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PRIMAL SCREAM E THE MOODY BLUES, O PROBLEMA DA CRÍTICA INGLESA

GIVE OUT BUT DON'T GIVE UP, disco do Primal Scream lançado após Screamadelica, comete o maior dos pecados, na visão de um crítico inglês: ele lembra os Rolling Stones. Talvez, para esses ditadores do gosto, só o Led Zeppelin pode ser mais pecaminoso que os Stones. Todo e qualquer disco que tiver um cheiro de Jagger e Richards será escutado com imensa má vontade. Na verdade eu imagino que eles nem escutam. Dão uma opinião a priori após dois minutos de riffs. ------------------ Screamadelica foi produzido por Jimmy Miller, produtor dos Stones entre 68-73. Só uma besta não percebia que Bobby Gillespie ama Jagger e etc. Tudo em Screamadelica recorda Beggars Banquet. Só que um bando de mixers deu um banho de beats e bytes na coisa e os críticos, tolinhos, amaram essa homenagem rave aos associados de Jimmy Miller. ----------------- Se voce quiser os favores da crítica inglesa, imite Kinks e Small Faces. Ou então mergulhe numa deprê pós Joy Division. Tudo que escapar desse canone será atacado. -------------- Give Out foi feito nos EUA, pior, no sul dos EUA e Bobby não é o primeiro inglês que ao ir aos EUA fica maluco com o que vê. U2 e Stones Roses são outro exemplo. A não ser que voce seja muito tapado, a América vai mudar sua vida. Até os Kinks sentiram a coisa e os Small Faces, após os EUA, viraram The Faces e Humble Pie. Bobby se juntou ao povo de Memphis-Tennessee, e fez um disco de rock que só não é ótimo porque ele não tem voz. Esse som, uma mistura de rock-gospel e soul exige grande voz. Van Morrison vem à cabeça ( Van é mais um que mudou nos EUA. Them era uma banda british, nos EUA ele virou quase um folk american singer ). ------------------- Se voce cresceu amando a música dos USA não tem como não desbundar ao ver Chicago, New Orleans e a casa do Elvis. Se o cara alugar um Cadillac e pegar a highway 61, bem, Cream era bem inglesa, Layla era puro USA. John Lennon foi morar em NY. Do you know what i mean? -------------------- DAYS OF FUTURE PASSED dos Moody Blues fez o caminho inverso. A banda até 1967 era um tipo de cover dos EUA, em 67 virou o molde do som made in England. É um poço de pretensão. Dizem que é o disco que inventou o prog rock. Observe, bandas prog, por mais que viagem aos EUA, nunca sofrem influência da América. Isso porque eles se acham artistas. Nesse sentido os Moody são avôs do prog. --------------------- Eles se trancaram no estúdio da Decca, e com uma orquestra gravaram esta coisa. É música erudita com banda de pop rock. Mas entenda, não é erudito tipo vanguarda, é orquestra tocando algo tipo trilha sonora de Spielberg ou desenho Disney. Xarope. Dá um choque porque é muito bobo. Em 1967 parecia estranho, hoje parece tolo. Então, depois da orquestra e até de um narrador, sotaque mega BBC, vem o melotorm. Um melotrom!!!!! O melotrom é o avô do synth. Uma coisa que usava fita para armazenar sons. Sempre que eu ouço um melotrom imagino um cara de gola rulê e óculos roxo. É um timbre doentio. ADORO!!!! Space Oddity tem melotrom. O album Satanic dos Stones é todo melotrom. Parece som de inferno em technicolor. --------------- As faixas POP sem orquestra são boas. Ótimas até. Mas pra chegar nelas voce tem de aguentar 15 minutos de xaropada. Ah sim, a crítica inglesa falou na época: Oh!!!!! Influência dos Beatles!!!! Nada disso! O disco é filho do Pet Sounds. Mais um.

CORE - STONE TEMPLE PILOTS, BOM PRA CACETE

Para quem amava rock, não houve tempo melhor que o começo dos anos 90. Sim, melhor que 1968 ou 1972 ou 1980. Isso porque em 1992 lançaram tudo de 68, 72 e 80 em cd. E havia uma novidade: gente com menos de 25 anos usando cabelo comprido. ------------------ Não dava mais pra aguentar o rock minimalista dos anos 80. Era preciso retomar o rock hedonista, grande, de arena dos anos 70. Minha alegria, imensa, eu vivi os anos 90 com prazer vingativo, foi ver bandas desprezadas em 1984 voltarem a dar as cartas: Black Sabbath, Led Zeppelin e também Thin Lizzy, Humble Pie e Free. De repente ouvir Alice Cooper não era mais vergonha. E a maior banda da hIstória se tornou, enfim e para sempre, o Led Zeppelin ( sim querido, todo ano conheço alunos e alunas de 14 ou 15 anos que amam o Led Zeppelin ). ------------------ MTV: Alice in Chains, Soundgarden, Pearl Jam, Nirvana, mas também Porno for Pyros, Faith No More, Sonic Youth, Primal Scream, Happy Mondays, Smashing Pumpkins e imenso etc. O POP era de George Michael, Madonna, Prince, Lenny Kravitz e fofuras como Betty Boo, Deee Lite, Right Said Fred ou o grande Seal. No RAP, em auge de audácia, Public Enemy, NWA, De La Soul, Ice T, Beastie Boys, Tone Loc, Young MC, Cypress Hill, House of Pain ------------------- Mas o que eu ouvia, sem parar, era Core, do Stone Temple Pilots. Uma mistura perfeita da sonoridade metálica com charme à The Doors. Robert De Leo era um guitarrista brilhante, riffs pesados à vontade e o irmão, Dean De Leo, tinha pegada de trator, no contrabaixo discreto. Eric Kretz é talvez o melhor baterista da safra 1990. Toca alto, vira com precisão, mantém o pedal ecoando. E Scott Welland seria o Jagger de sua geração se as drogas não tivessem feito dele um zumbi. Scott tinha beleza, era sexy, perigoso e sabia usar a voz, uma voz feita para o rock pesado. -------------- Core é puro rocknroll, não tem descanso, não cessa, não diminui, é trilha sonora daqueles anos mágicos em que o rock parecia ser o centro do mundo mais uma vez. Os críticos, chatos como sempre, preferiam muitas outras bandas, mas pra mim os STP eram perfeitos. Traziam algo da energia soturna dos Sabbath com a sem vergonhice tipo "olha! somos o máximo!!!" do Zeppelin de chumbo. Eles não tinham problema algum em fazerem um som que se afirmava como POP e pesado, viril e nem aí pra nada, real sem ser babaca. Puro rock porra! ------------------- Durou nada, durou muito pouco. Os 3 primeiros cds são do grande cacete. Ouvindo hoje, de novo, nada mudou. É bom, é puro, é como whisky sem gelo. Venceu o tempo, 30 anos já. Que eles sintam orgulho do que fizeram. Eu tenho de os ouvir, Pra sempre. ---------------- PS: Plush é um hino.

