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eliot e norton

A verdade, utilidade e a beleza. Ao conferenciar numa universidade americana, T.S. Eliot disse, citando o reitor Norton, que a vida de uma pessoa será justificada se ela se guiar por esses três valores. Falar a verdade e viver com a aceitação do que é verdadeiro, fazer coisas que sejam uteis para si mesmo e para os outros, e admirar e dar valor supremo aquilo que é belo. Intelectuais complicaram tudo que ele falou, relativizando a s coisas e questionando o que seria a verdade, o que teria utilidade e qual a importância do belo. A tática é sempre a mesma, derrubar uma realidade transformando o real em simples jogo de palavras. Nós sabemos o que é a verdade, e conseguimos traduzir isso em palavras. Mas não é difícil brincar com frases, inverter sentidos e fazer parecer que a verdade é relativa. ---------------- Para dar valor ao que Eliot disse, seria interessante inverter os valores a título de demonstração. Vamos imaginar que voce se guie pelo que é mentira, o que é inútil e o que é feio. Provavelmente sua vida será mais fácil, voce a princípio irá rir e se divertir muito, mas não vejo como essa falsa alegria possa durar. O grupo do revolucionários de sofá que abundam no mundo de 2025 são exatamente assim. Cultuam o feio, usam a mentira como opção váLida, algo que se escolhe, que tanto faz, e apesar de se imaginarem vitais para a sociedade, são completamente inuteis. Na verdade toda sua vida se resume em ódio aos antepassados, seres que segundo eles, criaram um mundo onde somos obrigados a trabalhar, a envelhecer, a ter deveres. ---------------- Quando Eliot advoga a verdade ele irrita o revolucionário porque a verdade é simples, foge do idealismo vazio, ela é o que se sabe desde sempre. Ser util vai pelo mesmo caminho. Util é tirar o mato da calçada da USP ou arrumar as cadeiras após a aula e não fazer uma reunião de apoio aos palestinos ou sujar as paredes com desenhos pornô. Do mesmo modo, o belo é aquilo que dá dignidade às coisas e às pessoas, que nos faz crer no caráter especial e invulgar da vida. A beleza nos acorda. E para quem faz questão de estar sempre em berço, nada pode ser pior que acordar.

A ERA DE T.S.ELIOT - RUSSELL KIRK ( A IMAGINAÇÃO MORAL DO SÉCULO XX ).

