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ESTE LADO DO PARAÍSO - F. SCOTT FITZGERALD

   Scott teve um azar terrível. Seu primeiro livro, este, lançado em 1920, quando ele tinha apenas 23 anos, foi um sucesso. Criou enorme expectativa sobre o que viria a seguir. Ele foi chamado de coisas como " Símbolo de sua Geração" e de " Futuro autor do Grande Livro Americano". Símbolo ele foi. Hoje a tal "era do jazz" é o tempo de Scott. O Grande Livro Americano dizem que até hoje ninguém o escreveu.
   Caramba, já fazem cem anos! O tempo é realmente ilusório. Quando comecei a ler romances, em 1977,  cem anos atrás era o tempo de Rimbaud e de Dostoievski. 1977- 1877. Agora, cem anos atrás é Fitzgerald, Joyce e Proust...
  Amory Blaine é o centro deste livro. Acompanhamos sua vida dos 8 aos 24 anos de idade. Nasce rico, apegado à mãe, bonita e  chique, e distante do pai,  pai frio e sem graça. Menino hiper vaidoso, ( o livro ia se chamar A Vida de um Egotista. Max Perkins, seu editor, preferiu Este Lado do Paraíso ), Amory cresce exibicionista, egocêntrico, protegido, mimado, esnobe, chique, farrista, inconsequente. Vai estudar em Princeton. Joga futebol. É bonito e alto. Atrai as meninas. Deveria ser feliz. Todo o romance é ao estilo Henry James. Harold Bloom dizia que Scott era Henry James simplificado, ( Heminguay seria Mark Twain renovado e Faulkner um Melville em novo estilo ), e desse modo, Scott descreve procurando sempre um detalhe que nos surpreenda. Sua prosa é rica, farta, filigranada, e como autor novato, ele às vezes se perde, parece ser tomado por vaidade e exibicionismo, exagera, mas sempre o lemos com gosto e me peguei admirando muito este livro.
  Amory deveria ser feliz, mas não é. Ele quer ser especial. Ele quer fazer algo. Mas na verdade não sabe o que. Amory tem talento, mas não tem vontade. Ele não tem força. Desse modo o vemos desfilar pelas páginas sem se envolver muito com nada. Ele parece se apaixonar por algumas meninas, quatro, mas vemos que ele se esquece delas logo ( menos uma, Rosalind, a única que feriu sua vaidade ). Achamos que ele ama seus amigos, mas se cansa deles rapidamente. A mãe morre e ele pouco reage, e mesmo a pessoa que ele mais respeita, um cardeal católico, quando falece, Amory sente no funeral uma certa liberação. Nada em Amory parece real, tudo é estilo, tudo é pose. Fake.
  Várias vezes Amory fala mal dos poseurs, mas ele é o maior dos poseurs. Ele posa de criança amorosa, depois de estudante inadaptado, então vira o ídolo do esporte, o bêbado boêmio, o bom partido, vira um poeta de futuro, vai para a guerra, se torna um apaixonado desesperado, e termina o livro como um socialista pobre. Mas nada disso parece ser Amory Blaine. Ou melhor, ele é nada disso.
  A juventude da época amou o estilo de vida do romance. Se identificaram.  Viam em Amory o anti século XIX. Se antes tudo era certeza vitoriana, solidez, aqui estava um jovem que era tudo e nada. Sem compromisso, sem certeza alguma, sem rumo nenhum. Viram nele uma existência de festas e loucuras, de amores descompromissados e luxo sem fim. Esse novo homem, vazio, já tinha sido anunciado em autores menos populares,  foi Fitzgerald quem deu popularidade ao tipo e o colocou no meio universitário. O novo jovem não era da boemia, ele era o cara de Princeton. Em 1980 ele ainda era o cara predominante. Seu lema era o famoso "Não sei o que desejo, mas sei aquilo que não quero". Amory Blaine vive esse lema integralmente. Em 1920, isso era muito, muito novo. Tudo que ele quer é esquecer o seu vazio e para isso ele inventa uma personalidade e procura, toda noite, por algum inédito prazer.
  Em 2020 não é mais assim. Um jovem hoje sabe o que deseja. Mesmo que seja um querer imposto à ele, sua mente e seu coração estão comprometidos com algum desejo. "Sei o que desejo e sei o que não quero". Voltemos ao livro...
  Scott Fitzgerald passou os próximos 15 anos vivendo como Amory Blaine. Ele escreveu seu próprio perfil neste livro. Muito autor faz isso. O problema é que ele não foi adiante. Escreveria Gatsby, livro ainda melhor, Suave é a Noite, excelente, mas continuou a viver e a querer ser, para sempre, Amory Blaine. Até nisso Fitzgerald antecipa tudo o que todos fariam nas décadas futuras do século: Scott jamais quis sair da universidade. Adolescência para sempre. Ter um futuro imenso e passado bem curto. Joyce, por exemplo, começa como ele, Retrato do Artista quando Jovem é seu Este Lado do Paraíso. Mas depois ele larga isso e vira adulto. Ulysses é um livro de um homem de 40 anos. E ao fim da vida Joyce escreve como um velho marujo de 90 anos. Até Heminguay encarou a idade e aos trancos e barrancos se tornou um homem de meia idade machão. Fitzgerald não. Apaixonado por aquilo que ele foi aos 20 anos, jamais saiu dessa armadilha. Um lamentável desperdício. Como prova este livro, seu talento era sem limite. Mas sua nostalgia o matou.

