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O ROMANTISMO, ESSA COISA QUE DESTROI O MUNDO INTEIRO
Observar uma pessoa executar o trabalho para o qual ela nasceu. É uma espécie de espetáculo. A vida de uma pessoa, dessas que têm a sorte, a capacidade, a determinação, de trabalhar naquilo que desejam, é plena. Sua vida se justifica e o mais importante, ela não depende da metade de uma laranja. Nem da tampa de sua panela. Ela é, dentro daquilo que nossa vida permite, livre. ----------- Essa condição não impede que ela se case e tenha filhos. Na verdade até ajuda. Mas o tal do amor romântico não é e não será o centro de sua existência. Não sendo assim, ela é livre para ser ela mesma, única. Estou sendo radical? Ora, eu passei 40 anos vivendo dentro da adolescência. Tenho resquícios românticos que serão eternos. Ainda sou bastante infantil. Mas tenho consciência de que existe outro modo de viver. E afirmo ser ele muito, muito mais feliz. ---------- Faz 250 anos, pouco menos, que a praga romântica se instalou no mundo. Desde então, ser adolescente passou da condição de "luta contra o mundo", à "exigência do status quo". Antes, e isso até a segunda guerra mundial, ser adolescente era mal visto. Hoje, ser adolescente é a condição normal para ser aceito. Românticos enfrentavam a sociedade, hoje a sociedade pede que sejamos românticos-adolescentes para sempre. Mais importante que falar do romantismo é lembrar do classicismo. Isso porque voce sabe o que é hoje ser romântico: procurar um amor, ser dono da "sua verdade", não aceitar ordens, crer em alguma religião exotérica, lutar pela igualdade. Não é preciso analisar ou aprofundar nada disso. A ênfase romântica é no SER e nunca no ENTENDER. ----------- O classicismo é a condição adulta da vida. E o planeta internet favorece apenas o lado romântico da alma. A internet pede que sejamos todos pseudo Goethes. Pessoas que saibam um pouco de tudo, que estejam a caça do amor, afirmem seu ego de forma intensa, e principalmente, sejam originais. Cada um com sua obra: um blog, um canal, uma galeria de fotos, contos ou poemas, aventuras. Okay....mas Goethe não nasce em linha de montagem e o alemão era mais clássico que romântico. O que TODOS acabam sendo são adolescentes eternos. Uma alma em construção indefinida, sem prazo para acabar. Obras precisam de material, um adolescente consome. ------------- No classicismo, o mundo que perdeu sua preponderãncia por volta de 1810, ser adulto é a condição natural da pessoa. Antes de Rousseau, o perfeito imbecil, decretar que toda criança é perfeita e de certa forma angelical, tudo na vida era desejo de ser adulto. O menino de 10 anos era um pequeno adulto e a menina idem. Hoje um homem de 50 é um adolescente velho, ou pior, uma criança grotesca. Eu acho que perdemos nesse processo. -------------- Crianças sempre dependem de alguém que tome conta delas. Seja um adulto, seja o estado. E adolescentes nunca sabem quem são e o que desejam. Eis o nosso tecido social. Se tudo hoje parece precário ou fluido, a culpa se deve ao nosso desejo tolo de viver num eterno começo. Ele nos pede apenas uma coisa: "Siga seu coração. Afirme sua verdade pessoal. Procure o amor". Tudo que não seja isso deverá ser inimigo. Sobre esse tipo de vida tenho apenas um cometário: É o inferno! ----------- Adolescentes não conseguem ser pais. Não conseguem seguir ordens. Não sabem onde se situar. Têm uma vaga noção daquilo que desejam e por isso afirmam sempre o que não querem. Acima de tudo não querem responsabilidades. ------------ No mundo clássico o mais importante era crescer. Voce vivia para se fazer sábio. Não