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DEPARDIEU/ JAMES CAGNEY/ BATMAN/ EMMANUELLE BÉART/ RIDLEY SCOTT/ CAROL REED

   CORAÇÕES LOUCOS de Bertrand Blier com Gerard Depardieu, Patrick Dewaere, Miou-Miou e Isabelle Huppert
Um original. Dois amigos que vivem de roubos fazem tudo o que o desejo lhes manda fazer. E tudo sempre dá errado, claro. Mas eles não desistem. São burros, grossos, violentos, e pensam que toda mulher quer e deve ser usada. No inicio admiramos o filme e odiamos os personagens; depois começamos a sentir uma ternura indesejável por eles. O filme ruma ao sublime, sublime que nasce nas cenas da carona final. Eles quase se humanizam de tanto apanhar. Feito hoje seria transformado em filme solene e psiquiátrico, felizmente foi feito na hora certa ( 1974 ). Seus atores viraram estrelas, eram todos desconhecidos então. Um filme de extremos, voce vai adorar ou abominar e sua reação dirá muito sobre voce mesmo. Nota 9.
   GESTAPO de Carol Reed com Rex Harrison e Margaret Lockwood
Carol Reed é um dos grandes nomes da história do cinema inglês. Aqui, em plena segunda guerra, ele faz um filme em que um cientista tcheco é disputado por espiões ingleses e nazistas. O enredo é totalmente inverossimil, mas tem belas cenas em trem, suspense e clima. Adoro esses filmes noturnos, escuros, cheios de sombras e névoa. Mas a fraqueza do roteiro o compromete. Nota 6.
   JEAN DE FLORETTE de Claude Berri com Yves Montand, Gerard Depardieu e Daniel Auteill
Um imenso sucesso popular e de critica na França de 1987. Baseado no livro de Pagnol, passado na Provence, fala de dois viizinhos lavradores. Um, que vive na terra desde sempre, é falso, ignorante, manipulador, o outro, que acaba de chegar da cidade, tenta aplicar a ciência ao campo. É um homem alegre, honesto, otimista. Está feita a disputa, disputa pela água e pela sobrevivência na terra dura da Provence. Bem...Peter Mayle escreveu montes de livros sobre o lugar, para ele um tipo de paraíso cheio de franceses bons e engraçados. Pois este filme mostra a verdade, é um lugar dificil, áspero, de gente desconfiada e fofoqueira. Devo dizer que é um dos filmes que mais me enervou, fiquei completamente enojado com a maldade que ele exibe. Será genético, já que sei que meus antepassados viveram exatamente como eles? Poucos filmes exibem a maldade humana de modo tão cruel. Uma maldade pequena, mesquinha, burra, estúpida. O filme, que é simples até a medula, me foi insuportável. Sem Nota.
   A VINGANÇA DE MANON de Claude Berri com Daniel Auteill, Yves Montand e Emmanuelle Béart
Continuação de Jean de Florette filmada ao mesmo tempo que o filme acima. A filha de Jean cresceu, o bronco que é seu vizinho se apaixona por ela, ela se vinga. Preciso destacar a atuação de Auteill. Ele faz um tipo de homem-bicho, homem-pedra, limitado, sovina, rude e sem palavras, que cai de amores por Manon e sofre terrivelmente por isso. Uma atuação tão perfeita que chega a assombrar. Béart se fez estrela aqui e tem uma beleza natural, pura, esfuziante. Para muitos é a mais bela das atrizes atuais. E por fim, uma nota sobre o mito Montand. É um de seus últimos filmes e ele faz algo de muito raro. Pois passamos todos os dois filmes o detestando e ao final, quando ele sucumbe à dor, o perdoamos e desejamos que seu sofrimento pare. O rosto melancólico, crispado de culpa...lindo. Os dois filmes juntos são uma bela obra sobre um mundo seco e mesquinho. Longe da perfeição, mas bastante fortes.
