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OS MONSTROS - DINO RISI. A SABEDORIA DA ITÁLIA. OU SERIA APENAS VAIDADE?

Não existe no mundo país com coragem maior para a auto-crítica que a Itália. Uma cultura que vem de Roma e renasce com Maquiavel, Dante e Bocaccio tem raízes fundas no estoicismo. O mundo é cruel, eles sabem, nós somos muito crueis, eles admitem, vamos exibir isso, eles fazem. Neste filme, Dino Risi nos apresenta uma série curta de sketches que nos dão flagrantes da maldade italiana. É uma comédia, mas muito mais que o riso, ela nos dá raiva e na história final, choro. ( A última história, com atuações milagrosas de Gassman e Tognazzi, nos exibem um momento na vida de dois boxeadores. Nada em cinema, nem Scorsese ou os filmes noir dos anos 40 sobre o assunto, disse tanto de modo tão cru ). O roteiro, esperto, sempre nos surpreende. Pensamos que adivinhamos o final, e somos enganados. Dou exemplo: uma velhinha foge nas ruas. Um grupo de homens a captura. Pensamos: ela fugiu do hospício, da clínica, da família. Mas não! Ela fugiu de um filme de Fellini. Por que? Aí não conto. Veja. ------------------------------ Os dois atores-gênio aparecem em todos os sketches. Eles vão do sublime ao patético. É fascinante ver os dois em ação. Sem pudor algum, o italiano é exibido como ladrão, egoísta, cruel, falso e extremamente vaidoso. O que me faz pensar: um povo que se exibe assim, exibe mesmo seu podre, seu mal, é sábio ou é tão vaidoso que até ao exibir seus vícios se vangloria deles? Não há nenhum outro cinema que escancare de modo tão fundo todo seu lado sujo. E pergunto, por que a Itália tem esse dom? Eu creio ser sua raiz estoica, estoicismo que vem desde Roma e renasce na época de Julio e dos Borgia. Para eles, o mundo é um inferno, mas é um inferno com risos, vinho e belas mulheres. Então vivamos enquanto podemos viver. -------------------- Este filme, como todo grande filme italiano, fala isso. Afirma o homem, ruim e belo, em meio as chamas do mal. Na última história, a única poética, Risi conclui com imagem digna de Fellini. Os Monstros, enorme sucesso em seu tempo, é um bravissimo filme.

MEUS CAROS AMIGOS ( AMICI MIEI ), EU ME LEMBRO DE NÃO SER UM HOMEM...

Nos anos 70 a Italia flertava bastante com o comunismo puro. Interessante conversar com um rapaz de 20 anos, culto, sobre esse assunto. Para ele, hoje, comunismo é algo vago, uma névoa onde se misturam ecologia, feminismo, liberdade sexual, drogas e consumismo consciente do bem. Digo à ele que em 1975, em Firenze, onde se passa o filme, ser comunista era odiar rock, jamais comer nada que tivesse origem made in USA, querer dar o poder aos operários e ter acessos de raiva ao ver gente bem vestida, limpa, organizada, burguesa. A revolução seria absoluta: patrões presos, pobres tomando as casas dos ricos, fábricas virando cooperativas. Acima de tudo, para ser comunista voce era, coerentemente, materialista. Crer em espíritos, igrejas alternativas, vida pós morte, tudo era encarado como ópio, maneiras de amansar o pobre. Mesmo a arte só era válida se fosse militante, se tivesse uma função social educativa. Weellll....meu amigo fica meio chocado. Coitado. -------------- Conto isso porque este filme, uma obra prima do humor humanista que só os italianos sabem como fazer, exibe esse momento histórico de forma enviesada. Se em 1975 todo italiano moderno era necessariamente comunista, estes cinco adultos estão além do comunismo, eles são anarquistas. É a versão made in Firenze do filme francês de 1973, Corações Loucos, onde Gerard Depardieu, Miou Miou e Patrick Dewaere, este um ator de gênio que tragicamente morreu jovem, nos anos 80, por heroína, mostram, sob a direção de Blier, o que seria o anarquismo na França de então. O estilo francês é agressivo, violento, sexualmente feroz, animalesco; já o italiano se pauta sempre pelo humor e pelo exagero operístico dos sentimentos. São