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JACK JOHNSON - MILES DAVIS
Uma faixa de cada lado do vinil. A primeira agitada, a segunda introspectiva. Quando a coisa começa o que ouvimos é John McLaughlin tocar com uma fúria como nunca visto. Ele é o destaque dos primeiros minutos e de certo modo do disco todo. Miles adorava John e o deixava livre. Após este disco, feito em 1970, John partiria para o caminho solo e a Mahavishnu Orchestra. Jeff Beck considerava-o o melhor guitar do planeta. Talvez Jeff esteja certo. ------------ Michael Henderson tem uma missão ardua aqui, manter o ritmo do baixo incessante. Um looping que dura vinte minutos. O batera é Billy Cobhan, talvez o melhor batera de jazz pós 1970. Funk, tudo é funk, mas a guitarra é semi punk e então vem Miles. -------------- Ele entra com raiva, com punch, com ferocidade. Poucas vezes ele tocou tão bem. Seu piston emite acordes longos, arpejos sem fim, o fôlego no limite. É um timbre metálico, quase desagradável. Miles está inteiro neste disco. ---------------- Iggy Pop disse numa entrevista que sua vida foi marcada por este disco. Quando ele gravou Funhouse e depois Raw Power era este o disco que ele ouvia. Se voce não percebeu o que liga o som jazz funk daqui com o pré punk de Iggy eu explico. Substitua o piston pela voz de Iggy e voce vai começar a entender. -------------- Jack Johnson era um boxeador do começo do século XX e este disco é a trilha sonora de um doc sobre o boxeur. -------------- O lado dois é languido, relaxado e muito amargo. Quase uma sinfonia íntima à decadência. Miles Davis atinge uma maestria que nenhum outro jazz man atingiu. Eu disse em outro post que Agharta era o melhor disco do século XX. Ele é. Jack Johnson é um digno contendor. GENIAL.
FUN HOUSE, THE STOOGES, A SIMPLICIDADE
Esqueça o primeiro disco dos Stooges. A produção de John Cale estragou o som da banda. Cale limpou as arestas, tentou fazer arte. O segundo disco, Fun House, é o artigo de verdade. Há quem o considere o maior disco de rock de todos os tempos. Lançado em 1970, somente Lester Bangs notou o que ele era: uma obra prima. É o grande disco de Iggy Pop. E isso não é pouca coisa. ------------- Hoje todo crítico elogia este petardo. A faixa um é Down on the street. Uma insistente batida de bateria e o grito de Iggy. É perigosa. É o capítulo que Jim Morrison não escreveu. The Doors com anfetamina. Come on, come on....Iggy não grita cantando como gritam Plant ou Gillan, ele grita como um grito de verdade. Down on the street é o modo mais cru possível de se começar um disco. É primal. Faixa dois é Loose. MC5 em estilo. Só que com um vocal melhor. O solo de guitarra é uma navalha no olho. Tudo aqui é sexo, tudo aqui é tara, tudo aqui é desejo em forma pura. Iggy é o louco solto. A música é primitiva. Rocknroll sem psicodelia nem arte alguma. Então, na sequência, um grito de psicótico: T.V.Eye. Paranoia absoluta. She got tv eye sobre mim. Incrível! a melodia não muda. Quem liga? Que dure! Iggy grita a letra, a bateria marcha, a guitarra esparrama rajadas de metralhadora, o baixo dá o tom de fuga pelas ruas. Iggy perde o controle: não é forçado. Ele está doido. Depois tem Dirt que é uma daquela faixas longas e confessionais que os Doors faziam. Sim, Iggy era fã dos Doors, quem não era? Mas ele aumenta a coisa. É menos jazzy e mais punk, é mais suja e menos literatura ( o erro de Morrison, fazer literatura todo o tempo ). Dirt é uma maravilha hipnótica. 1970 vem agora. Kaos total. Aqui o ponto zero do punk rock. Ano de 1977 antecipado. Adoro o vocal de Iggy no disco todo, ele nunca mais cantaria assim. Fun House usa saxofone. Talvez o sax mais rocknroll da história do rock. Iggy insiste a faixa inteira em dizer que feel all right. Heroína. Esta faixa é uma obra prima. Talvez o ponto mais elevado de Iggy. O vocal é desafiador, sentimos que ele está realmente indo ao limite. As cordas vocais estão sendo destruídas. O sax está sendo destruído. A bateria está sendo destruída. Tudo aqui é destruição. E depois só poderia vir L.A. Blues, uma faixa impossível de ser escutada. Gritos como jamais gravados.----------------- Tantos anos depois FUN HOUSE continua sendo uma pedrada punk na mente de quem escuta. Melhor disco do rock? Não. Único disco do rock seria mais correto.
NEW YORK DOLLS, OS ÚNICOS PAIS DO PUNK ROCK
Então voce lê que os MC5 são pais do punk rock. E ao escutar o Kick Out The Jams sente que aquilo é um bando de hippies berrando e fazendo barulho, mas sem nada que lembre o formato do punk rock. Outro crítico diz que os Stooges são os tais pais do punk. Então voce escuta Raw Power e ouve Iggy Pop exibir um tipo de hard rock cheio de heroína. Punk? Não. Depois um outro te fala que o punk rock começou em 1966, com o rock de garagem. Então voce ouve Question Mark, Count Five, Leaves, e sente que aquilo pode até ser new wave, mas punk jamais. Quando um outro escriba anuncia que Patti Smith é punk....bem....voce desiste. E começa a achar que o punk nasceu com os Ramones e os Pistols e fim de papo. ----------------- Pois eu te digo bebê que em 1973 os NEW YORK DOLLS inventaram o punk rock sozinhos. E foi sem querer. Eles tinham adrenalina, tocavam mal, e na verdade queriam ser um Rolling Stones mais explosivos. Sem querer criaram o som do Clash e dos Pistols. O primeiro disco abre com Personality Crisis e essa canção não é punk. Mas a segunda faixa, Looking for a Kiss, já é totalmente punk. Stranglers e Damned na veia. Robert Christgau, o crítico mais duro da época, disse que eles eram a maior banda do mundo em 73. Mas não adiantou. O disco não vendeu nada. Frankenstein é a invenção do rock indie de 1988. Creia, ela está 15 anos adiantada. E agora eu digo: essa banda foi um milagre. Trash é uma canção do Clash!!!! Juro!!!!! Tudo o que o Clash fez está aqui. Eles copiaram descaradamente! Vou postar a faixa pra voce conferir. O LP inteiro não tem uma só faixa que seja menos que sublime. Mas Jet Boy....é mais que sublime. É um clássico absoluto. E punk claro. Esse primeiro disco foi produzido por Todd Rundgren. Mal produzido aliás. Todd era um cara, genial, do Pop e do Prog. Não casou com a turma glitter de David Johansen, Syl Sylvain, Johnny Thunders, Arthur Kane e Jerry Nolan. ----------------- O segundo e último disco é de 1974. Se chama TOO MUCH TOO SOON. Eu o acho ainda melhor. Its Too Late tem acordes que lembram demais Sex Pistols!!!!! A seguinte, Puss and Boots é totalmente Never Mind dos Pistols. Os ingleses realmente copiaram alguns riffs daqui. Então vem Chatterbox, uma faixa que é totalmente 1981, pós punk. É incrível. E agora eu pergunto: por que diabos os DOLLS não têm a fama de Iggy Pop? Talvez por não ter tido um Bowie na vida...muito provável. Então o que posso fazer é dizer que eles são sim uma das maiores bandas da história do rock e os pais únicos do punk e da new wave. Eles tinham a atitude, o ruído, o kaos do punk. -------------------- Em 1975, portanto antes dos Pistols, Malcolm McLaren tentou os emrpresariar. Malcolm queria os politizar. Não deu certo. Na sequência Malcolm inventou os Pistols. Foi assim. Ouça os dois discos.
JIM MORRISON E AS CALÇAS DE COURO
Jim Morrison é o mesmo caso psico que acometeu Kurt Cobain, um rapaz talentoso e idealista que se viu subitamente transformado em algo que ele jamais quis ou imaginou poder ser. No caso de Kurt, ele tinha ideais punk. Já Jim era filho de seu tempo, ele tinha os ideais beatniks.
Morrison era bonito, era sexy e era muito cool. E coroando tudo isso, ele tinha voz. Morrison é a melhor voz branca do rock. Ele grita como um cantor de heavy metal e é suave como um astro pop. Sua dicção é perfeita e o timbre jamais falseia. Quanto a presença de palco, é ele quem cria o performer de palco realmente perigoso, sexy, ofensivo. É o inventor de Iggy Pop e de David Bowie.
Mick Jagger poderia ter esse posto, mas além de cantar menos, Jagger é irônico. Ele mesmo não se leva a sério e de certo modo foi isso que salvou sua sanidade. Jagger sempre parece rir de si mesmo, ele macaqueia. Jim era absolutamente sério e esse era seu ponto fraco. Jim Morrison se achava um poeta. Ele era solene. Chato às vezes. Incapaz de rir das besteiras que fazia ocasionalmente. Suas letras são ótimas para uma banda de rock de LA, mas como poesia simbolista, são infantis. Jagger sabia disso e ria. Morrison não queria saber e sofria por não ser levado a sério. Todo astro pop se afunda ao se levar a sério. De Lennon à George Michael, não há um só que não tenha afundado em auto piedade ou hostilidade burra ao não aceitar o fato de que seu trabalho é dirigido a semi analfabetos ou a jovens estudantes idealistas e ingênuos. Quando eles começam a se ver como novos William Blakes ou Nietzsches revividos a coisa entra em curto.
