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A ERA DE T.S.ELIOT - RUSSELL KIRK ( A IMAGINAÇÃO MORAL DO SÉCULO XX ).

Russell Kirk viveu até 1994. TS Eliot até 1965. O poeta americano-inglês era 30 anos mais velho que Kirk, mas isso não impediu que os dois fossem amigos. Portanto, esta biografia é diferente da maioria pelo fato de que o autor conheceu pessoalmente o objeto da obra. Outro fato que a diferencia é que Kirk foca muito mais no trabalho de Eliot que em sua vida pessoal. Que vida pessoal? ---------- Eliot nasceu numa abastada família de St, Louis a beira do Mississipi. O rio teve imensa influência sobre sua alma, assim como a rápida destruição da cidade. Rapidamente St, Louis deixou de ser uma cidade rica e mergulhou na decadência. Indo estudar em Harvard, com a família já em processo de pobreza, Eliot passou a ter problemas financeiros pelo resto da vida. Se fez funcionário de banco, trabalhava no porão de uma instituição financeira em Londres, para onde se mudou. Nunca mais voltou a morar nos EUA. Terno, gravata, chapéu coco, guarda chuva. Frio, educado, gentil, amigável. E distante. Esse era Eliot. Casado, sua esposa logo revelou sinais de esquizofrenia. Autor do poema central do século XX, The Waste Land, obra que traz a imagem da desolação dos tempos modernos. Um sucesso entre intelectuais que o fez famoso, mas não menos pobre. Continuou no banco por quase toda a vida. Lançou a Criterion, a melhor revista cultural do seu tempo, o tempo das revistas culturais. Foi amigo de Wyndham Lewis, Ezra Pound, George Orwell, Roy Campbell, Aldous Huxley, Bertrand Russell, WB Yeats. Todos escreveram em sua revista. E muitos outros. Converteu-se ao anglicanismo e se dizia classicista e conservador. Naturalizou-se inglês. Percebeu antes de qualquer outro a destruição total da cultura europeia nas duas guerras. Escreveu pouco, sua obra é curta, e foi até sua morte o mais importante autor de seu tempo. Nobel em 1948, finalmente, ao fim da vida, foi feliz. Se casou aos 68 anos com sua secretária, de 30 e ficaram juntos até sua morte, oito anos depois. Em cartas se dizia feliz. Por toda a vida Eliot procurou salvar a Europa de sua destruição, foi uma luta perdida, mas dentro dessa luta, feita em poemas, peças, artigos, livro se reflexão, entrevistas, Eliot produziu uma obra sem igual. É o grande poeta do século e o último com estatura universal. ---------------------- Russell Kirk nasceu numa pequena cidade do centro dos EUA. Sua família, imensa, vivia no casarão que fora de seu avô. Uma casa de 200 anos. ( Uma diferença imensa dos EUA para o Brasil é que lá não é impossível encontrar casas de 200 ou 300 anos, mesmo o país sendo tão jovem quanto o nosso. Isso revela um amor pelo passado que inexiste aqui ). Kirk foi aluno brilhante em sua universidade e logo se tornou um campeão da causa conservadora. Seu pensamento é claro, objetivo, sincero. Ético. Lançou vários livros e sua biografia de Eliot é ponto central. Algo que revela quem foi Kirk é sua casa. Ele ampliou o casarão da família e nela abrigava escritores que não tinham onde ficar. Um andarilho hippie morou lá até o fim da vida. E foi enterrado no jardim. Kirk teve vários filhos e foi um homem feliz. Apesar de sua profunda irritação com a destruição cultural feita pela esquerda americana e inglesa. -------------------- Passo agora a comentar alguns, poucos, tópicos do livro. Pontos que pego ao acaso, quem puder que o leia, a obra é enriquecedora. Sua mente respira enquanto voce o lê. ------------------- Toda filosofia de Eliot é centrada no conceito de IMAGINAÇÃO MORAL. O que seria isso? A capacidade de imaginar a vida e a época de outros tempos. O dom de entender e manter vivos aqueles que já partiram. A fidelidade aos mortos. Sem isso, a cultura inexiste. Para conseguir tal poder, é preciso o estudo