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RUDIN - IVAN TURGUENIEV
Escrito no meio do século XIX, este é o primeiro romance de Turgueniev, autor central naquela que é a nação com a prosa mais perfeita da história. Rudin expõe as características do tal "milagre russo", a condição de um país tão atrasado socialmente, a Russia de então era ainda medieval, ter ultrapassado países como Inglaterra e França no estilo romanesco. ---------------- O segredo é a complexidade do páis: a Russia tinha religião absoluta e ao mesmo tempo criava o niilismo mais radical, tinha milhôes de servos analfabetos e ao mesmo tempo a classe aristocrática mais culta do planeta, acreditavam em bruxas e maldições e também na técnica e no materialismo. Nas ruas, conviviam pessoas que exitiam como em 1350 e dandys de 1850. Tudo isso temperado pelo exagero eslavo, pela emoção sempre a flor da pele. Se os ingleses escreviam melhor e os franceses eram mais modernos, os russos tinham o segredo de criar personagens mais reais e ao mesmo tempo maiores que a vida. ------------------ Todo país protagonista na história do mundo nasce já se anunciando. A Russia é central desde sempre. ---------------------- Rudin é um homem de 35 anos que surge na casa de campo de uma rica senhora. Logo ele domina a conversa de todos os jantares, Rudin tem o dom da fala e sua fala é filosófica, revolucionária, moderna. Mas, precipitado e auto-iludido, ele cai em desgraça e é expulso de seu meio. Rudin é o intelectual que não age, aquele que inventa desculpas para jamais se comprometer, nunca ir da teoria à ação. Vaidoso e cheio de pose, sua máscara logo cai e sua verdade aparece: ele é só palavra, não possui alma. ----------------- O romance é delicioso de se ler. Gostamos dos personagens, eles nos envolvem, e nisso ele é bem russo. Um ponto me incomodou, e isso considero uma falha, Turgueniev era ainda um autor muito verde em 1855, é o modo como Liejnev perdoa Rudin na parte final da história. Me pareceu artificial isso, e o livro se torna uma exposição de tese. Mas, fora isso, é um belo romance que merece muito manter sua importância histórica. Afinal, 170 anos depois, um leitor no Brasil ainda sente prazer com suas frases bem arquitetadas.
O MESTRE E MARGARIDA - MIKHAIL BULGAKOV
Desde os anos de 1960, quando foi publicado em Paris ( proibido pelos soviéticos desde os anos 30 ), este romance só tem visto sua fama aumentar. Hoje é considerado um dos grandes de seu século e eu acabo de o ler. Como posso o definir? Desesperado. Irrespirável. Terrível. E sim, genial. ----------- Leitores jovens tendem a achar o livro apenas "engraçado" ou "doido". As coisas acontecem e não têm nenhum sentido. Fugas, aparições, cenas inteiras, quedas, mortes, desaparecimentos, tudo ocorre sem causa e sem efeito visível. Para quem nunca viveu uma realidade assim, o livro parecerá uma aula de criativade ilimitada. Mas, para quem observa certos governos, onde se soltam assassinos e se prendem protestantes não violentos, tudo faz sentido dentro do mundo que o livro descreve. Há em todo ele um clima desagradável, de delação, de não confiança, de medo. Todos são de algum grupo, seja de escritores, jovens socialistas, trabalhadores, ou simples funcionários estatais. O Diabo, um alemão com elegância e que é o único que crê em Jesus, pois o viu, é um indivíduo e poucos críticos perceberam isso. Em regime que forçava a negação do individual, surge o Demo como o Ultra Indivíduo. Ele surge, ele faz, ele não engana, ele fala. E com ele, toda a ordem de Moscou cai por terra. A mensagem do romance é cristalina: O Poder deve cair, ele não tem como se manter. E esse poder será derrubado diabolicamente. -------------- Não há porque descrever seu enredo, ele engloba amor, pavor, ódio, loucura pura, vai de parques à hospícios ( a saúde mental foi muito usada como padrão social por Stalin ). Mas agora, sinto muito, devo dizer que não amei esta obra tão forte. -------------- Sinto por ele o que sinto por tantos outros livros que primam pela criatividade e pouco pelo engenho. É árido. É frio. Duro como gelo. E é russo. E russos, eles são outros que não nós. ------------ Lendo-o penso ainda em crápulas como Sartre ou Saramago, espíritos ruins, vaidosos, obtusos que morreram sem condenar o stalinismo. Lendo-o penso no despedício da vida do autor. O trabalho imenso para o escrever, a morte sem o ver publicado, o silêncio obrigatório, o cala a boca dito pelo burocrata do ministério da informação ( das fake news ). Tivesse tido a sorte de ter nascido em Londres, quantos livros ele teria escrito? --------------- É um grito este livro.
FUMAÇA - TURGUENIEV
Após os cinco gigantes, Tolstoi, Gogol, Dostoievski, Pushkin e Tchekov, vêm Lermontov e Turgueniev. Nada épico, sempre pensamos no romance russo como afresco imenso, Turgueniev não escrevia almejando o gigantesco, sua ambição parecia mais particular. Mas creia-me, seu poder de nos fazer habitar dentro de seus livros é incomum. Moramos neles. Fumaça trata de um jovem que está em Baden, na Alemanha, esperando sua noiva que lá irá o encontrar. Enquanto espera, ele conhece vários jovens russos que moram em pensões medianas. e mais importante, topa com um amor de dez anos atrás. Esse reencontro modifica sua vida, ou não? A questão é: Nós realmente mudamos? ------------------------------ O personagem central, jovem de 30 anos, noivo, com algum dinheiro mas não rico, exita, pensa, não se decide. Em Baden ele conhece jovens estudantes e depois os funcionários ricos do estado. Sua ex namorada, aquela que ele reencontra, é agora esposa de um general e se tornou rica. Turgueniev não perdoa, ele demonstra, através do personagem do central, todo seu ódio aos intelectuais e aos poderosos da Russia. É um desfile de gente pretensiosa, ridícula, vazia, falando coisas totalmente sem valor. Já próximo ao fim, Turgueniev conclui: a Russia está fadada ao imobilismo, nada nunca mudará. ---------------- Mudou? Após uma revolução e mais de 150 anos, mudou? --------------- Há uma cena em que franceses conversam em Baden e por mais que evitem acabam por falar de mulheres. Ingleses falam de novas invenções e de esporte. Alemães de progresso, da nova Alemanha. E do que falam os russos? Fofocam. E falam, de modo exagerado e nada realista ou prático, de política. Dão vexames. ---------------------- Turgueniev consegue nos fazer ver algo em comum entre brasileiros em 2023 e russos de 1870, a eterna espera e a repetição sem fim. O livro, como PAIS E FILHOS, obra mais famosa do autor, lido por mim em 1988, é ótimo.
A FILHA DO CAPITÃO - PUSHKIN
Tenho uma amiga escritora. Ela disse que um de seus professores na PUC RIO criticou um texto seu por ela exaltar a literatura russa. Esse professor, de estética, não sabia que a Russia tinha uma grande literatura. ---------------- Estudei no ensino público entre os anos de 1969-1978. Não líamos Tolstoi ou Gogol, lógico, mas desde os 11 anos devíamos fazer resumos sobre livros de Poe, Mark Twain, Julio Verne e Stevenson. Também líamos Monteiro Lobato, Rachel de Queirós e José J. Veiga. No ensino médio era a vez de Salinger, Kafka e Orwell. Weellll.... em 2023 não vejo um só livro indicado aos alunos do ensino público e falo mais, como professor, se eu indicar algo fora do currículo serei advertido. ---------------- Li Pushkin aos 15 anos e reli estes dias. Pushkin é chamado do desbravador do romance russo, o primeiro da linhagem. Ele não é o primeiro, mas ficou a fama. Romance russo é um milagre do século XIX. É tão inexplicável como é admirável. A Russia em 1830, 1880 era um país medieval. Violento, analfabeto, obscuro. Mas, e talvez aí esteja a explicação, tinha uma das elites mais cultas da Europa. Eram cultos e eram indiferentes ao povo. Elite culta é uma raça em extinção no século XXI. Elite que realmente lê, que ama a arte e a filosofia, que viaja para se educar; isso acabou. Por isso a alta cultura morreu. ---------------- Esta novela de Pushkin, uma das obras mais populares do autor russo, tem duas partes bem marcadas. A primeira metade é o amadurecimento de um jovem russo, rico, que é mandado para o exército pelo pai severo. Na segunda parte, já integrado à vida, ele se envolve na revolta dos cossacos. Livro de aventura, de amor, de formação de caráter, é aquele romance-novela típico do século XIX, vasto, ambicioso, tempo em que um escritor queria sempre dizer muito e dizer tudo. A criação de personalidades ficcionais é perfeita e os ambientes são fascinantes. Mundo de escuridão fria, de estepes e de costumes violentos. Um belo livro.
