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ALAIN DELON/ CARY GRANT/ HAWKS/ DORIS DAY/ ANNE BANCROFT/ SPENCER TRACY/ AL PACINO

   O INVENTOR DA MOCIDADE ( Monkey Business ) de Howard Hawks com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn e Marilyn Monroe.
É o primeiro fracasso de bilheteria de Hawks e um dos raros de Cary. Hawks vinha de 15 anos seguidos de sucessos quando resolveu fazer na Fox este roteiro de Lederer e Diamond. Os dois são roteiristas que trabalharam com Billy Wilder, e isso explica muito sobre o filme. O humor tem a grossura despudorada de Billy. Não tem o estilo humanista de Hawks. De qualquer modo o filme é tão louco que diverte, além do que o elenco é sensacional. Cary é um cientista que tenta criar a fórmula do rejuvenescimento. Um macaco cobaia mistura elementos e Cary bebe aquilo sem querer. Súbito ele volta aos 19 anos. Passa a ter o comportamento de um teen. Ginger é a esposa, que acaba por voltar aos 14 anos. Monroe faz uma secretária e este é dos seus primeiros papeis importantes. Ainda gordinha, ela é tremendamente sensual. O final, com Cary voltando aos 7 anos e amarrando um adulto na árvore para tirar seu escalpo é uma mistura de hilariedade com o incômodo do excesso de ridiculo. O filme se equilibra o tempo todo nesse fio, de um lado uma soberba alegria, de outro o ridiculo. As cenas com Ginger passam todas do ponto. Cary mantém a elegância. Um grande ator! Quer saber? Após seu encerramento deu vontade de ver outra vez. Nota 7.
   CARÍCIAS DE LUXO de Delbert Mann com Cary Grant, Doris Day e Gig Young.
Doris é a super-virgem. Desempregada, ela conhece o super rico Cary Grant. Ele tenta a seduzir com dinheiro. E consegue! Mas ela é virgem e defende sua honra. Bem, não poderia haver tema mais antigo. Imagino um cara de 15 anos vendo isso! Belos cenários e um Gig Young hilário como um paciente de um freudiano, não conseguem salvar o filme. Cary parece desinteressado, entediado ( este era o tempo em que ele descobria o LSD ). Nunca ninguém, naquela época, percebeu como Doris era sexy? A voz dela é de erguer defunto! Nota 4.
   STANLEY AND LIVINGSTONE de Henry King com Spencer Tracy, Walter Brennan e Cedric Hardwicke.
As convenções do filme de aventuras foram criadas por 3 grandes aventureiros da vida real: Raoul Walsh, Howard Hawks e Henry King. Todas as técnicas criadas pelos 3 são usadas até hoje. Pode-se enfeitar um filme o colocando no espaço, em outra dimensão ou fazer do mal o bem, mas o esquema é exatamente o mesmo. Aqui temos um dos melhores exemplos. Feito em 1939, o filme mostra Stanley, feito por um brilhante Spencer Tracy, partindo para a África desconhecida, em 1870, atrás do paradeiro de Livingstone. Em hora e meia o filme, com ritmo, tem um pouco de tudo: exploração do desconhecido, humor com o amigo do heróis, encontros inesperados, suspense e depois a edificação e o crescimento do herói. Ele retorna à sua terra como um homem melhor. Até uma cena de tribunal temos. Henry King foi um grande diretor. E como ser de seu tempo, dirigiu de tudo, westerns, comédias, dramas e musicais. Nota 8.
   O RIO DA AVENTURA de Howard Hawks com Kirk Douglas e Arthur Hunnicut.
O dvd tem belos extras. A voz do velho Kirk falando do filme, fotos de Michael Douglas aos 6 anos visitando o pai no set e Todd MacCarthy, um dos melhores críticos, falando do filme. Mas, surpeendentemente, a imagem não foi refeita e a foto está em mal estado. Feito em 1952, é o segundo maior fracasso da carreira de Hawks. O público da época estranhou esta aventura lenta, calma, primeira experiência do estilo Hawks de filmagem, que seria mais bem desenvolvida nos filmes seguintes. Como é esse estilo? Focar nos personagens e não na ação. Veja: aqui temos Kirk como um aventureiro no Oeste que vai com um grupo à procura de peles em terras inexploradas. Sobem o rio e encontram aventuras. Muitas. Mas todo interesse do filme é mostrar o cotidiano, o dia a dia, a personalidade de Kirk e de seus companheiros ( dentre eles um excelente Hunnicut fazendo um velho do mato ). Desse modo a sensação que fica é de pouca ação e de muito papo furado, o tal estilo Hawks. MacCarthy descreve bem, achamos o filme falho, mas quando termina queremos mais. Acabamos por gostar daquelas pessoas e desejamos sua companhia. É isso que acontece com os bons filmes de Hawks, o mais discreto dos mestres. O filme tem falhas sim, mas a gente acaba querendo mais. Nota 8.