PRECISAMOS FALAR DO MELHOR GUITARRISTA DO MUNDO

Jeff Beck poderia ser o guitarrista mais famoso do mundo, mas ele é "apenas" o melhor. Amigo íntimo de Jimmy Page, ele nunca teve o seu Led Zeppelin, mas isso não impede que Page o chame de seu mestre. Beck foi elogiado por Hendrix e Clapton, Eddie Van Halen e Joe Perry, Zappa e McLaughlin. Por que? ---------------- O segredo de Beck é que sua meta nunca foi o blues. Mercurial ao extremo, ele se cansou do estilo em apenas um disco: Thruth, um excelente album, mas o único onde Jeff Beck toca blues. Se todos os outros guitarristas citados continuam ou ficaram décadas repisando Muddy Waters e BB King, Jeff Beck seguiu outro ideário: o sax de John Coltrane. ---------------- Desde os Yardbirds as pessoas se surpreendem com os solos de Beck. São agudos, estridentes, afiados como facas, curtos, certeiros. Ele não tem, em quase 60 anos, dois solos parecidos. Insatisfeito sempre. -------------- Falei do Yardbirds? Ele aguentou dois anos na banda. E chamou o brother Page para seu lugar. Já famoso, formou o Jeff Beck Group, com Rod Stewart e Ron Wood. Era para terem sido a superbanda da virada da década. Mas foi aí que o calcanhar de Aquiles de Jeff Beck surgiu: ele é intratável. Jeff Beck é um cockney grosseiro do tipo dos filmes de Jason Stratham. Quando Rod errava um vocal ele mandava ele se foder. Na hora. O tal Group durou um mísero ano. Rod e Ron foram fazer os Faces. Jeff criou o segundo Jeff Beck Group. Mas logo brigou outra vez. ---------------------------- Não há na vida de Beck histórias de drogas ou bebida. Seu veneno foi sua incapacidade de compor e seu gênio de dono de pub. Por volta de 1974 ele partiu para o funk-jazz-rock. Instrumental. Nunca mais ele teve de tolerar algum cantor estrela. Sua guitarra se soltou ainda mais. Solos como sax, como trompete, jamais como blues. Blow By Blow vendeu muito. ------------------ Hoje, neste século, Jeff Beck se firmou, finalmente, como guitarrista central. Está sempre dando shows, grava quase todo ano, faz o que quer. Seu grande amor sempre foram carros antigos. Ouço dois discos: YOU HAD IT COMING de 2000, e WHO ELSE! de 2010. Ele usa e abusa da eletrônica. Brinca com synths e sequenciadores. Gente da geração dele quando usa música eletrônica costuma parecer fake. Ele não. A guitarra de Beck, cheia de efeitos, se adapta muito bem ao estilo. ------------ Dos amigos de sua geração, Jimmy Page não grava nada com alguma relevância desde o fim do Led Zeppelin. Clapton após encontrar Deus, grava discos de blues para publicitários coroas. Jeff Beck é o único que mantém acesa a chama da inquietação. Ao final, talvez ele seja o que sempre quis ser. Livre.

O PRAZER DE OUVIR MÚSICA ACOMPANHADO

Postei abaixo o JAMAL ouvindo música. Esse canal do Tube teve uma ideia muito básica e que funciona bem: gravar um cara ouvindo uma obra prima do rock PELA PRIMEIRA VEZ. Jamal gosta de música e cresceu ouvindo black music. Mas ele pouco sabia de rock antigo de branco. Então vamos gravar Jamal ouvindo a coisa pela primeira vez. E eu te digo meu camarada, pensei que ia ser bobo, mas ao assistir Jamal reagir, voce refresca sua audição. -------------- Postei ele escutando you shook me, mas nem é o video mais legal. In My Time Of Dying é sublime. Vejo Jamal descobrir Led Zeppelin e me revejo no dia em que descobri a mesma canção. Ele mergulha e a gente mergulha junto. Aquilo que escutei mil ou um milhão de vezes retorna à seu frescor original. É fantástico porque a gente fica esperando tipo: Vai Jamal!!!! Ouve agora essa levada do John Bonham!!!! Sente esse riff Jamal!!!!!! E vemos a cara dele....Jamal passa mal baby. Ele fica extasiado. E voce junto.---------- O mais legal foi ver ele descobrir Whipping Post dos Allman Brothers. Ele fica muito supreso com a negritude da voz do branco Greg Allman. É blues. E o cara a certa na mosca. --------- Jamal pira com a letra de We Dont Get Fooled Again do Who. E adivinha, logo no primeiro acorde, que LA Woman dos Doors é uma viagem de carro. Jamal sabe.------------- Esse programa lembra também como é bom ouvir música com alguém na mesma sintonia que voce. Melhor ainda, apresentar um disco para um amigo, algo que ele nunca ouviu, E VER ESSE CARA, NA SUA FRENTE, PIRAR COM O SOM ATÉ ENTÃO NÃO ESCUTADO. Tive muito essa experiência. Diógenes foi o amigo com quem mais dividi sons e descobertas. Lembro de dois anos em que juntos ouvimos meia história do rock. De Sly Stone à Stray Cats, de Black Uhuru à Jefferson Airplane, apresentei tudo ao meu amigo. Era muito demais ver a reação dele. Como ele sentiria aquele riff? Como ele absorveria aquele refrão? E melhor: através da reação dele, o que eu perceberia de novo? ------------- Assista.