humanitário, o aprendizado de história, de filosofia, ética, retórica, grego e latim. É preciso que a educação seja vista como formação de pessoas cultas e educadas e não de trabalhadores. Eliot criticava muito a educação feita a partir dos anos 1930, uma educação socialista, feita pelo nivelamento de todos, educação que oprime a originalidade, o talento, a ousadia, em prol de um igualitarismo assassino. A decadência da cultura passa por esse nivelamento ao gosto do menos dotado. ---------------------- Eliot odiava Rousseau e Emerson, dentre outras coisas pelo sentimento infantil que há em ambos. Eles eram otimistas, acreditavam na bondade e só na bondade. Tiraram do mundo o sentimento trágico e sem esse sentimento não existe arte profunda. Todos os grandes autores são trágicos, mesmo os que fazem comédia. Eles conhecem o MAL e a MALDADE, e sabem que no mundo há uma luta sem fim entre bem e mal. Acreditam no inferno mesmo que não conheçam Deus. Liberais, progressistas, socialistas conseguem produzir bons livros, alguns de real valor, mas sem so setimento de pecado, de tragédia, nunca chegam a realizar uma obra completa. Sempre há algo de infantil neles. Isso porque eles negam a queda, o pecado original, a culpa que todos nós carregamos. Eles percebem a vida, por mais triste e melancólica que seja suas obras, e são, como se o Paraíso fosse possível, como se o progresso pudesse nos redimir. Eles são tristes, jamais trágicos. São alegres, nunca felizes. ---------------------Um autor que não dialoga com os autores do passado, QUE NÃO SEGUE ALGUMA TRADIÇÃO, está só. Daí o solipsismo de tantos escritores. É preciso, como na vida, fazer parte de uma comunidade, de uma rede de contatos espirituais, para assim IMAGINAR MORALMENTE aquilo que se conhece e se deve fazer. Sem isso a obra e a vida se fazem esterilidade. ------------------ As revistas literárias, que começaram a se estinguir a partir dos anos de 1940, com suas tiragens de 500 ou 2000 exemplares, eram as grandes divulgadoras de cultura. Apesar da bixa tiragem, cada leitor era um divulgador de suas mensagens para amigos e colegas. Mantidas por assinatura, elas tinham a liberdade de escrever para conhecdores. Todo autor grande ou iniciante escrevia nelas. Eram milhares de títulos. Mas o rádio, o cinema e principalmente os cadernos culturais dos jornais mataram essas revistas. E foi, como na educação, uma nivelação por baixo. A cultura do jornal diário se tornou barata, simples, feita para o semi analfabeto. O fim das revistas culturais trouxe a interrupção da divulgação elitista. E Eliot sabe que a grande arte É SEMPRE ELITISTA. ( Penso se os jornais, sempre ciumentos, não tentam fazer o mesmo com a internet ). ------------------- Falando agora de filosofia, Eliot criticava no mundo moderno a aptidão pelo prazer obejtivo. Tudo, na cultura, educação, estilo de vida, era feito para a rápida satisfação de um desejo. O homem se tornara um ser que deseja e nada mais que isso. Toda a vida do espírito, todo o mistério da vida, fora jogado ao lixo. Como consequência, a vida estava mergulhada em tédio e ansiedade. Essas as únicas sensações possíveis. O tédio do vazio e a ansiedade do desejo nunca satisfeito. Para Eliot, o espírito existe no CENTRO DO EIXO, a vida é como um vórtice que gira, e a alma é o centro imóvel, atemporal. O mundo moderno, mundo dos liberais que só visam o futuro e dos socialistas que só pensam em destruir para recomeçar, é incapaz de perceber o que não é futuro e não pode ser destruído, o espírito. Essa foi a luta central de Eliot, salvar a alma do mundo do esquecimento. ----------------------- Duas frases de Eliot que anteciparam nosso mundo: " No dia em que as crianças estiveram com aparelhos enfiados nos ouvidos, escutando uma estória antes de dormir, em vez da voz da mãe; no dia em que as pessoas