Russell Kirk viveu até 1994. TS Eliot até 1965. O poeta americano-inglês era 30 anos mais velho que Kirk, mas isso não impediu que os dois fossem amigos. Portanto, esta biografia é diferente da maioria pelo fato de que o autor conheceu pessoalmente o objeto da obra. Outro fato que a diferencia é que Kirk foca muito mais no trabalho de Eliot que em sua vida pessoal. Que vida pessoal? ---------- Eliot nasceu numa abastada família de St, Louis a beira do Mississipi. O rio teve imensa influência sobre sua alma, assim como a rápida destruição da cidade. Rapidamente St, Louis deixou de ser uma cidade rica e mergulhou na decadência. Indo estudar em Harvard, com a família já em processo de pobreza, Eliot passou a ter problemas financeiros pelo resto da vida. Se fez funcionário de banco, trabalhava no porão de uma instituição financeira em Londres, para onde se mudou. Nunca mais voltou a morar nos EUA. Terno, gravata, chapéu coco, guarda chuva. Frio, educado, gentil, amigável. E distante. Esse era Eliot. Casado, sua esposa logo revelou sinais de esquizofrenia. Autor do poema central do século XX, The Waste Land, obra que traz a imagem da desolação dos tempos modernos. Um sucesso entre intelectuais que o fez famoso, mas não menos pobre. Continuou no banco por quase toda a vida. Lançou a Criterion, a melhor revista cultural do seu tempo, o tempo das revistas culturais. Foi amigo de Wyndham Lewis, Ezra Pound, George Orwell, Roy Campbell, Aldous Huxley, Bertrand Russell, WB Yeats. Todos escreveram em sua revista. E muitos outros. Converteu-se ao anglicanismo e se dizia classicista e conservador. Naturalizou-se inglês. Percebeu antes de qualquer outro a destruição total da cultura europeia nas duas guerras. Escreveu pouco, sua obra é curta, e foi até sua morte o mais importante autor de seu tempo. Nobel em 1948, finalmente, ao fim da vida, foi feliz. Se casou aos 68 anos com sua secretária, de 30 e ficaram juntos até sua morte, oito anos depois. Em cartas se dizia feliz. Por toda a vida Eliot procurou salvar a Europa de sua destruição, foi uma luta perdida, mas dentro dessa luta, feita em poemas, peças, artigos, livro se reflexão, entrevistas, Eliot produziu uma obra sem igual. É o grande poeta do século e o último com estatura universal. ---------------------- Russell Kirk nasceu numa pequena cidade do centro dos EUA. Sua família, imensa, vivia no casarão que fora de seu avô. Uma casa de 200 anos. ( Uma diferença imensa dos EUA para o Brasil é que lá não é impossível encontrar casas de 200 ou 300 anos, mesmo o país sendo tão jovem quanto o nosso. Isso revela um amor pelo passado que inexiste aqui ). Kirk foi aluno brilhante em sua universidade e logo se tornou um campeão da causa conservadora. Seu pensamento é claro, objetivo, sincero. Ético. Lançou vários livros e sua biografia de Eliot é ponto central. Algo que revela quem foi Kirk é sua casa. Ele ampliou o casarão da família e nela abrigava escritores que não tinham onde ficar. Um andarilho hippie morou lá até o fim da vida. E foi enterrado no jardim. Kirk teve vários filhos e foi um homem feliz. Apesar de sua profunda irritação com a destruição cultural feita pela esquerda americana e inglesa. -------------------- Passo agora a comentar alguns, poucos, tópicos do livro. Pontos que pego ao acaso, quem puder que o leia, a obra é enriquecedora. Sua mente respira enquanto voce o lê. ------------------- Toda filosofia de Eliot é centrada no conceito de IMAGINAÇÃO MORAL. O que seria isso? A capacidade de imaginar a vida e a época de outros tempos. O dom de entender e manter vivos aqueles que já partiram. A fidelidade aos mortos. Sem isso, a cultura inexiste. Para conseguir tal poder, é preciso o estudo humanitário, o aprendizado de história, de filosofia, ética, retórica, grego e latim. É preciso que a educação seja vista como formação de pessoas cultas e educadas e não de trabalhadores. Eliot criticava muito a educação feita a partir dos anos 1930, uma educação socialista, feita pelo nivelamento de todos, educação que oprime a originalidade, o talento, a ousadia, em prol de um igualitarismo assassino. A decadência da cultura passa por esse nivelamento ao gosto do menos dotado. ---------------------- Eliot odiava Rousseau e Emerson, dentre outras coisas pelo sentimento infantil que há em ambos. Eles eram otimistas, acreditavam na bondade e só na bondade. Tiraram do mundo o sentimento trágico e sem esse sentimento não existe arte profunda. Todos os grandes autores são trágicos, mesmo os que fazem comédia. Eles conhecem o MAL e a MALDADE, e sabem que no mundo há uma luta sem fim entre bem e mal. Acreditam no inferno mesmo que não conheçam Deus. Liberais, progressistas, socialistas conseguem produzir bons livros, alguns de real valor, mas sem so setimento de pecado, de tragédia, nunca chegam a realizar uma obra completa. Sempre há algo de infantil neles. Isso porque eles negam a queda, o pecado original, a culpa que todos nós carregamos. Eles percebem a vida, por mais triste e melancólica que seja suas obras, e são, como se o Paraíso fosse possível, como se o progresso pudesse nos redimir. Eles são tristes, jamais trágicos. São alegres, nunca felizes. ---------------------Um autor que não dialoga com os autores do passado, QUE NÃO SEGUE ALGUMA TRADIÇÃO, está só. Daí o solipsismo de tantos escritores. É preciso, como na vida, fazer parte de uma comunidade, de uma rede de contatos espirituais, para assim IMAGINAR MORALMENTE aquilo que se conhece e se deve fazer. Sem isso a obra e a vida se fazem esterilidade. ------------------ As revistas literárias, que começaram a se estinguir a partir dos anos de 1940, com suas tiragens de 500 ou 2000 exemplares, eram as grandes divulgadoras de cultura. Apesar da bixa tiragem, cada leitor era um divulgador de suas mensagens para amigos e colegas. Mantidas por assinatura, elas tinham a liberdade de escrever para conhecdores. Todo autor grande ou iniciante escrevia nelas. Eram milhares de títulos. Mas o rádio, o cinema e principalmente os cadernos culturais dos jornais mataram essas revistas. E foi, como na educação, uma nivelação por baixo. A cultura do jornal diário se tornou barata, simples, feita para o semi analfabeto. O fim das revistas culturais trouxe a interrupção da divulgação elitista. E Eliot sabe que a grande arte É SEMPRE ELITISTA. ( Penso se os jornais, sempre ciumentos, não tentam fazer o mesmo com a internet ). ------------------- Falando agora de filosofia, Eliot criticava no mundo moderno a aptidão pelo prazer obejtivo. Tudo, na cultura, educação, estilo de vida, era feito para a rápida satisfação de um desejo. O homem se tornara um ser que deseja e nada mais que isso. Toda a vida do espírito, todo o mistério da vida, fora jogado ao lixo. Como consequência, a vida estava mergulhada em tédio e ansiedade. Essas as únicas sensações possíveis. O tédio do vazio e a ansiedade do desejo nunca satisfeito. Para Eliot, o espírito existe no CENTRO DO EIXO, a vida é como um vórtice que gira, e a alma é o centro imóvel, atemporal. O mundo moderno, mundo dos liberais que só visam o futuro e dos socialistas que só pensam em destruir para recomeçar, é incapaz de perceber o que não é futuro e não pode ser destruído, o espírito. Essa foi a luta central de Eliot, salvar a alma do mundo do esquecimento. ----------------------- Duas frases de Eliot que anteciparam nosso mundo: " No dia em que as crianças estiveram com aparelhos enfiados nos ouvidos, escutando uma estória antes de dormir, em vez da voz da mãe; no dia em que as pessoas falarem de MEU CACHORRO, MEU CARRO, MEU DESTINO, e não mais falarem de MEU DEUS, nessa hora o mundo estará mergulhado no mais absoluto tédio, pessoas vivendo em absoluta indiferença, sem paixão, sem céu ou inferno, ocos e nos limbo". -------------------Não existe civilização sem Deus. Ao retirar a Lei Moral, Divina, do mundo, todo o arcabouço da civilização cai por terra. Ao retirar Deus do estado, esse estado se torna ditatorial, pois somente com a força da violência se poderá manter as pessoas unidas. O que une um povo é a fé em um mesmo Deus. Sem isso somos seres isolados. ----------------------- Intelectuais tentarão colocar ideologia no lugar da . Mas isso será ineficiente. Ideologia leva sempre à ditadura, isso porque TODA ideologia precisa da conformidade ao dogma. Mais uma vez, é preciso a força para manter a Ordem. Um povo sem Deus é um povo sem ordem porque é um povo sem a LEI MORAL. Ideologos pensam apenas em projetos grandiosos e não conseguem satisfazer, jamais, a necessidade espiritual, pequena, comum, familiar, de cada cidadão. ------------------------- Ideologos destilam ódio. Eles precisam do ódio para sobreviver. Ódio ao inimigo imaginário. O ódio é o sentimento que os une. -------------------- Na Segunda Guerra, enquanto tantos intelectuais e artistas fugiram para os EUA, Eliot percorria Londres de bicicleta trabalhando no serviço de vigia de ataques aéreos. --------------------- Toda cultura nasce da religião. Quando a religião enfraquece, a cultura enfraquece. Não há como ser diferente, seja entre nativos de uma ilha isolada, seja nos EUA de 1960. Toda grande arte dialoga com a religião, seja a negando, seja a idolatrando, seja a temendo, seja a embelezando. A religião dá a dimensão de atemporalidade, de sagrado, de dúvida à cultura. E traz, principalmente, o valorda comunidade em si mesma. Cultura sem religião é cultura isolada, fria, sem eternidade. ------------------ Não comentei nada do que escrevi acima porque concordo com tudo que Eliot dizia. Se não consigo ter sua Fé em Deus, o invejo por isso. Mas sei, no fundo de minha alma, que ele estava certo.

