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A MULHER DO PADEIRO/ BIRDMAN/ BILL MURRAY/ VIVEN LEIGH/ JACQUES BECKER/ CADDYSHACK /LUCY

   UM SANTO VIZINHO (ST. VINCENT ) de Theodore Meel com Bill Murray, Naomi Watts, Melissa McCarthy e Chris O`Dowd
Bem...Bill Murray concorreu ao Globo de Ouro e perdeu. Mas esta é sua melhor atuação em anos. Mesmo que ele faça mais uma vez o cara ranzinza e doidão de sempre. Ele é um cara que mora sozinho. Uma vizinha se muda para a casa ao lado. Ele acaba virando babá do filho dela. Claro que ele e o moleque vão se tornar amigos. E claro que ele tem uma vida secreta. Apesar de ser óbvio o filme até convence. O elenco é muito bom e há uma cena com verdadeira emoção ao final. Muito mais surpreendente é o fato deste filme americano mostrar católicos que não parecem doentes ou piada pronta. É um drama. Sério. Vale a pena ver. Nota 6.
   BIRDMAN de Alejandro Iñarritu com Michael Keaton, Naomi Watts, Edward Norton
Forte e febril, já li algumas pessoas o chamando de fake. Bobagem! É o velho preconceito contra filmes com várias indicações ao Oscar? Talvez seja pior que isso, temo que não tenham captado a profunda ironia do roteiro. Temo que tenham levado tudo a sério. Uma dica: todas as cenas dramáticas são piadas, todas as cenas com o Birdman é que devem ser levadas a sério. Personagens como o ator metido, a filha junkie ou a crítica não devem ser encarados como exagerados ou mal escritos, eles são patéticos de modo proposital, e assim criticam certo tipo de filme de arte muito em moda atualmente: o filme que traz um banner em todas as cena bradando: arte! Keaton está brilhante! A trilha sonora é perfeita, assim como a fotografia. Um grande filme. Nota 9.
   ( O que? Voce dá 9 para um grande filme? Sim. Ele é grande, forte, mas tem falhas, muitas. Dez é para filmes que podem não ser tão fortes, mas que são isentos de falhas. Filmes perfeitos. )
   SNATCH de Guy Ritchie com Jason Statham, Brad Pitt, Dennis Farina, Vinnie Jones
Guy Ritchie....Danny Boyle....Acho que Guy é melhor. Well....houve um tempo, muito divertido, em que a moda eram os filmes ""espertos"". Pulp Fiction vem a cabeça, mas antes dele houve O Nome do Jogo de Barry Sonnenfeld, houve Stephen Frears com The Hit. E de repente era moda fazer filmes com violência gráfica, diálogos nonsense e personagens elegantemente perversos. Deu certo. Eu adorava! Mas bastou dois ou três fracassos ( A Mexicana, O Nome do Jogo II e Jackie Brown ) para que a coisa se fosse. Uma pena. Revendo Snatch hoje, em 2015, já 15 anos passados, eu estranhei o começo, a trilha techno pareceu envelhecida, mas logo me envolvo e começo a me divertir. Muito. Snatch sobrevive. É uma sopa louca de sangue, risos e ritmo. O segredo para esse tipo de filme é um só: personagens que a gente goste. Se o roteiro consegue isso pronto, o filme vence. Aqui temos pelo menos 7 personagens excelentes. Eu os contei. O filme é muito bom. Nota 7.
   LUCY de Luc Besson com Scarlet Johansson e Morgan Freeman
O filme em si é um Bresson de segunda. Luc já fez coisa melhor. Fala de uma garota que é sequestrada por coreanos. Implantam droga, uma nova super droga, nela. Depois de várias cenas gratuitas de sangue e sofrimento, a droga se espalha no corpo dela. Isso faz com que o cérebro se expanda, ela, aos poucos chega aos 100% de uso cerebral. É isso. Freeman faz um professor que irá tentar a ajudar. Pois bem, o filme tem paralelamente a sua vulgaridade violenta,  considerações filosóficas sobre os assuntos que mais me interessam de uns quatro anos para cá. Tempo, matemática, evolução. Óbvio que se alguém tivesse 20% de seu cérebro ativado teria como primeira ação o não mais entendimento com os outros humanos. Ele seria uma outra espécie e nossos conceitos de tempo e linguagem lhe seriam alienigenas. Mas mesmo assim este filme não teme o possível ridiculo e vai fundo. Ele inspira longas conversas. Não darei nota.
