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EXISTEM CANÇÕES QUE MUDAM O MUNDO. POUCAS FAZEM ISSO. ESTA FEZ.
Existem canções, poucas, raras, que podem mudar a vida de uma pessoa. Basta as escutar na idade e no momento certo. Elas nos fazem mudar nosso gosto musical, nossa maneira de ver o futuro, nosso comportamento. ARE FRIENDS ELECTRIC? do Tubeway Army, banda de Gary Numan, mudou toda a música inglesa em 1979. E aqui no Brasil, os poucos que a escutaram, enlouqueceram. Passamos a ter mania por robots, computadores, emoções sob controle, distanciamento. Era o romantismo dos anos 80 que se anunciava. Mais que Kraftwerk ou Bowie, Gary Numan anunciava que o futuro da canção era tecnológico. Seus shows, uma orgia de luzes cegantes e de presença robótica mudaram toda uma geração. -------------- Ele levou às massas aquilo que outras bandas e artistas solo não puderam levar. Sua obra antecipa o planeta sob controle e vigilância. Mas, como é seu som? -------------- É POP, mas não aquele POP eletro enjoativo que se faria moda com os Pet Shop Boys após 1985. Ao contrário dos músicos que usam synths para pareceram instrumentos "normais", Gary Numan sempre usou sintetizadores que soavam como sintetizadores. E é isso que eu amo. ---------------- Quando ouço música eletrônica eu quero que ela seja profundamente robótica, gelada, sem emoção, sem alma, desértica. E é isso que temos aqui. Nada lembra a emoção do blues ou do soul, nada parece rock como entendido em 1979. Por isso Gary Numan jamais penetrou nas paradas dos EUA. Lá ele foi considerado uma coisa sem sentido, fake. Já na Grâ Bretanha ele foi superstar. Número um em vendas entre 1979-1981. Sua nova atitude conquistou um povo que não tinha raízes soul e blues. ---------------------- Continuo amando. Ouço agora. Me amociona ( contradição não? Sua frieza é profundamente emocionante ). A bateria, real, tem ritmos simples, marciais, e a massa de teclados parece exalar gelo. A voz de Gary Numan é maldosa, mecânica, alienígena. Ele se colocava como um ET. Bowie em modo glacial. As promessas de LOW levadas ao fim. Para um moleque de 16 anos isto soou como um mantra. Quase uma ligação religiosa. Sim, se voce tem menos de 50 anos, tendo crescido em meio a tantos nomes eletro, isto pode parecer apenas curioso. Mas entenda, Gary Numan é de uma radicalidade chique abissal. Não a toa ele se viu logo num beco sem saída. E virou um aviador. Largou a música. ------------------------ A questão é: seus amigos são elétricos? Sim, são. Estão numa tela 24 horas por dia. E falam comigo por sinais matemáticos codificados. Não me importa se aquilo que vejo é real. É eletricidade. E meus olhos são hoje leitores de luz. ----------------- Existem canções que mudam o mundo e entram nele como se fossem uma invasão marciana. Ouça o modo como essa canção começa. NÃO É MÚSICA. É UM EXÉRCITO ALIEN ATERRISANDO. No primeiro acorde do teclado, um tiro de laser, uma luz feito onda sonora, voce se entrega. Genial. ------------- PS: Gary deu o passo que nós queríamos que Bowie e Ferry dessem. Em 1980 achávamos que Bowie e o Roxy Music partiriam para esse som, cada vez mais eletro e frio. Mas não. Então Gary Numan, assim como tantos outros, deu o passo.
HUNKY DORY - DAVID BOWIE. POR QUE ELE HOJE É CONSIDERADO SEU MELHOR DISCO?
Já aviso, Hunky Dory não é meu Bowie favorito. Prefiro muito mais Low, Diamond Dogs, Lodger, Young Americans e mesmo Station to Station me soa muito mais fascinante. -------------- Fazia, creia, uns 20 anos que eu não ouvia este disco. Então hoje o reouvi. Eu o escutava muito em 1989, 1990, época em que foram lançados seus discos em edição japonesa, depois parei. Ouvindo hoje algumas coisas me surpreendem: Primeiro: É basicamente um disco acústico. Segundo: a beleza do piano de Rick Wakeman ( pena não terem trabalhado juntos mais vezes ). A sequência das 6 primeira faixas é imbatível. Poucos, muito poucos discos, são tão superlativamente belos como aqui, nessas 6 faixas. Changes, Oh you pretty things, Eight line poem, Life on Mars, Kooks e Quicksand, minha favorita, são melancólicas, solitárias, belas, diáfanas. Bowie é um jovem inglês, em 1971, cantando em seu flat, violão, tentando se entender e entender o que o cerca. É um quase derrotado lançando sua última carta. Nunca mais ele cantou assim. E a preferência de 2023 por este disco reside nisso: nosso tempo se identifica com esse jovem isolado. O super artista ambicioso de Low nos incomoda. É um tipo anti 2023. Já o Bowie de Hunky Dory parece ser um cara de agora. Mas não é. Bowie é bem maior que qualquer artista POP que trabalha hoje por aqui. Ele é uma outra coisa. --------------------- O piano de Wakeman pontua todas essas músicas. Seu dedilhado delicado dá brilho e ângulos ousados às canções. É um acerto absoluto. O problema de Hunky Dory é que após o pico atingido em Quicksand ele cai demais. O cover de Newley, Fill your heart anuncia o que parece ser um outro disco. Um outro Bowie. Andy Warhol, uma homenagem em estilo Dylan, é apenas comum, Song for Bob Dylan é indigna do mestre ( e comete o erro de dizer que a voz de Dylan é sad and blue...ora David...ela é angry and hungry ). Bowie se torna aí um tipo de Ian Hunter, Mott The Hoople na veia. Depois vem a estupenda homenagem à Lou Reed, Queen Bitch, riff que cita Sweet Jane, a parceria Bowie Ronson dando as caras enfim. Bewlay Brothers é bem chatinha. -------------------- Quando ouvi este disco a primeira vez senti o mesmo que hoje: são dois discos enfiandos em um só. Durante seis faixas é David no quarto com o piano de Wakeman compondo milagres de beleza melancólica. Depois é Bowue homenageando seus ídolos em faixas não mais que médias ( fora Queen Bitch, que é brilhante ). Ziggy Stardust nasce nessa mescla. Ele seria a união dos dois lados, aquele de Quicksand e de Queen Bitch. ------------------- Belo tempo para se ter 15 anos em Londres. Após este disco, as lojas seriam invadidas por Lou Reed com Transformer, o primeiro do Roxy Music, T. Rex vendendo como Beatles e mais Gary Glitter, Mott The Hoople e Sweet. Uma festa. Nunca mais foi assim. Hunky Dory é um adeus dado no princípio. Triste como Bowie sabia ser.
JOBRIATH? QUEM É ESSE CARA?