   MOMENTO DE DECISÃO de Herbert Ross com Shirley MacLaine, Anne Bancroft, Tom Skerrit, Mychail Baryshnikov, Leslie Browne.
Este filme de 1977 tem um recorde. Junto com A Cor Púrpura, é o maior perdedor da história do Oscar. Foram 11 indicações e nenhum prêmio. Na época era moda falar mal dele. Ou melhor, os críticos o detestaram, o público adorou. Hoje a situação é a mesma. Não virou cult. Conta a história do reencontro de duas mulheres de meia idade. Amigas antigas, as duas foram grandes bailarinas. Uma largou tudo ao ficar grávida. A outra persistiu e se tornou estrela em NY. No reencontro se faz o balanço, a briga, a reconciliação. Eu adorei o filme. Assisti sem a menor expectativa e gostei muito. Me emocionei. Ele mostra com sagacidade a questão da idade, da fama e da solidão. E Anne está soberba! A diva é sempre humana, e a mulher é uma diva. A cena da briga entre ela e Shirley foi homenageada em Dancin Days, a novela. Gilberto Braga é um grande fã do filme. A fotografia de Robert Surtees impressiona muito. E vemos a estréia da super estrela e do sex symbol da época, Baryshnikov. Foi indicado a coadjuvante! Faz um bailarino hetero e playboy. Bom. Vemos Marcia Haydée nas cenas de dança, em seu auge como bailarina. Um lindo filme que teve o azar de concorrer nos ano de Annie Hall, Julia e Star Wars. Nota 8.
   UM MOMENTO, UMA VIDA ( Bobby Deerfield ) de Sidney Pollack com Al Pacino e Marthe Keller.
Assisti este filme no cine Astor, em 1978. Senti um profundo tédio. Revendo agora, senti um profundo desgosto. É o pior filme de Pollack, isso é aceito por todos, mas é também o pior de Pacino, e olhe que Pacino fez muito filme ruim. Uma sopa melosa e lenta, metida à filme de arte, sobre um famoso piloto da Fórmula 1. Ele perdeu suas raízes, virou um tipo de robot arrogante. Ao visitar um piloto acidentado na Suiça, conhece uma italiana doidinha que está morrendo...O filme evita o drama e vira um vazio. Tudo é seco e lento. Argh. Vemos James Hunt, Pace e Depailler nas cenas de corrida....que duram cinco minutos!!! Uma enganação...fuja! PS: Keller era um alemã que tinha corpo e rosto, bonito, de Valkiria. Como acreditar que frau Keller é uma italiana maluca????? Aff....ZERO!
   O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Maurice Ronet e Marie Laforet
Simplesmente o filme mais chique já feito. Itália em 1960 alcançou um nível de elegância sem ostentação que transparece em cada segundo do filme. Ronet descalço e sem camisa, parece o mais chique dos homens. Delon, com terno claro, com dock sides, com polo, sempre parece modelo da Vogue. Mas, eis o charme, tudo sem formalidade, sem afetação, com certo desleixo. Foi o auge do estilo mediterrâneo, que todos procuram e quase ninguém o revive. Clement consegue, ao seguir o livro de Patricia Highsmith, fazer um filme à altura de suas imagens. Ele é lindo e tem muito suspense. Gostamos de canalha Delon. O ator se confunde com o tipo. Houve ator mais diabólico e bonito? A refilmagem de 1999, de Minghella, colocou Matt Damon como Delon...aff!!! Jude Law era Maurice Ronet. O que era chique virou novo rico, parecia formal e Damon era um teen vestido de adulto. Aqui não! Até a carteira de Delon parece elegante! E temos o final, um dos mais inesperados da história. Um grande filme e um super sucesso de bilheteria. DEZ!!!!!!

