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The Lubitsch Touch | Cinema | Showcase

A RAINHA DAS OSTRAS E NÃO QUERO SER HOMEM, DOIS FILMES DE ERNST LUBISTCH

Dois filmes que têm um século de idade, dois filmes de Ernst Lubistch. Duas pequenas joias que ainda hoje divertem. Melhor, possuem o delicioso sabor da civilização vienense alemã dos anos 20. ---------------- Ambos são livres e alegres fantasias. Na Rainha das Ostras, o melhor dos dois, a filha mimada de um milionário americano, resolve querer casar com um nobre. O pai lhe arruma um, mas há um erro nisso. Todo o futuro cinema de Preston Sturges e de Billy Wilder ( Wilder idolatrava Lubistch ) estão aqui. Até mesmo há algo de Marx Brothers. Os rostos engraçados, os exageros sem pudor, a fantasia cômica, a ironia, a inteligência dos alvos. Mais que engraçado é um filme feliz. -------------- Não Quero ser Homem é uma farsa. Uma menina, rica, reprimida, se disfarça de homem para viver a vida. Cai na farra e nisso seu tutor se apaixona pelo "rapaz". Nada é mais Berlin 1920 que essa confusão de gênero sexual. Os atores dão um show é o roteiro é uma montanha russa. ---------------- Lubistch fugiria do nazismo e se tornaria o rei da Paramount. Enquanto vivo seu poder era ilimitado. Nos EUA ele influenciou toda a comêdia feita por lá. Trouxe malícia, sexo, e uma finesse absoluta. Morto nos anos 40, deixou Wilder como seu herdeiro, mas não se engane, Wilder é muito mais plebeu, grosso, sem medida. Não sei se voces conseguirão ver esses filmes no Tube, mas vale muito a pena. Ótima dica para quem não gosta de filmes mudos e quer tentar mudar seu conceito.

A RONDA, O MAIS CIVILIZADO DOS FILMES. QUEM O FEZ? MAX OPHULS, QUEM MAIS SERIA?

   E esse filme poderia ser usado como um tipo de teste. Colocar para alguém assistir e observar sua reação. Quanto mais ele gostasse e penetrasse em seus prazeres, maior o nível de civilidade ela passaria a poder ostentar. Jamais em toda minha vida, pude ver, ouvir ou presenciar tamanha dose desse valor hoje tão raro, a civilidade. O prazer que essa obra prima me ofereceu é digno da maior gratidão, aquela do amor.
  Demorou para encontrar esse filme mítico. Tive uma cópia estragada, agora achei afinal uma perfeita. Lá está a fotografia de Matras, e o cenário, um dos melhores do século, de D Aubonne. Cenário imenso, propositadamente artificial, um imenso cenário que gira, que tem ruas, pontes, praças, montes de fachadas, dúzias de interiores, quartos, todos detalhistas, preciosos, uma festa sonhadora para os olhos.
  Lá estão os atores. Anton Walbrook faz o apresentador. Ele conduz a ação. Nos dá o contato às histórias interligadas, todas formando um carrossel, o carrossel sexual do amor. Sim, amor que aqui é sexo, sexo assumido, o filme, como se mostra numa cena de humor, é bastante ousado para seu tempo. Afinal, trata-se da melhor adaptação de Schnitzler da história. A Vienna dos prazeres, da cama, dos restaurantes, da hipocrisia e desse humor que faz a vida rodar e valer a pena. Simone Signoret é uma puta de rua. Serge Reggiani um soldado que a pega. E depois vem Simone Simon como uma empregada linda. Há uma cena de sedução com seu patrão onde ela exibe uma malicia saudável que ecoa até hoje. Observe o olhar que ela dá! Apaixonante! E tem Barrault fazendo um poeta exagerado que nos deixa cheios de risos e de admiração pela arte desse ator de gênio. E muito mais! Um Fernand Gravey austero e fixo, um Gerard Philipe comedido e romantico... O filme flui nessa profusão ritmica de belas falas, grandes atores, cenários magnificos e a direção...
  Hora de falar de Max Ophuls. Delicado gênio de Vienna. O que seria do cinema sem essa cultura do império austríaco de 1910? Não teríamos Ernst Lubistch, Billy Wilder e Max Ophuls. Dentre muitos outros. O cinema não conheceria o humor vienense, o luxo de Vienna, o modo de ver a vida como uma confusão de desejos e de armadilhas. Max foi dos 3 o mais infeliz. Fugiu da guerra e em Hollywood se deu muito mal. Ao contrário de Lubistch, que se tornou o rei da Paramount, e de Billy, que se sentiu em casa na América, Max nunca se adaptou. Ele manteve as raízes e os filmes que fez em Hollywood fracassaram. Voltou à Europa e na França fez seus melhores filmes. Madame D... é o melhoir, mas este chega muito, muito perto. A câmera, no estilo tipico de Ophuls, dança por entre as pessoas e o cenário, objetos se interpõe entre a lente e os atores, a imagem se distorce e a história flui num tipo de sonho prazeroso com ameaças de dor. É uma festa! Fácil entender o porque de tantos jovens diretores que não o conheciam, conheciam só de nome, se encantarem com ela agora, no tempo do dvd. Max é único! Nenhum outro se parece com ele. E mesmo em Hotel Budapeste, o filme mais Ophuls de Anderson, o estilo de Max aparece apenas em breves citações ( O que mostra o valor de Wes Anderson. Ele nunca tentou o imitar. )
  Chega de falar que eu quero o rever! Grandes filmes nos dão vontade de viver dentro dele. E este, com sua civilidade, beleza, extrema delicadeza e verve, promete um universo de encanto glamuroso. Dizem que Baz Luhrman tenta ser o Ophuls de seu tempo. A diferença entre os dois mostra a diferença entre nossos tempos. O que em Baz é histeria aqui é luxo. O que em Baz é exagero aqui é precisão. Baz nos dá um carnaval, Max um passeio. No mais belo dos lugares, seus filmes.
  Eu vos convido. Assistam e se testem. Acho que passarão...

CARY GRANT/ KEN LOACH/ LUBITSCH/ INGRID BERGMAN/ GARBO/ NON

   DON JUAN de Alan Crosland com John Barrymore
O grande Barrymore faz o grande Don Juan. Enorme produção da Warner, cenários gigantes, milhares de figurantes. Cinema mudo pop, quem desejar se iniciar nesse tipo de cinema tem aqui um bom começo.
   FATHER GOOSE de Ralph Nelson com Cary Grant, Leslie Caron e Trevor Howard
Despedida de Cary Grant do cinema. Em 1964, ano deste filme, Grant tinha 60 anos e se achava velho demais para as telas. Ainda no auge da fama, ele encerra sua glória sem conhecer a decadência. Aqui ele faz um beberrão solitário, morador de ilhas isoladas nos mares da Austrália. Mas esse ranzinza é obrigado a tomar conta de ilhota na segunda-guerra. Por lá surgem alunas de colégio feminino e sua professora. O filme se deixa ver. Tem bons diálogos e consegue criar empatia. Mas o romance é forçado. Cary consegue ser elegante até neste papel desglamurizado. Vê-lo é uma alegria. Sempre. Nota 6.
   PARA ROMA COM AMOR de Woody Allen
Um dos filmes mais preguiçosos de Woody. O roteiro é pífio, os atores estão á toa, diálogos pobres, e o pior de tudo, nenhuma das histórias tem um mínimo de interesse. Uma delas poderia dar um belo filme, aquela do cantor de chuveiro. Mas é tudo travado pela falta de inspiração. Salva-se a beleza da cidade. Roma é uma mulher. Nota 1.
   SÓCIOS NO AMOR de Ernst Lubitsch com Miriam Hopkins, Fredric March e Gary Cooper
Delicioso. Num trem, uma mulher conhece dois amigos, um pintor e um escritor. Ela amará os dois, ao mesmo tempo, e todos serão amigos sempre. Ernst destila seu jeito alegre e fluido de filmar. O texto é de Ben Hecht baseado em Noel Coward. E os três atores são tudo aquilo que os anos 30 pediam: reis do charme. March tem talento e verve, Cooper foi o ator mais bonito da história do cinema. Ernst Lubitsch junta as partes com seu modo "vienense" de orquestrar.  Uma diversão admirávelmente alegre. Nota 9.
   VIAGEM À ITÁLIA de Roberto Rosselini com Ingrid Bergman e George Sanders
Casal viaja pela Itália. A crise entre os dois irrompe. Este filme, um absoluto fracasso em seu tempo, é tido hoje como uma das obras-primas de sempre. Rosselini filme on the road, há improviso, há desglamurização. É um filme adiante de seu tempo. Nota 5.
   OS SINOS DE SANTA MARIA de Leo McCarey com Bing Crosby e Ingrid Bergman
Ingrid foi eleita em 2010 a segunda maior estrela da história do cinema. Suéca, estourou com Casablanca e até 1949 foi a queridinha do público americano. Viam-na como a perfeição, a moça simples, culta e casada com um médico suéco. Mas em 49 ela conhece Rosselini, casado, e os dois abandonam seus lares para viver juntos. A carreira de Ingrid quase acabou. Voltaria triunfalmente em 1956, com Oscar por Anastácia. Aqui ela faz uma freira durona. Bing Crosby repete o padre de Going My Way. O filme é todo relax, sem grandes dramas. Parece filmado em ritmo de oração. Bem-humorado, assistimos ao cotidiano comum de gente sem nada de muito especial. McCarey foi um dos mais famosos diretores da época. Seu cinema anda meio esquecido hoje. Nota 6.
   ROTA IRLANDESA de Ken Loach
Um ex-soldado irlandês procura entender o que houve com um amigo que foi morto no Oriente. Tudo é uma trama de grupo que controla negócios no país árabe. Não é um dos grandes filmes de Loach, mas mesmo assim é um bom filme de ação. Os atores se entregam, a violência está no ponto certo. Ken Loach continua sua carreira de independência e de consciência social. É um mestre. Nota 7.
   SANGUE E AREIA de Rouben Mamoulian com Tyrone Power, Linda Darnell e Rita Hayworth
A história de um toureiro arrogante. O filme tem pouco touro e muito espanholismo da Fox. Tyrone convence como espanhol e como macho, mas o filme é enjoativo. Tudo é muito over, muito colorido demais. E pior, a Espanha se parece com um tipo de fiesta mexicana para turista. Nota 3.
   NON OU A VÃ GLÓRIA DE MANDAR de Manoel de Oliveira
Soldados em Moçambique. São os últimos dias de Portugal na África. Eles conversam. E cenas da história de Portugal são revistas. A história portuguesa é fascinante. Tem fatalismo, derrotas, vitórias impossíveis e desencantos às toneladas. O filme é surpreendentemente bom. Para quem odeia o cinema de Manoel, este filme pode fazer com que voce mude de ideia. Ou pelo menos vai te deixar acordado. Nota 5.
   O VÉU PINTADO de Richard Boleslawski com Greta Garbo e Herbert Marshall
Baseado em Somerset Maugham, tem as marcas do autor: exotismo e amor frustrado. Uma mulher se casa com médico. Mas logo ela se enamora de outro. O marido descobre e a castiga a fazendo o acompanhar a região chinesa onde o cólera domina. Todos sofrem, e o filme compensa isso com imagens de sombras e de beleza. Garbo é incomparável e isso pode não ser um elogio. Ela é grande, forte, masculinizada, tem um sotaque forte. Mas domina a tela, a ilumina. Eu adoro o melancólico Herbert Marshall. Um dos atores ingleses fetiche da época, com sua voz nebulosa e seus modos lentos e pesados. Nota 6.
  

