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O DURO E FRIO CINEMA POLICIAL FRANCÊS

A Versatil tem lançado caixas com filmes franceses policiais. Filmes feitos nos anos 50, 60, 70 até os anos 80. A opinião que eu tinha sobre o cinema policial francês era péssima. Imaginava filmes cópias dos americanos. Mal feitos, chatos, com diálogos em excesso. Puro preconceito!!!! Mais uma vez eu fui amestrado pela opinião dos críticos que eu lia nos anos 70 e 80 e não me dei ao trabalho de tirar minha própria conclusão. O cinema policial francês, na média, é ótimo. ------------------- De tudo que vi, cerca de 20 filmes, posso dizer que ruins apenas dois, a maioria é diversão competente, em estilo sempre glacial, e alguns são maravilhosos. Por exemplo I...COMO ÍCARO, filme de Henri Verneuil, diretor odiado por aqui. Feito em 1979, tem Yves Montand como um detetive que tenta encontrar o assassino do presidente. O filme tem cenários e clima futurista, e é tenso, triste sem ser chato, e o final doi nos ossos. Político sem ser partidário. É cinema competente, ou, mais que isso, perfeito. SEM MOTIVO APARENTE de Philippe Labro, feito em 1971, tem mais uma atuação marcante de Jean Louis Trintignant. Ele é um policial ao estilo Dirty Harry que tenta encontar um serial killer. Com Dominique Sanda e Laura Antonelli, ele exibe um certo mundo podre da mídia e é uma obra prima do policial. Não há um só minuto que não seja tenso, exato, necessário. O PAXÁ, de Georges Lautner ( todos esses diretores foram famosos em seu tempo. Seus filmes, feitos um por ano, eram exibidos aqui no Brasil com sucesso de público, apesar da má vontade da crítica ). Jean Gabin, velho, o filme é de 1968, procura encontrar um ladrão que anda matando todos os seus parceiros de crime. No processo ele descobre que seu amigo policial passou para o lado do crime. Ver Gabin é uma honra. Ele é o John Wayne, o James Stewart e o Bogart francês, tudo em um homem só. Nunca fica nervoso, parece derrotado, é o mais estoico dos detetives. Bogey ao lado de Gabin parece um aluno da sexta série. O filme, maravilhoso, tem trilha sonora de Serge Gainsbourg. Quando Requiem pour un con toca, juro, eu achei que era um som de 2010 e não de 1968. Há uma cena com Serge no estúdio. Gabin vai lá prender um músico. Serge passa ao lado de Gabin, Serge era baixinho, os dois se encaram. O mundo nesse dia deve ter parado de girar por alguns micro segundos. ENCURRALADO PARA MORRER de Alain Corneau. De 1977, Yves Montand abandona a esposa pela amante, mas a esposa se mata e a policia acha que a amante do marido a matou. Kafkiano. Tenso. Hitchcokiano. Amargo ao extremo. Sublime. Um super filme! -------------- Eu poderia falar de mais maravilhas. Mas fico por aqui. Eu pensava que o cinema de policiais franceses era apenas Melville. Não. O genial Melville deu gás à uma turma maravilhosa que produzia filmes às dúzias. É uma sorte e uma honra poder os assistir em 2023. Aproveite.

Mortelle Randonnée (1983) Bande Annonce VF [HD]

RONDA MORTAL, UM FILME DE CLAUDE MILLER

Fracasso no lançamento, em 1983, hoje este filme, inclassificável, belo, perturbador, é um cult francês. --------------- Um detetive não consegue esquecer da filha. Anos atrás a esposa o abandonou e levou a criança junto. Ele nunca mais as viu. Hoje a filha deve ter 25 anos de idade. Sua chefe o encarrega de encontrar um milionário desaparecido. Ao investigar, ele descobre que a namorada o assassinou. A matadora é uma jovem de 21 anos, e aos poucos ele descobre que ela é uma assassina compulsiva. Ela mata todos que a namoram e todos são ricos e belos. ---------------- O detetive, que tem o hábito de pensar em voz alta, passa a seguir a matadora. É testemunha de tudo que ela faz, e sem que ela perceba, a ajuda. O filme se desloca então por várias cidades, vários hoteis, vários sets. Sabemos que ela não é a filha desaparecida, e pela data de nascimento, ele sabe disso também. Mas ele a trata como fosse sua filha perdida. Não importa, ele precisa ser pai. O final do filme é de beleza perfeita. ---------------- Michel Serrault faz o pai. O que dizer? Impossível ser melhor que isso. Serrault é sempre um ator brilhante ( A GAIOLA DAS LOUCAS ), mas aqui ele se supera. O pai é patético, charmoso, triste, ousado, e na cena final, comovente. É uma persoangem dificil de fazer, pois ele não pede que sintamos pena dele. É um homem frio e sofrido, mas que nunca chora. E nem é durão. Humano. Serrault lhe dá dignidade e realidade. Uma das maiores atuações já vistas. A assassina é Isabelle Adjani, um papel mais simples, que ela faz com o distanciamento correto. Óbvio que ela é louca, inventa histórias, muda de nome, mas Isabelle consegue não cair no cliché. A trilha sonora, de Carla Bley, é jazz em alto nível. --------------- Claude Miller começou como assistente de Truffaut e teve uma carreira de sucesso ( menos aqui ). Dirige o filme no tom certo. Em mãos menos hábeis poderia cair na ironia fácil ou no horror tolo. É crível do começo ao fim. ------------------ Causa espanto a beleza dos anos de 1980. Eu havia esquecido de como o mundo era belo então. Entre 1978-1986. Roupas, lugares, tudo exala o esnobismo que era então permitido. É uma elegância que busca a beleza sem pudor algum. Éramos bonitos e sabíamos disso. --------------- Um filme espetacular!