Scott teve um azar terrível. Seu primeiro livro, este, lançado em 1920, quando ele tinha apenas 23 anos, foi um sucesso. Criou enorme expectativa sobre o que viria a seguir. Ele foi chamado de coisas como " Símbolo de sua Geração" e de " Futuro autor do Grande Livro Americano". Símbolo ele foi. Hoje a tal "era do jazz" é o tempo de Scott. O Grande Livro Americano dizem que até hoje ninguém o escreveu.
Caramba, já fazem cem anos! O tempo é realmente ilusório. Quando comecei a ler romances, em 1977, cem anos atrás era o tempo de Rimbaud e de Dostoievski. 1977- 1877. Agora, cem anos atrás é Fitzgerald, Joyce e Proust...
Amory Blaine é o centro deste livro. Acompanhamos sua vida dos 8 aos 24 anos de idade. Nasce rico, apegado à mãe, bonita e chique, e distante do pai, pai frio e sem graça. Menino hiper vaidoso, ( o livro ia se chamar A Vida de um Egotista. Max Perkins, seu editor, preferiu Este Lado do Paraíso ), Amory cresce exibicionista, egocêntrico, protegido, mimado, esnobe, chique, farrista, inconsequente. Vai estudar em Princeton. Joga futebol. É bonito e alto. Atrai as meninas. Deveria ser feliz. Todo o romance é ao estilo Henry James. Harold Bloom dizia que Scott era Henry James simplificado, ( Heminguay seria Mark Twain renovado e Faulkner um Melville em novo estilo ), e desse modo, Scott descreve procurando sempre um detalhe que nos surpreenda. Sua prosa é rica, farta, filigranada, e como autor novato, ele às vezes se perde, parece ser tomado por vaidade e exibicionismo, exagera, mas sempre o lemos com gosto e me peguei admirando muito este livro.
Amory deveria ser feliz, mas não é. Ele quer ser especial. Ele quer fazer algo. Mas na verdade não sabe o que. Amory tem talento, mas não tem vontade. Ele não tem força. Desse modo o vemos desfilar pelas páginas sem se envolver muito com nada. Ele parece se apaixonar por algumas meninas, quatro, mas vemos que ele se esquece delas logo ( menos uma, Rosalind, a única que feriu sua vaidade ). Achamos que ele ama seus amigos, mas se cansa deles rapidamente. A mãe morre e ele pouco reage, e mesmo a pessoa que ele mais respeita, um cardeal católico, quando falece, Amory sente no funeral uma certa liberação. Nada em Amory parece real, tudo é estilo, tudo é pose. Fake.
Várias vezes Amory fala mal dos poseurs, mas ele é o maior dos poseurs. Ele posa de criança amorosa, depois de estudante inadaptado, então vira o ídolo do esporte, o bêbado boêmio, o bom partido, vira um poeta de futuro, vai para a guerra, se torna um apaixonado desesperado, e termina o livro como um socialista pobre. Mas nada disso parece ser Amory Blaine. Ou melhor, ele é nada disso.
A juventude da época amou o estilo de vida do romance. Se identificaram. Viam em Amory o anti século XIX. Se antes tudo era certeza vitoriana, solidez, aqui estava um jovem que era tudo e nada. Sem compromisso, sem certeza alguma, sem rumo nenhum. Viram nele uma existência de festas e loucuras, de amores descompromissados e luxo sem fim. Esse novo homem, vazio, já tinha sido anunciado em autores menos populares, foi Fitzgerald quem deu popularidade ao tipo e o colocou no meio universitário. O novo jovem não era da boemia, ele era o cara de Princeton. Em 1980 ele ainda era o cara predominante. Seu lema era o famoso "Não sei o que desejo, mas sei aquilo que não quero". Amory Blaine vive esse lema integralmente. Em 1920, isso era muito, muito novo. Tudo que ele quer é esquecer o seu vazio e para isso ele inventa uma personalidade e procura, toda noite, por algum inédito prazer.
Em 2020 não é mais assim. Um jovem hoje sabe o que deseja. Mesmo que seja um querer imposto à ele, sua mente e seu coração estão comprometidos com algum desejo. "Sei o que desejo e sei o que não quero". Voltemos ao livro...
Scott Fitzgerald passou os próximos 15 anos vivendo como Amory Blaine. Ele escreveu seu próprio perfil neste livro. Muito autor faz isso. O problema é que ele não foi adiante. Escreveria Gatsby, livro ainda melhor, Suave é a Noite, excelente, mas continuou a viver e a querer ser, para sempre, Amory Blaine. Até nisso Fitzgerald antecipa tudo o que todos fariam nas décadas futuras do século: Scott jamais quis sair da universidade. Adolescência para sempre. Ter um futuro imenso e passado bem curto. Joyce, por exemplo, começa como ele, Retrato do Artista quando Jovem é seu Este Lado do Paraíso. Mas depois ele larga isso e vira adulto. Ulysses é um livro de um homem de 40 anos. E ao fim da vida Joyce escreve como um velho marujo de 90 anos. Até Heminguay encarou a idade e aos trancos e barrancos se tornou um homem de meia idade machão. Fitzgerald não. Apaixonado por aquilo que ele foi aos 20 anos, jamais saiu dessa armadilha. Um lamentável desperdício. Como prova este livro, seu talento era sem limite. Mas sua nostalgia o matou.