SCHLESINGER/ POLLACK/ GILLIAN/ BOGEY/ TOM COURTNEY

   BILLY LIAR de John Schlesinger com Tom Courtney e Julie Christie
Assisti na Tv Cultura, talvez em 1978. Depois nunca mais. Lembrava apenas de Julie andando pelas ruas e de Tom mandando a avó calar a boca. Revi ontem. É um filme maravilhoso. Billy, feito de maneira absolutamente mágica pelo grande Tom Courtney, é um jovem sonhador. Mas não o tipo sonhador-poético. Ele é um sonhador covarde. Sonha acordado toda vez que surge alguma dificuldade. Sonha matar os pais, ser um grande general, um escritor, um duque de sangue azul... Sua vida é uma confusão. Faz um medíocre roubo em seu emprego, tem duas namoradas ridiculas, uma familia banal e vive em Newcastle. Sua única chance é Julie, em seu primeiro papel de estrela, uma garota livre, andarilha, que o convida para ir viver em Londres. Ele irá? O filme é de 1962 e vemos a Inglaterra prestes a pirar. Jovens entediados, reprimidos, doidos para viver em cidades demolidas, sujas. Penso no que seria de Billy dali a 5 anos. Doido de LSD? E a personagem de Julie? Morta? Schlesinger foi entre 1960 e 1976 um grande diretor. Depois se perdeu em projetos loucos e numa vida perdida em drugs. Ele filma livremente, criativamente, solto. É quase Nouvelle Vague, mas nunca perde o rumo do roteiro e jamais deixa de ser irônico. O filme é obrigatório. Consegue ser divertido e instigante. Billy é apaixonante. Nota DEZ!!!!
   A NOITE DOS DESESPERADOS de Sidney Pollack com Jane Fonda, Michael Sarrazin, Gig Young, Susannah York e Bruce Dern
Pauline Kael dizia que entre 1965/1977 os americanos iam ao cinema para serem deprimidos. Grandes hits terminavam sempre em dor, morte e falência total ( O Poderoso Chefão, Serpico, Butch Cassidy, Exorcista, Operação França e um etc sem fim ). Este filme, que muitos acham ser a obra prima de Pollack, é dos mais tristes. Miséria pra todo lado. Estamos em 1932, e acontece mais uma maratona de dança. Para quem não sabe, essa maratona era um tipo de Big Brother dos desesperados. Casais dançavam sem parar, por dias e dias, com intervalos de dez minutos a cada quatro horas. A coisa chegava a durar meses e era transmitida por rádio. Raras vezes o cinema mostrou gente sendo massacrada com tanta explicitude. Jane é uma suicida, Michael um ingênuo, York uma atriz falida e Dern um pai morto de fome. Gig Young ganhou o Oscar de ator coadjuvante fazendo o mestre de cerimônias, cínico, cruel e eficiente. O filme, como apontava Kael, não faz a menor concessão. É de uma melancolia tétrica. E é bom cinema. Tem ritmo, tem grandes atuações, tem interesse. E não envelheceu nada. Nota 7.
   AFTER THE THIN MAN de W.S.Van Dyke com William Powell, Myrna Loy e James Stewart
Em 1934 se lançou, baseado em Dashiel Hammett, The Thin Man. O sucesso fez com que dois anos depois se lançasse este filme. Mais cinco viriam. Mas em dois anos uma coisa mudou para pior, a censura. No primeiro Powell fazendo Nick Charles passava todo o filme bêbado e soltando piadas ácidas. Aqui ele quase não bebe e faz humor mais familiar. Mas o filme ainda é bom. O prazer em ver o casal Powell e Loy não tem fim. Como no outro filme, eles resolvem um caso de assassinato. Stewart antes de ser uma estrela está por perto. Asta, o cachorro rouba o show. Nota 6.
   COMBOIO PARA O LESTE de Lloyd Bacon com Humphrey Bogart e Raymond Massey
O tema é ótimo. Navios mercantes tentando cruzar o Atlântico rumo a Inglaterra na segunda-guerra. Bogey é o capitão de um navio. O filme é ok, mas nada especial. Nota 5.
   BRAZIL de Terry Gillian com Johathan Pryce, Bob Hoskins e Robert de Niro
Gillian fez parte do Monty Python. Ninguém pode lhe tirar esse mérito. Mas seus filmes são sempre decepcionantes. Nos anos 80 este filme foi chamado por críticos moderninhos de obra-prima kafkiana. Hoje tem o lugar que merece: esquecimento. Muito ruim. Nota ZERO.
   DAQUI A CEM ANOS de William Cameron Menzies
Baseado em HG Wells, este filme passou décadas esquecido e hoje, de volta em DVD, é reavaliado como obra-prima e considerado cult. Eu não gostei tanto. Fala de uma sociedade do futuro que vive em função da guerra. É frio, distante, não emociona. Nota 4