MAX PERKINS, UM EDITOR DE GÊNIOS - A. SCOTT BERG

   As primeiras 150 páginas deste livro são fascinantes. O autor conta a história das duas famílias que se uniram para formar Max Perkins. Depois se fala sobre seu casamento e o começo de sua carreira na Scribners. Mas, lá pela página 200, voce começa a se sentir muito, muito cansado. Por um motivo simples: a própria vida de Max caiu numa repetição cansativa. Ele jamais deixou de amar aquilo que fazia, mas ao mesmo tempo, destruiu sua saúde pela repetição mecânica de seu trabalho. Editar gente como Thomas Wolfe ou Scott Fitzgerald era desesperador.
  O trio principal da editora era Wolfe, Scott e Heminguay. 90% do livro fala deles, e eu queria que se falasse mais dos outros autores. Dentre os 3, a maior parte é dedicada a Thomas Wolfe, e Thomas é um porre!
  Eu li Thomas Wolfe anos atrás e pra mim ele era um completo maluco. Max Perkins teve de pegar manuscritos de mais de 1000 páginas, incoerentes, caóticos, e dar um jeito de transformar aquilo em algo legível. Sem Max, o livro não diz isso, mas nós notamos, Thomas Wolfe não existiria. Abusivo, ele privou da casa e da comida de Max, irritou seus amigos, destruiu seus nervos.
  Fitzgerald lhe deu outro tipo de trabalho. Scott foi um autor que se tornou rico e famoso aos 23 anos. E isso acabou com ele. Ele tinha um dom refinado e um texto belíssimo, mas não aceitava o fato de estar ficando "velho". Como acontece com todo rock star hoje, ele não queria que a beleza e a alegria de seus 23 anos morressem. Sua esposa Zelda, completamente doida, era um peso em sua vida, e fraco de saúde, Scott era um poço de medo. Se afundou na bebida. Max o ajudava lhe dando dinheiro, confiança, fé.
  Já Heminguay era o oposto dos dois citados acima. O texto já vinha quase pronto, era hiper ativo, confiante, e o único problema que ele dava a Max era de censura. Perkins tinha de refrear sua agressividade e cortar palavrões em seu texto. Foi o único que sobreviveu à Max Perkins. Wolfe morreu de tuberculose cerebral ainda jovem. Scott morreu no começo dos anos 40 de infarto. Max Perkins morreria em 1946, aos sessenta e poucos anos. Literalmente de cansaço.
   Nós não temos a tradição americana de editor. Aqui um editor lê o texto, julga e corrige erros de gramática. Lá, um editor dá ideias, rumos, corta capítulos inteiros, elimina personagens. Faz uma parceria com o autor. Ajuda, empurra, ampara. Este livro é uma enorme história de amor. Max, que teve 5 filhas, via em cada escritor um filho. Wolfe foi o filho rebelde, Scott o filho frágil e Heminguay o valentão. Max Perkins era um pai dedicado, protetor, paciente, um gigante.
  Leia este livro se voce gosta muito de livros.
  A. Scott Berg tem um texto claro e objetivo, consegue fazer com que amemos Perkins sem jogar confete nele. Apenas descrevendo seu trabalho duro e exigente.
  

