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A VIDA DOS ELFOS - MURIEL BARBERY

   Lançado em 2015, este é o terceiro livro de Barbery que leio. Hm...confesso que não consegui chegar ao final...e é duro para mim não terminar um livro! Parei na página 110, marquei bem essa página e espero um dia o retomar. Enfim...
   ( O fato é que tenho tantos livros para ler e me dá nervoso perder tempo com algo que não seja um belo prazer ).
   A intenção de Muriel é louvável, ela tenta escrever um livro mágico. Para isso, ela usa a linguagem romântica. É o mesmo tipo de texto de Alain Fournier ou de algum poeta esquecido de 1840. Mas não funciona. Infelizmente. As imagens parecem forçadas e a linguagem acaba soando falsa. A sensação que temos ao ler é de ironia. E ao mesmo tempo sabemos que essa ironia é involuntária. Ela vem de nossa leitura e não da escrita dela.
   São duas meninas, uma na Itália e outra na França, que conseguem sentir a linguagem da natureza. E assim, o texto é repleto de árvores emanando luz ou de insetos e sua lingua secreta. Barbery usa imagens "lindas", o livro é tão "belo" que perde o tom. As frases são musicais, isso ela consegue, mas é melodia de Franz Léar, não de Schumann.
   Uma pena.
   ( Ou talvez seja apenas um livro romântico para meninas de 13 anos...sei lá ).

UMA LEITURA ENCANTADORA: A ELEGÂNCIA DO OURIÇO- MURIEL BARBERY

   Primeiro o ethos: uma concierge, feia, de 54 anos, viúva, é considerada uma pessoa banal e anônima pelos outros. Porque a imagem que ela passa, consciente e proposital, é de uma concierge típica. Mas nós sabemos que ela lê muito. E pensa. E vê todos os detalhes de todos que vivem naquele elegante prédio em Paris.
 Há também uma menina de 12 anos. Que sente que o mundo não tem lugar para ela. E que escreve um livro sobre coisas em movimento. Porque ela percebe que o movimento é uma das coisas mais belas do mundo.
 Muriel Barbery divide os capítulos entre essas duas pessoas. E nós nos encantamos com as duas. O livro fala de Japão, de arte, de Tolstoi, de morte, da solidão, de comida. E nunca cansa, jamais se perde, ele se movimenta. Sim, ele é fofo. Sim, ele é pop. Mas consegue ser um ótimo exemplo de um tipo de literatura popular digna, bela, elevada, estimada. Barbery sabe escrever, e melhor que isso, sabe ver. Os retratos da elite francesa são agudos e simples. Exatos. O retrato do modo como essa elite vê os outros é caricato. E de verdade.
 Os dois capítulos finais catapultam o livro para cima e além. O que é raro nos dias de hoje: um livro que sabe onde e como terminar. A moral do texto diz que o único sentido da vida é encontrar coisas e momentos de beleza. Sem isso perdemos toda nossa humanidade.
 Quando estou inteiro e me sinto eu-mesmo, é assim que penso. A educação é conseguir perceber a beleza do mundo. Pois a feiura independe de cultura, ela é dominante. É certo que bichos não apreciam o por do sol ou uma onda do mar. É certo que muita gente se esqueceu disso.

A MORTE DO GOURMET - MURIEL BARBERY...UM LIVRO LINDO.

   O que nos agrada em um livro? Originalidade, arte em escrever bem, informações, verdades, fantasias, símbolos, impacto...Um livro pode ter tudo isso e ser chato. Ou muito ruim. Um livro pode não ser nada original, nada informativo, e mesmo assim ser brilhante.
  Gosto de dizer, para livros e para filmes, para música e para a arquitetura, que eles são bons por serem bonitos. Eis um comentário nada cool, bem fora de moda. Dizer que um filme é bonito é visto hoje como dizer que ele NÃO é relevante. A beleza pura se tornou algo como um espírito ou a honra: um valor arcaico.
  Mas, que coisa né, continuamos a nos guiar por ela. A força da beleza independe de moda ou de nossa opinião formal. No âmago das nossas opiniões é por ela que nos guiamos. Voce pode não ligar para a feiúra do Minhocão e falar que sua região é "vitalizadora" ou "instigante", mas no quarto voce prega um poster de Van Gogh e um pano da India. A beleza brota nas fendas de suas frases "ferinas".
  Este livro é lindo. E isso é tudo. Me deu o prazer que só a beleza dá. O prazer calmo e insaciável, um prazer de gozo que não se aquieta mas que ao mesmo tempo acalma. A beleza é o certo, o fim, não o meio. O alvo da arte não é a verdade. É o repouso. A conclusão. É o fim. E esse fim pode ser mais um começo.
  Um crítico de gastronomia morre. E no quarto, em sua agonia, ele tenta achar sentido em sua vida. Para isso, recorda seus grandes momentos diante de um prato ou de um copo. Ao mesmo tempo, o livro dá voz às pessoas que o conheceram. E cada uma o vê de um modo.
  Muriel escreve à francesa. Com requinte e amor à lingua. Sua prosa tem suco. Gosto de falar mal dos escritores franceses, mas a prosa da França é como seu cinema: quando acerta é divina. Pena que erre tanto. Erre tanto por vaidade. Por excesso de amor à sua habilidade.
  Amei este livro. Muriel é uma boa autora. Dá vontade de reler.