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ALAIN DELON/ CARY GRANT/ HAWKS/ DORIS DAY/ ANNE BANCROFT/ SPENCER TRACY/ AL PACINO

   O INVENTOR DA MOCIDADE ( Monkey Business ) de Howard Hawks com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn e Marilyn Monroe.
É o primeiro fracasso de bilheteria de Hawks e um dos raros de Cary. Hawks vinha de 15 anos seguidos de sucessos quando resolveu fazer na Fox este roteiro de Lederer e Diamond. Os dois são roteiristas que trabalharam com Billy Wilder, e isso explica muito sobre o filme. O humor tem a grossura despudorada de Billy. Não tem o estilo humanista de Hawks. De qualquer modo o filme é tão louco que diverte, além do que o elenco é sensacional. Cary é um cientista que tenta criar a fórmula do rejuvenescimento. Um macaco cobaia mistura elementos e Cary bebe aquilo sem querer. Súbito ele volta aos 19 anos. Passa a ter o comportamento de um teen. Ginger é a esposa, que acaba por voltar aos 14 anos. Monroe faz uma secretária e este é dos seus primeiros papeis importantes. Ainda gordinha, ela é tremendamente sensual. O final, com Cary voltando aos 7 anos e amarrando um adulto na árvore para tirar seu escalpo é uma mistura de hilariedade com o incômodo do excesso de ridiculo. O filme se equilibra o tempo todo nesse fio, de um lado uma soberba alegria, de outro o ridiculo. As cenas com Ginger passam todas do ponto. Cary mantém a elegância. Um grande ator! Quer saber? Após seu encerramento deu vontade de ver outra vez. Nota 7.
   CARÍCIAS DE LUXO de Delbert Mann com Cary Grant, Doris Day e Gig Young.
Doris é a super-virgem. Desempregada, ela conhece o super rico Cary Grant. Ele tenta a seduzir com dinheiro. E consegue! Mas ela é virgem e defende sua honra. Bem, não poderia haver tema mais antigo. Imagino um cara de 15 anos vendo isso! Belos cenários e um Gig Young hilário como um paciente de um freudiano, não conseguem salvar o filme. Cary parece desinteressado, entediado ( este era o tempo em que ele descobria o LSD ). Nunca ninguém, naquela época, percebeu como Doris era sexy? A voz dela é de erguer defunto! Nota 4.
   STANLEY AND LIVINGSTONE de Henry King com Spencer Tracy, Walter Brennan e Cedric Hardwicke.
As convenções do filme de aventuras foram criadas por 3 grandes aventureiros da vida real: Raoul Walsh, Howard Hawks e Henry King. Todas as técnicas criadas pelos 3 são usadas até hoje. Pode-se enfeitar um filme o colocando no espaço, em outra dimensão ou fazer do mal o bem, mas o esquema é exatamente o mesmo. Aqui temos um dos melhores exemplos. Feito em 1939, o filme mostra Stanley, feito por um brilhante Spencer Tracy, partindo para a África desconhecida, em 1870, atrás do paradeiro de Livingstone. Em hora e meia o filme, com ritmo, tem um pouco de tudo: exploração do desconhecido, humor com o amigo do heróis, encontros inesperados, suspense e depois a edificação e o crescimento do herói. Ele retorna à sua terra como um homem melhor. Até uma cena de tribunal temos. Henry King foi um grande diretor. E como ser de seu tempo, dirigiu de tudo, westerns, comédias, dramas e musicais. Nota 8.
   O RIO DA AVENTURA de Howard Hawks com Kirk Douglas e Arthur Hunnicut.
O dvd tem belos extras. A voz do velho Kirk falando do filme, fotos de Michael Douglas aos 6 anos visitando o pai no set e Todd MacCarthy, um dos melhores críticos, falando do filme. Mas, surpeendentemente, a imagem não foi refeita e a foto está em mal estado. Feito em 1952, é o segundo maior fracasso da carreira de Hawks. O público da época estranhou esta aventura lenta, calma, primeira experiência do estilo Hawks de filmagem, que seria mais bem desenvolvida nos filmes seguintes. Como é esse estilo? Focar nos personagens e não na ação. Veja: aqui temos Kirk como um aventureiro no Oeste que vai com um grupo à procura de peles em terras inexploradas. Sobem o rio e encontram aventuras. Muitas. Mas todo interesse do filme é mostrar o cotidiano, o dia a dia, a personalidade de Kirk e de seus companheiros ( dentre eles um excelente Hunnicut fazendo um velho do mato ). Desse modo a sensação que fica é de pouca ação e de muito papo furado, o tal estilo Hawks. MacCarthy descreve bem, achamos o filme falho, mas quando termina queremos mais. Acabamos por gostar daquelas pessoas e desejamos sua companhia. É isso que acontece com os bons filmes de Hawks, o mais discreto dos mestres. O filme tem falhas sim, mas a gente acaba querendo mais. Nota 8.