JUDE LAW JUDI DENCH HELEN MIRREN JOHN WAYNE ROGER MOORE EWAN MCGREGOR COLIN FIRTH NICOLE KIDMAN

   O MESTRE DOS GÊNIOS de Michael Grandage com Colin Firth, Jude Law, Nicole Kidman, Laura Linney e Guy Pearce.
Baseado no livro que conta a história de Max Perkins, o editor da Scribner and Sons que lançou Fitzgerald, Heminguay, Caldwell entre muitos outros. Seu favorito era Thomas Wolfe e é ele que o filme retrata. Primeiro devemos dizer que um editor nos EUA nada tem a ver com um editor daqui. Ele pega um texto e o adapta, muda título, corta, modifica. Claro que com a ajuda do autor, que pode ou não aceitar as sugestões. Perkins cortava. Colin Firth é um muito grande ator. Que está sendo requisitado demais para fazer tipos reprimidos. Esse papel ele tira de letra. Jude Law está brilhante. Ele faz Thomas Wolfe sem jamais cair no artificial. O que seria fácil, já que Wolfe parecia uma caricatura viva. Ele falava sem parar e seus livros chegavam a ter 5000 páginas!!! Perkins cortava e cortava e então os editava com um tamanho decente. O filme é a história dessa relação de amizade e de dependência. Se o filme cai às vezes na chatice é graças a personalidade de Wolfe, um chato completo. Guy Pearce faz um Fitzgerald delicado e muito real, e é um alivio a hora em que surge Heminguay. Em 3 minutos somos cativados por uma personalidade que parece vitalista, forte e adulta. Engraçado....vemos um filme sobre Wolfe e saímos dele querendo reler Heminguay... Eu li Thomas Wolfe uns 20 anos atrás. E lembro que pensei: Eis um gênio! E também: Eis um tolo! O filme fala de gente criativa num estilo quadrado, esse um problema comum do cinema atual. Mas é um filme que deve ser visto. E é obrigatório para quem ama livros. Nicole Kidman faz o papel da esposa de Wolfe. Fácil pra ela: a esposa de Wolfe se parece com Nicole Kidman.
   007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE de Lewis Gilbert com Roger Moore e Lois Chiles.
Um dos mais debochados 007. É aquele que tem cenas no Rio, no carnaval de 1978. Um bandidão rouba ônibus espacial para destruir a Terra e começar uma nova raça. Roger Moore era impagável. Ele leva tudo na brincadeira, um cara inteligente que sabe todo o tempo que aquilo tudo é uma gostosa bobagem. E nos faz participar do brinquedo. Não é um dos bons 007, é um dos mais sem sal, mas Roger quase salva o filme. Quase.
   SEXO, DROGAS E JINGLE BELLS de Jonathan Levin com Joseph Gordon-Levitt, Seth Rogen e Anthony Mackie.
Reencontro de amigos na véspera do Natal. Um fica doidão demais, outro é o bonzinho que reencontra amor perdido e o outro é um ricaço que se humaniza. Comédia que não faz rir apesar de apelar a tudo o que seria "engraçado". O humor acontece quando a coisa nos pega de surpresa, riso está ligado a inesperado. Aqui tudo é esperado.
   ÚLTIMOS DIAS NO DESERTO de Rodrigo Garcia com Ewan McGregor, Ciaran Hinds
Sim, Ewan faz Jesus Cristo em seus dias de solidão no deserto, momento em que Ele se lança ao sacrifício. É um dos piores filmes do ano e tem uma das piores atuações da história do cinema. O pobre Ewan parece o tempo todo um britânico bem louco vagando pelo deserto à procura de uma rave. O texto é pobre, as imagens são banais e a mensagem é nula. Tenta ser Terrance Malick e é apenas mais um filme lento sobre nada com coisa nenhuma.
   O GRANDE AMOR DE NOSSAS VIDAS de David Swift com Hayley Mills, Maureen O ´Hara e Brian Keith.
Um filme Disney de 1961. E é uma delicia de filme fofo. Hayley faz dois papéis, duas irmãs que nunca se viram. As duas se encontram num camping de verão, se odeiam, se tornam amigas e descobrem serem irmãs. Uma foi criada pelo pai, a outra pela mãe, e agora farão de tudo para unir os pais novamente. Esse argumento, que tem tudo para ser um desastre, dá maravilhosamente certo. Dá certo porque os atores são adoráveis, e principalmente porque em 61 ainda se podia crer num filme deste tipo. É filme família, daqueles que nos deixam de bem com a vida.
   DESBRAVANDO O OESTE de Andrew V. McLaglen com Kirk Douglas, Robert Mitchum, Sally Field, Richard Widmark.
Algumas pessoas gostam de dizer que McLaglen só fez tantos filmes por ser filho de um ator muito querido. Vendo este lixo se dá razão a esses caras. Uma mixórdia sem sentido onde todos os personagens agem sem um motivo e a ação sempre aparece fake e frouxa. Se voce quiser saber o que é uma direção ruim veja este filme. O elenco, que não poderia ser melhor, apenas está lá, a cabeça longe daquela bagunça toda.
   A LONGA VIAGEM DE VOLTA de John Ford com John Wayne, Thomas Mitchell, Ian Hunter
Escrevi abaixo sobre Ford e este filme. Talvez seja seu melhor. Ele pega 3 contos de Eugene O'Neill, todos sobre o mar, e os une em uma história de amizade, dor e luta pela vida. Difícil falar de algo tão sublime. Gregg Toland fez a fotografia e é uma das mais inspiradas de todo o cinema. Conto um fato: Orson Welles foi convidado pela RKO para fazer um filme. Orson já era famoso aos 24 anos, no rádio e no teatro, chamado de gênio da mídia. Ele foi para Hollywood então, sem nenhuma experiência em filmes. Se trancou numa sala e assistiu 'A Longa Viagem de Volta", e só ele, várias vezes. Saiu da sala e disse: " Pronto, já sei tudo o que se deve saber sobre cinema". Esperto, Orson chamou Gregg Toland para fotografar Kane e o resto é lenda. Este filme tem as sombras, as angulações e o clima de Kane, mas ao mesmo tempo é completamente diferente, é melhor. Uma obra-prima irretocável, sem nem um segundo de tédio ou de bobagem.
   GAROTAS DO CALENDÁRIO de Nigel Cole com Helen Mirren e Julie Walters
Um filme bem inglês, ou seja, pequeno, simples, engraçadinho e meio bobinho. E nada ruim. E com grandes atores. Adoro Helen, e aqui ela se diverte fazendo uma senhora meio maluquinha que tem a ideia de fazer um calendário para dar dinheiro ao hospital da cidade. Um calendário de senhoras nuas. Nada glamorosas. ( Apesar dela ser muito glamorosa ). O filme não é grande coisa porque a história é curta e o filme se alonga. Mas é ok.
   SRA. HENDERSON APRESENTA de Stephen Frears com Judi Dench, Bob Hoskins e Kelly Reilly, Christopher Guest.
Um bom filme sobre uma história real, do tipo que Frears adora. Nos anos 30 uma entediada milionária, sem ter o que fazer, compra um teatro. Contrata um gerente e resolve fazer um show de nús. Na época não se podia mostrar mulheres nuas nos palcos ingleses, só se fossem como estátuas, e é o que ela faz. Convence um ministro e vai adiante. O filme mostra isso e mais a segunda-guerra, pois o local é bombardeado, a relação difícil entre ela e o gerente e as meninas nuas e seus problemas. Judi está ótima, vulnerável e fútil e Hoskins tem mais um papel nervosinho e agitado. Christopher Guest quase rouba o filme como o ministro que é sempre enrolado por Miss Henderson. Veja.