GOD SAVE NOEL COWARD!!! ( PARA ROMA COM AMOR E DESIGN FOR LIVING, UMA COMPARAÇÃO )

   Uma moça conhece dois homens num trem. Os dois homens são amigos. Um é pintor, o outro, autor de teatro. Ambos pobres. Ela passa a amar aos dois. Dorme com um, dorme com outro. Casa-se com um, volta ao outro. Os amigos se tornam famosos e ricos. Ela realmente ama aos dois. E os dois amigos são realmente amigos. Jules e Jim? Longe disso! Isto é muito melhor! É Noel Coward. Design for Living, peça desse deslumbrante e muito chique autor inglês, aqui em adaptação de Ben Hecht e direção de Ernst Lubitsch. Filme de 1933, ou seja, antes do código de censura. É um filme malicioso, apimentado e que fica todo o tempo discutindo sexo, inclusive com referências ao orgasmo.
   A primeira cena é um primor. Sem um só diálogo somos apresentados ao trio. Conhecemos sua personalidade, vemos sua individualidade. Em cinco minutos, mudos, já os conhecemos. Mais que isso, são "pessoas", parecem de verdade, embora nunca deixem de ser especiais, interessantes. Há aqui a conjugação mágica: um grande texto, um diretor de gênio e atores de estrela. Assistir este filme após a babaquice de Woody Allen é um alivio.
   Woody Allen é um grande diretor. Que erra muito. E acerta também muitas vezes. Hannah e Manhattan são obras-primas ( entre outras ) e O Dorminhoco é hilário.( entre outros ). Mas o que ele faz em Roma? Nos engana. Não existe um só diálogo interessante e pior, os personagens são mortos. São arremedos de um rascunho mal feito. Temos então a história com Penelope Cruz que não diz ao que veio. A história de Roberto Benigni que poderia ser boa, mas que não é desenvolvida e se faz uma tolice atroz. Pior de todas, a imbecilíssima historieta do cara que se apaixona pela amiga da esposa. Woody já contou isso um milhão de vezes. Aqui temos um roteiro tosco e um grupo de atores que me deixa irritado de tanto tédio.  A única boa piada é a do cantor de banheiro. Que não leva ou vai a lugar algum.
   O filme, em seus primeiros minutos, ameaça ser um novo TODOS DIZEM EU TE AMO ( que é um muito prazeroso filme ), mas logo desaba. Onde TODOS DIZEM tinha prazer, refinamento e personagens adoráveis, aqui temos um vazio absoluto. Mas apesar de tudo, algo sobrevive a este desastre, a beleza esfuziante de ROMA. Deus! Que cidade linda!!! As cores das fachadas, as vielas, as igrejas da renascença que parecem sorrir para nós. Roma realmente é única, é quente, é a cidade da beleza.
   Noel Coward foi o primeiro superstar. O que entendemos de estrela da midia foi criação dele. Cantava, compunha, fazia cinema e teatro, era critico e era "famoso". E muito, muito chique. Nos anos 90 se fez um disco em homenagem a Noel. Procure. Tem de Kd Lang à Pet Shop Boys.
   Ernst Lubitsch foi uma estrela do cinema mudo alemão. Fugiu para os EUA e se tornou o rei da Paramount. Dizem que foi ele que inventou o que conhecemos como "cinema de classe". Billy Wilder o idolatrava. Como também William Wyler, Preston Sturges e até Hitchcock. Lubitsch era malicioso. Seus filmes têm um toque de "doce vienense", de cabaret de Berlim, de cultura popular do Império Austro-Húngaro. São fábulas sexy com humor adulto.
  Design for Living tem Gary Cooper, Fredric March e Miriam Hopkins. Nenhum deles é inglês. E nem tenta ser. Cooper é belo e elegante. March é bom ator e intenso. Miriam é maliciosa. Precisamos do que mais?
  Quem quiser conhecer o soberbo cinema dos anos 30 tem aqui uma chance. É um filme que pode ganhar aficionados. Uma jóia.
  Quanto a Woody...evite ROMA.
  PS: Woody Allen faz a personagem da "amiga" citar Yeats. Nem meu poeta favorito salva a coisa. Além de me parecer uma forma tola de se tentar dar substãncia a personagens rasos. Alec Baldwin cita a "Sindrome de Ozymandias". Ozymandias é um poema, lindo, de Shelley. Alec é ótimo ( e está desperdiçado ) e Shelley é gênio.... e daí?
  PS2: Tenho um amigo que tem uma tese: a de que sou um gay enrustido. Afinal, diz ele, como um fã de Oscar Wilde, Noel Coward, Evelyn Waugh, Henry James, Roxy Music e Bowie pode não o ser? Bem, ele esqueceu Secos e Molhados e My Fair Lady. Meu amigo, isso revela preconceito de sua parte. Então é proibido a um hetero amar Fred Astaire e entender de pintura pré-Rafaelista? De qualquer modo me pego pensando às vezes nisso, o porque de eu gostar tanto de escritores, musicos, ícones de um certo verniz gay. E chego ao humor. Essa coisa "witt", essa atitude cinica, essa elegãncia anos 30, isso me agrada muito. Se são valores gay ou não, que importãncia isso tem?
   PS3: ah sim, eu adoro Cazuza! E Cole Porter.