   MOMENTO DE DECISÃO de Herbert Ross com Shirley MacLaine, Anne Bancroft, Tom Skerrit, Mychail Baryshnikov, Leslie Browne.
Este filme de 1977 tem um recorde. Junto com A Cor Púrpura, é o maior perdedor da história do Oscar. Foram 11 indicações e nenhum prêmio. Na época era moda falar mal dele. Ou melhor, os críticos o detestaram, o público adorou. Hoje a situação é a mesma. Não virou cult. Conta a história do reencontro de duas mulheres de meia idade. Amigas antigas, as duas foram grandes bailarinas. Uma largou tudo ao ficar grávida. A outra persistiu e se tornou estrela em NY. No reencontro se faz o balanço, a briga, a reconciliação. Eu adorei o filme. Assisti sem a menor expectativa e gostei muito. Me emocionei. Ele mostra com sagacidade a questão da idade, da fama e da solidão. E Anne está soberba! A diva é sempre humana, e a mulher é uma diva. A cena da briga entre ela e Shirley foi homenageada em Dancin Days, a novela. Gilberto Braga é um grande fã do filme. A fotografia de Robert Surtees impressiona muito. E vemos a estréia da super estrela e do sex symbol da época, Baryshnikov. Foi indicado a coadjuvante! Faz um bailarino hetero e playboy. Bom. Vemos Marcia Haydée nas cenas de dança, em seu auge como bailarina. Um lindo filme que teve o azar de concorrer nos ano de Annie Hall, Julia e Star Wars. Nota 8.
   UM MOMENTO, UMA VIDA ( Bobby Deerfield ) de Sidney Pollack com Al Pacino e Marthe Keller.
Assisti este filme no cine Astor, em 1978. Senti um profundo tédio. Revendo agora, senti um profundo desgosto. É o pior filme de Pollack, isso é aceito por todos, mas é também o pior de Pacino, e olhe que Pacino fez muito filme ruim. Uma sopa melosa e lenta, metida à filme de arte, sobre um famoso piloto da Fórmula 1. Ele perdeu suas raízes, virou um tipo de robot arrogante. Ao visitar um piloto acidentado na Suiça, conhece uma italiana doidinha que está morrendo...O filme evita o drama e vira um vazio. Tudo é seco e lento. Argh. Vemos James Hunt, Pace e Depailler nas cenas de corrida....que duram cinco minutos!!! Uma enganação...fuja! PS: Keller era um alemã que tinha corpo e rosto, bonito, de Valkiria. Como acreditar que frau Keller é uma italiana maluca????? Aff....ZERO!
   O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Maurice Ronet e Marie Laforet
Simplesmente o filme mais chique já feito. Itália em 1960 alcançou um nível de elegância sem ostentação que transparece em cada segundo do filme. Ronet descalço e sem camisa, parece o mais chique dos homens. Delon, com terno claro, com dock sides, com polo, sempre parece modelo da Vogue. Mas, eis o charme, tudo sem formalidade, sem afetação, com certo desleixo. Foi o auge do estilo mediterrâneo, que todos procuram e quase ninguém o revive. Clement consegue, ao seguir o livro de Patricia Highsmith, fazer um filme à altura de suas imagens. Ele é lindo e tem muito suspense. Gostamos de canalha Delon. O ator se confunde com o tipo. Houve ator mais diabólico e bonito? A refilmagem de 1999, de Minghella, colocou Matt Damon como Delon...aff!!! Jude Law era Maurice Ronet. O que era chique virou novo rico, parecia formal e Damon era um teen vestido de adulto. Aqui não! Até a carteira de Delon parece elegante! E temos o final, um dos mais inesperados da história. Um grande filme e um super sucesso de bilheteria. DEZ!!!!!!