falarem de MEU CACHORRO, MEU CARRO, MEU DESTINO, e não mais falarem de MEU DEUS, nessa hora o mundo estará mergulhado no mais absoluto tédio, pessoas vivendo em absoluta indiferença, sem paixão, sem céu ou inferno, ocos e nos limbo". -------------------Não existe civilização sem Deus. Ao retirar a Lei Moral, Divina, do mundo, todo o arcabouço da civilização cai por terra. Ao retirar Deus do estado, esse estado se torna ditatorial, pois somente com a força da violência se poderá manter as pessoas unidas. O que une um povo é a fé em um mesmo Deus. Sem isso somos seres isolados. ----------------------- Intelectuais tentarão colocar ideologia no lugar da . Mas isso será ineficiente. Ideologia leva sempre à ditadura, isso porque TODA ideologia precisa da conformidade ao dogma. Mais uma vez, é preciso a força para manter a Ordem. Um povo sem Deus é um povo sem ordem porque é um povo sem a LEI MORAL. Ideologos pensam apenas em projetos grandiosos e não conseguem satisfazer, jamais, a necessidade espiritual, pequena, comum, familiar, de cada cidadão. ------------------------- Ideologos destilam ódio. Eles precisam do ódio para sobreviver. Ódio ao inimigo imaginário. O ódio é o sentimento que os une. -------------------- Na Segunda Guerra, enquanto tantos intelectuais e artistas fugiram para os EUA, Eliot percorria Londres de bicicleta trabalhando no serviço de vigia de ataques aéreos. --------------------- Toda cultura nasce da religião. Quando a religião enfraquece, a cultura enfraquece. Não há como ser diferente, seja entre nativos de uma ilha isolada, seja nos EUA de 1960. Toda grande arte dialoga com a religião, seja a negando, seja a idolatrando, seja a temendo, seja a embelezando. A religião dá a dimensão de atemporalidade, de sagrado, de dúvida à cultura. E traz, principalmente, o valorda comunidade em si mesma. Cultura sem religião é cultura isolada, fria, sem eternidade. ------------------ Não comentei nada do que escrevi acima porque concordo com tudo que Eliot dizia. Se não consigo ter sua Fé em Deus, o invejo por isso. Mas sei, no fundo de minha alma, que ele estava certo.

UM MOMENTO PARTICULAR

Segundo Raymond Aron, quando um intelectual não se sente mais ligado a comunidade de onde veio e nem mais a sua religião, ele roga a que a ideologia ocupe o vazio que há em sua alma. Russell Kirk diz que a ideologia, seja fascista, seja a comunista, tenta dar às pessoas uma espécie de fé no futuro, e só no futuro, onde o passado, sempre visto como um erro, deve ser destruído. Há assim um esvaziamente da alma, pois ela passa a ser apenas um instrumento de mudança e não mais UM ELO DENTRO DA ETERNIDADE. Como consequência, inescapável, o homem mergulha no tédio vazio dos homens ocos. Essa a condição do meu país neste exato momento. Tenta-se, por meios violentos, fazer da família-religião-costumes-hábitos coisa morta, e deseja-se transformar a alma de todos em instrumento a serviço da reforma estatal, de cima para baixo. Educação, igreja e arte só são incentivadas se forem parte dessa ideologia transformista. Figuras históricas são jogadas à lata de lixo e acontecimentos centrais perdem seu registro. É como se uma imensa esponja apagasse tudo que somos e seremos e nada mais fosse possível a não ser aquilo que a ideologia ordena. Eliot diz que é assim que se destroi a imaginação moral, conceito que significa O DOM DE SE IMAGINAR EM OUTRAS ERAS, OUTRAS SITUAÇÕES SOCIAIS, OUTROS CONTEXTOS. É essa imaginação que possibilita a continuidade da tradição, a comunhão das almas, a sobrevivência das comunidades. Com a extrema ideologização, esse dom natural não é possível, pois o passado é visto como um erro e nada que venha de lá deve ser reverenciado. Eliot avisa que a alma do homem não tem como se manifestar nessa situação, ela se torna ausente, perde seu poder de manifestação.