AL PACINO/ DUSTIN HOFFMAN/ LUBISTCH/ CAPRA/ ERROLL FLYNN/ KIRK DOUGLAS

ZOMBIELAND de Ruben Fleischer com Jesse Eisenberg e Woody Harrelson
Jesse tem filmado muito. Falta ator com sua idade? Sua forma de atuação é sonambulica. Vamos dar nomes aos bois? Isto não é cinema. Não que eu saiba o que seja cinema, mas isto não é. Talvez possa ser chamado de brincadeira de internet ou game em telão. Aquelas coisas: humor chulo, visual pseudo-moderno e umas gostosas com pouca roupa ( e nada sexys ). Anuncia e exemplifica a crise do cinema de agora. O horror, o horror.... Nota Vácuo.
THE MECHANIC de Simon West com Jason Statham, Ben Foster e Donald Sutherland
É de bom tom se colocar atores dos anos 60/70 em filmes bobos. Dá uma pretensa dignidade à coisa. IanMcShane, Peter Fonda, Robert Duvall, Jon Voight têm sido muito usados nesses pequenos papéis de brilho falso. Jason ( ator de quem eu gosto. Ele é limitado, mas tem um resto do resto daquela frieza de Steve McQueen ), é um assassino profissional ( ser killer virou profissão de glamour ). Ele é enganado e mata seu mentor. O resto é ação. Adoro filmes de ação e me convenço cada vez mais ( com a ajuda de certos pensadores gregos ) que o valor absoluto da arte está no prazer que ela nos dá. Este filme não é um grande prazer, com certeza, mas é hora de percebermos que filmes de ação são cinema de imenso valor. Nota 4.
A LONGA NOITE DE LOUCURAS de Mauro Bolognini com Jean-Claude Brialy, Elsa Martinelli, Rossana Schiafino
O roteiro é de Pasolini. E pasolinianamente, mostra o submundo reles de Roma. Jovens roubam armas, andam com prostitutas, vendem as armas, perdem o dinheiro, o recuperam, gastam tudo em boate, voltam pra casa. Bolognini foi digno representante dos diretores italianos classe b. Um vasto campo que abrangia de Risi à Rossi, passando por Zampa e Lattuada. Aqui é sedutora a imagem de uma Itália cheia de favelas, ruas de terra e muita fome. Ao mesmo tempo vemos o nascimento do consumismo e da americanização ( o filme é de 1959 ). Mas, como sempre acontece com Bolognini, ele se deixa levar por um certo tédio, o filme perde o ritmo às vezes, e alguns cortes lhe fariam bem. Nota 6.
O ESPANTALHO de Jerry Schatzberg com Gene Hackman e Al Pacino
Pacino nunca foi tão engraçado. Há uma cena de "assalto" que é hilária!!! Mas o filme, feito no auge da contracultura, é triste, melancólico. É sobre um ex-presidiário ( Hackman na atuação de sua vida ) que conhece um marinheiro ( Pacino, melhor que aqui, raras vezes ). Os dois pegam carona juntos e passam a dividir sonhos. Hackman faz um tipo explosivo, do mal. Pacino é inocente, quase um bobo. Há muito de Laurel e Hardy nos dois. Com o correr do filme, Hackman se humaniza e Pacino após choque terrível se torna catatônico. É um filme que ama seus atores. Os dois têm tempo para improvisar, criar personas, nos impactar. Relembrando o filme agora ( assisti-o sete dias atrás ) o que me ficou são seus rostos, comoventes. Árido e muito doído, é um filme para quem ama filmes. Nota 8.
MARATONA DA MORTE de John Schlesinger com Dustin Hoffman, Roy Scheider e Laurence Olivier
Fez sucesso na época este thriller sobre criminosos nazi na América dos anos 70. Hoffman é torturado, enganado, perseguido e não precisa atuar. Olivier é o nazi e recebeu indicação ao Oscar. Não brilha, apenas está lá grunhindo. Scheider está excelente como o irmão que se vendeu aos nazis. ( Os nazis são agora traficantes de diamantes ). Schlesinger dirigiu 3 obras-primas em seu auge. Este não é seu melhor momento. Nota 6.
LADRÃO DE ALCOVA de Ernst Lubistch com Herbert Marshall, Miriam Hopkins, Kay Francis, Edward Everett Horton
Quando Lubistch, já diretor famoso, foi convidado a trabalhar na Paramount, o cinema americano mudou. Ele trouxe charme vienense a Hollywood. Aqui, vemos um casal de ladrões aplicar um golpe numa herdeira futil. Tudo é escapismo, tudo é chic, tudo é prazer. O modo como os dois ladrões se conhecem ( um rouba o outro e é roubado então ) é aula de ritmo. Também demonstra em imagens o nascimento de um afeto. Herbert Marshall é um tipo de ator completamente extinto. Seus modos são tão elegantes que hoje ele passaria por gay-afetado. Dá para notar também o modo como toda fala remete a sexo, sem que nada seja realmente dito. Críticos costumam apontar este como o melhor filme de Lubistch ( e alguns dizem ser ele o melhor dos diretores ), não acho. É uma comédia maravilhosa, mas ele faria ainda mais no futuro. De qualquer modo, a circulação de filmes como este justifica a criação do dvd. Nota 9.
ACONTECEU NAQUELA NOITE de Frank Capra com Clarck Gable e Claudette Colbert
A comédia de Capra é radicalmente diferente da de Lubistch. Aqui tudo é mais direto, mais febril e muito mais "sensível". Capra nunca é cínico. Este imenso clássico fala de casal que se encontra em ônibos inter-estadual. Ela é milionária em fuga do pai para se casar com noivo interesseiro. Ele é jornalista desempregado. E o filme é exemplo de perfeição: nada falha, não há um só minuto sem interesse, tudo, roteiro, elenco, direção, funciona com naturalidade. Perfeito. O casal acaba por se apaixonar e isso é muito convincente. Vemos passo a passo o nascer desse amor. Boas histórias são assim: acontecem como destino invencível. Nos convencem de que Tem de Ser desse Modo. Gable era feio e desajeitado, e mesmo assim consegue ser sempre sexy e simpático. Colbert, a mais mignon das atrizes, está apaixonante. O que mais se pode querer? Nota DEZ!
CONTRA TODAS AS BANDEIRAS de George Sherman com Erroll Flynn, Maureen O'Hara e Anthony Quinn
Erroll já estava meio inchado pelo álcool, mas mesmo assim usa seu charme desinteressado e domina o filme. Que trata de espião ( Flynn ) enviado pela marinha inglesa ao covil de piratas ( Quinn e Maureen ). Não é a ação o cerne do filme, é a relação entre Erroll e Maureen, relação que funciona. O filme é hiper colorido, alegre e bem produzido. É este o filme pop pelo qual o cinema de uma dada época deve ser julgado. É o equivalente aos filmes de terror em série e as comédias teen de agora. É por esse cinema que se avalia a saúde de uma época e não por suas excessões. Este leva nota 6.
ULYSSES de Mario Camerini com Kirk Douglas, Silvana Mangano e Anthony Quinn
É a Odisséia feita em Cinecitta. Filme tolo, com coadjuvantes fracos, mas que mostra também a imensa força do mito de Odisseu. As cena de sua volta à casa como mendigo, do affair com Circe e da vingança final são emocionantes mesmo aqui. Mas o filme no geral é constrangedor. Nota 3.