SE PUDER DIRIJA/ PAOLO SORRENTINO/ RUBEN ALVES/ JOSÉ WILKER/ FRED ASTAIRE/ KISS ME KATE!

   NAS ÁGUAS DA ESQUADRA de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers e Randolph Scott.
Não é dos meus Astaire/Rogers favoritos. Ele é um marujo que em férias se envolve, na verdade reencontra, sua ex-partner de show. O filme foi feito para provar que Astaire era macho. Desse modo o vemos mascando chicletes, praguejando, apostando, sendo do povo. Prefiro seus filmes ultra-refinados. Claro, ele dança. E Ginger é maravilhosa! A trilha, fantástica é de Irving Berlin. Nota 7.
   TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Para a maioria é o filme número um da dupla. Eu adoro este filme, mas prefiro Shall We Dance e Gay Divorcée. Uma trilha sonora fabulosa de Irving Berlin. Fred é um dançarino em hotel que perturba com seu sapateado a vizinha Ginger. Acabam por se apaixonar. E brigam, e voltam...Se o enredo é convencional os diálogos não são. Eles brilham em humor e esperteza. Cenários brancos e brilhantes, figurinos inesquecíveis e as danças enevoantes da dupla. Ruy Castro diz que a Veneza de papelão deste filme é como Veneza deveria ser. Um sonho em P/B. Nota Dez.
   KISS ME KATE! de George Sidney com Howard Keel, Kathryn Grayson, Ann Miller, Bob Fosse
Escrevi sobre esse filme abaixo. É um dos meus dez musicais favoritos. A trilha de Cole Porter é perfeita. Tem humor, romance, chic e criação. Keel nunca esteve melhor, um Petruchio perfeito. É um filme que dá uma forte sensação de sonho. Equivale a dormir acordado. Muita cor, muita beleza, muita diversão. Um testemunho da decadência de nossa civilização é o fato de não mais se fazerem filmes como este, tão urbanos, elegantes e educados. Um arraso! Nota DEZ!
   A GRANDE BELEZA de Paolo Sorrentino com Toni Servillo
Escrevi sobre ele abaixo. Um grande filme. Tem o melhor do velho cinema italiano, invenção e aquela mistura de humor e melancolia que só os italianos sabem fazer. O estilo é Felliniano. Tipos e rostos INTERESSANTES, mistura de tempos, sonho que se confunde com o dia a dia...Ainda haverá gente nos cinemas que entende um filme tão sofisticado? Cenas de imensa beleza. Inesquecível. Nota DEZ.
   A GAIOLA DOURADA de Ruben Alves com Rita Blanco, Joaquim de Almeida
Uma co-produção luso-francesa que foi um grande sucesso nos dois países. Ainda não passou por aqui. Fala de imigrantes portugueses que vivem em Paris. Um deles recebe uma herança e resolve voltar a sua terra. Mas os patrões, franceses, fazem de tudo para que ele fique. O tema fala direto a minha vida. 90% de meu sangue está em Paris, nas veias de imigrantes que lá vivem a mais de 40 anos. E mesmo assim eu achei o filme chato. Falta fogo, algum tipo de animação, de trama, Ele é solto demais, colorido demais, óbvio demais. Porque tanto sucesso? ( Foi o maior hit de 2013 na França ). Nota 3.
   CASA DA MÃE JOANA 2 de Hugo Carvana com José Wilker, Paulo Betti, Antonio Pedro
Quer saber como era o Brasil em 1973? Veja este filme. Apesar de ser de 2013 e se passar em 2013, seu humor é aquele de 1973. Não sou moralista, mas esse tipo de malandro carioca de 1973 hoje parece muuuuito imoral. Seus golpes, antes inocentes e hilários, agora nos irritam por recordar Brasília. A gente não aguenta mais malandros simpáticos dando golpes bem-humorados! O filme então desaba. ZERO!
   SE PUDER DIRIJA de Paulo Fontenelle com Luiz Fernando Guimarães, Leandro Hassun e Gianechinni.
É útil ver este filme. Ele nos ensina como NÃO se deve dirigir uma comédia. Chega a ser um mistério saber o que o diretor Fontenelle queria. Destruir o roteiro? Humilhar o elenco? A trama é aquela que os americanos fazem de olhos fechados, um pai e sua relação dificil com ex-mulher e filho. Uma trapalhada no trabalho e no fim a reconciliação com o filho. Chevy Chase e Billy Crystal fizeram toneladas de filmes assim. E todos são pelo menos simpáticos. Porque sabem ter ritmo, algo que Fontenelle desconhece. Suas cenas são longas, paradas, silenciosas, frias, esticadas, sem time nenhum. Será que ele queria dar uma de Jacques Tati e fazer humor delicado?? Putz, como ele se acha! E como errou feio!!! O filme é amador. ZERão!!!!