O primeiro disco dos Doors é muito bom. Ele sacoleja e é um prazer ouvir o teclado de Ray rodopiar pelo balanço jazz de Robby e John. A voz de Jim é brilhante. E tudo o que ela transmite é a angústia pura do desejo sexual. É apenas isso. E isso é fantástico. No segundo disco, ainda melhor, eles acrescentam o medo como tempero. É um disco sobre o pesadelo do desejo sem objeto. Strange Days é um album perfeito. Mas então o ingênuo Jim Morrison começou a brigar com seu status pop. Queria ser artista. Queria ser Rimbaud. E como não tinha o dom para tanto, jogou o que tinha no lixo.
Falei em Iggy e em Bowie.
Iggy, que é um grande leitor, sempre soube que rock é primitivismo. E foi realista o bastante para dar ao rock o que ele quer: sangue. Inteligente ao extremo esse Iggy. Já Bowie foi o artista que Jim quis ser e não pode. Bowie criou um artista pop. Uniu o pop mais pré fabricado à arte possível em meio tão simplório. Nunca houve cara mais astuto.
As pessoas gostam de dizer que Morrison teve sorte ao morrer. Que gordo e careca ele seria patético. Bem....Van Morrison é gordo e careca e não é patético. Talvez Jim fosse feliz ao saber que sua voz era o que o mantinha e não sua aparência. Talvez.
De todo modo, era preciso ser muito homem para usar calças de couro em 1966.
Morrison era bonito, era sexy e era muito cool. E coroando tudo isso, ele tinha voz. Morrison é a melhor voz branca do rock. Ele grita como um cantor de heavy metal e é suave como um astro pop. Sua dicção é perfeita e o timbre jamais falseia. Quanto a presença de palco, é ele quem cria o performer de palco realmente perigoso, sexy, ofensivo. É o inventor de Iggy Pop e de David Bowie.
Mick Jagger poderia ter esse posto, mas além de cantar menos, Jagger é irônico. Ele mesmo não se leva a sério e de certo modo foi isso que salvou sua sanidade. Jagger sempre parece rir de si mesmo, ele macaqueia. Jim era absolutamente sério e esse era seu ponto fraco. Jim Morrison se achava um poeta. Ele era solene. Chato às vezes. Incapaz de rir das besteiras que fazia ocasionalmente. Suas letras são ótimas para uma banda de rock de LA, mas como poesia simbolista, são infantis. Jagger sabia disso e ria. Morrison não queria saber e sofria por não ser levado a sério. Todo astro pop se afunda ao se levar a sério. De Lennon à George Michael, não há um só que não tenha afundado em auto piedade ou hostilidade burra ao não aceitar o fato de que seu trabalho é dirigido a semi analfabetos ou a jovens estudantes idealistas e ingênuos. Quando eles começam a se ver como novos William Blakes ou Nietzsches revividos a coisa entra em curto.
O primeiro disco dos Doors é muito bom. Ele sacoleja e é um prazer ouvir o teclado de Ray rodopiar pelo balanço jazz de Robby e John. A voz de Jim é brilhante. E tudo o que ela transmite é a angústia pura do desejo sexual. É apenas isso. E isso é fantástico. No segundo disco, ainda melhor, eles acrescentam o medo como tempero. É um disco sobre o pesadelo do desejo sem objeto. Strange Days é um album perfeito. Mas então o ingênuo Jim Morrison começou a brigar com seu status pop. Queria ser artista. Queria ser Rimbaud. E como não tinha o dom para tanto, jogou o que tinha no lixo.
Falei em Iggy e em Bowie.
Iggy, que é um grande leitor, sempre soube que rock é primitivismo. E foi realista o bastante para dar ao rock o que ele quer: sangue. Inteligente ao extremo esse Iggy. Já Bowie foi o artista que Jim quis ser e não pode. Bowie criou um artista pop. Uniu o pop mais pré fabricado à arte possível em meio tão simplório. Nunca houve cara mais astuto.
As pessoas gostam de dizer que Morrison teve sorte ao morrer. Que gordo e careca ele seria patético. Bem....Van Morrison é gordo e careca e não é patético. Talvez Jim fosse feliz ao saber que sua voz era o que o mantinha e não sua aparência. Talvez.
De todo modo, era preciso ser muito homem para usar calças de couro em 1966.
UM DISCO SOBRE SEXO, E SÓ SOBRE SEXO= RAW POWER-IGGY POP.
Conheci alguns Iggys na minha vida. Garotos com pirocas gigantes. Não que as tenha visto, mas suas vidas eram, desde os 14 anos, totalmente dirigidas pela cabeça peniana. Um Leonardo que comia velhos gays em troca de uns trocados e comida. Ele tinha 16. Francisco Eduardo, rico e bonito, que transava com qualquer coisa que tivesse um buraco úmido e quente. André, o que comia toda pessoa que o tocasse. E outros mais. Todos eram pequenos Iggys. O desejo físico puro. Um ódio terrível por esse desejo. Pois eles sabiam, intuitivamente, que o gozo pleno jamais viria.
Detroit nos anos 60 era uma cidade doida. Capital da black music e ao mesmo tempo berço do MC5, dos Stooges e de Alice Cooper. O metal das fábricas de carros deu metal às guitarras estúpidas. Iggy sempre foi estúpido. Mas sua estupidez virou estilo: Iggy nunca foi intuitivo. Seu ódio era consciente. Ele sabe que o gozo é ilusório.
Raw Power foi às lojas no ano de 1973. E 1973 foi um ano cú. Ele começa com Dark Side of The Moon e acaba com Goodbye Yellow Brick Road. No meio tem Houses of The Holy. E Sabbath Bloody Sabbath. Tem dois discos do Roxy: For Your Pleasure em janeiro e Stranded em novembro. E ainda solos de Eno e Ferry. Tem o Alladin Sane e Pin Ups. E nos EUA, passando bem despercebido, tem Raw Power. E Berlin, do Lou Reed. Alice Cooper, que lançou o brilhante Billion Dollar Babies, era o king. Iggy era semi morto. Bowie o salvou da morte.
Bowie mixou o disco todo errado. Um canal com bateria, guitarra e tudo mais. Som de radinho de pilha. O outro canal com voz e guitarra solo. O canal "ruim" é punk. O canal bom é hard rock. Os dois juntos são Iggy Pop. Bowie fez de propósito? Ninguém vai saber.
A voz de Iggy é a mais explícita voz do sexo já gravada. Sexo sem amor, digamos assim. O ato físico. Um vale tudo entre dois ou três corpos. Essa voz tem tons de sadomasoquismo. Mas também de masturbação, de orgasmo e de estupro. Não é sedutora. Adolescentes tarados não são sedutores. É uma voz que deseja agora. E onde o outro não importa nada. Nos anos 70, onde tudo era feito "numa boa", essa voz falava quase sozinha. No fim dessa década ela anunciaria os anos 80, a década do "voce que se foda, eu quero é mais".
Raw Power NÃO PODE E NÃO DEVE ser analisado como música. Não procure harmonia, melodia ou criação. Ele é um ato. Um testemunho. Deve ser sentido e pensado como afirmação de uma verdade. Antecipa o punk por ser um posicionamento político. Não música. ( O Roxy já era também isso, mas a política do Roxy era esnobar o mundo real e viver na redoma do romance ).
Iggy faria pelo resto da vida novos testemunhos sobre o sexo. Às vezes com uma pitada de romance e de alma. Mas sempre com a velha fome da carne imperfeita. O cara é foda. O disco é foda. E nós somos todos uns fodidos.
Detroit nos anos 60 era uma cidade doida. Capital da black music e ao mesmo tempo berço do MC5, dos Stooges e de Alice Cooper. O metal das fábricas de carros deu metal às guitarras estúpidas. Iggy sempre foi estúpido. Mas sua estupidez virou estilo: Iggy nunca foi intuitivo. Seu ódio era consciente. Ele sabe que o gozo é ilusório.
Raw Power foi às lojas no ano de 1973. E 1973 foi um ano cú. Ele começa com Dark Side of The Moon e acaba com Goodbye Yellow Brick Road. No meio tem Houses of The Holy. E Sabbath Bloody Sabbath. Tem dois discos do Roxy: For Your Pleasure em janeiro e Stranded em novembro. E ainda solos de Eno e Ferry. Tem o Alladin Sane e Pin Ups. E nos EUA, passando bem despercebido, tem Raw Power. E Berlin, do Lou Reed. Alice Cooper, que lançou o brilhante Billion Dollar Babies, era o king. Iggy era semi morto. Bowie o salvou da morte.
Bowie mixou o disco todo errado. Um canal com bateria, guitarra e tudo mais. Som de radinho de pilha. O outro canal com voz e guitarra solo. O canal "ruim" é punk. O canal bom é hard rock. Os dois juntos são Iggy Pop. Bowie fez de propósito? Ninguém vai saber.
