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NATAL?

Resolveram cá no Brasil que este ano não haverá Natal. A mais nobre das datas está sendo solenemente ignorada. Nunca, desde que existo, houve natal tão pobre, ateu, negligente. Minha amiga, vivendo um caso de amor com Paris, diz que por lá a festa está linda. As ruas enfeitadas, as lojas em festa. Pela TV de Portugal percebo que eles continuam a fazer referências ao Menino Jesus. Aqui não. --------------------- Duas coisas motivam o cancelamento do Natal de 2023 em terras cabralinas: a falta de dinheiro e a destruição do otimismo. Em país onde o papai Noel é mais falado que Jesus Cristo, consumir é o que importa, e se o dinheiro sumiu, não há o porque do Natal. Creia-me, ensinados a ser ateus, há alunos que não fazem ideia do que seja o dia 25 de dezembro. E numa sociedade onde a criança tem pais que não os educam, formatar sua mente na escola se torna algo muito, muito fácil. ----------------------- Óbvio que as redes de midia mostrarão ruas cheias de gente com presentes e rostos felizes. Desde pelo menos 2018 as redes exibem ficção e apenas ficção. Principalmente em seus jornais. Editar o mundo é coisa com custo baixo e lucro alto. ------------------------ Houve um político que disse a seguinte frase: Não pareço conservador, eu sou conservador. Sou conservador porque luto pela preservação daquilo que é eterno. E só o que é eterno importa. ---------------- Não há definição melhor daquilo que eu sou e daquilo que o globalismo mais odeia. O mundo global é baseado na mudança constante e no futuro como único alvo. Todo consumo é pensado na renovação de modas e de produtos e na negação de tudo aquilo que DURE e PERMANEÇA. O poder se faz sobre os corpos sem alma e sem tempo. Nesse panorama, nada é mais ODIADO que o homem que insiste em falar em coisas atemporais e sem preço. Família, religião, individualismo, passam a ser vistos como O MAL. Um homem auto suficiente, que ignora estado e mercado se torna perigoso. -------------------- Não há civilização ocidental sem suas tradições. O fato é que, sem saber porque, toda a juventuda do ocidente passou a odiar essa tradição. Amestrados, eles reagem como cães de Pavlov quando confrontados com palavras como pai, família, fé ou capitalismo. Não raciocinam sobre, apenas latem. A educação eliminou de seu currículo conceitos de lógica, ação e reação e pensamento isento. Não se ensina, se compartilham opiniões. Não é por acaso que mais de 40% dos alunos apresentam quadro de ansiedade ou depressão. Educar passou a ser irritar e deprimir. -------------------- E o Natal nisso tudo? Ora querido.... Uma família à mesa comendo um peru e falando no nascimento do salvador é das imagens mais irritantes para um infeliz ser de cabelo lilás e barriga orgulhosa. Essa imagem será chamada de hipócrita. Mal sabe ele que essa imagem é um alvo a ser atingido. Se ela não é real, paira como algo a ser conseguido. Metas-objetivos-alvos, conceitos que sumiram da vida moderna em meio ao "deixa pra lá" geral. ----------------------- Até meus 12, 13 anos eu mal ouvia falar em Papai Noel. Natal era Jesus Cristo e presépio. Religião cristã. Montavam-se presépios nas ruas, nas lojas. Hoje possivelmente teria de ser um presépio gay ou um em que os animais ocupassem os lugares da Sagrada Família. -------------- Faliz Natal a todos, inclusive aqueles que odeiam o Natal por serem incapazes de o entender. A família não é uma fábrica de neuroses e a religião não é uma prisão. Paz na Terra aos Homens de boa Vontade.