CLINT/ BOB FOSSE/ FORD/ WILLIAM POWELL/ SPIELBERG/ STEVE MARTIN

   O DESAFIO DAS ÁGUIAS de Brian G. Hutton com Richard Burton e Clint Eastwood
Tudo dá errado. Pelo menos este filme serve pra valorizarmos ainda mais a Dirty Dozen. Fala sobre grupo de soldados que deve invadir a Alemanha para resgatar general. Burton está passivo, com expressão de completo tédio. Clint nada tem a fazer. Seu personagem é apenas um enfeite, um americano bonitão zanzando pelo set. Uma aventura que não tem suspense, não tem humor, não tem nada. Nota 1.
   LENNY de Bob Fosse com Dustin Hoffman e Valerie Perrine
A vida do humorista Lenny Bruce é contada como uma febre de jazz. Em luxuoso P/B, Dustin Hoffman dá uma interpretação frenética, se entrega ao personagem. O filme tem uma falha: não revela a alma de Lenny. Mas suas qualidades, a criativa ousadia de Fosse, homem que conhecia o ambiente de cabaret onde Lenny viveu. Valerie Perrine tem uma atuação à altura, sexy e vulnerável. Belo filme. Nota 8.
   SANGUE POR GLÓRIA de John Ford com James Cagney
Talvez seja o pior filme de Ford. Não se decide entre drama e comédia. Passado na guerra, brinca com situações espinhosas, nunca convence. Nota 3.
   O RAPTO DA MEIA-NOITE de Stephen Roberts com William Powell e Ginger Rogers
O diretor é fraco, mas Powell e Ginger são excelentes, e então se torna um prazer ver o filme. Feito em 1935, ele lembra muito Thin Man, sucesso de Powell na época. Ele é um advogado que desvenda um rapto. Ginger é sua namorada. Powell desfila seu humor fino, sua classe, a voz que baila pelos diálogos. Ginger, o rosto cheio de ironia, é sexy em todas as cenas. Os olhos zombeteiros e a voz em desafio constante. O filme é para os dois. Nota 6.
   O ARTISTA de Michel Hazanavicius com Jean Dujardim e Bérenice Bejo
Ele é corajoso, excêntrico e tem uma atuação genial de Dujardim. Ele faz uma mistura de Douglas Fairbanks com Gene Kelly que é comovente. Mas tem suas falhas, a foto em P/B é pobre e a história é simplória. De qualquer modo, é um filme realmente diferente, que ousa não apostar em efeitos, em sexo e violência. O Oscar 2012 toma partido, tenta valorizar filmes de bons sentimentos. Missão inglória, nosso tempo é de bad feelings. Nota 7,
   O GRANDE ANO de David Frankel com Steve Martin, Owen Wilson e Jack Black
O diretor fez o Diabo veste Prada e Marley e Eu. Se esses dois filmes eram ainda agradáveis, este é irritante. Consegue se deslocar do Alasca até o Texas e mesmo assim não ter uma só imagem memorável. Isso porque tudo é feito em close e com uma insistência ridicula em cortar e cortar e mover o foco. Todos os cortes são exagerados, eles são errados todo o tempo. E tome movimento, tome mudança de cena, tome narração de fundo ( pelo Monty Python John Cleese ). Histerismo, nulidade. A história, que fala sobre 3 homens apaixonados por observar pássaros, é desperdiçada. O que dizer de um filme sobre a natureza que exibe muito mais celulares e carros que paisagens e bichos? Steve Martin, que foi um talento imenso, destruiu seu rosto: as plásticas eliminaram seu talento facial. Jack Black faz as mesmas caras e bocas de sempre e Owen é o mais esforçado, o que não significa muito aqui. Eis um filme que demonstra o tipo de cinema televisivo que está matando o cinema cinema. Nota ZERO.
   CAVALO DE GUERRA de Steven Spielberg
Careta, conservador, pouco ousado, e delicioso. Um mestre fazendo um filme de mestre. Há idiotas que reclamaram da guerra ser "mal mostrada"... Como? É coisa daquela gente que só consegue se emocionar às porradas. Precisa de visceras e sangue para sentir. Coitados.... Outra crítica é ao encontro do soldado inglês com o soldado alemão. Para mim é uma cena belíssima. Fantasiosa, hilária, corajosa. Viagem de Steven? Sim! Que bom! É um prazer assistir esta história. Plenamente satisfatória, seu não-sucesso atesta a decadência do público de cinema e não de seu diretor. Ele nos relembra o prazer de se ver e ouvir uma história bem contada. Nota 9.