 

DOM HEMINGUAY/ MUSASHI/ TOSHIRO MIFUNE/ AVA GARDNER/ X MEN/ CHEF/ MARION COTILLARD

MOGAMBO de John Ford com Clark Gable, Ava Gardner e Grace Kelly
Gable é um caçador, Ava uma mulher de passado duvidoso, Grace uma esnobe. Entre bichos e nativos os 3 se envolvem em disputa amorosa. O filme é bastante tolo. Irremediávelmente ultrapassado, vale pela beleza luminosa de Ava Gardner. Nota 3.
CHEF de Jon Favreau com Jon Favreau, Sofia Vergara, Scarlett Johansson, Dustin Hoffman e Robert Downey Jr.
Um bom filme. Simpático apesar de nada especial. Um cozinheiro briga com o dono do restaurante e acaba por abrir um trailer de fast food chique. Nesse momento ele reata relação com ex-esposa e filho. De ruim temos todo o começo do filme. De muito bom a parte estradeira, rodovias e paradas. A relação pai e garoto muito bem desenvolvida. Que beleza essa Sofia Vergara!!!!! Nota 6.
O GRANDE GATSBY de Jack Clayton com Robert Redford, Mia Farrow e Bruce Dern
Um amigo me avisara que o filme era ruim. Revi. Aff. É ainda pior que o musical idiota. O musical manteve ao menos duas falas de Scott Fitzgerald, aqui nem isso. Erros se sucedem: Mia é deplorável. Gatsby é no livro um homem frágil que tenta agradar, uma alma romântica perdida num mundo materialista. Aqui é apenas um bom ator sem um papel para representar. Pior que tudo, a trilha sonora de Nelson Riddle. Está no filme errado. Nota ZERO.
ERA UMA VEZ EM NOVA IORQUE de James Gray com Marion Cotillard, Joaquim Phoenix e Jeremy Renner
Apenas um drama escuro que ficaria bem como minissérie da Globo. Ok, Gray sabe narrar, os atores estão muito bem, a coisa é séria, mas...quer saber? E daí?? O filme é desprovido de invenção e de beleza, e portanto não me emocionou. Pobre polaca. Nota 3.
UM PLANO BRILHANTE de Joel Hopkins com Emma Thompson e Pierce Brosnan
O filme é tão bobo que ele consegue juntar dois atores excelentes e adoráveis e fazer dos dois uns malas sem alça. Filme sobre ricos que ficam pobres e então resolvem roubar o cara que os faliu. Emma tem de pular, cair, rir, fazer-se de tola, saltar, escorregar. Tudo para tentar arrancar um riso de nós, e não consegue. Soberba atriz, ela está no filme errado. Assim como Pierce que tem sua classe muito mal utilizada. Uma bobice sem fim. Nota 2.
A RECOMPENSA de Richard Shepard com Jude Law, Richard E. Grant e Demian Bichir
Dom Heminguay. O homem do pau gigante, o cara da mente fulgurante, o ser que fulgura no florão da Europa, gigante pela própria natureza. O Bob Le Flambeur dos desesperados, o Samurai dos anos 2000, o fodido. Dom aguenta a prisão e ao sair é traído pelo chefão que protegeu. E a coisa, sua vida, cai ladeira abaixo. Que roteiro do caralho! Falas baby, falas maravilhosas! Personagens adoráveis! O filme é engraçado e terrível, como a vida? Shakespeare podre de nosso tempo. Nota 9.
A MALDIÇÃO DO ESPELHO de Guy Hamilton com Rock Hudson, Elizabeth Taylor, Kim Novak, Tony Curtis, Angela Lansbury, Geraldine Chaplin e Edward Fox.
Era moda no fim dos anos 70 adaptar Agatha Christie para o cinema. Aqui temos uma história de Miss Marple. Mas o filme é lixo. Chato, sem suspense, feio, inutil. Mesmo o elenco não pode salvar tamanha bobagem. Nota ZERO.
MORRENDO DE MEDO de George Marshall com Jerry Lewis, Dean Martin e Carmen Miranda
Ruy Castro fala que para a geração dele a separação de Martin e Lewis foi tão traumática quanto o fim dos Beatles. Aqui eles alopram uma viagem de navio e uma mansão maldita. O estilo de Jerry é para quem aceita seus exageros. É o humor que advoga que mais é melhor. Forma bela dupla com Carmen. O filme é apenas um exercício de nostalgia. Nota 4.
X MEN, DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO de Bryan Singer com Hugh Jackman, James MacAvoy e Michael Fassbender
Num futuro terrível os X Men estão sendo dizimados. Wolverine é enviado aos anos 70 para mudar a história. Que bela aventura!!!! O filme tem a união de seriedade com diversão, algo dificil de se conseguir. Os atores podem brilhar, a história fala de preconceito, a ação não cansa, há suspense e velocidade, mas também temos boas falas e bons personagens. Que mais pedir de um filme de aventuras? Os filmes HQ são em sua maioria insuportáveis, mas de vez em quando surge uma beleza como esta. Nota 9.
MUSASHI, A TRILOGIA SAMURAI de Hiroshi Inagaki com Toshiro Mifune
Em 1954 a primeira parte desta trilogia foi sucesso mundial e ganhou o Oscar de filme estrangeiro. Mais que os filmes de Kurosawa, foi este o filme que fez do Japão a moda do cinema de então. O primeiro filme é mesmo o melhor. Musashi é um samurai raivoso e impulsivo, nos 3 filmes acompanhamos sua iluminação. Os filmes seriam perfeitos se não houvesse a história chatíssima de seus amores. Mas com cenas de luta perfeitas, cenários deslumbrantes e Mifune, um ator que faz nossos olhos grudarem na tela, a trilogia se torna obrigatória para aqueles que se interessam por Japão e por cinema. Nota 8.



















