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LIVROS HEDONISTAS

Tenho um velho amigo que resolveu ser estoico. Por que eu não sei. Anti cristão, esquerdista chique, ele não percebe que todo cristão real é um estoico. Não entrei em detalhes, mas ele disse que Marco Aurelio acabou com sua ansiedade. Talvez ele pense que ser estoico é abrir mão de qualquer expectativa. ------------------ Eu sou naturalmente um hedonista. Quando olho o céu, lindo no verão, eu vejo um foco de prazer, de beleza e de liberdade. Toda minha vida é voltada para a busca da sensação de prazer e pela valorização do que é belo. A beleza me dá felicidade plena. Se a exitência é dor e limitação, e é, o prazer é aquilo que nos mantém de pé. ------------------ Todo fim de ano eu exercito a beleza lendo livros felizes. Geralmente eles são sobre comida, bebidas e viagens. Nesse anos, alguns que li são muito bons, outros não. Os 3 primeiros livros de Peter Mayle são dos melhores. Este ano encontrei em um sebo um livro sobre bebidas de um tal de Marcelino de Carvalho. Editado em 1967, é uma delícia. ------------------ Marcelino foi colunista social, homem chique e esnobe como ainda se podia ser em 1967. Feito de pequenos textos, ele tece elogios e conta casos sobre vinho, whisky, licores, champagne, gin. Todas as histórias são divertidas e ler esse livro é travar contato com um mundo de prazer que não mais existe. Como curiosidade, em 1967 beber champagne era considerado meio caipira, chique era conhaque e a vodka ainda mal se bebia. Ele ensina drinks, ensina o que beber com cada prato, quais as grandes safras, como se portar em cada situação. Deleitável. ------------ Çi tambpem o Vinhos de Boutique, escrito por Neal Rosenthal. São as memórias de um homem que resolveu vender os melhores vinhos. Chato. -------------------- Muito bom é um livro de Ferenc Maté, um húngaro que vive na Italia e compra um vinhedo na Toscana. A história da recuperação das uvas e da casa centenária é uma delícia! É para ler ao sol, tem gosto de vinho. -------------------- É isso.

O CONTRÁRIO DO AMOR NÃO É O ÓDIO, É O TÉDIO. A NOITE, DE ANTONIONI, UMA OBRA PRIMA IRRETOCÁVEL

Um elevador desce, estamos em Milão e é 1960, a Itália vive, junto com o resto da Europa Ocidental, um boom de crescimento que nunca mais se repetirá. Então o que vemos é uma cidade em obras, uma classe de novos ricos, um mundo novo. É nesse ambiente que se faz o milagre do cinema italiano, uma geração de cineastas, atores, filmes, sem igual. O que me leva a pensar que o cinema, por ser indústria, floresce no momento em que uma nação cresce economicamente. Na dicotomia entre o passado que se vai e o futuro que é construído há uma inspiração que se faz visível no cinema. Aconteceu isso com a Europa entre 1945-1970, a China dos anos 90, o Japão do pós guerra, a Coreia deste século, o Brasil de 1955-1970. Os EUA nos anos de recuperação da grande crise de 1929 e depois no apogeu dos anos 50-60. Todos esses países viveram seu grande cinema no momento de crescimento financeiro. Não se faz grande cinema em crise econômica.. -------------- A NOITE é uma obra prima perfeita e conto o porque. ------------------ Um homem morre na cama de um hospital de luxo. E não me lembro de ver cena mais triste de uma morte em hospital em filme nenhum. Ele é visitado por um casal amigo, Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau. Ele é escritor e acaba de lançar um livro. O amigo que morre tenta se mostrar bem, mas a dor vem e o ataca. Se despedem. Faz sol lá fora, servem champagne, nunca morrer foi tão limpo e tão chique. -------------- O casal reage de duas formas diferentes à morte. Ela sai antes do quarto, incapaz de suportar a cena. Irá andar a esmo por Milão, perdida na periferia da cidade que ainda apresenta amplos espaços vazios. Acontece uma briga de jovens gangues, um bar de madeira, pobre, e rapazes soltando foguetes em campo aberto. Ela liga para ele e o marido vem a buscar. --------------- Enquanto isso o marido quase faz sexo com uma paciente louca no hospital. No carro ele conta isso à ela. A esposa não reage.---------------------- No apartamento dos dois há a primeira cena magistral. Na banheira e depois se vestindo, sutilmente, Jeanne Moreau tenta seduzir o marido. Ele não percebe. Ou finge não perceber. O rosto que Jeanne faz é, sem dúvida, a melhor coisa que essa grande atriz fez em cinema. Um momento de tamanha sutileza que ficamos impressionados. Todo um diálogo dito sem uma só palavra. O olhar de Jeanne se abre, na esperança do amor, mas se fecha, conformado, ao perceber que o desejo se foi. Antonioni sempre coloca a mulher como aquela que percebe antes. ----------------- Então os dois vão ao lançamento do livro do marido, passam por uma boate, e depois à uma festa na mansão de um milionário. Na festa, ela se isola, liga para o hospital e fica sabendo que o amigo acaba de morrer. E então vê o marido beijar a filha do dono da casa. O marido, pouco se importando com a a esposa, seduz e é seduzido por Monica Vitti, a filha do milionário. A festa, cheia de jazz, à beira da imensa piscina, é povoada de risos, diálogos entrecortados, gente que bebe. --------------- Chove, e como vingança, a esposa quase fica com um playboy. Mas não. Ao mesmo tempo, filha do dono da casa desiste do marido, ao saber ser ele casado. E Marcello, enfim, reencontra a esposa ao amanhecer. Partem da mansão e param no campo. -------------------- Vem então, talvez, o maior momento da admirável carreira de Mastroianni. Ele tenta salvar o casamento e abraça a esposa procurando reviver o desejo. Tarde demais, ela não reage mais. Fico muito emocionado com a atuação de Marcello aí. O rosto dele mostra o profundo desespero de alguém que se deixou matar pelo tédio. Ele não a ama mais, mas procura, para se salvar, salvar a relação terminal. Vem então uma certeza: O contrário do amor não é o ódio, pois o ódio nos une à alguém. É o tédio, pois ele mata o outro e nos destroi com ele. Sem uma só palavra, Antonioni e Marcello nos dizem isso. Não me lembro de filme com modo mais belo de mostrar a morte do amor. ---------------- Deitado sobre Jeanne, sujo de barro, Marcello fica quieto. Tudo cessou. A câmera se afasta e mostra o campo vazio. O filme acaba. Eles terminaram. Não há mais nada a fazer. Absolutamente perfeito. ------------------ Sim meus caros. Uma obra prima. O cimema italiano quando acertava era imbatível. Obrigatório. PS: E há uma carta, que ela lê, na cena final, que é a coisa mais bela sobre o amor já dita em cinema. Foi o persoangem de Marcello quem a escreveu. Mas ele não lembra de a ter escrito.....

AQUELE QUE SABE VIVER - DINO RISI. O PRIMEIRO ROAD MOVIE.