sábio no modo indefinido exotérico, mas sábio em termos de know how. O clássico lidava com o mundo sólido, material. Estoico, ele acreditava naquilo que se via, provava, experimentava. Seu desejo era ser adulto o mais rápido possível. Para assim poder saber. Mesmo quando esse ser se envolvia com magia ou bruxaria, o objetivo era entender um mistério. O ser humano de 1750 foi o mais perto do ser adulto que chegamos. Imperfeito, óbvio, mas foi o menos infantil. O amor era para ele um jogo, desejo sexual disfarçado em comvenção social. O casamento era uma forma de ter e criar filhos. Por isso estranhamos quando lemos poesia pré romantica. Há pouca, ou nenhuma ênfase no amor. A vida tem outros interesses maiores, o principal sendo "a sociedade". Não há a afirmação do EU contra TODOS. A coisa é EU em meio ao TODO. Não há enfrentamento e recusa, há JOGO e VITÓRIA. Ou uma terrível derrota. ----------------------- A atual pandemia está sendo enfrentada como pavor infantil. É uma das heranças românticas. Não quero encarar a verdade. Não quero aceitar a natureza. Que se cuide de mim!!!!! Romantismo que virou filme da Disney. Médicos super sábios de série de TV. --------------- Pensei tudo isso ao escutar suítes de Bach. Na interpretação de Sir Neville. Não há como escutarmos Bach do modo certo. Sempre o veremos como "um artista", e artista é para nós um "romântico", um tipo de ser especial. Bach era um trabalhador que trabalhava muito. Estudava seu ofício e tinha filhos. Bach precisava de dinheiro. Bach ganhava dinheiro. Suas músicas eram encomendas. " Bach, preciso de uma missa para o dia de São José", "Bach, preciso de uma suíte para um jantar que darei dia 30", "Bach, faça uma peça para que eu treine meus dedos ao piano". E Bach fazia. Ele não está expressando seu EU, ele está trabalhando. Ironia das ironias, faz 150 anos que ele é considerado o número um. Bach acima de todos. Depois Mozart e Beethoven. Haydn e Brahms. O resto varia. O sexto já foi Wagner. Já foi Schubert. Hoje é Mahler. ------------------------ Como Bach reagiria ao ser chamado de o maior? Provável que beberia vinho e pensaria: Obrigado Deus pelo dom do trabalho bem feito. ---------------- Mozart se soubesse ser um dos cinco maiores iria rir e dizer: eu agradeço! Mas....voce poderia me arrumar umas 2000 peças de ouro?.--------- Beethoven falaria: Eu sempre soube que era o maior. E eis aí o começo do romantismo. -------------- Para encerrar, tudo o que disse acima não se aplica ao povo mais pobre. Assim como eles nunca foram clássicos, não têm adolescência típica. Sonham em ter, mas ela é podada. A tragédia dos pobres é que hoje são dirigidos por uma elite infantilizada. Gente que crê no ideário romântico. "O que importa é minha verdade", lembram? ------ Crianças não dão bons pais.
O PODER DA ESCRITA
Uma aula que consegue unir rigor a bom humor, informação e domínio daquilo que se diz. A professora Andréa Daher veio especialmente do Rio para cinco horas de prazer cerebral. É muito bom observar o modo como ela conduz a sala inteira para os lugares e conhecimentos desejados. Segredo do grande mestre, fazer com que os ouvintes sintam o desejo de saber que ela sentiu desde muito antes.
O tema poderia ser árido, e é, mas a voz leve e clara e o rosto de atriz, expressivo, levam as horas a parecer minutos. O tema é o modo como os textos eram escritos e divulgados no século XVI, textos escritos sobre a Terra de Santa Cruz, vulgarmente chamada de Brasil, textos escritos por portugueses e por franceses, documentos de jesuítas e de capuchinhos, o modo como eles pensavam, o que sentiam, como a Europa nos percebia.