LEAN/ FREARS/ MALKOVICH/ LANG/ WOODY ALLEN/ POLLACK/ MERYL STREEP

   UM GATO EM PARIS de Felidoli e Bagnol
Melancólico. As crianças que assistirem esse desenho terão péssimas lembranças. Tem uma menina meia-muda que está deprê por causa da mãe, tem um ladrão de jóias meio down, tem um gato cool...Os traços do desenho são simples, esquisitos, feios. Este desenho parece servir apenas para preparar as crianças para os filmes que assistirão em sua vida adulta. Argh! Nota Zero.
   ADEUS, PRIMEIRO AMOR de Mia Hansen-Love
A jovem diretora francesa diz em entrevistas que Truffaut e Rhomer são seus mestres. De Rhomer não há nada em seu filme, de Truffaut há muito: delicadesa nas imagens, suavidade na edição, interesse genuíno pelos sentimentos. Na história simples e dolorida de um amor adolescente ( inocente ), há a constatação de que bom cinema é ainda possível. Bonito. Nota 7.
   LAWRENCE DA ARÁBIA de David Lean com Peter O'Toole, Omar Shariff, Alec Guiness, Anthony Quinn, Jack Hawkins
Qual o segredo de Lean? Este filme tinha tudo pra dar errado: um herói antipático, um enredo que fala de um momento histórico que poucos conhecem, excesso de metragem, pouca ação para um filme pop e caro. E milagrosamente tudo deu certo: o herói se faz um enigma, o roteiro diz o que quer com clareza, a duração do filme parece a exata, e a ação é percebida como ação-interior. Sucesso de público, sucesso de crítica, sucesso de premiação. A união de arte e entretenimento. A beleza plástica e boas atuações. Peter O'Toole era um desconhecido, aqui se tornou uma estrela ( e esse é outro procedimento que graças a Lawrence se tornou uma regra, fazer uma super produção com vasto elenco de astros, mas colocando um novato promissor no centro ), sua atuação é multi-facetada, complexa, por mais que o vejamos, menos o entendemos. Peter seria sempre um ator especialista em homens divididos, um grande ator. Nota MIL.
   AS LIGAÇÕES PERIGOSAS de Stephen Frears com Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Uma Thurman, Keanu Reeves
A trilha sonora de George Fenton é feita de belas fugas. A fotografia é do melhor fotógrafo de cinema dos últimos vinte anos, Philippe Rousselot, e o roteiro de Christopher Hampton ganhou todos os prêmios em todos os festivais. Este filme concorreu a vários Oscars, mas era o ano de Rain Man... De qualquer modo, revendo-o agora, após tanto tempo, seu impacto fica bastante diminuído. Em 1989 o considerei fascinante, hoje, após tantas obras-primas vistas em dvd, me parece apenas um bom filme. Glenn Close está maravilhosa em sua maldade, e na hora em que sente ciúmes, a transformação em seu rosto é fantástica. Malkovich não está tão bom. Seus olhos passam maldade, obsessão, mas não possuem a sedução que Valmont deve transparecer. Falta-lhe sexo envolvente, absorvente, o sexo que ele promete é frio e desinteressante. Michelle nunca foi tão bela ( poucas mulheres foram tão bonitas de um modo tão inocente ). O roteiro se baseia no famoso livro de Choderlos de Laclos, a história de um sedutor que é seduzido ( no livro, que é uma obra-prima, Valmont é muito mais cruel ), é o século XVIII, era de hiper racionalismo cínico, Valmont e sua amiga se divertem em seduzir e destruir. Stephen Frears continua a ser um dos mais interessantes dos diretores. Após este seu sucesso, ele voltaria ás produções pequenas ( por escolha pessoal ) e nos daria Os Imorais e Alta Fidelidade. Mas seu melhor filme é ainda The Hit, com Terence Stamp e John Hurt. Nota 7.
   O SEGREDO ATRÁS DA PORTA de Fritz Lang com Joan Bennett e Michael Redgrave
Uma milionária se casa com homem misterioso e passa a temer esse mesmo homem. Ele será um assassino? Este filme de suspense, que lembra dois ou três filmes de Hitchcock, não dá certo por vários motivos, os principais sendo o fraco roteiro e o desinteresse de Michael Redgrave. Ele é um excelente ator, às vezes mais que excelente, mas aqui dá pra perceber seu ar de tédio e sua expressão de sono. Joan se empenha, mas a mulher que ela faz é um cliché. Lang, é até ridiculo dizer, foi um dos grandes do cinema. Mas teve uma longa e irregular carreira. Ele era capaz de fazer uma obra-prima em janeiro e um lixo indesculpável em dezembro. Este não é um lixo, dá para se assistir até com algum prazer, mas não faz justiça a quem nele trabalhou. Nota 5.
   DESCONSTRUINDO HARRY de Woody Allen com Woody e mais Judy Davis, Billy Cristal, Tobey Maguire, Elizabeth Shue, Demi Moore, Paul Giamatti e Kirstie Alley
Quando o vi pela primeira vez, adorei. Mas ele não resiste a uma revisão. É enfadonho ( sou fã de Woody Allen, é triste dizer que ele é chato ), irritante até. Isso porque Allen nunca fez um "Woody Allen" tão sem graça. Ele passa do ponto e a história desse pequeno Dom Juan se torna um tipo de auto-elogio a uma alma atormentada. Quando ao final ele descobre que o culpado por seus fracassos afetivos não era ele, mas elas, a sensação que temos é de engodo. Ele era o culpado sim. Passamos hora e meia na companhia de um ser extremamente egoísta que nos entope com suas confissões nada interessantes. O pior lado de Woody Allen se mostra aqui: um hiper-narcisista que usa o cinema como sala de analista. Não me interessa sua dor, seu pessimismo. A familia que ele critica é um tiro pela culatra, eles parecem mais interessantes que ele mesmo. A relação com Shue chega a ser constrangedora. Judy Davis, grande atriz australiana, tenta e consegue dar vida ao fiapo de papel que lhe deram. Ela deveria ser Harry. Fujam!!!!! Nota 2.
   OUT OF AFRICA ( ENTRE DOIS AMORES ) de Sydney Pollack com Meryl Streep e Robert Redford
Os primeiros dez minutos anunciam uma obra-prima que ele não é. Nessas primeiras cenas há poesia e sentimento. Assim como no excelente final, digno de um grande filme. Mas as duas horas e meia que recheiam esses dois ótimos extremos, são "quase" grande cinema. Apesar de ter ganho um caminhão de prêmios, e de ter levado milhões de adultos ao cinema, Pollack erra em sua tentativa de fazer um filme à "David Lean". Pollack usa todos os ingredientes de Lean: uma longa história passada em lugar misterioso e exótico, ótimos atores, belíssima fotografia e trilha sonora grandiosa. Pontua tudo com cenas típicas de Lean, sol se pondo, um rio, um trem que passa. Mas porque, mesmo seguindo a receita, este filme nunca parece ser de David Lean? Qual o segredo de Sir David? Coragem. Pollack teme ser pouco pop e corta onde Lean deixaria alongar e alonga cenas que Lean cortaria. Quando Lean exibe uma paisagem ele se deixa relaxar, usufrui a beleza, nos faz entrar no filme. Pollack mostra a paisagem como quem exclama: -Olhem que bonito! E corta. Já Pollack estica diálogos sem interesse, cenas que Lean sempre interrompe para mostrar a vida lá fora. Bem...Pollack levou seu Oscar com este filme. Filme que se deixa ver, baseado em livro da grande Isak Dinesen, livro que conta sua experiência de plantadora de café na África. Meryl faz bem a escritora, mas há uma qualidade em Meryl que nunca mudou, a frieza. Admiramos Meryl Streep, não amamos. Redford é um caçador amigo e amante, homem radicalmente livre que adora ouvir as histórias que Dinesen lhe conta. Ele é a melhor coisa do filme. Redford é sempre bom de se ter numa produção. Nota 6.