------------------- Easy Rider, assumidamente, se baseou neste filme de 1962, portanto, feito sete anos antes do americano. Sucesso imenso, Dino Risi e seus roteiristas, Age e Scarpelli, contam a história de um estudante tímido, um sublime Jean-Louis Trintignant, que viaja pela Italia com Vittorio Gassman, este em momento de exuberância magnética. É o primeiro filme on the road e Trintignant seria o que Jack Nicholson foi no filme de 1969, o ingênuo medroso que se entrega à estrada. Dennis Hopper assumiu a influência em entrevistas, mas há aqui um imensa diferença: Isto é Itália e ao contrário do belo filme americano, muito prazer vive nesta obra. Não há equivalente americano à Gassman. Peter Fonda viaja para encontrar um sentido, Dennis Hopper viaja para ser livre, Vittorio Gassman é italiano, ele viaja por puro prazer. ------------------ Os dois, que não se conheciam, se unem, e correm pelas estradas, sempre em alta velocidade e em pleno boom econômico da Italia. O país mudava, enriquecia, as lambretas se vão, começa a era dos carros e das lanchas. Gassman é um tipo expansivo, malandro, endividado, playboy, sorridente, já o francês é um nerd completo. Eles se conhecem no começo do filme e o que vemos é uma amizade de 4 dias. Pela estrada, correndo e conhecendo gente. É a Italia em seu momento mágico. Últimos anos em que sua música, cinema, livros e moda eram dominantes no ocidente. Em 1964 eles perderiam esse posto para a Inglaterra graças aos Beatles. -------------------- Na estrada eles encontram tipos. Se envolvem em trapaças, brigas, seduções, fugas. Ao fim se hospedam na casa da ex esposa de Gassman, que o odeia, e lá vive sua filha, uma Catherine Spaak lindíssima. Trintignant se solta afinal e o filme é dele. Poucos atores souberam fazer um jovem tímido como ele. E então vem o fim. Que não conto. ---------------------- É o melhor filme de Risi e um dos melhores filmes da Europa. Mais que tudo, ele captura um momento: músicas pop ( a música italiana POP é a grande influência sobre nossa Jovem Guarda e não os Beatles ), roupas, carros, tudo parece novo então, a Itália brilha com seus dólares recém chegados. Gassman, sempre imenso ator, consegue revelar uma cicatriz debaixo de brilho malandro de seu personagem. Ele usa o novo amigo, usa a ex esposa, usa toda pessoa que cruza na estrada, mas ele consegue parecer real, toque preciso em personagem que poderia se tornar bufão. --------------- Todo país tem momentos mágicos e a Italia teve seu último aqui, em 1960-65, quando o dinheiro abundava e a arte foi na onda como contrapeso. Divertido, trágico e inesquecível, o nome do filme se tornou parte do vocabulário da Argentina ( lá Gassman era Deus ) e a bilheteria foi rica em todo o mundo. Ser jovem nesses anos em Roma ou MIlano era um privilégio. O filme, alegre e amargo é inesquecível.

OS MONSTROS - DINO RISI. A SABEDORIA DA ITÁLIA. OU SERIA APENAS VAIDADE?

Não existe no mundo país com coragem maior para a auto-crítica que a Itália. Uma cultura que vem de Roma e renasce com Maquiavel, Dante e Bocaccio tem raízes fundas no estoicismo. O mundo é cruel, eles sabem, nós somos muito crueis, eles admitem, vamos exibir isso, eles fazem. Neste filme, Dino Risi nos apresenta uma série curta de sketches que nos dão flagrantes da maldade italiana. É uma comédia, mas muito mais que o riso, ela nos dá raiva e na história final, choro. ( A última história, com atuações milagrosas de Gassman e Tognazzi, nos exibem um momento na vida de dois boxeadores. Nada em cinema, nem Scorsese ou os filmes noir dos anos 40 sobre o assunto, disse tanto de modo tão cru ). O roteiro, esperto, sempre nos surpreende. Pensamos que adivinhamos o final, e somos enganados. Dou exemplo: uma velhinha foge nas ruas. Um grupo de homens a captura. Pensamos: ela fugiu do hospício, da clínica, da família. Mas não! Ela fugiu de um filme de Fellini. Por que? Aí não conto. Veja. ------------------------------ Os dois atores-gênio aparecem em todos os sketches. Eles vão do sublime ao patético. É fascinante ver os dois em ação. Sem pudor algum, o italiano é exibido como ladrão, egoísta, cruel, falso e extremamente vaidoso. O que me faz pensar: um povo que se exibe assim, exibe mesmo seu podre, seu mal, é sábio ou é tão vaidoso que até ao exibir seus vícios se vangloria deles? Não há nenhum outro cinema que escancare de modo tão fundo todo seu lado sujo. E pergunto, por que a Itália tem esse dom? Eu creio ser sua raiz estoica, estoicismo que vem desde Roma e renasce na época de Julio e dos Borgia. Para eles, o mundo é um inferno, mas é um inferno com risos, vinho e belas mulheres. Então vivamos enquanto podemos viver. -------------------- Este filme, como todo grande filme italiano, fala isso. Afirma o homem, ruim e belo, em meio as chamas do mal. Na última história, a única poética, Risi conclui com imagem digna de Fellini. Os Monstros, enorme sucesso em seu tempo, é um bravissimo filme.