UMA DAS PIORES PRAGAS DOS ANOS 70

   Em sites atuais, gente da minha geração, e de gerações bem mais novas também, tecem loas ao disco ao vivo. Tem até rankings, vários, que vão da Rolling Stone à All Music. Da BBC ao Times. Gostam de falar que bandas mais recentes não lançavam e não lançam discos ao vivo porque em shows não criam nada, apenas repetem o que foi já gravado. Acho que não. Penso que pararam de lançar Live In Concert a partir dos anos 90 simplesmente porque o DVD com o show se popularizou. Tão simples isso...
  Nos anos 70 TODA banda e todo cantor lançava pelo menos um disco ao vivo. Ás vezes a cada 4 anos. 90% era um lixo. Lixo mesmo! E o motivo era simples: cocaína. A maioria desses discos são ego trips movida a pó. Músicas de 3 minutos viram exibicionismos de 15 ou mais minutos insuportáveis. Nem na época, com 12 anos de idade, eu suportava isso.
  Tudo começou, claro, nos anos 60. E a culpa é de Eric Clapton. Cream foi a primeira banda a pegar uma musiquinha linda, pop, perfeita, e no palco esticar essa canção em até meia hora de "viagem cara, viagem"... Em alguns blues, como Crossroads, a coisa até fica legal, mas quando eles fazem Toad durar vinte minutos...aí o saco explode. Grateful Dead veio logo na cola. Há quem pense que foi a banda de Jerry Garcia quem inventou o ego trip. Mas não. Jerry pegou de Eric. O Dead explodiu ainda mais, tinha canção ao vivo que durava duas horas. Sim baby, duas malditas horas de improviso sem fim. Tem um disco deles, LIVE DEAD, com o pior solo de bateria já gravado. Há quem adore.
  Ando ouvindo tudo que tenho, e hoje tentei ouvir dois discos que estão sempre entre os 10 mais citados entre os melhores ao vivo da história. LIVE AT FILLMORE EAST, dos Allman Brothers é geralmente o número um para os críticos, e MADE IN JAPAN, voce sabe de quem, é o mais citado como number one para o povo da Harley e barriga. O disco do Allman consegui escutar quase todo inteiro. O outro...só a primeira faixa. Deep Purple toca 7 músicas em um disco duplo, sendo que Starstrucker, que é uma ótima faixa, dura aqui 20 minutos e se torna insuportável. Um lado de vinyl inteiro. Pra quê??? Ego trip pura. The Mule tem um solo de bateria de uns 10 minutos. Ian Paice é jazzy, é excelente, e eu amo bateria. Mas o limite são 3 minutos. No máximo 3, por favor. Não há baterista, nem Buddy Rich, que mantenha o nosso interesse ligado solando por mais de 3 minutos.
  O disco dos Allman Brothers, de 1971, é super amado. Por que??? Sim, é uma delicia o som da banda. Duane Allman é um mito e Derek Trucks, o outro guitarrista, é tão bom quanto. Greg Allman canta de verdade, tem voz, mas caramba!!!!! Pra que essa mania de parar tudo e ficar uma guitarra tocando solo à procura de um riff??? Whipping Post é mágica, mas não em 15 minutos!!!!!! De qualquer modo, ele é infinitamente melhor que Made in Japan.
  Ah ! Ouvi também o disco ao vivo de Bob Dylan de 1976, Hard Rain. Postei video do show. Olhe.
  Pior disco ao vivo dos anos 70? O do Led, claro. THE SONG REMAINS THE SAME é o mais ego dos egos. Eles não fazem música, apenas se exibem. O disco triplo dos Wings, de 1977 também é um horror. Mas que tal falar dos melhores?
  ITS ALIVE! dos Ramones, 1977. Tem 28 faixas. 2 minutos cada uma. Talvez o melhor ao vivo de todos os tempos.
  Viva! do Roxy Music. De 1976. Sem solos longos. Todas as faixas estão melhores que as originais.
  Rory Gallagher, Irish Live! de 1974. Muito amado em listas de melhores. É realmente ótimo.
  The Who live at Leeds, de 1970. Tem muito bla bla bla entre as faixas. Mas tem energia pra caramba. A versão de my generation é muito longa, mas não por causa de solos, são arranjos enfiados no meio da música. Funciona.
  Wellcome to the Canteen, do Traffic. De 1971. Muito bom.
  Tem ainda discos legais ao vivo do Robin Trower, The Band com Bob Dylan, um grupo com Eno e Manzanera, o do Bob Marley é ok. MC5, ótimo. Foghat ao vivo, muito bom.
   Ah!!!! Fuja de David Bowie. Os dois ao vivo da década são muito ruins. O ao vivo dos Faces é das coisas mais nada a ver já gravadas. E é óbvio que estou ignorando as bandas progressivas. Nunca ouvi. Nem vou. Lou Reed também lançou dois ao vivo nesse tempo. Ruins. E tem Metallic KO do Iggy, que apesar do nome ótimo, é insuportável.   E chega que este solo já deu né não?
  PS: pode ouvir GET YER YAS YAS OUT. A versão de Midnight Rambler vale o disco. Mas que diabos Mick!!!! Pra que tanto disco ao vivo na carreira??

NO QUARTER - PAGE E PLANT OU A CULPA É DO KEITH RICHARDS.

   Só uma mentalidade muito preconceituosa faria com que alguém em 1993 não amasse o disco de Plant e Page. E em 1993 eu era preconceituoso. Foi uma de minhas fases moderninhas, estava deslumbrado pelos sons coloridos das raves e tudo que não queria ouvir era som de hippies velhos. ( Ironia, hoje sou mais velho que eles eram então ). Uma pena. Eu adoraria o disco naquele tempo e o adoro hoje.
   Robert Plant é o único cara da história do rock que virou estrela sem jamais deixar de ser quem ele sempre foi. Pode ser visto andando de bike em Londres. Podia ser visto em shows de punk rock em 1978. Envelheceu sem disfarçar uma só ruga. E fiel aos preceitos hippies, nunca usou o nome do Led Zeppelin para fazer dinheiro. A banda poderia bater todos os recordes de bilheteria hoje. Ele não liga. Conseguiriam juntar um milhão de pessoas nas areias do Rio. Pra que?
   Neste disco eles fazem uma coisa mágica. Pegam canções do Led e conseguem torna-las novas sem deixar de serem as mesmas. Cavam fundo naquilo que elas sempre foram e expõe ao mundo suas origens celtas e árabes. Medievais. É música da idade média. E é música de sempre. Os arranjos, ciganos, druidas, junguianos, trazem a atemporalidade e o sonho ao universo do agora. Tolkien, ídolo de Plant casado com Muddy Waters. Funciona. O disco escutado hoje continua de amanhã.
  Keith Richards continua para sempre congelado nos acordes de 1968. A única ousadia é misturar reggae ou James Brown à Brown Sugar. Não há e nem jamais haverá a menor chance de que ele modifique suas músicas. Elas são pedras. Ainda rolam, mas estão mortas. Seria lindo ver Satanic refeito no palco. Com indianismo, marroquismo e xamanismo. Ou o Banquete dos Mendigos com doses de punk e de eletro. Mas não. Keith não deixa. Ele é um negro do blues e vai morrer sendo isso e só isso. Ok.
  Mas este No Quarter...