UM MOMENTO PARTICULAR

Segundo Raymond Aron, quando um intelectual não se sente mais ligado a comunidade de onde veio e nem mais a sua religião, ele roga a que a ideologia ocupe o vazio que há em sua alma. Russell Kirk diz que a ideologia, seja fascista, seja a comunista, tenta dar às pessoas uma espécie de fé no futuro, e só no futuro, onde o passado, sempre visto como um erro, deve ser destruído. Há assim um esvaziamente da alma, pois ela passa a ser apenas um instrumento de mudança e não mais UM ELO DENTRO DA ETERNIDADE. Como consequência, inescapável, o homem mergulha no tédio vazio dos homens ocos. Essa a condição do meu país neste exato momento. Tenta-se, por meios violentos, fazer da família-religião-costumes-hábitos coisa morta, e deseja-se transformar a alma de todos em instrumento a serviço da reforma estatal, de cima para baixo. Educação, igreja e arte só são incentivadas se forem parte dessa ideologia transformista. Figuras históricas são jogadas à lata de lixo e acontecimentos centrais perdem seu registro. É como se uma imensa esponja apagasse tudo que somos e seremos e nada mais fosse possível a não ser aquilo que a ideologia ordena. Eliot diz que é assim que se destroi a imaginação moral, conceito que significa O DOM DE SE IMAGINAR EM OUTRAS ERAS, OUTRAS SITUAÇÕES SOCIAIS, OUTROS CONTEXTOS. É essa imaginação que possibilita a continuidade da tradição, a comunhão das almas, a sobrevivência das comunidades. Com a extrema ideologização, esse dom natural não é possível, pois o passado é visto como um erro e nada que venha de lá deve ser reverenciado. Eliot avisa que a alma do homem não tem como se manifestar nessa situação, ela se torna ausente, perde seu poder de manifestação.

A TERRA DOS HOMENS OCOS

Começo a ler o vasto livro de Russell Kirk sobre Eliot e seu tempo, e como sempre acontece quando leio sobre um irmão espiritual, me sinto inspirado. Kirk foi um intelectual americano conservador. Como pessoa ele se definia um conservador boêmio, anti burguês. Modesto, ele recusou todo convite para entrar no sistema, seja cultural, seja político. --------------- Voce deve estar perguntando: Um conservador anti burguês? Boêmio? Como pode? ................ Ora, não seja ingênuo! A burguesia do século XX e mais ainda do XXI é aliada à esquerda em todo o mundo. É a burguesia mais poderosa, banqueiros, industriais, artistas bem sucedidos, que mantém a tara moderna por CONTROLE E DESTRUIÇÃO DO PASSADO. Como vemos no Brasil hoje, de uma forma tão despudorada que chega a ser pornográfica, a união do estado, da justiça e do dinheiro graúdo, faz de uma nação uma teia de opressão a qualquer um que ainda pense em DIGNIDADE, LIBERDADE E TRADIÇÃO. Ontem, dia 16 de julho, o congresso mais uma vez foi fechado, um juiz sozinho ( sozinho? Quem o financia? ), calou a boca de mais de 500 parlamentares eleitos pelo voto. Esse é o ato estatal-esquerdista feito pelo mais anti conservador dos sistemas, o brasileiro atual. E ato esse, aplaudido por aqueles que Eliot chamava de OS HOMENS OCOS. Mas quem são esses homens ocos? ------------------ O filósofo espanhol Ortega y Gasset dizia que EU SOU EU E SOU MINHAS CIRCUNSTANCIAS. O que isso quer dizer? Eu, Paulo, sou aquilo que sou: Homem, brasileiro, filho de portugueses, filho de minha família, heterossexual, conservador em política e em economia, amante das artes eternas, pensador, indagador, chato. Mas eu sou também a minha circunstância, ou seja, sou o lugar onde cresci, onde vivo, sou tudo que me cerca, sou o que ouço, o que vejo, o que me toca. Sou isto que escrevo, sou voce que me lê, sou quem me conhece, quem pensa em mim. Ora, o conservador se apega a todas essas circunstâncias. Ele luta pela preservação dos laços afetivos com aquilo que é seu passado, seu ambiente, seu meio, seja o prédio da esquina, o hábito religioso, a peça de arte inviolável. Ele sabe que ao se destruir qualquer objeto que é parte de sua circunstância, parte dele é destruído ao mesmo tempo. Daí nasce o HOMEM OCO. É aquele ser, geralmente da esquerda, mas é também o alegre propagador do " derrube e construa" do capitalismo, que destroi tudo o que seja "antigo e inútil". Fazendo isso ele mata, sem saber, a si mesmo e se torna um HOMEM OCO, sem vínculos sólidos com nada ao seu redor, tendo apenas dentro de si o vazio do desejo de destruir. Não há retrato mais perfeito da esquerda brasileira que essa sanha por acabar com tudo que remeta à tradição e costume. Família, hábito e história. -------------------- Eliot percebeu isso já após a segunda guerra, quando observou que o trauma da guerra levou os ingleses à ansia de mudar e negar. E Kirk sentiu isso nos EUA, quando a partir dos anos 50 tomou lugar o sentimento de que todos somos seres sem raiz. Logo cooptado pelo sistema, esse sentimento "rebelde", boêmio, de ser livre para se auto construir, se transformou em abjeto ato de negar a realidade do passado e assim perder contato com toda a realidade presente. A cultura do século XXI é uma cultura da doença, do homem sem interior, do ato sem história, do gratuito, do sem permanência. --------------- Ao mostrar de modo pornográfico que o congresso nada representa, que o voto é apenas uma brincadeira vazia de poder real, os juízes fazem com que o interior de todo cidadão se torne ainda mais oco, sem referência e sem significado. O simbólico- voto e representatividade- se torna futilidade. A alma morre. Assim, cada brasileiro se torna oco, apenas um corpo vazio em busca de comida, andando em meio ao caos bem organizado e a pobreza externa e interna. Eliot chamava isso de inferno. Voce sabe o que é.