O HEROI DO NOSSO TEMPO - LIERMONTOV
Para quem ama livros, há uma alegria enorme em encontrar uma obra bem escrita. Romances russos do século XIX são como sinfonias da mesma época, o ápice de uma arte. Não há como explicar o porque de uma nação tão atrasada e isolada como a Russia de 1840, começar a produzir a melhor prosa de seu tempo. Seria como se hoje o Paquistão fosse o país a desovar os melhores livros de 2023. Ou a Venezuela. ------------------ Talvez, e eu apenas dou uma opinião de palpiteiro, a mistura de nobreza milionária, povo escravo ainda como se fosse da idade média, contatos tímidos com o ocidente, fé religiosa extremada, anarquismo revolucionário, orientalismo, e a certeza messiânica de que a Russia seria o país central do planeta, tudo isso misturado nos deu essa coisa incomparável que chamamos de "romance russo". Eu sou anglófilo, voces sabem, mas o romance inglês tem sempre um limite, aquele da razão. São elegantes, não mergulham jamais no misticismo absurdo, na paixão fanática. Já os franceses até hoje sofrem de um cartesianismo ditatorial. Por mais moderno que sejam, constroem sempre uma lógica interna. Tudo faz sentido. São claros. Nos russos não. Mergulham na febre da paixão, não temem o ridículo, vão fundo no misticismo, na dor e na alegria mais bêbada, nunca param de afundar se podem afundar. Neles há culpa e pecado, amor e vaidade, violência e horror, como em nenhum outro. E beleza, enlouquecida beleza. ---------------- O autor desta novela foi um grande e famoso poeta, ficando atrás apenas do central Pushkin. Morto em duelo antes dos 30 anos, sua veia de prosador ficou restrita, jamais saberemos onde seu talento o levaria. Aqui temos uma narrativa maravilhosa. Na primeira parte o narrador conhece um militar nobre e rico que se casa com uma bela moça dos confins da Russia. Depois o livro muda de narrador e conhecemos o diário do tal militar nobre e rico. Ficamos sabendo que antes desse casamento ele amara uma mulher casada e fora amado por ingênua mocinha herdeira. E destruíra a ambas. Amoral ao extremo, esse personagem rouba o grande amor de seu melhor amigo, e depois ainda mata-o em duelo. Isso sem perceber o mal que pratica. O que vemos é um homem que se percebe sempre como fosse um tipo de Byron, um poeta sofredor e mal compreendido, um maldito que sofre a dor de ser diferente. Mas na verdade, por seus atos, ele é apenas um homem terrivelmente egoísta, vaidoso e sem qualquer pudor. O que o autor nos dá é soberbo, pois vemos toda a complexidade de uma alma em apenas 140 páginas!!!! Ironia e crítica ao romantismo escritos por um romântico!!!! O livro diverte e encanta, seduz e exaspera, o heroi é mau e é admirável. --------------------- O heroi é o típico ser de 2023. Um egocêntrico que se vê como original e sensível. Um solitário que finge desprezar os outros. Um ser que mente a si mesmo..... Pense nisso. -------------------- Escrito de modo realista, sentimos a lama das estradas, o frio das noites, o odor dos lugares. Entramos na Russia rural de então. Que grande romance!
A ILUSÃO DO DESTINO MANIFESTO RUSSO
Faz mais de 200 anos, desde Pedro, que a Russia tem a absoluta certeza de ser não só o maior, como o país escolhido por Deus. Eu acredito que território designa psicologia de um povo. Coisas como clima, paisagens, fauna, flora, fronteiras, definem a alma de uma nação. Tanto quanto a história. Na verdade, mais, pois a história é consequência do povo lá acente. Não vou descrever o fato de que meu país, o Brasil, tem a alma que seu território cria. É grande, quente, barroca, difícil de penetrar, privilegiada, farta, fácil, pantanosa, pestilenta, cansativa. Seja Portugal, país acuado na beira do mundo, seja Inglaterra, uma Europa que é uma ilha, cada nação é aquilo que sua geografia lhe dá. A Russia é um corredor, uma planície fria, que vai da Europa à América, da beira da Arábia ao Polo. É um horizonte, é solitária, é vazia, é um nada que tem quase tudo. É uma alucinação. -------------- Teimosa e tolamente, a alma russa persiste. Ela nunca foi comunista, ela usou o comunismo para manifestar sua ilusão de possuir uma missão: Guiar os povos, ser o centro de fato do mundo. Antes do comunismo a Russia usou o militarismo da aristocracia mais cruel. Usou a religião ortodoxa. Agora, após o fim da URSS, ela usa o que está à mão: o apelo aos pseudo valores conservadores mais primários. ------------------ Putin é esperto, talvez o único líder com alguma esperteza em 2022. Sabe que para os velhos comunas, o nome Russia sempre será visto co carinho. Sua meta então é conquistar os conservadores, grupo que mais cresce no planeta. Para isso ele apela às aparências e não à substância: Virilidade, agressividade, ordem, religiosidade e militarismo. Sua sacada foi sentir que este era o momento psicológico perfeito: se opor, em ato e em fala, a Biden-Trudeau e Macron, a trinca que concentra o ódio dos conservadores. ---------------- Fosse Putin americano ou chinês, ele se oporia à eles ao modo soft power: penetrando lentamente na cultura das nações, colocando agentes chave nos postos internos dos países, comprando políticos e midia. Mas ele é russo e seu modo é curto e grosso: ataque frontal, discursos objetivos, nada de simpatia ou soft power, é hard-heavy. ------------ A Russia jamais será os EUA por isso. Não sabe conquistar corações. Não sabe se fazer de palhaço. Não sabe criar hábitos e vícios. Eles serão sempre os ursos. Nunca Mickey Mouse ou Charlie Brown. --------------- A outra nação que crê em destino manifesto, não por acaso, são os EUA. Mas há uma diferença abissal entre os dois. Os USA conseguiram ser tudo aquilo que desejaram um dia ser. Cultura central, fonte do dinheiro do mundo, amados e odiados por todos em porções iguais, irradiador de tendencias de pensamento e de comportamento, guerreiros e vilões que sempre conseguem se safar como pacifistas e gente do bem. A diferença nasce do fato de que a URSS foi e é uma nação DIRIGIDA POR UMA CASTA. Casta antes aristocrática, depois burocrática, agora militar. Enquanto os EUA foram e são sempre o mesmo, uma nação pensada, dirigida e planejada por doutores, professores, trabalhadores liberais, industriais e banqueiros. Gente que entende a necessidade de ter um alvo definido, planejar e executar exatamente o que foi acordado entre eles. O destino russo é o do cavaleiro duelista. O americano é o do vendedor. ---------------- Por isso que por mais que a América tenha eleito desastres como Carter, Bush filho ou Biden, ela sobrevive sempre a mesma. Enquanto a Russia vive sempre envolta em dramas dignos de sua literatura sem igual. Os EUA são Mark Twain. A Russia é Dostoievski.
A OTAN AINDA EXISTE. PRA QUÊ MESMO?
A OTAN foi criada em 1947 para defender a Europa ocidental da expansão do comunismo de Moscou. E como acontece com tudo que é muito repetido, quando ouvimos a palavra OTAN nunca paramos para pensar no que ela é. Um organismo, imenso, americano, que está em plena expansão. Para que? -------------- A URSS acabou em 1991, e desde então não há mais o porque da existência da OTAN. Mas ela permanece. Bases americanas na Alemanha, na Inglaterra e agora na Estônia, Armênia e Lituânia. Volto a dizer: defendendo a Europa do que? --------------- Segundo Putin, a OTAN aponta suas armas para a Russia. Cada vez mais ela se aproxima do território russo, e volto a dizer, pra que? ------------- Escrevi em posts passados que a Russia não iria invadir a Ukrania porque ela já havia entrado e saído por duas vezes. Aquilo que Moscou queria já havia sido conseguido. Mas algo mudou nos últimos dois meses, o fator Joe Biden. -------------- De modo tolo e irresponsável, Biden afirmou que os EUA iriam colocar a Ukrania na OTAN. E a ideia de Kiev com misseis apontados para seu território foi inadmissível para Putin. Seria como se Cuba tivesse misseis apontados para Washington. Hey, isso aconteceu em 1962! A crise dos misseis soviéticos e a URSS cedeu. ------------------- Putin está errado em começar uma guerra e nunca defenderei o agressor. Mas tento entender sua escolha. Ele sabe que gente como Biden, Macron, Johnson, são fracos, indecisos, tolos e infantis. A Alemanha depende do gás russo. A China será sempre neutra. Então ele fez o que podia fazer: mostrar força. ----------------- Não se engane com a Ukrania. Tem gente muito tola dizendo que seu líder é um heroi. O governo de Kiev é talvez a coisa mais corrupta e mal intencionada do planeta. O nazismo é aceito no país festivamente, e a espionagem é moeda corrente. O líder, um ex comediante, instiga o povo a se armar e defender o indefensável. A derrota é certa. Ele está sacrificando a sua população. Pra que? ------------- A OTAN não veio. A França ajuda cantando Imagine. Biden chama Putin de assassino. A Ukrania foi feita de boba pelo ocidente. Sanções economicas contra Moscou? Rindo aqui. ------------------- O cerne da questão é: Porque os EUA continuam cercando a Russia e chamando Moscou, sempre, de Império do Mal? Somos educados, ainda, a ver a Russia como um país composto por mafiosos, bêbados e prostitutas. Porque isso? -------------- Putin diz, sua fala para a nação russa, na quinta feira, foi censurada no ocidente, que a Europa deseja a riqueza da Russia. Que o ocidente não aceita a existência de um país tão grande, em território e em minérios, que não se submeta aos desejos dos EUA. Ele foi duro. Falou que a Europa só foi grande enquanto subjugava nações mundo afora, e que agora, insignificante, vê a Russia como sua derradeira chance. Já os EUA, país que cresceu matando índios e escravizando negros, vê na Russia aquilo que ele é: um país de mafiosos e de exploração dos mais vulneráveis. ---------------- É uma guerra de discursos. A Russia também matou povos e escravizou gente. O que tento deixar claro aqui é que NÃO EXISTE NAÇÃO INOCENTE NO MUNDO INTEIRO. NEM A MINHA E NEM A SUA. Essa é uma visão adulta da história. Seja EUA seja Russia, Seja Uganda seja Egito, seja Japão ou seja Paraguai, todo país irá subjugar e explorar um povo se puder. ----------------- Volto então a OTAN. Sejamos claros e concretos: Porque ela se expande? Porque ela se arma nas fronteiras da Russia? ---------------- Lembro que no fim da URSS o mundo todo tinha a certeza de que a fragmentação do império iria criar dezenas de pequenos países, e nenhum seria relevante. Jamais. Mas a Russia se ergueu, o território continuou o maior do globo e ela continua sendo uma pedra que perturba a Europa. Um engima: nem oriente, nada ocidental. O que ela é?