VIENNA=ULTRAVOX. O TEMPO PASSA...

   Estranho. Para onde foi a emoção? Aos 22, 23 anos eu me emocionava profundamente com este disco. Agora eu o acho bonito, mas não arrepiante. Seria porque eu evolui? Mas então porque um disco como Magic, de uma cantora chamada Cheryl Dilcher, um disco pop, comum, que eu amava aos 15 anos, hoje me comove como sempre comoveu? Magic não é melhor que Vienna. Será que encontro uma resposta satisfatória?
   Acho que sim. O garoto que amou o disco de Cheryl aos 15 anos era um garoto que desejava de um disco apenas aquilo que Magic tem, música e diversão. E isso ele sempre vai ter. Músicas de um pop festivo, às vezes tristonhas, sempre simples. O que eu buscava em Magic no ano de 1978 continuo obtendo em 2015. Vienna não. Porque?
   Em 1984, ano em que comprei Vienna ( ele é de 1980 ), os críticos mais interessantes se chamavam Pepe Escobar, Matinas Suzuki e Luis Antonio Giron. Nos textos de Pepe ele citava Keats, Huysmanns, Cocteau e Miró. Matinas falava de brumas londrinas, chá na madrugada e dores suicidas de amor. Já Giron escrevia como quem pinta porcelana, com extremo cuidado. Essa é a chave. Todos eles partiram, à partir de 1989/90 para outros campos. Giron foi escrever sobre música erudita e literatura, Matinas se debruçou sobre tecnologia e futurologia e Pepe foi viver fora, escreve sobre tudo, menos rock. Os três eram apaixonados pelo rock e pelo pop mais britânico dos anos 80, pop do qual Vienna é um belo representante. O que houve?
  Aos 22 anos eu tinha em Vienna a porta de entrada para um mundo novo. O mundo que ia da primeira geração romântica até Andy Warhol. O disco prometia o acesso, fácil e simples, ao mundo da Arte. identifiquei isso na primeira vez em que ouvi, anos depois, uma banda como Radiohead. Ele facilita a entrada na Arte, mas sem ser Arte. O ouvinte sente toda a emoção de coisas como poesia, pintura abstrata, cinema japonês e romances modernistas, SEM PRECISAR TIRAR OS FONES DO OUVIDO. ( Basta dizer que em todo o ano de 1984 eu li apenas 5 livros ). O que acontece então?
   Com o tempo eu conheci a fonte, o artigo genuíno, a tal Arte, e as emoções refinadas que Vienna parecia conter empalideceram. O que eu sentia escutando o disco agora sinto, de uma forma muito mais complexa, lendo, vendo ou ouvindo outras coisas. Vienna ficou lá. Foi trocado.
   Isso não pode acontecer com, por exemplo, o Led Zeppelin. Ou mesmo Bowie. O que eles dão só em música pop ou rock podem dar. O meu amor por eles sempre foi puramente musical e rock`n`roll, no caso do Led, e no caso de Bowie, musical e estilosa. Bowie era um dos artigos autênticos que Vienna anunciava. A emoção de ouvir Beatles ou The band permanece porque amamos ""apenas""suas canções. Em Vienna eu amava a música, mas essa música simbolizava e anunciava mais do que ela era. Essa é a tragédia de tudo que se torna passado sem volta.
  Mas é bonito. 

O PIOR DOS ANOS 70 É O MELHOR DO SÉCULO XXI ?

   Fico babando ovo dos anos 70 ( que foi a última década origonal, como atesta o livro recém lançado do Forastieri ), mas me esqueço que havia algo de enervante na época: a intolerância. Talvez as coisas tenham sido tão fascinantes exatamente por causa desse mal. Cada grupo ia ao limite em sua linguagem, sem desvios de caminho ( as exceções voce conhece ). Mas caramba, como isso me irritava!
   Se voce gostava de Led Zeppelin era inadmissível que voce ouvisse Elton John ou Rod Stewart, e pior ainda, já que voce gostava do Led voce TINHA de gostar de Foghat ou dos Allman Brothers. Brancos não ouviam música de negro e negro não podia tocar música de branco. Um saco!
   Quando um artista quebrava essa lei era uma "decepção", o cara era crucifixado. Saía das fileiras sagradas e puras do rock e passava a fazer companhia às prostitutas do pop. Era assim com David Bowie. Os roqueiros ( ô raça! ), jamais o perdoaram por Young Americans em 1975.  Os Stones se enrolaram de vez em 1973 com a baladona Angie e Rod, bem, Rod dançou feio desde 1974 com suas canções à Elton John. A coisa era tão idiota que quando Jeff Beck gravou Stevie Wonder em 1973 perdeu todo seu público. Virou um tipo de guitarrista pária, um vendido ao soul.
   Eu odiava tudo isso. Meus amigos não me entendiam. Como voce, Paulo, um cara que ama o Led, Jimi, Clapton, pode ouvir Bee Gees!!!! Como voce pode não gostar de Yes???? Eles são muito melhores que esses medíocres do Roxy Music!!!!
   O Punk radicalizou mais ainda. Para eles TUDO gravado por alguém com mais de 23 anos não tinha valor. Talvez apenas com as exceções de Iggy Pop e de Lou Reed. Talvez... Jogaram no lixo os discos de Neil Young, MC5 e Van Morrison, e depois passaram os anos 80 comprando todos de novo. 
  A década de 80 recuperou os velhos charmosos e os anos 90 os hippies raivosos. Os anos 80, com Prince, Red Hot e Beastie Boys aboliu a barrreira da cor da pele, e os anos 90 desfez o preconceito contra os cafonas dos anos 70. Kiss, Thin Lizzy e Black Sabbath começaram a ser levados a sério. Daí pra frente só faltava reabilitarem a disco music. 
  Eis onde quero chegar. Sempre odiei Balck Sabbath e agora, em 2014, ouço sua discografia com prazer. Sabbath Bloody Sabbath é genial e Sabotage é uma obra-prima. Os riffs são muito bons e o baterista toca com ritmo e vontade. Legal ! Mas....porque essa mudança? Penso que é porque apesar de achar que não, eu também era preconceituoso. Eu me pautava pela crítica ( Zeca Neves, Ana Maria Bahiana, Big Boy, Nelson Motta ) e eles NÃO gostavam do Sabbath. Como detestavam também Genesis, Rush e ELP. Em 1977, sendo eclético me fiz preconceituoso contra o não-sofisticado, o não eclético. Pode?
  Recentemente vi na TV a entrega do rock`nroll hall of fame ao Rush. Quem entregou foi Dave Grohl. Ele pulava excitado por poder homenagear seus heróis. Sim, heróis. E vi que os canadenses são encantadoramente humildes. E very funny. O Foo Fighters tocou com eles nessa noite e todo o preconceito de 1977 caiu por terra. 
  Ainda não gosto do Rush. É chato. Mas fico lembrando de Johnny Rotten, que vomitava contra os WHO, ouvindo hoje os FACES. É justo. É certo.
  Posso enfim ouvir Alice Cooper como ele merece: com amor.

