Heminguay e Fitzgerald foram geniais apenas em seus contos. Os romances longos que deixaram são insatisfatórios. Já Faulkner e Henry James são grandes nos dois formatos. Nos últimos cinquenta anos tivemos grandes romancistas americanos. Autores do calibre de Philip Roth, Saul Below ou Updike. No conto John Cheever não tem rival.
Acabo de ler " No tempo das Maçãs ", uma coletânea de contos que vão desde a época da segunda guerra até os anos 80. Cheever escreve sempre sobre a classe média. Os personagens centrais são homens, normalmente de cidades grandes, casados e aparentemente banais. Os contos são curtos ( de 10 a 15 páginas ), a linguagem é simples, porém ele não usa gíria ou palavrões. Não acontecem atos de heroísmo. Mas muita coisa acontece.
Ao contrário da maioria dos autores de contos atuais, John Cheever nunca escreve sobre o tédio. Seu texto jamais parece vazio e jamais parece gastar tempo à toa. É objetivo ao extremo. Mostra pessoas em crise, em momentos decisivos, surpresas com a vida.
Somos seduzidos com narrativas sobre gente nada sedutora. O homem que resolve nadar um bairro inteiro de piscinas, um outro que tem sua vida salva ao ver o pai nadar nú numa cachoeira, um desempregado que acredita na vida, um rádio que transmite as conversas reais dos vizinhos. Nós flutuamos com esses personagens e nos vemos totalmente absorvidos por seu inconsciente desespero e por seu cotidiano feito de reuniões, churrascos, gim, sexo casual e cinema.
O mundo para John Cheever é cruel, vazio e muito frio, mas como todo grande escritor, ele ama seus personagens. Seu conto, curto e singelo, sobre um homem numa cabana, que ao relembrar sua vida descobre que ao morrer sentirá saudades da solidão ( anoitecer, o mar, a luz do sol, o cheiro da chuva ) e não das pessoas ( esposa, filhos, amigos ), só não é a melhor coisa que já lí em forma de conto porque um dia lí Os Mortos de Joyce.
Procure esse livro e leia todas as suas linhas. John Cheever era um escritor. Um verdadeiro escritor.