Li em 2006 e reli agora, onze anos depois.
Ian Gibson, irlandês, se mudou para a Espanha e depois de anos em pesquisas, lançou o livro em 1989. E desde então é considerado um clássico em termos de biografias. O livro merece toda a fama que tem. Gibson escreve bem pra caramba. Ele não fala apenas de Lorca, ele fala, e fala com autoridade, da Andaluzia, da história espanhola, da cultura árabe, de flamenco, do duende. Fala do modernismo, de poesia, do catolicismo espanhol, de homossexualismo. E de uma multidão de amigos de Lorca, de Buñuel e Dali até o bibliotecário que cuidava dos livros da escola.
E com tanta informação, o livro consegue ser leve, fácil de ler, nada pedante, um prazer. Nunca há no texto o ranço do estudo, o que lemos é como um romance, um muito bom romance. Pouquíssimos homens tiveram a sorte de ter um biógrafo tão bem dotado.
O Lorca que surge do livro é um homem alegre, brilhante, carismático e incrivelmente curioso. Ele desejava conhecer tudo. Lugares, pessoas, músicas, peças, livros. Lorca começa como músico, filho de família rica, e sua poesia, sempre musical, cantante, revela essa raiz. O melhor do livro está no começo, nas histórias da família e do Lorca jovem. Mas ele é todo interessante.
De todos os escritores que um dia chamei de "meu favorito", Lorca é o que mais sofreu em meu conceito. Comecei a ler poesia já com mais de 25 anos de idade, e comecei por Lorca e Whitman. Amava os dois, e via em ambos um convite para a vida. Os dois foram geminianos como eu, cantadores da estrada, do rio, do caminho e dos homens em ação. Ambos faziam amizades fáceis, mas permaneciam sós, talvez por sua sexualidade mal resolvida. Lorca, mais que Walt, sentia a repressão do meio sobre sua homossexualidade. Nele se fixou um tipo de mancha trágica em meio a tanta vida. Walt parece ter lidado melhor com isso. Difícil saber de fato, mas o americano dá uma imagem de um homem mais solto. Com menos culpa.
Lorca, sempre um nome forte, foi tão imitado, tão visto como herói, que tem sofrido nas últimas décadas. Há um excesso de pequenos Lorcas pretensiosos no mundo. Sua poesia não tem mais me comovido. Desde que mergulhei em Yeats, Eliot e Stevens, Rilke, Keats e Dante, ele perdeu muito de seu poder.
Mas como todo grande, ele pode voltar a ter seu antigo encanto.
O tempo dirá.
Ian Gibson, irlandês, se mudou para a Espanha e depois de anos em pesquisas, lançou o livro em 1989. E desde então é considerado um clássico em termos de biografias. O livro merece toda a fama que tem. Gibson escreve bem pra caramba. Ele não fala apenas de Lorca, ele fala, e fala com autoridade, da Andaluzia, da história espanhola, da cultura árabe, de flamenco, do duende. Fala do modernismo, de poesia, do catolicismo espanhol, de homossexualismo. E de uma multidão de amigos de Lorca, de Buñuel e Dali até o bibliotecário que cuidava dos livros da escola.
E com tanta informação, o livro consegue ser leve, fácil de ler, nada pedante, um prazer. Nunca há no texto o ranço do estudo, o que lemos é como um romance, um muito bom romance. Pouquíssimos homens tiveram a sorte de ter um biógrafo tão bem dotado.
O Lorca que surge do livro é um homem alegre, brilhante, carismático e incrivelmente curioso. Ele desejava conhecer tudo. Lugares, pessoas, músicas, peças, livros. Lorca começa como músico, filho de família rica, e sua poesia, sempre musical, cantante, revela essa raiz. O melhor do livro está no começo, nas histórias da família e do Lorca jovem. Mas ele é todo interessante.
De todos os escritores que um dia chamei de "meu favorito", Lorca é o que mais sofreu em meu conceito. Comecei a ler poesia já com mais de 25 anos de idade, e comecei por Lorca e Whitman. Amava os dois, e via em ambos um convite para a vida. Os dois foram geminianos como eu, cantadores da estrada, do rio, do caminho e dos homens em ação. Ambos faziam amizades fáceis, mas permaneciam sós, talvez por sua sexualidade mal resolvida. Lorca, mais que Walt, sentia a repressão do meio sobre sua homossexualidade. Nele se fixou um tipo de mancha trágica em meio a tanta vida. Walt parece ter lidado melhor com isso. Difícil saber de fato, mas o americano dá uma imagem de um homem mais solto. Com menos culpa.
Lorca, sempre um nome forte, foi tão imitado, tão visto como herói, que tem sofrido nas últimas décadas. Há um excesso de pequenos Lorcas pretensiosos no mundo. Sua poesia não tem mais me comovido. Desde que mergulhei em Yeats, Eliot e Stevens, Rilke, Keats e Dante, ele perdeu muito de seu poder.
Mas como todo grande, ele pode voltar a ter seu antigo encanto.
O tempo dirá.