-humano. Seu filme é vivo como o adolescente central. Loach vê todo o mal que existe, mas também percebe uma saída. Seu filme é uma luz. Nota Dez.
O RETORNO DE DON CAMILLO de Julien Duvivier com Fernandel e Gino Cervi
Humanismo há neste filme também. Tão bom quanto o primeiro da série, aqui Fernandel mostra quão grande ele foi. Seres humanos de verdade em filme caloroso. Uma delícia ! Nota 7.
CINEMA PARADISO de Giuseppe Tornatore com Philippe Noiret, Brigitte Fossey
Devo ser o único apaixonado por cinema que não gosta deste filme. São 3 intermináveis horas... A primeira parte ainda se mantém, graças aos trechos de grandes filmes e aos cômicos sicilianos que dão um show como o público da sala. A segunda hora é medíocre. Uma boba história de amor adolescente. O filme fica um pouco menos ruim no final, quando o menino já maduro ( feito pelo grande Jacques Perrin ) reencontra seu antigo amor ( é a bela Brigitte Fossey, de Brinquedo Proibido ). Mas já se passaram as 3 horas e estamos chateados. O filme mostra aquilo que se tornou o cinema italiano ( que foi o melhor do mundo entre 45/65 ) : belas imagens e excesso de sentimento. Nota 2.
A CLASSE GOVERNANTE de Peter Medak com Peter O'Toole e Alastair Sim
Este é um exemplo daquilo que sempre repito : que entre 62/78 o mundo esteve completamente louco. Que é isto ? A história é a de um herdeiro inglês ( Peter, ótimo como sempre ) que pensa ser Jesus Cristo. Ele dorme numa cruz e abençoa todo mundo. Seus parentes fazem de tudo para o internar, mas então ele se torna um ferrenho aristocrata conservador. Crítica a classe dominante inglesa, crítica ao próprio cinema. O filme é doido, torto, exagerado e até ridículo. Mas não deixa de ser corajoso. Quando o ví na TV, aos 15 anos, fiquei muito tocado. Hoje, após tantos filmes melhores e piores... Nota 4.
O GATO E O CANÁRIO de Paul Leni
Cada vez mais percebo que do cinema mudo o que sobrevive são suas comédias e seus filmes de aventuras ( piratas e sheiks ). Este suspense de terror é chato chato chato... Um excesso de diálogos, excesso de pretensão, excesso de tudo. Nota 1.
UMA MULHER É UMA MULHER de Jean-Luc Godard com Anna Karina, Jean-Claude Brialy e Jean-Paul Belmondo
Nada, ainda hoje, é mais jovem em cinema que o jovem Godard. Ele brinca com filmes. Aqui ele destrói o som, destrói o romance, rí dos cenários. Anna está apaixonante, linda como o paraíso. Belmondo É o cara ! E Brialy exibe seu mal-humor costumeiro. O filme mostra o que é a alma feminina ? Sei lá ! Isso importa ? Temos aqui uma alegoria sobre a felicidade de se viver e de se fazer um filme. Que mais pode importar ? As cores são de sonho ( Raoul Coutard ) a trilha sonora é genial ( Michel Legrand ) e tem Anna Karina.... Nota Dez.
O CAMPO DOS SONHOS de Phil Alden Robinson com Kevin Costner, Ray Liotta e Amy Madigan
Vamos aos fatos : este filme é um cult na América. Como os filmes de Capra, ele é sempre reprisado no natal, e é o que restou da carreira de Costner. É a história de um cara que ouve uma voz lhe mandar construir um campo de beisebol. Ele o faz... James Earl Jones é um escritor recluso e Burt Lancaster ( ele é o cara ! ) faz o fantasma de um ex-jogador. Nos primeiros vinte minutos temos dificuldade em engolir tamanha asneira, mas depois, vemos que o filme é feito com tamanha convicção que nos rendemos : ok, vou me emocionar. O filme é bonito. Nota 6.
MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO de Marc Foster com Will Ferrell, Maggie Gyllenhall...