O CARADURA DE DINO RISI E PERDIDOS NA ÁFRICA DE ETTORE SCOLA, DOIS FILMES SOBRE O ESTRANGEIRO

Dois filmes italianos, dois filmes sobre viagens. No primeiro, de Dino Risi, Vittorio Gassman, brilhante como sempre, é um produtor de cinema. Ele leva suas atrizes e seu roteirista para o Festival de cinema de Mar Del Plata, na Argentina, onde seu novo filme irá concorrer. Falido, ele pensa em encontrar um amigo seu que emigrou para Buenos Aires e ficou milionário. O filme parece, no início, um banal veículo para enaltecer a Argentina, é 1964 e o país vive seu último período de fartura. Lá, Gassman encontra um italiano, Amedeo Nazzari, dono de terras e gado. Absurdamente rico, ele trata os italianos que ainda vivem na Italia como deuses. Mima-os, enaltece-os, fica a seus pés. Começamos então a perceber o objetivo do roteiro de Age e Scarpelli ( existe dupla de roteiristas com mais filmes que essa? ), a emigração, os italianos que foram e não voltaram, o modo como eles hiper valorizam seu país de origem e por isso não conseguem retornar. O filme é leve, alegre, cheio de piadas, mas há um fundo trágico, duro, sombrio, o milionário enaltece Gassman mas ao mesmo tempo finge não perceber seus pedidos de ajuda. Na parte final do filme ele se torna belíssimo. É quando Gassman finalmente encontra o amigo "rico", papel curto e forte de Nino Manfredi. Vemos logo que Nino é terrivelmente pobre, sua vida de imigrante foi um fiasco e mesmo assim ele tenta fingir riqueza. Até que, num momento raro em filmes, tipo do momento que nenhum cinema conseguia fazer melhor que os italianos, surge a verdade: Manfredi abre o jogo no meio de uma frase, se revela, Gassman faz o mesmo, e de repente estão os dois, rindo de suas desgraças e amigos como nunca. O produtor falido levará o amigo pobre numa festa de milionários para tentar descolar um emprego para o amigo, os milionários irão oferecer entrevistas de emprego, mas Nino sabe a verdade, imigrantes ricos têm vergonha daqueles que não deram certo. Tanto na Italia como na Argentina não há lugar para ele entre seus conterrâneos. Quando ele recusa o taxi e parte sozinho rumo à sua vida de proletário, sabemos estar diante de um grande momento em filme. Mas o show continua! Gassman vence o prêmio e continua falido. O avião decola rumo à Italia, os pobres amigos de Manfredi acenam e sabemos que nada mudou. Em outro avião, que desce, chega o cantor Celentano, e vemos o milionário Nazzari correr para o homenagear. O filme revela vícios e charmes da alma da Italia como poucos. ---------------- Preciso enaltecer Vittorio Gassman, ator de teatro, shakespeareano, talvez o maior do país, que via o cinema apenas como exercício e que por isso brincava enquanto interpretava. Há nele uma sabedoria, um domínio da arte que nos faz sentir prazer 100% do tempo. É genial. Sempre, em qualquer filme. Famoso, ele fez filmes nos EUA nos anos 50, e ao fim da vida, nos anos 80-90, chegou a filmar com Altman e Woody Allen. -------------------- No segundo filme que vi, de Ettore Scola, feito em 1968, também se fala de outro país, no caso Angola. É a Angola portuguesa, e é cômico para nós vermos os extras falando minha língua. Alberto Sordi é um industrial em crise existencial que vai à Africa procurar um parente que desapareceu por lá. No começo ele se comporta como um turista rico, fotografa animais, pessoas, se coloca superior. Mas com o tempo ele muda, muda muito, e se envolve numa aventura absurda e com ares de pesadelo ( embora o filme jamais deixe de ser uma comédia ele toca em coisas muito sérias ). É uma aventura maravilhosa! Um dos filmes menos conhecidos de Scola, é meu favorito. Sim, é quase uma obra prima. Vemos no filme influências que vão de Huston à Joseph Conrad, dá pra dizer que nesta saga de um homem à procura de um desparecido, o Apocalypse Now de Coppolla fica vários pontos para trás. Este é muito, muito melhor! Selva, desertos, um português maluco e malandro ( portugueses na Italia têm a fama de malandros, eu não sabia disso ), nativos passivos, uma pobreza absoluta, um casal racista, nesse caldo de gente e lugares, Sordi e seu contador, Blier, ambos brilhantes, nos fazem entrar dentro de Angola, dentro deles mesmos. O desaparecido, que foi padre, ladrão, traficante de armas, um mistério eterno, afinal surge no meio de uma aldeia no fim do nada: é um guru místico. Ou não, pois quando eles conversam vemos que ele é nada mais que um maconheiro viajante mentiroso. Nino Manfredi faz esse guru e sua atuação nos faz apaixonar por ele. É um homem que fugiu e nada achou, ou achou tudo, talvez. Eles fogem da aldeia e entram em navio luso, rumo à Europa. Mas Nino olha os nativos na praia que o chamam....as mulheres negras....--------------- Obra prima completa, longo e que vemos o tempo todo com prazer, é uma saga cômica do tipo que Voltaire escrevia. O homem que se dá mal e aprende então um segredo. Filme tão bom que dá vontade de ver de novo. ---------------- Entre 1945-1970 não houve cinema como o italiano. E nunca mais haverá. Foi uma conjunção, uma sorte, que uniu um país em momento de enriquecimento e mudança moral, roteiristas revolucionários, atores brilhantes e diretores ousados. E ainda, de brinde, algumas das atrizes mais belas da história. Termos a chance de usufruir desses filmes é um privilégio. Sem preço. Dê um presente a si mesmo e veja esses dois grandes filmes.

I MACCHERONI (Alberto Sordi) - Un americano a Roma

UM AMERICANO EM ROMA - STENO. QUANDO UM ATOR VAI ADIANTE

Steno foi um diretor de grande bilheteria na Italia dos anos 50 e 60. Começou sua carreira dirigindo filmes em parceria com o grande Mario Monicelli, depois, quando Mario partiu para a carreira solo, manteve seu foco em comédias que faziam a crônica do boom italiano, o momento em que a velha Italia se americanizava. Neste filme, surpreendente em sua loucura, vemos Alberto Sordi, o ator mais amado pelo povão do país, como um jovem inutil que vive e sonha como fosse um americano. É fascinante ouvir a língua que Sordi fala, um misto de italiano e inglês surrupiado, o tempo todo se lamentando, cantando e procurando se impor nesse inglês cheio de italianismos absurdos. O modo como ele se move, lutando para sufocar o gestual latino e se auto impondo o modo americano de mover mãos, pernas e rosto, é coisa de ator em momento de genialidade. Sordi perde o controle de propósito, seu personagem vai além do comum, ele se perde na sua mania americana. É um filme que nos deixa muito surpresos. --------------- Interessante também observar como coisas que na época do filme causavam surpresa, por serem made in USA, portanto, alienígenas, hoje nos são totalmente naturais, cotidianas. Desse modo, Sordi se surpreende com, e passa a usar mostarda, ketchup, beber leite ( europeus não bebiam leite após a infancia ), refrigerantes, chicletes, jeans, rock, camiseta... Sordi se obriga a comer como um americano e amar tudo que eles amam. Os pais, aterrados, não sabem como lidar com tanta loucura e nós, o público, nos divertimos com os gemidos e trejeitos de Sordi. A Steno só resta deixar a câmera ligada e gravar o ator em um de seus melhores momentos.

MEUS CAROS AMIGOS ( AMICI MIEI ), EU ME LEMBRO DE NÃO SER UM HOMEM...