finos, são machos, são bobos e são civilizados, são italianos.... ---------------- A primeira ministra da Italia fez um discurso de posse que é uma das peças mais belas da política e é a melhor em décadas. Grosso modo, já escrevi sobre o tema, ela diz que a Italia precisa voltar a ser italiana. Modo de viver, gostos, religião, arte, comida, tipo de relações humanas, família, ao estilo do país e não da Europa. Pois esse modo europeu é sempre o mesmo, um jeito nórdico de se fazer e de se viver. É preciso salvar a cultura do sul, do Mediterrâneo, latina. Este filme nos faz lembrar de duas coisas: 1. O quanto devemos à cultura italiana. 2. O quanto existe de felicidade em se ter amigos masculinos. ( Machismo? Talvez ). ---------------- 1. A Italia nos civilizou. Nos livrou do barbarismo que às vezes retorna em forma de nazismo, stalinismo, irracionalidade, crenças estúpidas, exagero no culto à natureza, magia negra, ódio à educação, raiva da história ocidental-latina. Na cultura italiana encontramos o nascimento do amor à beleza até o refinamento dos modos, o amor ao flerte à criação da música ocidental. As regras que se aplicam à diplomacia, arquitetura, saneamento básico, guerra, direito, trato com as mulheres, gastronomia, cultivo de vinho, fabricação do pão, senso de vestir, troca de ideias, tudo made in Italia. Italianos falam, discutem, escrevem, cantam, tentam seduzir, tramam, traem, matam, mas tudo dentro de um discurso, de um código, do mundo do Cortesão, do cavalheiro, do gentil homem. ( Por isso o fascismo italiano foi muito menos feroz que o alemão ou russo ). Espada e pena, sangue e flores. Este filme mostra isso? De contrabando, sim. Mas o foco principal é no ponto 2. -------------------------- 2. Eu vivi dois tipos de ambiente em minha vida. O mundo da amizade masculina e o da feminina. Ambos são interessantes, mas para um homem, as grandes lembranças são as das amizades entre homens. ( Minhas grandes lembranças com mulheres são ligadas ao romance, e ao falar isso estou sendo honesto ). Quando, no filme, os amigos dão tapas nos passageiros de trem, eles estão sendo homens, apenas homens, homens que estão longe de mulheres. No ato o único objetivo é rir, mais nada. Não há sentido oculto, nem mensagem cifrada, nada. O tapa acontece porque faz rir e rir é bom. Essa é a capacidade masculina de viver: fazer o que naquele momento e naquela hora faz sentido porque deu vontade de fazer. Cada piada, cada bagunça, cada trapalhada no filme é apenas isso, desejo de rir. Se voce já teve amizades sinceras com homens não castrados voce sabe do que falo. Tóxicos? Sim, pois eles viciam. ---------------------------- Eu tenho alguns amigos, ou ex amigos, que aos 30 anos eram assim. Maravilhosamente bobos. Tudo o que faziam tinha embutido o desejo de rir. Mesmo quando conversávamos sobre Bach ou Nietzsche, o final, a gente sabia, era o riso. Aos 35 anos eles se casaram. E lentamente mudaram. Alguns se fizeram preocupados, vendo o riso como infantilidade irresponsável; outros simplesmente começaram a falar como suas mulheres, os mesmos assuntos, mesmos gostos, mesmas atitudes. O passado não era condenado por eles porque deixou de ser lembrado. Mataram o que foram aos 20. Pois bem, neste filme vemos homens de 50 anos que são casados ou divorciados e que abrem mão de tudo pelos amigos. Visto hoje isso parece coisa de idiota ou algo impossível de acontecer....weeellll....meu avô morreu aos 70 anos exatamente assim. Quando a turma do bar chamava, ele ia. Sem nunca hesitar. Egoísmo? Muito. Mas creia, sentiremos muita falta desse tipo de homem, pois era ele quem garantia um mínimo de paz à comunidade. Com os dele, o que era dele, ninguém se metia. Com os dele nada de ruim acontecia. Ele era a porta contra a maldade dos de fora. Isso acabou. Recentemente fiz amizade com um homem desse tipo, 60 anos, velha moda de ser e fazer. Ele contrabandeia bebida para dentro do trabalho, empresta