KON ICHIKAWA/ POLLACK/ RISI/ MINELLI/ CLARK GABLE/ WALSH/ BURT LANCASTER

   A HARPA DA BIRMÂNIA de Kon Ichikawa
A segunda guerra acabou de terminar. Estamos na Birmânia e um soldado japonês, que toca harpa, tenta convencer grupo de soldados kamikazes a se entregar. Depois o acompanhamos em suas caminhadas pelo país. Sua jornada é ao mesmo tempo uma reportagem sobre os horrores da guerra e um mergulho em sua alma. Belíssimo filme de um dos grandes do Japão. O fato de filmes como este serem lançados em dvd dignifica e justifica a invenção do formato. Se o inicio desta obra parece banal, conforme ela se desenvolve seu crescimento se agiganta. Imperdível. Nota 9.
   A DEFESA DO CASTELO de Sidney Pollack com Burt Lancaster, Peter Falk e Patrick O'Neal.
Pollack em seu momento mais "artístico". O filme é maneirista. Cheio de zoons, cortes abruptos, som que invade a cena seguinte, pistas e rastros de simbolismos vários. Fala de um pelotão de soldados americanos que toma posse de um castelo belga para deter avanço nazista. Até aí tudo normal, mas o que vemos é um bando de yankees que desejam destruir o castelo. Lancaster faz o capitão do grupo. Uma de suas falas é exemplar "-A Europa não está sendo destruída, ela já morreu." Há em sua voz e em seu olhar um imenso desprezo pela arte que abunda naqueles salões, pelos nobres que lá moram. Seu desejo é vencer os nazis, mas também ver o castelo em ruínas. Falk faz um italo-americano, tudo o que ele quer é fazer pão na padaria da vila belga. O'Neal é um amante das artes patético. O filme está longe da perfeição, mas faz pensar e é original. De ruim a trilha sonora de Michel Legrand. Para onde foi esse Pollack tão ousado? Nota 6.
   A MARCHA SOBRE ROMA de Dino Risi com Vittorio Gassman e Ugo Tognazzi
Maravilhosa diversão. Estamos na Italia de 1920. Gassman ( excelente como sempre ), é um desempregado metido a malandro. Um colega, que agora se tornou fascista, o convence a se juntar ao partido. No inicio suas ações são patéticas, mas com o tempo eles terminam por matar. Tognazzi ( outro ator fantástico ), é um camponês que se une ao grupo, mas ao contrário de Gassman, ele tem dúvidas. Todos tentam chegar em Roma, onde haverá um grande comicio dos fascistas. O filme é uma estupenda comédia. Faz aquele misto que o cinema italiano tão bem sabia fazer, une coisas muito sérias com o riso, une emoção com educação. O filme não tem um só momento ruim. Nota 9.
   A RODA DA FORTUNA de Vincente Minelli com Fred Astaire, Jack Buchanan e Cyd Charisse.
Um dos meus filmes favoritos. De todos os gêneros de cinema, em termos de prazer puro, nada se compara ao musical. União de design, ação, humor, teatro, dança e melodia, o musical quando acerta é completo. Este é um deles. Astaire dança pouco, mas as músicas são todas coisas de gênio. Clássicas. A meia-hora final, toda em musica e dança é delirantemente deliciosa. É um dos que eu levaria para uma ilha deserta. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
   O CAMINHO DO GUERREIRO de Sngmoo Lee com Geofrey Rush, Kate Bosworth e Danny Huston
O céu é uma coisa amarela. Os cenários são todos como desenhos de graphic novel. Cada faca ou tiro desferido é fake e o sangue abunda em vermelho rubi. A luz que ilumina as cenas parece doentia, é de um azul cobalto viciado e putrido. A história, algo a ver com vingança em vila de western, chega a ser irrisória. Como é possível um adulto escrever algo tão ruim? Uma certeza: OS PIORES FILMES DA HISTÓRIA DO CINEMA ESTÃO SENDO FEITOS AGORA. Impossível negar, é o fundo do poço. Filmes ruins sempre foram feitos. Mas nunca tantos em tão grande ruindade. E o pior, tão caros. Nota(.........)
   TO PLEASE A LADY de Clarence Brown com Clark Gable e Barbara Stanwyck
É sobre um muito macho piloto de fórmula Indy. Interesse principal: corridas de Indy em 1950 muito bem filmadas. Os caras corriam sem capacete, sem barra Sto. Antonio e sem cinto de segurança!!!! E vestidos de camisa pólo!!!! As pistas não têm guard-rail e o piso é de areia dura. Haja cojones!!!!!! Gable faz, com seu jeito de machão protetor e decidido, um piloto arrogante. Barbara é a jornalista snob que cai de amores por ele. A gente vê o filme e torce por mais cenas de corrida. Elas logo vêm, são muitas. Boa diversão. Nota 6.
   TRÊS DIAS DE GLÓRIA de Raoul Walsh com Errol Flynn e Paul Lukas
Errol Flynn em seu primeiro filme após problemas com a lei ( uma acusação de estupro de uma menor ). Faz um condenado a guilhotina que troca sua execução pela vida de cem franceses. Como? Se entregando aos nazis como sabotador francês procurado. O filme é totalmente inverossímel. Mas Errol e Walsh eram profissionais maravilhosos. Gostamos de olhar e ouvir Errol Flynn, e Raoul Walsh tinha o dom do corte na hora exata. Nota 6.