OPHULS/ MORGAN FREEMAN/ CHABROL/ FORD/ LUBISTCH

LOLA MONTÉS de Max Ophuls com Martine Carol e Peter Ustinov
De longe é este o pior filme de Ophuls. Um longo e enfadonho exercício de pretensão. Sabe-se que ele teve problemas com a produção e que sua ambição era a de fazer um filme muito maior. Mas este painel sobre a decadencia de uma cortesã não tem ritmo, não tem gosto, tem falta de tudo aquilo que sempre fez a fama de Ophuls. Uma pena. Muita gente considera este filme um dos maiores da história. Onde? Nota 3.
A DAMA DO LAGO de Robert Montgomery com Audrey Totter
A idéia é arrojada: fazer um policial noir em câmera subjetiva. O herói jamais é visto ( só quando se olha no espelho ) a câmera é o olho desse detetive. Mas essa idéia não funciona. Queremos ver as reações do herói, queremos ver o ambiente onde tudo ocorre, nos cansamos de olhar para rostos que falam olhando para nós. Fato muito interessante: sem a distração de nossos pensamentos, o que olhamos numa conversa é absolutamente banal. O filme se torna árido, mas jamais indiferente. Audrey Totter tem uma sensualidade perversa eletrizante e o enredo tem tanta podridão que nosso interesse se mantém. Mas seria muuuuuito melhor se feito sem a tal câmera subjetiva. Nota 6.
SER OU NÃO SER de Ernst Lubistch com Carole Lombard e Jack Benny
Vamos ver se consigo explicar a história: na Polonia de 1939 ( o filme é de 44 ) uma trupe de atores judeus vê os nazistas invadirem Varsóvia. Sem teatro e na miséria eles acabam ( através de mirabolante e muito bem escrita história ) tomando o lugar dos verdadeiros nazistas e se passando até por Hitler, salvando assim um espião da RAF. O burlesco impera. Lubistch não tem o menor pudor de zombar de nazis em plena guerra. Mas ele também zomba de atores e suas pretensões. O filme é uma delícia! Lombard brilha como a atriz cortejada pelos nazis e Benny é seu marido, um ator-pavão que se torna herói. É impagável. Nota 8.
DOMÍNIO DE BÁRBAROS de John Ford com Henry Fonda, Dolores del Rio e Pedro Armendariz
Um filme muito estranho. Fala de padre que é perseguido em revolução mexicana. O padre é um tipo de martir culpado e as atrocidades se amontoam. É um filme hiper-católico e hiper-carola. Mas algo o redime. A maravilhosa fotografia de Gabriel Figueroa. O México jamais foi tão misterioso, gótico, irreal e infernal. Trabalho de gênio. Mas é um drama muuuito estranho.... Nota 5.
A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Lasse Hallstrom com Robert Redford, Morgan Freeman, Jennifer Lopez e Josh Lucas
Hallstrom dirigiu Minha Vida de Cachorro. Ele é muito bom para esse tipo de filme bucólico, sensível, humano. Aqui temos Redford ( muito bem ) como um rancheiro que vive em semi-isolamento com seu amigo ( Freeman ) aleijado por ataque de urso. Jennifer é sua nora, que vai viver lá fugindo de namorado violento. O filme é sobre a reconciliação. É bonito. Fácil de ver, muito bem narrado e todos os atores estão ótimos ( inclusive J-Lo ). Mas, como quase sempre acontece com Hallstrom, falta a criatividade, a fagulha que faz de um filme ok um filme marcante. Nada aqui é ruim, mas nenhuma cena é forte. É bacaninha. Nota 6.
MORTE SOBRE O NILO de John Guillermin com Peter Ustinov, David Niven, Maggie Smith, Bette Davis, Jane Birkin, Angela Lansbury
Hercule Poirot investiga mortes em viagem pelo Nilo. Ustinov está delicioso como Poirot e Niven dá classe ao todo. Mas o jovem casal central, feitos por Lois Chiles e Simon MacKindale, é de canastrice irritante!!!! E ainda tem Mia Farrow como a principal suspeita, hiper-atuando. Um filme que não flui, em que pese a delicia de se ver tantos medalhões. Nota 4.
A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Michael Hoffman com Helen Mirren, Christopher Plummer, James MacAvoy, Paul Giammati
Tolstoi em seus últimos dias, tendo seu legado disputado por sua esposa e por seus discipulos. Tolstoi, nos últimos anos de sua longa vida, abriu mão de sua fortuna e de sua arte em pró de sua crença. Ele lançou o toltoianismo, um tipo de pacifismo marxista vegetarianista. O filme mostra os embates entre a condessa sua esposa, que ama o Tolstoi nobre e escritor genial, e o líder do tolstoianismo, que parece estar de olho em sua herança. Helen Mirren brilha. Sandra Bullock ter lhe tirado um segundo Oscar é piada de péssimo gosto. Mas Plummer, MacAvoy e Giamatti, todos brilham, todos se entregam aos papéis invulgares. A cena da morte de Tolstoi é belíssima. E terrivelmente dura. Faltou um diretor de maior ambição, um diretor que criasse cenas de impacto e não apenas que se deixasse levar pelo texto e pelos atores. Hoffman nunca atrapalha, mas também nada cria. Mas, em tempos de gnomos e que tais, é um filme especial. Nota 7.
UMA GAROTA DIVIDIDA EM DOIS de Claude Chabrol com Ludivine Sagnier
O grande Chabrol erra aqui. Veja bem, não é um filme ruim, é apenas um filme sem porque. Uma garota ama um escritor velho e é cortejada por playboy bilionário. E daí? E daí nada. Não há nenhum aprofundamento, nenhuma surpresa, nada de belo ou de diferente. Chabrol não erra, mas e daí? Claude Chabrol é o mais querido dos diretores da nouvelle-vague nos EUA. Ele tem uma sucessão de bons filmes de suspense ( quando critico ele amava Hitchcock ). Mas aqui, aos 82 anos, ele faz um filme inútil. Nota 3.

BILL MURRAY/ CLOONEY/ BOGART/ GRIFFITH/ LUBISTCH/ TYRONE POWER

TARDE DEMAIS de William Wyler com Olivia de Havilland, Montgomery Clift, Ralph Richardson e Miriam Hopkins
Perfeito. Atores de gênio, roteiro com diálogos soberbos e a direção sempre impecável de Wyler. Um exemplo de que é possível transformar um livro genial ( de Henry James ) em filme memorável. Mais cometários abaixo. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
DESEJOS PROIBIDOS de Max Ophuls com Charles Boyer, Danielle Darrieux e Vittorio de Sica
Talvez em termos visuais seja o filme mais refinado que já assisti. Um aula de estética e de gosto. A história exemplifica a perfeição a diferença em amor entre homens e mulheres. Elas têm mais coragem. Ophuls foi um dos grandes. Este é seu melhor filme. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!
UM DIA ESPECIAL de Michael Hoffmann com George Clooney e Michelle Pfeiffer
Um filme todo centrado no charme de dois atores. Para nossa alegria eles são realmente bons de se olhar. George Clooney ainda em seus tempos de ator leve e Michelle bela como sempre. O filme, sobre casal que se odeia e que passa a se amar, se deixa ver. É Sessão da Tarde clássica. 6.
RECRUTAS DA PESADA de Ivan Reitmann com Bill Murray, John Candy e Harold Ramis
Segundo filme de Murray e primeiro de Candy. Sobre dois caras que se alistam pensando ser a vida no quartel fácil. As comédias nos anos 80 viveram grande momento. É a época de Steve Martin, Eddie Murphy, Dan Ackroyd, Lily Tomlin, Martin Short, Leslie Nielsen, John Candy e ainda de Mel Brooks e Woody Allen. Mas, que surpresa, este filme não tem graça nenhuma!!!! Murray está especialmente ruim, exagerando seu tipo de malandro sonolento. Candy está ok mas aparece pouco. O diretor é o pai de Jason Reitmann e ficamos sabendo nos extras que este roteiro era para Cheech and Chong e que acabou com Bill e Harold. Tiraram as piadas sobre marijuana e a graça se foi. Uma chatice. Nota 3.
O FALCÃO MALTÊS de John Huston com Humphrey Bogart, Mary Astor, Peter Lorre
É o mais importante filme noir mas não é o melhor. Vemos aqui todo o nascimento de um gênero : música nervosa, imagens com sombras, mulher falsa, herói individualista e durão. O roteiro de Huston melhora o livro e Bogey está totalmente à vontade, ele nasceu para ser durão. Uma diversão de primeira e uma delicia para madrugadas frias e de chuva. Nota 9.
O FAVORITO DOS BÓRGIA de Henry King com Tyrone Power e Orson Welles
Filmado em palácios italianos, podemos ver a absurda beleza da renascença. O filme fala de tirania e de Tyrone como vassalo que muda de lado. King dirigia de tudo na Fox. Nunca foi genial, mas sabia fazer as coisas andarem. Tyrone era herói humano. O filme é ok. Nota 6.
INTOLERÂNCIA de David W. Griffith
Os Lumiere inventaram a imagem em movimento, Griffith inventou o cinema. Tudo o que pensamos ser "o cinema" foi idéia de Griffith : ação paralela, melodrama, correrias, cenários suntuosos ( aqui são gigantescos ), atores de carisma, movimento. Neste imenso filme ele conta várias histórias em várias épocas distintas, todas entrelaçadas. O filme ainda impressiona por sua inacreditável grandiosidade. Hoje ele seria impossívelmente caro. O cara era provávelmente louco. Ou não, seria o típico americano empreendedor do século XIX, o self-made man. Diversão que noventa e dois anos depois ainda se sustenta. Nota 7.
ENCONTROS E DESENCONTROS de Sofia Coppolla com Bill Murray e Scarlet Johansson
Revisto hoje após o burburinho da época o filme se mantém como modesto romance puritano. Nota-se algo de muito pudico em todo seu romantismo travado. É tristinho, engraçadinho, bobinho e bonitinho. Um belo raio x de uma geração toda "inha". Bill Murray faz bem Bill Murray no Japão. Scarlet está bonita e ruim. O filme é bacaninha. Nota 6.
MEU MELHOR COMPANHEIRO de Robert Stevenson com Dorothy McGuire e Fess Parker
Cachorro e família em fazenda texana do século XIX. Filme de cachorro de grande sucesso em seu tempo. Um dos clássicos da Disney. A diferença dos filmes de cachorro de hoje é que este cão é mais cachorro. Ele nada tem de criança, de humano, de tolinho. Briga com animais, foge, apronta e é absolutamente animalesco. Um bom filme. Nota 7.
EU NÃO QUERO SER UM HOMEM de Ernst Lubistch com Onny Oswalda
O instituto Goethe lança uma série de filmes mudos de Lubistch. Primeiro: é delicioso ver uma Alemanha em nada parecida com Lang ou Murnau. É um país muito alegre e de bem com a vida. O que pensamos da alegre Berlin dos anos 20 está aqui mostrado. A história, muito amoral, fala de moça que se veste de homem para poder sair a noite, e de dandy que se apaixona por esse "rapaz". O filme é hoje considerado um clássico gay. Lubistch faz tudo se parecer com champagne. O filme espuma e alegra. Nota 7.
GATINHA SELVAGEM de Ernst Lubistch com Pola Negri
Este vai mais longe. Soldados alegres, comandante bobão, batalhas de folia, rebeldes atrapalhados e muita malicia. Negri é a cara de Helena Bonham- Carter. Um detalhe histórico. Gente que é anti-americana gosta de dizer que foram os imigrantes do eixo Berlin-Vienna que fizeram Hollywood. Gente como Wyler, Wilder, Dieterle, Sirk, Lang, Murnau, Zinnemann, Preminger, e uma infinidade de roteiristas e fotógrafos. Dizem isso como se Ford, Buster Keaton, Vidor, Milestone, Fleming, Griffith, Wellman não estivessem lá desde sempre. O que se pode dizer é que os imigrantes trouxeram um tipo de filme mais urbano, mais ácido, mais sexy. Lubistch, que foi o imigrante de maior sucesso, se tornando um tipo de "dono" da Paramount, trouxe a comédia maliciosa, manhosa, vienense. Este filme, com sua leveza bem-humorada e seus cenários de bolo de noiva exemplifica todo seu glorioso talento. Nota 8.