Em todo o globo cerca de 60 mil pessoas o conhecem. Eu desconhecia Jobriath até ontem. Estava pesquisando na net uma lista de discos. Os grandes albuns de estreia dos anos 70. Então leio um nome estranho: Jobriath. Penso: que droga será isso? Entro na página desse disco e vejo que foi um cara do movimento glam. Me interesso. De Sweet à Rubettes, tudo que é glam me importa. Olho fotos. Jobriath é gay, hiper gay. Bowie perto dele parece Bruce Springsteen. Mas como será o som? Ouço o tal disco. CARAMBA! Como pode Jobriath estar esquecido? Ele é o mega blaster cult. -------------------------- No começo dos anos 90, Morrissey aproveitou seu poder para tentar relançar Jobriath. Morrissey lembrava dele desde sempre. O vira na TV, quando tinha 13 anos de idade. A busca pelo rastro de Jobriath deu trabalho. O plano era produzir seu retorno. Mas Morrissey descobre que Jobriath morrera no anonimato, no início dos anos 80. Fazia dez anos que ele não mais era parte da terra. ---------------------------- Agora estamos em 1998. E Todd Haynes faz Velvet Goldmine tendo os poucos videos de Jobriath em mente. Eu descobri isso ontem. Mas quem é esse cara? ------------------------------------------------ Em 1973 ele foi lançado como o novo Bowie-Bolan. Mas não deu certo. O preconceito contra os gays o isolou. Bowie era aceito por um fio. Bolan nunca assumiu quem era. Mas Jobriath era assumido, era exagerado, era ofensivo. E pior: era americano. Ingleses, apesar do fim de Wilde, sempre souberam lidar com a coisa gay. De Noel Coward a John Gielgud, ingleses amam artistas gays. Mas a America não. Seu disco o lançou para o anonimato. Ele desaparece. Quem lembra dele? ------------------------------------------------- Em 2012 fizeram um documentário sobre Jobriath. Henry Rollins é um fã. Jayne County. David Johanssen. Jobriath permaneceu com aquilo que Bowie e Iggy tiveram de perder: o cheiro de underground. Num dos videos que postei ele se apresenta na TV americana. Um desbunde. Seu som é rock-cabaret. Sua voz é Bowie sem empostação. Uma versão juvenil de David. Dizem no doc que ele surgiu dez anos antes da hora. Ele teria estourado em 1983, no tempo de Boy George e Marc Almond. Eu já penso que ele seria perfeito para 2020. Ele lembra até mesmo o russo Vidas. ----------------------------------- Se gostei? Agradeço por ainda ter tanta coisa boa a ser ouvida. Eu passei a vida sem conhecer Scott Walker e agora encontro Jobriath. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- MAS A QUESTÃO NÃO É RESPONDIDA: ELE FOI REAL? Posto entre seus videos um onde ele toca piano em sua casa. É emocionante. E como diz um leitor, muito triste. Pois se choramos quando um artista como Bowie ou Lou Reed parte, por sabermos ir sentir falta de sua presença, com artistas que não realizaram nem 10% de seu potencial a tristeza é exponencial. Jobriath, Cole Berlin era seu nome, foi encontrado morto sobre seu piano branco. Fazia 3 dias que ele morrera. Aquele que deveria ter sido morreu só. ------------------------------------------------------------------ Veja Morrissey cantando Jobriath. É mágico.
TODOS NÓS NASCEMOS NO MESMO LUGAR
Revendo esses clips que postei, vejo o que havia esquecido: todos são, eu sou, em 1981-1984, filhos de David Bowie.
Nunca uma geração foi tão marcada por uma pessoa só ( a geração anterior foi marcada por 4 Beatles, e a geração do
metal foi marcada por Ozzy, Led e Iron ). Tudo feito entre 1978-1984, que não seja punk ou heavy, é herdeiro direto
de 3 ou 4 discos de David. A gente consegue ver esses caras imitando Bowie, em frente ao espelho do quarto, aos
12, 13 anos de idade.
Postei Japan, banda de David Sylvian e Mick Karn, uma dupla de talento absurdo, mas que infelizmente durou apenas
dois anos. Depois David virou figura cult, tendo gravado solo com Eno e Robert Fripp. ( Ele é o cantor ). Karn
é um baixista genial, mas nada do que ele fez depois deu muito certo.
Postei o Ultravox, banda que vendeu toneladas na Europa toda, mas que NUNCA pegou nos EUA. Em 1984 era muito chique
ouvir Ultravox em Berlin ou em Paris.
E postei o Fun Boy Three, uma banda imensa que me deixa muito emocionado. Our Lips are Sealed é um hino da minha
geração. Um hino que me faz pensar o seguinte: Eu reclamo muito do mundo de 2020...mas eu vejo esses rostos dessa
canção, de 1983, e o que vejo? A cara de 2020.
....para ser continuado um dia.......
UMA DAS PIORES PRAGAS DOS ANOS 70
Em sites atuais, gente da minha geração, e de gerações bem mais novas também, tecem loas ao disco ao vivo. Tem até rankings, vários, que vão da Rolling Stone à All Music. Da BBC ao Times. Gostam de falar que bandas mais recentes não lançavam e não lançam discos ao vivo porque em shows não criam nada, apenas repetem o que foi já gravado. Acho que não. Penso que pararam de lançar Live In Concert a partir dos anos 90 simplesmente porque o DVD com o show se popularizou. Tão simples isso...
Nos anos 70 TODA banda e todo cantor lançava pelo menos um disco ao vivo. Ás vezes a cada 4 anos. 90% era um lixo. Lixo mesmo! E o motivo era simples: cocaína. A maioria desses discos são ego trips movida a pó. Músicas de 3 minutos viram exibicionismos de 15 ou mais minutos insuportáveis. Nem na época, com 12 anos de idade, eu suportava isso.
Tudo começou, claro, nos anos 60. E a culpa é de Eric Clapton. Cream foi a primeira banda a pegar uma musiquinha linda, pop, perfeita, e no palco esticar essa canção em até meia hora de "viagem cara, viagem"... Em alguns blues, como Crossroads, a coisa até fica legal, mas quando eles fazem Toad durar vinte minutos...aí o saco explode. Grateful Dead veio logo na cola. Há quem pense que foi a banda de Jerry Garcia quem inventou o ego trip. Mas não. Jerry pegou de Eric. O Dead explodiu ainda mais, tinha canção ao vivo que durava duas horas. Sim baby, duas malditas horas de improviso sem fim. Tem um disco deles, LIVE DEAD, com o pior solo de bateria já gravado. Há quem adore.
Ando ouvindo tudo que tenho, e hoje tentei ouvir dois discos que estão sempre entre os 10 mais citados entre os melhores ao vivo da história. LIVE AT FILLMORE EAST, dos Allman Brothers é geralmente o número um para os críticos, e MADE IN JAPAN, voce sabe de quem, é o mais citado como number one para o povo da Harley e barriga. O disco do Allman consegui escutar quase todo inteiro. O outro...só a primeira faixa. Deep Purple toca 7 músicas em um disco duplo, sendo que Starstrucker, que é uma ótima faixa, dura aqui 20 minutos e se torna insuportável. Um lado de vinyl inteiro. Pra quê??? Ego trip pura. The Mule tem um solo de bateria de uns 10 minutos. Ian Paice é jazzy, é excelente, e eu amo bateria. Mas o limite são 3 minutos. No máximo 3, por favor. Não há baterista, nem Buddy Rich, que mantenha o nosso interesse ligado solando por mais de 3 minutos.
O disco dos Allman Brothers, de 1971, é super amado. Por que??? Sim, é uma delicia o som da banda. Duane Allman é um mito e Derek Trucks, o outro guitarrista, é tão bom quanto. Greg Allman canta de verdade, tem voz, mas caramba!!!!! Pra que essa mania de parar tudo e ficar uma guitarra tocando solo à procura de um riff??? Whipping Post é mágica, mas não em 15 minutos!!!!!! De qualquer modo, ele é infinitamente melhor que Made in Japan.
Ah ! Ouvi também o disco ao vivo de Bob Dylan de 1976, Hard Rain. Postei video do show. Olhe.
Pior disco ao vivo dos anos 70? O do Led, claro. THE SONG REMAINS THE SAME é o mais ego dos egos. Eles não fazem música, apenas se exibem. O disco triplo dos Wings, de 1977 também é um horror. Mas que tal falar dos melhores?
ITS ALIVE! dos Ramones, 1977. Tem 28 faixas. 2 minutos cada uma. Talvez o melhor ao vivo de todos os tempos.
Viva! do Roxy Music. De 1976. Sem solos longos. Todas as faixas estão melhores que as originais.
Rory Gallagher, Irish Live! de 1974. Muito amado em listas de melhores. É realmente ótimo.
The Who live at Leeds, de 1970. Tem muito bla bla bla entre as faixas. Mas tem energia pra caramba. A versão de my generation é muito longa, mas não por causa de solos, são arranjos enfiados no meio da música. Funciona.
Wellcome to the Canteen, do Traffic. De 1971. Muito bom.
Tem ainda discos legais ao vivo do Robin Trower, The Band com Bob Dylan, um grupo com Eno e Manzanera, o do Bob Marley é ok. MC5, ótimo. Foghat ao vivo, muito bom.
Ah!!!! Fuja de David Bowie. Os dois ao vivo da década são muito ruins. O ao vivo dos Faces é das coisas mais nada a ver já gravadas. E é óbvio que estou ignorando as bandas progressivas. Nunca ouvi. Nem vou. Lou Reed também lançou dois ao vivo nesse tempo. Ruins. E tem Metallic KO do Iggy, que apesar do nome ótimo, é insuportável. E chega que este solo já deu né não?
PS: pode ouvir GET YER YAS YAS OUT. A versão de Midnight Rambler vale o disco. Mas que diabos Mick!!!! Pra que tanto disco ao vivo na carreira??