   AS CALÇADAS DE LONDRES de Tim Whelan com Charles Laughton, Vivien Leigh e Rex Harrison
Feito nos anos 30, suas primeiras cenas são maravilhosas. Nas ruas de Londres, em frente aos teatros, artistas de rua se apresentam e passam o chapéu. Laughton é um declamador de rua, Vivien uma malandra da sarjeta, e todas as cenas nas ruas são de uma originalidade e de um sabor boêmio soberbos. Vivien está lindíssima, fazendo uma garota ardida ela se prepara para ser a Scarlet de ...E O Vento Levou, dois anos mais tarde. Laughton dá seu show habitual. O filme é delicioso, em que pese um quase excesso de melô na parte final. Nota 7.
   JAMAIS TE ESQUECEREI de Roy Baker com Tyrone Power, Ann Blyth e Michael Rennie
Escolhendo DVDs para comprar topo com este filme do qual nunca ouvi falar. Mas o tema me intriga e o compro. Um cientista atômico é obcecado pelo século XVIII. Atingido por um raio volta no tempo. Em 1785 se decepciona. Em vez de achar a era da razão, encontra um tempo de sujeira, violência, exploração e muito preconceito. Tenta apressar o progresso e é dado como louco. Nesse meio tempo se apaixona por uma mulher da época. O filme tem um tema interessante: só aceitamos aquilo para o que estamos preparados a aceitar. Um fósforo ou um barco à vapor antes de seu tempo são inaceitáveis. O filme é de 1951, e portanto sua explicação dessa viagem no tempo é a mais racional possível. Fosse um filme de 2015 a explicação seria bem mais new age. Um filme obscuro, esquecido, apesar da presença de Tyrone no auge de sua fama superstar. Tem clima, entretém. Nota 6.
   OS AMANTES DE MONTPARNASSE de Jacques Becker com Gerard Philipe e Lili Palmer
O filme conta a bio de Modigliani, um dos mais originais pintores do começo do século XX. Bio inteligente, ela não tenta contar tudo da vida do artista, na verdade o que ela descreve são os últimos anos da vida de Modi. O filme, do grande Becker, com bela fotografia de Christian Matras, não tem muito o que dizer. Isso porque a vida de Modi se resumiu em álcool e pobreza radical. O filme deprime, nada há de belo na vida de um autodestrutivo. É um dos últimos filmes de Philipe, ele morreria jovem no fim dos anos 50. Há quem o considere até hoje o grande ator do cinema francês de sempre. Era excelente ator e muito bonito. Ele faz um Modi seco, egoísta, acabado. Um filme dificil. Nota 6.
   A MULHER DO PADEIRO de Marcel Pagnol com Raimu e Charpin
Pagnol foi um grande escritor e um grande divulgador da cultura da Provence. E que ocasionalmente fazia filmes.  Feito em 1938, este surpreende por várias coisas. Pelo extremo realismo, pela precariedade da produção e pela excelência de seus atores. Pauline Kael considerava a atuação de Raimu neste filme uma das cinco melhores de todos os tempos em qualquer lingua. A história: um novo padeiro chega à uma vila na Provence. O pão que ele faz é excelente. Gordo e velho, ele é casado com uma bela jovem. Ela foge com um pedreiro. O padeiro não aceita a fuga e fica se auto-enganando, acha que ela foi visitar a mãe, está voltando etc. Quando cai em si, vira um bêbado e deixa de fazer pão. A vila toda se une para trazer a esposa de volta. A obrigam a voltar. É isso. O filme vai do mais patético ao sublime. O padeiro, absolutamente idiota sem ser caricato, um trouxa sem nunca parecer artificial, é magnífico. Raimu não parece atuar, parece ser o cornudo. A vila zomba dele, mas ao mesmo tempo têm carinho pelo bobo. E todos os atores parecem brilhar. Mas não se engane, não é um filme fácil. As cenas são longas, se fala muito e os ambientes são muito pobres. Enquanto via o filme me peguei entediado algumas vezes, mas que estranho, hoje recordo o filme, dez dias depois, com muita admiração e simpatia. Um filme diferente de tudo que voce tenha visto.  O sotaque da verdadeira Provence todo aqui. Nota 7.
   CLUBE DOS PILANTRAS ( CADDYSHACK ) de Harold Ramis com Chevy Chase, Bill Murray, Rodney Dangerfield e Ted Knight
Ri muito! O filme é de 1980, e não sendo por menos, mostra como eram os teens de então. Kinght faz de forma brilhante o dono do campo de golfe, Rodney é um milionário brega e que sabe viver, Murray um doidão que é o zelador do campo e Chevy é um hilário golfista zen. Todos estão maravilhosos! Cenas como a da piscina, a chuva no campo ou o final com o torneio são de antologia. E que humorista brilhante era esse Rodney!!!! Eis a grande geração do humor americano, que tinha ainda nesse tempo Steve Martin, Dan Akroyd, Andy Kauffman, Robin Willians e Martin Short. Ah e um tal de Eddie Murphy! Nada mal. O filme é muito bom! Nota 8.