BRAD TOLINSKI- CONVERSAS COM JIMMY PAGE, LUZ E SOMBRA ( TRABALHO, TRABALHO E MAIS TRABALHO )

   Jimmy Page tocou em Goldfinger, o single do filme 007, com Shirley Bassey. Isso já colocaria seu nome na história. Mas tem mais. Num cálculo rigoroso, ele tocou em 60% dos top ten ingleses entre 1964/1966. Detalhe: ele tinha 18 anos. Gravando uma média de três músicas por dia, fuçando dentro dos estúdios, ele aprendeu tudo sobre técnica de gravação. Aprendeu tudo o que NÃO se devia fazer.
   Qualquer um qu e tenha ouvido sabe, ouvir um disco gravado entre 1963/1969 tem sempre algo de frustrante. Claro, existe a sonoridade maravilhosa, orquestral de bandas como Beach Boys, Traffic ou Kinks, mas não existe nenhum traço de ataque, de furor, de ambiência. Page diz que os técnicos não gostavam de rock, e então eles gravavam tudo como se aquilo fosse Sinatra ou Dean Martin, atenção focada na voz. O mais trágico era perceber o medo que eles tinham da bateria. Bateristas soberbos como Ginger Baker, Charlie Watts e Keith Moon desaparecem no disco. Jimmy Page mudou tudo isso. E eu senti isso na pele.
   Quando eu era criança achava que rock era Beatles e Monkees. Hoje ainda adoro as duas bandas, claro, mas percebi em 1975, aos 12 anos, que eles eram, como direi, soft. Muito soft. E que o som deles ficara preso ao passado. Note, falo de som. Sonoridade. As composições de Lennon e Paul, algumas dos Monkees serão para sempre, mas o modo como foram gravadas é completamente antiquada. Voz de um lado, massa instrumental do outro. Tudo arrumado, correto e sob controle. Eu não sabia mas tudo isso mudou em 1969. ( E observe como mesmo bandas agressivas, tipo Stooges e MC5, estão gravadas de forma tragicamente civilizada na época ). Cadê a bateria???
   Jimmy Page mudou isso. E essa eu não sabia. O grande impacto do Led foi como mixagem, produção, profissionalismo. Eu não sabia, mas tive o choque em 1975. Cercado até então de rock dos anos 60, senti a diferença absoluta no som do Led II. Era como sair de uma sala de concerto e entrar numa selva.
  John Paul Jones também trabalhou em estúdio na adolescência. Fazia arranjos, tocava baixo, piano. É dele o arranjo vibrante de Mellow Yellow de Donovan. E o arranjo genial de She`s a Rainbow dos Stones. Quando Page saiu dos Yardbirds e precisou de um baixista Jones se candidatou. Foi aceito na hora. Mas Jimmy diz que a grande sorte do Led foi o baterista. Se a banda é grande ela deve tudo ao baterista. O grande e inigualável John Bonham. O homem que criou, sózinho, a bateria que conhecemos desde então.
   Jimmy percebeu que para dar potência a bateria o importante era dar espaço ao instrumento. Espaço físico. Criar ambiente ao som. Desse modo, os microfones eram colocados o mais distante possível, em lugares grandes. Bonham chegou a ser gravado em salas de castelos, com os microfones nas escadarias e nos corredores. Incansável, Jimmy Page fazia o mesmo com a guitarra. Procurava sempre um novo eco, timbre, máxima potência, perfeição.
   Não vamos esquecer que os shows de rock em 1969 tinham a filosofia hippie. Tipo: Venha como estiver e vamos fazer um som. Eram shows improvisados, preguiçosos, se perdia um tempo enorme se decidindo o que tocar a seguir, os solos se perdiam em viagens sem fim. Tudo numa boa. Nesse contexto surge o Led Zeppelin quebrando esse paradigma. Profissionalismo. O show é potente, forte, decidido, objetivo, sem nada que não tenha sido planejado e ensaiado. O som tem de estar perfeito e por mais louca que tenha sido a noite anterior, todos têm de tocar bem, com competência. Esse foi o segredo, esse o novo mundo que a banda trouxe, bem vindos aos anos 70.
  A crítica caiu de pau. Principalmente a Rolling Stone. O Led vendia mais, enchia todos os shows, batia recordes, mas a imprensa só falava de Stones, Stones e Stones. O Led era tratado como moda passageira, barulho sem razão, histerismo oco. Foi a primeira banda a crescer contra a maré. De boca em boca. Entre os fãs, sem TV, revista e jornal. E se fez a maior banda dos 70 e uma das cinco maiores da história. Contra todos.
  O livro toca na paixão de Page pelo ocultismo. Alquimia sendo a união de várias coisas que dão uma terceira. É o motivo de ser impossível continuar sem Bonham. O Led era a união de Plant, Jones, Page e Bonham. Os 4 se transformavam em Led Zeppelin. Sem um deles a coisa não é mais Led Zeppelin, é Page, Jones e Plant. ( Os Stones foram realmente Stones com Brian Jones. Com Mick Taylor foram gigantes, mas eram outra coisa ). Um homem é mistura de amor, ódio, carne, alma, medo, coragem etc. Sem um desses elementos ele é outra coisa.
  Nascido em familia de boa situação social, amigo de infância de Jeff Beck, alheio as bandas de rock de sua época ( gostava só de Hendrix ), Jimmy Page é provávelmente o mais bem dotado de todos os guitarristas. Não existem duas faixas de sua banda que se pareçam. Seja em arranjo, em mixagem, no solo, sua busca sempre foi da transformção, a alquimia.
  PS: Jimmy dá uma dica para as bandas novas: misturem. Page amava Rockabilly, Jones ouvia só jazz e música erudita, Plant era do blues e Bonham escutava música negra, soul e funk. A maioria das bandas agora têm componentes em que todos ouvem as mesmas coisas. O som será sempre igual e em 4 discos a coisa fica insuportável.  Page tocava Elvis para Jones ( que pouco sabia de rock ), Bonham tocava James Brown para Page ( que nunca o tinha ouvido ) e por aí vai...