Nos anos 70 TODA banda e todo cantor lançava pelo menos um disco ao vivo. Ás vezes a cada 4 anos. 90% era um lixo. Lixo mesmo! E o motivo era simples: cocaína. A maioria desses discos são ego trips movida a pó. Músicas de 3 minutos viram exibicionismos de 15 ou mais minutos insuportáveis. Nem na época, com 12 anos de idade, eu suportava isso.
Tudo começou, claro, nos anos 60. E a culpa é de Eric Clapton. Cream foi a primeira banda a pegar uma musiquinha linda, pop, perfeita, e no palco esticar essa canção em até meia hora de "viagem cara, viagem"... Em alguns blues, como Crossroads, a coisa até fica legal, mas quando eles fazem Toad durar vinte minutos...aí o saco explode. Grateful Dead veio logo na cola. Há quem pense que foi a banda de Jerry Garcia quem inventou o ego trip. Mas não. Jerry pegou de Eric. O Dead explodiu ainda mais, tinha canção ao vivo que durava duas horas. Sim baby, duas malditas horas de improviso sem fim. Tem um disco deles, LIVE DEAD, com o pior solo de bateria já gravado. Há quem adore.
Ando ouvindo tudo que tenho, e hoje tentei ouvir dois discos que estão sempre entre os 10 mais citados entre os melhores ao vivo da história. LIVE AT FILLMORE EAST, dos Allman Brothers é geralmente o número um para os críticos, e MADE IN JAPAN, voce sabe de quem, é o mais citado como number one para o povo da Harley e barriga. O disco do Allman consegui escutar quase todo inteiro. O outro...só a primeira faixa. Deep Purple toca 7 músicas em um disco duplo, sendo que Starstrucker, que é uma ótima faixa, dura aqui 20 minutos e se torna insuportável. Um lado de vinyl inteiro. Pra quê??? Ego trip pura. The Mule tem um solo de bateria de uns 10 minutos. Ian Paice é jazzy, é excelente, e eu amo bateria. Mas o limite são 3 minutos. No máximo 3, por favor. Não há baterista, nem Buddy Rich, que mantenha o nosso interesse ligado solando por mais de 3 minutos.
O disco dos Allman Brothers, de 1971, é super amado. Por que??? Sim, é uma delicia o som da banda. Duane Allman é um mito e Derek Trucks, o outro guitarrista, é tão bom quanto. Greg Allman canta de verdade, tem voz, mas caramba!!!!! Pra que essa mania de parar tudo e ficar uma guitarra tocando solo à procura de um riff??? Whipping Post é mágica, mas não em 15 minutos!!!!!! De qualquer modo, ele é infinitamente melhor que Made in Japan.
Ah ! Ouvi também o disco ao vivo de Bob Dylan de 1976, Hard Rain. Postei video do show. Olhe.
Pior disco ao vivo dos anos 70? O do Led, claro. THE SONG REMAINS THE SAME é o mais ego dos egos. Eles não fazem música, apenas se exibem. O disco triplo dos Wings, de 1977 também é um horror. Mas que tal falar dos melhores?
ITS ALIVE! dos Ramones, 1977. Tem 28 faixas. 2 minutos cada uma. Talvez o melhor ao vivo de todos os tempos.
Viva! do Roxy Music. De 1976. Sem solos longos. Todas as faixas estão melhores que as originais.
Rory Gallagher, Irish Live! de 1974. Muito amado em listas de melhores. É realmente ótimo.
The Who live at Leeds, de 1970. Tem muito bla bla bla entre as faixas. Mas tem energia pra caramba. A versão de my generation é muito longa, mas não por causa de solos, são arranjos enfiados no meio da música. Funciona.
Wellcome to the Canteen, do Traffic. De 1971. Muito bom.
Tem ainda discos legais ao vivo do Robin Trower, The Band com Bob Dylan, um grupo com Eno e Manzanera, o do Bob Marley é ok. MC5, ótimo. Foghat ao vivo, muito bom.
Ah!!!! Fuja de David Bowie. Os dois ao vivo da década são muito ruins. O ao vivo dos Faces é das coisas mais nada a ver já gravadas. E é óbvio que estou ignorando as bandas progressivas. Nunca ouvi. Nem vou. Lou Reed também lançou dois ao vivo nesse tempo. Ruins. E tem Metallic KO do Iggy, que apesar do nome ótimo, é insuportável. E chega que este solo já deu né não?
PS: pode ouvir GET YER YAS YAS OUT. A versão de Midnight Rambler vale o disco. Mas que diabos Mick!!!! Pra que tanto disco ao vivo na carreira??
JIM MORRISON E AS CALÇAS DE COURO
Jim Morrison é o mesmo caso psico que acometeu Kurt Cobain, um rapaz talentoso e idealista que se viu subitamente transformado em algo que ele jamais quis ou imaginou poder ser. No caso de Kurt, ele tinha ideais punk. Já Jim era filho de seu tempo, ele tinha os ideais beatniks.
Morrison era bonito, era sexy e era muito cool. E coroando tudo isso, ele tinha voz. Morrison é a melhor voz branca do rock. Ele grita como um cantor de heavy metal e é suave como um astro pop. Sua dicção é perfeita e o timbre jamais falseia. Quanto a presença de palco, é ele quem cria o performer de palco realmente perigoso, sexy, ofensivo. É o inventor de Iggy Pop e de David Bowie.
Mick Jagger poderia ter esse posto, mas além de cantar menos, Jagger é irônico. Ele mesmo não se leva a sério e de certo modo foi isso que salvou sua sanidade. Jagger sempre parece rir de si mesmo, ele macaqueia. Jim era absolutamente sério e esse era seu ponto fraco. Jim Morrison se achava um poeta. Ele era solene. Chato às vezes. Incapaz de rir das besteiras que fazia ocasionalmente. Suas letras são ótimas para uma banda de rock de LA, mas como poesia simbolista, são infantis. Jagger sabia disso e ria. Morrison não queria saber e sofria por não ser levado a sério. Todo astro pop se afunda ao se levar a sério. De Lennon à George Michael, não há um só que não tenha afundado em auto piedade ou hostilidade burra ao não aceitar o fato de que seu trabalho é dirigido a semi analfabetos ou a jovens estudantes idealistas e ingênuos. Quando eles começam a se ver como novos William Blakes ou Nietzsches revividos a coisa entra em curto.
O primeiro disco dos Doors é muito bom. Ele sacoleja e é um prazer ouvir o teclado de Ray rodopiar pelo balanço jazz de Robby e John. A voz de Jim é brilhante. E tudo o que ela transmite é a angústia pura do desejo sexual. É apenas isso. E isso é fantástico. No segundo disco, ainda melhor, eles acrescentam o medo como tempero. É um disco sobre o pesadelo do desejo sem objeto. Strange Days é um album perfeito. Mas então o ingênuo Jim Morrison começou a brigar com seu status pop. Queria ser artista. Queria ser Rimbaud. E como não tinha o dom para tanto, jogou o que tinha no lixo.
Falei em Iggy e em Bowie.
Iggy, que é um grande leitor, sempre soube que rock é primitivismo. E foi realista o bastante para dar ao rock o que ele quer: sangue. Inteligente ao extremo esse Iggy. Já Bowie foi o artista que Jim quis ser e não pode. Bowie criou um artista pop. Uniu o pop mais pré fabricado à arte possível em meio tão simplório. Nunca houve cara mais astuto.
As pessoas gostam de dizer que Morrison teve sorte ao morrer. Que gordo e careca ele seria patético. Bem....Van Morrison é gordo e careca e não é patético. Talvez Jim fosse feliz ao saber que sua voz era o que o mantinha e não sua aparência. Talvez.
De todo modo, era preciso ser muito homem para usar calças de couro em 1966.
Morrison era bonito, era sexy e era muito cool. E coroando tudo isso, ele tinha voz. Morrison é a melhor voz branca do rock. Ele grita como um cantor de heavy metal e é suave como um astro pop. Sua dicção é perfeita e o timbre jamais falseia. Quanto a presença de palco, é ele quem cria o performer de palco realmente perigoso, sexy, ofensivo. É o inventor de Iggy Pop e de David Bowie.