   A CANÇÃO DA VITÓRIA de Michael Curtiz com James Cagney e Walter Huston
Bio sobre George M. Cohan, uma estrela dos palcos americanos entre 1890 e 1920. Os americanos adoram este filme, que é muito bem feito, mas fora da América ele tem dois problemas sérios. Primeiro o fato de que Cohan não é uma figura mundial, e segundo o hiper patriotismo do filme. Mesmo que voce não seja anti-americano, incomoda seu excesso de bandeiras e frase sobre a glória da América. Cagney está hiper atlético, dançando em seu modo irlandês, longe dos filmes de gangster. Nota 4.
   BATMAN O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE de Nolan com Bale e etc
Caraca! Lançado em centenas de salas, isto não é um filme, é uma operação de marketing. Nolan faz de tudo para se dar bem. Em meio a crise na cidade de Gotham ele tenta agradar a todas as tribos, e desse modo não agrada ninguém. Acena para liberais e republicanos, defende a ordem e o kaos, nada defende, então a verdade é que acena para os recordes de bilheteria. Problema nenhum se o filme fosse um tipo de Star Wars assumido. Mas, como bom Jeca, pinta tudo com um leve verniz de "arte". Pra que esse verniz só ele sabe. Arte de Jeca, que nunca é criatividade, mas sim escuridão e "dor". Jecas acham arte uma coisa tão esquisita, tão "superior", que sempre tendem a pensar que ela seja tristeza e desencanto. Esquecem que arte é vitalidade, coisa que todos os Batmans, desde Tim Burton, nunca tiveram. Se eu o analisar apenas como uma aventura pop ( o que não quer ser ), a coisa fica pior. Aventura tem de ser divertida, leve, ágil e fazer com que os minutos passem voando. Isto é pesado, solene, complicado, chato, arrastado. Saudade de meus gibis. Nota 1.
   PROMETHEUS  de Ridley Scott
Aff.... confesso que dormi. Acho que já deu pra Scott. Seus filmes, hiper empetecados, me lembram sempre o pior do cinema publicitário. O roteiro, pseudo profundo, é risivel. Alguém leva essa gororoba a sério??? Kubrick um dia fez uma obra de arte abstrata chamada 2001, e até hoje pagamos o pato. ZERO!!!

INOCÊNCIA E CULPA. CORAÇÕES LOUCOS, FILME CORAGEM DE BERTRAND BLIER

   Aviso que muitas pessoas irão abominar este filme. Por estarmos em 2012, muitos estarão desacostumados a ver um filme que é absolutamente anti-politicamente correto. Vê-lo é como ler Pondé. Na verdade bem melhor que lê-lo. Feito em 1974, esta obra, amada por Pauline Kael, é uma comédia. Mas uma comédia como não existe mais. Uma comédia ofensiva. Principalmente às mulheres. Vamos ao roteiro.
  São dois amigos. Pobres, sujos e obcecados por sexo. Estamos com eles no mundo da liberdade pura, e por serem assim, mesmo que voce goste do filme, não gostará deles. Pessoas mais "sensíveis" os acharão bobos. Pior, maus. Durante uma hora eu adorei o filme e os detestei. Mas Blier consegue algo mágico: súbito passamos a compreendê-los e a os aceitar. Então o filme revela sua grandeza, é uma obra-prima.
  Os dois vivem soltos e portanto se viram. Roubam, aplicam golpes e tentam transar com toda mulher que encontram. O estupro é sempre uma possibilidade. Mas o filme nunca é violento, ele é mais que isso, é revolucionário. E nunca politico. Eles são malandros mas não são simpáticos. Nada possuem de "charmoso", são toscos, reais, exagerados, burros e bastante egoístas.
  Filho de meu tempo ( 2012 ), passei o filme tentado a colocar neles um rótulo. Psicopatas? Se fosse feito agora, eles seriam um caso psiquiátrico, e com esse diagnóstico tudo estaria explicado e domesticado. Mas não aqui. Eles não são doentes. Volto a dizer, são livres, e pensam que ser livre é ser um tipo de troglodita. Assumem isso. E existem nesse estado de anarquia. Se querem um carro, o pegam; se desejam sexo, seguem uma mulher até pegá-la.