A professora Daher, pesquisando na França, onde viveu décadas, mostra gravuras e textos de franceses que levaram tupinambás para Paris. Índios brasileiros, cruzando o oceano e aportando na Europa, conhecendo o rei Luis, aprendendo modos franceses, usando roupas complicadas, sendo exibidos em palácios. Tudo isso com o fim de provar que Tupinambás tinham uma alma e que por terem alma podiam ser civilizados.
Montaigne não concordava com isso, mas Rousseau, séculos depois, usará esses brasileiros para criar o tal do bom selvagem. O Brasil não nasce aí. Não nasce com esses frades franceses, huguenotes, ou com os jesuítas. Daher fala que a história é feita por dinheiro e escrita, pelas letras. A Itália existia antes de Dante, mas é a Comédia Divina que a faz tomar consciência de si e começar a se historiar. É sempre uma escrita que inscreve o país ao mundo. Nos EUA foi a constituição, na Inglaterra foi Bacon e na Espanha o Quixote. E nós?
O Brasil começa se ver como um país apenas no século XVIII. O parto durou três séculos, três longos séculos em que este espaço era uma terra `a procura de quem a amasse. De quem a tomasse nas mãos como nação e não como passagem. Três séculos em que aqui era um caminho, um meio e jamais um fim. O fim era Lisboa, o fim era Paris.
Em sua aula, que engloba o time do Flamengo, os paulistas, monstros em São Vicente e a beleza da imaginação, ela consegue nos passar seu amor as letras, a palavra dita, impressa, cantada, pensada, levada. O amor ao livro velho, ao texto esquecido, raro, perdido, incompleto.
A vida é imaginação. A vida é ficção. Texto, e todo texto é imaginação.
PS: Já no pós aula ela lembra que nos anos 80, nessas listas mentirosas de livros mais lidos ( mentirosa porque não há como saber se eles foram realmente lidos ), no Rio o mais lido foi durante meses o Ulysses, de James Joyce. Livro segundo ela ilegível. Como isso então? Bem, ela lembra que nos anos 80, época de pose, era chique ir à praia com um livro debaixo do braço. Milan Kundera era Ok, Umberto Eco, legal, Joyce era o máximo!
Risos? Sim, risos, mas isso demonstra o poder que um livro tem mesmo entre aqueles que não o abrem.
Aplausos.
O tema poderia ser árido, e é, mas a voz leve e clara e o rosto de atriz, expressivo, levam as horas a parecer minutos. O tema é o modo como os textos eram escritos e divulgados no século XVI, textos escritos sobre a Terra de Santa Cruz, vulgarmente chamada de Brasil, textos escritos por portugueses e por franceses, documentos de jesuítas e de capuchinhos, o modo como eles pensavam, o que sentiam, como a Europa nos percebia.
A professora Daher, pesquisando na França, onde viveu décadas, mostra gravuras e textos de franceses que levaram tupinambás para Paris. Índios brasileiros, cruzando o oceano e aportando na Europa, conhecendo o rei Luis, aprendendo modos franceses, usando roupas complicadas, sendo exibidos em palácios. Tudo isso com o fim de provar que Tupinambás tinham uma alma e que por terem alma podiam ser civilizados.
Montaigne não concordava com isso, mas Rousseau, séculos depois, usará esses brasileiros para criar o tal do bom selvagem. O Brasil não nasce aí. Não nasce com esses frades franceses, huguenotes, ou com os jesuítas. Daher fala que a história é feita por dinheiro e escrita, pelas letras. A Itália existia antes de Dante, mas é a Comédia Divina que a faz tomar consciência de si e começar a se historiar. É sempre uma escrita que inscreve o país ao mundo. Nos EUA foi a constituição, na Inglaterra foi Bacon e na Espanha o Quixote. E nós?
O Brasil começa se ver como um país apenas no século XVIII. O parto durou três séculos, três longos séculos em que este espaço era uma terra `a procura de quem a amasse. De quem a tomasse nas mãos como nação e não como passagem. Três séculos em que aqui era um caminho, um meio e jamais um fim. O fim era Lisboa, o fim era Paris.