Mick Jagger poderia ter esse posto, mas além de cantar menos, Jagger é irônico. Ele mesmo não se leva a sério e de certo modo foi isso que salvou sua sanidade. Jagger sempre parece rir de si mesmo, ele macaqueia. Jim era absolutamente sério e esse era seu ponto fraco. Jim Morrison se achava um poeta. Ele era solene. Chato às vezes. Incapaz de rir das besteiras que fazia ocasionalmente. Suas letras são ótimas para uma banda de rock de LA, mas como poesia simbolista, são infantis. Jagger sabia disso e ria. Morrison não queria saber e sofria por não ser levado a sério. Todo astro pop se afunda ao se levar a sério. De Lennon à George Michael, não há um só que não tenha afundado em auto piedade ou hostilidade burra ao não aceitar o fato de que seu trabalho é dirigido a semi analfabetos ou a jovens estudantes idealistas e ingênuos. Quando eles começam a se ver como novos William Blakes ou Nietzsches revividos a coisa entra em curto.
O primeiro disco dos Doors é muito bom. Ele sacoleja e é um prazer ouvir o teclado de Ray rodopiar pelo balanço jazz de Robby e John. A voz de Jim é brilhante. E tudo o que ela transmite é a angústia pura do desejo sexual. É apenas isso. E isso é fantástico. No segundo disco, ainda melhor, eles acrescentam o medo como tempero. É um disco sobre o pesadelo do desejo sem objeto. Strange Days é um album perfeito. Mas então o ingênuo Jim Morrison começou a brigar com seu status pop. Queria ser artista. Queria ser Rimbaud. E como não tinha o dom para tanto, jogou o que tinha no lixo.
Falei em Iggy e em Bowie.
Iggy, que é um grande leitor, sempre soube que rock é primitivismo. E foi realista o bastante para dar ao rock o que ele quer: sangue. Inteligente ao extremo esse Iggy. Já Bowie foi o artista que Jim quis ser e não pode. Bowie criou um artista pop. Uniu o pop mais pré fabricado à arte possível em meio tão simplório. Nunca houve cara mais astuto.
As pessoas gostam de dizer que Morrison teve sorte ao morrer. Que gordo e careca ele seria patético. Bem....Van Morrison é gordo e careca e não é patético. Talvez Jim fosse feliz ao saber que sua voz era o que o mantinha e não sua aparência. Talvez.
De todo modo, era preciso ser muito homem para usar calças de couro em 1966.
SCOTT WALKER, UM GÊNIO QUE DESCUBRO AGORA.
Uma das coisas que diferenciam uma pessoa realmente interessada em arte e outras superficialmente ligadas é a pesquisa. Acabo de ler o livro sobre Bowie, e nele, leio que o artista londrino foi sempre interessado e influenciado por Jacques Brel e Scott Walker. Brel, compositor, ator e cantor belga, me é conhecido desde meus 18 anos, mas Walker eu jamais escutei. Ouço falar dele muitas vezes, ele é citado por Thom Yorke e Jonny Greenwood, Damon Albarn e Robert Plant, Pulp e Johnny Marr. E Bowie, insistentemente. Há um momento no livro, logo após a gravação de Heroes, em que Brian Eno aparece na Suíça com Nite Flight, album recém lançado por Scott Walker. O americano fazia então, por sincronia, o disco que Eno queria fazer E NÃO CONSEGUIA. No documentário recente, produzido por Bowie, que posto acima, Eno diz que Walker o humilha até hoje. Nite Flight parece ter sido gravado em 2010, 2020, é do ´século XXXI.
Scott Walker é americano do interior e formou em 1964 o grupo Walker Brothers. Venderam quase tanto quanto os Beatles e em 1966 se mudaram para Londres. Os Brothers não se chamavam Walker e nem eram irmãos. O som deles, se escutado hoje, e eu os ouvi pela primeira vez ontem, é ainda muito, muito interessante. Orquestral, complexo, ele é pop e nostálgico, cheira a anos 60, e ao mesmo tempo tem uma riqueza melódica e sentimental atemporal. A orquestração é digna de Bacharach ou melhor, de John Barry. Mas o maior valor é a voz de Scott: é um estupendo cantor, seu timbre é aquele que Bowie tentou alcançar e raramente conseguiu, é a voz que Thom Yorke precisava ter e sonhou ter, é a voz etérea, sofrida, composta, forte de um homem.
Mas a genialidade vem em seus primeiros seis discos solo. Gravados entre 1967 e 1984, os 3 primeiros foram big hits, mesmo com toda sua estranheza, os demais são fracassos de vendas e monumentos de arte. Como os descrever? É como se Morrissey cantasse Beatles com a voz de Tom Jones. Ou como se Bryan Ferry tivesse voz. Ouço e apesar de nunca haver escutado, sinto como se desde sempre conhecesse aquilo. A música de Walker é como um tipo de ambiente ( Eno ), um lugar cheio de mistério, onde a gente mora sem saber que lá está. Dá medo. Muito medo. Scott Walker tem a voz de Jung. Ele mergulha fundo no inconsciente musical e volta à tona com objetos insuspeitos. Tão noturno como Astral Weeks, tão inquieto como Arthur Lee, e sem se parecer em nada com Van Morrisson ou com a banda Love.
Uma das alegrias da pesquisa curiosa é descobrir gente que sempre esteve lá mas que a gente não via. Scott Walker abre todo um universo vibrante e a ser explorado. Seus últimos discos, de 2004 e 2010, não me agradam. Parece que ele empacou num tipo de monotonia escura. Mas penso que são tristes demais, pesadelos em forma de sinfonia atonal. O que mais posso dizer? Voce tem de ouvir Scott Walker. Ao menos uma vez. Mesmo que voce nada entenda.
PS: Não é rock. Nada de blues, country ou soul há nele. É filho da canção francesa e alemã.
Scott Walker é americano do interior e formou em 1964 o grupo Walker Brothers. Venderam quase tanto quanto os Beatles e em 1966 se mudaram para Londres. Os Brothers não se chamavam Walker e nem eram irmãos. O som deles, se escutado hoje, e eu os ouvi pela primeira vez ontem, é ainda muito, muito interessante. Orquestral, complexo, ele é pop e nostálgico, cheira a anos 60, e ao mesmo tempo tem uma riqueza melódica e sentimental atemporal. A orquestração é digna de Bacharach ou melhor, de John Barry. Mas o maior valor é a voz de Scott: é um estupendo cantor, seu timbre é aquele que Bowie tentou alcançar e raramente conseguiu, é a voz que Thom Yorke precisava ter e sonhou ter, é a voz etérea, sofrida, composta, forte de um homem.
Mas a genialidade vem em seus primeiros seis discos solo. Gravados entre 1967 e 1984, os 3 primeiros foram big hits, mesmo com toda sua estranheza, os demais são fracassos de vendas e monumentos de arte. Como os descrever? É como se Morrissey cantasse Beatles com a voz de Tom Jones. Ou como se Bryan Ferry tivesse voz. Ouço e apesar de nunca haver escutado, sinto como se desde sempre conhecesse aquilo. A música de Walker é como um tipo de ambiente ( Eno ), um lugar cheio de mistério, onde a gente mora sem saber que lá está. Dá medo. Muito medo. Scott Walker tem a voz de Jung. Ele mergulha fundo no inconsciente musical e volta à tona com objetos insuspeitos. Tão noturno como Astral Weeks, tão inquieto como Arthur Lee, e sem se parecer em nada com Van Morrisson ou com a banda Love.
Uma das alegrias da pesquisa curiosa é descobrir gente que sempre esteve lá mas que a gente não via. Scott Walker abre todo um universo vibrante e a ser explorado. Seus últimos discos, de 2004 e 2010, não me agradam. Parece que ele empacou num tipo de monotonia escura. Mas penso que são tristes demais, pesadelos em forma de sinfonia atonal. O que mais posso dizer? Voce tem de ouvir Scott Walker. Ao menos uma vez. Mesmo que voce nada entenda.
PS: Não é rock. Nada de blues, country ou soul há nele. É filho da canção francesa e alemã.
O HOMEM QUE VENDEU O MUNDO - DAVID BOWIE POR PETER DOGGET
Não é uma biografia de Bowie. O autor analisa todas as canções que o rei dos anos 70 compôs, em ordem de composição, e no processo nos conta a saga do londrino genial naquilo que ele viveu de melhor, a década de 70, segundo o autor, a mais triste das décadas.