Um cara metódico e nerd entra em crise e se apaixona ( como todo chavão ) por maluquinha carente. O filme é só isso. Nada há de original em sua alma. Mas como esta é a era em que se vende o velho maquiado de novo, vamos colocar um rótulo moderninho : vamos fingir que é um filme original e colocar uma escritora ( Emma Thompson, soberbamente excelente, como sempre ) que escreve aquilo que ele vive ! PÕ cara ! Não faz o menor sentido, mas é genial !l cara !!!!! Dustin Hoffman, presença calorosa num filme gélido, faz um professor viciado em café e doces melados. Ferrell foi chamado aqui de bom ator... onde ? Tudo que ele faz é parecer com muito sono. Maggie é mais uma dessas atrizes que desconhecem sabonete. O filme é enganação braba ! Mas serve como retratinho miúdo da depressão atual : cenários frios, luz fraca, gente vazia. Um horror!!!! Nota ZERO!!!!!!
MARES DA CHINA de Tay Garnett com Clarck Gable, Jean Harlow, Rosalind Russel
A Metro não corria riscos. Capitão beberrão conduz navio pelo mar chinês infestado de piratas malaios. De quebra, uma mulher duvidosa o disputa com outra sofisticada. Temos tempestades, ataque pirata, bêbados cômicos, mocinha sexy, fracasso redimido, tiros e piadas. O cinema compensava cada tostão gasto pelo povão em suas salas. Os atores dão aquilo que esse povo espera : Gable é o macho, Jean a vagabundinha engraçada, Russel a classuda e ainda tem Wallace Beery como o vilão e Robert Benchley de porre. Isto era a TV da época, um produto fácil de vender. Mas que belo produto!!!! Nota 7.
SHANE de George Stevens com Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin, Jack Palance
Esta crítica é para meu amigo Fernando. É a quarta vez que vejo Shane ( OS BRUTOS TAMBÉM AMAM ) e é a quarta vez que me emociono. Tudo é mito neste filme : o herói é Lincoln e será Kennedy, a esposa é toda esposa fiel, o marido é o pioneiro, o garoto é o filho arquétipo e o vilão é o MAL. Tem gente que acha que Shane é um fantasma, ou um anjo. Pode ser que sim. Para mim, ele significa o que temos de melhor em nós. Mas vamos ver o trabalho de Stevens. Note como cada tomada se parece com uma pintura. O cão no canto esquerdo, o cavalo no direito, o menino ao centro, o céu imaculado. A morte do cara na lama : o marrom em contraste com o azul, a imagem baixa, o vilão enorme. Plasticamente o filme é irretocável. Mas há mais : os diálogos são curtos, básicos, o que entendemos está no gestual dos atores e nos olhares que se cruzam todo o tempo. Ouvimos milhares de coisas que nunca serão ditas. Shane é amado pela mulher do fazendeiro, mas jamais será dito.
O filme é, depois de CIDADÃO KANE, aquele que mais teve livros publicados sobre seu significado. George Stevens foi, com David Lean, o mais perfeccionista dos diretores. Shane é um monumento ao cinema, um monumento ao western. Seu final, após aquele duelo que é uma aula de edição, é uma ode ao homem e ao heroísmo. Shane se encerra como aquilo que sempre foi, um mito. O roteiro pega todos os chavões e os limpa, purifica. Nos dá a raiz das coisas, o que importa. Não enfeita, revela. Shane é aula de honestidade, tanto de Stevens como diretor, como de Shane como personagem. O filme é aula de saúde.
Enquanto o mundo valer a pena Shane será cultuado. Com os filmes de Ford e Capra, ele mostra o que temos de melhor. Amar este filme é amar o bem. Nota ZILHÕES DE MILHÕES.