O NATAL POSSÍVEL, O NATAL BONITO

Escrito em vinte minutos, por Irving Berlin, às pressas, para ser inserido no filme Natal Branco, white christmas é até hoje o single mais vendido da história. Até a última contagem eram 22 milhões. Essa canção, conhecida mesmo por aqueles que não sabem quem foram Bing Crosby e Irving Berlin, é o que nos resta em termos de Natal. Pois se a festa do nascimento de Cristo foi soterrada por dois séculos de modernismo, a celebração da família e da amizade conseguiu sobreviver até recentemente. Em 2022 o Natal é apenas um saudosismo. A modernidade não suportava uma festa onde a imagem mais bonita era uma família ao redor da mesa. Acusaram-na de tudo aquilo que acusam a classe média: consumismo, hipocrisia, centro de proliferação de neuroses. Mataram a coisa. Em troca deram o que? Vazio. Completo e absoluto vazio. ----------------- No clip que posto, de um especial de TV feito em 1957 ( em 57 os EUA, ricos até dizer chega, já tinham TV em cores ), vemos Bing e Frank, vestidos a rigor, mesa posta, celebrando o Natal como dois solteiros. O cenário e as roupas remetem à um mundo perdido. Mais incrível, não há a menor chance de suspeita de ser um casal gay. Crosby, que foi ídolo de Sinatra, domina a cena. Vai à janela e canta seu maior hit. Tudo é POP e tudo é classudo, chique, atemporal. Simples como é toda sofisticação, a canção é uma prece para um Natal que sobrevivia como festa sem religião. Ou melhor, festa para todas as religiões. Para aqueles que não podiam ou não queriam celebrar Jesus Cristo, que se celebrasse Bing e Frank, tudo aquilo que os dois representavam: família, classe, savoir faire, cultura popular em alto nível. Era esse o meu natal desde sempre. Era a noite em que eu me arrumava, melhor que nenhum outro dia do ano, para comemorar a chegada do dia 24 de dezembro. A casa era enfeitada, a família renovada, os amigos elogiados e os presentes guardados. Tudo era um ritual, obrigatório, felizmente obrigatório, onde uma espécie de limpeza moral era executada. Por isso Frank e Crosby: eles eram o símbolo da festa toda. A acusação moderna de cinismo era, como sempre é, uma acusação feita por quem é cínico. O cinismo deles não os deixava notar que era na verdade o momento de se matar o cinismo. A chance de recomeçar. A noite de abrir o coração. Nascer mais uma vez. ( Observe que toda acusação raivosa traz sempre dentro de si a auto revelação ). Foi o natal a última das grandes festas ocidentais a perder seu valor e seu sentido. Talvez por ter sido a mais forte e aquela que nos fundou. De todo modo, eu tenho a obrigação espiritual de manter a chama acesa. O Natal é para mim, e será até minha morte, a data central do ano e a noite que define minha vida. PAZ NA TERRA E FELIZ NATAL. Nada é mais belo que essa mensagem e nada é mais bonito que esse clip. ------------------ PS: Natal Branco não é um natal de raça branca. A neve é branca e nada pode ser feito quanto à isso. É NECESSÁRIA ESSA EXPLICAÇÃO PARA NÃO SER CENSURADO.