VIVER BEM É A MELHOR VINGANÇA- CALVIN TOMKINS

   A filosofia de Gerald Murphy era: As coisas da imaginação são o que importa na vida. A vida real, o que nos acontece nunca importa. São acidentes, são apenas dolorosos espinhos a atrapalhar a imaginação.
   Não discordo em nada. Só que no mundo que construimos o real cada vez mais atrapalha a imaginação. Para viver essa vida criativa é preciso ser artista, louco ou, como no caso de Murphy, muito, muito rico.
   É um livro que pode ser lido em duas horas. Fala de alguns verões na vida do casal Gerald e Sara Murphy. Não é uma bio, pois só se conta um certo momento da vida deles, mais ou menos entre 1922- 1932. Os dois, americanos, saem dos EUA e vão viver em Paris. Depois na Riviera. Não por serem artistas, mas por desejarem viver como se fossem. Sara é uma chique excêntrica. Se veste diferente. Gerald pinta. Veleja. E os dois fazem festas. E amigos. São simpáticos, felizes, livres e saudáveis. Os amigos? Cole Porter, Heminguay, John dos Passos, Picasso, Léger, Stravinsky e principalmente o casal Fitzgerald. A imagem de Scott Fitzgerald não é das melhores. Sempre querendo chamar a atenção, cego para tudo que não fosse seu ego, bastante desagradável com suas brincadeiras tolas de estudante secundário. Zelda não fica longe disso, uma lunática. Gerald Murphy preferia muito mais, como autor, a Heminguay, apesar de não ser seu íntimo.
  Entre villas, praias e champagne, Gerald pintou sete telas que antecipam a Pop Art, participou de momentos chave da época. Seu mote era a modernidade, o jovem, o ousado. Delicia de livrinho.
  PS: Gerald Murphy foi o cara que lançou a moda da blusa de marinheiro. Aquela blusa listrada, com mangas 3/4 que eu adoro! E que Picasso popularizou.

GREAT GATSBY~Robert Redford~MIa Farrow~ What'll I Do ~ Frank Sinatra



leia e escreva já!

O DIÁRIO DE H.L. MENCKEN. EDITADO POR CHARLES A. FECHER

   Para quem não sabe, Mencken foi na América dos anos 20 aquilo que todo jornalista gostaria de ser, o guia cultural de uma nação poderosa em seu apogeu. Paulo Francis gostava de se imaginar Mencken, principalmente na fase final de sua vida. Falando, com humor e malicia, sobre politica, história e artes em geral, Mencken foi o mais amado e odiado americano de seu tempo. A partir dos anos 30, quando a recessão toma o planeta, Mencken perde parte de seu imenso público. Em tempos de dureza seus ataques começaram a parecer excessivos. Ele odiava Roosevelt. Chamava o presidente de mentiroso, e dizia que Roosevelt inaugurava o começo do fim da América. Mencken não queria que os EUA ajudassem a Europa, que jamais se metessem em guerra nenhuma.
   Algumas de suas previsões foram certeiras. Outras não. Ele subestima Faulkner. Ignora Heminguay. Para ele Faulkner é apenas um sulista mal educado e muito bêbado. Fitzgerald é visto como um chato. Um escritor muito bom, mas que desperdiçava seu talento com uma esposa louca, e com bebida em excesso. E quando bêbado Fitzgerald ficava chato, muito chato. Mencken tinha intimidade com Sinclair Lewis, o autor de Babbit, o primeiro americano a ganhar o Nobel. Mencken o aconselhou a não aceitar o prêmio. Lewis aceitou. Dreiser também foi íntimo de Mencken, assim como Willa Cather e uma multidão de escritores hoje esquecidos.
   Mencken frequentava as mais poderosas familias do país. Os juízes do Supremo, ministros, candidatos a presidente. Amigo dos grandes editores, ao contrário do que se diz normalmente, nas brigas entre editor e autor, Mencken ficava sempre ao lado da editora. Ele dizia que os escritores eram mal agradecidos e traidores. Vale lembrar que o próprio Mencken era um autor. Lançou vários livros, 3 dos quais de muito sucesso.
   Um de seus acertos, e que até hoje acho válido, é quando ele aconselha aos editores de jornal como enfrentar a queda das vendas face a emergência do rádio e do cinema. Ele diz que o jornal jamais poderá ser tão imediato, simples e fácil como o rádio. A solução seria elitizar os jornais. Dar me jornal aquilo que o rádio não pode dar, profundidade. Em 2013, face a internet, o jornal continua errando. Está condenado a correr sempre atrás. A cortejar o jeca.
   Vale dizer que o diário começa nos 50 anos de idade de Mencken. Viúvo, ele sente essa necessidade de ter um diário a partir de seu luto. Hipocondríaco, seus melhores amigos eram os grandes cirurgiões de seu tempo. Quanto mais velho mais ele se queixa de dores. São longas páginas sobre doenças e amigos que se vão.
   De qualquer modo é grande prazer poder se sentir íntimo do dia a dia de tal figura. Jantares, viagens e conferências. Ódios e afetos. Nada de sexo ( ele é a imagem da elegância discreta ). Mencken não  gostava do cinema, pouco se importava com o teatro e música quase nada. Seu mundo era o da escrita, das conversas, dos contatos.
   Faz falta alguém como ele escrevendo sobre o agora.

