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O VIGÁRIO DE WAKEFIELD- OLIVER GOLDSMITH

   Eu adoro o século XVIII. O romance se tornando dominante ao ser direcionado para a nova classe média. O nascimento daquilo que conhecemos como livraria, best-seller e imprensa cultural. E um espirito de época em que o que sobressaía era o prazer pela discussão, pela análise e pela novidade.
  Do que falavam esses romances? De viagens, de peripécias, de lutas e disputas. O enredo é sempre rico, estamos longe das elaborações do romantismo e dos detalhes do realismo. Não há uma grande preocupação com estilo, o principal é a história. Dessa forma o que temos é ação constante, acontecimentos sobre acontecimentos. A descrição de casas, paisagens ou rostos é secundária.
  Falei que esses livros falam de aventuras e de ambições, na verdade podemos reduzir tudo ao dinheiro. A classe média inglesa de 1770 pensa em renda, em bons casamentos e bons negócios. Por mais que os livros se encham de guerras ou de duelos, é o dinheiro que move a ação.
  Oliver Goldsmith foi um malandro. Viveu sempre de golpes, de expedientes. Torrou a herança da familia e foi levando a vida na lábia. E escrevia bem. Poeta e jornalista, aqui é romancista. Ele fala de um vigário e de sua familia. O vigário é um  ingênuo, as filhas são ambiciosas, a esposa mandona e os filhos obedientes. São explorados por nobre conquistador, azares sobre azares caem sobre a familia, e mesmo assim o vigário se mantém ingênuo, bom, um grande perdoador. As tragédias são tantas que o humor se faz presente. Goldsmith tem aquela verve típica da época. Ele mostra o ridiculo com tintas fortes. E todos são ridiculos, os nobres com suas crueldades e os burgueses com sua adoração aos nobres. O estilo é rápido, as coisas acontecem de repente, sem grandes preparações. Oliver Goldsmith não se detém, ele quer nos divertir e nos instruir. Consegue.
  Um livro é uma coisa maravilhosa. Quando ele é bom, entramos em um mundo quando o abrimos. O século XVIII foi aquele em que o livro tinha a maior consciência de seu poder de criar mundos. Seja na poesia, na filosofia ou no romance, os autores têm pleno poder sobre sua obra. Encaram a escrita como criação de mundo. Pois bem, ao abrir este volume entramos no belo mundo rural da classe média da época. E encaramos o grotesco desse universo de vigarices, pequenos golpes, interesses e fé cambaleante. Um belo livro.