Nos anos 70 a Italia flertava bastante com o comunismo puro. Interessante conversar com um rapaz de 20 anos, culto, sobre esse assunto. Para ele, hoje, comunismo é algo vago, uma névoa onde se misturam ecologia, feminismo, liberdade sexual, drogas e consumismo consciente do bem. Digo à ele que em 1975, em Firenze, onde se passa o filme, ser comunista era odiar rock, jamais comer nada que tivesse origem made in USA, querer dar o poder aos operários e ter acessos de raiva ao ver gente bem vestida, limpa, organizada, burguesa. A revolução seria absoluta: patrões presos, pobres tomando as casas dos ricos, fábricas virando cooperativas. Acima de tudo, para ser comunista voce era, coerentemente, materialista. Crer em espíritos, igrejas alternativas, vida pós morte, tudo era encarado como ópio, maneiras de amansar o pobre. Mesmo a arte só era válida se fosse militante, se tivesse uma função social educativa. Weellll....meu amigo fica meio chocado. Coitado. -------------- Conto isso porque este filme, uma obra prima do humor humanista que só os italianos sabem como fazer, exibe esse momento histórico de forma enviesada. Se em 1975 todo italiano moderno era necessariamente comunista, estes cinco adultos estão além do comunismo, eles são anarquistas. É a versão made in Firenze do filme francês de 1973, Corações Loucos, onde Gerard Depardieu, Miou Miou e Patrick Dewaere, este um ator de gênio que tragicamente morreu jovem, nos anos 80, por heroína, mostram, sob a direção de Blier, o que seria o anarquismo na França de então. O estilo francês é agressivo, violento, sexualmente feroz, animalesco; já o italiano se pauta sempre pelo humor e pelo exagero operístico dos sentimentos. São finos, são machos, são bobos e são civilizados, são italianos.... ---------------- A primeira ministra da Italia fez um discurso de posse que é uma das peças mais belas da política e é a melhor em décadas. Grosso modo, já escrevi sobre o tema, ela diz que a Italia precisa voltar a ser italiana. Modo de viver, gostos, religião, arte, comida, tipo de relações humanas, família, ao estilo do país e não da Europa. Pois esse modo europeu é sempre o mesmo, um jeito nórdico de se fazer e de se viver. É preciso salvar a cultura do sul, do Mediterrâneo, latina. Este filme nos faz lembrar de duas coisas: 1. O quanto devemos à cultura italiana. 2. O quanto existe de felicidade em se ter amigos masculinos. ( Machismo? Talvez ). ---------------- 1. A Italia nos civilizou. Nos livrou do barbarismo que às vezes retorna em forma de nazismo, stalinismo, irracionalidade, crenças estúpidas, exagero no culto à natureza, magia negra, ódio à educação, raiva da história ocidental-latina. Na cultura italiana encontramos o nascimento do amor à beleza até o refinamento dos modos, o amor ao flerte à criação da música ocidental. As regras que se aplicam à diplomacia, arquitetura, saneamento básico, guerra, direito, trato com as mulheres, gastronomia, cultivo de vinho, fabricação do pão, senso de vestir, troca de ideias, tudo made in Italia. Italianos falam, discutem, escrevem, cantam, tentam seduzir, tramam, traem, matam, mas tudo dentro de um discurso, de um código, do mundo do Cortesão, do cavalheiro, do gentil homem. ( Por isso o fascismo italiano foi muito menos feroz que o alemão ou russo ). Espada e pena, sangue e flores. Este filme mostra isso? De contrabando, sim. Mas o foco principal é no ponto 2. -------------------------- 2. Eu vivi dois tipos de ambiente em minha vida. O mundo da amizade masculina e o da feminina. Ambos são interessantes, mas para um homem, as grandes lembranças são as das amizades entre homens. ( Minhas grandes lembranças com mulheres são ligadas ao romance, e ao falar isso estou sendo honesto ). Quando, no filme, os amigos dão tapas nos passageiros de trem, eles estão sendo homens, apenas homens, homens que estão longe de mulheres. No ato o único objetivo é rir, mais nada. Não há sentido oculto, nem mensagem cifrada, nada. O tapa acontece porque faz rir e rir é bom. Essa é a capacidade masculina de viver: fazer o que naquele momento e naquela hora faz sentido porque deu vontade de fazer. Cada piada, cada bagunça, cada trapalhada no filme é apenas isso, desejo de rir. Se voce já teve amizades sinceras com homens não castrados voce sabe do que falo. Tóxicos? Sim, pois eles viciam. ---------------------------- Eu tenho alguns amigos, ou ex amigos, que aos 30 anos eram assim. Maravilhosamente bobos. Tudo o que faziam tinha embutido o desejo de rir. Mesmo quando conversávamos sobre Bach ou Nietzsche, o final, a gente sabia, era o riso. Aos 35 anos eles se casaram. E lentamente mudaram. Alguns se fizeram preocupados, vendo o riso como infantilidade irresponsável; outros simplesmente começaram a falar como suas mulheres, os mesmos assuntos, mesmos gostos, mesmas atitudes. O passado não era condenado por eles porque deixou de ser lembrado. Mataram o que foram aos 20. Pois bem, neste filme vemos homens de 50 anos que são casados ou divorciados e que abrem mão de tudo pelos amigos. Visto hoje isso parece coisa de idiota ou algo impossível de acontecer....weeellll....meu avô morreu aos 70 anos exatamente assim. Quando a turma do bar chamava, ele ia. Sem nunca hesitar. Egoísmo? Muito. Mas creia, sentiremos muita falta desse tipo de homem, pois era ele quem garantia um mínimo de paz à comunidade. Com os dele, o que era dele, ninguém se metia. Com os dele nada de ruim acontecia. Ele era a porta contra a maldade dos de fora. Isso acabou. Recentemente fiz amizade com um homem desse tipo, 60 anos, velha moda de ser e fazer. Ele contrabandeia bebida para dentro do trabalho, empresta dinheiro a juros baixos, viaja sem planejar, indo para lugares onde nunca foi, sustenta duas famílias, come até passar mal, e me cumprimenta no estilo: Como vai seu filha da puta! Ele age. E ri. É um egoísta. Mas é responsável pelos seus. ---------------------- Tive amigos assim por toda vida. Não os valorizava porque antes eles eram comuns, fáceis de achar. Hoje são uma raridade. Não é por acaso que mesmo em países como o Canadá ou Irlanda já se percebem sinais de tirania governamental. Não há mais esse tipo de homem para botar o pé sobre a mesa e parar com a merda toda. Os que ainda existem se encolhem com medo de serem rotulados de "tóxicos", "velhos", "brucutus", ou pior que tudo "opressores". Loucura: os que nos salvaram da opressão desde sempre, são agora rotulados como "perigosos". Saibam que, pasmem!!!!, os comunistas de 1975 eram extremamente viris. Cuspiam no chão, tinham amantes e odiavam frescura. Se voce olhar bem irá ver um monte deles na política que agora toma o poder aqui na Latino América. Estão detrás de névoa de feminismo, ecologia, drogas livres..... rindo. ----------------------- Pietro Germi, o mais esquerdista dos diretores, escreveu o roteiro deste filme e ia o dirigir quando morreu. Mario Monicelli, o melhor dos diretores de comédia, pegou o barco andando e fez um grande filme. O elenco é adorável. Todos têm cara de gente de verdade e não personagens de cinema. É tudo crível porque eles são críveis. Cada rua gelada, cada carro enferrujado, a casa inacreditável de Tognazzi, o hospital onde eles se comportam como alunos indisciplinados, tudo é brincadeira e tudo é real. Apenas a Italia conseguia fazer esse tipo de cinema, realista mesmo quando parecia exagerar. Nunca feito por tipos, sempre por gente. Rezo para que Melloni, a ministra, tenha sucesso. ( Há algo mais italiano que uma ministra chamada Melloni? Penso nos italianos em Siena falando dos melloni dela ). --------------------- Seria maravilhoso que uma cultura que começou com A Divina Comédia e o Decameron, nos salvasse mais uma vez.