  Bertrand Blier é um dos mais interessantes diretores franceses. Seus filmes são sempre provocativos. Aqui temos quatro atores, na época desconhecidos, e que se tornaram símbolos sexuais em 1974. Gerard Depardieu, magro e bonito, é o mais forte dos dois amigos. Chega a sodomizar o companheiro e se suaviza ao se apaixonar por mulher mais velha. Uma atuação histórica. Suas cenas de sexo nos fazem rir, riso com raiva pois sabemos que o que ele faz é nojento. Seu amigo é feito por Patrick Dewaere e vale aqui uma apresentação. Com este filme Patrick virou mania na França. Fenômeno era seu rótulo. Mas logo se viciou em heroína e morreu muito jovem. Ele faz o amigo mais azarado, ainda mais burro que Depardieu. É apaixonante. E asqueroso!
   Há uma mocinha que não consegue gozar, então ela transa com qualquer um. Papel feito por Miou-Miou, uma atriz que se fez estrela também aqui. Se voce só conhece cenas de sexo feitas no cinema atual, repare nestas. Nada há de falso aqui. Nenhuma luz especial, nada de música sexy ou clima de neurose. É simples ato animal, despudorado, natural, tolo, desglamurizado, banal. As cenas de sexo são todas deliciosas, engraçadas e violentas, infantis.
   Após vê-los praticar vários crimes, fiquei com medo que viesse o castigo, ou pior, uma explicação racional de seus atos. Mas não. O filme não tem o menor traço de moralismo. Eles não são punidos, não são heróis e não vêem a luz. Apenas se viram na estrada. A fala final de Depardieu é perfeita. Dewaere pergunta: Então ficaremos assim pra sempre? De lá pra cá, sem parar? E Depardieu responde simplesmente: -PORQUE NÃO?
   Não se fazem mais filmes assim. Blier fala da liberdade e filma livremente. E leva seus atores com ele.
   Repito: é uma obra-prima e é um dos mais saudáveis filmes já feitos.
   PS: Há uma adolescente que perde a virgindade com eles depois de ajudá-los a roubar o próprio pai. É Isabelle Huppert. Maravilhosamente desafiante. Sua carreira também começava aqui.

ALDRICH/ MILESTONE/ DONEN/ AUDREY/ OLIVIER/ OZON/ THOR

   A MORTE NUM BEIJO de Robert Aldrich
Superestimado. Há quem o considere genial, histórico, moderno etc. Pra mim ele é um noir confuso, maneiroso, fake. Os atores parecem não levar a sério a história sobre material suspeito roubado. O detetive é Mickey Spillane, mas tudo parece muito forçado e até mesmo tolo.  Nota 1. ( tem boa foto ).
   ANJOS DA BROADWAY de Ben Hecht com Douglas Fairbanks Jr e Rita Hayworth
É vendido como noir, mas é um drama orignal, cruel, pessimista, dirigido pelo bom escritor e grande roteirista Hecht. A chuva pontua a história sobre um malandro de terceira que tenta dar um golpe em jogo de poker. Um homem tolo e falido e uma prostituta se juntam a ele. O filme é cheio de erros, não tem ritmo, mas é corajoso e original. Parece feito muito depois de seu tempo, tem ar de filme dos anos 70. Nota 5.
   SEM NOVIDADE NO FRONT de Lewis Milestone
Só vi dois filmes que mostram realmente o absurdo da guerra: este e Glória Feita de Sangue, de Kubrick. Existem outros grandes filmes de guerra, mas todos eles têm heróis, ou usam humor, ou enfeitam estéticamente o que é apenas horror. Aqui há o inferno. As cenas de batalha são como documentário, os homens parecem realmente com medo, parece que morrem de verdade. É um clássico que nada perdeu com o tempo. Talvez hoje até pareça melhor. Nota DEZ.
   MÉDICA, BONITA E SOLTEIRA de Richard Quine com Natalie Wood, Tony Curtis, Henry Fonda, Lauren Bacall
Com esse elenco o filme consegue ser vazio. Fala maliciosamente sobre revista masculina que tenta desmoralizar psicóloga que escreve sobre sexo. Curtis é o repórter que tenta a seduzir, Natalie a tal autora. Fonda faz um vizinho casado e Bacall é sua esposa. O humor era "apimentado", hoje parece apenas bobo. Tipo de filme irremediavelmente velho. Nota 3.