A voz de Iggy é a mais explícita voz do sexo já gravada. Sexo sem amor, digamos assim. O ato físico. Um vale tudo entre dois ou três corpos. Essa voz tem tons de sadomasoquismo. Mas também de masturbação, de orgasmo e de estupro. Não é sedutora. Adolescentes tarados não são sedutores. É uma voz que deseja agora. E onde o outro não importa nada. Nos anos 70, onde tudo era feito "numa boa", essa voz falava quase sozinha. No fim dessa década ela anunciaria os anos 80, a década do "voce que se foda, eu quero é mais".
Raw Power NÃO PODE E NÃO DEVE ser analisado como música. Não procure harmonia, melodia ou criação. Ele é um ato. Um testemunho. Deve ser sentido e pensado como afirmação de uma verdade. Antecipa o punk por ser um posicionamento político. Não música. ( O Roxy já era também isso, mas a política do Roxy era esnobar o mundo real e viver na redoma do romance ).
Iggy faria pelo resto da vida novos testemunhos sobre o sexo. Às vezes com uma pitada de romance e de alma. Mas sempre com a velha fome da carne imperfeita. O cara é foda. O disco é foda. E nós somos todos uns fodidos.
O PIOR DOS ANOS 70 É O MELHOR DO SÉCULO XXI ?
Fico babando ovo dos anos 70 ( que foi a última década origonal, como atesta o livro recém lançado do Forastieri ), mas me esqueço que havia algo de enervante na época: a intolerância. Talvez as coisas tenham sido tão fascinantes exatamente por causa desse mal. Cada grupo ia ao limite em sua linguagem, sem desvios de caminho ( as exceções voce conhece ). Mas caramba, como isso me irritava!
Se voce gostava de Led Zeppelin era inadmissível que voce ouvisse Elton John ou Rod Stewart, e pior ainda, já que voce gostava do Led voce TINHA de gostar de Foghat ou dos Allman Brothers. Brancos não ouviam música de negro e negro não podia tocar música de branco. Um saco!
Quando um artista quebrava essa lei era uma "decepção", o cara era crucifixado. Saía das fileiras sagradas e puras do rock e passava a fazer companhia às prostitutas do pop. Era assim com David Bowie. Os roqueiros ( ô raça! ), jamais o perdoaram por Young Americans em 1975. Os Stones se enrolaram de vez em 1973 com a baladona Angie e Rod, bem, Rod dançou feio desde 1974 com suas canções à Elton John. A coisa era tão idiota que quando Jeff Beck gravou Stevie Wonder em 1973 perdeu todo seu público. Virou um tipo de guitarrista pária, um vendido ao soul.
Eu odiava tudo isso. Meus amigos não me entendiam. Como voce, Paulo, um cara que ama o Led, Jimi, Clapton, pode ouvir Bee Gees!!!! Como voce pode não gostar de Yes???? Eles são muito melhores que esses medíocres do Roxy Music!!!!
O Punk radicalizou mais ainda. Para eles TUDO gravado por alguém com mais de 23 anos não tinha valor. Talvez apenas com as exceções de Iggy Pop e de Lou Reed. Talvez... Jogaram no lixo os discos de Neil Young, MC5 e Van Morrison, e depois passaram os anos 80 comprando todos de novo.
A década de 80 recuperou os velhos charmosos e os anos 90 os hippies raivosos. Os anos 80, com Prince, Red Hot e Beastie Boys aboliu a barrreira da cor da pele, e os anos 90 desfez o preconceito contra os cafonas dos anos 70. Kiss, Thin Lizzy e Black Sabbath começaram a ser levados a sério. Daí pra frente só faltava reabilitarem a disco music.
Eis onde quero chegar. Sempre odiei Balck Sabbath e agora, em 2014, ouço sua discografia com prazer. Sabbath Bloody Sabbath é genial e Sabotage é uma obra-prima. Os riffs são muito bons e o baterista toca com ritmo e vontade. Legal ! Mas....porque essa mudança? Penso que é porque apesar de achar que não, eu também era preconceituoso. Eu me pautava pela crítica ( Zeca Neves, Ana Maria Bahiana, Big Boy, Nelson Motta ) e eles NÃO gostavam do Sabbath. Como detestavam também Genesis, Rush e ELP. Em 1977, sendo eclético me fiz preconceituoso contra o não-sofisticado, o não eclético. Pode?
Recentemente vi na TV a entrega do rock`nroll hall of fame ao Rush. Quem entregou foi Dave Grohl. Ele pulava excitado por poder homenagear seus heróis. Sim, heróis. E vi que os canadenses são encantadoramente humildes. E very funny. O Foo Fighters tocou com eles nessa noite e todo o preconceito de 1977 caiu por terra.
Ainda não gosto do Rush. É chato. Mas fico lembrando de Johnny Rotten, que vomitava contra os WHO, ouvindo hoje os FACES. É justo. É certo.
Posso enfim ouvir Alice Cooper como ele merece: com amor.
Se voce gostava de Led Zeppelin era inadmissível que voce ouvisse Elton John ou Rod Stewart, e pior ainda, já que voce gostava do Led voce TINHA de gostar de Foghat ou dos Allman Brothers. Brancos não ouviam música de negro e negro não podia tocar música de branco. Um saco!
Quando um artista quebrava essa lei era uma "decepção", o cara era crucifixado. Saía das fileiras sagradas e puras do rock e passava a fazer companhia às prostitutas do pop. Era assim com David Bowie. Os roqueiros ( ô raça! ), jamais o perdoaram por Young Americans em 1975. Os Stones se enrolaram de vez em 1973 com a baladona Angie e Rod, bem, Rod dançou feio desde 1974 com suas canções à Elton John. A coisa era tão idiota que quando Jeff Beck gravou Stevie Wonder em 1973 perdeu todo seu público. Virou um tipo de guitarrista pária, um vendido ao soul.
Eu odiava tudo isso. Meus amigos não me entendiam. Como voce, Paulo, um cara que ama o Led, Jimi, Clapton, pode ouvir Bee Gees!!!! Como voce pode não gostar de Yes???? Eles são muito melhores que esses medíocres do Roxy Music!!!!
O Punk radicalizou mais ainda. Para eles TUDO gravado por alguém com mais de 23 anos não tinha valor. Talvez apenas com as exceções de Iggy Pop e de Lou Reed. Talvez... Jogaram no lixo os discos de Neil Young, MC5 e Van Morrison, e depois passaram os anos 80 comprando todos de novo.
A década de 80 recuperou os velhos charmosos e os anos 90 os hippies raivosos. Os anos 80, com Prince, Red Hot e Beastie Boys aboliu a barrreira da cor da pele, e os anos 90 desfez o preconceito contra os cafonas dos anos 70. Kiss, Thin Lizzy e Black Sabbath começaram a ser levados a sério. Daí pra frente só faltava reabilitarem a disco music.
Eis onde quero chegar. Sempre odiei Balck Sabbath e agora, em 2014, ouço sua discografia com prazer. Sabbath Bloody Sabbath é genial e Sabotage é uma obra-prima. Os riffs são muito bons e o baterista toca com ritmo e vontade. Legal ! Mas....porque essa mudança? Penso que é porque apesar de achar que não, eu também era preconceituoso. Eu me pautava pela crítica ( Zeca Neves, Ana Maria Bahiana, Big Boy, Nelson Motta ) e eles NÃO gostavam do Sabbath. Como detestavam também Genesis, Rush e ELP. Em 1977, sendo eclético me fiz preconceituoso contra o não-sofisticado, o não eclético. Pode?
Recentemente vi na TV a entrega do rock`nroll hall of fame ao Rush. Quem entregou foi Dave Grohl. Ele pulava excitado por poder homenagear seus heróis. Sim, heróis. E vi que os canadenses são encantadoramente humildes. E very funny. O Foo Fighters tocou com eles nessa noite e todo o preconceito de 1977 caiu por terra.
Ainda não gosto do Rush. É chato. Mas fico lembrando de Johnny Rotten, que vomitava contra os WHO, ouvindo hoje os FACES. É justo. É certo.
Posso enfim ouvir Alice Cooper como ele merece: com amor.
SOBRE A EXPO DE BOWIE NO MIS...BOA PARA VOCE, QUE NUNCA FOI SEGUIDOR DE BOWIE
Ver uma exposição com trilha sonora é sempre bom, melhor ainda se for David Bowie nos ouvidos. Então eu entro e a coisa começa meio fria com um ar condicionado ao máximo e a fase pré-Ziggy em telas. Logo percebo, a exposição não é sobre Bowie o músico, é sobre Bowie o cara da moda. Como aceitar uma expo sobre um cara central no rock ( de sua altura só Dylan, Jagger, Lennon e olhe lá ), que tem apenas uma guitarra? Onde estão as guitarras de Mick Ronson, Robert Fripp, Carlos Alomar, Steve Ray Vaughan? Como levar a sério uma expo que dá mais destaque aos estilistas de seus ternos e fantasias que a Andy Warhol e Lou Reed? Não há uma só referência a Fripp, Lou, Marc Bolan ou Mick Ronson. Brian Eno só aparece como ser secundário, nada sobre Tony Visconti e Iggy está lá, mas pra que?
Então percebo que aqui não é lugar para quem, como eu e meus amigos, amamos David Bowie. Aqui é para quem já ouviu falar do artista e quer saber quem ele é. Esses gostarão da exposição. Irão sair achando que Bowie é maior que Damon Albarn, talvez até maior que o Bono!!! Aff...