Caramba, já fazem cem anos! O tempo é realmente ilusório. Quando comecei a ler romances, em 1977, cem anos atrás era o tempo de Rimbaud e de Dostoievski. 1977- 1877. Agora, cem anos atrás é Fitzgerald, Joyce e Proust...
Amory Blaine é o centro deste livro. Acompanhamos sua vida dos 8 aos 24 anos de idade. Nasce rico, apegado à mãe, bonita e chique, e distante do pai, pai frio e sem graça. Menino hiper vaidoso, ( o livro ia se chamar A Vida de um Egotista. Max Perkins, seu editor, preferiu Este Lado do Paraíso ), Amory cresce exibicionista, egocêntrico, protegido, mimado, esnobe, chique, farrista, inconsequente. Vai estudar em Princeton. Joga futebol. É bonito e alto. Atrai as meninas. Deveria ser feliz. Todo o romance é ao estilo Henry James. Harold Bloom dizia que Scott era Henry James simplificado, ( Heminguay seria Mark Twain renovado e Faulkner um Melville em novo estilo ), e desse modo, Scott descreve procurando sempre um detalhe que nos surpreenda. Sua prosa é rica, farta, filigranada, e como autor novato, ele às vezes se perde, parece ser tomado por vaidade e exibicionismo, exagera, mas sempre o lemos com gosto e me peguei admirando muito este livro.
Amory deveria ser feliz, mas não é. Ele quer ser especial. Ele quer fazer algo. Mas na verdade não sabe o que. Amory tem talento, mas não tem vontade. Ele não tem força. Desse modo o vemos desfilar pelas páginas sem se envolver muito com nada. Ele parece se apaixonar por algumas meninas, quatro, mas vemos que ele se esquece delas logo ( menos uma, Rosalind, a única que feriu sua vaidade ). Achamos que ele ama seus amigos, mas se cansa deles rapidamente. A mãe morre e ele pouco reage, e mesmo a pessoa que ele mais respeita, um cardeal católico, quando falece, Amory sente no funeral uma certa liberação. Nada em Amory parece real, tudo é estilo, tudo é pose. Fake.
Várias vezes Amory fala mal dos poseurs, mas ele é o maior dos poseurs. Ele posa de criança amorosa, depois de estudante inadaptado, então vira o ídolo do esporte, o bêbado boêmio, o bom partido, vira um poeta de futuro, vai para a guerra, se torna um apaixonado desesperado, e termina o livro como um socialista pobre. Mas nada disso parece ser Amory Blaine. Ou melhor, ele é nada disso.
A juventude da época amou o estilo de vida do romance. Se identificaram. Viam em Amory o anti século XIX. Se antes tudo era certeza vitoriana, solidez, aqui estava um jovem que era tudo e nada. Sem compromisso, sem certeza alguma, sem rumo nenhum. Viram nele uma existência de festas e loucuras, de amores descompromissados e luxo sem fim. Esse novo homem, vazio, já tinha sido anunciado em autores menos populares, foi Fitzgerald quem deu popularidade ao tipo e o colocou no meio universitário. O novo jovem não era da boemia, ele era o cara de Princeton. Em 1980 ele ainda era o cara predominante. Seu lema era o famoso "Não sei o que desejo, mas sei aquilo que não quero". Amory Blaine vive esse lema integralmente. Em 1920, isso era muito, muito novo. Tudo que ele quer é esquecer o seu vazio e para isso ele inventa uma personalidade e procura, toda noite, por algum inédito prazer.
Em 2020 não é mais assim. Um jovem hoje sabe o que deseja. Mesmo que seja um querer imposto à ele, sua mente e seu coração estão comprometidos com algum desejo. "Sei o que desejo e sei o que não quero". Voltemos ao livro...
Scott Fitzgerald passou os próximos 15 anos vivendo como Amory Blaine. Ele escreveu seu próprio perfil neste livro. Muito autor faz isso. O problema é que ele não foi adiante. Escreveria Gatsby, livro ainda melhor, Suave é a Noite, excelente, mas continuou a viver e a querer ser, para sempre, Amory Blaine. Até nisso Fitzgerald antecipa tudo o que todos fariam nas décadas futuras do século: Scott jamais quis sair da universidade. Adolescência para sempre. Ter um futuro imenso e passado bem curto. Joyce, por exemplo, começa como ele, Retrato do Artista quando Jovem é seu Este Lado do Paraíso. Mas depois ele larga isso e vira adulto. Ulysses é um livro de um homem de 40 anos. E ao fim da vida Joyce escreve como um velho marujo de 90 anos. Até Heminguay encarou a idade e aos trancos e barrancos se tornou um homem de meia idade machão. Fitzgerald não. Apaixonado por aquilo que ele foi aos 20 anos, jamais saiu dessa armadilha. Um lamentável desperdício. Como prova este livro, seu talento era sem limite. Mas sua nostalgia o matou.