Peter Dogget escreve muito bem. Sua descrição das canções, para quem as conhece, são perfeitas. Ele aponta TODAS as influências, entrega os plágios, descreve o som de um modo saboroso. Temos vontade de correr e reouvir tudo. E descobrir aquilo que nunca escutamos ( muito pouco em meu caso ). Segundo o autor, Bowie amava Judy Garland, era seu maior ídolo, e perto dela vinham Sinatra, Sammy Davis Jr e Marlene Dietrich. Bowie era doido por cinema, por artes visuais, e o rock era apenas o meio onde ele cresceu, o modo natural de se fazer grande. Mas não sua paixão central. Daí sua importância primordial: Bowie é o cara que traz para o rock aquilo que não era do rock. Ele o vê como ator, como performer. É um artista que interpreta o papel de rock star. Ou de menestrel folk. Ou de inovador pop.
Ele poderia ter sido um folk star até 1970. Sua maior influência era a dupla Simon e Garfunkel. E Neil Young. Ao conhecer Tony Visconti, produtor de gênio, Ken Scott, engenheiro de som mágico, e Mick Ronson, seu guitarrista de blues e arranjador de extremo gosto, Bowie abraçou o rock. E o modificou para sempre.
Ele era um grande leitor. E em 1970 lia aquilo que aqui no Brasil Paulo Coelho lia. Ocultismo. Cabala. Crowley. Hermes Menegisto. Nietzsche. Impressiona a energia de Bowie. Ele estava sempre em movimento, gravando, compondo, fazendo shows, escrevendo roteiros, indo a exposições, lendo, e se drogando muito. Entre 74 e 76 ele foi o rei do pó.
O autor desgosta de várias canções de Bowie. Isso dá certa isenção ao livro. Ele acha Transformer de Lou Reed banal, e Raw Power mal é citado. Ziggy, o LP, é visto como importante e criativo, porém, musicalmente pouco instigante. As letras são o foco da genialidade de Bowie. Diamond Dogs é para ele uma obra-prima de invenção sonora. Uma massa de sons, ruídos, harmonias e símbolos ocultistas digno de um feiticeiro. Peter considera Dogs e Station To Station os mais altos pontos da vida de Bowie. ( Low e Hunky Dory vindo em seguida ). O autor destrói Lodger, considerado frouxo, e dá um retrato sublime de Young Americans, o auge da voz de David.
No final ele fala por alto do Bowie dos anos 80, 90 e 2000. O livro foi escrito um ano antes de sua morte. Outside e Heathen são considerados tão bons quanto Low ou Dogs, mas são irrelevantes. O mundo do século XXI não ouvia mais Bowie. Apenas os fãs. Os clones fizeram dele um tipo de matriz. Um molde. Mas não um cantor relevante. Bowie era um artista para descobertas e não para nostalgia. Quando fez 33 anos, em 1980, deixou de ser um descobridor e se tornou um diluidor. Juntou dinheiro como nunca. Mas o artista já dera seu recado.
Peter destaca Bowie em 1992, na homenagem à Mercury, rezando o Pai Nosso no palco, ao fim de Underpressure. Para Peter aquele era o verdadeiro Bowie. No mais inadequado dos lugares, no mais inesperado dos momentos, ele larga sua ironia e reza DE VERDADE. Ironia dentro da ironia, a ironia de não ser irônico. A luta de Bowie, luta para ser alguém, não pela fama, mas ser alguém que se possa chamar de PESSOA, acaba no retiro. Seu corpo fraqueja. Ele para de procurar. Encerra.
Leia o livro e veja a descrição que ele faz do começo de Station To Station. É exatamente o que senti na época ao ser pego de surpresa pelo som esquisito do disco. Não parecia rock. Não era pop. Não era negro. Não era nada. Mas era alguma outra coisa.
Nunca haverá outro Bowie porque o mundo do rock não precisa de artistas. E quando eles surgem, e Damon, Peter ou Harvey tentam o ser, tudo que podem fazer é estender Low ou Dogs ou Scary em novas frentes. Bowie ao parir a arte no rock, a arte depressiva e expressiva, matou o futuro dessa arte, que precisaria ser sempre nova, mas que por sua causa sempre pareceria derivada. Bowie trouxe ao rádio o que Eno, Lou, Can, Faust, Neu e John Cale faziam para poucos. No processo ele amplificou sua cópia. Vestiu o rock de arte. E vendeu o invendável como estilo e charme.
Foda.
Peter Dogget escreve muito bem. Sua descrição das canções, para quem as conhece, são perfeitas. Ele aponta TODAS as influências, entrega os plágios, descreve o som de um modo saboroso. Temos vontade de correr e reouvir tudo. E descobrir aquilo que nunca escutamos ( muito pouco em meu caso ). Segundo o autor, Bowie amava Judy Garland, era seu maior ídolo, e perto dela vinham Sinatra, Sammy Davis Jr e Marlene Dietrich. Bowie era doido por cinema, por artes visuais, e o rock era apenas o meio onde ele cresceu, o modo natural de se fazer grande. Mas não sua paixão central. Daí sua importância primordial: Bowie é o cara que traz para o rock aquilo que não era do rock. Ele o vê como ator, como performer. É um artista que interpreta o papel de rock star. Ou de menestrel folk. Ou de inovador pop.
Ele poderia ter sido um folk star até 1970. Sua maior influência era a dupla Simon e Garfunkel. E Neil Young. Ao conhecer Tony Visconti, produtor de gênio, Ken Scott, engenheiro de som mágico, e Mick Ronson, seu guitarrista de blues e arranjador de extremo gosto, Bowie abraçou o rock. E o modificou para sempre.
Ele era um grande leitor. E em 1970 lia aquilo que aqui no Brasil Paulo Coelho lia. Ocultismo. Cabala. Crowley. Hermes Menegisto. Nietzsche. Impressiona a energia de Bowie. Ele estava sempre em movimento, gravando, compondo, fazendo shows, escrevendo roteiros, indo a exposições, lendo, e se drogando muito. Entre 74 e 76 ele foi o rei do pó.
O autor desgosta de várias canções de Bowie. Isso dá certa isenção ao livro. Ele acha Transformer de Lou Reed banal, e Raw Power mal é citado. Ziggy, o LP, é visto como importante e criativo, porém, musicalmente pouco instigante. As letras são o foco da genialidade de Bowie. Diamond Dogs é para ele uma obra-prima de invenção sonora. Uma massa de sons, ruídos, harmonias e símbolos ocultistas digno de um feiticeiro. Peter considera Dogs e Station To Station os mais altos pontos da vida de Bowie. ( Low e Hunky Dory vindo em seguida ). O autor destrói Lodger, considerado frouxo, e dá um retrato sublime de Young Americans, o auge da voz de David.
No final ele fala por alto do Bowie dos anos 80, 90 e 2000. O livro foi escrito um ano antes de sua morte. Outside e Heathen são considerados tão bons quanto Low ou Dogs, mas são irrelevantes. O mundo do século XXI não ouvia mais Bowie. Apenas os fãs. Os clones fizeram dele um tipo de matriz. Um molde. Mas não um cantor relevante. Bowie era um artista para descobertas e não para nostalgia. Quando fez 33 anos, em 1980, deixou de ser um descobridor e se tornou um diluidor. Juntou dinheiro como nunca. Mas o artista já dera seu recado.
Peter destaca Bowie em 1992, na homenagem à Mercury, rezando o Pai Nosso no palco, ao fim de Underpressure. Para Peter aquele era o verdadeiro Bowie. No mais inadequado dos lugares, no mais inesperado dos momentos, ele larga sua ironia e reza DE VERDADE. Ironia dentro da ironia, a ironia de não ser irônico. A luta de Bowie, luta para ser alguém, não pela fama, mas ser alguém que se possa chamar de PESSOA, acaba no retiro. Seu corpo fraqueja. Ele para de procurar. Encerra.
Leia o livro e veja a descrição que ele faz do começo de Station To Station. É exatamente o que senti na época ao ser pego de surpresa pelo som esquisito do disco. Não parecia rock. Não era pop. Não era negro. Não era nada. Mas era alguma outra coisa.
Nunca haverá outro Bowie porque o mundo do rock não precisa de artistas. E quando eles surgem, e Damon, Peter ou Harvey tentam o ser, tudo que podem fazer é estender Low ou Dogs ou Scary em novas frentes. Bowie ao parir a arte no rock, a arte depressiva e expressiva, matou o futuro dessa arte, que precisaria ser sempre nova, mas que por sua causa sempre pareceria derivada. Bowie trouxe ao rádio o que Eno, Lou, Can, Faust, Neu e John Cale faziam para poucos. No processo ele amplificou sua cópia. Vestiu o rock de arte. E vendeu o invendável como estilo e charme.