PRISCILLA/ FUTEBOL/ POLLACK/ NOIR/ CHRISTOPHER REEVE/ SNOOPY

FALSTAFF de Orson Welles com John Gielgud, Jeanne Moreau, Marina Vlady
Com seu ego mastodontico, Welles mistura duas peças de Shakespeare centrando tudo em Falstaff, o gordo e alegre rufião. O filme é quase incompreensível. Tem uma genialidade: seus cortes. O filme tem tanta agilidade visual que chega a nos deixar tontos. Mas fora isso... nota 4
PRISCILLA, A RAINHA DO DESERTO de Stephan Elliot com Terence Stamp, Guy Pearce e Hugo Weaving
Este filme anuncia fenômeno interessante dos nossos tempos: a transformação do travesti em um tipo de herói infantil. Como provou o big brother, o gay fofo é hoje um tipo de herói para crianças. Se tornou um tolinho inofensivo. Os Dzi-Croquettes devem estar se revirando entre sua escatológica purpurina.... Mundo onde tudo ( sex, drugs e rocknroll ) se torna, cedo ou tarde, conformismo. Bem...aqui está um filme gay sem sexo. É bacana a paisagem dessa absurda Austrália e Stephan sabe dirigir, como mostrou em seu recente EASY VIRTUE, mas é tudo tão fofo, eles são tão crianças que chega a enjoar. Os atores, principalmente o grande Stamp, são inspiradas escolhas, nenhum deles sabe rebolar. E viva o ABBA!!!! nota 5
AUSÊNCIA DE MALÍCIA de Sidney Pollack com Paul Newmann, Sally Fields e Melinda Dillon
Porque este filme me emocionou tanto? Vamos a história: jornalista ( Sally, excelente ) é usada pela polícia. Ingenuamente ela pega notícia vazada e a publica. Isso faz com que a vida do investigado ( Paul ) se torne um inferno. Qual a culpa dele? Qual a culpa dela? Aqui o jornalismo é mostrado em todo seu comércio, ela não consegue parar de produzir notícia, ele acaba por engendrar uma forma engenhosa de colocar todos a nú. Este filme magnífico, vencedor do Oscar de roteiro ( Kurt Ludke ) é dirigido com a habitual eficiência por Pollack e mostra Paul Newman em plena forma. Sua primeira aparição, entrando na redação do jornal, em termos de autoridade e carisma viril coloca até Eastwood no bolso. Há ainda uma perturbadora atuação de Dillon como uma amiga frágil de Newman. Um muito grande filme. Nota 8
EM ALGUM LUGAR DO PASSADO de Jeannot Szwart com Christopher Reeve, Jane Seymour e Christopher Plummer
Um fracasso na Europa e nos EUA, estranhamente este filme se tornou clássico em dois países: Brasil e Japão. É porque essas duas culturas tão absolutamente opostas se encontram apenas naquilo que aqui é mostrado: a crença na influência dos mortos sobre os vivos. Este filme marcou toda uma geração que tem hoje entre 40/50 anos. Fala de volta no tempo, de amor eterno, de fantasmas. Mas atenção: se voce sofreu uma tristeza amorosa séria recentemente fuja dele. É um dos mais deprimentes filmes já feitos. Defende o suicidio abertamente. Só na morte o amor pode viver. No mais, Reeve tinha um rosto tão inocente que chega a comover. Faz muita falta um ator com essa imagem de caráter. Falar dos furos do roteiro de Matheson é como falar dos furos em Batman ou em Matrix, perda de tempo. Este filme não deixa de ser uma refilmagem muuuuuuito empobrecida e simplificada do genial RETRATO DE JENNIE, esse sim, filme que faz de crente até o mais ateu dos cinéfilos. Nota 5
NASCIDO PARA MATAR de Robert Wise com Claire Trevor, Lawrence Tierney e Walter Slezak
Filme noir. O que é um filme noir? Os criticos discutem faz tempo uma definição. Falam de sombras, de mulher fatal, de crime. Mas acima de tudo falam de destino, de ser preso num destino imutável. Aqui temos um dos melhores noir já vistos. E não tem nenhum herói, todos são ruins. Fala de um sádico assassino que se casa com milionária ingênua mas que tem caso com a irmã dessa milionária. O filme é bem sexy: todas as mulheres caem de tesão por ele. Dizem todas que sentem atração por seu jeito do mal. Wise dirige economicamente. O filme não se prolonga em bobagens, as coisas acontecem. Há um maravilhoso detetive feito por Slezak que é símbolo do roteiro: até ele se vende. Uma maravilhosa diversão no gênero mais amado ( e que menos envelheceu ) de Hollywood, o noir. Nota 9.
DUELO DE CAMPEÕES de David Anspagh com Gerard Butler e Wes Bentley
Em 1950, nos EUA, em St. Louis, forma-se um time de soccer. Eles virão ao Brasil, disputar a copa do mundo. Problema: futebol nos EUA é completamente amador. Os atacantes são cozinheiros ou coveiros. Nem uniforme eles possuem. Mas treinam e embarcam. Na copa eles serão protagonistas da maior zebra da história do esporte ( de qualquer esporte ) vencerão o time mais profissional do mundo, a Inglaterra. Uma pena os americanos não amarem o futebol. Uma pena o Brasil não saber filmar aventuras. O futebol mereceria filmes como os tem o box, o beisebol, o automobilismo, o hoquei e até o hipismo. Este filme é decente. As cenas de jogo são boas, e melhor, o Rio de 1950 é muito bem recriado. O jogo com os ingleses, que na verdade foi em Belo Horizonte, é filmado nas Laranjeiras. Os EUA vencerem os ingleses em 50, seria hoje como o time de rugby do Brasil vencer a Nova Zelândia. Ou um time de basquete da Bolivia vencer os EUA. Dá pra entender? Amadores vencendo profissionais famosos. Hoje seria impossível. Na época já foi impossível. Um milagre. Como filme ele é só ok. Faltam atores de mais carisma, de mais personalidade. Se feito com os jovens Paul Newman ou Nicholson seria maravilhoso. Mas vale conhecer este filme, que foi filmado realmente aqui e que respeita muito nosso país. Nota 5
CHARLIE BROWN de Bill Melendez, música de Vince Guaraldi
Saiu o dvd duplo com os primeiros Peanuts para tv. Nada existe de melhor. Schulz era um gênio. É ver e crer. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O MILAGRE DE ANNIE SULLIVAN/ OPERAÇÃO FRANÇA/ EDUCAÇÃO/ O CORCEL NEGRO