ESPIONAGEM NA INGLATERRA E UM LIVRO MUITO PERIGOSO

Acabo de ler que um dos serviços de contra espionagem inglês possui um comunicado onde se lê: " Qualquer pessoa que for vista com o livro 1984 de Orwell, ou obras de Joseph Conrad, Tolkien, CS Lewis será considerada uma perigosa extremista de direita. Livros que pregam a contra revolução não podem ser tolerados. " Pasmado? Eu não. Esse movimento não é novo e durante a pandemia foi bastante solidificado. Na crise do vírus, governos perceberam que a população é hoje facilmente comandada. Quem foi e é crítico será sempre chamado de extremista. E de direita, porque quem não aceita a "união pelo bem " só pode ser um egoísta e todo egoísta é direitista. ---------------- Um técnico mostra na NET, com imagens, que a AI, a inteligência artificial que começa a ser dada agora para uso geral, já está ideologizada. Se voce pede para o cérebro eletrônico criar um poema sobre Bolsonaro, ele responde não poder criar nada que seja sobre política. Mas se voce pede um sobre Lula, ele te dá um longo poema sobre o heroi. ---------------- Eu não fico surpreso e nem alarmado. O bom senso prevalecerá. A incompetência da esquerda destroi a ela mesma. Aliás, acabo de reler mais um livro de Evelyn Waugh, e ele não entra na lista da Inglaterra porque ninguém mais o lê. MALÍCIA NEGRA foi escrito em um tempo em que as pessoas discutiam, não cancelavam e fingiam ignorar. Seria interessante ver um lacrador de 2023, um típico comedor de ostras da Vila Madalena lendo este livro. Como um nazista, ele provavelmente o queimaria na calçada. A sátira demolidora de Waugh fala de um imaginário país africano onde a crueldade e a corrupção impera. O presidente só se preocupa em parecer chique e fino, gasta fortunas em decoração e palácios, seus aliados o traem por qualquer quantia, o exército é antigo e sem disciplina, os estrangeiros brancos vivem em ócio impotente e loucos para fugir do lugar, cenas e mais cenas de assassinatos, roubos, fugas, troca de favores. Fome e miséria para o povo, uma nova limusine para o líder. Waugh jamais pensa estar sendo racista, ele simplesmente cria uma ficção que espelha a realidade. A África dos anos 60 era exatamente aquilo e escrever sobre o que se via não era ofensivo ou proibido. Não era coisa de chato de direita. Era a época de Idi Amin comendo a carne de seus rivais e de guerrilhas dizimando quem não lutasse por elas. Não houve um só país da Africa negra que não fosse vítima de líderes metidos à besta. Waugh nos faz sentir nojo e rir amargo. Sim, o livro é uma comédia. -------------------- Estou surpreso por ainda não terem se metido a criticar Jung por sua fé na INDIVIDUAÇÃO. Talvez porque Jung foi tomado por charlatâes que só percebem nele aquilo que desejam ver. Já Eliot, assumidamente conservador, é complicado demais para um militante censor e por isso ainda não foi atacado. Toda censura é burra e ao mirar em Orwell ou Tolkien eles esquecem do muito mais perigoso, para eles, Nietzsche, o homem que pregava o indivíduo sobre tudo o mais. Literatura de valor é sempre anti grupal e aqueles que tentaram ou foram fortemente socialistas envelheceram rapidamente: Gorki, Brecht, Shaw. Neruda só é lido na América do Sul, continente que nunca irá sair de 1968, e Saramago já começa a exibir teias de aranha em sebos. Mesmo autores "de esquerda branda", quando lidos com isenção, revelam, se são muito bons, um individualismo imenso, um descompromisso com revoluções, uma desconfiança às promessas de união pelo bem. Os ingleses vão ter de queimar mais livros que os nazis queimaram em 38.