OS 10 PAÍSES MAIS INFLUENTES DA HISTÓRIA DO MUNDO

CEOWORLD MAGAZINE elegeu as dez nações mais influentes em toda história. Começo falando das duas surpresas: EUA e França não estão entre os 10. Weeellll....falemos dos EUA. Intelectuais americanos gostam de dizer que o jazz é o maior legado da cultura americana. Se for, então o país está mal. Sim, jazz é ótimo, eu adoro, mas é APENAS um estilo musical com 100 anos de vida, e que nesse tempo, mínimo em termos de cultura mundial, já entrou em decadência. O jazz usa instrumentos que não foram inventados nos EUA, improvisa sobre notações musicais e harmonias europeias e mesmo seus nomes mais hard ou hiper ousados têm como norte a música europeia de vanguarda. Se eu falar do rock a coisa é ainda mais gritante. O rock mudou a cultura de cinco décadas, mas cinco décadas significam o que, perante 5000 anos de cultura? Quanto à literatura, a americana deve quase tudo aos realistas russos. Ah sim, o cinema, essa invenção francesa que foi desenvolvida como arte na Alemanha e na França dos anos 20. Talvez o grande legado cultural dos EUA seja mesmo o jeans, porque mesmo a arte POP e a publicidade moderna são criações inglesas. -------------- A França é fato mais chocante não ter sido colocada entre os 10. Mas eu dou algumas razões: O iluminismo é inglês, o existencialismo nasceu no norte da Europa ( Dinamarca e Suécia ), o romantismo é alemão, e a pintura moderna foi feita por imigrantes que viviam em Paris. A arte francesa é rica mas não é criação gaulesa e se formos mais fundo, a França não descobriu países, não criou religiões, não organizou a cultura. Seu maior nome talvez seja Carlos Magno e ele foi um quase alemão que salvou o cristianismo mas não lhe deu novo rosto. Vamos falar então do número um, e se isso o surpreender será provado que voce anda meio fraco em cultura. Itália é o centro da nossa cultura planetária. É o número um. Precisa falar porque? Vamos lá.... Voce mora em um prédio? Concreto, cimento armado, arcos e colunas modernas, tudo foi criado lá. A ideia que fazemos de decoração também. A música que voce ouve, seja jazz, rock, funk ou eletro, começa na Itália. Foram eles que criaram a notação musical, a harmonia que entendemos, que codificaram a melodia, que inventaram 90% dos nossos instrumentos. Cantar acompanhado por instrumentos, algo que parece tão natural, é uma invenção da Italia. ( No oriente sempre se cantou com acompanhamento, mas ouça musica tradicional do Japão ou da China para voce entender de onde vem nosso gosto musical ). A Italia criou todo o nosso conceito de leis, de direito e de tribunal. A língua romana penetrou e formatou não só as línguas latinas como também deu ao inglês vocabulário e sintaxe. Mais, é na Italia que o cristianismo toma forma e se organiza e é lá também onde se criam os primeiros museus e as primeiras universidades. Nem preciso falar da renascença, movimento italiano que coloca o homem como centro do cosmos. Repare que apesar de não termos consciência disso, estamos cercados da cultura italiana. Por fim, nossa ideia de beleza nasce lá e sem a Italia a Europa jamais teria sido centro do planeta. ----------------- O segundo lugar é a Grécia e sim, somos pensadores gregos. Graças à eles, pensamos sobre a vida e sobre a morte sem colocar Deus no jogo, mesmo que creiamos Nele. Democracia é conceito grego e esportes também. Não falarei TUDO que devemos à Grécia porque voce conhece o assunto, gregos são louvados desde sempre. Provável voce ter pensado que eles eram o número um. A Italia é maior porque ela continua a influenciar por séculos e séculos enquanto os gregos param de ser relevantes após o século I. ------------- A Espanha é o terceiro país mais influente e basta pensar na descoberta da América e na consequente cultura espanhola espalhada do Chile ao Caribe, da California às Filipinas. É a Espanha ainda, quem nos dá o Barroquismo, o conceito de Don Juanismo, o fidalgo, que dará origem ao dandy inglês. Ela nos dá as ordens religiosas, a invenção do violão-guitarra, o estilo de vida dedicado ao sol. Mais importante, toda a cultura espanhola continua em crescimento, continua se desenvolvendo, espalhando sua influência em países que antes eram indiferentes à ela. -------------- India é o quarto lugar. Eu colocaria ela na frente da Espanha, mas acontece que a India não colonizou ninguém e colonizar é influenciar. A India criou nossos algarismos, inventou o conceito do zero. Tendemos a exagerar sua importância. Coisas como budismo ou a diversidade de castas são fatos restritos, não são mundiais. Há budistas no globo inteiro, mas apenas no Tibet são maioria. A India é estranhamente fechada em si mesma. ---------------- O próximo é a Thailandia e não serei leviano de comentar. Nada sei sobre essa civilização. Penso que esse lugar tão honroso se deva a sua cultura ter guiado todos os povos daquela região do planeta. ------------------ Falarei agora do sexto lugar. Surpreso e contente, vejo que Portugal, o pequeno país de 10 milhões de almas, ficou à frente de Inglaterra, Japão, China e Alemanha. Portugal meu caro, Portugal. Que honra! Mas por que? Eles criaram a navegação que possibilitou as descobertas. Foram os primeiros ocidentais vistos no Japão e os primeiros a criar embaixadas comerciais na India, na China, nas ilhas do mar Índico. Portugal expandiu o globo, meteu as caras no desconhecido, criou o conceito de DESBRAVADORES que hoje vive nos herois do espaço sideral. Deu língua e cultura ocidental a países da Africa e inventou o Brasil. Portugal tirou a Europa da Europa, expandiu o ocidente. Criou o comércio que faria a riqueza de Inglaterra e Holanda. Portugal inventou a ideia de globalismo. ---------------- Em seguida vem o Japão. A frente da China. Por que? Porque apesar de ter bebido a cultura da China, o Japão continua a crescer por séculos, a influenciar. É a gravura japonesa que influencia a arte moderna. É a tecnologia japonesa que muda a indústria. É o Japão quem cria o conceito de Zen e mesmo o budismo japonês é muito mais influente que o indiano. -------------- Agora a Inglaterra. Lá há o mesmo problema que há na França. Algumas coisas que pensamos ser inglesas não são. O comércio e a colonização é espanhola e portuguesa. A marinha é aperfeiçoamento de criações de Portugal. Na arte, o romantismo é alemão e o realismo é russo. As universidades são italianas, as leis idem. O gentleman nasce do cortesano italiano e do fidalgo espanhol. Então o que seria 100% contribuição inglesa? O iluminismo. A filosofia prática, que dá ao fazer preferência ao pensar. Pragmatismo. Essa a grande contribuição inglesa, pois mesmo a revolução industrial se acha espalhada, quase ao mesmo tempo, entre Belgica, Holanda e Inglaterra. Voce pode perguntar sobre o protestantismo, mas ele nasce na Suiça. Veja que interessante, tendemos a superficialmente pensar que muita coisa é herança inglesa, mas acabamos entendendo que o iluminismo e a consequente divisão entre coroa e parlamento são as grandes contribuições da Inglaterra. ------------------- O nono lugar é a China e o décimo a Alemanha. Alemães nos deram o romantismo, a super valorização do Eu. Como consequência disso, vieram o freudianismo e o marxismo. É na Alemanha que nasce a ideia do artista como ser livre, sem compromissos com a sociedade. Mas observe: O que significa isso diante de coisas como a descoberta da America ou a codificação de todas as nossas leis? Nada. Tendemos a pensar na importância de uma cultura olhando apenas aquilo que nos interessa. Então os EUA seriam imensos por terem criado a internet, mas esquecemos que para criar a net foi antes preciso criar o circuito integrado, a matemática mais moderna, a física quântica, o hardware. Pensamos que a culinária francesa é uma contribuição cultural imensa, mas esquecemos de quem inventou o queijo, o vinho ou o pão fermentado. Pensamos que a cirurgia plástica é um avanço magnífico, mas não pensamos que nosso ideal de beleza é grego e romano. Louvamos a Inglaterra por sua educação e seu modo de vida, mas não sabemos que essa educação e esse modo de ser foram implantados por reis que queriam viver em um país civilizado como era Veneza ou Milão. ----------------- Sem a cultura latina seríamos vassalos do mundo árabe ou vikings em rituais pagãos.

EU ASSISTI O DISCURSO DE POSSE DA NOVA LÍDER DO GOVERNA DA ITÁLIA ...