dinheiro a juros baixos, viaja sem planejar, indo para lugares onde nunca foi, sustenta duas famílias, come até passar mal, e me cumprimenta no estilo: Como vai seu filha da puta! Ele age. E ri. É um egoísta. Mas é responsável pelos seus. ---------------------- Tive amigos assim por toda vida. Não os valorizava porque antes eles eram comuns, fáceis de achar. Hoje são uma raridade. Não é por acaso que mesmo em países como o Canadá ou Irlanda já se percebem sinais de tirania governamental. Não há mais esse tipo de homem para botar o pé sobre a mesa e parar com a merda toda. Os que ainda existem se encolhem com medo de serem rotulados de "tóxicos", "velhos", "brucutus", ou pior que tudo "opressores". Loucura: os que nos salvaram da opressão desde sempre, são agora rotulados como "perigosos". Saibam que, pasmem!!!!, os comunistas de 1975 eram extremamente viris. Cuspiam no chão, tinham amantes e odiavam frescura. Se voce olhar bem irá ver um monte deles na política que agora toma o poder aqui na Latino América. Estão detrás de névoa de feminismo, ecologia, drogas livres..... rindo. ----------------------- Pietro Germi, o mais esquerdista dos diretores, escreveu o roteiro deste filme e ia o dirigir quando morreu. Mario Monicelli, o melhor dos diretores de comédia, pegou o barco andando e fez um grande filme. O elenco é adorável. Todos têm cara de gente de verdade e não personagens de cinema. É tudo crível porque eles são críveis. Cada rua gelada, cada carro enferrujado, a casa inacreditável de Tognazzi, o hospital onde eles se comportam como alunos indisciplinados, tudo é brincadeira e tudo é real. Apenas a Italia conseguia fazer esse tipo de cinema, realista mesmo quando parecia exagerar. Nunca feito por tipos, sempre por gente. Rezo para que Melloni, a ministra, tenha sucesso. ( Há algo mais italiano que uma ministra chamada Melloni? Penso nos italianos em Siena falando dos melloni dela ). --------------------- Seria maravilhoso que uma cultura que começou com A Divina Comédia e o Decameron, nos salvasse mais uma vez.

BOB, LE FLAMBEUR/ NOÉ/ MONICELLI/ SAMURAI/ UCHIDA/ AGATHA CHRISTIE/ BURT REYNOLDS

   NOÉ de Darren Aronofsky com Russell Crowe
O mundo do velho testamento encontra a Marvel. Os anjos caídos são personagens Marvel. Mas o Deus de Noé é o Deus vingativo da Bíblia Judaica. Aronofsky continua interessado em teimosia. Todos os seus filmes tem alguém que cai vítima de uma obsessão. Noé é teimoso em sua missão. E o filme se vulgariza com problemas familiares típicos de filmecos dos anos 2000. Um teen quer transar, a mãe defende a prole etc. O final é um belo achado. Ao sentir compaixão pelos netos, Noé adentra o universo da Bíblia de Jesus, o mundo onde o Amor é Deus. Noé dá o salto de Jeová à Jesus. Bonito. Russell é o Charlton Heston que se tem. Sem a nobreza de Heston e sem sua voz bíblica, Russell está mais para bárbaro que para herói antigo. O filme é ok. Aronofsky ao menos se livrou daquela papagaiada pseudo-profunda de Cisnes pretos e bailarinas infantis. Nota 6. Ah sim, o filme tem uma trilha sonora muuuuuito nada a ver.
   UM RALLY MUITO LOUCO de Hal Needham com Burt Reynolds, Shirley MacLaine, Dean Martin, Sammy Davis Jr, Jackie Chan, Telly Savalas...
Um elenco impressionante num dos piores roteiros já escritos. Um bando de corredores participa de uma corrida de L.A. até NY. Triste ver gente como Dean e Sammy em papéis que chegam a ser humilhantes. E Shirley está ainda mais mal aproveitada, um papel errado e bobo. Recentemente deram um Oscar honorário para Hal Needham. Nunca deram um para Anthony Mann ou para Preston Sturges. Isso diz muito sobre o Oscar. Este filme foi um fracasso e não lançou o jovem Jackie Chan na América. Ele iria esperar mais dez anos para estourar em Hollywood. Este filme é tão bobo que ele faz um tipo de otário japonês ( !!!!!! ) e quase não luta. Se salva alguma coisa? Telly Savalas, que tem um papel ok.