PRESTON STURGES, ERNST LUBISTCH, THE YOUNG VICTORIA,MIZOGUCHI

O CONDENADO de Carol Reed com James Mason
Na Irlanda, revolucionários fazem assalto. O líder é ferido e o filme, escuro, sombrio, mostra sua tentativa de sobreviver na cidade suja. Reed foi um dos gigantes do clássico cinema inglês ( e autor do Cidadão Kane de lá, O TERCEIRO HOMEM ). O filme é muito forte, mas este dvd tem sérios problemas de legendagem. Nota 7.
CRISÂNTEMOS TARDIOS de Kenji Mizoguchi
Nesta história de um filho de ator, ator que sofre por não ser tão bom como o pai, há todo o esteticismo belíssimo de Mizoguchi, o mais clássico dos diretores do Japão. Todo movimento de câmera é preciso e os cortes, quando há, são suaves e muito necessários. Voce observa o filme, não o assiste ou analisa. Nota 7
A ROSA PÚRPURA DO CAIRO de Woody Allen com Mia Farrow, Jeff Daniels e Danny Aielo
Um dos mais melancólicos filmes de Woody. Sua mensagem central é a de que nada nunca muda na vida real, e portanto, o que nos salva é a fantasia. O roteiro brilha em idéia, mas falha em emoção. O herói sai da tela e os personagens do filme de onde ele fugiu se revoltam. Eis Woody sendo Charlie Kauffman antes de Charlie ser moda. Mas o ator que faz o herói seduz a mocinha por quem o personagem de ficção se apaixonou. E ela, e eis o centro do filme, opta pelo ator, pelo real, e é traída por ele. No fim, uma cena magistral, Mia Farrow, totalmente desolada, assiste no cinema a Fred Astaire e Ginger Rogers e volta a viver. Um elogio ao cinema de quem realmente o entende. Nota 7.
THE YOUNG VICTORIA de Jean Marc Valée com Emily Blunt, Miranda Richardson e Jim Broadbent
Delicioso. O filme ainda não estreou por aqui e se estrear vá ver. É romantico no sentido antiquado do termo, ou seja, tem bom gosto e boas intenções. Faz bem , voce termina o filme se sentindo em paz com o mundo. Conta o início do reinado de Victoria, a rainha que fez da Inglaterra aquilo que pensamos sobre ela ainda hoje. ( E que acabou em 1960, mais ou menos ). Os atores estão muito bem, leves e bem dirigidos. Bela surpresa! ( E é lógico que eu, vitoriano que sou, me apaixonei pelo filme ). Nota 7.
AMANTES de James Gray com Joaquim Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw
Psicólogos irão gostar. Mas o mundo precisa de mais um filme sobre gente deprimida? Deprimidos do tipo mais chato, vivendo em seus ambientes de cores pastéis e pouca luz? O que nos interessa na vida banal daquele cara? Ele é apenas um mala. O filme padece da atual síndrome cabeça: confunde fazer arte com ser triste. É a arte da impotência. Nota 1. ( Sorry Leo ).
LADRÃO DE ALCOVA de Ernst Lubistch com Herbert Marshal e Miriam Hopkins
Uma festa! Se voce quer saber o que é o tal Lubistch touch, eis aqui a resposta. O filme, delicioso tipo champagne e caviar, é aula de luxo. Cheio de pequenos toques de estilo e esfuziantemente alegre. Trata de casal de vigaristas, ladrões, e fala de seus golpes e sua tentativa de enrolar uma jovem milionária. Herbert é o rei da sofisticação e Miriam está bastante engraçada. O roteiro é um festival de frases de duplo sentido, ele faísca. Os cenários têm aquele luxo irreal da Paramount dos anos trinta, tudo brilha em branco e prata. Este é um dos filmes míticos da época e demorou muito para que eu finalmente o encontrasse. Valeu esperar, não me decepcionou. Esperava diversão de classe, é o que ele é. Nota DEZ.
TINHA QUE SER VOCÊ de Joel Hopkins com Dustin Hoffman e Emma Thompson
Uma comédia romântica sobre gente comum e com mais de quarenta anos ( ele, mais de sessenta ). Ninguém tem tiques de neurótico. São sofridos, são humanos. Ele viaja para Londres a fim de assistir o casamento da filha. A nova família da ex não o aceita. No fundo da solidão, ele conhece quarentona que ainda solteira, cuida da mãe ex-doente. Ele força o romance, segue-a por uma tarde. Ela cede devagar. Duas solidões se encontram. O filme nada tem de artístico. Conta sua história, simples, com humildade. E funciona. Porquê? Neste tipo de filme é necessário que nos apaixonemos pelos personagens. Isso acontece. Emma é apaixonante. Ela se faz desajeitada, meio tímida, desiludida. Dustin é o mais humano ator de sua geração ( Nicholson faria deste personagem um bufão e De Niro o transformaria num perigo ), ele sofre, erra muito, tenta acertar e acaba nos acertando. Se voce tem mais de 40 é obrigatório. Trata-se de uma raridade : filme adulto sem ser metido. Filmes como este antes eram a regra, hoje nos surpreendem. Nota 7.
CONTRASTES HUMANOS de Preston Sturges com Joel McCrea e Veronica Lake.
Uma obra-prima. Filme favorito dos Coen, é a história, maravilhosa, de um diretor de cinema que resolve fazer um filme sobre os pobres ( nome do filme que ele quer fazer : O BROTHER, WHERE ART THOU...). Se disfarça de mendigo e cai na estrada. Mas o estúdio o segue, lhe dando toda a cobertura possível. Ele conhece atriz fracassada e acaba desistindo de sua idéia. Mas, em cena mirabolante, torna-se um mendigo de verdade e é preso numa prisão rural do sul. O filme diz todo o tempo que somente pessoas privilegiadas se interessam por filmes sobre a miséria. Quem é pobre sofre demais com essa chaga para querer vê-la nas telas. Pois bem, na prisão rural, em cena de gênio, se passa um filme para os presos. Um desenho de Mickey e Pluto. Os condenados riem e ele se pega rindo. Sua teoria desaba : o povo precisa de risos, e quanto mais cruel é sua vida mais voce necessita disso. Voltando a Hollywood ( ele escapa da prisão em cena genial e bem sacada ) o diretor fará mais uma comédia.
Preston antecipou aqui seu final de vida. Nascido em família trilionária, ele foi o primeiro roteirista a virar diretor, abrindo o caminho para Wilder e Huston. Foi educado na Europa e era um tipo de excêntrico Professor Pardal. Seu grande prazer era inventar coisas. Aliás ele ia para o estúdio de pula-pula !!!!! Mas se tornou alcóolatra e seus filmes foram perdendo a graça. Terminou pobre. Este filme, vinte anos adiante de seu tempo em estilo e malícia, começa com letreiro homenageando todos os palhaços do mundo. Nós é que somos homenageados por seu prazer. Uma obra prima absoluta, engenhoso, sempre surpreendente, vivo. É fácil notar este filme como fonte da vivacidade dos Coen. Nota DEZ!!!!!!!!!!!
CONTATO de Robert Zemeckis com Jodie Foster, Mathew McCornaghy
Algumas cenas são tão infantis que dá vontade de rir. É ciência para crianças e o filme tem aquela tara por teclados e telas. Exibe nerds como heróis de nosso tempo. Mas os vinte minutos finais são mágicos. As imagens das galáxias, a viagem pelo tempo, o reencontro com o pai. Dói pensar o que este filme poderia ter sido se feito com mais coragem. Nota 5.

