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O PROFESSOR DE DESEJO - PHILIP ROTH
No final, tudo se resume a sexo. No final tudo se resume a sexo? Roth escreveu este livro nos anos de 1970 e eu o considero um fracasso. Nas memórias desse homem fictício, o que se sente é uma confusão dos diabos. Mas não é pela confusão que não gostei do livro. O motivo é a sensação fake que ele nos passa. Nada parece real. ninguém tem vida. Será de propósito? Teria Roth desejado que todos parecessem fake? ---------------- A narrativa acompanha a vida de David Kepesh, filho de um casal dono de um hotel nas montanhas. David logo cresce e se mostra um homem que vive para o sexo. Não há nada de erótico aqui, ele apenas gosta de prostitutas e depois mora em Londres com duas suecas. De volta aos EUA, tem uma história com uma loira linda e promíscua. E por fim encontra a salvação, já na maturidade, quando se casa com uma moça que parece uma criança, uma saudável mulher. No processo conhecemos seus pais, colegas de ensino ( David é professor ), o terapeuta, o desespero de David. E nada disso parece importar muito. O romance quase é salvo quando David encontra Claire e sentimos que Roth quer nos dizer que o mundo hipersexualizado dos anos 60 foi um pesadelo. Mas a epifania literária, algo tão difícil de se escrever, não ocorre. ---------------- Escrito com diálogos que se cruzam, descrições rasteiras, penso que Roth foi bem ambicioso aqui. Mas afundou na falta de direção.
COMPLEXO DE PORTNOY - PHILIP ROTH ( E UMA PALAVRA SOBRE A ADOLESCÊNCIA )
Acabo de reler Complexo de Portnoy. É um vômito. Não conheço retrato melhor sobre a figura do judeu intelectual americano fim dos anos 60. A voz desse povo era Saul Bellow. Roth aqui se junta a ele. Bellow me parece melhor como artista. Roth tinha mais humor. Este livro é engraçado, muito engraçado; mas é também horrível, trágico e um pesadelo.
Alex Portnoy conta sua vida ao seu terapeuta. Ele fala tudo. Seu ódio ao pai, à mãe, aos amigos, à vida, á Deus. Portnoy odeia. Ele ama odiar e não percebe isso. Há cenas no livro, muito poucas, onde seu lirismo ameaça surgir. Principalmente quando fala do pai. Alex ama seu pai. Mas seu pai é fraco, burro, limitado, uma vergonha. Então ele o odeia. Odeia muito.
Lemos o livro e temos a impressão que Alex passou a vida no banheiro. Cenas e mais cenas de masturbação. E da prisão de ventre do pai. A família, hilária, se encontra em discussões dentro do banheiro. E tudo é motivo para gritos. Alex não come, Alex não tem fé, ele é mal educado e fala coisas sujas. O texto, nervoso, apocalíptico, adolescente até o osso, nos deixa agitados. Ele vomita palavras. Sua vida é uma piada.
Teens são sensíveis. Mesmo os que parecem duros. O coração, ou a mente do jovem está em formação. Absorve tudo e sente as coisas profundamente. Dor e prazer ao cubo. Eu li Complexo de Portnoy aos 14 anos. Foi meu primeiro livro adulto. E agora, o relendo, percebo o quanto ele se gravou em minha alma. Para voce ter uma ideia: Tudo o que imagino que seria " meu romance" é ao estilo deste livro. Sempre que tento criar ficção, me pego escrevendo um Portnoy parte dois sem perceber. Uma confissão apocalíptica.
Passei décadas vendo meu pai como Alex percebe o pai dele. Usei sentimentos e racicínios que estão no livro. Digo, com certeza, que eu seria outro não tivesse comprado Portnoy numa banca de jornais em 1976. Lembro de como o devorei, onde eu estava sentado, como me senti, o clima que fazia então. Vejo, hoje, em 2020, que há frases inteiras de Roth que estiveram gravadas em mim por toda minha vida. Sentenças que eu penso sem saber de onde vieram, como se eu mesmo as houvesse criado. O que lemos aos 14 anos é muito importante. Por isso digo que aquilo que os teens vêm hoje na net se torna parte de suas almas. A coisa é muito séria. Para o bem ou para o mal, Portnoy sou eu. E se não o tivesse lido, seria outro eu.
Com o tempo Philip Roth perdeu muito do que tem aqui. Mas é compreensível, não é possível escrever dois Portnoy. Esta é a confissão sem censura de uma pessoa. A coisa foi feita. Fim. Tudo indica que o Nobel não veio porque não dariam o prêmio a mais um judeu americano falando de sua família judaica. Saul Bellow venceu em 1975. O Nobel é assim.
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