   SHERLOCK DE SAIAS de George Pollock com Margareth Rutherford, Robert Morley e Flora Robson
Miss Marple é uma velha dona de casa que desvenda crimes por hobby. Personagem criada por Agatha Christie, ela talvez seja mais interessante que Poirot, o outro ícone criado pela dama inglesa. Aqui ela desvenda a morte de um herdeiro. O filme é delicioso para quem gosta de coisas very british. Há cavalgadas de tarde, lareiras campestres, noites com vento, muito chá e tolos excêntricos. Tudo o que eu gosto. Um filme popular de uma série longa com uma atriz muito amada. Bom passatempo. Nota 7.
   BOB, LE FLAMBEUR de Jean Pierre Melville
Bob é um veterano. Ex-bandido, agora amigo de um delegado. Bob frequenta prostitutas mas não as leva pra cama. Bob ajuda amigos otários e odeia malandros cheios de si. Bob se veste como Bogart e vive em meio a cigarros, bebidas e muito jazz. Bob está por um fio e ele é mais noir que um filme noir. Bob é francês apesar de tudo, e tem a marca de Camus. Bob é uma obra-prima. Melville amava a América. Amava carros amaericanos, jazz e filme de Huston. Ele criou Bob, filme com atores que foram eles mesmo bandidos. É um filme malandro, inspirador, muito viril. É atemporal. Uma aula de comportamento sob pressão. Aula de estilo. Bob é o cara! Melville é o cara! Este filme é do cara. Nota Um Milhão.
   MEUS CAROS AMIGOS de Mario Monicelli com Ugo Tognazzi, Philipe Noiret, Gastone Mosquin.
O que é a amizade masculina? Sim caras mulheres que não nos conhecem, a amizade é isto aqui. Um bando de homens de meia-idade fazendo aquilo que homens adoram fazer: sendo adolescentes. Eles são bobos, alegres, emotivos, sarcásticos e têm uma fidelidade férrea aos amigos. O filme é uma coleção de travessuras. E, como é do grande Monicelli, mostra o outro lado dos amigos, seu lado coração. É um filme lindo, vibrante, inesquecível. Revejo-o sempre e sempre, e saio revigorado. Um fato: após rever este Monicelli e Bob Le Flambeur, eis que volta meu amor ao cinema! Viva! Nota Um Milhão!
   TREZE ASSASSINOS de Elichi Kudo
Saiu um box com seis filmes de samurai. Este é estéticamente admirável. Impressiona a forma como o cinema japonês sabe enquadrar. A arquitetura, o minimalismo dos ambientes. O filme é meio chato, pausado e um pouco artístico demais. Mas ao final tem uma longa cena de batalha que é digna de Kurosawa. Takashi Miike refilmou esta obra que é um clássico dos anos 60. Ah sim, fala de um grupo de 13 samurais que tenta destronar um lorde corrupto. Apesar da extrema lentidão inicial, vale muito a pena. Nota 7.
  A LANÇA ENSANGUENTADA de Tomu Uchida
Uma pequena obra-prima. Um filme de estrada. Um lorde viaja até Edo com dois servos. No caminho eles encontram um orfão, uma mulher, um velho e outros tipos. Uma mistura de humor, poesia e drama. Com ação. Tem uma cena maravilhosa: 3 senhores tomando chá numa estrada. Mistura magistral de absurdo, realismo, comédia, crítica social. O final é bastante trágico. Não conhecia esse diretor. Por este filme ele merece toda homenagem! Tão bom ter uma surpresa como esta! Nota DEZ.
  

  
  

SEAN CONNERY/ TOM CRUISE/ BURT LANCASTER/ STEVE MARTIN/ STENO/ O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

   OS DIAMANTES SÃO ETERNOS de Guy Hamilton com Sean Connery e Jill St.John
Pagaram uma grana preta para fazer Connery voltar ao personagem. George Lazenby tinha dado errado e com medo de perder a série convenceram Sean. Mas pluft! o filme não dá certo. O roteiro é confuso, a ação sem suspense e até as bond girls são fracas. Sean está contrariado e dois anos depois teríamos a estréia de Roger Moore e um novo Bond. Em tempo, todos falam do novo Bond de Craig...Ora! Todo Bond quando troca de rosto é um novo Bond. O 007 de Roger nada tem a ver com o de Connery. O antigo era tenso, nervoso, quase mal-humorado, o de Moore será suave, fanfarrão e pouco sério. Quanto a este, é de longe o pior da série original. Nota 3.