BALTHASAR/TOM JONES/CARY GRANT/RETRATO DE JENNIE

AU HASARD BALTHASAR de Robert Bresson
Um burrico mama o leite materno. Crianças fazem seu batismo. O filme é a história desse burro e dessas pessoas. Mas não é Disney: nunca se humaniza o burro, ele é apenas uma besta que vive como uma besta : sofre. Mas vem daí a pregação de Bresson ( e apenas Dreyer é tão crente quanto Bresson ) o bicho é um santo. Não que ele faça milagres ou seja mágico, não! A santidade para o diretor francês está no fato de que o burrico é isento de maldade e está, sublimemente, em comunhão com a vida.
Quando neva ele recebe a neve no lombo, quando chove ele se molha. Apanha dos donos, sofre no trabalho, mas é feliz ao comer sua relva : o animal está sempre em acordo com a vida, está em casa, na sua casa, esteja onde estiver. E acima de tudo, o bicho olha : e o que ele vê é o fato de que as pessoas são muito más! A maldade que o filme exibe não é a maldade cinematográfica de sádicos exageros, não é a maldade de bandidos ou de psicopatas, é pior : são as maldades, cruéis, do dia a dia de pessoas ignorantes, a maldade prazerosa, a maldade inutil, vazia, tola. Todos são ruins e os que não o são, se tornam vítimas idiotas, imbecís que se deixam usar. Balthasar olha, não julga, na verdade nada entende. E aí nasce a genialidade do filme : começamos a ver o mundo como o burro o vê : incompreensível vaidade e futilidade ! Todo ato humano como tentativa de afirmar uma vaidade, mesmo que seja a vaidade de sofrer, de fracassar, de ser humilde, vítima.
Balthasar nunca chora, não tem o orgulho da lágrima. Ele sobrevive. Ao fim, em bela e comovente cena, Balthasar se deita ao lado das ovelhas ( como um Jesus em seu calvário ) e morre. Fin.
O cinema de Bresson atinge aqui seu ponto radical : nada de interpretações. Seus atores nunca podem interpretar : dizem as falas como quem as lê. Bresson repetia as cenas até os deixar tão esgotados que desistiam de passar qualquer coisa, aí ele filmava. Para Bresson, uma idéia só pode ser passada se não houver uma "performance" do ator. Balthasar é um animal, é seu ator ideal. O filme tem também aquilo que o dogma copiaria : crueza fria. Os cenários são reais, a luz é a que existe na vida, nada é artifício. Mas o filme tem algo que o dogma nunca possuiu : verdade. Bresson realmente crê no que exibe : a realidade da maldade. Para Bresson ( como para Bergman e Dreyer ) o mal é dominante na Terra. O mal é mal absoluto. Existem muitas pessoas que existem para a maldade, têm prazer com a maldade e nada as detém. O bem, raro, está em Balthasar, um bicho que nada julga. Tudo que ele queria era ser deixado em paz. Conseguiu. Eis a maestria do filme : o mal perde PORQUE O MAL SÓ PODE EXISTIR EM VIDA. Com a morte o mal cessa. Com a morte Balthasar atingirá o paraíso.
Para mim, nenhum filme pode ter mensagem mais radical e mais terrível. Nota Dez!!!!
TOM JONES de Tony Richardson com Albert Finney, Susannah York, Edith Evans, Hugh Griffith, Joan Greenwood
Alegria! Tom nasce bastardo e tem apenas um defeito : não resiste a nenhuma mulher. E nenhuma mulher resiste a Tom. Vemos a Inglaterra de 1750 como em telejornal moderno : verdadeira, suja, viva, alegre, mortal. O filme é exemplo de juventude em cinema. Ele festeja a vida. A trilha de John Addison fez história. Finney ( o Peixe Grande ) está sublime : ele nos apaixona, é o amigo para toda vida que todos queríamos encontrar. nota 9.
UM ANJO CAIU DO CÉU de Henry Koster com Cary Grant, Loretta Young e David Niven
Sim! Um anjo vem a Terra e ajuda as pessoas sem fazer nenhum milagre. Tudo que ele faz é ser simpático e as ouvir. O anjo é Grant, ou seja, ele é muuuuito simpático. Niven faz o bispo que o emprega e que virá a detestá-lo e mandá-lo embora. Há uma cena num rinque de patinação que se tornou lenda: exemplo de beleza do cinema. O filme demora a começar, mas quando engrena emociona muito. Toca algo de muito doloroso em nós : a perda. Seja de um amigo, uma fé ou um anjo. Lindo filme que irei rever no Natal. Aconselho a que façam o mesmo. nota 9.
