Roger Ebert gostava de dizer que os alunos de cinema não vêem mais os filmes de Fritz Lang, George Stevens ou William Wyler. E que mesmo de Ford ou Hawks conhecem só os mais conhecidos. Mas continuam vendo muito Hitchcock, Billy Wilder e John Huston. Well, não percebo muito de Huston ou de Wilder nos diretores atuais, mas sei que eles estudam muito o cinema dos diretores americanos que foram oriundos da TV ao vivo dos anos 50. Diretores que davam muito valor a atores e a roteiro, e não tanto a visual e produção. Aprenderam tudo nas peças ao vivo que dirigiam para a CBS e a NBC. Seus nomes são Robert Mulligan, Arthur Penn, John Frankenheimer, Sidney Pollack, Arthur Hill, Mike Nichols, Franklyn Schaffner e Sidney Lumet. Ver os bons filmes desses homens é como ver os poucos bons filmes americanos que são feitos agora. O livro que fala da renovação em Hollywood, SEX, DRUGS E ROCKNROLL erra ao ignorar esse fato: a renovação começou em 1959, com 12 HOMENS E UMA SENTENÇA.
Um grupo de críticos fez uma pesquisa e refez a lista dos vencedores do Oscar corrigindo as injustiças históricas. Desse modo, DR FANTÁSTICO vence em 1964 e 2001 ganha em 1968. Em 1982 não vence Gandhi e nem Richard Attenborough é o melhor diretor. Principalmente Ben Kingsley perde o Oscar para Paul Newman. Todos esses Oscars vão para O VEREDITO. Em 1982 ele concorreu a cinco prêmios e perdeu todos para Gandhi. Gandhi é um filme ok, mas o filme de Lumet é mais que isso. É provocador e parece ter sido feito hoje. Todo o bom cinema que ainda se faz está aqui. Cult em escolas de cinema, este é o filme básico para quem quer saber de onde vem o estilo de 2013. Lumet foi um super diretor.
Já falo do filme. Antes devo dizer que nos extras do dvd vem a história da produção. Dustin Hoffman, Robert Redford e até Frank Sinatra queriam fazer o filme. O roteiro de David Mamet era disputado a tapa. Lumet escolheu Paul Newman. Ele fez o papel de forma tão visceral que ninguém entendeu o porque de ter perdido o prêmio ( na verdade perdeu pela Gandhimania que se fez na época ). Em 1985 Paul ganharia por A COR DO DINHEIRO, típica vitória de consolação. Premiaram o ator certo no filme errado.
( Um amigo me recorda: Nenhum ator tem tão poucos filmes ruins como Paul Newman. Pegar na locadora um filme com ele é quase certeza de acerto. Brando, Nicholson, Beatty, Depp, Brad, Clooney, Hoffman, Cruise, todos têm uma coleção assustadora de filmes muito ruins ).
Newman é um advogado alcoólatra. Que caça clientes em funerais. Fundo do poço. Um amigo lhe dá um caso. Um erro médico que ocorreu durante um parto. Num hospital católico. O advogado que defenderá o hospital é o melhor da cidade. Papel do venerável James Mason. Paul Newman fracassa. Ele faz tudo errado, afinal, é um alcoólatra. Perde testemunhas, se atrapalha, não sabe o que fazer, sente muito medo. Um roteiro assim nas mãos de um diretor ruim viraria um melô ou uma comédia. Com Lumet não. Cheio de coragem, ele jamais negocia com o público. O filme é lento, as falas são ditas devagar, silêncios que dizem tudo entre as falas. Há várias tomadas que são inesquecíveis. Cito duas como exemplo.
Newman vai ao hospital fotografar a vítima. Numa cena toda muda, ele se senta e pára de fotografar. Olha a moça na cama. E vemos no rosto desse maravilhoso ator o que ELE PENSA. Toma consciência de que ele tem estado errado. Algo precisa mudar. Mas o que?
Outra cena acontece no escritório após mais um erro do advogado feito por Paul Newman. A câmera fica a meio metro do chão. Na altura dos joelhos de Paul. Paul se lamenta com seu amigo, Jack Warden. E Lumet ousa não cortar, deixa que os dois interpretem sem interrupção. A cena vai e vai e vai. A câmera não se move, não tem música, nada. Apenas texto e dois ótimos atores.
O fim do filme é perfeito. E surpreendente. Aliás, o filme é perfeito.
Lembro que no Oscar de 1982 torci por Gandhi. Não queria que vencesse um filme de tribunal, americano e com produção padrão. Gandhi eu vi na época. O Veredito, só agora. Sidney Lumet faz tudo o que o cinema de 2013 faz. Closes demais, iluminação escura e marrom, falas econômicas. Mas há uma diferença, o filme flui. Ficamos duas horas completamente hipnotizados.