UMA RESPOSTA A QUEM NÃO GOSTOU DE MEU TEXTO SOBRE LOU REED ( E SIM, SOU UMA CONTRADIÇÃO )

   Escrevem dizendo da influência nefasta do Velvet e de Lou Reed sobre o rock. De que assim como Dylan, eles estragaram o rock ao deixá-lo pretensioso. OK. Vou deixar as coisas claras.
   Adoro todos os discos do Velvet Underground, menos a faixa All Tomorrow Parties. E de Lou penso que Transformer é imbatível. E gosto pacas de New York, Songs for Drella e bastante de Coney Island Baby e de algumas músicas de álbuns diversos. E concordo, a influência deles é nefasta. A primeira leva de influenciados ( Bowie, Roxy, Iggy ) é genial, mas a partir do Television a coisa começa a ficar hiper deprê. Basta dizer que na década de 80 os Velvets eram considerados maiores que Stones ou Who e tão fundamentais como Beatles. Não por acaso é a década da depressão. 99% das bandas influenciadas por Lou que citei estão longe de minha preferência. Como acontece com o Led Zeppelin, outro ícone que deixou nefasta herança, Lou não tem culpa por seus filhotes. A turma dos desesperados soturnos que vá se curar.
   Mudei nesses anos. Após passar meu desbunde pelo Velvet revalorizei a black music e lembrei de dançar. E prefiro hoje ser um hippie utópico que um niilista inutil. Conheci bandas como Love, Flying Burrito, Soft Machine, The Band, que são tão boas e tão influentes ( o The Band mais ) que os Velvet. Claro que sem o chique citadino glam dos Velvet...
   Meu amor e minha tristeza é pelo cara que esteve no Velvet e fez Transformer ( que é tão de Bowie e Mick Ronson e Tony Visconti quanto de Lou ). Quanto ao  fato de Lou Reed ser um sacana ruim invejoso e mau...So what?
   Falei.

OS 100 MELHORES DISCOS DE ESTRÉIA PELA REVISTA ROLLING STONE ( JAMAIS EU ).

   Eu até posso compreender que o primeiro disco dos Beastie Boys seja o mais importante disco de estréia da história. Afinal ele trouxe o rap para os brancos e o rap é a última coisa inovadora criada no rock. Lembro em 1985 como a gente achava esquisito aquele sampler de John Bonham, roubarem os riffs de Eddie Van Halen e Jimi Page, os vocais que não cantavam. Era coisa nova, realmente nova. Mas...não era simples cópia de Public Enemy e de Run DMC? ...
   O segundo melhor disco de estréia é o Ramones. Ok, o modo de tocar a guitarra deles mudou o rock, mas em 1977 eles não causaram a menor comoção. A gente se ligava muito mais nos Pistols e no Clash. Segundo melhor? Acho que o critério de influência, de novidade começa a fazer água quando a gente vê que o disco de estréia de Elvis Presley está em 79...79!!! Se for por influência nenhum é mais importante e se for por qualidade...então Ramones não pode ser o segundo melhor.
   Jimi Hendrix, Are You Experienced?, é o terceiro. Aí sim, o disco une qualidade com influência. Hendrix fez com que todo guitarrista de repente ficasse velho e o disco é uma obra-prima em criação. Mas Guns and Roses em quarto lugar só pode ser piada. Ou pior, provocação boba. 
   O disco de estréia mais importante da história, o disco que criou de Radiohead a Rem, de Stooges a Bowie está em quinto lugar: Velvet Underground e o disco da banana. Esse seria o justo número um, pelo simples fato de que ele criou sózinho todo um modo de fazer e de ouvir rock. Da capa do disco às roupas dos caras, tudo no disco é influente. E atemporal. Axl estar à sua frente é uma piada.
   Depois temos NWA em sexto e na sequencia Sex Pistols ( pra mim é o segundo disco mais importante ), Strokes ( what? ), e que bela surpresa: o disco da estréia de The Band em nono lugar. Se o Velvet criou o rock artístico, o rock anti-pop e anti-social, The Band inventa em 1968 o rock suave da recuperação da sanidade. Fazem a ponte do folk com o pop, da música de bom gosto com a sinceridade da solidão. 
   O resto da lista? Em ordem: Patti Smith, Nas, Clash, Pretenders ( que beleza! O disco Pretenders I é uma bomba de criação e de raiva ), Jay Z, Arcade Fire, The Cars, Beatles, REM, Kanye West, Joy Division, Elvis Costello.... Lembraram do ótimo disco do B'52's e o colocaram em 28. The Doors, que seria o melhor pra muita gente, ficou em 34, The Police em 41 e Television em 40. 
   Se está a se pensar em influência o primeiro disco do Black Sabbath não mereceria melhor posição que a 44? Os Smiths surgem em 51 e o maravilhoso, arrojado, soberbo, enigmático e lindo Roxy Music I fica num 62. Vixe!!!! O Roxy é hors concours....
   Temos ainda Pink Floyd em 47, The Beat em 64, Stooges em 66 e o primeiro dos Talking Heads em 68.  Byrds em 80 e lembraram dos Flying Burrito Brothers, em 99. 
   Acima eu falei que o Velvet seria o melhor disco de estréia da história por ser o mais influente. Esquece! Led Zeppelin I é o mais influente disco de estréia da história. Um disco que mudou o modo como um guitarrista deveria solar e um baterista deveria tocar. Na lista da Rolling Stone ele é o 72. Quem assistiu o filme Quase Famosos sabe que por toda a década de 70 a revista RS ignorou o Led. Toda crítica de novo disco era negativa e as excursões eram cobertas por jornalistas novatos com pouco espaço nas páginas de uma revista que preferia apostar em Boston, Steely Dan ou Dr. Hook. 
   Certas coisas nunca mudam....