Em sua aula, que engloba o time do Flamengo, os paulistas, monstros em São Vicente e a beleza da imaginação, ela consegue nos passar seu amor as letras, a palavra dita, impressa, cantada, pensada, levada. O amor ao livro velho, ao texto esquecido, raro, perdido, incompleto.
A vida é imaginação. A vida é ficção. Texto, e todo texto é imaginação.
PS: Já no pós aula ela lembra que nos anos 80, nessas listas mentirosas de livros mais lidos ( mentirosa porque não há como saber se eles foram realmente lidos ), no Rio o mais lido foi durante meses o Ulysses, de James Joyce. Livro segundo ela ilegível. Como isso então? Bem, ela lembra que nos anos 80, época de pose, era chique ir à praia com um livro debaixo do braço. Milan Kundera era Ok, Umberto Eco, legal, Joyce era o máximo!
Risos? Sim, risos, mas isso demonstra o poder que um livro tem mesmo entre aqueles que não o abrem.
Aplausos.
O ACORDO ENTRE O DESEJO E O DEVER
Na luta interna entre o desejo e o dever ( o dever é a sociedade e o desejo é o natural estado do homem, o homem da natureza ), o homem encontra uma saída do conflito, a Imaginação. Ele passa a criar saídas do conflito, a principal delas sendo o Amor.
O amor é portanto uma invenção. Imaginamos que o ser amado seja especial, único e imaginamos que esse amor nos faz também melhores. Acontece então o Erotismo, passamos a amar o amor. Se a castidade nos foi imposta pela igreja e se o casamento é instrumento de manutenção do estado, "Passamos a Dever Amar a castidade e o casamento". Amamos o Dever, e essa é a grande altura sublime do Amor Erótico. O dever se torna uma escolha. O dever passa a aumentar nosso AMOR-PRÓPRIO. Nos estimamos por conseguirmos cumprir o maior dos deveres, Amar.
Essa a grande sacada de Rousseau, O Amor erótico, entre homem e mulher, como o grande prazer do indivíduo e ao mesmo tempo como forma de se reconciliar dever e desejo. Se hoje isso nos parece óbvio é porque todo o século XIX foi tomado por essa certeza. No século XX, a partir da moda freudiana, toda imaginação passa a ser vista como mentira e o amor ao dever como neurose. Se reduz o erótico ao simplório e o amante do amor é agora uma besta. O caminho fica aberto para a volta do sexo como mecanismo animal, um tipo de necessidade puramente física e a pornografia como a tal Verdade.
Mas de 1800 até mais ou menos 1910, Rousseau foi a verdade. E não por acaso é a época de ouro do romance. As pessoas liam romances como hoje se lê auto-ajuda. ( Observe a diferença de qualidade !!! ). Eles ensinavam as artes do erótico. O grande tema da vida NÃO era ganhar dinheiro, era a relação homem-mulher. Nessa relação se via o sentido da vida.
Tudo devido a Rousseau.
Interessante observar que a prova da intuição certeira de Rousseau é que, como bem lembra Allan Bloom, é que continuamos, em 2014, querendo falar e aprender as coisas do erotismo. Mas, após tantas doses de pornografia, materialismo e desencanto, estamos fadados a um ambiente que NEGA todo o tempo o erótico. Eros morreu com Deus. O que restou foi uma difusa nostalgia do amor. Ouvimos então canções que tentam falar de alguma coisa tão distante como um dinossauro, o tal amor. O homem é o mesmo. Debaixo de tanta teoria continuamos tentando harmonizar o desejo com o dever. E imaginamos que o amor romantico seja essa saída. Observe bem, Imaginamos pois. Estamos proibidos, hoje, de crer que imaginar é a verdade do amor. Amor que não se imagina, amor real é pornografia e pornografia é o retorno do bicho.