   UM CAMINHO PARA DOIS de Stanley Donen com Albert Finney e Audrey Hepburn
Com roteiro de Frederic Raphael, este é realmente um filme ambicioso. Mostra a vida de um casal em vários momentos. Todos são intercalados, sem aviso nenhum vamos do inicio ao fim, do meio ao inicio, do meio ao fim de novo. O que une esses episódios é o fato de todos se passarem em estradas da Europa. Ela o conhece como mochileiro na França, e o filme mostra suas outras viagens, no final já ricos e entediados. Há algo de muito doloroso no filme, apesar do toque leve de Donen. Finney está agressivo demais, e Audrey muito passiva, o casal tinha de naufragar. Donen usa técnicas de flash-back à nouvelle vague, não parece o mesmo diretor de Cantando na Chuva. O filme é bastante insatisfatório, mas longe de ser ruim. Nota 5.
   REI LEAR de Michael Elliott com Laurence Olivier, John Hurt, Diana Rigg e Colin Blakely
Como filme ( na verdade é tele-teatro ) é ok. Os cenários são pequenos e a imagem de tv, pobre. Mas o texto de Shakespeare é não só respeitado como bem interpretado. É um filme-peça que nos arrasa. A dor se acumula, os erros se atropelam. A maldade perde, mas o bem nada ganha. Um apocalipse! Olivier dá majestade a seu Lear, ele é tolo, egoísta, cego, mas é também um Rei. Qualquer humano interessado em linguagem, texto e sentido deve assistir. Nota DEZ.
   POTICHE de François Ozon com Catherine Deneuve e Gerard Depardieu
Esposa, em 1977, tem de assumir o controle dos negócios da familia quando o marido é afastado. Depois ele volta. Depardieu é um deputado de esquerda. O filme deveria ser engraçado. Não é. Ozon faz um festival de cenas flácidas, bobas, vazias, até mesmo desagradáveis em sua inabilidade. Roteiro sem porque, seria apenas uma brincadeira? Um modo de Ozon poder usar cenários e roupas de 1977? Nota Zero.
   A COR DA ROMÃ de Sergei Paradjanov
Um dos mais estranhos filmes que já vi. Não há diálogo ou ação. A câmera mostra quadros, cenas, em que os atores posam com os objetos. Letreiros se intercalam com as cenas. Fala sobre a vida de um poeta armênio. Por exemplo, quando se fala da adolescência do poeta, o que vemos é um quadro onde o poeta posa com flores, bules e uma moça. As cenas do mosteiro são perturbadoras, em meio a todo esse hermetismo colorido, Paradjnov consegue algo próximo do hipnotismo. Se voce não dormir, pode ter uma experiência próxima do êxtase. Aliás, um critico inglês diz que ver o filme é como tomar ecstasy. O diretor foi preso na antiga URSS, acusado de homossexualismo, o filme, maldito, era raro. Hoje mora em qualquer locadora. Vale a pena? Vale. PS: porque o cinema russo é tão diferente??? Nota 7.
   THOR de Kenneth Branagh
Dá pra imaginar os executivos da Paramount/Marvel falando: "è sobre Thor, sabe como é, deuses do norte...", "Ah... tipo Shakespeare?"....., "Tive uma ideia! Chama aquele cara que fala de Shakespeare!", 'OK! Chama o Laurence Olivier pra dirigir!"....."Chefe....ele já morreu...." E então meteram Branagh no projeto. Mas retiraram de Thor tudo o que ele tinha de 'mistico". Os gibis antigos, de Lee e Kirby parecem mais adultos que este filme. Nosso tempo, que tem medo de tudo que pareça simbólico, reduziu Thor a um tipo de estudante da UCLA mimado, e Odin a um dono de fábrica confuso. Asgaard se parece com Metrópolis, um tipo de cenário dos Jetsons mais metido a besta. Fizeram de Troia uma guerra sem deuses, agora Thor é um deus sem espirito!!!! Natalie Portman está no filme fazendo suas caras e bocas de sempre, e Anthony Hopkins é Odin. Porque? Shakespeare, chefe!!!!! Nota 1. O martelo é cool.