   ROCK OF AGES de Adam Shankman com Tom Cruise, Alec Baldwin, Catherine Zeta-Jones e Paul Giamatti
O que falar de um filme muito bobo que nos faz rir? E que usa uma trilha sonora que voce nunca escutaria em casa, mas que funciona no filme? Tem Cruise fazendo Axl Rose, Baldwin ( excelente ) de peruca e com cena gay e mais Giamatti como um produtor do mal. OK. admito, é divertido. Nota 5.
   ABRAHAM LINCOLN CAÇADOR DE VAMPIROS de Timur Bekmanbetov
No mundo do mercado/propaganda o que importa é: isso funciona? Não existe nesse mundo a palavra verdade. Se a mentira for agradável ou se ela vender, dane-se a tal verdade. Desse modo, pode-se inventar que Lincoln foi um caçador de vampiros. Se essa nova versão cair no gosto do público ela se tornará uma "nova verdade". O filme é de uma idiotia atroz. Nota Zero.
   AMOR À QUEIMA ROUPA de Tony Scott com Christian Slater, Patricia Arquette, Gary Oldman, Dennis Hopper, Christopher Walken, Brad Pitt, Samuel L. Jackson
Todo o mundo de Tarantino está aqui, neste seu roteiro brilhante: filmes de kung-fu, westerns, conversas espertas, citações pop, bandidos de HQ, rock, musas perigosas e sofridas. Scott, diretor que tem estilo radicalmente oposto ao de Quentin ( Scott é tipico dos anos 80, pseudo-sofisticado, brilhoso e vazio, Quentin é anos 70, exagerado, colorido, vivo, viril ), não conseguiu estragar de todo o roteiro. Mas bem que ele tenta.  Adoraria ver Tarantino o refilmar em 2020. Uma festa para olhos, ouvidos e imaginação. Foi este o filme que em 1994 me fez voltar ao cinema. Nota 9.
   ZONA PROIBIDA de William Dieterle com Burt Lancaster, Peter Lorre, Paul Henreid
Um belo filme noir. Se passa na Africa do Sul. Lancaster é um homem perseguido por policial. Motivo: ele teria tentado entrar em zona de minas de diamantes. O filme, tenso, é esse combate entre um vilão policial sádico, feito com maestria por Henreid, e o herói sonhador e teimoso, feito por um Lancaster magnético como sempre. O filme, rápido, forte, bem narrado, é delicioso. Dieterle foi um desses alemães que ao fugir do nazismo ajudaram a dar caráter ao cinema americano. Muito do que conhecemos como cinema tipico da Hollywood clássica é feito por alemães, austríacos e húngaros. Nota 8.
   RATOS E HOMENS de Lewis Milestone com Burgess Meredith e Lon Chaney Jr.
É o texto de Steinbeck em versão famosa. Temos dois miseráveis. Um deles é deficiente mental, um gigante de coração de criança. O outro toma conta dele. Eles andam pelos empobrecidos EUA da depressão. Arrumam trabalho numa fazenda, onde têm de lidar com tipos estranhos. O filme, tipico da esquerda americana dos anos 30, é muito, muito original. Não parece ser de 1939 e nem de tempo nenhum. Ele é cruel, tristíssimo, amargo ao extremo. Tem trilha sonora de Aaron Copland. Milestone, que dirigiu o melhor dos filmes de guerra ( Nada de Novo no Front ), era um diretor muito corajoso! O filme não tem a menor concessão. Sua falha é ser teatral demais. Temos a impressão de estar vendo uma peça. Nota 6.
   CIDADE NEGRA de William Dieterle com Charlton Heston e Lizabeth Scott
Seria um grande filme se a atriz central não fosse tão ruim. Ela estraga com sua canastrice a estréia de Heston na Paramount. O filme, noir, fala de um otário que ao ser surrupiado no poker por grupo de malandros, se mata. O irmão doido desse suicida surge e começa a matar os malandros. Heston é um dos que deram o golpe no trouxa. O filme tem bom suspense e consegue o ponto certo. É crível. Pena a péssima Scott. Heston, muito jovem, está bem. Consegue ser frio e cinico. Mais um acerto de Dieterle. 6.