O que nos faz humanos é a imaginação. Sim, pode chamar de ilusão. Nós a criamos, ela é nossa, humana.
Admirável Mundo Antigo, quando irás voltar? Nunca mais, essa a nossa maior dor.
O amor é portanto uma invenção. Imaginamos que o ser amado seja especial, único e imaginamos que esse amor nos faz também melhores. Acontece então o Erotismo, passamos a amar o amor. Se a castidade nos foi imposta pela igreja e se o casamento é instrumento de manutenção do estado, "Passamos a Dever Amar a castidade e o casamento". Amamos o Dever, e essa é a grande altura sublime do Amor Erótico. O dever se torna uma escolha. O dever passa a aumentar nosso AMOR-PRÓPRIO. Nos estimamos por conseguirmos cumprir o maior dos deveres, Amar.
Essa a grande sacada de Rousseau, O Amor erótico, entre homem e mulher, como o grande prazer do indivíduo e ao mesmo tempo como forma de se reconciliar dever e desejo. Se hoje isso nos parece óbvio é porque todo o século XIX foi tomado por essa certeza. No século XX, a partir da moda freudiana, toda imaginação passa a ser vista como mentira e o amor ao dever como neurose. Se reduz o erótico ao simplório e o amante do amor é agora uma besta. O caminho fica aberto para a volta do sexo como mecanismo animal, um tipo de necessidade puramente física e a pornografia como a tal Verdade.
Mas de 1800 até mais ou menos 1910, Rousseau foi a verdade. E não por acaso é a época de ouro do romance. As pessoas liam romances como hoje se lê auto-ajuda. ( Observe a diferença de qualidade !!! ). Eles ensinavam as artes do erótico. O grande tema da vida NÃO era ganhar dinheiro, era a relação homem-mulher. Nessa relação se via o sentido da vida.
Tudo devido a Rousseau.
Interessante observar que a prova da intuição certeira de Rousseau é que, como bem lembra Allan Bloom, é que continuamos, em 2014, querendo falar e aprender as coisas do erotismo. Mas, após tantas doses de pornografia, materialismo e desencanto, estamos fadados a um ambiente que NEGA todo o tempo o erótico. Eros morreu com Deus. O que restou foi uma difusa nostalgia do amor. Ouvimos então canções que tentam falar de alguma coisa tão distante como um dinossauro, o tal amor. O homem é o mesmo. Debaixo de tanta teoria continuamos tentando harmonizar o desejo com o dever. E imaginamos que o amor romantico seja essa saída. Observe bem, Imaginamos pois. Estamos proibidos, hoje, de crer que imaginar é a verdade do amor. Amor que não se imagina, amor real é pornografia e pornografia é o retorno do bicho.
O que nos faz humanos é a imaginação. Sim, pode chamar de ilusão. Nós a criamos, ela é nossa, humana.
Admirável Mundo Antigo, quando irás voltar? Nunca mais, essa a nossa maior dor.
O EROS DA VIDA
Vivemos então essa divisão. De um lado o selvagem, um homem que deseja e vai atrás daquilo que quer, e de outro aquele que para poder viver dentro da sociedade aprendeu a controlar seu impulso. Rousseau sabe e fala: Não temos como saber o que seria esse desejo primordial. O homem original está tão distante de nós que é impossível sequer imaginá-lo. O que podemos saber é que a religião, a politica e todo dogma é um modo de civilizar esse homem. Mas há um exagero nisso. Ao transformarmos religião em igreja matamos todo impulso puro e criativo do ser, ao transformarmos politica em fanatismo fazemos o mesmo e assim também acontece com todo dogma, seja científico, filosófico ou educacional.