DA ALEGRIA

O sol. As ruas pareciam sorrir mas de fato elas brilhavam às 8 da manhã. Detrás dos balcões, das lojas pequenas, material de construção, botecos, uma única farmácia, roupas, comidas, os vendedores sorriam, solícitos. Carros corriam sobre o asfalto seco. Minha pele cheirava à banho, o cabelo ainda molhado, a camiseta solta deixava respirar. Eu amava e naquele tempo amar era uma felicidade, mesmo que a menina não soubesse quem eu era. Isso porque amor me fazia sentir vivo, dono da vida. Ele abria meus olhos, meu coração dançava e tinha planos. Na escola não haveria aulas, íamos apenas para ver as notas. Eu sabia já ter sido aprovado. Meus amigos estavam lá: Carioca, Tinho, Diógenes. O riso, a atenção, a companhia. Nós quatro explodíamos de hormônios. Quando nos avistávamos dávamos pulos, ríamos, gritávamos. Não pensávamos em fazer tipo, não havia medo de parecer bobo ou de ser "amigo demais", nada de tentar ser cool, a gente simplesmente sentia. E assim, eu amava aqueles caras como amava aquela manhã e como amava a Aninha. Tudo era amor, tudo era estar estando. --------------- Surgiu Aninha, sempre com Clara ao seu lado. O cabelo preso em um rabo de cavalo, franja, o corpo magro em seus 15 anos de idade. Assim que a vi meu coração pulou. Calor no rosto, respiração difícil, pernas bambas, pensamentos de alegria, suor nas mãos. Era amor como é: o mundo parecia ser perfeito porque ela era parte dele. Eu era feliz por saber que ela existia, então tudo fazia sentido. Ela tinha uma bola de volei nas mãos e logo foi jogar. Era a melhor jogadora da escola, era a capitã do time, eu era talvez o pior, odiava volei. Carioca jogava bem. Enquanto eles jogavam andei pela escola sem rumo, ainda feliz, com Tinho e Diogenes. Os outros estavam por lá: Persio, Flaminio, Renata, Nivaldo, Jorginho, Japa, Tamanduá, Giba, Fábio, Demétrios. A cantina do Mi, a sala da direção onde estava a Patricia, o sol cada vez mais forte. Fomos, após o fim do volei, à Faria Lima, correndo pela rua por todo o caminho, quatro moleques com rostos de sol da manhã. Dávamos tapas nos postes, arrancávamos folhas das árvores, atravessávamos o sinal bem devagar, só para irritar os motoristas. O mundo era nosso, a gente sabia disso. O fliperama já estava cheio, as luzes das máquinas na escuridão da sala barulhenta. Eu adorava o Space Invaders. Compramos fichas, o dia parecia leve como brisa. Depois, no Cal Center, Carioca comprou uma camiseta e mandou estampar ela. Coisa bem do Rio, blusa branca com estampa de praia. Toda cheia de brilho. Voltamos pra escola, agora já meia vazia. Passamos ao lado da rua de Aninha, a rua mais bonita do mundo todo. Bertoldi Bianchi. Diziam que uma menina chamada Bethânia gostava de mim, queria me beijar, mas eu não sabia o que fazer, ficava perdido, ela era bonita e tinha seios grandes, mas ela não era Aninha. Carioca ficava irritado porque ela era amiga da menina que ele gostava, uma loirinha bonita, quieta, Ligia. Ele beijou a Ligia, mas para mim, beijar era algo tão misterioso como a luz de uma estrela ou o voo de uma águia. Eu evitava Bethãnia. Mesmo em um mundo alegre existe um problema confuso. -------------------- Fomos almoçar no bar de meu pai, rua Cunha Gago. Lotado de clientes, peguei coxinhas para eles e sorvetes. Carioca, sempre lembrando sua cidade de origem, mergulhou o picolé de coco num copo de Fanta laranja. Açucar em grau máximo. Nós quatro falávamos das meninas, ansiosos pelas alegrias que iriam vir no ano seguinte. Nenhum deles sabia de Aninha, eu os escutava e não falava muito de mim, na verdade eu falava besteiras, minha capacidade de falar sem nada dizer era infinita. Na calçada gente com sacolas e pacotes, não é fantasia minha não, se comprava muito presente no Natal. Era pacote até para o entregador de contas de luz. -------------------- Um passeio pela loja Yaohan. Tinho, sempre metido à malandro, todo mundo que morava em Pinheiros era, roubou um pacote de peixe seco. Só percebemos na rua, quando ele mostrou o fruto do roubo cheio de orgulho. Voltamos à loja para roubar mais. Carioca pegou um saco de balas. Eu não consegui pegar nada, não por honestidade, por medo de ser pego. Já começava a anoitecer. O céu tinha tons de roxo e azul escuro. Uma melancolia surgiu, mas até mesmo a melancolia era feliz, porque ela era parte do estar vivo, do ser jovem e pronto para o que acontecesse. Essa melancolia tomou sentido no ponto de ônibus: era hora de me despedir de Carioca. Ele iria para casa, longe, em Quitaúna, o pai era tenente do exército, e no dia seguinta iria para o Rio, Madureira, ficar todo o verão no lugar onde nascera. Houve um súbito silêncio no ponto, nenhum dos quatro falava. Carioca falou então: Tu vai ver o Flamengo perder de novo? ------------ Ele era Botafogo, eu me tornara Flamengo. Tinha raiva de ser paulista. Então imitava o modo carioca de ser e de falar. Enganava bem. Vivia usando uma camisa do Flamengo e gente na rua, às vezes, perguntava se eu era do Rio. Por causa do meu sotaque. Um jovem camaleão. ------------------ O ônibus veio e se foi, levando nosso líder. Todo grupo de meninos tem seu líder, o cara que inventa o que fazer. O Tom Sawyer da turma. Carioca acenou da janela, rindo. Então Tinho falou uma besteira e Diogenes espirrou. Ele estava sempre espirrando. Fomos correndo de volta à Yaohan. Lá comprei o mais lindo cartão de Natal. Eles queriam saber para quem era. Não disse que era para Aninha. Paguei e o segurava nas mãos como se fosse um tesouro. Nos despedimos na calçada, promessas de nos vermos amanhã, promessas não cumpridas. No ônibus, voltando para casa, eu tinha plena consciência de estar vivendo feliz. Todos ao meu redor pareciam tipos interessantes, abertos, faladores, gente que fazia parte da minha alegria. Quando entrei na sala de casa, meus pais vendo TV, a felicidade foi tanta que eu quase chorei. Deitei sobre o colo de minha mãe e adormeci. Olhos fechados ouvindo as vozes dos meus pais. O sono me levou. ------------------- Hoje, mais de 40 anos passados, eu penso, infelizmente, que tanta alegria se devia ao simples fato de possuir um corpo jovem. Meus olhos enxergavam o brilho das ruas e meus músculos eram leves como pluma. E pensar isso, pensamento de velho, entristece. Porque trai aquele dia. E então eu lembro: Era feliz porque pouco pensava e não planejava, vivia. Minha vida era impulso, era o momento em que ela existia, agora. Quase sem passado e ignorando o futuro, eu via e ouvia o hoje. E por isso amava. Pois o amor é o HOJE. O amor não é antes nem depois, é já. ------------------- 9 de dezembro outra vez e ontem, na escola onde trabalho, meninos e meninas de 15 anos jogaram volei na quadra. Esta geração é muito diferente da minha, a interconectividade joga sobre eles, coitados, a consciência de SER e ESTAR todo o tempo. O sol de uma dia lindo é obstruído por mensagens, notícias, fatos, fofocas, datas e modismos onipresentes. Eles não podem mais ser apenas um jovem corpo solto em um agora sem vínculos. São dirigidos. Mas..... vibram ao fazer um ponto, pulam e gritam e choram na despedida dos amigos. Me abraçam e agradecem por eu ter estado com eles. Me dão presentes. Se despedem. E jogam volei. ------------------ Nesta noite eu recebo a visita DELA, aqui em casa. E olhando o corpo dela eu perco a consciência de onde estou, quem sou e para onde vou. A beleza cheia de curvas daquele corpo, a volúpia tentadora, me deixam como o menino que amava Aninha sem saber o que fazer. E pouco se importando com isso. Hoje quando a toco é tocar o cartão de Natal de 1980. Ouvir sua voz é escutar a voz do Carioca. E sentir sua presença é saber que o menino está vivo, em mim. ----------------- A vida é muito mais alegre que pensamos.