ORSON WELLES/ DEPARDIEU/ WISE/ BURTON/ DE SICA/ PETER SELLERS/ ZULU

ZULU de Cy Endfield com Stanley Baker, Michael Caine, Jack Hawkins e Ulla Jacobson
Um grande clássico do cinema inglês, foi votado recentemente um dos top 40 de toda a história do cine britânico. É diferente de tudo aquilo que voce espera. O excelente roteiro narra a história verídica de um grupo de soldados que em 1875 se defende na Africa de ataque de 4000 zulus. A primeira cena ( excelente ) já revela do que trata o filme: vemos uma longa dança ritual zulu. O filme não toma partido, os zulus não são vistos como "bons selvagens", mas tampouco são vilões. Assim como os soldados ingleses, eles são guerreiros humanos. O desenvolvimento dos personagens é perfeito, todos são bem delineados, nenhum é um herói, mas também não existe o anti-herói, têm falhas e qualidades e todos estão transidos de medo. A ação é muito bem feita, o som percussivo dos zulus vindo em crescendo, a violência explodindo de súbito. E o final é um explendor. Em suma, maravilhoso prazer. É um dos primeiros filmes de Caine, é aqui que ele se torna star ( em 64, ano do filme, ele só perdeu em bilheteria britânica para James Bond e A Hard Days Night ). Caine compõe um tenente afetado, fraco, exitante, mas que acaba por fazer o que dele se espera. Stanley Baker, grande estrela da época, é um oficial que luta para ser duro, tenta ser profissional, mas percebe todo o tempo o absurdo daquela matança. Excelente, tem ainda uma fantástica trilha sonora de John Barry, talvez meu compositor de cinema favorito. Nota 9.
A MARCA DA MALDADE de Orson Welles com Orson Welles, Charlton Heston, Janet Leigh, Marlene Dietrich
Um filme de Tarantino feito em 1958. A primeira cena é antológica: um longo plano sem cortes em que Heston anda por rua da fronteira Mexico/EUA em meio a carros, gente e casas. A câmera sobe, desce, corre e caminha e nenhum corte é feito até acontecer uma explosão. O tipo de esbanjamento de talento que foi inventado por Welles. Se Kane é seu filme mais perfeito é este que dá mais prazer ao ser visto. Fala de crime, do confronto entre um velho policial sem ética ( Welles, em atuação de explendor ) e um policial mexicano honesto ( Heston, muito bem ). Tudo no filme é fatalismo, pessimismo, escuro ( a fotografia é maravilhosa ). E tem algumas linhas de diálogo de cinismo cintilante. É um desses filmes cult-chic que fica bem gostar, mas ele merece toda sua fama. Se voce não penetrou no segredo do genial talento de Welles, este talvez comece a mudar sua opinião. Nota 9.
MAMMUTH de Gustave Kervern e Benoit Delepine com Gerard Depardieu e Isabelle Adjani
Minhas Tardes Com Margueritte é o melhor filme em cartaz. Se voce não o viu por ter ido atrás do hype, sinto muito. Lá Depardieu dá um show e pasmem, é um filme atual que trata de gente comum, sem grandes loucuras e doenças mortais. Mas aqui tudo se desacerta. Ele está ok como um aposentado entediado que parte pelas estradas atrás de papéis que provem onde e quanto tempo trabalhou ( problemas de aposentadoria ). Belo tema que poderia lembrar o Schmidt de Alexander Payne com Nicholson ( Payne é um dos muito bons novos diretores que têm pouco hype por não serem "geniais" ). Mas este Mammuth envereda pelo desejo de ser esquisito, diferente, inesperado, e nessa busca tola por arte, ele se faz previsível e pior, enfadonho. Uma pena.... Nota 2.