Foda.
LODGER- DAVID BOWIE. A VIAGEM. MOVE ON.
Foi no fim de 1979. Comprei Lodger como um dos meus presentes de Natal. Foi meu terceiro disco de Bowie. Em 1974 eu havia ganho Diamond Dogs. Adorei. E em 2016 continuo a adorar. Depois, em 1978, comprei Station To Station. E notei que Bowie era "um chato". O disco em nada lembrava Diamond Dogs. Era esquisito. As faixas eram longas demais. Com pouca guitarra. E ainda tinha duas baladas triiiistes... Golden Years eu adorei. O resto não. Em 2016 eu gosto muito desse disco perdido e cheio de cocaína. Mas Lodger...
Lembro muito da primeira escutada. Numa velha vitrola, a cara junto ao disco. A capa me pareceu muito feia. E o som...Que bosta era aquela!!! Instrumentos embaralhados, amassados. Barulhinhos irritantes que estragavam a música. Músicas que pareciam mal acabadas, simples rascunhos, e que terminavam antes da hora. Pareciam curtas demais, e ao mesmo tempo chatas, irritantes, toscas.
Me deu pena de Bowie. E do meu dinheiro. ( A relação com a música era mais visceral também porque ela custava dinheiro ). Considerei aquilo um fiasco. E uma doença. Chamei de "disco doentio". Asco.
O tempo passou. E só o descobri em 1984. Quando minha fase "modernete" veio. Ouvindo Marc Almond, Gary Numan, Cocteau Twins, comecei a entender que Lodger era o pai daquilo tudo. ( E depois ao comprar LOW vi que ele era o pai de Lodger ). Flashs sintéticos. Polaroides de estados emocionais. Bombas prestes a explodir. E tudo o que nele me irritava passou a exercer fascínio. Instrumentos diretos, afiados, sons diretos e puros, intuições musicais. E a voz de Bowie, afinadíssimo, pairando indiferente sobre aquilo tudo. Da sublime Fantastic Voyage, passando pelas estupendas Move On, Boys Keep Swinging ou Repetition, tudo é surpresa. ( E um cara como eu era em 1979, ouvinte de Fleetwood Mac e Rod Stewart jamais entenderia aquilo ).
Muitos fãs de Bowie que conheço acham Lodger o melhor Bowie. Eu não. A carreira de David é tão magnífica que apesar de sua subliminidade, Lodger fica abaixo de Low, de Hunky Dory e de Dogs.
Posso afinal voltar a falar do gênio com mais frieza. Ele partiu mas seus discos ficam. E Lodger, que acabei de reescutar, é o testemunho de uma viagem sem fim. Mais uma estação David.
Move On.
Lembro muito da primeira escutada. Numa velha vitrola, a cara junto ao disco. A capa me pareceu muito feia. E o som...Que bosta era aquela!!! Instrumentos embaralhados, amassados. Barulhinhos irritantes que estragavam a música. Músicas que pareciam mal acabadas, simples rascunhos, e que terminavam antes da hora. Pareciam curtas demais, e ao mesmo tempo chatas, irritantes, toscas.
Me deu pena de Bowie. E do meu dinheiro. ( A relação com a música era mais visceral também porque ela custava dinheiro ). Considerei aquilo um fiasco. E uma doença. Chamei de "disco doentio". Asco.
O tempo passou. E só o descobri em 1984. Quando minha fase "modernete" veio. Ouvindo Marc Almond, Gary Numan, Cocteau Twins, comecei a entender que Lodger era o pai daquilo tudo. ( E depois ao comprar LOW vi que ele era o pai de Lodger ). Flashs sintéticos. Polaroides de estados emocionais. Bombas prestes a explodir. E tudo o que nele me irritava passou a exercer fascínio. Instrumentos diretos, afiados, sons diretos e puros, intuições musicais. E a voz de Bowie, afinadíssimo, pairando indiferente sobre aquilo tudo. Da sublime Fantastic Voyage, passando pelas estupendas Move On, Boys Keep Swinging ou Repetition, tudo é surpresa. ( E um cara como eu era em 1979, ouvinte de Fleetwood Mac e Rod Stewart jamais entenderia aquilo ).
Muitos fãs de Bowie que conheço acham Lodger o melhor Bowie. Eu não. A carreira de David é tão magnífica que apesar de sua subliminidade, Lodger fica abaixo de Low, de Hunky Dory e de Dogs.
Posso afinal voltar a falar do gênio com mais frieza. Ele partiu mas seus discos ficam. E Lodger, que acabei de reescutar, é o testemunho de uma viagem sem fim. Mais uma estação David.
Move On.
DIGNIDADE EM VIDA
Ele fecha os olhos e suspira. E sabe que sua morte foi a última parte de sua arte. Não escolheu sua partida, mas escolheu o modo como partir. Raros artistas no rock partiram de um modo tão digno. Não conseguimos lembrar de um escândalo. De uma briga. Bowie não teve um momento de vergonha. Não o vimos no palco, alquebrado, tentando cantar. Nunca houve um hotel quebrado. E ele não morreu drogado, bêbado ou abandonado. Se afastou. Saiu de cena. Lançou dois discos. E depois partiu. E conseguiu não ser esquecido.
Desde 1983 ele não tem um disco de sucesso. E desde 1987 nem um single memorável. Desde os anos 90 sem excursões grandes. E mesmo assim seu mito se manteve. Apoiado na genialidade de sete curtos anos, ele construiu um mundo de fãs e de artistas que lhe seguiram. O perfeito exemplo do artista que vendeu muito menos do que sua fama sugere. A explicação é simples: ele não era apenas um compositor ou um cantor. Bowie era uma filosofia. Sua fama era espalhada pelos seus seguidores. Gente que nunca comprava seus discos era exposta à voz de quem o idolatrava. E mais que tudo, ouviam discos de pessoas que amavam Bowie. A fama era uma teia. Net antes da NET existir.
A filosofia de Bowie era aquela que desde os anos 80 virou lei : fama é construção. Nada tem a ver com talento. Ser uma estrela é se comportar como uma. Nada tem a ver com sorte ou dom. Rock é show de teatro. Nada de verdade ou de real. Ele foi o primeiro a ter o despudor de falar isso. Depois, nada mais foi a mesma coisa. Para o bem ou para o mal.
Kurt, Jimi, Jim e Janis eram ingênuos. Acreditaram na fantasia e morreram seguindo o roteiro do rock star. Bowie, assim como Lou, sempre soube que morrer pelo rock era morrer pelo circo. Ele não embarcou nessa. ( O que não o impediu de escapar por um triz....mas conseguiu sobreviver ).
Morre. E como dizia Shakespeare: "Todos nascemos devendo uma morte à Deus". Morre como quis. Sem alarde. Sem show. Sem contagem regressiva. Acena um lenço da janela de sua nave. Se vai com Lou rumo ao Sattelite of Love.
PS: Converso com meu amigo Fabio e notamos que o Brasil está muito pouco Bowie. Tomar partido, fazer parte de grupos, dar chilique....Tudo contra a filosofia de David.
Desde 1983 ele não tem um disco de sucesso. E desde 1987 nem um single memorável. Desde os anos 90 sem excursões grandes. E mesmo assim seu mito se manteve. Apoiado na genialidade de sete curtos anos, ele construiu um mundo de fãs e de artistas que lhe seguiram. O perfeito exemplo do artista que vendeu muito menos do que sua fama sugere. A explicação é simples: ele não era apenas um compositor ou um cantor. Bowie era uma filosofia. Sua fama era espalhada pelos seus seguidores. Gente que nunca comprava seus discos era exposta à voz de quem o idolatrava. E mais que tudo, ouviam discos de pessoas que amavam Bowie. A fama era uma teia. Net antes da NET existir.
A filosofia de Bowie era aquela que desde os anos 80 virou lei : fama é construção. Nada tem a ver com talento. Ser uma estrela é se comportar como uma. Nada tem a ver com sorte ou dom. Rock é show de teatro. Nada de verdade ou de real. Ele foi o primeiro a ter o despudor de falar isso. Depois, nada mais foi a mesma coisa. Para o bem ou para o mal.
Kurt, Jimi, Jim e Janis eram ingênuos. Acreditaram na fantasia e morreram seguindo o roteiro do rock star. Bowie, assim como Lou, sempre soube que morrer pelo rock era morrer pelo circo. Ele não embarcou nessa. ( O que não o impediu de escapar por um triz....mas conseguiu sobreviver ).