CARTÃO DE NATAL

Em Pinheiros, na rua Teodoro Sampaio, esquina com rua Cunha Gago, havia uma grande loja de uma cadeia japonesa que se instalara no Brasil, a Yaohan. Parecia o Mappin. Tinha um supermercado com comidas de primeira e um tipo de grande loja de roupas, discos, brinquedos, TVs, rádios. Era bonita, limpa, ampla, decente. As compras de Natal eram feitas lá, mas antes, logo no dia 2 ou 3 de dezembro eu ia comprar os cartões de Natal. Escolhia cada um de acordo com a personalidade de cada amigo. O mais íntimo ganhava o cartão mais bonito, os distantes teriam os mais impessoais. Em casa eu escreveria um texto, com caneta tinteiro, letra artística. Selar envelope e ir ao correio, onde haveria fila. Era ato de amizade, de beleza delicada, era muito real. Nada havia de automático. ---------------- Dia 20 ou 21 eu receberia os cartões de meus amigos. Haveria surpresa pela lembrança daquela menina que eu nem sabia que pensava em mim. Abrir o envelope e ler a mensagem. Então colocar cada cartão ao redor da árvore. A data natalina crescia ao nosso redor a cada cartão que chegava, a cada cartão que era enviado. Tradições eram mantidas, costumes, hábitos que eram repetidos como encontros conosco mesmo. O Natal era recordar e reafirmar certezas. Manter um compromisso. Conservar uma tradição que dava paz ao coração. ---------------- As receitas que minha mãe faria tinham de ser sempre as mesmas. O bolo de nozes. As rabanadas. O pudim de morangos. O polvo na noite de Natal e o perú no almoço do dia 25. Bolinhos de bacalhau bem salgados, com salsinha, a champagne e o vinho. Tudo tinha de ser repetido porque assim dizíamos à vida que nossa união permanecia, mais um ano, pela vida. Era uma celebração de força: eis que estamos aqui. Por mais que a vida seja mudança, NADA MUDOU. Nossa família é eterna. Era isso o Natal, uma confirmação de laços. O nascimento de Jesus nos fazia ter certezas. Ele nasceu outra vez e nós também nascemos no Natal. Por mais um ano. -------------- Escreverei mais sobre a mais importante data de nossa civilização. Mais tarde.