A IMPRENSA NÃO INFORMA, ELA FAZ PROPAGANDA
Como falei aqui meses atrás, a Russia invadiu a Ucrania ano passado, fez o que quis, pegou o que precisava pegar e voltou a seu país. Guerra agora é uma fake news. E pensar que houve ingênuo falando em guerra mundial... Mas porque essa mentira toda, divulgada sem pudor pela imprensa mainstream? -------------- Well....jornais hoje não informam nada, eles divulgam propaganda. Todos têm uma meta e apenas aquilo que colabora com essa meta é divulgado. Como já falei várias vezes, se voce quer saber o que acontece, voce deve pesquisar e se focar nas notícias mal divulgadas, escondidas, jogadas ao limbo. Quanto maior a manchete mais mentirosa ela é. Seja aqui seja nos EUA ou na Alemanha. ------------- Desse modo, tudo o que é meta deve ter em acordo a propagação, ainda, do virus perigoso, da necessidade de obediência cega, e da pauta "do bem". O que foge desse espectro deve ser negado, censurado e nem ao menos discutido. ------------- Mas a rua não tem pauta. Gente tem morrido com a droga experimental e gente tem estado saudável sem vacina e sem máscaras. Pior para eles, há um movimento mundial, de rua, contra tudo o que aconteceu nos últimos dois anos. E no Canadá, Trudeau, um dos mais medíocres, ridículos e mimados dos líderes mundiais, decretou estado marcial contra sua própria população. O Canadá, pelo desejo de Trudeau, se transformou em Cuba, voce pode ser impedido de acessar sua conta bancária, ser preso, ser silenciado, se não obedecer aquilo que Trudeau quer. Na França a população divulga a grande marcha sobre Paris para Março. O galináceo líder francês já acionou a polícia. --------------- Em ambos os países, manifestantes são ajudados pela população. Recebem comida, gasolina e hospedagem dos cidadãos. É uma coisa linda. Mas que por não se alinhar à meta da imprensa, é demonizada. Ou ignorada. Uma pseudo guerra ajuda a esconder o que de mais importante acontece agora e na rua. Há quem caia no golpe. Eu não. ----------------- Governadores das províncias canadenses já avisaram que não vão reprimir o povo. Trudeau, asno sempre, se isolou. A imprensa teme que o exemplo se alastre pelo globo. Então se tenta mobilizar o mundo numa guerra europeia entre Russia e Ucrânia. E, que ironia, Bolsonaro vai até lá, sabendo que nada está acontecendo que o coloque em risco. Raivosos, os jornaleiros se exaltam. Não adianta, o discurso vai ter de mudar. Outra mentira terá de ser criada. ------------------ Moderna e Janssen sumiram. A vacina brasileira virou encosto, lixo, o que sempre foi. Mas não se toca no assunto. Não se cobra os bilhões gastos na vacina que se revelou apenas uma água choca. Faz de conta que ela nunca existiu. Ou que foi de graça, dada no mato. Pela imprensa, o que não está na meta não existe. --------------- O superavit brasileiro não existe assim como as centenas de obras no nordeste. Mas, a rua, a tal rua, ela estraga tudo. E pior, com o horário eleitoral, as redes deverão exibir, na marra, as tais obras tão bem escondidas. O desepero bate cada vez mais forte. Já tem juiz falando em complô russo. O ridículo não tem limites. Quem já era imbecil, quando com medo se torna idiota. ----------------- A imprensa segura o quanto pode a narrativa. Mas no fundo sabem que a coisa já era. E que a verdade, a odiada verdade, começa a surgir. Tenta-se a censura. Mas não adianta. A propagação da verdade é irrefreável. Pode ser adiada, mas ela não morre. ------------ Começa a haver uma lenta tentativa de se fazer cara de paisagem. Muita gente finge que nunca falou ou gritou aquilo que berrou. Covardes há aos bilhões e esses tentam se disfarçar de neutros. Agora. Pois há poucos dias deduravam, condenavam, calavam. ---------------- Ah sim....alguém pode me dizer se Kamala Harris ainda está viva? Sumiu. E Biden, alguém me informe se algo que ele pediu foi cumprido? Sorry, mas eu avisei, é um governo de fachada. See ya.
A UCRÂNIA JÁ ERA
Faz tempo que a Russia entra na Ucrania quando quer. No ano passado foram duas as invasões. Numa delas, uma montanha de "segredos" foram capturados. Lavagem de dinheiro e pecadinhos sexuais, isso é a Ucrania de hoje. Putin tem a posse desses segredos. Que, como avisei em 2021, comprometem não apenas Biden, mas também a China, França e Alemanha. Por isso Putin pode fazer o que quiser com seus vizinhos. Os outros irão dar entrevistas iradas, irão rosnar, mas não tomarão uma só atitude comercial ou militar. Estão com o rabo preso. Parece que o sistema de espionagem russo é ainda o melhor do mundo. ---------------- Um cantor negro radical disse em 1970 que a revolução não seria televisada. Em 2022 ela não está sendo. Canadá, França e Bélgica estão paradas. A população, de forma pacífica, está dando comida e gasolina para os morotistas que se concentram em pontos chave e não saem de lá. Isso tudo daria um filme lindo. Um documentário maravilhoso. Mas por ser uma ação da direita é ignorada. Faz de conta que não acontece. Baby, o mundo real existe independente da edição da mídia. --------------- Hoje o mundo se divide em avestruzes e gente acordada. Ponto.
PIERRE MONTEUX REGE MUSSORGSKI E BORODIN
Pierre Monteux foi um daqueles regentes entre regentes. Sua atuação formou montes de maestros, e apesar de menos famoso que um Abbado ou um Furtwangler, ele é central. Ouço-o regendo a Orquestra de Hamburgo e percebo logo seu absoluto domínio do tempo. Monte Calvo de Mussorgski tanto como Prince Igor de Borodin têm no tempo sua armadilha. Se voce relaxar elas perdem encanto, se voce acelerar tudo se torna uma canfusão. Monteux acelera quando quer e evita o kaos, pisa no freio quando preciso e não perde ritmo. E música russa é acima de tudo ritmo. --------------- Tento evitar o cliché: russos são selvagens, sua música é sensual, eles dominam o fogo em forma de som. Mas é um fato, são inconfundíveis e criaram em fins do século XIX aquilo que seria a música moderna no começo do XX. Mussorgski é anguloso, oriental e sem pudor; Borodin, seu contemporaneo, é exuberante. Ambos possuem mais ritmo que qualquer coisa que se fazia então. Monteux é perfeito para ambos porque não exagera no exótico e não domestica o selvagem. Um grande prazer ouvir essas gravações.
BORIS PASTERNAK
Era 1958 e Boris Pasternak ganha o Nobel de literatura. No ocidente sua vitória foi saudada. Era um grande poeta desde os anos 40 e em 1954 lançara Doutor Jivago, romance sobre a revolução, best seller mundial. Mas, para Boris Pasternak, nada podia ter sido pior que o prêmio. ------------------------------------ DOUTOR JIVAGO fora contrabandeado para a Itália e editado em Milão. Logo seria lançado na França, na Inglaterra, na Suécia. Mas não na URSS. Alguns poucos o liam escondido, em francês. Com o Nobel veio o olhar da URSS sobre seu escritor e começou o massacre. O Pravda o chamou de "Porco vendido", os outros jornais variaram de traidor da pátria até idiota acéfalo. Esperava- se um Estocolmo que Pasternak viesse receber o prêmio e talvez pedir asilo. Não. Boris Pasternak recusou o prêmio e também o dinheiro. Publicamente pediu desculpas a Krushov e morreu na URSS como um pária. ----------------------------- Jean Paul Sartre, mal caráter até o fim, aplaudiu a pressão soviética e disse que o Nobel fora mera questão política. Neruda e Saramago seguiram também a ordem do partido. --------------------- Foi uma escolha política? Sempre é. O próprio Sartre ganharia alguns anos depois numa clara decisão política. Mas o que o francês não sabia é que Pasternak vinha sendo proposto desde 1946, muito antes de Jivago existir, quando ele ainda era apenas um poeta soviético conhecido por poucos. Nunca havia lido Boris. Adoro o filme de David Lean, e isso era tudo que eu conhecia dele. Pego uma pequena bio escrita por ele mesmo. Ele não fala de si mesmo, discorre sobre famosos que conheceu. Queria ser músico, estudou filosofia, virou poeta. Lembra-se de Tolstoi em sua casa, quando criança bem pequena. --------------------------- ESTAR VIVO, NADA ALÉM DISSO, VIVER É TUDO, ATÉ O FIM. ---------------------------- E A VIDA SERÁ OUTRA COISA, ALÉM DE UM INSTANTE SEM PESO, ALGO MAIS QUE FUNDIR-SE AOS OUTROS QUAL DOM DE SI MESMO?