Mas nós, eu, que acompanho David desde 1974, desde ouvir Sorrow a primeira vez numa rádio AM mono e ficar enfeitiçado pela voz clara e confidente e o arranjo elegante e estranhamente sensual ( óh Mick Ronson, como eras genial ), para nós e para mim aquele Bowie da exposição não mostra nada do cantor, nada do rock star e apenas arranha sua importância social.
Falo agora do que se pode pescar naquelas paredes frias do MIS.
Na sala das telas circulares, que nos envolvem nas imagens e criam um efeito inebriante de presença, não de Bowie presente, mas da nossa presença em Bowie, Jean Gennie explode em blues-gay e sexy. Pois bem, são dois clips que se misturam, a versão de Mick Rock, que vi em 74 num Sábado Som na rede Globo que mudou toda a minha vida, e uma versão de Jean Gennie ao vivo, em palco da BBC. Nessa versão, com platéia, vejo dois garotos desajeitados dançando. Dançando não, tentando dançar. Os cabelos sujos, devem ter 13 anos de idade. Os rostos felizes, com sorrisos de êxtase. Os quadris duros tentam se soltar e os braços serpenteiam contra sua rigidez inglesa. Esses dois garotos aparecem por cinco ou seis segundos. E exemplificam aquilo que a exposição nunca exibe: o alcance libertário social de Bowie. Aliás Jean Gennie atinge um fogo que chega a ofuscar toda a exposição. Eis o tal do rocknroll !!!
Há um bilhete que Christopher Isherwood escreveu para David. Para quem não sabe, Isherwood foi um escritor americano que imigrou para Berlin antes da segunda-guerra. Lá ele conheceu a loucura dessa Berlin e a descreveu em contos e romances. Um deles deu origem a Cabaret, o filme famoso de Bob Fosse. Cabaret foi hiper sucesso em 1972 e influenciou Roxy Music e David Bowie. Quando David vai para Berlin ele vai atrás da lenda de Isherwood. E a encontra. Me emociono ao entrar no ambiente Bowie em Berlin. Quadros pintados por David, o disco de Iggy, e a suprema coisa das coisas, o synth que foi usado em LOW. Um texto diz que o synth era de ENO e que ele deu-o para Bowie recentemente. ENO diz que ainda hoje nada consegue repetir aquele som. Olho as teclas azuis, ele todo vem dentro de uma mala tipo 007. Chaves, plugs, entradas, osciladores...Fico fascinado. Os timbres espaciais, fantasm'aticos, funebres, excitantes de LOW nasceram naquela mala.
Nada mais pode ser dito depois disso.
As chaves do apto em Berlin, um Gitanes rabiscado, Sense of Doubt... Coleto fagulhas da expo do MIS. Coleto as letras e a grafia elegante de Bowie, coleto o tamanho Peter Pan das roupas, coleto sons que passam. Mas Bowie fica ausente do MIS. Faltou sujeira, faltou rock, faltou poesia, faltou perigo.
Valeu.
cam
Então percebo que aqui não é lugar para quem, como eu e meus amigos, amamos David Bowie. Aqui é para quem já ouviu falar do artista e quer saber quem ele é. Esses gostarão da exposição. Irão sair achando que Bowie é maior que Damon Albarn, talvez até maior que o Bono!!! Aff...
Mas nós, eu, que acompanho David desde 1974, desde ouvir Sorrow a primeira vez numa rádio AM mono e ficar enfeitiçado pela voz clara e confidente e o arranjo elegante e estranhamente sensual ( óh Mick Ronson, como eras genial ), para nós e para mim aquele Bowie da exposição não mostra nada do cantor, nada do rock star e apenas arranha sua importância social.
Falo agora do que se pode pescar naquelas paredes frias do MIS.
Na sala das telas circulares, que nos envolvem nas imagens e criam um efeito inebriante de presença, não de Bowie presente, mas da nossa presença em Bowie, Jean Gennie explode em blues-gay e sexy. Pois bem, são dois clips que se misturam, a versão de Mick Rock, que vi em 74 num Sábado Som na rede Globo que mudou toda a minha vida, e uma versão de Jean Gennie ao vivo, em palco da BBC. Nessa versão, com platéia, vejo dois garotos desajeitados dançando. Dançando não, tentando dançar. Os cabelos sujos, devem ter 13 anos de idade. Os rostos felizes, com sorrisos de êxtase. Os quadris duros tentam se soltar e os braços serpenteiam contra sua rigidez inglesa. Esses dois garotos aparecem por cinco ou seis segundos. E exemplificam aquilo que a exposição nunca exibe: o alcance libertário social de Bowie. Aliás Jean Gennie atinge um fogo que chega a ofuscar toda a exposição. Eis o tal do rocknroll !!!
Há um bilhete que Christopher Isherwood escreveu para David. Para quem não sabe, Isherwood foi um escritor americano que imigrou para Berlin antes da segunda-guerra. Lá ele conheceu a loucura dessa Berlin e a descreveu em contos e romances. Um deles deu origem a Cabaret, o filme famoso de Bob Fosse. Cabaret foi hiper sucesso em 1972 e influenciou Roxy Music e David Bowie. Quando David vai para Berlin ele vai atrás da lenda de Isherwood. E a encontra. Me emociono ao entrar no ambiente Bowie em Berlin. Quadros pintados por David, o disco de Iggy, e a suprema coisa das coisas, o synth que foi usado em LOW. Um texto diz que o synth era de ENO e que ele deu-o para Bowie recentemente. ENO diz que ainda hoje nada consegue repetir aquele som. Olho as teclas azuis, ele todo vem dentro de uma mala tipo 007. Chaves, plugs, entradas, osciladores...Fico fascinado. Os timbres espaciais, fantasm'aticos, funebres, excitantes de LOW nasceram naquela mala.
Nada mais pode ser dito depois disso.
As chaves do apto em Berlin, um Gitanes rabiscado, Sense of Doubt... Coleto fagulhas da expo do MIS. Coleto as letras e a grafia elegante de Bowie, coleto o tamanho Peter Pan das roupas, coleto sons que passam. Mas Bowie fica ausente do MIS. Faltou sujeira, faltou rock, faltou poesia, faltou perigo.
Valeu.
cam
ROCK NA ALEMANHA OCIDENTAL
Faust, Neu, Can, Kraftwerk, Amon Dull, Nektar, Tangerine Dream, Karthago, esses alguns dos nomes do Krautrock. Posto um documentário da BBC. Gritos usados como instrumento. Enquanto uma bateria repete um beat, um músico varre o estúdio: eis a música, o beat e o ruído da vassoura que vira melodia. Um japonês fala enquanto o ritmo se repete. Rock sem riff, sem solo, sem refrão. Viagens espaciais. Como diz um deles, nem Inglaterra e nem EUA. E nem Alemanha: Space. Outros mundos, alucinações.
Radicais. O auge do terrorismo europeu. Bombas como mensagens. Barulho como poesia. O exagero sideral do romantismo. Além do óbvio. Em 1968 o rock já parecia esgotado. Eles foram além. Ninguém nunca mais foi tão além.
Iggy aparece no doc da BBC. Em uma ilha tropical. Iggy sempre foi antenado e em 1975 já pirava com esses sons. "Porque era diferente. Nada de rocknroll ou de country..." Eram elegantes, frios, rebeldes, loucos, inesperados, monótonos e viciantes.
E são os avôs do que se faz de mais esperto hoje.
Veja.
Radicais. O auge do terrorismo europeu. Bombas como mensagens. Barulho como poesia. O exagero sideral do romantismo. Além do óbvio. Em 1968 o rock já parecia esgotado. Eles foram além. Ninguém nunca mais foi tão além.
Iggy aparece no doc da BBC. Em uma ilha tropical. Iggy sempre foi antenado e em 1975 já pirava com esses sons. "Porque era diferente. Nada de rocknroll ou de country..." Eram elegantes, frios, rebeldes, loucos, inesperados, monótonos e viciantes.
E são os avôs do que se faz de mais esperto hoje.
Veja.
UMA VIDA QUE NÃO PODE MAIS SER VIVIDA...
Tenho um amigo, não, não é Fernando Tucori, que me escreve dizendo que a vida que foi vivida por Iggy Pop ( ele me diz que queria renascer como Iggy, e eu lhe digo que então ele é um cara de coragem ), é uma vida hoje impossível. Não há a minima possibilidade de se ter uma vida como a dele e como a de toda a fauna a seu redor.
Penso, temo que, ele esteja pensando o óbvio, a AIDS. Mas não. O que acontece é que perdemos o direito de sermos ofensivos. A ofensa se tornou uma coisa inofensiva ou burra. ( E me desculpe o inofensivo com ofensivo ).
A turma de Andy Warhol viveu em absoluta liberdade e escândalo num tempo em que nobody vivia assim. Eles rearrumaram aquela coisa anos 20 para os anos 60 ( e os anos 60/70 são uma reedição dos anos 20 em chave POP, ou voce nunca notou que Cocteau, Picasso e Joyce vivem nas aventuras de Andy, Lou e David? ). Mas a turma de Andy foi a primeira a reviver os anos 20 em chave POP, usando video, TV, rock e moda. Como refazer isso hoje?