500 DIAS COM ELA/ MINHA VIDA DE CACHORRO/ SETE HOMENS E UM DESTINO/ SOPRO NO CORAÇÃO

PARIS TEXAS de Wim Wenders com Harry Dean Staton, Nastassja Kinski
Um filme que dói. O amor morre e a estrada se abre. Ser herói é sempre ser só. Isso é verdade ou um consolo? O filme homenageia Ford e todo o cinema da América. Mas é alemão. Tão alemão como é Mann ( os dois Mann, Thomas e Heinrich ). O amor sempre termina e fica este homem andando sem rumo e esta mulher exibida numa tela. Mas ficou um rastro, uma criança. Wenders fez filmes imensos. É o cara. Nota DEZ. Um dos filmes que definiram aquilo que sou. Eu sou Travis.
SETE HOMENS E UM DESTINO de John Sturges com Yul Brynner, Steve McQueen, James Coburn e Charles Bronson
Este filme dá raiva. Queriam transformar Horst Buchholz ( quem? ) em star. Então o filme tem esse péssimo Horst demais e tem McQueen de menos... Baseado em 7 Samurais de mestre Kurosawa, é um western pop com uma das trilhas mais famosas da história ( Elmer Bernstein ). Boa diversão. Não é o oeste de Ford ou de Anthony Mann, mas é muito ok. Nota 7.
500 DIAS COM ELA de Marc Webb com Joseph Gordon Levitt e Zooey Deschanel
O filme segue aquilo que Nick Hornby diz : a vida pode se tornar uma tristeza com essa ração de música pop triste. Neste filme, o cara é fã de Smiths. Conhece sua amada ouvindo o som de Morrissey e Marr no elevador. A partir daí rola o romance dos dois em flashback. O filme é uma chatice. Os dois são exatamente o tipo de gente que menos gosto, dois fofinhos. Viciado em deprê, o cara passa o filme inteiro tentando nos fazer sentir pena. Sentí tédio. Quem gosta disto ? É um tipo de filme de Eric Rhomer para iletrados. Por medo de ousar se usa um narrador para explicar o filme, assim como se datam os flashbacks para não confundir. Sinal dos tempos : um filme para estudantes espertos que é pudico e envergonhadérrimo. Sua única boa cena é ao som de Bookends de Simon e Garfunkel. Ao som de Bookends até jogo de canastra se torna poesia. Mas é, apesar de tudo, um filminho bem intencionado. O Annie Hall de 2009. Mas é chaaaaatoooooooo!!!!!!! Nota 3.
ANNA KARENINA de Julien Duvivier com Vivien Leigh e Ralph Richardson
Livros banais podem dar bons filmes. Livros bons podem ser suplantados pelo cinema ( Wonderboys é um filme melhor que o livro de Chabon ). Hammet, Chandler, Du Maurier, Pasternak, Elmore James, são todos autores médios ( sim, acho Pasternak médio ) que foram melhorados nas telas. Grandes peças podem dar filmes geniais ( cito UM BONDE CHAMADO DESEJO e QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOLFF, duas peças de antologia e dois filmes históricos. ) Mas obras-primas da literatura nunca dão grandes filmes. A exceção, única, é OLIVER TWIST de David Lean, que é melhor que o livro ! Lord Jim de Conrad virou um filme chato, Dom Quixote é ridiculo e Moby Dick se tornou aventura normal. Sem falar em O Morro dos Ventos Uivantes, filmado até por Bunuel e sempre dando filmes ruins. Anna karenina nunca deu certo nas telas. Vira um tipo de romance aguado, vazio, sem aquilo que Tolstoi lhe deu de melhor : Força Divina. Vivien seria uma excelente Anna, mas o Vronski deste filme é um brioche de vento. Se voce nunca leu o livro pode até se divertir com seu visual bonito. Mas de Tolstoi não tem uma vírgula. Nota 5.
MINHA VIDA DE CACHORRO de Lasse Halstrom
Em 1985 a Suécia nos revelava este diretor sensível. O filme se tornou famoso, concorreu até a Oscars de direção e roteiro. Depois Lasse viveria nos EUA e dirigiria filmes como Chocolate e Gilbert Grape. Este filme, sobre um garoto desajeitado e sua família, será para quem o assistir hoje, uma maravilhosa surpresa. Peço para que todos voces o procurem e assistam. Precisa ser assistido porque é um filme que faz bem. A poesia e a alegria vivem neste filme ( e a dor também ). Se voces querem saber o que espero de um filme vejam este. É engraçado e faz chorar. O menino está comovente e a vida com seu tio é a vida que todos nós precisaríamos viver. Dá vontade de rever assim que termina e dá vontade de ir à rua e gritar : Viva a Suécia ! È uma obra-prima dos filmes sobre a infância ( e NADA tem de infantil ). Lindo. Nota DEZ.
MONTE CARLO de Ernst Lubistch com Jeanette MacDonald e Jack Buchanan
O mundo de Lubistch. Distante de nós. De todos os grandes é ele que está mais distante. Seu tipo de filme jamais poderá ser refeito, é filho de um mundo ainda iludido. É Vienna antes de Hitler, é mundo de romance tipo bolo de noiva, de canções maliciosas, de piscadas de olhos, de ligas de seda, de cafés e de cerveja. Não há violencia, não há deselegancia, nada de pressa. O tema é o romance, e não há qualquer pretensão a verdade ou a arte. O objetivo é divertir com classe. Delicioso, mas sinto que sua lingua se apaga ano a ano.... nota 7.
O TENENTE SEDUTOR de Ernst Lubistch com Maurice Chevalier, Claudette Colbert e Miriam Hopkins
Mundo de soldadinhos de chumbo. Romance sempre feliz, risos, dinheiro, reis de carochinha, flores e música de cervejaria. Uma bolha de sabão, leve, linda e que estourou. Nota 6.
A LEI DOS CRÁPULAS de Jules Dassin com Gina Lollobrigida, Yves Montand, Marcello Mastroianni, Pierre Brasseur
Numa vila italiana todos são maus. Não apenas maus, muito maus. Roubam, traem, mentem, enganam. Jules Dassin foi um dos grandes. Na América fez no mínimo 3 obras-primas. Eram filmes policiais e de denuncia social. Foi perseguido pelo Macarthismo e sua carreira continuou na Europa. Filmou na França, Inglaterra, Itália e Grécia. Continuou irriquieto, ousado e genial. É dos meus favoritos. Este é seu filme mais fraco. Os personagens são todos tão maus que o filme nos repugna. Gina é linda, mas incapaz de segurar o filme. Montand está cafa e excelente. A vila é maravilhosa, mas o filme é esquisitíssimo. Nota 6.
SOPRO NO CORAÇÃO de Louis Malle com Lea Massari e Daniel Gelin
Um dos mais originais filmes já feitos. Viva Malle ! Penso que se o mundo tivesse sido feito por Malle seria um lugar muito feliz. Todos seus filmes, tão variados, pregam a anti-culpa. Não existe culpa em seus filmes. Aqui acompanhamos um adolescente fã de Charlie Parker. Seus irmãos, sua primeira transa, o padre, o pai médico, uma doença no coração. Esses temas em outras mãos fariam do filme drama. O garoto não se dá com o pai, os irmãos vivem o perturbando, a mãe tem um amante, ele está doente. Mas, com Malle, tudo é brilho, tudo é leveza e todos são felizes ( sem serem jamais tolos ). É um cinema feito de coragem, de cultura e é sempre pop. Louis Malle não era bem aceito pela nouvelle vague porque apesar de seus temas serem modernos, seus filmes são feitos para serem entendidos. Não há nada de hermético, de enigmático, de intelectual. Mas é alta arte. E aqui ele tem a coragem de tocar no tema mais espinhoso que existe : o incesto. Filho e mãe. Não vou dizer o que ocorre, mas digo que nada parece chocante ou violento. Malle enfrenta o desafio de filmar algo muito pesado com leveza, e estranhamente ele consegue. O filme perturba por isso, nada é como esperamos. O final é sublime. Assisti este filme em 1982, no cine Iguatemi. Ele fora censurado em 1972 ( junto a LARANJA MECANICA e O ÚLTIMO TANGO ) e liberado em 1980, na abertura do presidente João Figueiredo. Adorei-o e fiquei estranhamente eufórico com sua alegria, sua energia e por perceber a absolvição de todo pecado que Malle nos dava. Quase trinta anos depois o revejo e percebo que ele permanece novo, ousado, vivo, e perturbador. É um filme para sempre. Louis Malle foi o único diretor francês de sua geração a dar certo em Hollywood. Viveu por lá de 1979 até 1993, fazendo bons filmes e alguns sucessos de bilheteria. Casou-se com a disputada Candice Bergen e terminou sua brilhante carreira na França, com filmes ainda ousados e lindos. Num país que nos deu Clair, Clouzot, Clement, Cocteau, Godard, Chabrol, Resnais, Renoir e Carné, ele é talvez o mais dotado, com absoluto talento para o drama, a comédia e o suspense. Louis Malle foi perfeito e SOPRO NO CORAÇÃO é único, não se parece com nada e é absolutamente feliz. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!!