A TERRA DOS HOMENS OCOS

Começo a ler o vasto livro de Russell Kirk sobre Eliot e seu tempo, e como sempre acontece quando leio sobre um irmão espiritual, me sinto inspirado. Kirk foi um intelectual americano conservador. Como pessoa ele se definia um conservador boêmio, anti burguês. Modesto, ele recusou todo convite para entrar no sistema, seja cultural, seja político. --------------- Voce deve estar perguntando: Um conservador anti burguês? Boêmio? Como pode? ................ Ora, não seja ingênuo! A burguesia do século XX e mais ainda do XXI é aliada à esquerda em todo o mundo. É a burguesia mais poderosa, banqueiros, industriais, artistas bem sucedidos, que mantém a tara moderna por CONTROLE E DESTRUIÇÃO DO PASSADO. Como vemos no Brasil hoje, de uma forma tão despudorada que chega a ser pornográfica, a união do estado, da justiça e do dinheiro graúdo, faz de uma nação uma teia de opressão a qualquer um que ainda pense em DIGNIDADE, LIBERDADE E TRADIÇÃO. Ontem, dia 16 de julho, o congresso mais uma vez foi fechado, um juiz sozinho ( sozinho? Quem o financia? ), calou a boca de mais de 500 parlamentares eleitos pelo voto. Esse é o ato estatal-esquerdista feito pelo mais anti conservador dos sistemas, o brasileiro atual. E ato esse, aplaudido por aqueles que Eliot chamava de OS HOMENS OCOS. Mas quem são esses homens ocos? ------------------ O filósofo espanhol Ortega y Gasset dizia que EU SOU EU E SOU MINHAS CIRCUNSTANCIAS. O que isso quer dizer? Eu, Paulo, sou aquilo que sou: Homem, brasileiro, filho de portugueses, filho de minha família, heterossexual, conservador em política e em economia, amante das artes eternas, pensador, indagador, chato. Mas eu sou também a minha circunstância, ou seja, sou o lugar onde cresci, onde vivo, sou tudo que me cerca, sou o que ouço, o que vejo, o que me toca. Sou isto que escrevo, sou voce que me lê, sou quem me conhece, quem pensa em mim. Ora, o conservador se apega a todas essas circunstâncias. Ele luta pela preservação dos laços afetivos com aquilo que é seu passado, seu ambiente, seu meio, seja o prédio da esquina, o hábito religioso, a peça de arte inviolável. Ele sabe que ao se destruir qualquer objeto que é parte de sua circunstância, parte dele é destruído ao mesmo tempo. Daí nasce o HOMEM OCO. É aquele ser, geralmente da esquerda, mas é também o alegre propagador do " derrube e construa" do capitalismo, que destroi tudo o que seja "antigo e inútil". Fazendo isso ele mata, sem saber, a si mesmo e se torna um HOMEM OCO, sem vínculos sólidos com nada ao seu redor, tendo apenas dentro de si o vazio do desejo de destruir. Não há retrato mais perfeito da esquerda brasileira que essa sanha por acabar com tudo que remeta à tradição e costume. Família, hábito e história. -------------------- Eliot percebeu isso já após a segunda guerra, quando observou que o trauma da guerra levou os ingleses à ansia de mudar e negar. E Kirk sentiu isso nos EUA, quando a partir dos anos 50 tomou lugar o sentimento de que todos somos seres sem raiz. Logo cooptado pelo sistema, esse sentimento "rebelde", boêmio, de ser livre para se auto construir, se transformou em abjeto ato de negar a realidade do passado e assim perder contato com toda a realidade presente. A cultura do século XXI é uma cultura da doença, do homem sem interior, do ato sem história, do gratuito, do sem permanência. --------------- Ao mostrar de modo pornográfico que o congresso nada representa, que o voto é apenas uma brincadeira vazia de poder real, os juízes fazem com que o interior de todo cidadão se torne ainda mais oco, sem referência e sem significado. O simbólico- voto e representatividade- se torna futilidade. A alma morre. Assim, cada brasileiro se torna oco, apenas um corpo vazio em busca de comida, andando em meio ao caos bem organizado e a pobreza externa e interna. Eliot chamava isso de inferno. Voce sabe o que é.