.... e me arrepiou tamanha visão moral perfeita daquilo que é o Ocidente hoje. Basicamente ela faz uma pergunta: Por que somos tão temidos? Por que a igreja, a família, o gênero sexual, a língua nacional, são tão atacados? Porque são eles que nos definem. Diz ela: eu sou italiana, cristã, mulher, européia. Isso sou eu, isso me dá história, isso me torna um indivíduo. Mas o CONSUMO ( observe que ela não diz a esquerda ou o comunismo, ela diz O CONSUMO exatamente a raiz do que acontece agora ), o consumo deseja que eu seja apenas mais um, indiferente, não-único, igual a todos os outros, para assim poder ser facilmente posto em posição de passividade absoluta. Um escravo, sem família, sem nação, sem credo, sem história, pronto para ser acolhido pela falsa satisfação oferecida pela linha da montagem da indústria. Querem que esqueçamos quem somos, que nos tornemos um número. Por isso nos temem, nos agridem sem parar. Porque abrimos os olhos. ------------------ Essa mulher, Melloni, definiu com simplicidade toda a situação atual. E explica de modo sublime a estranha aliança entre esquerda e hiper capitalistas. Que não existe mais esquerda eu sei desde 1989, mas não conseguia ver com tanta clareza aquilo que ela se tornou: mascates de bancos e de especuladores. BRAVO !!!!!

APRENDIZ DE COZINHEIRO - BOB SPITZ

   Que façam logo o filme. Este é um dos muitos livros escritos tendo em vista uma futura filmagem. Pode dar um bom filme, ótimo até, mas está longe de ser um bom livro.
  Quem me conhece sabe que graças a Peter Mayle, adoro livros sobre a arte de viver. Livros que unem viagens e comida, ou bebidas com construção. Li vários que são aulas de escrita e de bom humor. São livros de luxo, para ter e reler. Dei três de Peter Mayle de presente este Natal, e sei que serão apreciados com o mesmo espírito que nos faz apreciar um bom espumante. Ou queijo.
  Muita gente escreve livros nesse estilo. Vendem bem, são ideais para férias. Passados sempre na Toscana ou na Provence, levam aos americanos e japoneses a exoticidade domesticada do que é latino e antigo. Livros yuppie.
  Este mostra a saga de um escritor que perde a esposa e vai estudar culinária ( gastronomia soa mais in ), na França e na Itália. Bob Spitz escreveu uma bio sobre os Beatles e este livro é autobiográfico. E meio chato. Spitz é verborrágico e ao contrário de Mayle e de Mayes, não tem humor. Pouco observa das pessoas ao seu redor.
 O segredo do bom livro de viagens ou de joie de vivre, é o entorno. Não a paisagem ou a casa em ruínas, são as pessoas. Destacar bons personagens. Spitz nunca faz isso. O livro, além dele, tem apenas sombras.
 

MAQUIAVEL, GIORDANO BRUNO E ARIOSTO

   Começo este doido ano dentro do renascimento italiano. Dizem que nossa cultura nasceu aqui. Acredito que ela foi adrenalinizada aqui. Tomou novo impulso. Mas ela existia desde 500 ac. ( E neste século ela está sendo sufocada. Mas não vai morrer. Acho... )
   Maquiavel foi irônico. Vivendo em uma sociedade ambiciosa ao extremo, cruel, e participando desse poder, como ministro, conselheiro, formulou em O Príncipe uma espécie de manual do poder absoluto. A maioria, até hoje, pensa que o texto é aquilo que se lê. Não entendem que Maquiavel aumenta e explicita a ambição e assim a critica. A escrita, de uma clareza transparente, se lê com vivo prazer. Ficamos inebriados com o discurso. Aprendemos a escrever melhor, aprendemos a pensar melhor.
   Bruno foi queimado pela inquisição. Não entendemos hoje qual a gravidade. Afinal, ele era crente, nunca foi contra Deus ou Jesus Cristo. Mas ele cometeu uma ousadia indesculpável para aquele tempo: disse que o céu era infinito e que nele mundos sem fim tinham lugar. Ler Bruno é ler uma mente deslumbrada pela descoberta do "ilimitado". Bruno olha o universo e percebe a maravilha. Ele não se assusta, se apaixona. Podemos dizer que Bruno morreu por amor ao cosmos.
   Ariosto escreve uma fantasia de cavalaria sem tirar os pés do chão. Não é realismo ainda, mas aqui, entre cavaleiros, damas, florestas e lutas, nada acontece por magia. Os personagens são gente e agem como gente. Mais que tudo, Ariosto mantém a rima, o metro e a clareza por milhares e milhares de versos. Dá pra cantar.
  Tudo é belo na renascença. Pessoas cercadas de beleza vivendo uma vida nada bela. Deixaram a maior das heranças. Não sei se a merecemos.

MICHELANGELO, UMA VIDA ÉPICA - MARTIN GAYFORD

   Torturas. Mais torturas. Guerras. Espanha contra Roma. Roma contra Firenze. Milano contra França. Firenze contra todos. Traições. O duque trai o Papa que trai o rei que trai o cardeal que trai o rei que é traído pelo Papa. Assassinatos. Pai envenenado pela esposa que é esfaqueada´pelo amante que é queimado pelo namorado. Sexo. Muito sexo. Homens velhos amam meninos. E nesse caldo de sangue, doenças, fedor, gozo, medo e fúria vive o gênio.
   Michelangelo não ligava para efeitos de luz. Nem para a natureza, a paisagem. Não pintava retratos. Ele só se interessava por homens nus. Religioso, quase puritano, ele via Deus na beleza. O corpo humano como a mais alta criação divina. E o corpo masculino como o reino da força, da nobreza, do caráter e da transcendência.
   Poeta. Michelangelo além de escultor, pintor e arquiteto foi poeta. Dos bons. E em seu trabalho se percebe que seu mundo não teve mulheres. Apenas Vittoria Colonna. Uma paixão intelectual. Ele amava com intensidade a jovens rapazes bonitos. Mas há a possibilidade de que tudo fosse platônico. Isso porque o gênio era além de católico temeroso, um platônico convicto. Para ele tudo aqui é imperfeição. Lembretes de um universo perfeito e divino que vive além.
  Ele era terrível. Amava a solidão, dado a fúrias, irredutível, perfeccionista, desconfiado, chorão radical, paranoico, descumpridor de custos e de prazos, mas jamais mentiroso. Tempo terrível esse em que ele viveu. De corpos dilacerados em praça pública. Religiosos belicosos, luxuriosos, ambiciosos. Tempo de bancos, de acordos secretos, de vaidade ao extremo.
  Nenhum artista foi tão rico, tão famoso, tão adulado, tão preocupado. Puritano que amava a nudez, amoroso e violento, dava fortunas a amigos e ao mesmo tempo, trilionário, vivia como pobre em mansão vazia de luxo. Esse foi Michelangelo, fascinante ser humano que Gayford descreve muito bem.
  Meu livro do verão.