CORRA QUE A POLICIA VEM AÍ 2 E 1/2 de David Zucker com Leslie Nielsen e Priscilla Presley
Adoro Nielsen!!!!! Ele surge e já abro um sorriso. É daqueles humoristas que apenas por estarem em cena já fazem graça ( Eddie Murphy foi assim há séculos atrás ). Mas esta segunda aventura do hilário policial está longe da naturalidade da primeira. Aqui voce percebe o riso sendo procurado. Mesmo assim tem algumas cenas de humor antológico. Nota 6.
HELENA DE TROIA de Robert Wise com Rossana Podestá, Jack Sernas e Brigitte Bardot
O filme já começa com um erro: no papel de escrava, a muito jovem BB rouba o filme da insignificante Helena/ Podestá. E todo o resto vai nesse ritmo: o Paris feito por Sernas é patético, a guerra de Troia é constrangedoramente ruim e tudo no filme acaba por se parecer com carnaval na Sapucaí. Mistério: como um diretor tão bom como Wise se meteu nessa embrulhada? Nota Zero.
ALEXANDRE, O GRANDE de Robert Rossen com Richard Burton, Frederic March e Claire Bloom
Excelente. Burton, apesar de sua ridicula peruca, dá dignidade a figura de Alexandre. March, como seu pai, Filipe, está ainda melhor, e o filme é visto como um embate edipiano entre pai e filho. Filipe é todo desejo, virilidade, exuberância; e Alexandre, apesar de suas vitórias, é estranhamente fraco, solitário, travado. Rossen, grande diretor, sabe contar sua história. O filme flui. Não existe aqui aquele excesso de luxo hollywoodiano nos cenários "gregos", tudo é simples, claro e natural. Pode ser visto sem medo, ele se sustém, nada é inverossímel. Nota 8.
O FINO DA VIGARICE de Vittorio de Sica com Peter Sellers, Britt Ekland, Victor Mature, Martin Balsam, Maria Grazia Buccella
Uma comédia onde Peter Sellers faz um gatuno italiano só pode ser coisa boa. E é. Sellers foi um gênio e aqui ele dá uma pequena mostra disso. Faz um italiano típico e não parece forçado ou caricato. Faz rir, pelas situações de humor, não por ridicularizar sua interpretação. O filme trata de um roubo de barras de ouro e de um ladrão, The Fox, que deverá transportar esse ouro para dentro da Itália. Para isso, ele se passa por um famoso diretor de cinema "de arte", e usa a população de vilarejo, ávida por fazer cinema, como cúmplices no crime. Mature é um decadente ator americano canastrão ( ele se auto-parodia. Está ótimo ) e temos ainda todos aqueles hilários atores italianos em pequenos papéis. De Sica deixa Sellers atuar, o modo como ele move suas mãos, os olhares à Mastroianni, são aulas de como imitar sem parodiar. Uma comédia de primeira que tem ainda a bela trilha de Burt Bacharach e a linda Britt Ekland, uma atriz suéca do mal ( casou-se com Sellers e destruiu a carreira dele, e depois casou com Rod Stewart e o transformou num playboy. Os dois foram corneados por Britt ). Ah, o roteiro é de Neil Simon. Nota 7.
COLUMBO ( Box com 3 discos ) com Peter Falk, Leslie Nielsen, Lee Grant, Roddy McDowall...