A MEGERA DOMADA de Franco Zeffirelli com Richard Burton e Elizabeth Taylor
Não dá certo. Zeffirelli deixa o filme tão enfeitado, tão bonitinho que se perde sua leveza. É pesadão, frouxo, chato. nota 1.
NANÁ de Jean Renoir com Catherine Hessling
Que filme esquisito!!! A atriz que faz Naná, a mulher destruidora de homens da história de Zola, é tão canastrona que transforma o filme em comédia crua. Será proposital ? O filme é longo, longo, longo...mas tem umas duas belas cenas. Mas que é esquisito, isso é! nota 2.
O JARDIM SECRETO de Agnieszka Holland
Você já deve ter visto na Sessão da Tarde. É chato pacas! nota 1.
AMAR FOI MINHA RUÍNA de John M. Stahl com Gene Tierney e Cornel Wilde
Filme kistch amado por Almodovar e que tais. É um novelão tão exagerado, com diálogos tão melodramáticos e com atores tão ruins ( Gene nunca esteve pior ) que se torna alegre diversão idiota. Fala de mulher que ama tanto seu marido que mata todos que possam lhe roubar sua atenção, inclusive o filho. Será que alguém um dia lhe levou a sério ? nota 5.
DODSWORTH de William Wyler com Walter Huston, Ruth Chatterton, Paul Lukas
Começo a notar o porque de Wyler ter tido tamanho prestígio : ele nunca erra ! Devo ter visto mais de quinze de seus filmes, entre dramas, westerns, comédias, policiais, e digo, não há erro.
Sinclair Lewis, primeiro autor americano a ganhar o nobel, escreveu esta história. Enquanto na época era moda escrever sobre americanos ricos como vilões e americanos morando na Europa como heróis, aqui, Sinclair fez o contrário : o industrial rico e simples, feito com maravilhosa graça e humanismo pelo pai de John Huston, é o herói. Ele viaja a Europa com sua esposa, aposentados, e lá, ela, deslumbrada pela cultura européia, chifra esse velho poderoso, o abandona e se torna "culta, fina, sofisticada". O industrial, que realmente a ama, espera, disfarça, se desilude e acaba por desistir. Reencontra o amor em Napoles, com uma americana amarga que enxerga seu valor. Parece uma xaropada ? Não é! Wyler filma sem jamais cair no melô. Nenhum diálogo é adocicado, burro, exagerado. Dodsworth é inocente, mas não idiota. Ele sabe o que acontece, mas não quer entender. O filme é bonito, adulto, fluido e é uma aula de direção e de roteiro. Huston está fantástico; seu Dodsworth, personagem muito sutil, é levado com bravura infinita. nota 9.
SHAMPOO de Hal Ashby com Warren Beaty, Julie Christie e Goldie Hawn
Um belo cabeleireiro de LA tem caso com todas as suas clientes. O filme, imenso sucesso em 1975, se passa em 68, portanto todos se drogam, todos fazem sexo e todos querem ser modernos. Mas o filme é algo mais : o cabeleireiro é um poço de solidão. Mais que traçar suas clientes, ele é usado por todas elas. Um boneco bonito para se ter prazer. Warren está perfeito, sempre foi melhor ator do que se pensou na época. Julie está bonita e Goldie uma bobinha ( faz tudo aquilo que sua filha faz hoje ). A trilha é super!!! nota 6.
O RETRATO DE JENNIE de William Dieterle com Joseph Cotten e Jennifer Jones
Primeiro um pouco de história : Selznick é considerado o produtor mais importante de toda a história do cinema. Porque ? Porque numa época em que produzir era amar a arte ( o produtor fazia tudo : escolhia elenco, cenário, roupas, músicas, roteiro, diretor, lançamento ) era Selznick aquele que mais se metia, mais acertava e mais arriscava. Mas aqui ele exagerou. O filme acabou com sua vida.