A MAIOR BANDA DA HISTÓRIA DO ROCK-CELEBRATION DAY, LED ZEPPELIN

   É muito impressionante. A primeira imagem é de uma reportagem de 1973, onde se anuncia que o Led Zeppelin, em tour pelos USA, andava quebrando todos os recordes dos Beatles em shows. Daí se vê o palco escuro. De repente a explosão de um riff. Voce sabe, aquele tipo de riff que apenas Jimi Page consegue tocar. Mais que isso, o som metálico, sinfônico da Gibson, o som de puro volume, de estridência semi-indisciplinada, o som do Led Zeppelin. Eles estão no palco, um palco pequeno, sem frescuras, porque a banda sempre se garantiu pelo som. E a gente sabe, estamos lá para ver os caras.
   A vida inteira tenho repetido que minha banda favorita se chama Rolling Stones. Mas o Led Zeppelin é como uma familia para mim. E os caras só me lembram bons momentos. Sério, nunca tive um momento ruim ouvindo Led Zeppelin, e que coisa mágica, recordo a primeira vez em que escutei cada um dos discos deles. Sim, desde o primeiro que comprei, o Led II, até o último, In Through The Outdoor. Lembro com detalhes do lugar onde ouvi, o que senti, quem estava comigo, como estava o tempo, que horas eram. Isso só acontece com eles. Dos Stones só me recordo da primeira vez em que ouvi It'Only Rocknroll, do Roxy só de Avalon. Dizem que esse tipo de memória significa amor. Well, foi o que senti ontem. A segunda música do show foi Ramble On e nessa hora meus olhos ficaram molhados.
   Todo show de veterano tem muito de prestação de tributo. Voce aplaude e se emociona com aquilo que eles representam em sua vida e não com aquilo que eles fazem ali, naquele segundo. O Led Zeppelin me surpreendeu, é um grande show! Jimi Page continua se arriscando. As músicas da banda são muito dificeis de tocar ao vivo, todas são obras de estúdio, e Jimi se vira como só ele pode. Sola, dá riffs, harmoniza. Erra muito, acerta muito, alucina. O ataque que ele executa é único. Mesmo coroa, ele faz muito barulho, solta ruídos, piruetas. O slide em In My Time of Dying é divino. E além de tudo lá está John Paul Jones, o gênio. Ele manda bala com seu dedo. Toca baixo com um dedo esticado e fica inquieto, é essa uma das melhores coisas do show, JP Jones fica tenso, há ali, ainda, um certo receio, no rosto do contrabaixista se percebe uma dúvida: será que Jimi vai se perder? Jones é um maestro, o melhor baixo da história do rock.
   Cada música é um desafio. Assisti o show com um músico ao lado e ele me conta como é dificil tocar aquele repertório. As músicas mudam de andamento todo o tempo, há paradas e retornos, voltas e sinuosidades, riscos constantes. São músicas que convidam ao erro, a anarquia, armadilhas. Eles não se perdem.
   Robert Plant é o cara boa-gente. Perdeu o sex-appeal, perdeu parte da voz. Compensa com inteligência. Coloca a voz no ponto exato e sabe poupar. Fica no palco como um dos fãs. Se diverte e jamais passa a impressão de estar com o ego inflado. Poderia. Ele tem esse direito. ( E falo aqui de Jason. Ele tocou como seu pai. Sem o peso do old John Bonham, mas fez justiça ao pai. )
   Misty Montain Hop foi o auge do show. Puro fun.
   O público esteve em transe. Há algo de sublime naquela audiência. Sei o que é: a consciência de se estar num momento histórico. É um dos melhores shows já vistos. Espertamente eles não farão outro. Seria um anticlimax.
   O Led Zeppelin sempre foi uma banda muito bem dirigida. Se expunham pouco. Não lançavam singles, não apareciam na TV, pararam quando Bonham morreu. Quem quiser saber o que eles significam para minha geração basta ver QUASE FAMOSOS. Tá tudo lá.
   Recentemente os Stones fizeram um bom show de 50 anos da banda. Foi bacana, mas não foi emocionante. Eles são tão cool, tão blasé, que a emoção sempre é a de se estar numa festa e apenas isso.
   No show do Led Zeppelin vi muito mais que isso. Risco, celebração, reencontro com amigos, amor, muita, muita emoção. É a maior banda da história do rock. E o mais lindo é que desde o começo, lá nos idos de 1968, Jimi, John, Plant e Bonham sabiam disso. Eles entraram no rock como arrogantes deuses gregos de falo ereto. E saem como senhores muito relax, que sabem fazer e sabem dar, possuem fé em si-mesmos e tem a plena convicção de que após tantos anos e tantas bandas, Clash, Oasis, Aerosmith, Queen, Metallica, U2, são eles ainda o Led Zeppelin, os originais, os machos, os donos da coisa, o modelo a ser seguido ou a ser negado. A maior das bandas. Amo esses caras. Valeu.

A MELHOR BANDA DO MUNDO

   Essa banda que toca com Plant... sei lá, o rock sempre foi meio preconceituoso. Lembro que em 1977 ninguém mais levava os Stones a sério, porque afinal, Jagger tinha mais de 30 anos. Assim como em 1965 já se deixava Johnny Cash de lado. Falo tudo isso pra dizer que essa banda é uma das melhores de seu tempo, 2010. E só a Arte-como-Iogurte, com prazo de validade, para negar isso.
  Assisti ontem um show deles no canal Bis. Em Basel, Suiça. Sublime. Eles conseguem misturar folk com psico, com progressivo tipo King Crimson mais Bryan Ferry em seu melhor. Tem ainda country, musica celta, e rocknroll. É fascinante. Uma amiga que vai a quase todos os shows disse que em SP ele fez o melhor show do ano. Talvez da década.
  Brian Eno dizia que o maior mérito do rock está sempre no timbre. O rock é pobre em melodia e em harmonia, mas é muito rico em timbres. E é isso que essa banda faz. O timbre das guitarras é sempre diferente. Tiram sons insuspeitos. É uma sublime música viajante.
  Robert Plant conseguiu o que quis. Se voce se choca com seu rosto envelhecido e seu jeito largado, saiba: ele sempre rumou para isso. Ele se torna cada vez mais seu ídolo, um menestrel celta. Poderia ter se solidificado em sua imagem de sex-symbol, mas não, ele estava em outra trip. Só agora notamos que a ansia do Led Zeppelin vinha dele e não de Page. Era ele que queria sempre o novo. Tanto que no tempo em que esteve doente, 1976, a banda lançou seu pior disco, Presence. O mais Page de todos eles.
   Da geração de Robert Plant, muitos se tornaram seres estranhos. Penso em Ozzy, Iggy, Tyler, como esses zumbis que fazem seu show, ótimo, mas o mesmo, desde sempre. Outros da geração dele se fizeram eternos stars deslumbrados, Rod, Elton.... Pois Robert Plant escolheu ser ele-mesmo. Nada há de fake, nada de junk ou de star. Ele faz música.
   Mágica música.

O FIM DOS BEATLES É O COMEÇO DO LZ.