Columbo é um policial feio e mal vestido, que com tranquilidade vai descobrindo seu criminoso. Quando Wim Wenders fez seu maravilhoso ASAS DO DESEJO ele escolheu Peter Falk/Columbo para ser um anjo. Vendo a série entendemos o porque. Columbo se move no crime, mas ele é sempre uma figura calma, plácida, familiar ( apesar do fedorento charuto ), um anjo que não tem uma só cena de violência. O filme começa sempre com o crime. Vemos quem o cometeu e a engenhosidade da execução. O interesse está em saber como Columbo chegará a solução. Ele então, se aproxima lentamente do crime. Toda a força da série está na composição de Falk e nos diálogos. Columbo vai irritando o criminoso, deixando-o confuso, acuado, temeroso. Columbo é obssessivo, racional, teimoso e fica todo o tempo surgindo onde menos se espera. Uma criação inspirada. Nesta caixa, o primeiro episódio tem direção de Steven Spielberg ( é seu primeiro trabalho ). Não darei nota por não ser cinema ( apesar de as imagens, com menos closes do que se usa hoje, serem quase cinematográficas. Cada episódio dura 80 minutos. )

KIAROSTAMI/ BINOCHE/ DEPARDIEU/ BECKER/ GROUCHO/ SCORSESE/ CLAIR/ DASSIN/ ROSSELINI

CÓPIA FIEL de Abbas Kiarostami com Juliette Binoche e Willian Shimell
Eric Rhomer ( de quem gosto ) fez filmes em que as pessoas falam e "nada acontece". Mas Rhomer tem um segredo: seus personagens são gostáveis. Torcemos por eles. Um americano ( quem? Linklater? ) fez um filme em que um casal conversa. É uma versão teen de Rhomer. Aqui temos Kiarostami fazendo uma versão adulta de Linklater ( se não for Linklater, sorry... ). Binoche continua bonitona. Shimell é ok. Mas o filme é um pé no saco! Motivo: os dois são detestáveis! O crítico de arte é de uma frieza nojenta e Juliette faz a típica divorciada amarga. São reais? Sim, são. O jogo de ocultamento/revelação é bem sacado? Sim, é. Mas e daí? Tudo se perde ( inclusive uma atuação perfeita de Binoche ) numa antipatia, uma chatura insuportável. Quando o personagem feminino desaba ao fim do filme, tudo de pior num relacionamento e num certo tipo de cinema cabeça vem a tona. É duro! Mas vale uma notinha pela atuação de Juliette. Nota 3.
DUCK SOUP de Leo McCarey com Margaret Dumont e os Irmãos Marx
Após o porre de sentido, de relevância e de seriedade vazia de Kiarostami, nada como a falta de senso de Groucho, Chico e Harpo para nos salvar. Este é o filme "politico" dos Marx. Freedonia que é governada por Groucho e entra em guerra "porque o campo de batalha já foi alugado". Amar os Marx é saber que viver é não fazer sentido. Nada neles faz sentido, nada. Seus filmes são carnavais sem enredo e comissão de frente. Duca! Nota DEZ!!!!!!!!!!!!
QUEM BATE A MINHA PORTA? de Martin Scorsese com Harvey Keitel
É o primeiro filme de Martin. Começou a ser filmado em 1965, e foi encerrado só em 68. Todo o seu estilo já está aqui: câmera em movimento, retrato de jovens perdidos, música pop. Impressiona o fato de que é um filme ainda moderno, lembra o estilo de Tarantino, Ritchie e vasto etc. Como todo novato Scorsese erra ao dar mais valor às imagens que ao roteiro, o filme às vezes se perde em sua história. Mas é uma refrescante visão de um imenso talento em seu nascimento. Nota 6.
O CÍRCULO VERMELHO de Jean-Pierre Melville com Alain Delon, Bourvil e Gian Maria Volonté
Por falar em Tarantino... Mais um dos filmes vigorosos de Melville. Mundo de ladrões, policiais e cabarets baratos. É um filme frio, duro, com uma contida violencia sempre latente. Delon é perfeito nesse papel de bandido sem alma. Melville foi um gigante, seus filmes jamais envelhecem. Virilidade em dose cavalar. Nota 7.
A BELEZA DO DIABO de René Clair com Gerard Philipe e Michel Simon
Finalmente vejo um filme em que o talento de Philipe me é exibido! Para quem não sabe é ele o grande mito do teatro e cinema francês. Morreu jovem... Aqui ele faz Mefistófeles, numa adaptação, em ritmo de farsa, do mito de Fausto. Simon é outro ator de gênio e é um prazer vê-lo em seus pulinhos de diabo bem-humorado. Clair, um dos cinco gigantes da França, tem o amor sincero pela poesia onírica do cinema. Sabia filmar sonhos e delirios. É uma obra invulgar, solta, febril e irreverente. Mas às vezes ela se perde em sua ambição. Clair era maior quando mais simples. De qualquer modo, é maravilhoso que filmes como este sejam lançados em dvd. Nota 6.