O MILAGRE DE ANNIE SULLIVAN de Arthur Penn com Anne Bancroft e Patty Duke
Eu resistí muito a assistir este filme. Sabia sobre a peça na qual foi baseado. A história real de Helen Keller, menina surda-muda e cega, que com a ajuda de Annie Sullivan se torna não só "um ser-humano" como uma intelectual. Eu imaginava uma chatice melosa e edificante. Nunca é.
Já nos letreiros de abertura vemos que o clima é outro : seco. Mas não é só isso. O filme, com brilhante fotografia de Ernest Caparras e trilha perfeita de Laurence Rosenthal, é dirigido com soberba garra pelo então jovem Arthur Penn, que faria cinco anos depois BONNIE E CLYDE.
Helen nasce em rica família do sul, século XIX. É mimada por pai e mãe e é esse o maior empecilho que Annie deverá vencer, disciplinar a criança. A própria Annie é uma ex-cega, interna de orfanato, extremamente sofrida. O encontro de Annie e Helen, uma desafiando a outra, brigando e vencendo, é das coisas mais poderosas já vistas em palco ou tela.
Veja a cena em que Annie ensina Helen a usar o garfo. São oito minutos, em edição de gênio, em que Bancroft e Duke se engalfinham em feroz luta física. As atrizes chegam ao limite. Nós chegamos ao limite de nossa empolgação. O filme, ele próprio um milagre, jamais chantageia, jamais lacrimeja, chega até a fazer rir, é obra de inspiração.
Perfeição : Cenas da memória de Sullivan, pesadelos granulados, desfocados, de arte suprema. O confronto com o pai de Helen, embate entre duas atuações perfeitas, e acima de tudo o trabalho de Bancroft e de Duke. Se alguém disser se tratar de as duas maiores atuações da história do cinema não estará longe da verdade.
Anne Bancroft levou o Oscar por este filme. Bateu Kate Hepburn, Bette Davis e Geraldine Page nesse ano muito forte. No futuro seria a miss Robinson de A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM. Atriz de teatro ( considerada na Broadway a top ) casada com Mel Brooks ( que belo casal !!!! ) nunca quiz ser a star que poderia ter sido. Seu desempenho é coisa de pura genialidade. Uma mulher fortíssima e cheia de dor, de uma teimosia de rocha e na maravilhosa cena final ( um "I LOVE " jamais foi dito com tal emoção ! ) digna de uma feiticeira. Voce jamais deixará de amar Anne Bancroft após esta atuação.
Patty Duke também ganhou seu Oscar nesse filme. O que pode ser dito é que ela enfrenta Bancroft e não é vencida. Papel difícil ( sem voz e sem olhar ) nos comovemos mas não sentimos pena. E isso é nobre : nunca sentimos pena de Keller. Torcemos, mas não sentimos pena. Patty tornou-se a queridinha da América com esse papel. Mas na sequencia veio a era Hippie e Patty se perdeu na loucura da época. O que está aqui gravado para a eternidade prova sua gigantesca magnitude. O encontro das duas, a briga sem trégua, faz com que a tela exploda.
O tema do filme é vital. Professores e psicólogos ( e pais ) se identificarão de forma visceral. Trata de educação. Mas vai fundo. Toca no que significa ser um humano. E mostra que ser humano é nomear as coisas. A batalha : como fazer alguém que nunca enxergou ou escutou entender uma palavra ? Despertar o cérebro, como ? Sullivan primeiro a domestica, treina suas respostas à sinais. Keller aprende, como um cão, que tal sinal significa um bolo e tal sinal significa mãe. Mas isso é treino, reação automática. Na mente de Keller ainda não há o conceito abstrato, a descoberta de que TUDO tem seu nome. Essa iluminação se dá no final do filme, numa das cenas mais lindas e críveis do cinema. Helen Keller entende que nomear não é reagir a um sinal, que tudo é um nome PARA ELA, que as coisas existem e que ela existe !
Não descreverei essa cena. É de uma simplicidade e de uma beleza exemplar. Marca sua vida e sua consciência do que seja viver. Engrandece a arte do cinema.
Este filme, titanico, incrivelmente baseado em fato real, é milagre de precisão, de honestidade e de humanismo.
Porque não se fazem mais filmes como este ? A resposta é simples : porque não existe mais gente como Penn, Bancroft e Duke.
Ah sim, o filme perdeu os prêmios de filme e direção para LAWRENCE DA ARÁBIA. Preciso rever o filme de David Lean. Nota.... como dar um número a tal jóia de humanidade pura ? I LOVE HELEN.