SOMOS TODOS ARLEQUINS - VLADIMIR NABOKOV
Escrito em 1974, já em sua velhice, este livro, meio auto biográfico, mostra mais um tipo de Nabokov.
Fascinante autor, ainda não li dois livros dele que fossem parecidos. Li dois bastante ruins, li três geniais, e ainda mais dois "apenas" ótimos. Este é um dos ótimos.
Aqui ele conta as memórias de um refugiado russo. Vadim é escritor de sucesso, professor universitário nos USA e se casou várias vezes. O que ele mais lembra aqui são seus casamentos. O primeiro termina em tragédia, outro vira pesadelo, mais um que se torna uma piada e um novo casamento que promete ser bom. Há ainda a relação com uma filha. ( Estranho mundo o nosso. O personagem, não há como evitar, parece ter uma relação carinhosa demais com essa filha...incesto? Ou estamos educados e amestrados a ver doença em ato sem conotação sexual? ).
Vadim é esnobe, hedonista, vaidoso, preconceituoso e brilhante. E terrivelmente sexista. Não é simpático, é interessante. E tem queda, outro problema neste século, por ninfetas. Penso em como um rapaz médio ou uma garota mediana, irá reagir ao fato dele "adorar" quando Dolly, uma sua vizinha, senta-se em seu colo insinuando uma nascente sensualidade. Detalhe: Dolly tem 10 anos...Quando ela chega aos 22 ele é seduzido pela antiga criança.
Disse que Nabokov cria livros diferentes. Mas eu menti. Nabokov nos faz bons mentirosos. Seus livros são sempre o mesmo. Sexo é o centro e há sempre um homem muito vaidoso perdido em seus pensamentos. Esse homem tem uma cultura clássica, vasta, e é russo. Anti bolchevique, ele tenta sobreviver em meio às delícias do ocidente. Não tem lar. Não tem raiz. E é seduzido pela jovem ninfa: a América. Linda, tola, alegre, saudável e limpa.
Acho que voce não vai encontrar este livro para venda. Mas vale à pena. Nabokov escreve como se letras fosse notas musicais. É um estilo grande, exibicionista, faminto.
Ele corre o risco de ser enterrado e banido de nosso mundo diverso e igualitário. Nabokov lembra um tipo de homem que as pessoas querem fingir nunca ter existido. Eu adoro ele. E não tenho problema algum quanto à isso.
Fascinante autor, ainda não li dois livros dele que fossem parecidos. Li dois bastante ruins, li três geniais, e ainda mais dois "apenas" ótimos. Este é um dos ótimos.
Aqui ele conta as memórias de um refugiado russo. Vadim é escritor de sucesso, professor universitário nos USA e se casou várias vezes. O que ele mais lembra aqui são seus casamentos. O primeiro termina em tragédia, outro vira pesadelo, mais um que se torna uma piada e um novo casamento que promete ser bom. Há ainda a relação com uma filha. ( Estranho mundo o nosso. O personagem, não há como evitar, parece ter uma relação carinhosa demais com essa filha...incesto? Ou estamos educados e amestrados a ver doença em ato sem conotação sexual? ).
Vadim é esnobe, hedonista, vaidoso, preconceituoso e brilhante. E terrivelmente sexista. Não é simpático, é interessante. E tem queda, outro problema neste século, por ninfetas. Penso em como um rapaz médio ou uma garota mediana, irá reagir ao fato dele "adorar" quando Dolly, uma sua vizinha, senta-se em seu colo insinuando uma nascente sensualidade. Detalhe: Dolly tem 10 anos...Quando ela chega aos 22 ele é seduzido pela antiga criança.
Disse que Nabokov cria livros diferentes. Mas eu menti. Nabokov nos faz bons mentirosos. Seus livros são sempre o mesmo. Sexo é o centro e há sempre um homem muito vaidoso perdido em seus pensamentos. Esse homem tem uma cultura clássica, vasta, e é russo. Anti bolchevique, ele tenta sobreviver em meio às delícias do ocidente. Não tem lar. Não tem raiz. E é seduzido pela jovem ninfa: a América. Linda, tola, alegre, saudável e limpa.
Acho que voce não vai encontrar este livro para venda. Mas vale à pena. Nabokov escreve como se letras fosse notas musicais. É um estilo grande, exibicionista, faminto.
Ele corre o risco de ser enterrado e banido de nosso mundo diverso e igualitário. Nabokov lembra um tipo de homem que as pessoas querem fingir nunca ter existido. Eu adoro ele. E não tenho problema algum quanto à isso.
TCHEKOV. POR QUÊ A RUSSIA?
Curto e grosso: a Suíça não produz nada de literatura. Ok...você pode citar um Nobel, uns 3 escritores e é só. Jung não vale. Ele é ciência.
A Russia entre 1840 e 1900 teve Turgueniev, Pushkin, Gogol, Dostoievski, Tolstoi, Tchekov. Apenas 60 anos. Não dá pra explicar isso.
Comecei o texto tentando uma explicação clássica. A de que um país em confusão propicia o surgimento do gênio. Não cola. A Suíça nem é tão ruim. E vários países em crise não produzem nada. Arrisco uma hipótese que já antecipo ser cheia de falhas. Mas devo tentar.
A Russia não era, e nunca foi, apenas um país em crise. O país foi sempre protagonista. Mesmo na miséria e em um atraso social absoluto, a nação produziu Pedro e Catarina, Boris Godunov e São Petersburgo. Fatalistas e pessimistas sempre, mas eternamente voltados à grandeza. A nação eslava é o nó que une ocidente e oriente. E portanto, cristianismo e paganismo. Dostoievski amava Cristo e seus escritos são sempre parábolas exacerbadas sobre culpa e remissão. Tolstoi era crente do Deus-Jeová e seguia o cristianismo primitivo. Nesses dois, pontos centrais do romance russo, há o encontro desses dois mundos, a primitiva Russia e a ocidentalizada cristã.
Turgueniev e Pushkin eram muito mais teístas, e por isso o conflito se dá em um nível mais intelectual. O choque entre o romantismo alemão e o eslavismo sensual oriental. O caso Gogol é o mais enigmático. Ele odiava seu país. E era russo até o mais ínfimo ponto final. Talvez fosse o mais genial entre todos eles.
Tchekov era moderno. O foco é sempre no ser humano. Médico, ele não julga e não catequiza, descreve. Tchekov não está interessado no sentido da vida, na alma ou no absurdo. Ele está encantado com cada detalhe, com o dia a dia, com o vulgar que se faz único. Ele realmente ama as pessoas, todas elas.
Ando lendo seus contos. São modernos por serem não sensacionais. Não há heróis. Nem vilões. São pessoas comuns em momentos comuns. Nada de muito especial acontece. Mas por serem observados por um gênio, esses momentos se tornam gigantes. Lemos escutando a voz tranquila do médico Tchekov, homem que viu a miséria debaixo de seu nariz. Como todo homem que convive com a morte e a dor dos outros, ele é modesto. Sabe que nada dura. E essa é a chave de seu universo. Por saber que nada dura, ele tenta fazer durar aquilo que escreve. O autor e seu mundo.
Tchekov conseguiu. Seu mundo está vivo em 2019.
A Russia entre 1840 e 1900 teve Turgueniev, Pushkin, Gogol, Dostoievski, Tolstoi, Tchekov. Apenas 60 anos. Não dá pra explicar isso.
Comecei o texto tentando uma explicação clássica. A de que um país em confusão propicia o surgimento do gênio. Não cola. A Suíça nem é tão ruim. E vários países em crise não produzem nada. Arrisco uma hipótese que já antecipo ser cheia de falhas. Mas devo tentar.
A Russia não era, e nunca foi, apenas um país em crise. O país foi sempre protagonista. Mesmo na miséria e em um atraso social absoluto, a nação produziu Pedro e Catarina, Boris Godunov e São Petersburgo. Fatalistas e pessimistas sempre, mas eternamente voltados à grandeza. A nação eslava é o nó que une ocidente e oriente. E portanto, cristianismo e paganismo. Dostoievski amava Cristo e seus escritos são sempre parábolas exacerbadas sobre culpa e remissão. Tolstoi era crente do Deus-Jeová e seguia o cristianismo primitivo. Nesses dois, pontos centrais do romance russo, há o encontro desses dois mundos, a primitiva Russia e a ocidentalizada cristã.
Turgueniev e Pushkin eram muito mais teístas, e por isso o conflito se dá em um nível mais intelectual. O choque entre o romantismo alemão e o eslavismo sensual oriental. O caso Gogol é o mais enigmático. Ele odiava seu país. E era russo até o mais ínfimo ponto final. Talvez fosse o mais genial entre todos eles.
Tchekov era moderno. O foco é sempre no ser humano. Médico, ele não julga e não catequiza, descreve. Tchekov não está interessado no sentido da vida, na alma ou no absurdo. Ele está encantado com cada detalhe, com o dia a dia, com o vulgar que se faz único. Ele realmente ama as pessoas, todas elas.