Não é um filme de tribunal. É sobre um homem.
Uma frase do belo roteiro: Devemos fazer de conta que acreditamos na justiça. Porque se nem isso fizermos, nada fará mais sentido. Se desde o começo acreditarmos na injustiça, se nos acomodarmos e nem tentarmos fingir crer, bem...nada mais terá saída.
Eu vi este filme a ainda finjo crer no cinema.
Um grupo de críticos fez uma pesquisa e refez a lista dos vencedores do Oscar corrigindo as injustiças históricas. Desse modo, DR FANTÁSTICO vence em 1964 e 2001 ganha em 1968. Em 1982 não vence Gandhi e nem Richard Attenborough é o melhor diretor. Principalmente Ben Kingsley perde o Oscar para Paul Newman. Todos esses Oscars vão para O VEREDITO. Em 1982 ele concorreu a cinco prêmios e perdeu todos para Gandhi. Gandhi é um filme ok, mas o filme de Lumet é mais que isso. É provocador e parece ter sido feito hoje. Todo o bom cinema que ainda se faz está aqui. Cult em escolas de cinema, este é o filme básico para quem quer saber de onde vem o estilo de 2013. Lumet foi um super diretor.
Já falo do filme. Antes devo dizer que nos extras do dvd vem a história da produção. Dustin Hoffman, Robert Redford e até Frank Sinatra queriam fazer o filme. O roteiro de David Mamet era disputado a tapa. Lumet escolheu Paul Newman. Ele fez o papel de forma tão visceral que ninguém entendeu o porque de ter perdido o prêmio ( na verdade perdeu pela Gandhimania que se fez na época ). Em 1985 Paul ganharia por A COR DO DINHEIRO, típica vitória de consolação. Premiaram o ator certo no filme errado.
( Um amigo me recorda: Nenhum ator tem tão poucos filmes ruins como Paul Newman. Pegar na locadora um filme com ele é quase certeza de acerto. Brando, Nicholson, Beatty, Depp, Brad, Clooney, Hoffman, Cruise, todos têm uma coleção assustadora de filmes muito ruins ).
Newman é um advogado alcoólatra. Que caça clientes em funerais. Fundo do poço. Um amigo lhe dá um caso. Um erro médico que ocorreu durante um parto. Num hospital católico. O advogado que defenderá o hospital é o melhor da cidade. Papel do venerável James Mason. Paul Newman fracassa. Ele faz tudo errado, afinal, é um alcoólatra. Perde testemunhas, se atrapalha, não sabe o que fazer, sente muito medo. Um roteiro assim nas mãos de um diretor ruim viraria um melô ou uma comédia. Com Lumet não. Cheio de coragem, ele jamais negocia com o público. O filme é lento, as falas são ditas devagar, silêncios que dizem tudo entre as falas. Há várias tomadas que são inesquecíveis. Cito duas como exemplo.
Newman vai ao hospital fotografar a vítima. Numa cena toda muda, ele se senta e pára de fotografar. Olha a moça na cama. E vemos no rosto desse maravilhoso ator o que ELE PENSA. Toma consciência de que ele tem estado errado. Algo precisa mudar. Mas o que?
Outra cena acontece no escritório após mais um erro do advogado feito por Paul Newman. A câmera fica a meio metro do chão. Na altura dos joelhos de Paul. Paul se lamenta com seu amigo, Jack Warden. E Lumet ousa não cortar, deixa que os dois interpretem sem interrupção. A cena vai e vai e vai. A câmera não se move, não tem música, nada. Apenas texto e dois ótimos atores.
O fim do filme é perfeito. E surpreendente. Aliás, o filme é perfeito.
Lembro que no Oscar de 1982 torci por Gandhi. Não queria que vencesse um filme de tribunal, americano e com produção padrão. Gandhi eu vi na época. O Veredito, só agora. Sidney Lumet faz tudo o que o cinema de 2013 faz. Closes demais, iluminação escura e marrom, falas econômicas. Mas há uma diferença, o filme flui. Ficamos duas horas completamente hipnotizados.
Não é um filme de tribunal. É sobre um homem.
Uma frase do belo roteiro: Devemos fazer de conta que acreditamos na justiça. Porque se nem isso fizermos, nada fará mais sentido. Se desde o começo acreditarmos na injustiça, se nos acomodarmos e nem tentarmos fingir crer, bem...nada mais terá saída.
Eu vi este filme a ainda finjo crer no cinema.