GINGER ROGERS/ JAMES WHALE/ OTTO PREMINGER/ RIO/ XAVIER BEAUVOIS

MÃE POR ACASO de Garson Kanin com Ginger Rogers e David Niven


Como ator coadjuvante Niven é excelente, mas não se segura como ator romântico central. Ginger está esperta e sexy como sempre, mas Niven não lhe faz contraponto adequado, além do que, Garson Kanin sempre foi bom escritor, mas nunca bom diretor. Um filme que tinha tudo para brilhar, decepciona. Nota 4.


HOMENS E DEUSES de Xavier Beauvois com Lambert Wilson e Michel Lonsdale


Primeiro uma explicação: eu não escrevo sobre os filmes que desejo escrever aleatoriamente. Escrevo sobre os filmes que assisti naquele período. Portanto, são estes os filmes que vi nos últimos dez dias. Este é um filme que irritará os preconceituosos ( parece ser o caso da Veja, que o taxou de anti-islã ). Bobagem! É apenas um filme que admira a fé e a coragem de religiosos católicos que não abandonam região islâmica onde correm perigo. A França tem essa tradição: é país de imenso ateísmo e ao mesmo tempo é berço do catolicismo mais puro. Beauvois e Bruno Dumont tentam ser os Bresson/ Rhomer de agora. Não conseguem. Digamos que este é um filme simples. E bastante sincero, portanto, corajoso. Só isso. Nota 5.


O RETORNO DE TOPPER de Roy del Ruth com Roland Young, Joan Blondell e Carole Landis


Moça é assassinada e seu fantasma é ajudado por Topper, o senhor simpático e simplório que consegue ver as almas do além. Comédia dos anos 30: ou seja, sem medo de ser feliz. É a terceira continuação do sucesso de 1937. Longe de ser tão divertida quanto a original, mesmo assim é um passatempo agradável. Nota 6.


THE OLD DARK HOUSE de James Whale com Melvyn Douglas, Charles Laughton, Boris Karloff, Gloria Stuart


Que grande diretor era Whale!!!! Para quem não se lembra, é ele o assunto de Deuses e Monstros, o belo filme de Bill Condon. Homossexual assumido e nada discreto, foi ele o criador do Frankenstein original. Aqui ele conta a história de grupo de viajantes que se abriga em casa misteriosa. Lá vivem um senhor misterioso ( e obviamente gay ) uma velhinha hilária e tétrica ( um personagem genial ) e trancafiado num porão um louco piromaníaco ( outra criação genial ). O filme é assustador e ao mesmo tempo é assumidamente hilário. Whale subverte tudo, seu cinema estava antecipando os anos 70. Lembra De Palma e lembra Mel Brooks. Gloria Stuart está sempre em negligé branco, longa, magra e sexy, e Laughton faz um balofo e alegre jovem playboy. O filme, todo feito em casa escura, suja e úmida, é soturno e ao mesmo tempo animado, vivo, alegre, pleno em criação. Para amantes de cinema é uma festa. Nota 9.


A CASA DOS MAUS ESPÍRITOS de William Castle com Vincent Price


Castle era o picareta rei dos drive-in ( cinemas para ver filmes dentro do carro ). Isto é uma bobagem sem clima, sobre festa em casa assustadora. Foi refilmado em 2000. Uma chatice. Zero.


O GATO PRETO de Edgard G. Ulmer com Bela Lugosi e Boris Karloff


Em termos de cortes e angulos de filmagem é de absoluta modernidade. Ulmer, recém vindo da Alemanha, traz o tipo de cinema de Lang e Murnau consigo. Décors cheios de arquitetura modernista ( à Bauhaus ) e figurinos futuristas. Mas há tanto exibicionismo aqui, o clima é tão opressivo ( Nazi ) que assistir a este filme é um quase sacrificio. Nota 1.


CZARINA de Otto Preminger com Tallulah Bankhead, Anne Baxter e Charles Coburn


Lubistch produziu e não dirigiu. Uma pena. Com Lubistch o filme ( sobre a sedução que Catarina, a Grande, da Russia, impõe a tolo soldado patriota ) seria leve e borbulhante. Com Preminger ele é travado. Os primeiros minutos prometem um filme delicoso, graças a excelencia dos diálogos, mas ele emperra nas cenas de sedução. O jovem soldado é feito por ator inexpressivo e chega a dar raiva sua falta de tato. Tallulah, mito do teatro americano, está ok. Preminger foi excelente em policiais e em dramas de denúncia, em comédia lhe falta convicção. Nota 4.