Ando lendo seus contos. São modernos por serem não sensacionais. Não há heróis. Nem vilões. São pessoas comuns em momentos comuns. Nada de muito especial acontece. Mas por serem observados por um gênio, esses momentos se tornam gigantes. Lemos escutando a voz tranquila do médico Tchekov, homem que viu a miséria debaixo de seu nariz. Como todo homem que convive com a morte e a dor dos outros, ele é modesto. Sabe que nada dura. E essa é a chave de seu universo. Por saber que nada dura, ele tenta fazer durar aquilo que escreve. O autor e seu mundo.
Tchekov conseguiu. Seu mundo está vivo em 2019.
TOLSTOI, A BIOGRAFIA, ROSAMUND BARTLETT.
A Rússia não existe. Nem Europa, nem Ásia. A coisa mais sensacional deste ótimo livro é fazer nos sentir dentro da Rússia. E a Rússia não é fácil não! Coisas que só existiam no país. O SANTO-TOLO por exemplo. Pessoas que vagavam pela nação, mendigando, sendo recebidas como santos homens e como tolos ingênuos. Aristocratas culpados. Não havia no mundo aristocratas tão esbanjadores e cercados de luxo como os russos. E ao mesmo tempo, em nenhum outro país acontecia de tantos deles largarem tudo e se tornarem peregrinos pobres. Tolstoi viveu todos os meandros da alma russa. Foi a encarnação daquilo que o país pode ser e será. Penso agora se há na Inglaterra alguém que encarne e alma inglesa. Ou nos USA. Ou na França. Talvez Wagner seja a alma alemã. Mas não há um só artista ou filósofo que resuma em si a alma da França, da Inglaterra ou de qualquer outra nação. Tolstoi é a Russia. E isso é muito complicado.
O livro começa traçando as raízes da família aristocrata do autor. Pai e mãe têm origens nobres, a mãe com mais dinheiro, o pai com muito história. As primeiras 200 páginas do livro são sublimes. Tios e tias com vidas sensacionais. E alguma dolorosas. E então nasce Liev Tolstoi, em meio a muitos irmãos, parentes, servos, visitas, na imensa propriedade de Iasnaia Poliana. ( Servos eram parte de uma terra. Não podiam ser vendidos, portanto não eram escravos, mas eram parte das terras dos nobres, como eram as árvores e as casas ).
O jovem Tolstoi usou sexualmente as servas, se apaixonou, caçava, brigava muito, duelou, serviu na guerra. Foi um jovem inquieto, cheio de ideias, dúvidas e excesso de energia. Desde cedo tinha paixão por vida no mato, exercícios. Mas a guerra o mudou. A absurda guerra da Crimeia, a luta contra turcos e ingleses. A Russia era então um esbanjamento. Muito dinheiro usado para o luxo, muita repressão politica e a religião ortodoxa. Tolstoi seguiu a fé de seus pais, por algum tempo. Começa então a escrever em revistas, em jornais. Publica pequenas histórias e logo se torna o escritor mais famoso da Russia.
Faz amizade com Turgueniev, mas logo brigam. Nunca encontrará Dostoievski. Este admira Tolstoi, mas Liev o ignora. São opostos. Escrever Guerra e Paz é um prazer. Sonia, sua esposa de origem alemã, passa a limpo o texto. A obra estoura e vende muito. Pronto, ele é famoso. Mas existem os servos e Liev começa a mudar.
A obra de sua vida é fazer o bem aos pobres. Incrível como Tolstoi passa a desprezar sua vida de artista. Ele dá muito mais valor às cartilhas educacionais que redige e imprime que ao seu livro de sucesso. Tolstoi quer educar o povo russo e abre escolas, inventa métodos educacionais, percorre as aldeias. Começa a ser perseguido pelo estado.
Mas há a escrita. Ana Karienina é um martírio. Tolstoi escreve com dor, com desprazer, como obrigação. E o sucesso é mundial. Karienina se torna o romance mais famoso de seu tempo e Tolstoi o mais admirado dos autores. Mas ele continua a mudar.
Pensa na morte, entra em crise, cria uma religião. Lança textos e livros religiosos, traduz evangelhos do grego, faz palestras, funda o "tolstoismo". Eis a obra da sua vida.
Torna-se vegetariano, pacifista, influencia o jovem Ghandi. Comunas tolstoianas surgem nos Canadá, nos EUA, na Inglaterra. Ele prega o fim da propriedade privada, o sexo apenas como reprodução, o fim do estado, o trabalho como bem maior. Trabalhar com as mãos, comer o que se planta e seguir Jesus Cristo. Tolstoi é o guru da Russia e uma das pessoas mais famosas do planeta. E ao mesmo tempo passa a ser odiado pelos ortodoxos e pelo governo russo.
Ele se abstém de suas posses, se afasta da família. Vive em trapos, como um santo-tolo. Prega a paz e a resistência pacífica. Então vem a Primeira-Guerra, a revolução de 17 e o bolchevismo. Tolstoi é considerado o precursor de Lenin. Lenin o admira, mas Liev é contra o estado, o que cria uma rusga entre as duas filosofias. Tolstoi morre em 1910, numa estação de trem. Seu enterro é um evento mundial e sua casa centro de peregrinação. O livro segue sua esposa e seus filhos até os anos 30.
A vida de Tolstoi é o desconforto de um gênio com o mundo onde lhe coube nascer. Escrever era pouco para ele. O que ele desejava era mudar o mundo. Acabar com toda a violência. Trazer a verdade do cristianismo para o centro da politica. Dar comida e educação aos pobres. Dignidade a todos.
Em 2017 ainda matamos bichos para comer bife. Ainda fingimos não ver os rostos de esfomeados. Rezamos sem atentar para nossa mentira fundamental: somos violentos. Educamos sem salvar. Vivemos sem agir. E a Russia, terra que Tolstoi amava mais que tudo, ainda é esbanjamento e luxo.
Ler Anna Karienina foi um dos pontos fundamentais de minha vida.
O livro começa traçando as raízes da família aristocrata do autor. Pai e mãe têm origens nobres, a mãe com mais dinheiro, o pai com muito história. As primeiras 200 páginas do livro são sublimes. Tios e tias com vidas sensacionais. E alguma dolorosas. E então nasce Liev Tolstoi, em meio a muitos irmãos, parentes, servos, visitas, na imensa propriedade de Iasnaia Poliana. ( Servos eram parte de uma terra. Não podiam ser vendidos, portanto não eram escravos, mas eram parte das terras dos nobres, como eram as árvores e as casas ).
O jovem Tolstoi usou sexualmente as servas, se apaixonou, caçava, brigava muito, duelou, serviu na guerra. Foi um jovem inquieto, cheio de ideias, dúvidas e excesso de energia. Desde cedo tinha paixão por vida no mato, exercícios. Mas a guerra o mudou. A absurda guerra da Crimeia, a luta contra turcos e ingleses. A Russia era então um esbanjamento. Muito dinheiro usado para o luxo, muita repressão politica e a religião ortodoxa. Tolstoi seguiu a fé de seus pais, por algum tempo. Começa então a escrever em revistas, em jornais. Publica pequenas histórias e logo se torna o escritor mais famoso da Russia.
Faz amizade com Turgueniev, mas logo brigam. Nunca encontrará Dostoievski. Este admira Tolstoi, mas Liev o ignora. São opostos. Escrever Guerra e Paz é um prazer. Sonia, sua esposa de origem alemã, passa a limpo o texto. A obra estoura e vende muito. Pronto, ele é famoso. Mas existem os servos e Liev começa a mudar.
A obra de sua vida é fazer o bem aos pobres. Incrível como Tolstoi passa a desprezar sua vida de artista. Ele dá muito mais valor às cartilhas educacionais que redige e imprime que ao seu livro de sucesso. Tolstoi quer educar o povo russo e abre escolas, inventa métodos educacionais, percorre as aldeias. Começa a ser perseguido pelo estado.
Mas há a escrita. Ana Karienina é um martírio. Tolstoi escreve com dor, com desprazer, como obrigação. E o sucesso é mundial. Karienina se torna o romance mais famoso de seu tempo e Tolstoi o mais admirado dos autores. Mas ele continua a mudar.
Pensa na morte, entra em crise, cria uma religião. Lança textos e livros religiosos, traduz evangelhos do grego, faz palestras, funda o "tolstoismo". Eis a obra da sua vida.
Torna-se vegetariano, pacifista, influencia o jovem Ghandi. Comunas tolstoianas surgem nos Canadá, nos EUA, na Inglaterra. Ele prega o fim da propriedade privada, o sexo apenas como reprodução, o fim do estado, o trabalho como bem maior. Trabalhar com as mãos, comer o que se planta e seguir Jesus Cristo. Tolstoi é o guru da Russia e uma das pessoas mais famosas do planeta. E ao mesmo tempo passa a ser odiado pelos ortodoxos e pelo governo russo.
Ele se abstém de suas posses, se afasta da família. Vive em trapos, como um santo-tolo. Prega a paz e a resistência pacífica. Então vem a Primeira-Guerra, a revolução de 17 e o bolchevismo. Tolstoi é considerado o precursor de Lenin. Lenin o admira, mas Liev é contra o estado, o que cria uma rusga entre as duas filosofias. Tolstoi morre em 1910, numa estação de trem. Seu enterro é um evento mundial e sua casa centro de peregrinação. O livro segue sua esposa e seus filhos até os anos 30.
A vida de Tolstoi é o desconforto de um gênio com o mundo onde lhe coube nascer. Escrever era pouco para ele. O que ele desejava era mudar o mundo. Acabar com toda a violência. Trazer a verdade do cristianismo para o centro da politica. Dar comida e educação aos pobres. Dignidade a todos.