MINHAS TARDES COM MARGUERITTE de Jean Becker com Gerard Depardieu e Gisele Casadesus
Gerard Depardieu quando quer é um grande ator! A prova está aqui, neste filme que passou em nossas salas em Abril e que quase ninguém viu. Porque filmes tão bons quanto este são tão pouco vistos? Porque são adultos? Ou porque não são sensacionais? Não apelativos? É um filme discreto, elegante, simples, solar e muito feliz. Tudo o que hoje não dá ibope. Depardieu é um "burro", um homem de inteligência limitada, um bronco. Ele conhece uma velhinha que ama ler e os dois se tornam amigos. Nesse processo ele não se torna mais inteligente, mas adquire confiança em si. Tudo no filme funciona. Os amigos do bar, a namorada jovem, e principalmente a relação de Depardieu com a mãe não-maternal, mostrada em flash-back. O modo como Depardieu fala e se move, suas mãos imensas e suas hesitações são trabalho de gênio. Eu não gostava muito dele, mas este filme mudou meu conceito. É também um dos raros filmes de agora que consegue mostrar a verdadeira França e o verdadeiro francês. Espero que os americanos não o refilmem. Fariam do personagem central um viciado ou um caso psico, e da velhinha uma louquinha tarada. Fariam desta pequena jóia um filme "sensacional". Jean Becker é filho de um dos meus diretores favoritos, Jacques Becker. Os filmes que ele tem feito ultimamente são todos assim: maravilhosos. Veja!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Nota 9.
O RETORNO A CÂMARA 36 DE SHAO LIN de Lau Kar Leung com Gordon Liu e Johnny Wang
Produção do mitico estúdio Shaw Bros. Liu, espetacular, faz comédia como um mentiroso que se torna mestre de Kung Fu e salva trabalhadores de patrão cruel. Kill Bill é dedicado a Liu, um mito chinês. Lutas fantásticas num filme que dignifica o cinema pop. Os chineses viam o cinema como circo, como festa. É isso que temos aqui, uma festa. Nota 7.
ALEMANHA ANO ZERO de Roberto Rosselini
Em 1947, em ato de coragem, Rosselini foi a Berlin, filmar a vida na cidade vencida. O filme sempre irá impressionar: Berlin é um imenso lixão, onde pessoas esfomeadas vendem o que possuem. Temos aqui um ex-nazista, moças prostitutas, ex-professor pedófilo, velho agonizante. E principalmente um menino perdido, retrato da Alemanha de então, que rouba, foge, tenta se comunicar e acaba por matar seu pai. É um dos filmes mais tristes já feitos. O cinema de Rosselini continua a ser influência num certo tipo de cinema de hoje ( os iranianos, os palestinos, os africanos ), é cinema da pobreza, da crueza, e da ausência de emoção. Rosselini tenta ficar a distância, observa e não se envolve. O que salta aos olhos hoje é o absurdo de destruição que se fez em Berlin, creia, a cidade ficou completamente destruída. Nota 7.
PROFANAÇÃO de Jules Dassin com Melina Mercouri e Anthony Perkins
Primeiro: Dassin é um super diretor! Seja em policiais ou em dramas, seja em comédias ou em noir. Aqui ele pega a história de Fedra e a coloca na Grécia moderna, no mundo dos milionários armadores ( Onassis? ). Melina é a esposa de rico armador que se apaixona por seu enteado. Perkins, o jovem e frágil ator de Psicose, faz o enteado. A trilha é de Mikis Theodorakis, maravilhosamente trágica. Dassin vai fundo na tragédia grega, sem medo e sem pudor. O que vemos é a destruição de todos pela força da paixão cega. Mas a habilidade de Dassin é tanta que o filme nunca perde ritmo, suas imagens e sua edição dando suspense ( e nervosa beleza ) ao todo. Melina nasceu para esses papéis: seu rosto é máscara de tragédia. Anthony Perkins traz o desamparo de menino mal amado. O filme é poderoso. Nota 8.