Morre. E como dizia Shakespeare: "Todos nascemos devendo uma morte à Deus". Morre como quis. Sem alarde. Sem show. Sem contagem regressiva. Acena um lenço da janela de sua nave. Se vai com Lou rumo ao Sattelite of Love.
PS: Converso com meu amigo Fabio e notamos que o Brasil está muito pouco Bowie. Tomar partido, fazer parte de grupos, dar chilique....Tudo contra a filosofia de David.
O PIOR POST DA MINHA VIDA...BOWIE PARTIU...AQUILO QUE QUERIA NUNCA TER DE ESCREVER...
Te dará um incômodo chato se eu te disser que meus olhos estão vermelhos e inchados...que eu ando chorando por um cara que nunca me conheceu e a quem eu nunca vi de perto...Mas esse é o milagre da arte meu amigo, a gente ama alguém por nos ter dado muito, mesmo que sem querer ou saber.
Não há nada a dizer sobre o artista Bowie. Todo o rock feito depois dele é outro. Nunca mais foi ingênuo. O teatro entrou na coisa com ele e nunca mais saiu. Se você desconfia da sinceridade de um rock star você deve isso a David.
Mas todo mundo sabe disso. E eu não quero cair no banal. Eu lembro das mortes de Lou, de Miles, de Kevin, de Lennon...e esta está sendo a pior. A morte, essa maldita, ela nos leva a todos, mas eu não consigo a aceitar. Pobre planeta...cada vez mais vazio.
Prefiro falar de uma tarde em 1974. Em que um menino de 11 anos viu um clip de um inglês chamado Bowie. Na Globo, anunciado por Nelson Motta no programa Sábado Som. Fazia sol e meu irmão de 8 anos estava comigo. Ele cantou The Jean Gennie e minha vida mudou.
Ali estava um cara muito diferente. Não era um hippie cabeludo de jeans falando de amor. Não era um cara tentando me assustar falando de vampiros e de morcegos. Nem mesmo um cantor ao piano fazendo gracinhas e falando de amor. Não. Era um cara com roupa estranha, rosto maquiado e fotogênico, cabelo laranja, e cantando como se aquele blues fosse apenas "uma besteira". Não havia suor. Nem lagrimas. Ele não parecia sofrer e nem se esforçar. Sem eu notar ele me ensinava que a vida era uma PERFORMANCE.
Isso eu carrego pra sempre. E penso nos caras da minha geração que se perderam exatamente por isso. Nós, sempre com a ideia da performance, passando sempre a impressão de que estamos fingindo, brincando, sendo um pouco fake.
Agora ele se foi. E estranhamente noto que o mundo tem voltado a negar a performance. Nas redes sociais todos querem ser DE VERDADE....Veementes, duros, sérios...e acabam sendo tão fúteis em sua pretensão...
Foi isso que Bowie me mostrou. Que um cara sobre um palco ou um palanque não merece ser levado mais a sério que um cara na plateia. O publico é o star.
Descanse em paz David. E ...espere por mim....
Não há nada a dizer sobre o artista Bowie. Todo o rock feito depois dele é outro. Nunca mais foi ingênuo. O teatro entrou na coisa com ele e nunca mais saiu. Se você desconfia da sinceridade de um rock star você deve isso a David.
Mas todo mundo sabe disso. E eu não quero cair no banal. Eu lembro das mortes de Lou, de Miles, de Kevin, de Lennon...e esta está sendo a pior. A morte, essa maldita, ela nos leva a todos, mas eu não consigo a aceitar. Pobre planeta...cada vez mais vazio.
Prefiro falar de uma tarde em 1974. Em que um menino de 11 anos viu um clip de um inglês chamado Bowie. Na Globo, anunciado por Nelson Motta no programa Sábado Som. Fazia sol e meu irmão de 8 anos estava comigo. Ele cantou The Jean Gennie e minha vida mudou.
Ali estava um cara muito diferente. Não era um hippie cabeludo de jeans falando de amor. Não era um cara tentando me assustar falando de vampiros e de morcegos. Nem mesmo um cantor ao piano fazendo gracinhas e falando de amor. Não. Era um cara com roupa estranha, rosto maquiado e fotogênico, cabelo laranja, e cantando como se aquele blues fosse apenas "uma besteira". Não havia suor. Nem lagrimas. Ele não parecia sofrer e nem se esforçar. Sem eu notar ele me ensinava que a vida era uma PERFORMANCE.
Isso eu carrego pra sempre. E penso nos caras da minha geração que se perderam exatamente por isso. Nós, sempre com a ideia da performance, passando sempre a impressão de que estamos fingindo, brincando, sendo um pouco fake.
Agora ele se foi. E estranhamente noto que o mundo tem voltado a negar a performance. Nas redes sociais todos querem ser DE VERDADE....Veementes, duros, sérios...e acabam sendo tão fúteis em sua pretensão...
Foi isso que Bowie me mostrou. Que um cara sobre um palco ou um palanque não merece ser levado mais a sério que um cara na plateia. O publico é o star.
Descanse em paz David. E ...espere por mim....
VIENNA=ULTRAVOX. O TEMPO PASSA...
Estranho. Para onde foi a emoção? Aos 22, 23 anos eu me emocionava profundamente com este disco. Agora eu o acho bonito, mas não arrepiante. Seria porque eu evolui? Mas então porque um disco como Magic, de uma cantora chamada Cheryl Dilcher, um disco pop, comum, que eu amava aos 15 anos, hoje me comove como sempre comoveu? Magic não é melhor que Vienna. Será que encontro uma resposta satisfatória?
Acho que sim. O garoto que amou o disco de Cheryl aos 15 anos era um garoto que desejava de um disco apenas aquilo que Magic tem, música e diversão. E isso ele sempre vai ter. Músicas de um pop festivo, às vezes tristonhas, sempre simples. O que eu buscava em Magic no ano de 1978 continuo obtendo em 2015. Vienna não. Porque?
Em 1984, ano em que comprei Vienna ( ele é de 1980 ), os críticos mais interessantes se chamavam Pepe Escobar, Matinas Suzuki e Luis Antonio Giron. Nos textos de Pepe ele citava Keats, Huysmanns, Cocteau e Miró. Matinas falava de brumas londrinas, chá na madrugada e dores suicidas de amor. Já Giron escrevia como quem pinta porcelana, com extremo cuidado. Essa é a chave. Todos eles partiram, à partir de 1989/90 para outros campos. Giron foi escrever sobre música erudita e literatura, Matinas se debruçou sobre tecnologia e futurologia e Pepe foi viver fora, escreve sobre tudo, menos rock. Os três eram apaixonados pelo rock e pelo pop mais britânico dos anos 80, pop do qual Vienna é um belo representante. O que houve?
Aos 22 anos eu tinha em Vienna a porta de entrada para um mundo novo. O mundo que ia da primeira geração romântica até Andy Warhol. O disco prometia o acesso, fácil e simples, ao mundo da Arte. identifiquei isso na primeira vez em que ouvi, anos depois, uma banda como Radiohead. Ele facilita a entrada na Arte, mas sem ser Arte. O ouvinte sente toda a emoção de coisas como poesia, pintura abstrata, cinema japonês e romances modernistas, SEM PRECISAR TIRAR OS FONES DO OUVIDO. ( Basta dizer que em todo o ano de 1984 eu li apenas 5 livros ). O que acontece então?
Com o tempo eu conheci a fonte, o artigo genuíno, a tal Arte, e as emoções refinadas que Vienna parecia conter empalideceram. O que eu sentia escutando o disco agora sinto, de uma forma muito mais complexa, lendo, vendo ou ouvindo outras coisas. Vienna ficou lá. Foi trocado.
Isso não pode acontecer com, por exemplo, o Led Zeppelin. Ou mesmo Bowie. O que eles dão só em música pop ou rock podem dar. O meu amor por eles sempre foi puramente musical e rock`n`roll, no caso do Led, e no caso de Bowie, musical e estilosa. Bowie era um dos artigos autênticos que Vienna anunciava. A emoção de ouvir Beatles ou The band permanece porque amamos ""apenas""suas canções. Em Vienna eu amava a música, mas essa música simbolizava e anunciava mais do que ela era. Essa é a tragédia de tudo que se torna passado sem volta.
Mas é bonito.