RIO de Carlos Saldanha


Longe da poesia sublime de Wall.e ou da riquesa de Ratatouille, este é mais um bom desenho desta era de bons desenhos. Ter preconceito contra cartoons hoje é não querer ver o óbvio: eles são mais sérios que 99.99999% dos filmes pseudo adultos. Falam do que importa e não têm medo de tentar. São pop e são sinceros. Em 2100, se alguém ainda estudar cinema, os anos 2000 serão lembrados como era de desenhos. Divirta-se!!!!! Nota 7.

MICHAEL POWELL/ LEAN/ HEPBURN/ FRED E GINGER/ CHOW

KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow com Stephen Chow
Imenso sucesso na Asia, este filme é o que pode ser chamado de festa de reveillon. Ele é muuuito engraçado e é feito com uma técnica cinemática assombrosa. Chow usa todas as referências possíveis : Tarantino, Keaton, Tati, Scorsese e ainda Fred Astaire ( há bela homenagem a Top Hat ). Sem dúvida é um dos grandes filmes deste milênio. É ver para crer. Nota DEZ!!!!!
OS 5 VENENOS de Chang Cheh
Clássico da Shaw Brothers. Fala de grupo de ex discipulos Shao Lin que procura tomar posse de fortuna. É cada um por si. As lutas são estupendas, os cenários muito criativos e a diversão está garantida. Como já falei, após esse aprendizado de filmes orientais, fica dificil para mim engolir a parte de ação de filmes como Batman, Homem de Ferro e que tais. Nota 7.
O ESPIÃO NEGRO de Michael Powell com Conrad Veidt e Valerie Hobson
Para Scorsese e Coppola, Michael Powell foi um gênio, o maior diretor da Inglaterra. Eu concordo. Todos os seus filmes variam entre o genial e o excelente. Além do que ele fez de tudo : comédia, drama, musical, fantasia, aventura, filme experimental. E culminou com A Idade da Reflexão, o filme mais alegre da história. Este é de seus primeiros filmes e fala de espião nazi que trabalha na Escócia. Suspense hitchcockiano, belo clima de fatalidade, tudo feito com rapidez e simplicidade. Um gênio em seu nascimento. Nota 7.
UMA MULHER DO OUTRO MUNDO de David Lean com Rex Harrison
Mas a maioria acha que David Lean é o maior dos ingleses ( Spielberg e Fincher o colocam nas alturas ). Sem dúvida foi um gigante. Aqui, no começo de sua hiper vitoriosa carreira, ele adapta uma peça de imenso sucesso de Noel Coward....Ah Noel Coward....Nada foi mais pop no final do imperio britânico que Coward ( lá entre 1915/1955 ). Suas peças, suas canções, as frases que ele dizia... Noel era o inglês que todo inglês queria ser. A partir de 1959, quando os Angry Men tomaram a cena, Noel Coward se foi para o limbo. Waaaal....esta peça/filme trata de fantasma de esposa que volta a terra para atrapalhar o casamento de ex-marido. Há ator de comédia fina melhor que Rex Harrison ? O filme é uma efervescente bobagem. Nota 7.
PAT E MIKE de George Cukor com Kate Hepburn, Spencer Tracy e Aldo Ray
Kate e Spencer tiveram um caso extra-conjugal que durou toda a maturidade dos dois. Mas, por ele ser um fervoroso católico irlandês, jamais se divorciou da esposa. A imprensa, que respeitava muito os dois, sabia de tudo mas não divulgava nada ( belos tempos éticos ). O caso só veio à tona quando a esposa de Tracy morreu. Nesse tempo de affair ( que terminou com a morte dele em 1967, foram 35 anos de caso ), os dois fizeram uma série de comédias adultas. O tema era sempre sobre casais de opostos, ela geralmente sendo uma feminista e ele um machão bonachão. Alguns desses filmes se tornaram clássicos absolutos e outros nem tanto. Este, que fala de esportista fenomenal ( Kate ) que se sente insegura quando assistida pelo noivo chato, é dos menos bons. É bacana ver como eram o tênis, o golfe e o basquete na época, mas Cukor está em seus dias de preguiça. ( George Cukor tinha o dom da imagem. Fez alguns dos filmes mais "belos" do cinema. Sabia ser chic, esperto, leve. Mas por ser um grande festeiro e colecionador de arte, as vezes parecia fazer filmes preguiçosos, feitos no piloto automático. Este é desses. ) De qualquer modo, é sempre um prazer ver Kate em ação. Nota 5.
FOLLOW THE FLEET de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ele é um marinheiro em folga. Ela é sua ex-noiva. Ele tenta reconquistá-la. Com as músicas de Irving Berlin fica fácil. O filme é dos menos geniais da dupla: é "apenas" delicioso. Ginger Rogers está belíssima e apimentada como sempre. Fico imaginando a alegria que deveria ser em 1937, ver esse filme e em seguida levar sua menina para jantar e dançar.... Nota 8.
TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Cenários art-déco em branco. As paredes são brancas, os móveis são todos em branco, o chão é prata, os objetos de vidro. Van Nest Polglase e Carrol Clark faziam esses sets que eram como o paraíso na tela. O filme fala de homem que conhece garota, se apaixona, a perde e tenta a reconquistar. Astaire consegue o milagre: dizer tudo dançando. Para entender a genialidade dos melhores musicais é preciso entender isso : quando a música começa, a alma dos personagens fala. Ouvimos e vemos o que eles pensam e sentem. E ninguém fez isso melhor que Fred e Ginger. Cada passo e cada olhar transmitindo tudo aquilo que voce já sentiu ou viveu com alguém. Isso é magia pura. Este foi o maior sucesso da dupla e salvou a RKO do vermelho. Um dos maiores clássicos do cinema, homenageado em Wall E, em Kung Fu Hustle, em A Lenda e mais uma infinidade de filmes. Ele é sempre usado como " a coisa mágica que ficou do passado lembrando ao homem que viver vale a pena ". Quem fez mais que isso? Nota impossível.
SWING TIME de George Stevens com Fred Astaire e Ginger Rogers
Os críticos mais "sérios" consideram este o melhor filme da dupla. Eu discordo. Acho o mais esquisito. A parte cômica é a menos ótima, porém, a parte musical é a melhor. Jerome Kern fez uma seleção de canções que variam do sublime ao inesquecível. Bojamgles of Harlem em que Fred se pinta de negro e homenageia seu ídolo ( Bill Robinson, o gênio do taps ) é dos maiores momentos da história das telas. Mas tem mais: a cena na neve ( que lindo set ! ) e a hora em que se canta The Way You Look Tonight, quem já amou irá se comover. Mas a magia insuperável nasce quando Fred e Ginger se despedem "para sempre", e tentando reatar ele canta Never Gonna Dance ( para mim, junto com Falling in Love Again, as duas músicas que melhor retratam o amor ). Nesse momento, junto a escadaria em set vazio, Fred consegue em música e dança, transmitir todo o desespero de alguém que percebe o amor partir. É de uma beleza aterradora ! Bergman precisa de duas horas para fazer o mesmo efeito ! ( E Bergman é um gênio ! ). Quando Ginger afinal cede e começa a dançar com ele, voce percebe então : eis a tal "arte americana", a arte puramente da América, a arte de se dizer muito se usando pouco, a arte de se comunicar a muitos um segredo de poucos. O filme, em que pese suas várias cenas erradas, se afirma como um monumento ao sentimento de amor. Nota DEZ.
SHALL WE DANCE de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Eis o meu favorito ( ou será The Gay Divorcée, que preciso rever ). É o mais tolo de seus filmes, quase um cartoon. E por isso eu o venero. Fred é Petrov, um americano que se finge russo bailarino clássico. Ginger é uma apimentada sapateadora yankee. E vêm os desencontros de sempre: mal entendidos, frases ferinas, muito bom humor e os números que contam exatamente o que eles sentem. A trilha é de George Gershwin... precisa dizer mais ? Todas as canções são clássicos do jazz. Cenários em branco e prata, figurinos chics ao extremo ( os anos 30 são estranhamente a era da depressão e ao mesmo tempo o ponto mais chic do século vinte ). Quando estou chateado e quero me reerguer é fácil : boto este filme pra rodar ! Foi o primeiro da série que assisti ( lá se vão vinte anos ) e foi na época uma revelação. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!
CIÚME: SINAL DE AMOR de Charles Walters com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger sempre brigou com Fred. Ela queria ser uma atriz séria e achava que Fred lhe roubava o mérito. Quando a dupla acabou, ela conseguiu ser a tal atriz séria e logo ganhou seu Oscar em drama. Dez anos depois da separação, eis que os dois se reencontram aqui. E é um filme estranhamente triste ( o único dos dois ). É claro que é uma comédia, mas há algo de muito melancólico em todas as cenas. Eles fazem um casal que se separa porque ela quer ser atriz séria. Fred não a esquece ( na vida real ele jamais foi apaixonado por ela ) e no fim eles se reencontram ( felizmente tem um final feliz ). Ginger está já madura, ainda leve e linda, mas com algo de sério naquela menina dos anos 30. Fred envelheceu bastante. Continuava insuperável ( faria em cinco anos seu grande clássico: A Roda da Fortuna ), mas não é mais o jovem alegre e tolo da década anterior. E tudo isso dá ao filme algo de muito doído: a consciencia da passagem do tempo. Torna-se o único musical trágico da história. Nota 7.

