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SENILITÁ, MAURO BOLOGNINI E ITALO SVEVO
Primeiro há Trieste. A cidade onde Italo Svevo viveu ao lado de James Joyce. Cinza, aquosa, onde venta muito, onde faz frio, chove. Uma fronteira: meio iugoslava, meio italiana, meio Austria. Max Ophuls faria uma obra prima desta história de Svevo. Mauro Bolognini fez um grande pequeno filme. -------------------------- Italo Svevo é o escritor do pequeno diabo, do obsessivo, do culpado. Aqui ele conta uma história terrível: um intelectual classe média se apaixona por uma belíssima mulher do povo. Ele a vê como todo intelectual vê alguém do povo: inocente. Patética situação, todos aqueles que o cercam enxergam a verdade: ela é mentirosa, volúvel, interesseira e promíscua. Ele cai na real e isso faz com que a raiva e o ciúme aumentem. Eis uma moral: a raiva aumenta o desejo. Eles fazem sexo, mas ela nunca é fiel. Nesse processo ele se esquece da vida. Não percebe a morte da irmã com quem ele vive. ------------------------------------- Não sentimos simpatia por ele. O intelectual é patético. Ao fim temos raiva de sua passividade, de sua vaidade intelectual, de sua burrice. Anthony Franciosa, ator americano, faz o papel. Bem. Claudia Cardinale é a moça. Preciso dizer: perfeição. Poucas vezes houve ser tão bonito nas telas. Ela é vulgar, mas jamais suja, sexy, nunca fake, linda, e real, muito real. Já vivi essa história algumas vezes, sei quem ela é. --------------------------------------- O pobre idiota diz em certo momento que seu erro é LEVAR A VIDA MUITO A SÉRIO. Sim Svevo. Joyce levava a sério sua arte, nunca sua vida. Eis o segredo do sexo, segredo que seu amigo artista lhe diz e que ele não segue. --------------------------------------------------- Questão do filme: Não seria sexo todo amor? ----------------- Quando comecei a ler críticas de cinema: Rubem Biáfora, Bruna Becheruchi, Rubens Ewald Filho, José Lino, tantos mais, Mauro Bolognini era um dos grandes. Famoso pela delicada elegância de seus filmes, pela melancolia, e à moda da época, pelo marxismo de sua moral. Mas, Mauro, como aconteceu com toda sua geração, aqueles que surgiram por volta de 1960, foi sumindo nos anos 80, com a crise do cinema italiano. Nomes como o dele, Elio Petri, Francesco Rosi, Valério Zurlini, Marco Vicário, Giuseppe Patroni Griffi, foram sendo esquecidos. E mesmo Ferreri, Monicelli, Scola, nomes ainda fortes na década de 80, viram seus nomes sendo obscurecidos. Este é talvez seu melhor filme. Simples, belo e inexorável. Veja.
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