Bowie foi o primeiro cara a nada ter a ver com o estereótipo do rock a conseguir ser um rock star. Ele não rezava a cartilha que segue os passos do rebelde da estrada, do caipira country, do blues, dos ingleses sonhando com Elvis. Ele é um ator que interpreta um rock star. Como repetir isso se hoje mesmo sem saber TODOS são atores, bons ou canastrões, brincando de ser Bowie, Dylan, Iggy ou Bolan. E como chocar alguém com androginia, drogas ou frases libertárias se nada mais há para se derrubar? A não ser que voce seja um idiota e choque pela via da ignorância, tipo falar bem de Hitler ou ser a favor de Bin Laden. Mas aí não é arte, é propaganda apelativa ou um caso psiquiátrico.
Entre 60 e 80 o mundo viveu 20 anos de sexo sem medo. A sifilis se tornou curável, a gravidez podia ser evitada e a AIDS não existia. Pela primeira vez o sexo não se parecia com risco ou com causa de morte. Não mais baby. A doença mudou tudo e não a toa os bobinhos assexuados do rock higiênico surgem nesta época de covardia. Um Iggy pra valer, agora, seria falso. Tudo o que ele fizesse seria sombra de um saudosismo oco. Iggy apanhando no Texas de um bando de caipiras ( isso aconteceu em 76 ), seria hoje um fato de internet, seria visto por milhões e as vendas iriam disparar. O perigo rimando com lucro não é mais perigo, é Jackass. É um business.
Candy, Cherry, Joe, Edie, Amanda, Wayne e Jim? Como? Never more...
Quando voce sai hoje, voce sai para encontrar o perigo que inspira? Ou voce sai só pra detonar? Voce sai para ser livre? Ou só para dar uma trepada?
Por isso nunca mais meu amigo. Entendo então sua frase. A geração de Andy ainda podia sonhar e com Lou ainda podia ter magnificos pesadelos. Música ainda era uma alucinação ( e eu alucinei muito com Low ). Agora música é apenas música. Boa, ruim, ótima, genial, mas existe apenas em seus 4 minutos de execução. Depois a gente deixa pra lá.
15 minutos de fama para todos. Andy, voce foi genial ao intuir isso!
Iggy existirá por 15 séculos.
Ou mais.
Ch ch ch ch Changes!
Penso, temo que, ele esteja pensando o óbvio, a AIDS. Mas não. O que acontece é que perdemos o direito de sermos ofensivos. A ofensa se tornou uma coisa inofensiva ou burra. ( E me desculpe o inofensivo com ofensivo ).
A turma de Andy Warhol viveu em absoluta liberdade e escândalo num tempo em que nobody vivia assim. Eles rearrumaram aquela coisa anos 20 para os anos 60 ( e os anos 60/70 são uma reedição dos anos 20 em chave POP, ou voce nunca notou que Cocteau, Picasso e Joyce vivem nas aventuras de Andy, Lou e David? ). Mas a turma de Andy foi a primeira a reviver os anos 20 em chave POP, usando video, TV, rock e moda. Como refazer isso hoje?
Bowie foi o primeiro cara a nada ter a ver com o estereótipo do rock a conseguir ser um rock star. Ele não rezava a cartilha que segue os passos do rebelde da estrada, do caipira country, do blues, dos ingleses sonhando com Elvis. Ele é um ator que interpreta um rock star. Como repetir isso se hoje mesmo sem saber TODOS são atores, bons ou canastrões, brincando de ser Bowie, Dylan, Iggy ou Bolan. E como chocar alguém com androginia, drogas ou frases libertárias se nada mais há para se derrubar? A não ser que voce seja um idiota e choque pela via da ignorância, tipo falar bem de Hitler ou ser a favor de Bin Laden. Mas aí não é arte, é propaganda apelativa ou um caso psiquiátrico.
Entre 60 e 80 o mundo viveu 20 anos de sexo sem medo. A sifilis se tornou curável, a gravidez podia ser evitada e a AIDS não existia. Pela primeira vez o sexo não se parecia com risco ou com causa de morte. Não mais baby. A doença mudou tudo e não a toa os bobinhos assexuados do rock higiênico surgem nesta época de covardia. Um Iggy pra valer, agora, seria falso. Tudo o que ele fizesse seria sombra de um saudosismo oco. Iggy apanhando no Texas de um bando de caipiras ( isso aconteceu em 76 ), seria hoje um fato de internet, seria visto por milhões e as vendas iriam disparar. O perigo rimando com lucro não é mais perigo, é Jackass. É um business.
Candy, Cherry, Joe, Edie, Amanda, Wayne e Jim? Como? Never more...
Quando voce sai hoje, voce sai para encontrar o perigo que inspira? Ou voce sai só pra detonar? Voce sai para ser livre? Ou só para dar uma trepada?
Por isso nunca mais meu amigo. Entendo então sua frase. A geração de Andy ainda podia sonhar e com Lou ainda podia ter magnificos pesadelos. Música ainda era uma alucinação ( e eu alucinei muito com Low ). Agora música é apenas música. Boa, ruim, ótima, genial, mas existe apenas em seus 4 minutos de execução. Depois a gente deixa pra lá.
15 minutos de fama para todos. Andy, voce foi genial ao intuir isso!
Iggy existirá por 15 séculos.
Ou mais.
Ch ch ch ch Changes!
OH YOU PRETTY THINGS...
Magistral, maravilhosamente bem escrito, viciante, obrigatório para todos que gostam de rock, e muito, muito melancólico...
Falo mais do livro abaixo, mas agora ( acabo de terminar sua leitura ), fica um gosto azedo na boca. Porque o livro é um belo romance acima de tudo, uma história real e romantica, uma história que traz a nossa cabeça, a nós romanticos-roxy-incuráveis, uma sensação de que Bowie, Lou, Iggy, Cale, Patti Smith, Marc Bolan, Nico, não realizaram nem metade daquilo que podiam ter feito. E não porque eles se drogaram demais. O livro deixa claro que se Lou não tivesse caído de boca na vida sua arte seria outra. Idem para Iggy. O excesso e a droga era parte de seu ser. Não é isso. O amargo vem da certeza que o livro passa de que a vida é limitada, de que não se pode, ninguém, realizar todo seu potencial. E lemos então o monte de planos que Bowie não conseguiu realizar. Seus fracassos gigantescos, sua falência financeira ( tudo em 1974 ), a colaboração com Marc Bolan que nunca rolou, a briga terrível com Lou Reed, a partida de Mick Ronson...
Mas também existem os sucessos. A mágica ida a Berlim, Iggy, David e Eno descobrindo a cidade, o submundo, as boates de dragqueens, o clima do filme Cabaret. O disco com o Kraftwerk que quase rolou, as gravações de Idiot e de Low, os discos que mudaram o mundo da música para sempre. Ambos gravados por Iggy e David juntos.
Os excessos de Iggy. Os Stooges prontos para estourar e Iggy destruindo tudo com cenas de sangue, mutilação, ofensas dirigidas a platéia, apanhando do público, se fazendo de a banda mais odiada do mundo. E Bowie o salvando, Iggy que chegou a roubar comida para poder viver ( em 1975... ) As orgias com meninas de 15 anos...
E Lou...o cara que mostrou ser possível ter uma carreira sendo aquilo que voce é. Mergulhado em perversões, drogas, brigas, falando sempre o que não devia ser dito... e sempre indo em frente...
O livro acaba em 1980. Que é quando a carreira dos 3 se congela. Lou Reed está por baixo, e Bowie o chama para conversar. Ele quer fazer, mais uma vez, um disco de renascimento, como foi Transformer, para aquele que é afinal seu mentor. Alguns jornalistas vão ao encontro, num restaurante, os dois estavam brigados a anos. Conversam amigavelmente, parece que o disco vai sair...Mas de repente Lou espanca Bowie e grita com ele...E o encontro vira uma briga onde várias pessoas os separam. Porque? Porque Bowie tocou no único assunto que Lou não admitia: pediu para ele parar de detonar antes de começarem as gravações. Lou se foi...Bowie partiu para Lets Dance...
Dave Thompson escreve então a última frase do livro, e aí vemos como ele escreve bem:
"David Bowie foi atrás de Lou Reed, e de Iggy também, exatamente porque os dois tinham a ira, a coragem e a audácia que o jovem Bowie tanto admirava. E as drogas faziam parte de todo esse pacote. Pedir para deixar isso de lado era como uma traição aquilo que Lou era. Hipocrisia.
Voce tem de ler este livro. Ele vai grudar em voce. Apaixonante...
Falo mais do livro abaixo, mas agora ( acabo de terminar sua leitura ), fica um gosto azedo na boca. Porque o livro é um belo romance acima de tudo, uma história real e romantica, uma história que traz a nossa cabeça, a nós romanticos-roxy-incuráveis, uma sensação de que Bowie, Lou, Iggy, Cale, Patti Smith, Marc Bolan, Nico, não realizaram nem metade daquilo que podiam ter feito. E não porque eles se drogaram demais. O livro deixa claro que se Lou não tivesse caído de boca na vida sua arte seria outra. Idem para Iggy. O excesso e a droga era parte de seu ser. Não é isso. O amargo vem da certeza que o livro passa de que a vida é limitada, de que não se pode, ninguém, realizar todo seu potencial. E lemos então o monte de planos que Bowie não conseguiu realizar. Seus fracassos gigantescos, sua falência financeira ( tudo em 1974 ), a colaboração com Marc Bolan que nunca rolou, a briga terrível com Lou Reed, a partida de Mick Ronson...