O GRANDE GATSBY/ POWELL/ STEVE CARELL/ MISS POTTER/ CHARLES LAUGHTON

   I KNOW WHERE I'M GOING de Michael Powell com Wendy Hiller, Roger Livesey e Vanessa Brown
Quando em 1980 começou a acontecer a justa revalorização de Powell, todos seus filmes foram revistos e reavaliados. Este foi um dos últimos a ser redescoberto. Pois é um filme bastante discreto. E muito encantador. Uma moça impulsiva fica noiva. O noivo combina de a encontrar numa ilha da Escócia, onde se casarão. Ela, que sempre sabe o que deseja e onde deve ir, viaja só. Mas as péssimas condições do clima fazem com que ela fique muito tempo parada numa vila de porto. E então ela começa a se "perder". A vida do porto a seduz, e um homem começa a tentar seus planos, seu coração. O filme tem dois aspectos muito particulares: a conjunção de clima e estado emocional e a forma como são feitos os cortes. As cenas são cortadas no meio do diálogo, de forma abrupta. E o mar, o céu, belíssimos, espelham aquilo que se passa em terra. No mais, Wendy é sublime e a trilha sonora fantástica. Frases em gaélico, danças sem folclorismos baratos, uma absoluta falta de pretensão. Delicioso. Nota 9.
   O GRANDE GATSBY de Baz Luhrman com Tobey Maguire, Leonardo di Caprio e Carey Mulligan
Escrevi num post que Baz, assim como Anderson, tem o preciosismo estético de Ophuls ou de Powell, mas sem a substância dos dois gênios. Pegaram a superfície e a usam de forma fria, no caso de Wes, ou histérica, no caso de Baz. O esteta que chega mais perto de Ophuls, por ter verdadeiro dom, é Joe Wright, um belo diretor que entendeu a coisa. Vejam este filme. É cinema, mas não é um filme. Nada mais é que um trailer de duas horas. O filme nunca começa. O que vemos é uma promessa de um filme que será feito um dia. Nisso ele recorda Michel Gondry e Spike Jonze, diretores também "estetizados" que fazem trailers que nunca se realizam. Mas Baz é pior. O filme irrita. São tantos cortes, somos tão jogados de cena para cena, situação para situação que nada apreendemos. O que fica? Leo di Caprio imitando Robert Redford e Tobey fazendo um Peter Parker adulto. Carey Mulligan não tem o glamour do personagem, está no filme errado. Um adendo: O texto de Fitzgerald é tão bom, tão sublime, que nas cenas em que Tobey se atém a recitar trechos do livro todo o filme cresce. Isso ocorre nas cenas finais, que são ótimas. Porque finalmente Baz parece se cansar de "fazer trailer" e deixa o texto sobressair. Só então percebemos do que trata o filme: o drama de um homem sem lugar e ao mesmo tempo a saga do Homem Americano, o sekf made man, que vence mas jamais "ganha". Mas aí já é tarde. Nota 2.
   A ILHA DO TOPO DO MUNDO de Robert Stevenson
Filme da Disney dos anos 70, ou seja, em crise de identidade. Expedição acha civilização perdida no Pólo Norte. Interessante é o fato de que o tema de filme B em 1974 seria hoje tema de filme A. Nota 2.
   DE CANIÇO E SAMBURÁ de George Marshall com Jerry Lewis e Anne Francis
Um homem acha que vai morrer e resolve aproveitar a vida. No caso, pescando. Jerry em um de seus muitos fracassos. Não é ruim, apenas sem graça. Nota 5.
   DESFOLHANDO A MARGARIDA de Marc Allégret com Brigitte Bardot
O cinema teve vários mitos femininos. Gloria Swanson, Greta Garbo, Dietrich, Rita Hayworth, Ava, Audrey, Sofia Loren, Marilyn...Nenhuma delas tem tantos filmes péssimos como Bardot. É muito dificil achar um bom filme de BB. Este é um dos piores. Nota ZERO.
   LES MISERÁBLES de Richard Boleslawski com Fredric March e Charles Laughton
A versão dos anos 30 não tem as músicas da boa versão da peça. Aqui temos o romance de Hugo. Laughton dá um show como o policial que obsessivamente persegue a Jean, uma atuação perfeita de March. O filme se sustenta belamente e nós o assistimos admirados por seu extremo profissionalismo. Eis o eficiente cinema da grande Hollywood, a fábrica de mitos. Ótimo filme! Nota 8.
   O CASAMENTO DO ANO de Justin Zackham com Robert de Niro, Diane Keaton, Susan Sarandon,, Katherine Heigl, Robin Willians, Topher Grace
Não faz sentido. Um casal de divorciados tem de se fingir de casados. Isso porque a mãe da noiva do filho é "católica" e católicos não admitem o divórcio!!! Até onde pode chegar a idiotice de um roteirista? Este filme joga no lixo um elenco soberbo em situações grosseiras, tolas, burras, bizarras e abismais. Tudo é tão fake, as falas são tão óbvias que ficamos feito uns patetas olhando aquilo tudo. Nota ZERO!
   MISS POTTER de Chris Noonan com René Zellweger e Ewan McGregor
A vida de Beatrix Potter, filha solteirona de uma familia inglesa que no começo do século XX cria a mais bem sucedida série de livros infantis da história, a série de Peter Rabbit. O filme, dirigido pelo sensível diretor que fez o belíssimo Babe, tem tudo no lugar certo. Ele nos leva ao mesmo mundo de James Barrie no lindo filme com Johnny Depp.  Fim da era vitoriana, berço da grande literatura infantil. René está excelente e Ewan, sem exageros, tem um de seus melhores papéis. O editor novato e tímido é um grande personagem e Ewan o pratica com sucesso. O filme é bonito e triste, divertido e inspirador. Nota 7.
   O VIRGEM DE 40 ANOS de Judd Apatow com Steve Carell, Catherine Keener e Paul Rudd
E não é que este filme não é ruim? Apesar de toda idiotice e do humor óbvio, o personagem de Carell é "real". Há algo de profundo e de muito sério nele, o que nos faz lembrar das grandes e verdadeiras comédias. A mistura de bobice palhaceira e seriedade secreta. Catherine está adorável, as cenas com ela redimem tudo de ruim que pode ter havido antes. No panorama péssimo da comédia atual, esta talvez seja a melhor. Nota 7.
   DOIS É BOM, TRÊS É DEMAIS dos irmãos Russo com Owen Wilson, Matt Dillon, Kate Hudson e Michael Douglas
Vixi! Nada tem sentido e nada tem graça. Owen é um amigo chato pacas que vai morar com seu grande amigo recém casado. Owen destrói a casa. Daí ele vira um cara legal e salva o casamento do amigo. Douglas é o pai e patrão, uma variação do vilão de Wall Street. Um ator de verdade no meio de atores perdidos. Onde a graça? Não passa de mais um "Owen Wilson ego trip". Ele anda de skate, mostra a bunda, chora, pula, se queima, cozinha e canta. Só não faz rir. Nota 1.