TOP HAT - MARK SANDRICH

A partir do momento em que se coloca alguém como Daniel Day Lewis num musical ( Nine ) ou Renee Zellweger ( Chicago ), está provado : falta talento musical no mundo. ( Os dois são bons atores, mas sabem cantar ? Sabem dançar ? Têm carisma de entertainer ? )
Top Hat é um dos top 5 de Astaire. Por que ? Vamos explicar.....
Música. Quem a faz é Irving Berlin e se voce não sabe quem é Berlin...bem, sinto por voce. Berlin é um dos cinco grandes inventores da musica popular americana. Um cara que foi e é regravado sem parar ( por Billie, Sinatra, Ella, Chet, Sarah, Harry, Norah, Anita.... ). Impossível alguém não conhecer pelo menos meia dúzia de músicas dele. Pois bem, aqui estão as melhores. Cheek to Cheek, Lovely Day, Top Hat... e cantadas por Astaire que foi quem as popularizou primeiro. E o que são essas canções ? Classe baby, classe. Elas são melodias sobre a alegria do amor e também sobre como sofrer a dor de amar sem perder a consciencia da beleza de se estar in love. Mais que isso ? Aula de elegancia, harmonia e infinito.
Dança. Fred Astaire trabalhou com Hermes Pan no filme, e Ginger Rogers dança com ele. Fred é etéreo, nada nele é sexy. Ginger é pimenta, tudo nela é sexo. Eis a perfeição. Fred leva a dança ao cúmulo do sublime, Ginger o traz de volta a terra. Ela era uma atriz esfusiante ( e linda ) e ele era... um anjo ? O segredo de se entender o musical está lá explícito : na dança eles conseguem nos mostrar tudo aquilo que sentem. A forma como ela vai cedendo e se dá em Cheek to Cheek é dos momentos que justificam o cinema.
Cenário. Van Nest Polglase e Carrol Clarck. Coisa de gênio. Tudo é completamente de fantasia. Hotéis pintados de branco e creme, vidro e tapetes ( brancos ). Se o paraíso tem algum design é este : os quartos dos hotéis dos filmes de Astaire/Rogers. A Veneza que aqui aparece não tenta ser Veneza. É a Veneza da RKO, de Van e Carrol, é a cidade de Fred e Ginger. O céu.
Roteiro. Desencontro amoroso. Ele conquista garota, perde a moça, a reconquista. É só isso. Mas os diálogos são espertos, leves, "champagnosos". Pipocam como bolhas de bebida ( nunca como tiros ). E são ditos por Everett Horton, Erik Blore e Eric Rhodes, atores coadjuvantes de talento cômico, elegantes e excêntricos, amáveis.
Direção. Mark Sandrich segue a frase de Astaire: ou dança a câmera ou danço eu. E então a câmera abre o foco e não corta. Ele dança sem edição. Nada mais anti-MTV, o cara tem de dançar de verdade, nada de cortar. Eu contei, acontecem takes de um minuto sem um corte, sem um movimento de câmera, nada. O que se move é o corpo.
Produção. Pandro Berman. Top da RKO. Sets do tamanho de aeroportos. Plumas, pratas, limusines e todo o talento que o dinheiro podia comprar.
O que dá tudo isso ? Duas horas de diversão absoluta, de contato com mundo superior, de refinamento espiritual, de aprimoramento do gosto. É pouco ? Onde se encontra esse talento hoje ? Não em Penelope Cruz ou Richard Gere. ( Volto a dizer, seus talentos são outros ).
Foi a décima vez em que assisti este filme. Mal posso esperar pela próxima !