OS CINCO PONTOS DO MODERNISMO EM ELIOT

   1- A SOLIDÃO DO HOMEM. Separado do que e por que...
  2- A INEXPLICÁVEL ESTRANHEZA DO NASCIMENTO E DA MORTE. Estranheza pressupõe algo de mais natural. O que seria esse natural...
  3- A IMENSIDÃO DO UNIVERSO. Se é imenso e silencioso é insignificante. O vazio do universo serve apenas para cenário de novelas tipo HG Wells.
  4- O HOMEM E O TEMPO. O tempo só tem significado se houver alguma missão ou trabalho a ser realizado. Se a vida é absurda e portanto sem objetivo, então o tempo não tem relação ou importância nenhuma.
  5- A ENORMIDADE DA IGNORANCIA HUMANA. Falta de saber em relação a que. Se o homem nada sabe é de se supor que exista algo a ser sabido. O que seria isso ninguém diz. Se cobramos esse saber é porque alguém deve saber, deter esse conhecimento. Onde e quando...
  Na verdade essas proposições são apenas sintomas e não perguntas ou dúvidas reais.

O USO DA POESIA E O USO DA CRÍTICA - T.S. ELIOT

   Este livro nos apresenta um série de palestras feitas por Eliot em Harvard, entre 1932-1933. Dryden é o primeiro poeta-crítico de quem ele fala. O que Eliot procura é investigar as definições e as utilidades antes dadas ao que seja poesia. No fim, a conclusão é de que não pode haver homogeneidade no que seja escrever ou ler poesia, mas se pode retirar alguns mitos, e é aí que mora o melhor do texto.
  O poeta é influenciado pelo meio e pela memória, e talvez toda criação nasça da lembrança, da reelaboração de memórias soltas. Mas, para lermos e para entender poesia é preciso NÃO procurar encontrar o sentido o que se lê e não ler com o mapa da vida do poeta em mãos. Ler poesia é se jogar para dentro do texto e só levar em conta aquilo que está escrito, nada mais.
  Uma das mais brilhantes teses é a que diz que POESIA NADA TEM A VER COM MISTICISMO OU RELIGIÃO. Claro, há poesia mística, mas a poesia não é uma substituta da experiência religiosa. Eliot diz que com a morte da igreja, sua crise, as pessoas tentam ter vivências religiosas FORA da religião.
  Racine escrevia, como Shakespeare, para a diversão de boas e decentes pessoas. Hoje isso seria considerado banal. O poeta é visto como um tipo de guru ou de xamã, o que é um absurdo. Poetas, a maioria, escreve poesia conscientemente, como trabalho lento, e não como êxtases divinos.
  Interessante observar que em 2016 cobramos experiências religiosas, sem religião, de shows de rock, psicólogos formais, filmes simbolistas, e até de encontros esportivos.
 

QUATRO QUARTETOS DANDO FRUTOS

  Dormir e acordar em outro mundo. 
 Essa frase ecoa em mim, dentro de mim. Dormir e esquecer. Não esquecer, ainda saber o que se é e o que se teve. Dormir e acordar em outra praia. Mas não é o mar que conhecemos, é outro mar e outro céu.
 Outro eu que ainda relembra o eu que sou. Em outro mundo de presente e sem futuro, um acordar que é somente rememorar.
 No quintal com varal passa um avião fazendo barulho que assusta. É o mesmo varal e o mesmo avião e até o quintal se repete. Mas não é o mesmo momento, é outro e no entanto não é passado. Muito menos um futuro. 
 Dentro do porão uma aranha tece. Ela tece junto a janela quebrada cheia de pó que se acumula desde anos. O teto baixo pintado de branco e a porta que raspa no chão vermelho desbotado. Umidade. Tudo é conhecido e tudo tem a estranheza de uma primeira descoberta. O porão não guarda lembrança alguma, e nem pode ser considerado desconhecido. Ele é presente.
 Dormir e acordar em outro mundo. Verde e cinza. Frio sem que o frio nos faça desconforto. Mundo de movimentos ensaiados para dentro. Mundo de onde nada pode cair e se perder e onde a destruição cessa e a construção esfria mais que aquece. 
 Nesse mundo de vácuo cheio de possibilidades o tempo se engole a si-mesmo. A areia sobe rumo ao presente. O presente é o destino. Volta.
 Acordar é um futuro. Dormir é um futuro. Mundo outro que não espera. Pássaros de silêncio e folhas de rosas dormindo sobre o papel que crianças recortam e riem. Ao mesmo momento ecoa um recorte de lembrança. 
 A dança existe sem a dançarina. A música é cantada sem o tempo. E a cor respira no escuro. Silêncio. O sono era barulho e fúria. Acordar é silêncio.
 Acordar em outro mundo sendo o mesmo e ao mesmo tempo sendo outro.
 A poesia é pouca.
 Escrevo isto após reler QUATRO QUARTETOS de Eliot.
 Essas imagens saem de mim.
 Essa ideia nasce em mim.
 Faz sentido em mim.
 Poesia é árvore, seiva da terra ao ar.
 Um sim. 