A criança é puro egoísmo. Ele quer e quer agora. Ela quer proteção e comida e provávelmente esses são nossos impulsos mais fortes. Corpo. Na puberdade irrompe o sexo e a cabeça passa a pensar TODO O TEMPO em sexo. É nesse momento que a educação se mostra mais desastrosa. No momento em que tudo no jovem se volta para os mistérios do amor e do sexo, tudo o que se lhe oferece é conhecimento frio e anti-sexual. ( Um adendo à Rousseau é dizer que no século XXI o que se oferece é pornografia, violência e educação sexual dada por frios mestres assexuados ). Voltando a Rousseau, toda educação nessa idade deveria vir acompanhada do conhecimento da sedução. Mestres DEVEM ser sedutores. Carismáticos, envolventes, o aluno precisa compreender o mecanismo do agrado, do prazer, do que seja conviver civilizadamente com o desejo. Isso é o erotismo.
O erótico é o meio de se tentar harmonizar o homem primitivo ( um estuprador ) com o homem civilizado ( um pensador ). No ritual do deus Eros, em todo discurso erótico ( e não existe erotismo sem o dominio do discurso de Eros ), o que se vê é o prazer de um acordo, o acordo de paz entre o muito básico e o muito complexo, o simples e o confuso, aquilo que é pura carne e aquilo que é espírito. É na puberdade que o jovem tem a chance de criar seu espírito, voltar-se para as coisas da alma e SUBLIMAR seu desejo ( não no ralo sentido de Freud, mas no sentido do SUBLIME, ou seja, transformar o banal em algo individual ). Pois Eros cobra que cada um crie e dê vida a sua individualidade e nada é mais contrário a uniformização do tempo moderno.
Pois o homem erótico não se conforma a ser soldado, a ser um membro da igreja, a ser um simples caso da ciência. Ele se cria, se faz e se dá ao amor. Do seu modo. Dentro do possível. A pobreza do discurso cria homens sem erotismo, presos dentro da banalidade do ordinário.
Allan Bloom usa 130 páginas para falar dessas teorias de Jean-Jacques Rousseau. E deixa claro que não concorda necessariamente com todas. Mas fica muito claro que Bloom concorda com aquilo que aqui transcrevo. O livro se chama AMOR E AMIZADE e precisa ser lido. Ainda não o terminei, leio-o com vagar numa relação erótica com o texto e o papel.
Sublime, não?
A criança é puro egoísmo. Ele quer e quer agora. Ela quer proteção e comida e provávelmente esses são nossos impulsos mais fortes. Corpo. Na puberdade irrompe o sexo e a cabeça passa a pensar TODO O TEMPO em sexo. É nesse momento que a educação se mostra mais desastrosa. No momento em que tudo no jovem se volta para os mistérios do amor e do sexo, tudo o que se lhe oferece é conhecimento frio e anti-sexual. ( Um adendo à Rousseau é dizer que no século XXI o que se oferece é pornografia, violência e educação sexual dada por frios mestres assexuados ). Voltando a Rousseau, toda educação nessa idade deveria vir acompanhada do conhecimento da sedução. Mestres DEVEM ser sedutores. Carismáticos, envolventes, o aluno precisa compreender o mecanismo do agrado, do prazer, do que seja conviver civilizadamente com o desejo. Isso é o erotismo.
O erótico é o meio de se tentar harmonizar o homem primitivo ( um estuprador ) com o homem civilizado ( um pensador ). No ritual do deus Eros, em todo discurso erótico ( e não existe erotismo sem o dominio do discurso de Eros ), o que se vê é o prazer de um acordo, o acordo de paz entre o muito básico e o muito complexo, o simples e o confuso, aquilo que é pura carne e aquilo que é espírito. É na puberdade que o jovem tem a chance de criar seu espírito, voltar-se para as coisas da alma e SUBLIMAR seu desejo ( não no ralo sentido de Freud, mas no sentido do SUBLIME, ou seja, transformar o banal em algo individual ). Pois Eros cobra que cada um crie e dê vida a sua individualidade e nada é mais contrário a uniformização do tempo moderno.