Mas também existem os sucessos. A mágica ida a Berlim, Iggy, David e Eno descobrindo a cidade, o submundo, as boates de dragqueens, o clima do filme Cabaret. O disco com o Kraftwerk que quase rolou, as gravações de Idiot e de Low, os discos que mudaram o mundo da música para sempre. Ambos gravados por Iggy e David juntos.
Os excessos de Iggy. Os Stooges prontos para estourar e Iggy destruindo tudo com cenas de sangue, mutilação, ofensas dirigidas a platéia, apanhando do público, se fazendo de a banda mais odiada do mundo. E Bowie o salvando, Iggy que chegou a roubar comida para poder viver ( em 1975... ) As orgias com meninas de 15 anos...
E Lou...o cara que mostrou ser possível ter uma carreira sendo aquilo que voce é. Mergulhado em perversões, drogas, brigas, falando sempre o que não devia ser dito... e sempre indo em frente...
O livro acaba em 1980. Que é quando a carreira dos 3 se congela. Lou Reed está por baixo, e Bowie o chama para conversar. Ele quer fazer, mais uma vez, um disco de renascimento, como foi Transformer, para aquele que é afinal seu mentor. Alguns jornalistas vão ao encontro, num restaurante, os dois estavam brigados a anos. Conversam amigavelmente, parece que o disco vai sair...Mas de repente Lou espanca Bowie e grita com ele...E o encontro vira uma briga onde várias pessoas os separam. Porque? Porque Bowie tocou no único assunto que Lou não admitia: pediu para ele parar de detonar antes de começarem as gravações. Lou se foi...Bowie partiu para Lets Dance...
Dave Thompson escreve então a última frase do livro, e aí vemos como ele escreve bem:
"David Bowie foi atrás de Lou Reed, e de Iggy também, exatamente porque os dois tinham a ira, a coragem e a audácia que o jovem Bowie tanto admirava. E as drogas faziam parte de todo esse pacote. Pedir para deixar isso de lado era como uma traição aquilo que Lou era. Hipocrisia.
Voce tem de ler este livro. Ele vai grudar em voce. Apaixonante...
UM RAPAZ TIMIDO QUE PARECIA SER GAY
Tony deFries era um advogado júnior que resolveu virar empresário de rock. Tomou nas mãos um tal de David Bowie.
Em Londres foi levado um espetáculo de Andy Warhol. Uma peça com um bando de travestis e algumas mulheres. Tinha sexo real, sujeira, ofensas e frases sem sentido. Todos se falam e ninguém escuta. Num tempo em que ainda se criava polêmica real, as pessoas ainda tinham tabús para serem desafiados, a peça foi atacada por jornais e TV. O público ia em massa. Bowie foi com Tony. A ideia foi pega: levar aquilo para o rock.
Bowie sempre disse: "Sou uma máquina Xerox! Nada crio, absorvo e misturo aquilo que vejo. Se sou triste é porque o mundo o é. Se sou glamouroso é porque o mundo é. Me amar é amar ao mundo e se voce me detesta é porque o mundo agora é detestável." David Bowie falava coisas como essas nas revistas. Frases assim, perto daquilo que Dylan ou Lennon diziam, são mais que inteligentes, são distanciadas, espertas, terrivelmente espertas.
E em meio a isso tudo Bowie diz ser bissexual. E para o autor, Dave Thompson, essa foi sua jogada de mestre! Porque Bowie nunca foi gay ou bissexual. Se fosse teríamos montes de relatos de ex-amantes. Mas não. Nada. Bowie tem uma vida sexual fria, timida, distante. Mas ele "parece"gay e sempre fez questão disso. Com essa frase ele pegou a diferença, ele foi o primeiro cara a escancarar a sexualidade reprimida inglesa. Isso não era pouca coisa. Perto dele Jagger e Rod Stewart passaram a parecer conservadores. E Led, Beatles ou Who, terrivelmente machos. Bowie pegou o bando de teens reprimidos e os colocou nas mãos.
Tony deFries tem muito a ver com isso. Ele inventou um conceito que seria regra para sempre. Ser uma estrela antes de ser uma estrela. Viver como um superstar mesmo sem nada ter feito. Bowie andava com guarda-costas quando ninguém ainda o conhecia. Bowie andava de limousine ainda sem grana. E guiava a juventude mesmo sendo ignorado pela midia. Tudo isso na verdade coisa de Andy Warhol, mas Tony foi o primeiro a usar isso no rock. E Bowie foi o mais dócil dos artistas.
E compunha! 3 discos em um ano!!!!
Fato: Iggy Pop não gostava dos discos de Bowie. Mas Bowie não ligava, Pra ele, Iggy era o melhor cantor do mundo. E ele o tirou do buraco. Levou-o pra Londres.
Fato: Bowie ajudava todo mundo. Antes da fama, ele tirou o Mott the Hoople do desemprego. E lhes deu um hit de presente.
Fato: Lou Reed usou Bowie para ganhar uma grana. E Bowie o tratava como um rei.
Rapaz timido. Que tremia na frente de Lou, Iggy, e ficava mudo com Andy Warhol.
PS: Se Bowie reflete o mundo, o que seria seu silêncio?
Em Londres foi levado um espetáculo de Andy Warhol. Uma peça com um bando de travestis e algumas mulheres. Tinha sexo real, sujeira, ofensas e frases sem sentido. Todos se falam e ninguém escuta. Num tempo em que ainda se criava polêmica real, as pessoas ainda tinham tabús para serem desafiados, a peça foi atacada por jornais e TV. O público ia em massa. Bowie foi com Tony. A ideia foi pega: levar aquilo para o rock.
Bowie sempre disse: "Sou uma máquina Xerox! Nada crio, absorvo e misturo aquilo que vejo. Se sou triste é porque o mundo o é. Se sou glamouroso é porque o mundo é. Me amar é amar ao mundo e se voce me detesta é porque o mundo agora é detestável." David Bowie falava coisas como essas nas revistas. Frases assim, perto daquilo que Dylan ou Lennon diziam, são mais que inteligentes, são distanciadas, espertas, terrivelmente espertas.
E em meio a isso tudo Bowie diz ser bissexual. E para o autor, Dave Thompson, essa foi sua jogada de mestre! Porque Bowie nunca foi gay ou bissexual. Se fosse teríamos montes de relatos de ex-amantes. Mas não. Nada. Bowie tem uma vida sexual fria, timida, distante. Mas ele "parece"gay e sempre fez questão disso. Com essa frase ele pegou a diferença, ele foi o primeiro cara a escancarar a sexualidade reprimida inglesa. Isso não era pouca coisa. Perto dele Jagger e Rod Stewart passaram a parecer conservadores. E Led, Beatles ou Who, terrivelmente machos. Bowie pegou o bando de teens reprimidos e os colocou nas mãos.
Tony deFries tem muito a ver com isso. Ele inventou um conceito que seria regra para sempre. Ser uma estrela antes de ser uma estrela. Viver como um superstar mesmo sem nada ter feito. Bowie andava com guarda-costas quando ninguém ainda o conhecia. Bowie andava de limousine ainda sem grana. E guiava a juventude mesmo sendo ignorado pela midia. Tudo isso na verdade coisa de Andy Warhol, mas Tony foi o primeiro a usar isso no rock. E Bowie foi o mais dócil dos artistas.
E compunha! 3 discos em um ano!!!!
Fato: Iggy Pop não gostava dos discos de Bowie. Mas Bowie não ligava, Pra ele, Iggy era o melhor cantor do mundo. E ele o tirou do buraco. Levou-o pra Londres.
Fato: Bowie ajudava todo mundo. Antes da fama, ele tirou o Mott the Hoople do desemprego. E lhes deu um hit de presente.
Fato: Lou Reed usou Bowie para ganhar uma grana. E Bowie o tratava como um rei.
Rapaz timido. Que tremia na frente de Lou, Iggy, e ficava mudo com Andy Warhol.
PS: Se Bowie reflete o mundo, o que seria seu silêncio?
DANGEROUS GLITTER- DAVE THOMPSON, E O MUNDO NUNCA MAIS FOI COMO ANTES
Tudo começa com Andy Warhol. Ele queria uma banda "assim tipo essa coisa, hum....rock" e um dos caras da Factory achou a tal banda. Era a banda de um tal de Lewis Reed, um cara que tomara eletrochoques aos 17 anos, por ordem do pai milionário, pra ver se "ele deixa de ser viado". Reed gostava de Bob Dylan e compunha folks. E o melhor, era vaiado sempre.
Nico era alemã e foi topar na Factory. Era o molde do que viria a ser uma descolada hoje. Namorada de Bob Dylan, atriz, modelo, cantora, atuara com Fellini. Andy resolveu botar Nico pra cantar as músicas "....uh....do Lou Reed, nada de Lewis..."