ROMANCES DE AMOR

   Como fiz vários posts sobre o Amor em música, falo agora de livros, poucos, que trazem memórias de amor.
   O primeiro de minha vida foi Tom Sawyer. Sim, isso mesmo, o amor de Tom e Becky, o primeiro beijo. Incrível mas eu lembro do exato momento em que li sobre esse beijo: aos 9 anos, debaixo de bananeiras no quintal de casa. Muito calor. Antevi aí meu futuro primeiro beijo. Só não pensei que fosse demorar tanto.
   Depois o namoro de Peter Parker e de Gwen Stacy e então os grandes romances.
   David Copperfield com Dora, quando ela morre, a primeira página que me fez chorar ( no quarto, lendo de madrugada ). Em seguida o mais perfeito dos romances sobre o amor, O Morro dos Ventos Uivantes, Heathcliff e Catherine, o amor como maldição, como sina, o amor que é dor para sempre. O máximo do romantismo fatalista, um cataclisma na minha mente e alma. O cenário perfeito ( vento frio em campos pantanosos ) a mulher perfeita e o homem "mal" que esconde sua ferida.
   Tudo que veio depois foi menos forte. Jake e Lady Brett no Heminguay de O Sol Também se Levanta, o amor impotente, amor irrealizável em meio a fiesta da Espanha. Os amores nas obras-primas de Stendhal, O Vermelho e o Negro e A Cartuxa de Parma, amores irônicos, amores que são como atuações que convencem o próprio ator. E escritos com a maestria do maior estilista.
   O amor simples de Kitty e Lievin em Anna Karenina, pois o amor de Anna e Vronsky nunca foi para mim o centro da obra, mas sim o amor de Lievin, que descobre a perfeição na simplicidade de sua mulher. A felicidade nasce após a morte em vida do aturdido Lievin.
   Ofélia e Hamlet...Esse amor continua um enigma, pois é impossível saber quem foi Hamlet e porque Ofélia o amava. O desagradável Hamlet.
   Os amores dos livros de Jane Austen, tímidos, convencionais, trêmulos e hesitantes. A doce alegria de seus finais práticos, finais que na verdade são elogios ao pragmatismo. Ler Austen é amar suas heroínas e admirar os falsos tolos que são na verdade seus heróis.
   Gatsby e sua tragédia. O desajustado que não percebe seu desajuste. O amor como miragem de beleza. Impossível.
   Não posso negar a importãncia de A Insustentável Leveza do Ser. Hoje percebo suas falhas, mas na época, anos 80, Tereza foi musa para mim. Aliás, era esse seu nome? Well...Kundera foi por algum tempo um herói.
   Estranho....poucos livros me marcaram como 'livros de amor". Falar de Henry James como autor amoroso é absurdo. A questão amorosa é centro de suas obras-primas, mas aquilo é mesmo amor? São personagens tão auto-centrados que fica dificil levar aquele sentimento a sério. Amor? Será? Solidão seria mais correto dizer.
   Na verdade meus livros de 'amor" são os poetas. E deles ( Keats, Shelley. Blake, Lorca, Yeats, Rilke ) não vou falar. Estou discorrendo sobre a prosa.
   Então nada de Dante e Beatriz.
   Volto a Tom Sawyer. O beijo e amor por Becky é parte de um todo. Tom faz estrepulias, foge de casa, recupera dinheiro roubado, briga, se perde em mina abandonada. E ama à Becky cada vez mais. Esse é o roteiro ideal de uma boa história de amor. O arcabouço foi criado a mais de 3000 anos, na Grécia. E não se fez até aqui uma base melhor. O herói que ama e parte, prova sua grandesa e retorna ao amor.
   É isso.