Pois o homem erótico não se conforma a ser soldado, a ser um membro da igreja, a ser um simples caso da ciência. Ele se cria, se faz e se dá ao amor. Do seu modo. Dentro do possível. A pobreza do discurso cria homens sem erotismo, presos dentro da banalidade do ordinário.
Allan Bloom usa 130 páginas para falar dessas teorias de Jean-Jacques Rousseau. E deixa claro que não concorda necessariamente com todas. Mas fica muito claro que Bloom concorda com aquilo que aqui transcrevo. O livro se chama AMOR E AMIZADE e precisa ser lido. Ainda não o terminei, leio-o com vagar numa relação erótica com o texto e o papel.
Sublime, não?
EROTISMO, ALLAN BLOOM, ROUSSEAU
Voce pode fazer uma pesquisa e divulgar os dados de quantas trepadas a população dá em média por mês. Voce pode até mesmo tabular quem teve orgasmo. Quem é hetero, gay e bi. Mas voce não tem como perguntar ou responder NADA sobre o erotismo. Sexo se aplica a pesquisa científica, erotismo nunca. Porque sexo pode ser reduzido ao ato sexual. Erotismo é o que?
No mundo da ditadura cientifica, o sexo, como tudo o mais, é reduzido. A ciência trabalha com quantidades e com medidas, o sexo pode ser simplificado ao máximo e reduzido ao que se pode medir e contar matematicamente. O erotismo não. Na verdade, no mundo da ciência, Eros nem sequer existe.
O relatório Kinsey começou o trabalho de morte do erotismo. O sexo foi colocado a luz e tudo se reduziu ao comum. Todos passaram a pensar em ser como todos. Se vinte por cento são assim, eu também posso ser assim. Mais, o homem jogou o erotismo no lixo e passou a seguir a massa: saudável é ter cinco orgasmos? Eu os terei !
Freud nos brochou antes. Pensou que criatividade fosse sublimação, quando na verdade criatividade é ser humano. Sublimação é palavra criada por Rousseau e seu sentido vem de sublime. Sublime é o ato, apenas e tão somente humano, de se tomar um ato físico ou uma coisa e torná-la sublime, mais do que aquilo que ela é na natureza. É quando o homem se apropria de algo natural e o torna humano. Seja dando contornos de deus ao mar, sendo fazendo de mármore uma obra de arte ou transformando uma necessidade física, como o sexo, em algo sublime, o erotismo.
Nosso tempo vive o capítulo final deserotização do homem. Mulheres esqueléticas ou bombadas, homens meninos ou frágeis demais. Pornografia. Aulas de sexo seguro. O orgasmo discutido com a mãe no café da manhã. Esquecemos que o sexo nivela os homens aos bichos, e que o erotismo nos define.
O bicho trepa. Com qualquer fêmea. O homem imagina. Pensa ser aquela mulher a única. A única que poderá lhe dar prazer verdadeiro. E para ela, ele cria música, poema e luta para ser mais sedutor. Ao contrário dos bichos, o gozo passa a ser secundário, toda a história é um grande prazer. Ele imagina e a imaginação é o homem.
Rousseau antecipa o amor burguês. O amor viria a ser um contrato. Muito mais próximo de um advogado que de um poeta. Ele sabia que Eros era questão de amor-próprio. Que o homem vivia pelos olhos dos outros, que o amor-próprio dependia do que ele pensa que os outros pensam de si. E que no erotismo o homem joga com aquilo que ele imagina que ela seja e aquilo que ele imagina que ela sente por ele. Politica enfim. Rousseau sabia que quando a politica morresse o erotismo iria junto. ( Hoje politica é pornografia. Há quanto tempo não se ouve um discurso que signifique alguma coisa? ).
Sedução é dar espaço a que o outro imagine algo sobre nós.
( Há quanto voce não vê um belo beijo em um filme? ).