Em 2017 ainda matamos bichos para comer bife. Ainda fingimos não ver os rostos de esfomeados. Rezamos sem atentar para nossa mentira fundamental: somos violentos. Educamos sem salvar. Vivemos sem agir. E a Russia, terra que Tolstoi amava mais que tudo, ainda é esbanjamento e luxo.
Ler Anna Karienina foi um dos pontos fundamentais de minha vida.
O FIM DO MUNDO
Tenho amigos de boa cultura que talvez não saibam disto. O que prova como a história tem sido jogada na lata de lixo. E se você não conhece aquilo que aconteceu, sinto muito, você vai repetir o mesmo erro pra sempre.
Houve um momento, em 1962, em que o mundo poderia realmente ter acabado. A coisa foi tão séria que naquele dia, alertado pela Casa Branca, Frank Sinatra lotou seu avião de comida, pegou os filhos e se preparou para ficar voando, em círculos, pelo deserto, enquanto NY e Washington eram destruídas. E no resto do mundo, aturdidos, as pessoas, sem conseguir entender direito aquilo, se preparavam para a Terceira Guerra Mundial, que seria a última.
Kruschov, primeiro ministro soviético, instalara misseis nucleares em Cuba. Apontados para a Europa e para os USA. John Kennedy mandar a marinha bloquear a ilha do Caribe. O impasse. Ou os russos tiravam os misseis, ou a ilha ficaria isolada do mundo. Krushov mandou a marinha russa para a ilha. Eles chegariam em 3 dias. A guerra tinha data para começar. A guerra nuclear.
Se um comandante russo ou americano apertasse um simples gatilho de metralhadora tudo poderia se precipitar. Não era como hoje. Não era o terrorismo que nos dilacera lentamente. Seria um fim rápido. Uma guerra de poucas semanas. E se ela tivesse ocorrido eu e você não estaríamos aqui. Não só URSS e USA tinham bombas de sobra para acabar om tudo. China, França, Inglaterra e a India já as tinham.
No fim Krushov tirou os misseis. E os USA relaxaram o bloqueio. Foi após esse alivio, alivio meia boca, que explodiu o hedonismo dos anos 65-68. A galera se pôs a viver a vida loucamente. Antes que tudo explodisse.
Foram anos absurdos. Trágicos e patéticos. ( Falo de 60-63 ). Se aqui a gente tinha Jânio se embebedando e largando o emprego; nos EUA havia Kennedy, para Gore Vidal e Paulo Francis, o PIOR presidente da América até Bush filho.
Tudo isto que conto está no livro sobre Sinatra. E Sinatra, amigo de Kennedy, está no centro do mundo. Nunca houve, até hoje, um cantor tão poderoso. Com tanta liberdade e tráfego em meio ao alto poder. Sinatra ajudou Kennedy a vencer. Sinatra sempre foi um democrata sincero. Amava Roosevelt, Truman e confiou na família Kennedy. Odiava os republicanos. Odiava Nixon. Mas Sinatra foi porcamente traído.
O livro nos ajuda a entender a podridão que o Brasil parece descobrir só agora.
Joe Kennedy, pai de John, fez fortuna vendendo bebida quando bebida era ilegal. Ganhou também com contrabando e cinema. Era um homem duro, rude e muito temido. Ficou tão rico que conseguiu ser considerado um tipo de aristocrata. Vejam só! Seu sonho era fazer de John presidente. John Kennedy era culto, educado, bonito, carismático e louco por sexo. Escreveu dois livros, foi herói de guerra e casou com Jacqueline Bouvier, essa sim, uma verdadeira aristocrata americana. A chifrava com atrizes, putas, cantoras, primas, empregadas, o que pudesse tocar. Ela sabia e sentia vergonha.
Sinatra se apaixonou por John Kennedy. O americano-irlandês tinha aquilo que Frank não tinha: educação, berço, estilo seguro. Sinatra arrumava mulheres para John. O levava a festas. Hospedava. E nas eleições presidenciais convenceu seus contatos suspeitos a darem uma força.
Os contatos de Sinatra roubaram a eleição. É duro dizer, mas Nixon foi roubado. Kennedy venceu por menos de 1% dos votos. E a Máfia, pressionando, batendo, fazendo boca de urna violenta, ajudou nessa vitória. Mas...e aí vem um dos mais belos dramas de Sinatra, após vencer Kennedy vira as costas à Frank. Não fica bem para um presidente ser amigo de um amigo de mafiosos. Frank fica doido de rejeição.
Bela história não...tem muito mais! O livro é obrigatório.
Houve um momento, em 1962, em que o mundo poderia realmente ter acabado. A coisa foi tão séria que naquele dia, alertado pela Casa Branca, Frank Sinatra lotou seu avião de comida, pegou os filhos e se preparou para ficar voando, em círculos, pelo deserto, enquanto NY e Washington eram destruídas. E no resto do mundo, aturdidos, as pessoas, sem conseguir entender direito aquilo, se preparavam para a Terceira Guerra Mundial, que seria a última.
Kruschov, primeiro ministro soviético, instalara misseis nucleares em Cuba. Apontados para a Europa e para os USA. John Kennedy mandar a marinha bloquear a ilha do Caribe. O impasse. Ou os russos tiravam os misseis, ou a ilha ficaria isolada do mundo. Krushov mandou a marinha russa para a ilha. Eles chegariam em 3 dias. A guerra tinha data para começar. A guerra nuclear.
Se um comandante russo ou americano apertasse um simples gatilho de metralhadora tudo poderia se precipitar. Não era como hoje. Não era o terrorismo que nos dilacera lentamente. Seria um fim rápido. Uma guerra de poucas semanas. E se ela tivesse ocorrido eu e você não estaríamos aqui. Não só URSS e USA tinham bombas de sobra para acabar om tudo. China, França, Inglaterra e a India já as tinham.
No fim Krushov tirou os misseis. E os USA relaxaram o bloqueio. Foi após esse alivio, alivio meia boca, que explodiu o hedonismo dos anos 65-68. A galera se pôs a viver a vida loucamente. Antes que tudo explodisse.
Foram anos absurdos. Trágicos e patéticos. ( Falo de 60-63 ). Se aqui a gente tinha Jânio se embebedando e largando o emprego; nos EUA havia Kennedy, para Gore Vidal e Paulo Francis, o PIOR presidente da América até Bush filho.
Tudo isto que conto está no livro sobre Sinatra. E Sinatra, amigo de Kennedy, está no centro do mundo. Nunca houve, até hoje, um cantor tão poderoso. Com tanta liberdade e tráfego em meio ao alto poder. Sinatra ajudou Kennedy a vencer. Sinatra sempre foi um democrata sincero. Amava Roosevelt, Truman e confiou na família Kennedy. Odiava os republicanos. Odiava Nixon. Mas Sinatra foi porcamente traído.
O livro nos ajuda a entender a podridão que o Brasil parece descobrir só agora.
Joe Kennedy, pai de John, fez fortuna vendendo bebida quando bebida era ilegal. Ganhou também com contrabando e cinema. Era um homem duro, rude e muito temido. Ficou tão rico que conseguiu ser considerado um tipo de aristocrata. Vejam só! Seu sonho era fazer de John presidente. John Kennedy era culto, educado, bonito, carismático e louco por sexo. Escreveu dois livros, foi herói de guerra e casou com Jacqueline Bouvier, essa sim, uma verdadeira aristocrata americana. A chifrava com atrizes, putas, cantoras, primas, empregadas, o que pudesse tocar. Ela sabia e sentia vergonha.
Sinatra se apaixonou por John Kennedy. O americano-irlandês tinha aquilo que Frank não tinha: educação, berço, estilo seguro. Sinatra arrumava mulheres para John. O levava a festas. Hospedava. E nas eleições presidenciais convenceu seus contatos suspeitos a darem uma força.
Os contatos de Sinatra roubaram a eleição. É duro dizer, mas Nixon foi roubado. Kennedy venceu por menos de 1% dos votos. E a Máfia, pressionando, batendo, fazendo boca de urna violenta, ajudou nessa vitória. Mas...e aí vem um dos mais belos dramas de Sinatra, após vencer Kennedy vira as costas à Frank. Não fica bem para um presidente ser amigo de um amigo de mafiosos. Frank fica doido de rejeição.
Bela história não...tem muito mais! O livro é obrigatório.
CONTOS REUNIDOS DE VLADIMIR NABOKOV
Estou mergulhado e enfeitiçado nas 800 páginas de CONTOS REUNIDOS do mago esteta Vladimir Nabokov. Li as primeiras 200 páginas. Elas correspondem a seus primeiros contos, escritos na Alemanha e na Inglaterra, por volta de 1924. Um jovem de 25 anos portanto. E quanta invenção, quanta sensibilidade e melhor que tudo, já nascente, seu dom de unir humor a drama e dar pinceladas de sobrenatural e de inefabilidade à vida cotidiana. Sentimos toques de invisível. Como borboletas, como metamorfoses, como folhas que não se consegue ver.
Li 15 contos até agora. Não há um só que seja menos que ótimo. E alguns têm a marca de genialidade refulgente. Pegue NATAL por exemplo. Fala da morte de um filho. E de um pai que sofre sozinho. Em apenas 5 páginas Nabokov nos faz quase ver Deus em nossa frente. Raramente li alguma coisa mais bem acabada, bem construída, matematicamente precisa. À beira da morte nasce um lembrete. Não, não posso contar o final. O que posso dizer é que ele entra na muito restrita conta de meus contos favoritos. Eu daria tudo para escrever alguma coisa como essa.