MORTE NA CATEDRAL- T.S. ELIOT

   Talvez as pessoas tenham hoje vergonha de gostar de Eliot. Gostam, mas vem sempre um "porém..." Why?
   Eliot dizia ser anglicano, monarquista e clássico. Ou seja, dizia crer em Deus, escolher a rainha e amar o período da arte clássica. Americano de St.Louis, como aconteceu antes com Henry James, Eliot foi mais inglês que qualquer inglês. Isso não é raro. Filhos de ex-colônias costumam ser mais metropolitanos que os naturais da metrópole. Além do que, Eliot era filho de uma familia rica dos USA. Seus antepassados podiam ser encontrados no navio que trouxe os peregrinos ingleses.
   Ele começa como modernista radical e logo cedo lança o poema símbolo do século XX, THE WASTE LAND, imagem de niilismo absoluto. O mundo para Eliot é um monte de fragmentos sem sentido. Quando aos 40 anos ele se converte á religião, o mundo passa a lhe parecer conjunto de fragmentos com sentido oculto. Em que pese a fama de Waste Land, que eu venero, a crítica atual prefere sua fase tardia, aquela de 4 QUARTETOS. Em 1948 Eliot ganha seu Nobel, justo. Falece em 1965.
   Mais que seu conservadorismo ( que não se reflete em sua arte sempre moderna ), o que irritou a crítica foram suas opiniões sobre poetas e romancistas. Eliot foi crítico muito lido e atacou Lawrence, Yeats, Wells e Shaw. Poeta, crítico, dramaturgo, conferencista. Eliot domina as letras inglesas entre 1922/1960.
   CRIME NA CATEDRAL fala do assassinato de Thomas Beckett, bispo de Canterbury, em 1170. Thomas foi o grande amigo do rei, Henrique II, mas ao ser alçado pelo rei ao bispado, passou a levar a religião "MUITO A ´SERIO",  obedecendo apenas a Deus. Logo o rei passa a tramar sua morte. Essa história foi usada num dos maiores filmes ingleses da história, BECKETT, que não se baseia nesta peça. O texto de Eliot, curto, litúrgico, tentativa de se fazer um novo Ésquilo em plena época de segunda guerra, tem uma beleza linguística genuína. Os poucos personagens ( Thomas, um coro, tentadores e soldados ), falam com poesia, declamam com precisão. Nada há de choroso, Thomas Beckett jamais pede nossa pena. E, de forma desconcertante, ao final os assassinos se explicam a nós. É uma peça fria, seca, ou seja, clássica.
   É a melhor peça de Eliot.

ASH WEDNESDAY - TS ELIOT ( E ROXY'S MOTHER OF PEARL)

Aqui Eliot entra em sua terceira fase. Não mais o coloquialismo, não mais o modernismo. Agora ele tenta encontrar o sagrado na vida.
Escreverei sobre este poema sem citar uma só linha de seus versos. Basta saber que Eliot sempre escreve poesia sem poetasiar. É totalmente anti-Vinicius. Nada tem de poeta-das-menininhas. E também nada faz dele um "irmãos Campos". Eliot não faz experiências.
Sem rimas, seu segredo é o ritmo. Tudo que ele escreve é musical. As imagens e as palavras vêm e vão e se repetem como se fossem notas e arranjos. Sua escrita é um tornado.
Aqui ele fala do que?
Dos ossos. Dos leopardos que comeram sua carne. Da árvore seca. E de uma Dama de azul e branco. Deserto.
Mas o texto é otimista. Pois ele não mais tem medo. Eliot entendeu.
ASH WEDNESDAY, de 1930, me faz pensar. Em escolhas.
Escolhemos o dois mais dois como eternamente quatro. E agora pagamos o pato.
Optamos pelo olho e pelo ouvido. A mão e o osso. Enterramos ( no inconsciente? ) o não visível.
Religião virou igreja. Torre de pedra com ritos e mandamentos sem nenhum significado.
E arte se tornou cada vez mais a assinatura de uma vaidade.
Mas já falei tanto disso e me dá tanta preguiça..... Pois o que me motiva é a Dama de azul e branco, a rica simbologia dessa mulher que não se pode ter e jamais será conhecida. Essa imagem de religião verdadeira e de morte gloriosa. Esse sentimento que a arte superior tenta nos fazer rememorar.
Em 1300 a arte toma o lugar do sagrado ( já que a igreja se torna PODER ).
E passa a ser, quando verdadeira, a busca pelo invisível e pelo atemporal. Um sentido para uma vida que passa a negar toda transcendencia, que só crê no provado e comum. É na arte, poesia e música, depois teatro e prosa, que se ora.
Mas agora, de 1800 em diante, também a arte lentamente apodrece. Vai perdendo o dom de engrandecer e de sacralizar. Torna-se uma questão de refazer e de erguer egos.
O dois mais dois se torna a única realidade.
A grande obra hoje é sempre da ciência. O acelerador de partículas, o ônibus espacial, o micro. Nosso engenho está todo focado nisso e sómente nisso. O hiper talento humano não mora na arte, muito menos na religião. Ele é todo matemático, o que existe é o que pode ser medido, pesado e transformado em equação.
Todo o resto é poesia.
Mas é aí que a porca torce o rabo.
Pois não há satisfação nessa lousa e nesse chip. Continuamos os mesmos caras de 1300.
Queremos glória viril. Queremos ser lembrados. Queremos uma casa em paz e um campo de provas. A Dama de azul e branco. Êxtase e transcendência. Vinho e sono.
O dois mais dois nos oferece em troca glória virtual. Esquecimento. A morte da casa e o fim da busca pela sóbria paz. A não-concentração e relativização. Uma dama de preto e de vermelho, sem segredos e sem sacrifícios. Comodismo e eficiência. Pílulas e insônia.
Ouça.
Mother of Pearl, Roxy Music.
Tudo isto está lá. É como She Comes in Color do Love de Arthur Lee. Transcendência no pop. A chance de perfeição. Nosso espírito cantando.
Ouça.
Após Mother of Pearl vem Sunset.
Não há mais chance para nós?

QUATRO QUARTETOS- T.S. ELIOT

Os poetas sentem antes aquilo que será sentimento comum no futuro. Conheço um cara que aos 16, nos anos desbundados ( 1979 ) teve uma crise, rara na época, de " não sentido". Nada lhe interessava e a vida lhe parecia já vivida. Sentia-se velho, no fim da picada. Esse mesmo ser, aos 23, em plenos efervescentes anos 80, adquiriu uma sindrome de pânico, num tempo em que ela era confundida com frescura-aguda. Ele não é um poeta, mas tem um espírito meio poético, meio vago, meio meio... Imagine então o que não deve captar a antena de um verdadeiro poeta !
Conheço hoje um garoto de 19 anos. Ele tem dinheiro, mora num belo lugar. Está sempre rindo e fala com qualquer um. Cheio de amigas, vai pegar onda, e está na faculdade que escolheu. Ele vive atualmente uma crise e toma anti-deprê. Diz que nada mais o interessa na vida. Não, não vou falar da falência de nosso tempo. Este mundo não nos oferece nada mais que pareça verdadeiro/ belo e eterno. Vivemos o falso/ desequilibrado e fugaz. Bom...
Eliot foi maior que Wallace Stevens. E ser maior que Stevens é ser quase um deus. Quatro Quartetos se divide em quatro poemas. Eis...
BURNT NORTON é o primeiro.