AS ILHAS DA CORRENTE- HEMINGUAY

   Heminguay teve uma influência tremenda em minha vida. E sobre a vida da América, claro. O SOL TAMBÉM SE LEVANTA é o que li mais vezes, mas este vem logo em seguida. Há uma diferença radical entre os dois. O SOL é do jovem Heminguay. É considerado seu melhor livro, escrito nos anos 20 e talvez melhor que o Gatsby de seu rival cordial, Fitzgerald.
   AS ILHAS DA CORRENTE é de sua maturidade e tem a fama de ser um dentre os vários livros "problema" de Heminguay. Eu adoro esse livro, tanto que já o reli mais de 4 vezes. Até a receita de um almoço descrito no livro eu fiz e faço. Mas aqui vale um senão.
   Adoro esse livro porque o personagem central vive onde eu queria viver, e se comporta de uma maneira que incorporei como "minha". Quando um leitor se identifica com uma personagem fica um pouco comprometida sua avaliação. Críticos deveriam confessar isso mais vezes. Eles podem adorar um livro, ou um filme, apenas pelo fato de que o herói da coisa é aquele que ele pensa ser ou adoraria ter sido. O público em geral se guia sempre, ou quase sempre, por esse padrão. Mas quem ganha dinheiro para escrever sobre estilo e criação deveria tomar mais cuidado. A VERDADEIRA grande obra tem um pouco de cada um de nós e ao mesmo tempo cria seres que são únicos.
   Desse modo, se me identifico com o Heathcliff do MORRO DOS VENTOS UIVANTES não há o mesmo tipo de problema, pois todo homem apaixonado se identifica com Heathcliff e ao mesmo tempo sabe que nunca é Heathcliff. Enquanto percebe ser Heathcliff ele sente que Heathcliff não pode existir pois está além do humano. Ele é arte.
   Isso não acontece aqui. Ao contrário de Jake Barnes, que no SOL é universal, o escritor que vive numa ilha deste livro é particular. Um belo personagem, não uma obra de arte, ele é incompleto. Quem não se identificar com ele não verá valor neste livro. Por outro lado, para sentir a grandeza do MORRO não é preciso identificação com Heathcliff.
   Mas há belo valor em se criar um personagem que toca a alguém. Que tocou um brasileiro de 20 anos e que ainda toca o mesmo cara aos 50.
   O livro fala de um escritor, ácido, que vive numa ilha perto de Cuba. Não é uma ilha isolada. Ele tem amigos lá, e amigas. Seu grande amigo é um drunk radical. Então ele recebe a visita de seus 3 filhos. Pescam em alto-mar. Acontece uma tragédia e ele reencontra sua ex-esposa. O enredo é esse, mas não é isso que me interessa. O que me seduz são seus tempos vazios. Heminguay descreve comida, fala de drinks e de iscas. É esse lado "desimportante" que releio. O cotidiano vulgar da ilha.
   Foi exatamente esse lado "vazio", esse divagar, que fez a ira da crítica e fez do livro um fiasco. Eu adoro. Jamais vou achá-lo tão bom como O SOL..., mas é um livro que sempre estará comigo.
   Não é coisa pouca.

SUAVE É A NOITE- F.SCOTT FITZGERALD, A MELANCOLIA DA JUVENTUDE

   Assisti ontem pela primeira vez o filme de Henry King baseado no livro de Scott Fitzgerald e fico pasmo. O filme erra todo o tempo, é Fox de cabo a rabo, último filme da longa carreira de King que já estava cansado. Mas o livro é tão bom que mesmo assim o filme tem sublimes qualidades. Uma melancolia ácida na história do psiquiatra que se apaixona por sua paciente milionária e tem sua vida destruída por ela. Os dois se amam sempre, mas são infelizes all the time.
   Li o livro a mais de vinte anos e nunca o esqueci. É melhor que Gatsby. Nicole fez com que me apaixonasse por ela. E o Dr. Diver nos cativa. Fitzgerald perseguiu ávidamente a genialidade. Sua meta era o sublime e na verdade ele jamais o tocou. Ele tinha uma ambição maior que seu talento e essa é a maior maldição que um escritor de talento pode sofrer. Ele se media com Tolstoi e Stendhal, mas seu dom, grande e belo, era da altura de Huxley ou de Hesse. Grande, nunca genial. Isso fez com que Scott desenvolvesse uma melancolia persistente, derrotismo suave, uma doce dor de ser jovem e já desencantado. A América amou e ama essa imagem. O jovem rico e belo que se perde.
   Era um romântico sem fé e um idealista sem coragem. E escrevia bem. Muito bem. Todas as primeiras cem páginas de Suave é a Noite são brilhantes. Ele nos faz sentir tudo aquilo que ele sente diante de suas criações. Que não são tão "criadas" assim. Não é preciso dizer que temos aqui a reescrita de sua história com Zelda. Se há hoje um culto a memória de sua esposa louca, injustificado, isso se deve a habilidade que Scott teve em fazer dela um personagem irresistível. Algumas doidas dizem que ela tinha mais talento que o marido. Qual a prova?
   Fitzgerald teve um doloroso insight: Percebeu que a América amava sua juventude. Que seu mundo era apaixonado por beleza juvenil, festas, dinheiro e glamour. Mas que essa juventude seria sacrificada nos altares do paganismo moderno. Eles seriam o tributo pago aos deuses. E foram. Daí sua melancolia. Afinal, Heminguay se tornou um patético drunk, Wolfe morreu jovem e ele e Zelda sofreram em alcóol e clínicas caras. Todo o espetáculo dado por astros das telas e reis do rock, seus pesadelos via telas e rádios, foi pressentido por Scott. Carne jovem e bela no altar da América.
   O Dr. Diver caminha firme e decidido rumo a destruição. Fácilmente ele poderia mudar seu destino. Não muda. Alguma coisa quebra dentro dele, alguma coisa que na verdade sempre esteve para quebrar.
   O filme tem glamour, glamour quadrado que às vezes se solta e voa. O livro é maravilhoso. Vinte anos e zilhões de livros depois ainda não o esqueci. Fitzgerald...a vida é isso não é? Um momento de beleza e um infinito de dor e de lembranças...