Mas temos também A VENEZIANA. Esse é uma aula de surpresas plantadas, de clima estranho, de suspense e de beleza. Fala de um quadro, uma esposa e um jovem tímido. Perfeito. Há ainda BATER DE ASAS, um conto assustador, feio, sujo e bastante pessimista em seus erros denunciados. DETALHES DE UM PÔR DO SOL, outra perfeição, narrativa que se desenrola como música, harmoniosa e sempre surpreendente.
Ler Nabokov é um prazer que descobri aos 48 anos. Todos sabem que meu autor favorito, em prosa, é desde os 38 anos, Henry James, mas Nabokov escreve exatamente aquilo que eu gostaria de escrever se tivesse talento. Vladimir é vasto e ao mesmo tempo pequeno. Seu humor reside na sombra, em meio ao Kaos, no cerne da dor. As descrições nos fazem ver e quase sentir o cheiros das coisas. E os personagens vivem, mesmo quando descritos em apenas 3 linhas. Um mestre.
Lerei o resto lentamente. Lê-lo é como beber um Porto. Em pequenos goles, usufruindo do momento, da cor.
Li 15 contos até agora. Não há um só que seja menos que ótimo. E alguns têm a marca de genialidade refulgente. Pegue NATAL por exemplo. Fala da morte de um filho. E de um pai que sofre sozinho. Em apenas 5 páginas Nabokov nos faz quase ver Deus em nossa frente. Raramente li alguma coisa mais bem acabada, bem construída, matematicamente precisa. À beira da morte nasce um lembrete. Não, não posso contar o final. O que posso dizer é que ele entra na muito restrita conta de meus contos favoritos. Eu daria tudo para escrever alguma coisa como essa.
Mas temos também A VENEZIANA. Esse é uma aula de surpresas plantadas, de clima estranho, de suspense e de beleza. Fala de um quadro, uma esposa e um jovem tímido. Perfeito. Há ainda BATER DE ASAS, um conto assustador, feio, sujo e bastante pessimista em seus erros denunciados. DETALHES DE UM PÔR DO SOL, outra perfeição, narrativa que se desenrola como música, harmoniosa e sempre surpreendente.
Ler Nabokov é um prazer que descobri aos 48 anos. Todos sabem que meu autor favorito, em prosa, é desde os 38 anos, Henry James, mas Nabokov escreve exatamente aquilo que eu gostaria de escrever se tivesse talento. Vladimir é vasto e ao mesmo tempo pequeno. Seu humor reside na sombra, em meio ao Kaos, no cerne da dor. As descrições nos fazem ver e quase sentir o cheiros das coisas. E os personagens vivem, mesmo quando descritos em apenas 3 linhas. Um mestre.
Lerei o resto lentamente. Lê-lo é como beber um Porto. Em pequenos goles, usufruindo do momento, da cor.
EUGÊNIO ONEGUIN- PUSHKIN
Existem livros que lemos no momento exato. Falam diretamente ao momento que vivemos então. Eu não sei porque, entre tantas opções, resolvi reler este livro. Pushkin é o maior poeta russo. Um romântico típico, mas um romântico que conseguiu sobreviver em nossos tempos cínicos. Porque Pushkin é um gênio, e o gênio sobrevive a modas.
Dostoievski o adorava. Nabokov o ama. E se Nabokov ama alguma coisa essa coisa merece muita atenção.
Li esta obra-prima pela primeira vez dois anos atrás, apenas. Gostei, mas senti que aquele não era seu momento. Este é. A névoa do poema, do romance, da narração cai sobre mim. Romantismo. Belo romantismo. Todas as características do melhor romantismo estão presentes. O spleen. Os personagens sofrem de tédio. Vivem sem interesses, isolados, presos de uma sensação de que nada vale a pena. Indiferentes. Ao mesmo tempo há um amor sublime à natureza. Descrições apaixonadas de estações do ano, de bosques, de céus. Um agudo senso de psicologia. A alma das pessoas se desnuda. E, súbito, o amor surge e é feita a escolha, esse amor será frustrado.
No deserto que é a vida, Eugênio, um seguidor de Byron, mata em duelo seu único amigo. E depois se apaixona pela menina que antes recusara. O final, seco e abrupto, é magistral.
O estilo de Pushkin é simples. Um poema em rimas que é um romance. Pois o poeta não escreve poesia, ele narra uma história. Lemos em seu ritmo, rápido, musical, leve, vibrante. Um soberbo prazer nos invade. Parece que estamos nas estepes russas, sentimos a luz, vivemos a vida dos personagens.
Se voce está in love, eis seu livro.
Dostoievski o adorava. Nabokov o ama. E se Nabokov ama alguma coisa essa coisa merece muita atenção.
Li esta obra-prima pela primeira vez dois anos atrás, apenas. Gostei, mas senti que aquele não era seu momento. Este é. A névoa do poema, do romance, da narração cai sobre mim. Romantismo. Belo romantismo. Todas as características do melhor romantismo estão presentes. O spleen. Os personagens sofrem de tédio. Vivem sem interesses, isolados, presos de uma sensação de que nada vale a pena. Indiferentes. Ao mesmo tempo há um amor sublime à natureza. Descrições apaixonadas de estações do ano, de bosques, de céus. Um agudo senso de psicologia. A alma das pessoas se desnuda. E, súbito, o amor surge e é feita a escolha, esse amor será frustrado.
No deserto que é a vida, Eugênio, um seguidor de Byron, mata em duelo seu único amigo. E depois se apaixona pela menina que antes recusara. O final, seco e abrupto, é magistral.
O estilo de Pushkin é simples. Um poema em rimas que é um romance. Pois o poeta não escreve poesia, ele narra uma história. Lemos em seu ritmo, rápido, musical, leve, vibrante. Um soberbo prazer nos invade. Parece que estamos nas estepes russas, sentimos a luz, vivemos a vida dos personagens.
Se voce está in love, eis seu livro.
DER SANDMANN-E.T.A.HOFFMANN, O NARIZ-NIKOLAI GÓGOL, O SONHO-IVAN TURGUENIEV
Desde a infância um homem surge para um rapaz. Aterrorizante na infância, ele tem a certeza de que se trata do famoso Sandmann. Será? Talvez seja alguém pior ainda. Hoffmann desenvolve essa alucinação com febre. Ele, romântico por completo, acredita em alucinações ( porque não? ), a vida é inteira, tudo nela é verdade. Sandmann é real.
O Nariz é um dos melhores contos da história do mundo. Gógol é tão grande quanto Tolstoi ou Tchekov. Talvez hoje seja menos famoso que os outros dois, mas isso é contingência, seu lugar é para sempre. Triste ter morrido tão cedo, de tuberculose. Seu romance Almas Mortas é surpreendentemente engraçado e muito atual, e este O Nariz é hilário e ao mesmo tempo terrível. Gógol não poupa a Rússia. Seus soldados, burgueses, artistas e nobres são esculhambados. Nesta história um homem perde seu nariz. Tenta o reencontrar. Não estrague o conto tentando ver um sentido nisso. Ele não tem sentido. É delirio de imaginação e um prazer estupendo em poder ler. Cada frase de Gógol é um orgasmo.
Por fim falo de Turgueniev, de quem li Pais e Filhos, o lindo primeiro romance a tratar em termos modernos do conflito de gerações. Aqui ele fala de um filho mimado que descobre em sonho ser filho bastardo. Essa revelação lhe vem esfarrapada, será fato ou invenção da febre e do sono? Adentramos esse mundo onirico de forma violenta.
Cabe dizer que nos três contos a linguagem nos joga abruptamente para o centro de um mundo que pode ser feio e grotesco ( em Hoffmann ), exagerado e sem sentido ( em Gógol ) ou violento e sombrio ( em Turgueniev ). Sempre pessimista, principalmente quando nos faz rir e quando nos faz sonhar.
Fazem parte da coletânea de contos fantásticos selecionados por Italo Calvino, ele mesmo um belo autor fantástico. Comecem por esses três. Vão adorar.
O Nariz é um dos melhores contos da história do mundo. Gógol é tão grande quanto Tolstoi ou Tchekov. Talvez hoje seja menos famoso que os outros dois, mas isso é contingência, seu lugar é para sempre. Triste ter morrido tão cedo, de tuberculose. Seu romance Almas Mortas é surpreendentemente engraçado e muito atual, e este O Nariz é hilário e ao mesmo tempo terrível. Gógol não poupa a Rússia. Seus soldados, burgueses, artistas e nobres são esculhambados. Nesta história um homem perde seu nariz. Tenta o reencontrar. Não estrague o conto tentando ver um sentido nisso. Ele não tem sentido. É delirio de imaginação e um prazer estupendo em poder ler. Cada frase de Gógol é um orgasmo.
Por fim falo de Turgueniev, de quem li Pais e Filhos, o lindo primeiro romance a tratar em termos modernos do conflito de gerações. Aqui ele fala de um filho mimado que descobre em sonho ser filho bastardo. Essa revelação lhe vem esfarrapada, será fato ou invenção da febre e do sono? Adentramos esse mundo onirico de forma violenta.