O TEMPO PRESENTE E O TEMPO PASSADO
ESTÃO AMBOS TALVEZ PRESENTES NO TEMPO FUTURO
E O TEMPO FUTURO CONTIDO NO TEMPO PASSADO.
SE TODO O TEMPO É ETERNAMENTE PRESENTE
TODO TEMPO É IRREDIMÍVEL.
O QUE PODERIA TER SIDO É UMA ABSTRAÇÃO
QUE PERMANECE PERPÉTUA POSSIBILIDADE,
NESSE MUNDO DE ESPECULAÇÃO.

Eliot nasceu americano. Seus ancestrais vieram da costa inglesa, três séculos antes. A vida de Eliot foi a procura dessa origem. Não por acaso, ele começa sua carreira poética como um modernista, e a encerra como, em suas palavras : " Católico, monarquista e conservador ". É mais um dos americanos que se fez inglês.
Os Quatro Quartetos são sua última grande obra. The Waste Land é melhor. É em Waste Land que Eliot antecipa ( 1922 ) aquilo que hoje nos é cotidiano. Mas estes dias ando relendo os Quartetos. ( 1946 ).

SOBRE FACES TENSAS REPUXADAS PELO TEMPO
DISTRAÍDAS PELA DISTRAÇÃO DA DISTRAÇÃO
CHEIAS DE FANTASMAGORIAS E ERMAS DE SENTIDO
TÚMIDA APATIA SEM CONCENTRAÇÃO

Ele quase consegue sair do tempo. Você lê Eliot e sente que o sentido final de tudo está lá, que falta um passo, uma frase, um segundo... Mas a expectativa não se resolve. Eliot é o poeta de nosso tempo por ser o poeta da irresolução.
Mais um trecho.

O AMOR É EM SI MESMO IMÓVEL
APENAS CAUSA E FIM DO MOVIMENTO
SEM TEMPO E SEM DESEJO
EXCETO EM SUA MÁSCARA DE TEMPO
CAPTURADO SOB FORMA DE LIMITAÇÃO
ENTRE O SER E O NÃO-SER.

Parte dois : EAST COKER

EM MEU PRINCÍPIO ESTÁ MEU FIM.
UMAS APÓS OUTRAS AS CASAS SE LEVANTAM, TOMBAM, DESMORONAM, SÃO AMPLIADAS, REMOVIDAS, DESTRUÍDAS, RESTAURADAS, OU EM SEU LUGAR
IRROMPE UM CAMPO ABERTO, UMA USINA OU UM ATALHO....
... TERRA AGORA FEITA CARNE, FEZES E PELE...

Eliot procura mostrar o tempo como abstração. Nada daquilo que percebemos como antes e depois pode existir. A vida é fora do tempo. Mas acreditamos nesse passar de tempo...

DESPONTA A AURORA E UM NOVO DIA
PARA O SILÊNCIO E O CALOR SE APRESTA. O VENTO DA AURORA
DESLIZA E ONDULA NO MARALTO. ESTOU AQUI,
OU ALÍ, OU MAIS ALÉM. EM MEU PRINCÍPIO.

QUE VALOR PODE TER A CALMA TÃO LONGAMENTE ESPERADA
COM TANTO ARDOR DESEJADA, A SERENIDADE OUTONAL
E A SABEDORIA DA VELHICE ? TERIAM ELES NOS LOGRADO
OU LOGRARAM-SE A SI PRÓPRIOS, OS MAIS VELHOS DE FALA COMEDIDA,
QUE NOS LEGARAM APENAS O RECIBO DE UMA FRAUDE ?
A SERENIDADE NÃO PASSA DE EMBRUTECIMENTO VOLUNTÁRIO
A SABEDORIA ENCERRA APENAS O CONHECIMENTO DE SEGREDOS MORTOS,

Sim, Eliot não nos dá o que gostaríamos de obter. Consolo. Quando ele beira o místico, dizendo que o tempo é ilusão, ele também ataca a facilidade do consolo. Não existe sabedoria ou experiência. Pois o tempo é de cada um, individual, e conhecimento profundo não pode ser dividido. Eu vivo em meu tempo, voce vive seu tempo; e estamos sós nesse nosso particular universo.

NO CONHECIMENTO QUE DERIVA DA EXPERIÊNCIA
O CONHECIMENTO IMPÕE UM MODELO, E FALSIFICA,
PORQUE O MODELO É VÁRIO PARA CADA INSTANTE
E CADA INSTANTE UMA NOVA E PENOSA AVALIAÇÃO DE TUDO QUANTO FOMOS.
....
QUE NÃO FALEM DA SABEDORIA DOS VELHOS, MAS ANTES DE SEU DELIRIO.
DE SEU MEDO DO FRENESÍ, DO MEDO DE SEREM POSSUÍDOS
DE PERTENCEREM A UM OUTRO, OU A OUTROS OU A DEUS.
A ÚNICA SABEDORIA A QUE PODEMOS ASPIRAR
É A SABEDORIA DA HUMILDADE : A HUMILDADE É INFINITA.
TODAS AS CASAS SUBMERGIRAM NO MAR.
TODOS OS BAILARINOS SUBMERGIRAM NA COLINA.