   CLIENTE MORTO NÃO PAGA de Carl Reiner com Steve Martin e Rachel Ward
Mesmo não sendo uma grande comédia ( é pouco engraçada ), eu sempre a revejo. Como todo cinéfilo, adoro o filme por ter conseguido unir pedaços de velhos filmes noir com a história moderna. A produção construiu cenários como o dos filmes originais e insere cenas desses filmes na trama de Steve Martin. Temos Cary Grant num trem contracenando com Martin ( a cena é de Suspeita, de Hitchcock ), e além dele há Ava Gardner, Burt Lancaster, Alan Ladd, Veronica Lake, Vincent Price, James Cagney, Bette Davis, Ray Milland, e claro, Humphrey Bogart, que domina o filme inteiro. É engraçado ver Bogey como empregado de Steve Martin e levando bronca dele! Deveriam fazer isso hoje em dia. Com os recursos técnicos que temos os resultados seriam fabulosos!!! Mas talvez jamais será feito, o público, grande, que reconheceria os velhos ícones não frequenta cinemas. Os atores modernos teriam de contracenar com, no máximo, Nicholson e Hoffman, dái para trás seria o analfabetismo em cinema. Adoro Steve Martin, Rachel Ward foi a mais bonita atriz do começo dos anos 80, mas o roteiro é bem fraco. Nota 5.
   O MORRO DOS VENTOS UIVANTES 2012 de Andrea Arnold
Espero que seja/tenha sido um fracasso. Tivemos muitas versões da obra-prima de Emily Bronte. Todas erraram. A mais famosa é a de William Wyler, com Olivier, mas essa é também falha. Fria demais, muito sóbria. sem paixão e loucura. Há uma de Bunuel que é sem sentido. Aquela com Juliette Binoche é doce e bobinha e agora temos mais esta. ( Falo só das que já vi ). Uma versão analfabeta. Escrevi recentemente que o cinema do futuro será mudo e barulhento. Pois este é um filme mudo. Ninguém fala e quando fala nada é dito. A diretora tenta ser poética. Ela pensa que poesia é filmar no escuro  em big close. A câmera nunca deixa de tremer, Heathcliff agora é negro e Cathy é feia. Um pavor. Nota ZERO.
   MINHA AVÓ POLICIAL de Steno com Tina Pica e Ugo Tognazzi
A Itália, no auge de sua produção, chegou a lançar por ano quase tantos filmes quanto os EUA. Eram filmes de horror, épicos, westerns, filmes politicos, de arte, documentários. E muitas comédias. Steno começou dirigindo em dupla com o grande Mario Monicelii. Depois se separaram e logo deu pra notar que Monicelli era o gênio dos dois. Os filme de Steno são simples e envelheceram mal. Aqui temos uma avó mal-humorada que ao ter uma jóia roubada atrapalha o casamento do neto e a vida da policia. O filme não é ruim, os atores são ótimos, é apenas banal. Nota 3.

MASTROIANNI/ SEAN PENN/ MARILYN/ GERMI/ RENOIR/ JACQUES TATI

   QUINTETO IRREVERENTE de Mario Monicelli com Ugo Tognazzi, Philippe Noiret, Gastone Moschin
Delicioso! É a continuação de Amici Mei, sucesso feito sete anos antes. Os velhos amigos continuam aprontando suas pegadinhas de adolescentes eternos. Monicelli tinha o segredo da comédia. O filme é feliz. Se voce tem amigos antigos irá se identificar com algumas situações. Maravilhoso tempo de comédias adultas. Comédias que falam de coisas sérias sem jamais parecerem forçadas. Tognazzi dá um de seus shows habituais. É um filme que mostra a alma masculina de forma bem verdadeira. Nota 7.
   A VALSA DOS TOUREIROS de John Guillermin com Peter Sellers
Um dos vários desastres que Sellers estrelou. Tudo dá errado inclusive ele. Zero. PS Eu adoro Sellers.
   O SACI de Rodolfo Nanni
Uma raridade ( que com o dvd deixou de o ser ). É o primeiro filme infantil feito no Brasil. Conta o episódio do Saci no Sitio do Pica Pau Amarelo. Simples, bem feito, tem um gosto de nostalgia, de pé no chão. Ele captura maravilhosamente a infância como ela é. Ou era? Nanni virou professor de cinema na FAAP. Há uma boa entrevista com ele feita em 2006. Nota 6.
   O PRÍNCIPE ENCANTADO de Laurence Olivier com Marilyn Monroe e Laurence Olivier
Este é o filme cujos bastidores foram dramatizados em 2011 no filme que deu indicação ao Oscar para Michelle Williams. Aqui vemos Monroe como uma corista que é convidada por duque do leste europeu para jantar na embaixada. Os dois não combinam, se agridem, e quase se apaixonam ao final. Esse fim não é doce demais, chega a ser azedo. Olivier tem seu filme roubado por Marilyn que está muito inspirada. Ela entra em cena e o filme é só ela. Olivier se exercita em um de seus prazeres: inventar sotaques. Peça de Rattigan que aqui se deixa ver com prazer. Para quem gosta de Marilyn ou de coisas very british é obrigatório. Nota 6.