Cabe dizer que nos três contos a linguagem nos joga abruptamente para o centro de um mundo que pode ser feio e grotesco ( em Hoffmann ), exagerado e sem sentido ( em Gógol ) ou violento e sombrio ( em Turgueniev ). Sempre pessimista, principalmente quando nos faz rir e quando nos faz sonhar.
Fazem parte da coletânea de contos fantásticos selecionados por Italo Calvino, ele mesmo um belo autor fantástico. Comecem por esses três. Vão adorar.
A PESSOA EM QUESTÃO- VLADIMIR NABOKOV, BORBOLETAS, XADREZ E OLHOS ABERTOS
Na Europa do começo do século XX era a aristocracia russa a mais refinada e privilegiada das castas. Nabokov nasceu em casa de campo que tinha 50 criados. A casa da cidade tinha apenas 35. Fascínio? Muito. É maravilhoso ler sobre as raízes das duas familias que formaram os Nabokov. A raiz alemã da Mãe e o pai, totalmente russo. Pai que foi politico e lutou a favor da Rússia democrática em 1905, 1915, mas que foi derrotado e varrido da história pela violência bolchevique. Nabokov escreve aqui ( o livro é dos anos 50 ), aquilo que hoje é ponto comum: a revolução russa foi apenas a troca de uma casta por outra. Saíram os ricos e entraram os burocratas rancorosos. Com uma diferença, a Rússia dos privilegiados produziu Tolstoi, Dostoievski e Gogol, a Rússia policial produziu alguns bons artistas, que foram logo caçados. Ele tira de Lenine também sua fama de "Puro", em sua época a violência foi imensa e desnecessária. Mas atenção! Não pense que Nabokov chora o dinheiro perdido. O que ele lamenta é não poder entrar em seu próprio país. Ele sente saudade, muita, de suas árvores, das paisagens, de estar no cenário que assistiu a parte mais bela de sua vida, a infância.
E é na infância que ele mergulha. Nabokov aos 50 anos penetra e disseca a memória, tenta entender como ela se dá e nos presenteia com um livro belíssimo. Memoralista a altura de Proust, vivenciamos sua vida, os odores e as sensações da criança. Pelas fotos vemos que era uma bela familia e é prazeroso estar ao lado deles. Sua grande paixão são as borboletas, e ele logo caça os bichos e tem seu nome entre os conhecedores. A vida escolar, com tutores excêntricos, viagens ao campo no verão, o frio da São Petersburgo invernal.
Depois, a descoberta das meninas, meninas que ele conquista com facilidade. Uma adolescência ativa, no mato, nas ruas, em namoros febris. E a revolução que vem lenta, se anuncia. Fogem para a Criméia, para a Alemanha, Paris e Londres afinal. Seus dias em Cambridge, passados em tédio e decepção. É incrivel, eles necessitam trabalhar e trabalham. De 50 criados passam a ter uma empregada, e nunca se lamentam. Joga xadrez como mestre e escreve. Este livro é sobre memória, tempo que vai dos 2 aos 20 anos. Nada se diz sobre seus romances, apenas as tentativas fracas de se fazer poesia. É livro sobre os irmãos, os pais e as pessoas. Ele olha com olhos abertos, vê e pensa, sabe descrever e sabe analisar.
Não tem religião, não fala em Deus, mas sabe que tudo foge a nossa compreensão. Descrê da civilização, mas nunca se mostra pessimista. Porque aprecia a beleza, seja a borboleta ou seja a mulher. Depois viria Lolita, viria Ada, viria Knight. Talvez o escritor depois do tempo de Proust e James que escreva melhor, mais refinado, mais profundo e sinceramente belo. Nabokov é grande e este livro atinge sua altura. Para reler.
Brilho entre folhas, sol nas asas de borboleta, vitória matemática em xadrez, este livro, este brilhante e inebriante e alubriante livro exerce fascinio de voz musical ( e Nabokov odeia música ). Ah doce vicio que é a leitura...
E é na infância que ele mergulha. Nabokov aos 50 anos penetra e disseca a memória, tenta entender como ela se dá e nos presenteia com um livro belíssimo. Memoralista a altura de Proust, vivenciamos sua vida, os odores e as sensações da criança. Pelas fotos vemos que era uma bela familia e é prazeroso estar ao lado deles. Sua grande paixão são as borboletas, e ele logo caça os bichos e tem seu nome entre os conhecedores. A vida escolar, com tutores excêntricos, viagens ao campo no verão, o frio da São Petersburgo invernal.
Depois, a descoberta das meninas, meninas que ele conquista com facilidade. Uma adolescência ativa, no mato, nas ruas, em namoros febris. E a revolução que vem lenta, se anuncia. Fogem para a Criméia, para a Alemanha, Paris e Londres afinal. Seus dias em Cambridge, passados em tédio e decepção. É incrivel, eles necessitam trabalhar e trabalham. De 50 criados passam a ter uma empregada, e nunca se lamentam. Joga xadrez como mestre e escreve. Este livro é sobre memória, tempo que vai dos 2 aos 20 anos. Nada se diz sobre seus romances, apenas as tentativas fracas de se fazer poesia. É livro sobre os irmãos, os pais e as pessoas. Ele olha com olhos abertos, vê e pensa, sabe descrever e sabe analisar.
Não tem religião, não fala em Deus, mas sabe que tudo foge a nossa compreensão. Descrê da civilização, mas nunca se mostra pessimista. Porque aprecia a beleza, seja a borboleta ou seja a mulher. Depois viria Lolita, viria Ada, viria Knight. Talvez o escritor depois do tempo de Proust e James que escreva melhor, mais refinado, mais profundo e sinceramente belo. Nabokov é grande e este livro atinge sua altura. Para reler.
Brilho entre folhas, sol nas asas de borboleta, vitória matemática em xadrez, este livro, este brilhante e inebriante e alubriante livro exerce fascinio de voz musical ( e Nabokov odeia música ). Ah doce vicio que é a leitura...
RUSSOS
Sochi 2014 me faz pensar. E lembrar. Os americanos e seus filmes fizeram com que a gente pensasse nos russos como frios e calculistas. A KGB e Stálin ajudaram. Mas eles nunca foram assim. E não adianta fazer filme de máfia russa. Pensar que o caráter russo é esse é como achar que todo americano é John Wayne ou que todo brasileiro é bicheiro. Aprendo que eles são eslavos, nem europeus e nem asiáticos. E que o que define um eslavo é o fatalismo e o sentido familiar. Familia: se voce é bisneto de alemão, não importa onde nasça, voce é um alemão. Sua nacionalidade não é dada pelo chão onde voce pisa, mas sim pelo sangue de onde voce brotou. Fatalismo não é melancolia ou pessimismo. Também é mas é além. Fatalismo é saber que o que é sempre há de ser.
Minha amiga Eliana Llorca me ensina que no mundo só existem duas línguas que vivem essa mania do diminutivo: o português, com suas mãezinhas, barquinhos e Paulinhos, e o russo, que se trata por irmãozinho, patriazinha e amorzinho.
Houve um tempo em que eu amava a Rússia. Tempo frio ( que saudade do inverno! ), em que Dostoievski e Pushkin me pareciam mais próximos que Machado ou Lima Barreto. Mas tinha mais, tinha Rimsky-Korsakoff, Tchaikovsky e Prokofiev. ( Tolstoi só descobri adulto ). Tinha a bio de Tchaikovsky de Ken Russell ( uma visão inglesa sobre a Rússia ). Eu amava o fatalismo russo, o frio escuro, o exagero da dor. Um russo não sofre, ele uiva, um russo não ama, padece de amor. Mas a ideologia estragou tudo. Os comunistas, logo descobri, eram tão fanáticos que tratavam a Rússia como o Eden na Terra. A Rússia virou uma máquina, um relógio perfeito. O povo era soldado. Esqueci da velha mãezinha russa.
Russas, as meninas russas, são especiais. Porque são tristes e submissas como as mamães de 1900, são duras como as operárias de 1920 e tentam ser modernas como as americanas de 1980. São russas, variam entre a camponesa e a estrela do Bolshoi.
Planícies imensas onde o gelo e a lama se confundem. Um passado.
Minha amiga Eliana Llorca me ensina que no mundo só existem duas línguas que vivem essa mania do diminutivo: o português, com suas mãezinhas, barquinhos e Paulinhos, e o russo, que se trata por irmãozinho, patriazinha e amorzinho.
Houve um tempo em que eu amava a Rússia. Tempo frio ( que saudade do inverno! ), em que Dostoievski e Pushkin me pareciam mais próximos que Machado ou Lima Barreto. Mas tinha mais, tinha Rimsky-Korsakoff, Tchaikovsky e Prokofiev. ( Tolstoi só descobri adulto ). Tinha a bio de Tchaikovsky de Ken Russell ( uma visão inglesa sobre a Rússia ). Eu amava o fatalismo russo, o frio escuro, o exagero da dor. Um russo não sofre, ele uiva, um russo não ama, padece de amor. Mas a ideologia estragou tudo. Os comunistas, logo descobri, eram tão fanáticos que tratavam a Rússia como o Eden na Terra. A Rússia virou uma máquina, um relógio perfeito. O povo era soldado. Esqueci da velha mãezinha russa.
Russas, as meninas russas, são especiais. Porque são tristes e submissas como as mamães de 1900, são duras como as operárias de 1920 e tentam ser modernas como as americanas de 1980. São russas, variam entre a camponesa e a estrela do Bolshoi.
Planícies imensas onde o gelo e a lama se confundem. Um passado.
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