Acho que sim. O garoto que amou o disco de Cheryl aos 15 anos era um garoto que desejava de um disco apenas aquilo que Magic tem, música e diversão. E isso ele sempre vai ter. Músicas de um pop festivo, às vezes tristonhas, sempre simples. O que eu buscava em Magic no ano de 1978 continuo obtendo em 2015. Vienna não. Porque?
Em 1984, ano em que comprei Vienna ( ele é de 1980 ), os críticos mais interessantes se chamavam Pepe Escobar, Matinas Suzuki e Luis Antonio Giron. Nos textos de Pepe ele citava Keats, Huysmanns, Cocteau e Miró. Matinas falava de brumas londrinas, chá na madrugada e dores suicidas de amor. Já Giron escrevia como quem pinta porcelana, com extremo cuidado. Essa é a chave. Todos eles partiram, à partir de 1989/90 para outros campos. Giron foi escrever sobre música erudita e literatura, Matinas se debruçou sobre tecnologia e futurologia e Pepe foi viver fora, escreve sobre tudo, menos rock. Os três eram apaixonados pelo rock e pelo pop mais britânico dos anos 80, pop do qual Vienna é um belo representante. O que houve?
Aos 22 anos eu tinha em Vienna a porta de entrada para um mundo novo. O mundo que ia da primeira geração romântica até Andy Warhol. O disco prometia o acesso, fácil e simples, ao mundo da Arte. identifiquei isso na primeira vez em que ouvi, anos depois, uma banda como Radiohead. Ele facilita a entrada na Arte, mas sem ser Arte. O ouvinte sente toda a emoção de coisas como poesia, pintura abstrata, cinema japonês e romances modernistas, SEM PRECISAR TIRAR OS FONES DO OUVIDO. ( Basta dizer que em todo o ano de 1984 eu li apenas 5 livros ). O que acontece então?
Com o tempo eu conheci a fonte, o artigo genuíno, a tal Arte, e as emoções refinadas que Vienna parecia conter empalideceram. O que eu sentia escutando o disco agora sinto, de uma forma muito mais complexa, lendo, vendo ou ouvindo outras coisas. Vienna ficou lá. Foi trocado.
Isso não pode acontecer com, por exemplo, o Led Zeppelin. Ou mesmo Bowie. O que eles dão só em música pop ou rock podem dar. O meu amor por eles sempre foi puramente musical e rock`n`roll, no caso do Led, e no caso de Bowie, musical e estilosa. Bowie era um dos artigos autênticos que Vienna anunciava. A emoção de ouvir Beatles ou The band permanece porque amamos ""apenas""suas canções. Em Vienna eu amava a música, mas essa música simbolizava e anunciava mais do que ela era. Essa é a tragédia de tudo que se torna passado sem volta.
Mas é bonito.
INGLESES PERDEM A VIRGINDADE EM NEW YORK....
...E quando voce a perde é for ever.
Penso nos inocentes ainda cabaçudos. Mesmo que parecessem loucos ainda eram caipirinhas ingleses, ainda de pantufas e com seu cup of tea. Achando que vomitar no pub era o máximo! Ou dizer fuck na BBC.
Penso no Stone Roses excursionando pela América e se destruindo. No Happy Mondays pirando em becos de Detroit. New York engoliu a virgindade de vários ingleses que lá caíram e se perderam pra sempre. E mesmo os Beatles, que começaram a virar homens com Dylan e guiados por Dylan, melhoraram após a América, mas começaram a se desarmonizar.
Penso no Clash experimentando os USA e não segurando a barra. E nos Pistols morrendo a cada milha das highways. USA não é para ingleses, é para irlandeses. O U2 se descobriu na América. Os Stones só se tornaram os Stones após a viagem ao Alabama e New York. E o Led Zeppelin foi inflado pela América.
Mas a maioria das desvirginizações foi traumática. O Who ficou para sempre a deriva depois de Woodstock. E um monte de gente desistiu por nunca conseguir comer a maçã americana: Roxy, T.Rex, Small Faces, Traffic etc etc etc. Os Smiths perderam o porque nos USA e após a adoração americana o Radiohead ficou preso na dúvida. O Oasis nunca foi big em New York e assim deixou seu destino a deriva. Porque New York é só para aqueles que sabem seduzir a sedutora. É preciso saber mexer a libido.
David Bowie caiu de nariz em New York e a conquistou. Fame foi number one. E quem o recebeu de braços abertos foi Lennon, o New Yorker. E em troca a terra de Andy quase o matou. Bowie, como 99% dos stars, pirou em Manhattan. De certa forma morreu. O Bowie londrino morreu aqui for ever. E mesmo o Bowie novaiorquino morreu aqui. Mas voltou em 1983, vampiro.
TODOS os fãs de Bowie odiaram este disco. No preconceituoso mundo de 75 voce era ou black ou white. E white não fazia música assim. Sem solos, sem berros, sem suor, sem heroísmo. Bowie não se vende como herói. Ele seduz como bitch.
O disco é um de seus melhores. E em nada lembra seus outros trabalhos. OU....digamos que tudo o que ele fez entre 1983-1990 foi Young Americans piorado.
Uma faixa como Win chega ao céu. O final é de uma beleza fria arrepiante. Mas todo o disco é soberbo. É pra dançar. E para escutar com atenção. Depois deste disco Paul Weller, Daft Punk, Blondie, Duran Duran, Madonna, George Michael, Inxs, Bryan Ferry encontraram seu caminho. Sem Young Americans quem abriria o caminho? Quem inventaria o soul branco?
O disco é luxuoso, conceito inexistente no POP Rock até então. Bowie cria o conceito de luxo, de chic, de finésse.
Nunca mais seríamos os mesmos.
Penso nos inocentes ainda cabaçudos. Mesmo que parecessem loucos ainda eram caipirinhas ingleses, ainda de pantufas e com seu cup of tea. Achando que vomitar no pub era o máximo! Ou dizer fuck na BBC.
Penso no Stone Roses excursionando pela América e se destruindo. No Happy Mondays pirando em becos de Detroit. New York engoliu a virgindade de vários ingleses que lá caíram e se perderam pra sempre. E mesmo os Beatles, que começaram a virar homens com Dylan e guiados por Dylan, melhoraram após a América, mas começaram a se desarmonizar.
Penso no Clash experimentando os USA e não segurando a barra. E nos Pistols morrendo a cada milha das highways. USA não é para ingleses, é para irlandeses. O U2 se descobriu na América. Os Stones só se tornaram os Stones após a viagem ao Alabama e New York. E o Led Zeppelin foi inflado pela América.
Mas a maioria das desvirginizações foi traumática. O Who ficou para sempre a deriva depois de Woodstock. E um monte de gente desistiu por nunca conseguir comer a maçã americana: Roxy, T.Rex, Small Faces, Traffic etc etc etc. Os Smiths perderam o porque nos USA e após a adoração americana o Radiohead ficou preso na dúvida. O Oasis nunca foi big em New York e assim deixou seu destino a deriva. Porque New York é só para aqueles que sabem seduzir a sedutora. É preciso saber mexer a libido.
David Bowie caiu de nariz em New York e a conquistou. Fame foi number one. E quem o recebeu de braços abertos foi Lennon, o New Yorker. E em troca a terra de Andy quase o matou. Bowie, como 99% dos stars, pirou em Manhattan. De certa forma morreu. O Bowie londrino morreu aqui for ever. E mesmo o Bowie novaiorquino morreu aqui. Mas voltou em 1983, vampiro.
TODOS os fãs de Bowie odiaram este disco. No preconceituoso mundo de 75 voce era ou black ou white. E white não fazia música assim. Sem solos, sem berros, sem suor, sem heroísmo. Bowie não se vende como herói. Ele seduz como bitch.
O disco é um de seus melhores. E em nada lembra seus outros trabalhos. OU....digamos que tudo o que ele fez entre 1983-1990 foi Young Americans piorado.
Uma faixa como Win chega ao céu. O final é de uma beleza fria arrepiante. Mas todo o disco é soberbo. É pra dançar. E para escutar com atenção. Depois deste disco Paul Weller, Daft Punk, Blondie, Duran Duran, Madonna, George Michael, Inxs, Bryan Ferry encontraram seu caminho. Sem Young Americans quem abriria o caminho? Quem inventaria o soul branco?
O disco é luxuoso, conceito inexistente no POP Rock até então. Bowie cria o conceito de luxo, de chic, de finésse.
Nunca mais seríamos os mesmos.
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