PARA CHEGARES ONDE ESTÁS, PARA SAÍRES DE ONDE NÃO ESTÁS
DEVES SEGUIR POR UM CAMINHO EM QUE O ÊXTASE NÃO MEDRA.
PARA CHEGARES AO QUE NÃO SABES
DEVES SEGUIR PELO CAMINHO DA IGNORÂNCIA.
PARA POSSUIRES O QUE NÃO POSSUIS
DEVES SEGUIR O CAMINHO DO DESPOJAMENTO
PARA CHEGARES AO QUE NÃO ÉS
DEVES CRUZAR PELO CAMINHO EM QUE NÃO ÉS.
E O QUE NÃO SABES É APENAS O QUE SABES.
E O QUE POSSUIS É O QUE NÃO POSSUIS
ESTÁS ONDE NÃO ESTÁS.

Eliot amava sobretudo dois livros : A Comédia de Dante Alighieri e os Upanishads, da cultura hindú. Ele foi moderno sendo antigo, ou melhor, atemporal. Quando ele fala da tolice dos velhos ele fala daqueles sábios que se dizem mestres, dos conselheiros, dos doutores em sociologia, em filosofia, em psicologia, em física, em vida. Ser sábio é negar a vida, pois todo saber está preso ao tempo, cristalizado no momento em que foi emitido/criado, está morto.

O MUNDO INTEIRO SÓ NOS VALE DE HOSPITAL
ÚLTIMO BEM DO MILIONÁRIO ARRUINADO
E ONDE, SE TUDO CORRER BEM, PODEREMOS
MORRER DO ABSOLUTO E PATERNAL CUIDADO
QUE A CADA INSTANTE NOS AMPARA E TIRANIZA.

É SEMPRE UM NOVO COMEÇAR E UMA NOVA ESPÉCIE DE FRACASSO
POIS APENAS SE APRENDEU A ESCOLHER O MELHOR DAS PALAVRAS
PARA O QUE NÃO HÁ MAIS A DIZER.

EM MEU FIM ESTÁ MEU PRINCÍPIO.

Parte 3. The Dry Salvages. ( Todas as partes são nomes de lugares que marcaram a vida do poeta ).

Aqui Eliot diz uma coisa que me toca muito profundamente :

NÃO SEI MUITO ACERCA DE DEUSES, MAS CREIO QUE O RIO É UM DEUS PODEROSO DEUS CASTANHO- TACITURNO, INDÔMITO E INTRATÁVEL
PACIENTE ATÉ CERTO PONTO, A PRINCÍPIO RECONHECIDO COMO FRONTEIRA,
ÚTIL, CONFIDENTE, COMO UM CAIXEIRO-VIAJANTE.
DEPOIS APENAS UM PROBLEMA QUE AO CONSTRUTOR DE PONTES DESAFIA.
RESOLVIDO O PROBLEMA, O DEUS CASTANHO É QUASE ESQUECIDO PELOS MORADORES DA CIDADE-- SEMPRE CONTUDO, IMPLACÁVEL, FIEL ÀS SUAS IRAS E ÉPOCAS DE CHEIAS
RECORDANDO O QUE OS HOMENS PREFEREM ESQUECER.
DESPREZADO PELOS ADORADORES DA MÁQUINA, MAS ESPERANDO, ESPREITANDO.
SEU RITMO ESTAVA PRESENTE NO QUARTO DAS CRIANÇAS
NOS QUINTAIS DE ABRIL
NO AROMA DAS UVAS SOBRE A MESA OUTONAL
NO HALO DOS LAMPIÕES DE INVERNO.

O RIO FLUI DENTRO DE NÓS E O MAR NOS CERCA POR TODOS OS LADOS.

Como eu disse, poetas antecipam. O que Eliot escreve em 1946, hoje todos nós sentimos. Tememos. Vivemos.
São tantos os trechos maravilhosos que minha vontade é copiar tudo para dar de presente a quem me lê...

E TODA SUBIDA É UMA DESCIDA, TODO RETORNO UMA PARTIDA
NÃO O PODES ENCARAR FACE À FACE, MAS ISTO É O CERTO :
O TEMPO NADA CURA, E AQUI JÁ NÃO ESTÁ MAIS O PACIENTE.
...

NÃO SOIS OS MESMOS QUE DEIXARAM A ESTAÇÃO
BOA VIAJEM, NÃO !
MAS ADIANTE, VIAJANTES.

Parte 4. Little Gidding.

NÃO CESSAREMOS NUNCA DE EXPLORAR
E O FIM DE TODA EXPLORAÇÃO
SERÁ CHEGAR AO PONTO DE PARTIDA
E O LUGAR RECONHECER AINDA
COMO DA PRIMEIRA VEZ QUE O VIMOS.
PELA DESCONHECIDA/RELEMBRADA PORTA...

O tamanho de um artista é medido pelo tamanho da tarefa que ele se dá.
TS Eliot desejou transcender a vida.
Se ele conseguiu ? Claro que não. Mas o percurso que Eliot percorreu... a voz que ele nos fez ouvir... as palavras mortas que ele fez reviver...
Ler os Quartetos. Leia com muita calma, em momento fora do tempo. Não busque sabedoria ou beleza neles. Não procure sequer poesia.
Você encontrará tudo isso neles. Mas não procure. Dispense.
Há um maravilhoso momento nesses poemas em que ele diz que podemos escolher entre ser e não ser. Mas que na verdade podemos ter uma terceira opção : alhear. Ficar alheio ao tempo, a vida.
Leia distante da leitura. Talvez dê pra entender. Talvez o segredo se faça transponível.
Leia o rio também. O desprezado rio. Eliot é um rio assim como Yeats é uma nuvem que chove nesse rio. Feliz tempo o tempo de água.