MICHELANGELO by MARTIN GAYFORD

   Essa biografia de Michelangelo, lançada recentemente pela Cosac, tem um problema terrível! Ela nos causa uma horrível obsessão. Portanto, fujam dela! Como café, a beleza ou o banho frio, ela vicia. E muito!
   Eu não consigo parar de ler. Estou na metade e tenho de fazer força para lembrar de outras atividades. Escrevo isto na esperança de me libertar. ( Mas já sinto saudades do livro...)
  A escrita de Gayford é leve, agradável, e consegue ao mesmo tempo nunca parecer fútil ou superficial. Ele não doura, mas também seduz. Dá a justa medida do biografado. Não cai em erros que vemos em tantas bios: a de endeusar o homem o transformando num tipo de profeta inefável. ( Freud por Peter Gay é o exemplo pior. ) Michelangelo criou arte genial, mas nem sempre. Era um homem insuportável, mas nem tanto.
  Grosseiro, agressivo, pão duro, cheio de culpa. E ao mesmo tempo arrogante, vulnerável e generoso. Gayford não faz dele um mártir. Nunca. Faz dele um cara como eu e como você. Apenas com uma diferença, ele tinha um talento que ninguém nunca mais teve. E a teimosia de lutar para o expressar.
  Viveu muito. Numa época em que mesmo os ricos morriam aos 40 anos, ele viveu 90. E produziu até o fim. Nascido em família empobrecida, se via como um nobre caído ( não era ). Seu talento precoce o levou ao convívio com os poderosos. E lá virou uma celebridade.
  Firenze e Roma. O que mais seduz e vicia é o elenco do livro. Além de Michelangelo temos os Medici, vários Papas, Maquiavel, Bramante, Botticelli, Pico dela Mirandola, Ficino, e seu rival, Leonardo. Mais ainda: os Borgia, Rafael, Lippi, Julio...Foi o explendor máximo da alma humana, a hora da virada, da mudança, da descoberta, da confiança plena. ( Segundo Yeats o mundo vira a cada 500 anos. 1500 foi o mais recente auge. 2000 o ponto baixo. 2500 o próximo auge. )
  Um fato é que deverei mudar meu conceito sobre Beethoven. Foi Michelangelo o primeiro artista a não se submeter. Se Beethoven foi o primeiro a trabalhar para si mesmo, fazer só o que queria fazer, Michelangelo, apesar de trabalhar sob encomenda, fazia o acordado como queria e quando queria. Se quisesse.
  Em vida foi o homem mais famoso do mundo. E depois de morto nunca teve um só momento de ostracismo. Nossa cultura sempre foi, e até a invasão do Islã, sempre será guiada por sua concepção do que deve ser o corpo humano perfeito. Ele inventou aquilo que entendemos como "belo talhe". E mais ainda, deu aparência física a nossa ideia de heroísmo e de santidade. Criou sozinho os sonhos que nos encantam até hoje.
  Este livro é obrigatório. Se você quer diversão ele tem. História ele tem. E arte, muita arte.

FIRENZE E ROMA

   Tenho uma amiga que está cruzando a Itália. Ele me envia fotos de Roma e de Firenze. Nunca estive na Itália e olho as fotos.
   Ela sabe fotografar. E sabe escolher seus alvos. Olho as fotos de noite, dentro da escola onde trabalho, numa pausa. Há uma colega ao meu lado em outro computador. São nove horas da noite e faz calor. O ventilador está ligado.
   Uma sequência de fotos: túmulos. Dante. Machiavelli. Petrarca. Galileo. Michelangelo. ...alguma coisa acontece aqui.
   Desce sobre mim. Os pelos de meus braços se erguem. O calor me meu rosto aumenta. Fico vermelho. Uma onda de frio varre o lugar onde estou sentado. Meus olhos se arregalam. Meu coração NÃO dispara. Estou calmo. E ao mesmo tempo emocionado. Uma emoção que não acelera. Abraça. Tento me controlar mas logo desisto. A sensação é deliciosa. Sou tomado. A visão do mármore que envolve Michelangelo me dá um desmaio que não me apaga, antes me ergue.
  Continuo vendo as fotos nesse estado do sublime enlevo. Firenze se mostra e se abre para mim. Ela é fatal. Um pensamento: eu morreria em Firenze. E seria a mais bela morte. Pois eu renasceria em Firenze.
  Palavras a partir daqui não mais podem ser ditas.
  ...
 

HORAS ITALIANAS, HENRY JAMES

A Itália abriu mão da fantasia e do ócio, e não abraçou o modo de vida do norte europeu.
Essa frase é de Henry James, 1880. Atual. Neste livro o autor passeia por Roma, Turim, Veneza como flaneur. E nos dá suas impressões. É um passeio culto, belo, com alguma ironia, e, óbvio dizer, maravilhosamente bem escrito. Apenas Proust escreve como James.
Ficamos sabendo que o carnaval em Roma durava um mês, e que o modernizavam para durar apenas dez dias. Entendemos o porquê da melancolia de Firenze. A feiúra da moderna Itália, a tomada das villas por ingleses e americanos.
A ideia de que cada nação dá algo de seu ao mundo, e que a Itália nos deu o melhor, a beleza. Por mais que o país decaia não pode ser condenado. Deve ser amado.
James ainda explica onde reside a originalidade dos palácios, o motivo de tanta poesia e o caráter de seus habitantes.
Ele não afirma nada, apenas, felizmente, sugere. O autor, calmo, percebe a miséria, a vulgarização, a podridão, mas salva o belo, o que vale a pena, aquilo que fica.
Um prazer.

TODOS OS DIAS NA TOSCANA

     Eu adoro esses livros sobre o bem-viver. Peter Mayle é o melhor, mas Frances Mayes não fica muito a dever. A maior diferença entre eles é que Peter tem muito humor, Mayes é mais poética. 
    Pra quem não sabe, Frances se mudou para a Toscana e reformou um velho casarão. Lá, ela descobre os mistérios do que seja "ser um italiano". Ela idealiza? Claro! Mas para um americano, a vida da Itália interiorana é mesmo uma revelação. Neste volume, Frances tem um tipo de crise com o país, percorre a trilha das obras de seu pintor favorito ( Signorelli ), e reconquista/ reafirma sua paixão pelo lugar.
   Tudo é uma questão de tempo. A relação dos italianos com o tempo é inversa a dos americanos. Eles só fazem aquilo que os diverte e se não for divertido faz-se ser. O tempo não manda, eles domaram o tempo há muito, o esticam, domesticam, subvertem. Muita comida. Italianos, como todo europeu, passam o dia planejando e pensando no próximo jantar ou almoço. ( Deve ser por isso que a Inglaterra não parece Europa ). Frances fala de comida e nos dá fome. Ela sabe descrever pratos, sabores, cheiros. Uma delicia!
   Perto do Natal, nestes dias de compras de vinhos, doces, peixes e legumes, frutos e prosecco, onde até grappa consegui encontrar, é inspirador ler os relatos de seus banquetes e das longas conversas a mesa.
   Boa leitura e bom apetite!