PATTON/MASTROIANNI/DELIVERANCE/KATE E CARY GRANT/

CRY OF THE CITY de Robert Siodmak com Victor Mature e Richard Conte
Siodmak foi um dos vários alemães que emigraram para os EUA e que criaram o estilo noir do cinema americano. Este é um belo exemplo. Filme muito forte, sobre bandido italiano que usa todos para tentar escapar da lei. Mature está ok, como o policial que cresceu no mesmo bairro e tenta incriminá-lo. Mas é Conte quem impressiona, mais uma vez dando show. O filme tem um clima realista, sujo, feio, que o torna muito absorvente e emocionante. nota 8.
SIROCCO de Curtis Bernhardt com Humphrey Bogart, Lee J. Cobb e Marta Toren
Conhecido como um dos piores filmes de Bogey, ele incomoda por ser seu personagem um fraco. Ele nada consegue e tem um fim nada heróico. Mas tem seus méritos, nesta história onde franceses colonialistas tentam domar revolta na Siria. nota 5.
PATTON de Franklyn J. Schaffner com George C. Scott e Karl Malden
Grande vencedor do Oscar de 1970, este filme representa bem uma das melhores safras do cinema americano ( 66/74 ). Trata-se de uma bio como não se faz mais : completamente verdadeira, mas sem jamais perder o caráter de espetáculo. Caramba ! Porque não se fazem mais filmes como este ??????????? Patton, feito por um Scott endiabrado, é fascista, egocentrico, homossexual enrustido, cruel, vaidoso ao extremo. Mas o admiramos, e depois o odiamos e voltamos a admirar. Na história deste gênio da guerra, que amava ópera e acreditava em reencarnação, assistimos a um filme perfeito em seu gigantismo. Gigantismo que jamais se torna frio, falso, impessoal. Tudo nele é belo e cruel, verdadeiro e mitológico. Foi este filme que deu o primeiro Oscar à Coppolla ( é dele o roteiro ) e deu a Scott um Oscar merecido. Aliás, bem de acordo com o clima político desse tempo, Scott não aceitou o prêmio e nunca foi o buscar. Disse que atores não são esportistas para concorrer entre sí, e que o único modo de se julgar dois atores seria dar a ambos o mesmo papel no mesmo filme em condições iguais. Ele está errado ? Tudo neste filme é superior : a música de Jerry Goldsmith, a fotografia de Fred Koenekamp, e esse absoluto extase que é assistir à Scott como este magnífico e inesquecível general. Apesar da concorrência fortíssima de 1970, o filme mereceu cada prêmio ganho. Trata-se de cinema de primeira, de arte e diversão, de política e emoção. Assistir este filme é compreender o que o cinema popular pode e deve ser. nota Dez.
THE LOVE PARADE de Ernst Lubistch com Maurice Chevalier, Jeannete MacDonald e Lilian Roth
Envelheceu muito este filme do importante Ernst. É um tipo de filme realmente morto, ancião, enterrado. De bom, os cenários luxuosos e Lilian, uma maliciosa atriz de beleza sapeca, que teve a carreira destruída pelo alcoolismo. Seria uma estrela. O que encanta é a malicia do filme, feito antes da criação do código de censura. nota 4.
UN FLIC de Jean-Pierre Melville com Alain Delon, Richard Crenna e Catherine Deneuve
John Woo, Guy Ritchie e Tarantino adoram os filmes de Melville. Neste, que é seu último trabalho, dá pra se notar o porquê. É cinema policial durão, nada simpático, árido, cool, muito cheio de coisas dúbias, onde o bandido é tão ruim quanto o policial e tudo cheira a corrupção e existencialismo crú. Melville adotou este sobrenome como homenagem ao autor de Moby Dick. Amava tudo o que era americano, se vestia como Bogey, ouvia jazz e acima de tudo, assistia os noir de Huston, Wilder, Wise, Preminger e Dassin. Alain Delon, com sua cara de absurda beleza gelada, nasceu para fazer este papel. nota 7.
O BELO ANTONIO de Mauro Bolognini com Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale e Pierre Brasseur
Em toda a história do cinema de qualquer nação, ninguém fez tantos filmes bons em tão pouco tempo quanto Marcello. Entre 55/75, a quantidade de filmes eternos que ele fez é impressionante. Mesmo tendo de concorrer com Gassman, Tognazzi, Manfredi e Sordi. Nesse período o cinema italiano era o melhor do mundo e Marcello seu rei. Este foi um de seus maiores papeis : um homem da Sicilia, lugar de machismo absoluto, que não consegue consumar seu casamento, pois ama demais sua bela esposa, que vê como um anjo. Este poderia ser tema de comédia, mas aqui, graças a sensibilidade de Bolognini, discípulo de Visconti, o que seria riso se torna melancolia. Marcello tem uma interpretação digna de um deus. Seu olhar na cena final é coisa para se guardar para a eternidade. Seu personagem, que tem fama de comedor, se torna a piada da cidade. Claudia brilha, com sua transformação de belo anjo para mulher rancorosa e Brasseur, como o pai orgulhoso e maschio, passa toda a patetice desse garanhão de meia idade. Em destaque a bela cidade de Palermo, cheia de vielas, varandas e varais. Rica de gente. Um filme belo, vivo e muito triste. nota 8.
DELIVERANCE de John Boorman com Jon Voight e Burt Reynolds
A coisa de uma semana assiti um filme de Boorman feito antes deste. Um filme em que Lee Marvin e Mifune duelam numa ilha deserta. Agora me cai em mãos este Deliverance. Outra prova da maestria desse inglês Boorman, cineasta ainda na ativa, poeta da violência e da sobrevivência. Este filme é, em seu gênero, uma pequena obra-prima da crueldade. Poderia ser feito hoje ? Com certeza não. Sua violência é real demais, seu sangue não é glamuroso, seu horror é adulto, nunca infantil. Sua história : quatro amigos partem para a mata. Irão remar num rio que será eliminado, transformado em lago de represa. O que acontece com eles ? O absoluto horror. O filme nos mostra todo o tempo o ridículo de cada um deles. Como nos tornamos seres desajeitados, anti-naturais, desconfortáveis em meio a mata, e em como tentamos crer em nossa " pureza". Eles erram em tudo e todo o tempo, e pagam caro por todo erro. Cada passo que dão é um passo de aliem num planeta que nunca é o deles. A mata os repele, e os caipiras são de um mundo distante, além do que eles podem ver. Nada neste filme é bonito. Ninguém é heróico. Não há poesia: a mata é o que é, mundo fechado, inescrutável. Surpresa : o filme não tem trilha sonora, apenas o som de pássaros, da água, de gemidos e gritos, de conversas tolas. É uma obra-prima feita por um corajoso. Cineasta que se queimou nos anos oitenta com dois filmes muito ruins ( inclusive um deles feito no Amazonas, com Sean Connery e José Wilker ). Mas Boorman é invulgar, original, forte e difícil. Este Deliverance ( grande sucesso na época ) é para se guardar e rever. nota Dez.
SYLVIA SCARLETT de George Cukor com Kate Hepburn, Cary Grant, Edmund Gwenn, Brian Aherne.
Maior prazer que ver Kate na tela ( minha atriz favorita ), só o de ver Grant na tela ( meu ator favorito ). Cukor, que apesar de grande diretor, não é ousado ou muito criativo, faz aqui um filme completamente doido. Sua primeira parte ( 40 minutos ) é deslumbrante ! Pai e filha fogem da França endividados. Na Inglaterra se envolvem com malandro cockney ( Grant fala, pela única vez, com seu sotaque de origem. Uma delícia!!). O que vemos então são os hilários golpes dos 3, e o filme, de 1935, se torna um milagre : um filme dos irmãos Coen, o melhor deles, feito mais de meio século antes. Kate se faz passar por menino e o filme brinca com travestismo, roubo, trapaça, egoísmo, pai infantil, tudo isso com imensa alegria e em cenas curtas e meio improvisadas. Kate, de paletó, cabelo de menino, leve como um Peter Pan, se mostra alegre, se diverte com seu papel, e vemos o mais bonito menino da história do cinema. Cary Grant começa neste filme a chamar a atenção do mundo sobre sua figura. Vemos o nascimento do mais adorável dos comediantes, do mais elegante dos malandros. E vendo este espetáculo pela primeira vez, penso : que fantástico show ! será meu filme favorito!!!! Mas... Kate se apaixona, larga as roupas de menino e se assume mocinha... e o filme, esquizofrenicamente, se torna outro, drama de amor. O personagem de Grant desaparece, e sentimos saudade de sua saudável malandrice. São 40 minutos de romance inconvincente, empolado, sem motivo. Nunca ví tal sucídio de expectativas na tela. Quando o filme acaba, parece que assistimos dois filmes totalmente diferentes : um que nos mostrou a verdadeira Kate, rapazinho bissexual, leve, alegre, linda; e o verdadeiro Cary, ambicioso malandro inglês, palhação, acrobata, charme de gigolô. Mas toda essa maravilha é morta pelo covencionalismo, pelo romance banal. Você se entristece com o filme, cai na razão, esmorece. O filme, em seu tempo, foi imenso fracasso. Hoje é um cult de primeira. É tão estranho que não pode ser julgado. Toda nota seria injusta.
EFEITO DOMINÓ de Roger Donaldson com Jason Statham e Saffron Burrows
O velho Roger continua filmando ( nunca vivemos uma era com tanto diretor velho. No cinema, até os anos 90, diretores eram encostados aos 60 anos. Hoje filmam até morrer. Bergman, Minelli, Ford, Hawks, Wilder, Donen, Capra, Stevens, Renoir, todos pararam aos 60, 62. Hoje, Lumet, Chabrol, Scorsese, Donner, Resnais, Spielberg, Penn, Boorman, De Palma, Eastwood, Woody Allen, filmam e filmarão até o fim. Como filmaram Altman, Pollack e Kubrick. Bom ou mal sinal ? ) Bem... eu gosto de Jason. É um Bruce Willis atual ( eu preferia Bruce. Mas Jason é ok. ) O filme, delícia de filme de assalto, é muito agradável, ágil, divertido. E tem Burrows, uma bela atriz. nota 6.