   DOIS VIGARISTAS EM NOVA YORK de Mark Rydell com James Caan, Diane Keaton, Elliot Gould e Michael Caine.
Poderia ser ótimo, mas tudo falha. Porque? Os personagens são mal escritos. Caan e Gould, no auge da fama, são dois malandros atrapalhados que tentam dar um golpe em Caine, o maior malandro da América. Keaton faz seu tipo habitual, uma feminista histérica. Caine está bem, faz um super star do roubo. Quando o excelente Golpe de Mestre ganhou um monte de Oscars e dinheiro em 1973, uma fila de produtores se formou. Todos queriam fazer o seu Golpe de Mestre. Este é um deles. Nota 1.
   DIVÓRCIO À ITALIANA de Pietro Germi com Marcello Mastroianni, Daniela Rocca e Stefania Sandrelli
Como é bom ver Marcello!!! Aqui ele é um siciliano, nobre decadente, que é casado com repulsiva esposa melosa. Ele se apaixona por sua jovem prima e vizinha. O filme, dirigido pelo expert Germi, é cheio de cortes abruptos, frases ferinas e varia entre o humor amargo e cenas patéticas. Marcello tem uma de suas grandes atuações. Seu tipo, de bigodinho fino, cabelo empastado, ansioso de desejo, atrapalhado, é inesquecível. Uma obra-prima de criação e de estilo de interpretar. Mas o filme é muito mais. Temos a trilha sonora de Rustichelli e um roteiro brilhante que foi indicado ao Oscar ( e na época era muito raro indicarem qualquer coisa não anglo-americana ). Nota 9.
   A REGRA DO JOGO de Jean Renoir com Gaston Modot e Marcel Dalio
O revejo para celebrar a lista da Sound and Sight em que ele é o quarto melhor filme. Tenho uma relação complicada com este filme. Quando o vi pela primeira vez não gostei. Na segunda vez eu gostei um pouco. Agora foi a terceira. E finalmente entendo onde está seu gigantismo. Vemos um aviador que quebra um recorde mundial. Logo o tema muda, é a relação de um casal muito rico que se trai amoralmente. Então vamos ao campo e o tema se torna uma caça aos coelhos. Mas surge um malandro e agora o foco é nos amores desse malandro com uma empregada casada. Vem então o tema da vingança e nessa altura já não sabemos do que trata o filme e esquecemos do tal piloto de avião. E é isso: o filme é o primeiro a não ter personagem central, tema ou enredo. Não tem hierarquia, não tem foco, nem moralidade. É absolutamente livre. Influência gigantesca sobre o cinema feito após 1960 ( que é quando ele é descoberto. Em seu tempo ninguém deu bola pra ele ). Sempre que voce assistir um filme com dúzias de personagens com histórias entrelaçadas e sem qualquer sentido de objetivo central, saiba, o diretor tem este filme como cartilha. Nota 9.
   AS FÉRIAS DE MONSIEUR HULOT de Jacques Tati
Falar o que? Nada acontece neste filme, mas e daí? Queremos que esse nada jamais termine. O que amamos é ver Hulot, ver aquela praia e conviver com aqueles personagens. Este filme, ainda hoje hiper original, é um dos mais prazerosos filmes já feitos. Tudo aqui é felicidade. Hulot vai passar férias na praia, e nós vamos com ele. É um dos mais amados filmes do cinema. Eu realmente o irei rever por toda a vida.. Nota MIL.
   AQUI É O MEU LUGAR de Paolo Sorrentino com Sean Penn, Frances McDormand e David Byrne
Sobre um astro dark do rock dos anos 80 perdido no mundo de hoje. Penn está ótimo. Ele faz uma mistura de Ozzy com Robert Smith e algo de Edward Mãos de Tesoura velho. Mas o filme é um lixo insuportável. A trilha sonora, fraca, é de David Byrne e ele aparece como ele-mesmo, um tipo de grã-mestre da arte...Como se pode fazer um filme tão boçal, morto, flácido, tolo, sem porque? Como pode algum crítico o elogiar? Arghhhhh!!!!!