Na Factory morava todo mundo: bichas, travestis, bandidos, cineastas, drogados, poetas, e os bobos também. Um cara de Gales apareceu por lá...John Cale era músico erudito, tão louco quanto Reed, com uma diferença, Cale detestava Bob Dylan. Andy botou ele na banda com sua viola torta e uns teclados ""tipo uh....Cage... John Cage. John e Lou se gostaram. Ambos liam as mesmas coisas.
O primeiro show foi num congresso de psiquiatras. Foram vaiados. Nico ensinou Reed a ser cínico. a ter raiva, a ser cool. Vestidos de preto, eles queriam matar os hippies. Odiavam a costa oeste.
Nico passou a namorar Brian Jones. E um dia levou a um show um outro namorado, um cara meio tosco de Detroit, um tal de James Osterberg. Ele tinha uma casa chamada Fun House, no mato, vivia lá com uns amigos. Nico foi pra lá e mudou o cabelo de James, lhe deu uns toques sobre atitude, e foi embora sem olhar pra trás. Foi dormir com Jim Morrison.
O cara virou Iggy Pop e John Cale produziu seu primeiro disco. Iggy era uma besta. Um idiota. Genial.
Lou Reed se achava o máximo. E por causa disso John Cale se foi. E com Cale se foi todo o ruído. E depois se foi Andy Warhol, e com ele se foi o fascínio chic. Lou ficou mais Dylan. E então, cansado de ser vaiado, de ser agredido, cansado do fracasso, foi pra casa.
Na Inglaterra um cara metido a ator não sabia se queria ser Brando ou Elvis. Foi levado a New York para conhecer Andy Warhol. Estava doido para encontrar Lou Reed. Reed não lhe deu bola, foi snob com ele. Voltou pra Londres e continuou sendo um fracasso. Ele compunha canções lindas, mas era um tempo em que todo cara novo tinha de seguir o estilo progressivo ou hard rock. E ele, David Bowie, era apenas pop. Mas um pop esquisito, pop feito por quem tinha pretensão, cultura, gosto. E era poeta. David Bowie tentava fazer sucesso sem fazer concessão. E nada.
Well....Marc Bolan era amigo de Bowie, e Marc abriu um caminho psicodélico. Violão e voz. Até que Tony Visconti insistiu para que ele usasse uma guitarra elétrica e Marc botou o glam nas paradas. Nascia o auge do rock inglês. A ilha nunca mais seria a mesma.
Mas nesse momento, 1971, em que T.Rex estoura, Bowie ainda era um nada, Lou voltara a morar com os pais e Iggy estava morto para as gravadoras.
E então Bowie encontra Tony Visconti. E conhece o novo Jeff Beck, um tal de Mick Ronson...E então Bowie tem a ideia, fazer uma Factory inglesa!!!!!
E o resto conto depois....
Nico era alemã e foi topar na Factory. Era o molde do que viria a ser uma descolada hoje. Namorada de Bob Dylan, atriz, modelo, cantora, atuara com Fellini. Andy resolveu botar Nico pra cantar as músicas "....uh....do Lou Reed, nada de Lewis..."
Na Factory morava todo mundo: bichas, travestis, bandidos, cineastas, drogados, poetas, e os bobos também. Um cara de Gales apareceu por lá...John Cale era músico erudito, tão louco quanto Reed, com uma diferença, Cale detestava Bob Dylan. Andy botou ele na banda com sua viola torta e uns teclados ""tipo uh....Cage... John Cage. John e Lou se gostaram. Ambos liam as mesmas coisas.
O primeiro show foi num congresso de psiquiatras. Foram vaiados. Nico ensinou Reed a ser cínico. a ter raiva, a ser cool. Vestidos de preto, eles queriam matar os hippies. Odiavam a costa oeste.
Nico passou a namorar Brian Jones. E um dia levou a um show um outro namorado, um cara meio tosco de Detroit, um tal de James Osterberg. Ele tinha uma casa chamada Fun House, no mato, vivia lá com uns amigos. Nico foi pra lá e mudou o cabelo de James, lhe deu uns toques sobre atitude, e foi embora sem olhar pra trás. Foi dormir com Jim Morrison.
O cara virou Iggy Pop e John Cale produziu seu primeiro disco. Iggy era uma besta. Um idiota. Genial.
Lou Reed se achava o máximo. E por causa disso John Cale se foi. E com Cale se foi todo o ruído. E depois se foi Andy Warhol, e com ele se foi o fascínio chic. Lou ficou mais Dylan. E então, cansado de ser vaiado, de ser agredido, cansado do fracasso, foi pra casa.
Na Inglaterra um cara metido a ator não sabia se queria ser Brando ou Elvis. Foi levado a New York para conhecer Andy Warhol. Estava doido para encontrar Lou Reed. Reed não lhe deu bola, foi snob com ele. Voltou pra Londres e continuou sendo um fracasso. Ele compunha canções lindas, mas era um tempo em que todo cara novo tinha de seguir o estilo progressivo ou hard rock. E ele, David Bowie, era apenas pop. Mas um pop esquisito, pop feito por quem tinha pretensão, cultura, gosto. E era poeta. David Bowie tentava fazer sucesso sem fazer concessão. E nada.
Well....Marc Bolan era amigo de Bowie, e Marc abriu um caminho psicodélico. Violão e voz. Até que Tony Visconti insistiu para que ele usasse uma guitarra elétrica e Marc botou o glam nas paradas. Nascia o auge do rock inglês. A ilha nunca mais seria a mesma.
Mas nesse momento, 1971, em que T.Rex estoura, Bowie ainda era um nada, Lou voltara a morar com os pais e Iggy estava morto para as gravadoras.
E então Bowie encontra Tony Visconti. E conhece o novo Jeff Beck, um tal de Mick Ronson...E então Bowie tem a ideia, fazer uma Factory inglesa!!!!!
E o resto conto depois....
HOUELLEBECQ, O ÚNICO
Michel Houellebecq é o cara. É o único escritor que realmente escreve sobre aquilo que o mundo é agora. Seu mundo é meu.
Para ele, nós apenas comemos, dormimos, transamos, trabalhamos e morremos. Mais nada. É um mundo sem heróis, sem deuses, sem qualquer transcendencia, reduzido ao nada.
Saiu um texto sobre ele na Folha de 3/10. Eu conheci Michel através de Iggy Pop. Sim, Iggy gravou um disco inteiro sobre Houellebecq. Iggy pensa ser ele o cara. Em mundo cada vez mais árido e vazio, só podia ser um francês o cronista deste tempo de mierda.
Partículas Elementares e A Possibilidade de Uma Ilha. São seus livros ( por enquanto ). Não se engane, voce vai ouvir falar muito dele ainda.
Mas não pense que eu o considere Grande.
Não lava os pés de Saul Bellow ou de Sebald. Mas o problema é que Sebald e Bellow estão mortos. Assim como Updike. Dos vivos, Le Clezio tem um estilo melhor, Roth é mais elaborado e criativo, e Coetzee é muito mais "escritor". Perto desses caras, Michel é tosco.
Porém é sua a escrita do século que nasce e já está gasto. A ruindade de Houellebecq é a ruindade da França/Europa/Terra de agora-já. Um desencantado fedendo a fumaça e a calor sudorífico. A água evapora, e com ela a poesia. Abrimos mão de tudo o que é subjetivo. A alma se vai com isso.
É tempo de Michel Houellebecq.
Para ele, nós apenas comemos, dormimos, transamos, trabalhamos e morremos. Mais nada. É um mundo sem heróis, sem deuses, sem qualquer transcendencia, reduzido ao nada.
Saiu um texto sobre ele na Folha de 3/10. Eu conheci Michel através de Iggy Pop. Sim, Iggy gravou um disco inteiro sobre Houellebecq. Iggy pensa ser ele o cara. Em mundo cada vez mais árido e vazio, só podia ser um francês o cronista deste tempo de mierda.
Partículas Elementares e A Possibilidade de Uma Ilha. São seus livros ( por enquanto ). Não se engane, voce vai ouvir falar muito dele ainda.
Mas não pense que eu o considere Grande.
Não lava os pés de Saul Bellow ou de Sebald. Mas o problema é que Sebald e Bellow estão mortos. Assim como Updike. Dos vivos, Le Clezio tem um estilo melhor, Roth é mais elaborado e criativo, e Coetzee é muito mais "escritor". Perto desses caras, Michel é tosco.
Porém é sua a escrita do século que nasce e já está gasto. A ruindade de Houellebecq é a ruindade da França/Europa/Terra de agora-já. Um desencantado fedendo a fumaça e a calor sudorífico. A água evapora, e com ela a poesia. Abrimos mão de tudo o que é subjetivo. A alma se vai com isso.
É tempo de Michel Houellebecq.
VELVET GOLDMINE- TODD HAYNES
Assistir este filme é para mim, exercício de nostalgia narcisística e masoquista. Eu tinha 11 anos no auge do glam-rock, e creia, glam era feito para gente de 11 anos. Bowie, Roxy, T.Rex, David Essex, Eno, Lou Reed ( só por um ano ), Gary Glitter, Suzi Quatro, Sweet... a melhor época do pop, magnífico período de romantismo bobo, criatividade pupurinada, beleza travestida.
O filme funciona?
Quando o assisti pela primeira vez, sim. Revisto hoje, seu impacto diminui. Em 1999 não havia o filme sobre Dylan. Na comparação entre os dois, Velvet perde de longe. Porque ?