A MARSELHESA de Jean Renoir
De todos os grandes nomes amados por cinéfilos ( Dreyer, Ozu, Bresson, Murnau ) nenhum é mais decepcionante que Renoir. Ele tem bons filmes, mas está longe da profundidade de Dreyer ou da beleza de Murnau. Nota 2.

O CORCEL NEGRO de Carroll Ballard com Mickey Rooney, Kelly Reno e Teri Garr
Plásticamente é uma obra-prima. Beleza e ritmo, poesia simples e nada pretensiosa. Um imenso prazer assistir este filme muito infantil e muito vital. O comentei abaixo. Leia. Nota Dez.

EDUCAÇÃO de Lone Scherig com Carey Mulligan, Peter Sarsgard e Alfred Molina
A elegancia abunda. 1960 é época de suprema beleza. Roupas e modos nos trazem testemunho do que perdemos com o vale tudo de maio de 68. Colocar um cara de bermudas e tênis ou uma menina de havaianas e short naquelas cenas seria o equivalente a tocar pagode na capela Sistina.
O filme mostra menina boa aluna se apaixonar por espertalhão mais velho. Há um problema de roteiro. Tudo o que acontece é óbvio demais. E, sinal dos nossos tempos, não podemos ver sequer um beijo entre os dois ! Sexo hoje só em filmes "chocantes".
A atuação de Carey é ok e de Peter é menos que isso. Molina dá um show como o pai. A cena em que ele tenta consolar a filha é gigantesca. Único momento em que o filme toca o sublime. No mais é um bonito passatempo que até termina bem com sua defesa ( conservadora mas verdadeira ) da educação.
Tem gente que pergunta o porque de naquela época a França ter uma força cultural tão grande e hoje ser tão pequena. Simples resposta : a educação era melhor. Não era técnica, era humanista. Não se formava um bom profissional, se formava um homem culto. Um país que sempre amou a arte, a narrativa e a discussão era centro de atração.
O filme é nota 6.

ESTA MULHER É PROIBIDA de Sidney Pollack com Natalie Wood, Robert Redford e Mary Badham
Texto menor de Tennessee Willians. Natalie é bonita, mas está péssima no filme. Ela faz uma vulgar sedutora de homens ( transa com toda a cidade ) aliciada pela mãe cafetina. Redford, correto como sempre, faz o "despedidor de funcionários " que se encanta por ela. Como o texto é de Willians esperamos o trágico. Pollack o suaviza. O filme é todo errado. Tenta escapar da tragédia, fica num edulcorado novelão. De bom a fotografia do gênio James Wong Howe e a atuação da estranha Mary Badham como a irmã mais nova que se aliena. Nota 6.

OPERAÇÃO FRANÇA de William Friedkin com Gene Hackman, Roy Scheider e Fernando Rey
Eis o grande ganhador do Oscar de 1971. Friedkin, antes de Coppolla e Scorsese foi o cara da turma jovem que venceu. E também foi o primeiro a pirar. Este filme policial é soberbo. Em cada fotograma percebemos a vaidade e arrogância jovem de seu diretor. Tudo é cheio de toques ousados, de invenções, de violência e de confiança.
A história trata de dois policiais em busca de drogas. Gene Hackman que ganhou seu primeiro Oscar aqui, faz Popeye Doyle de forma suja, feia, maníaca. É um herói muito desagradável. Funciona. Se tornou um personagem mítico. O filme, com trilha sonora dura e estridente, tem sangue, perseguições pela cidade imunda, cãmera na mão e inquieta, cenas que parecem de documentário. Inaugura o moderno cinema policial americano. Bebe em Jean-Pierre Melville.
Há uma longa perseguição pelo metrô que é ápice de técnica. Ironia do filme : ele inaugura também o domínio da técnica pura sobre a inspiração. O filme é frio. Mecanismo que funciona excelentemente, mas é um mecanismo. Não pensa.
Mas é forte, viril, e tem o frescor de ser o primeiro, o descobridor. Vemos nele o futuro do cinema. Futuro que é o nosso agora. New York nunca foi tão feia. Nota DEZ.