Animais vivem no amor -por-si. Amor por sobreviver e sem levar em conta a opinião dos outros sobre ele. Um cachorro não pensa no que a cadela acha ou sente sobre ele. Nós sim. Até quando?
Nossos mestres em amor são cantores de funk. Ou intelectuais que nada sabem sobre Eros. Sabem apenas teorias reducionistas que mecanizam tudo. Como faz a pornografia.
O amor deve ser ensinado por aquele que ama. Simples assim. Pelos seres eróticos, pelos grandes amantes, pelos sedutores.
PS- Não à toa o melhor livro sobre erotismo que já li foi escrito por Frank Sinatra.
No mundo da ditadura cientifica, o sexo, como tudo o mais, é reduzido. A ciência trabalha com quantidades e com medidas, o sexo pode ser simplificado ao máximo e reduzido ao que se pode medir e contar matematicamente. O erotismo não. Na verdade, no mundo da ciência, Eros nem sequer existe.
O relatório Kinsey começou o trabalho de morte do erotismo. O sexo foi colocado a luz e tudo se reduziu ao comum. Todos passaram a pensar em ser como todos. Se vinte por cento são assim, eu também posso ser assim. Mais, o homem jogou o erotismo no lixo e passou a seguir a massa: saudável é ter cinco orgasmos? Eu os terei !
Freud nos brochou antes. Pensou que criatividade fosse sublimação, quando na verdade criatividade é ser humano. Sublimação é palavra criada por Rousseau e seu sentido vem de sublime. Sublime é o ato, apenas e tão somente humano, de se tomar um ato físico ou uma coisa e torná-la sublime, mais do que aquilo que ela é na natureza. É quando o homem se apropria de algo natural e o torna humano. Seja dando contornos de deus ao mar, sendo fazendo de mármore uma obra de arte ou transformando uma necessidade física, como o sexo, em algo sublime, o erotismo.
Nosso tempo vive o capítulo final deserotização do homem. Mulheres esqueléticas ou bombadas, homens meninos ou frágeis demais. Pornografia. Aulas de sexo seguro. O orgasmo discutido com a mãe no café da manhã. Esquecemos que o sexo nivela os homens aos bichos, e que o erotismo nos define.
O bicho trepa. Com qualquer fêmea. O homem imagina. Pensa ser aquela mulher a única. A única que poderá lhe dar prazer verdadeiro. E para ela, ele cria música, poema e luta para ser mais sedutor. Ao contrário dos bichos, o gozo passa a ser secundário, toda a história é um grande prazer. Ele imagina e a imaginação é o homem.
Rousseau antecipa o amor burguês. O amor viria a ser um contrato. Muito mais próximo de um advogado que de um poeta. Ele sabia que Eros era questão de amor-próprio. Que o homem vivia pelos olhos dos outros, que o amor-próprio dependia do que ele pensa que os outros pensam de si. E que no erotismo o homem joga com aquilo que ele imagina que ela seja e aquilo que ele imagina que ela sente por ele. Politica enfim. Rousseau sabia que quando a politica morresse o erotismo iria junto. ( Hoje politica é pornografia. Há quanto tempo não se ouve um discurso que signifique alguma coisa? ).
Sedução é dar espaço a que o outro imagine algo sobre nós.
( Há quanto voce não vê um belo beijo em um filme? ).
Animais vivem no amor -por-si. Amor por sobreviver e sem levar em conta a opinião dos outros sobre ele. Um cachorro não pensa no que a cadela acha ou sente sobre ele. Nós sim. Até quando?
Nossos mestres em amor são cantores de funk. Ou intelectuais que nada sabem sobre Eros. Sabem apenas teorias reducionistas que mecanizam tudo. Como faz a pornografia.
O amor deve ser ensinado por aquele que ama. Simples assim. Pelos seres eróticos, pelos grandes amantes, pelos sedutores.
PS- Não à toa o melhor livro sobre erotismo que já li foi escrito por Frank Sinatra.
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