A GRANDE BELEZA, UM FILME DE PAOLO SORRENTINO

   Jeanne, era esse seu nome, juro que era, saía da escola e andava poucos passos. Entrava no carro e ia embora. Eu, dentro do Caravan de meu pai, olhava. Ela passava olhando para o chão. O vidro do carro embaçava, frio. Beleza. A vida, cedo, me exibiu a beleza. Se desnudou para mim. Eu vi, antes de saber dominar palavras, teorias, formulações, ou seja, antes de aprender a morrer, que a vida era beleza. Quando muda.
   Nua quando vi os pombos, nua quando percebi a teia da aranha, nua na manhã em que me perdia entre eucaliptos. Eu olhava, olhava, olhava e via, via, via. A menina loura espetando o pé numa tachinha no chão. Arrancando a tacha da sola do pé e continuando a passar o rodo no cimento. Fazia sol e ela vestia um leve vestido branco. Eu olhava e sem palavras a via. A nudez da vida e a nua beleza.
   Então, ao aprender a escutar as conversas, os discursos e ao ler as máscaras, notei que a vida não era aquilo que a gente vive. A vida era além. Que falamos para matar o tempo, trabalhamos para matar o tempo, amamos um amor de discurso e amor não se fala. E veio o meu outro eu, longe e sempre aqui. Incomunicado, em comunhão. Daí o para que...
   A verdade está fora do Homem. Nos bichos, na luz, no mar e na Serra. No silêncio dos sentimentos. Essa a verdade e a beleza. Um pássaro, o escuto agora, é um Bem-Te-Vi, fala direto ao dizer nada. Livre das amarras dos nomes ele fala. O Homem é livre quando se cala e percebe. A beleza.
   Roma é uma velha freira-santa. Explorada por gente que fala demais. Roma é vaidade. Paolo dialoga com Fellini. A Doce Vida fala do momento em que um jovem percebe o vazio absoluto. Paolo continua e conta de um velho cansado do vazio.A Roma de Fellini é uma puta explorada. Paolo mostra a velha matrona vivendo a base de drogas. Toda civilização desaba ao viver apenas em função do prazer. Quantas vezes Roma caiu?
   Ninguém nunca filma rostos como Fellini filmou. E milhões tentaram. Paolo não consegue. Ninguém cria beleza como Fellini. E finais fortes. Paolo pelo menos tenta, ambicioso. O personagem central, sempre dandy, vaidoso, exibido, viu a beleza cedo demais. Passou a vida sabendo que nunca mais iria a reencontrar. Ceticismo, disfarce dos desencantados. Italiano, tem humor, ama as mulheres, mas sabe, a fala esconde a vida.
  O filme, cenas belas sobre cenas belas, Roma, a mais bela das cidades, chafarizes insuspeitos, cor do sol sem outra igual. As pessoas fazem coisas, pulam, viajam, correm, flertam, e falam, falam, falam. Doce Vida que azedou faz tempo. Mastroianni tinha desespero, aqui tudo aborrece.
   Paolo conseguiu. Estou comparando o filme a Fellini, Truffaut ( linda cena com Ardant ), Antonioni. Ele perde, mas fica muito acima de tudo que se tenta hoje. Beleza triste, saudade vazia de motivo.
   Disseram ( quem? Eco? Paz? ), que a beleza, a estetica poderia salvar o mundo. Filmes como este podem salvar o cinema.

O MELHOR FUTEBOL DO MUNDO

   E descubro que ainda dói. Numa noite de sábado, em 2013, revejo, mais uma vez, o jogo da minha geração, Brasil 2X3 Itália, na ensolarada e muito alegre Espanha, julho de 1982.
   A ESPN tem reprisado jogos de Copa inteiros. Esses jogos fazem com que alguns mitos vão por terra. Por exemplo, Brasil e Holanda em 74 foi um dos piores jogos da história. Uma violência imensa e um jogo onde o que se viu foram discussões, provocações e entradas para matar. O pior jogo da Holanda de então. Outro mito? Este jogo, em 82.
   Dizem que o Brasil não sabia defender. O que vejo é o oposto. Todo o time defende. Os atacantes marcam, de verdade. E logo percebo que o time de 82 jogava o futebol mais moderno do mundo. Até hoje. Não a toa é modelo do Barcelona e agora do Bayern. O gênio Telê Santana fez a ponte do futebol da Holanda para o Brasil. Na concentração ele exibia lances de Cruyjff, atacar bem e defender bem. Foi o que o Brasil fez. Leandro entra pela esquerda, Cerezo de centro-avante, Sócrates de zagueiro, Oscar de meia, Junior na ponta direita, eles giram e giram e giram... Perdeu porque a Itália foi nossa Alemanha. Jogou muito bem, uniu vontade com habilidade e nunca errou. O Brasil errou duas vezes e nas duas os italianos estavam ligados. Aproveitaram.
   Antero Greco comenta o jogo e diz ao final que o jogo foi tão eletrizante que ele se pega ainda torcendo, achando que vai dar, que a bola vai entrar. Eu torci de novo, parece que o tempo ficou parado, vai dar, vai dar, tem de dar!
   Revendo o jogo percebo que aquele foi o melhor time do Brasil. Muito melhor que o sortudo time de 2002 e melhor que o aplicado time de 94. Tirando Pele, talvez melhor que o de 1970, sim senhor! Cerezo foi melhor que Clodoaldo, Falcao equivale a Rivellino. Gerson ganha de Socrates, Zico perde de Pele e Tostao foi muuuuuuuuuuuuuuito maior que Eder. Mas a defesa toda de 82 era bem melhor que a de 70. E Tele vence Zagalo...Basta olhar. A bola rolando redonda, mesmo em meio a um mar de marcadores. O futebol de Brasil e Italia se parece, muito, com o de hoje, muito mesmo, não é lento e sem defesa como se pensa, os dois jogam como o melhor futebol de hoje joga. Velocidade e movimentação, simplicidade. Com uma diferença em relação a 2013, a técnica brasileira ainda é refinadíssima, e a seleção italiana é a melhor de sua história. Perto desta a campeã de 2006 fica como um bando de pernas de pau. Ninguém dá chutão.
   Naquele dia, em 7 de julho, fazia muito calor em Barcelona e sol no inverno daqui. Todo mundo sabia que o Brasil ia ganhar, o que importava era saber de quanto. O campeonato era nosso. Certeza que nunca mais tive. Nem agora, em casa. Foi a mais bela copa, com jogos que nunca esqueci, com 4 times que tinham futebol digno de vencer. Afinal, foi uma copa que tinha Zico, Socrates, Falcao, Rossi, Cabrini, Zoff, Scirea, Platini, Giresse, Rummenigge, Breitner, Boniek, Milla, Maradona, Passarela, jogadores lembrados ainda agora.
   Perdeu.
   E a derrota mudou todo o nosso futebol. Ficamos cada vez mais italianos. E os europeus, encantados, eu fui pra lá em julho, dia 18, ouvi os comentários, se tornaram alunos aplicados de Falcão, Zico, Junior, Cerezo e Sócrates.

OS JARDINS EXIBEM A CARA DE SEU POVO

   Jardins franceses. Árvores plantadas em distãncias bem calculadas uma da outra. Alturas idênticas. Geométricamente podadas. Cubos, bolas, quadrados. A mão do homem deve ser percebida em cada folha e em toda flor. Natureza domesticada crescendo em ordem. Tudo é razão.
   Jardim inglês. Pequenos bosques que devem se desenvolver a moda de seu impulso. A mão do homem  não deve ser percebida, mas ela lá está. Ao jardineiro compete fazer com que a árvore atinja seu potencial máximo. Olhar e sentir conforto. Paz.
   Jardim japonês. Olhar uma pedra e ver nela todas as pedras do mundo. Jardim pobre que deve concentrar a mente. Detalhes diminutos que fazem com que a mente divague. Água que flui.
   Jardim italiano com estátuas e fontes e bancos. Tudo nele deve lembrar o lazer. A mão do homem se faz presente mas não como ordem ou como razão, sim como o belo. Jardim enfeitado com falsas ruínas de gosto duvidoso.
   Jardim dos EUA, com quadras esportivas, bancos de areia e escorregadores. Jardim que sempre convida ação. País da ação onde sempre se faz alguma coisa. Jardins que chamam à corrida, ao beisebol, ao basquete.
   Jardim do Brasil. Asfaltado para que as marginais corram. Destruído para que se estacionem mais carros.