FREARS/CLAUDETTE COLBERT/BOORMAN/HITCHCOCK

OS IMORAIS de Stephen Frears com John Cusak, Anjelica Huston e Annete Bening
Entre 1990/1998 foi moda o filme de malandragem. Aquele tipo de filme que mostrava gente desonesta ( e muito charmosa ) em seu "trabalho" diário. Era um tipo de filme delicioso e este é dos primeiros ( e dos mais amargos e cruéis ). Frears, grande e irriquieto diretor, dirige com sua costumeira correção e apesar de Cusak não ser o ator ideal para o papel ( e aqui começa a amizade dos dois, que os levariam a fazer juntos " Alta Fidelidade" ) o filme sobrevive muito bem, graças ao excelente roteiro de Westlake e as perfeitas Anjelica ( um fenômeno ) e Anette ( linda e maldosa ). Diversão de alto nível. nota 7.
O GENERAL MORREU AO AMANHECER de Lewis Milestone com Gary Cooper e Madeleine Carrol.
Passado na China ( soberbo cenário labiríntico ) é uma aventura sobre americano que luta contra tirano chinês ( tirano de direita ). Impressiona o carisma do elenco conhecido, a fotografia expressionista cheia de sombras e um clima de suspense absorvente. O tipo de filme pop que justifica a existência do dvd e o resgate dos filmes dos anos 30. nota 7.
A OITAVA ESPOSA DO BARBA-AZUL de Ernst Lubistch com Gary Cooper e Claudette Colbert.
O roteiro de Billy Wilder e Charles Brackett é, talvez, o mais perfeito roteiro alegre já escrito. E quem dirige é Lubistch, o mais admirado dos diretores de comédia. O tema : na Paris da Paramount ( ou seja, é a Paris que deveria ter existido ), um americano muuuuito rico e muito ocupado, conhece numa loja, uma francesa de sangue azul, porém, falida. O pai dessa francesa é um malandro de marca maior. É lógico que os dois irão se apaixonar, é lógico que se detestarão no começo. E é lógico que o filme é maravilhoso ! Tudo funciona : Cooper está no auge do carisma, faz um americano como todo americano desde então pensa ser- bonito, esperto e educado. Claudette está belíssima e com um jeito de malicia ingênua exuberante. Todos os coadjuvantes brilham e as falas têm o cinismo alegre que Wilder sempre exibiu. Não tem um só momento arrastado, jamais parece forçado e corre leve como espuma. Se um filme fosse champagne, este seria um Dom Perignon. Nota DEZ !!!!! É uma obra-prima.
UMA HORA COM VOCÊ de Ernst Lubistch com Maurice Chevalier, Jeanette MacDonald e Genevieve Tobin.
Não tão bom. Mas bastante amoral : o marido ama a esposa, mas a trai alegremente com sua melhor amiga. A esposa dá o troco. É um musical de opereta, bastante austríaco, e isso quase estraga o filme. Chevalier, que foi super estrela, fala com biquinho. Os franceses até hoje pagam o pato : todos pensam que falar francês é fazer bico. Chevalier fazia bico, os franceses na verdade falam soprando fumaça ( como Jean Gabin ). È um filme antigo como carruagens ou valsas. Nota 5.
UM BOM ANO de Ridley Scott com Russel Crowe e Albert Finney
Um horror !!!!! O livro de Peter Mayle ( que me fez adorar todos os seus livros. Eu lí todos eles. ), é uma alegre e saborosa ode à Provence, terra de prazeres sensoriais. O personagem, no livro, é um homem meio insípido, que d escobre o prazer na mesa provençal. No filme ele é um hiper-yuppie, hiper ambicioso, hiper-chato. O filme é uma bomba!!!!! Scott e Crowe se tornaram amigos ao fazer Gladiador. Ambos adoram a Provence e seus vinhos e comidas. Tal região merecia algo melhor. nota 2.
REGEN de Joris Ivens
A vida transcorre na Holanda. ( Amsterdã ? Rotterdã ? ). Chove na cidade. Volta o sol. O filme ( 30 minutos ) é apenas isso. A chuva caindo e gente se abrigando. Água nas telhas e nas ruas, nos rios, no chão. Mas há tanta poesia aqui que chega a comover. Ivens foi um dos criadores do cinema holandês; este pequeno filme é mitológico. Merece sua fama. Nota 9.
JUAREZ de William Dieterle com Paul Muni, Brian Aherne e Bette Davis
O roteiro é de John Huston. Eis um fato raro : o filme é sobre Juarez, libertador do México, mas ele exibe seu rival, Maximiliano, como um homem tão fascinante quanto ele. Ambos erram, ambos têm boas razões. O filme é exemplar em sua visão multi-facetada da história. Faz o que CHE não faz, olha com coragem e isenção. Nota 7.
SALOMÉ de Ken Russell com Nickolas Grace e Glenda Jackson.
Russell foi diretor famoso nos 70/80. Famoso por sua ruindade e sua pretensão. Todos os seus filmes fazem força para chocar, para serem esquisitos. Se tornam "Joãozinho Trinta". Aqui vemos Oscar Wilde assistindo em sua sala a uma apresentação de sua peça Salomé. O ator que faz Oscar está ótimo, mas o filme é lixo oitentista da pior espécie. É afetado, metido, fake luxuoso, hiper gay e muito chato. Nota Zero!!!!!!
INFERNO NO PACÍFICO de John Boorman com Lee Marvin e Toshiro Mifune.
Atenção !!!!! Este filme mostra tudo aquilo que um diretor deve saber ! Dois soldados, um americano e um japonês, estão sós numa ilha do Pacífico. Brigam por água, por comida, por tudo. Conhecem o inferno máximo e acabam se aceitando ao tentar fugir da tal ilha. O filme é só isso : sem nenhum diálogo, os dois atores grunhem, brigam, sofrem e enfrentam o mar. Boorman, diretor inglês da brilhante geração de Anderson, Richardson e Schlesinger, dá uma aula de movimento de câmera, de ação, de clima. São duas horas que nunca cansam, que emocionam. Ele faz tanto com tão pouco !!!! Quanto aos atores... repito o comentário de Pauline Kael - " Um filme cheio dos lamentos de Lee Marvin e dos grunhidos de Mifune é como algo parecido com o paraíso de todo fã de cinema. " O filme é cheio de Lee e de Toshiro. Não precisa de mais nada. Viril, belamente fotografado ( Conrad Hall ) e com boa trilha de Lalo Schifrin. Nota 9.
DISQUE M PARA MATAR de Hitchcock com Ray Milland e Grace Kelly
O mestre pega uma peça de sucesso e a filma. Simples, sem ambição. Ele precisava de um sucesso e o conseguiu. O filme é perfeito em seu tom. Milland esbanja maldade elegante, Grace está linda e assustada e a câmera de Hitch desliza pelo cenário único sem nunca nos cansar. Entramos na trama, torcemos por Ray, depois por Grace, por Ray de novo e afinal aplaudimos o mestre por sua alegre genialidade. Alfred Hitchcock, como aqui, dirigindo sem esforço, só pra relaxar, coloca 99.999999% dos outros diretores no bolso do colete. Um filme para se ver, rever e sorrir de prazer. Nos extras, belo comentário do fã M. Night Shyalaman. Nota 9.
A VERDADE NUA E CRUA de Mike Chadway com Katherine Heigl e Gerard Butler
O roteiro poderia ter sido escrito por qualquer semi-analfabeto do Arkansas ( e creio que foi ). Tudo é falso, tolo, forçado e o pior, sem graça. Esse tal de Butler é tão mal ator que chega a ser cômico seu esforço para fazer alguma expressão. Não consegue. Tudo o que consegue é posar como se um anúncio de desodorante fosse o tema do filme. Para quem se dirige esta coisa ? Com certeza para aqueles que vivem em anùncios de desodorantes e de cervejas. O filme tem o valor de um copo de cerveja quente e passada. A atriz é bonitinha mas inócua. Nota menos mil.