   ZONA DE PERIGO de Rowdy Herrington com Bruce Willis, Sarah Jessica Parker e Dennis Farina
Um dos pontos mais baixos da carreira de Bruce. O roteiro tem vários furos, o assassino é fraquíssimo e o suspense banal. Para piorar tudo tem uma trilha sonora mediocre. Bruce parece desinteressado. Nota 3.
  

BIRDMAN, UMA SURPRESA

   Desde o inicio o cinema tem sofrido de esquizofrenia. Nasceu como circo, curiosidade de feiras, e logo passou a aspirar ser arte. Buster Keaton e Douglas Fairbanks conviviam com Murnau e Pabst. Hoje sabemos que Buster Keaton era melhor que Pabst, e que as aventuras de Fairbanks parecem melhores que 90% dos filmes de arte. Mas essa divisão perdurou para sempre. Os filmes de Tarzan ou Jean Renoir, faroestes ou o neo-realismo italiano, James Bond ou a Nouvelle Vague, Herzog ou Spielberg, Bergman ou os Irmãos Marx. Eu amo todos esses nomes e por isso os citei, e sei que aqueles que amam filmes amam todos eles. John Ford, Hitchcock conseguiram unir os dois campos, mas são raros. É disso que este filme fala.
   Já aviso que se voce o assistir numa sala de cinema irá acompanhar vários corpos se movendo no escuro. Ele tem tudo para chatear e irritar muitos espectadores desavisados. Porque é um filme labiríntico. Estamos dentro de um teatro. Nos seus corredores, camarins, palco, porões se passa quase todo o filme. Um ator-celebridade produz, escreve e atua em uma peça. Com essa peça ele tenta renovar sua carreira e principalmente ser reconhecido como um ator de verdade. Ao seu redor vemos um outro ator, um tipo do ""método"", metido a artista, a cool, a realista. Há ainda uma atriz insegura, a ex-esposa que o visita, a filha junkie, uma crítica num bar. E a visita do Birdman, o personagem que fez desse ator um astro. Tudo isso é mostrado com câmera na mão, muitos travellings e um ambiente escuro, sujo, frio, sem glamour. Muito mais importante é o que se fala. E se fala tudo sobre o cinema de 2015. Birdman é o epitáfio do cinema de hoje. Ou não.
   Filmes de quadrinhos, comédias infames, atores mimados que dão prêmios para outros atores mimados, filmes vazios, draminhas bobocas, sobre todos os assuntos o roteiro, muito irado, mete a mão e o pé. E o personagem de Keaton, ansioso para conseguir prestigio, representa todos esses atores que se perderam ( e alguns ele cita explicitamente ), atores que se venderam por uma capa, por uma fortuna que será gasta em um fim de semana. Fassbender, Renner, Downey Jr., todos citados....""até neles botaram uma capa?""
   O filme é um labirinto, mas também tem uma beleza que chega ao sublime. Quando ele tem de cruzar a rua de cuecas, um vôo sobre a avenida, e o final, inesquecível. Voce pode até se chatear, mas não vai esquecer deste filme. Porque ele tem aquilo que muito poucos filmes têm hoje, ele é sincero. Iñarritu ama os filmes e passa uma enorme verdade neste filme. Por mais ridiculo que Keaton pareça às vezes, por mais idiota que Norton possa ser, eles são atores, e Iñarritu ama esses atores. Assim como ama o cinema, mesmo que seja um filme bobo do Birdman.
   Eu amo o cinema dos anos 30 e sinto tristeza por não termos mais roteiros como aqueles. Em 1930 o cinema era jovem, hoje ele é um senhor cínico e esse tempo de novidades jamais voltará. Mas mesmo assim, ainda me pego ocasionalmente vibrando com os X Men, adorando Os Guardiões da Galáxia e querendo rever a Vida de Pi. Se o filme de arte virou apenas jornalismo ( todo filme de arte hoje parece uma denúncia de jornal das oito ), o cinema popular ainda pode nos encantar. Este filme nada tem de cinema popular, mas ele encanta. E no final, inesperadamente nos faz sonhar.
   Durante a exibição eu pensei em Fellini, em Ophuls e em Carné. Mas pensei por pensar, este filme não cita ninguém, ele é original. E transborda talento. Iñarritu faz aqui seu melhor filme e Michael Keaton, sempre um ator subestimado, tem seu papel. Teatro, atores, sucesso, arte, familia, vida, morte, cinema. Ele cita tudo, entra dentro do espirito de tudo e sai com este filme. 
   Eu fiquei admirado. Surpreendido. E agradecido. É o filme do ano.