Levou dois anos em produção ( um absurdo ) e é um imenso fracasso que o fez falir. Mas é um filme lindo, uma obra-prima romântica, obrigatória para quem gosta e sabe "viajar" numa fantasia.
Cotten, excelente em seu aturdimento apaixonado, é um pintor fracassado em NY. Primeiro mérito : o filme é quase todo filmado em externas. A fotografia ( de Joseph August, sofreu tanta pressão que morreu nas filmagens ) é um primor. Raros filmes tem fotografia tão criativa e bonita. Nuvens no céu, neve que cai, a luz da Lua a noite, nunca ví cenas tão belas. Pois bem... esse pintor conhece uma menina no Central Park. A criança a cada encontro dos dois está mais velha. O pintor, inspirado por ela, pinta melhor e faz sucesso. Mas ela não existe, é um fantasma. Sim, é Ghost com Em algum lugar do Passado com uma infinidade de outros mais. Mas é de longe o melhor.
Veja o primeiro encontro : ele conversa com a criança. Ela canta uma canção. A cena é típica de Tim Burton, dark e poética. E o que a menina canta ? É incrível ! Uma canção pop de 2010 num filme de 1945 ! Bernard Herrman ( dos filmes de Hitch ) foi chamado só para escrever essa canção ( veja os custos subindo. O resto da trilha, ótima, é de Dimitri Tiomkim ). A canção é uma melodia gótica com harmonia de tons tecno e vocal à Patti Smith. Um milagre. Mas o filme é mais: A tempestade que separa os dois tem clima de sonho que nos faz pensar, após o filme terminar, que o próprio filme foi um sonho. E há Jennifer, uma atriz ainda viva, amante do casado Selznick na época, que produziu esta estravagância como homenagem à ela. Quando ele morreu, em 65, Jennifer foi achada louca numa praia da Califórnia. Se recuperou, voltou a estudar e é hoje uma famosa psicóloga. Era bela e boa atriz, ganhou um Oscar logo em sua estréia. O amor dos dois ( eram casados com outros. O marido dela ao descobrir sua traição bebeu até morrer ) era de verdade.
Assistam este filme que é diferente de tudo que você já viu. E vejam os extras de Rubens Ewald Filho. Ele confessa seu amor pelo filme, o primeiro que viu na vida. Lindo. Nota DEZ!
PENNY SERENADE de George Stevens com Cary Grant e Irenne Dunne
O único diretor que podia fazer frente a Wyler era Stevens. Veja este doloroso filme e saiba o porque. È a tocante história de um casamento banal. Cary, excelente e emocionante, é o marido. Um normal marido de classe média baixa. Irenne é sua esposa. Casam-se, perdem um filho e perdem um outro. E é só isso. Nada de muito incomum, de muito original. Mas o estilo de como isso é contado é genial.
O filme começa do fim : a esposa abandonando o lar e escutando discos. Daí vem um grande achado : cada disco é uma memória, um capítulo da história dos dois. O namoro, o casamento, a falta de dinheiro, a vida com um bebê ( são as melhores cenas. Você morre de vontade de ter um filho. São cenas longas, sem pressa, calmas e muito reais. ) Vem um forte drama, que o diretor sabiamente evita mostrar, e o final, que parece feliz, mas que na verdade é amargo. Simples. Mas que delicioso filme! Grant nos surpreende saindo de seu tipo malandro boa vida e sendo um ansioso jovem marido. Ele se mostra desajeitado, inseguro, apaixonado e até simplório. Irenne está como deve estar, mãe de férrea feminilidade, teimosa, impaciente. O filme é a vida que brota dessa mistura. Assistimos, sempre com prazer, seu cotidiano.
Entrar neste drama é como ver um album de retratos. Ou melhor, ouvir as canções que mais te marcaram. Melancólico. E uma delícia. E dizem que Hollywood não sabia ser "vida real"... uma obra-prima. Nota DEZ!!!!!!!!