   Quando em 1975 meu irmão e eu escutamos pela primeira vez o Led Zeppelin II, pensamos que ele tivesse sido gravado em 1975. Era uma reedição, e no selo do vinil vinha gravado o ano:1975. Quando descobrimos que na verdade era um disco do pré-histórico ano de 1969 ficamos abismados. ( Eu e ele ainda éramos crianças em 75. 1969 parecia a idade-média ).
   Já tinhamso na época discos dos Beatles, Roberto Carlos, Pink Floyd e Monkees. 1969 era para nós sons como Come Together ou ABC com os Jackson Five. Guitarras de 69 deveriam ter o som de John Fogerty no Creedence ou de Jimi Hendrix em Hey Joe. Mas o som do Led em 1969 parecia antecipar o gigantismo de 1975. Ao lado dos hits de 69, coisas ótimas mas datadas como Sugar, Sugar ou Crimson and Clover; a banda de Plant, Page, Jones e Bonham parecia ter muito mais em comum com os tempos de Queen, Aerosmith e Kiss. Bem, na verdade eles pariram a década de 70. E o hard-rock dos 80, infelizmente, também. E ainda o dos 90, 2000, 2010 e um etc sem mais fim.
   Há uma bela teoria que diz que os Beatles terminaram não por brigas de Paul e John ou apuros na Apple. Na verdade eles perceberam, genialmente, que a onda era outra e que aos 27, 28 anos, eles começavam a ser chamados de vovôs. Sly Stone, King Crimson, James Brown, MC5, faziam com que os 4 de Liverpool parecessem antigos como Elvis. E as vendas caíam sem parar. Os Jackson Five, o Blood Sweat and Tears e principalmente os Creedence Clearwater vendiam mais. Assim como Pelé, eles souberam quando encerrar o sonho.
   Se antes a bateria de Ringo podia ser comparada a de Charlie Watts ou de Keith Moon ( a mesma sonoridade, o mesmo timbre ), se os solos de George ainda tinham tudo a ver com a escola Chuck Berry de Keith Richards ou Dave Davies, agora, com o Led, tudo isso parecia muito velho. A`^enfase das bandas dos 60 era criatividade e beleza, agora o parâmetro era potência e técnica.
   Assistir essa apresentação dos Led em 1969 é ver o futuro em ação. Apesar do choque que é ver Plant ainda belo e com excelente voz, ou Bonham ainda com a energia pré-alcoolismo, o choque verdadeiro é perceber que de Jack White a Red Hot Chili Peppers, passando por Jeff Buckley e Stone Temple Pilots, toda banda com alguma virilidade dos últimos 40 anos bebeu na fonte Zeppeliniana. ( Excessão, óbvia, ao punk, a antítese da tese ledzeppeliniana. Para o punk, o rock cessa em Yardbirds e Kinks ).

LED ZEPPELIN LIVE 1969 Part 1



leia e escreva já!

CENA DIONISÍACA ( IN MY TIME OF DYING )

   Já vivi tantos transes dionisíacos ao som desta música que sempre acho que o mais recente será o último. Nunca é. O mais recente foi hoje.
   O primeiro é inesquecível. Junho de 1977. Eu era um pubescente. Havia abandonado a escola e ficava todo o dia só, nas ruas cheias de mato e de sapos. De tarde ouvia discos. E estava meio apaixonado por Jeanne, uma menina com a qual nunca havia falado. Num fim de tarde a música veio e me levou embora- simplesmente. Fechei os olhos e esqueci- fui. Dez minutos que parecem durar até hoje. Meus braços separaram-se de mim e minha voz cantou com uma potência que nunca foi minha. A forte batida estava dentro de mim, desde sempre.
   Após essa primeira vez a vida deixou de ser o que era. Saí da sala, fui pra rua de noite e andei a esmo, sem saber onde ir, mas indo exatamente onde tinha de ir. Pulei a janela e entrei no quarto. Havia um poster de Robert Plant nesse quarto. E de Gerry Lopez...
   O mais dionisíaco solo de guitarra.
   Hoje, tempo que nos rouba tudo de sagrado, vejo esse video. E pasmem, não me decepciono. Mais que isso, sorrio. Mais que isso: entro dentro de lá. E sei: um milagre.
   Tem coisas que são para sempre.

PARA AS MENINAS E MENINOS NASCIDOS EM 1998. E QUE OUVEM O QUE EU AMO.

   Minha última postagem do mês é para aquelas pessoas que eu conheço e que ( tanto tempo ) já fui. Vocês, adolescentes que insistem em ser inocentes, e que andam com suas guitarras em estojos de plástico e vestem camisetas justas, pretas, com Page, Plant, Jones e Bonham. Que ficaram doidos ao ver minha coleção de velhos vinis dos quatro Zeppelins, e que disseram querer ter vivido naquele tempo... Que tempo meus garotos e garotas? Aquele é este tempo para voces!
   Tantas bandas vieram e continuam a vir ao Brasil, que pena que vêem após a festa, após o auge que se acabou. Megas bandas, hiper bandas, quais? Por isso é que voces, moleques, amam uma banda que já era antiga para seus pais.
    ( E vejo no youtube comentários sobre os videos e pesco estes que são engraçados: "É este o motivo de se precisar inventar a máquina do tempo", " Quando vejo John Paul Jones sinto ódio de meus dedos", " Jimi Page faz com que eu desista de tocar guitarra" ). Pois eu conto agora, pra voces moleques de 13 anos, moleques crescidos em meio ao rap e ao funk, minha história de Led Zepp. ( Curta, mas que repercute ).
    Sol, poeira e a lage do meu amigo inesquecível, a gente ouve Tangerine em pose de guru e pensa: isto é pra sempre. Um balde de água na cabeça, outro balde nas meninas, um último pra se beber. Recortar as revistas e colar as fotos na parede do quarto. Pegar duas facas e acompanhar John Bonham batendo as facas na mesa até machucar. Tirar o celofane do disco e ouvir com meu bro, no escuro, com a respiração cortada, coração disparado, e sentir após meia-hora: Yes!!!!!Yes!!!!!! Yes!!!!!!!
   ( Sentir trinta anos depois quase a mesma coisa ao ver QUASE FAMOSOS pela primeira vez. Eu sou um deus grego!!!! )
    Sol, poeira e lage que agora é de voces, alunos. Bebam seus baldes e amem suas meninas e seus meninos. Ao som de Going To California ( quem diria? ).
    A critica foi ruim com o Led nos anos 70. Porque eles pareciam alienados. E era um tempo politico. Se esses criticos soubessem o que viria depois teriam os endeusado. Os anos 90 lhes fizeram justiça. A maior banda da história do rock.
    Última coisa: seus netos vão escutar Kashmir.
    Canto In My Time Of Dying no carro de meu pai em 1977... é hoje. É pra sempre.