O glam-rock era bem mais do que o filme mostra. Dylan é o que o outro filme diz.
Vendo este filme, temos a impressão de que o movimento foi apenas um surto gay, nascido em boates de travestis e lançado por empresários suspeitos. Sim, foi tudo isso, mas foi bem mais. Seu lado mais perigoso, mais transgressivo, ficou de fora.
No início deste texto, eu escrevi que este filme é saudosista. Ele "precisa" ser, pois o glam-rock já nasce saudosista. E sua saudade é do simbolismo. Ele traz Rimbaud/ Wilde/ Yeats e Proust para o mundo caipira do rock. E isso foi muito revolucionário.
Até 1971, rock era coisa de macho. Seja Hendrix, Lennon, Cash ou Townshend, todos posavam de cowboy, de trabalhador. A genial excessão : Mick Jagger. Seu filme, PERFORMANCE, um tipo de Velvet Goldmine em LSD, é o ponto inicial do glitter. Tudo o que o glam-rock seria já se encontra lá : bissexualidade, luxo, cafonice e simbolismo afetado.
Em 1971, Hunky Dory de Bowie e Transformer de Lou Reed se juntam ao super sucesso de Electric Warrior de T.Rex e capturam a parada britânica. ( Observação : os EUA jamais engoliram o glam. ). Logo, durante quatro anos, tudo se torna glam. Gente que nada tinha a ver com o movimento ( até o Deep Purple tentou ser glam ) se maquia e se finge simbolista. Eu lembro de meu tio usando calças pink de boca sino e camiseta purpurinada e de uma prima com uma estrela pintada no olho, glitters sem saberem o que isso era.
O filme vence pela trilha sonora. Cinco músicas do Roxy ( tocadas pelos fãs : Thom Yorke, Johnny Greenwood, Bernard Butler e Michael Stipe ) e mais algum Eno e T.Rex. As versões, respeitosas, são exatamente iguais às originais. Bowie proibiu o uso de suas canções. Uma pena. Talvez um dia Todd faça sua biografia.
A relação entre Iggy e Bowie está muito bem explicada no filme, mas a loucura que rolava ao redor deles não é mostrada. Bowie é o mais diabólico, esperto, malandro, ladrão e genial entre os heróis do pop. Naquela época ele comia por todo lado : seus rocks eram chupados de seu rival- Marc Bolan; as baladas vinham de Lou Reed; sua persona era uma mistura de LARANJA MECÂNICA com mímicos ingleses; sua pose era a de um Oscar Wilde cibernético. A imensa ambição, a inteligência acima do seu meio, a frieza revolucionária e individualista de Bowie passam longe do filme. Bowie foi apaixonado por Iggy, mas foi muito mais que aquilo.
Lou Reed está ausente do filme. TRANSFORMER foi o melhor dos discos glitter. A relação de ´fã e de ídolo que havia entre os dois foi posta de lado. Bowie respeitava Lou e Dylan. Ele copiava Marc Bolan, mas sabia que o alcance do T.Rex era limitado. Bolan encontrou uma fórmula e não conseguiu dar o passo seguinte. Bowie guinou ( em 1976 ) para Eno e Roxy, e se renovou.
O retrato de Iggy redime qualquer erro que o filme cometa. Ewan McGregor brilha. Seu Iggy é aquilo que o verdadeiro Iggy Pop é : ADORÁVEL.
Um bando de pretensiosos. Bichas louquérrimas. Cafonas de propósito. Roupas para ofender o bom gosto e a caretice. Letras sobre gays, viagens espaciais e solidão. Isso tudo caiu como uma bomba sobre minha vida. Christian Bale, de certa maneira, faz o que fiz. Seguir esse arco-iris platinado pelo resto da vida. Cair de amor por cada menina dúbia e duvidosa encontrada na vida e ouvir Roxy/Bowie/Lou como um tipo de compromisso com o sublime. Quando Bale coloca o vinil para rodar, me vejo em 1974, ouvindo Bowie como se fosse um pecado. Caraca! Eu era uma criança !
É legal imaginar que certos nomes do pop atual tiveram a mesma relação sagrada que eu tive com os discos do glam. Imaginar que todos estão eternizados. O que me irrita é que eles não tiveram a coragem de BICHALOUCAR. São apenas meninos frescos.
Pensando melhor. Este filme é bem legal. Me faz divagar. Sonhar com o tempo em que ouvir um disco era um ato de relação íntima. Você e David, você e Bryan. Contra os hippies, contra os caretas, contra quase tudo.
Foi maravilhoso. Foi um privilégio. Foi divino.
O filme funciona?
Quando o assisti pela primeira vez, sim. Revisto hoje, seu impacto diminui. Em 1999 não havia o filme sobre Dylan. Na comparação entre os dois, Velvet perde de longe. Porque ?
O glam-rock era bem mais do que o filme mostra. Dylan é o que o outro filme diz.
Vendo este filme, temos a impressão de que o movimento foi apenas um surto gay, nascido em boates de travestis e lançado por empresários suspeitos. Sim, foi tudo isso, mas foi bem mais. Seu lado mais perigoso, mais transgressivo, ficou de fora.
No início deste texto, eu escrevi que este filme é saudosista. Ele "precisa" ser, pois o glam-rock já nasce saudosista. E sua saudade é do simbolismo. Ele traz Rimbaud/ Wilde/ Yeats e Proust para o mundo caipira do rock. E isso foi muito revolucionário.
Até 1971, rock era coisa de macho. Seja Hendrix, Lennon, Cash ou Townshend, todos posavam de cowboy, de trabalhador. A genial excessão : Mick Jagger. Seu filme, PERFORMANCE, um tipo de Velvet Goldmine em LSD, é o ponto inicial do glitter. Tudo o que o glam-rock seria já se encontra lá : bissexualidade, luxo, cafonice e simbolismo afetado.
Em 1971, Hunky Dory de Bowie e Transformer de Lou Reed se juntam ao super sucesso de Electric Warrior de T.Rex e capturam a parada britânica. ( Observação : os EUA jamais engoliram o glam. ). Logo, durante quatro anos, tudo se torna glam. Gente que nada tinha a ver com o movimento ( até o Deep Purple tentou ser glam ) se maquia e se finge simbolista. Eu lembro de meu tio usando calças pink de boca sino e camiseta purpurinada e de uma prima com uma estrela pintada no olho, glitters sem saberem o que isso era.
O filme vence pela trilha sonora. Cinco músicas do Roxy ( tocadas pelos fãs : Thom Yorke, Johnny Greenwood, Bernard Butler e Michael Stipe ) e mais algum Eno e T.Rex. As versões, respeitosas, são exatamente iguais às originais. Bowie proibiu o uso de suas canções. Uma pena. Talvez um dia Todd faça sua biografia.
A relação entre Iggy e Bowie está muito bem explicada no filme, mas a loucura que rolava ao redor deles não é mostrada. Bowie é o mais diabólico, esperto, malandro, ladrão e genial entre os heróis do pop. Naquela época ele comia por todo lado : seus rocks eram chupados de seu rival- Marc Bolan; as baladas vinham de Lou Reed; sua persona era uma mistura de LARANJA MECÂNICA com mímicos ingleses; sua pose era a de um Oscar Wilde cibernético. A imensa ambição, a inteligência acima do seu meio, a frieza revolucionária e individualista de Bowie passam longe do filme. Bowie foi apaixonado por Iggy, mas foi muito mais que aquilo.
Lou Reed está ausente do filme. TRANSFORMER foi o melhor dos discos glitter. A relação de ´fã e de ídolo que havia entre os dois foi posta de lado. Bowie respeitava Lou e Dylan. Ele copiava Marc Bolan, mas sabia que o alcance do T.Rex era limitado. Bolan encontrou uma fórmula e não conseguiu dar o passo seguinte. Bowie guinou ( em 1976 ) para Eno e Roxy, e se renovou.
O retrato de Iggy redime qualquer erro que o filme cometa. Ewan McGregor brilha. Seu Iggy é aquilo que o verdadeiro Iggy Pop é : ADORÁVEL.
Um bando de pretensiosos. Bichas louquérrimas. Cafonas de propósito. Roupas para ofender o bom gosto e a caretice. Letras sobre gays, viagens espaciais e solidão. Isso tudo caiu como uma bomba sobre minha vida. Christian Bale, de certa maneira, faz o que fiz. Seguir esse arco-iris platinado pelo resto da vida. Cair de amor por cada menina dúbia e duvidosa encontrada na vida e ouvir Roxy/Bowie/Lou como um tipo de compromisso com o sublime. Quando Bale coloca o vinil para rodar, me vejo em 1974, ouvindo Bowie como se fosse um pecado. Caraca! Eu era uma criança !
É legal imaginar que certos nomes do pop atual tiveram a mesma relação sagrada que eu tive com os discos do glam. Imaginar que todos estão eternizados. O que me irrita é que eles não tiveram a coragem de BICHALOUCAR. São apenas meninos frescos.
Pensando melhor. Este filme é bem legal. Me faz divagar. Sonhar com o tempo em que ouvir um disco era um ato de relação íntima. Você e David, você e Bryan. Contra os hippies, contra os caretas, contra quase tudo.
Foi maravilhoso. Foi um privilégio. Foi divino.
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