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COMO TRATAR AS MULHERES - WILLIAM CAMUS
William Camus tem uma bigrafia ótima. Lutou na resistência na Segunda Guerra, depois foi militar na Indichina. Se tornou piloto de stock car. Fotógrafo e afinal, escritor. Mas, sinto dizer, este livro é bobo como só um ego inchado pode ser. Tenta ser engraçado e se faz chatinho. Ele fala de como as mulheres são, usando para isso a antropologia. Sim, somos macacos, nós homens caçamos e nos sacrificamos, elas ficam em casa e nos esperam. Ficando em casa se tornaram mais inteligentes e mais exigentes. Homens querem sexo, mulheres trocam sexo por bens ou proteção. Hoje elas trabalham e não precisam mais dos bens e da proteção, mas mesmo assim, nós, homens, continuamos pedindo sexo em troca de um favor. Será? ------------------------- A coisa é bem mais complicada que isso e esse papo não cola. O mundo pode ter sido assim até o meio do século XX, mas em 2024 o papel da mulher deixou de ser esse. Ela também quer sexo. Sempre quis, mas hoje ela assume isso. E, pelo fato do homem saber que ela quwr, toda essa situação se modificou. A negociação se complicou muito. E às vezes essa troca nem é percebida. Às vezes ela é apenas sentimental e não mais material. ----------------- Claro que há mulheres que continuam usando sexo como moeda e claro que há homens que gostam de ver as coisas nesse ponto. Mas isso não é mais a única condição. O macaco e macaca ficaram um pouco mais para trás. ---------------- Camus insiste na tese de que continuamos sendo macacos. Agimos e sentimos como símios agem e sentem. Penso que não.
JOSÉ ANGELO GAIARSA
Entre 1980-1986, o psiquiatra e terapeuta, José Angelo Gaiarsa aparecia na TV com frequência. Além de participar de vários programas, ele tinha horário próprio, na hora do almoço na Tv Bandeirantes. Junto com Gikovate e Mascarenhas, era ele o cara que popularizava a psicologia no Brasil. Era uma época em que na visão do povo, tratar da mente era coisa de louco. Ou de rico desocupado. ----------------- Sua simpatia era total. Ele parecia um Buda sorridente. Para mim, um jovem cheio de inibições, medos, neuroses, ouvir Gaiarsa era ver luz no fim do túnel. Seu discurso, libertário, era um alívio, e naqueles anos de abertura absoluta no costumes, uma benção. Gaiarsa não tinha medo de falar, em pleno horário de donas de casa, que as mães destruíam os filhos, que elas os ensinavam a se reprimir, que crianças imitavam adultos, e que as mães costumavam ser um exemplo nada saudável. Gaiarsa era a favor do gozo sem culpa, do casamento aberto, do tesão livre, da destruição da máscara de bom cidadão que nos obrigavam a usar. ------------------- Tenho lido seus livros, muitos. São simples mas jamais simplistas. Ele é POP, mas não charlatão. Nunca sai da competência psiquiátrica, na qual ele é muito bem treinado. Crianças são livres, adultos as destroem, elas carrega a vida toda a culpa por serem....crianças. Fingem ser adultos. Os mais doentes acreditam no fingimento geral. Cabe ao terapeuta liberar a criança reprimida. Parece terapia hippie de 1970? Parece sim. Mas como discordar? Se hoje o discurso é de que houve um excesso de liberalismo, o que pergunto é: houve mesmo? Tem certeza? ---------------- O que houve foi uma liberação das drogas e uma desvalorização do sexo. Consume-se droga, muita, mas seu uso não busca a iluminação, busca-se apenas um prazer rápido e inofensivo. E quanto ao sexo, sim, se trepa mais, mas se desafia a ordem social muito menos. O casamento monogâmico continua sendo lei, o desejo ainda é restrito ao amor ou ao compromisso, ainda se maquia sexo com as cores da poesia mais adocicada. Namora-se como se namorava em 1970. Se hoje namorados dormem na casa da menina, com as bençãos dos pais, é exatamente isso, com as bençãos dos pais. Não há sexo mais inofensivo que esse: transar na casa da mãe da namorada, ao lado do quarto do pai dela. O sexo em 2024 é livre, e ao mesmo tempo, por ser livre, é pouco excitante e muito bobo. Até os antes muito perigosos gays se tornaram tias de programas de TV. Sexo castrado. Sexo brinquedinho. ---------------------- Gaiarsa, se vivo, teria muito o que falar. A liberdade do corpo, que ele tanto pregava, para ele toda cura é corporal, se tornou obrigação. Temos de transar bem, transar gostoso, mas não podemos ter segredos, tem de ser tudo limpo, às claras, assumido perante a sociedade. Pois é ela, a sociedade, que faz o papel da mãe em 2024. Ela dita, ela vigia, ela cobra, ela corrige. Ser livre em 2024 é enfrentar a sociedade da midia-moda, como em 1970 era enfrentar pai-mãe. Se antes o sexo, feito por puro tesão, era a bandeira da liberdade, hoje, sexo não é mais liberdade, é antes, um quase dever. -------------------- Não estou dizendo que devemos não transar, que a castidade é o novo modo de ser rebelde. NÃO. O que digo é que transar e anunciar isso à todos, assumir sua homossexualidade, nada mais tem de libertário. É apenas uma gracinha futil. Talvez sexo como liberdade seja simplesmente manter tudo no privado, nada anunciar, nada compartilhar, ter uma vida interior. Manter a escuridão. -------------------------------- Nunca brincamos tanto e nunca fomos tão pouco crianças.
HISTÓRIA DO OLHO - GEORGES BATAILLE
Em 1928 Bataille lançou este livro sob pseudônimo. È um conto de fadas obsceno. Conto de fadas porque tudo acontece em tempo e em lugar nenhum. As ações são irreais, ocorrem sem esforço em mundo onde nada parece fazer sentido. Não há ação e reação, age-se. Ele faz sexo com ela, duas quase crianças. As cenas de sexo não são eróticas pois não se descreve o ato com intuito de excitar. Acontece. Ele gozou nela. Simples. ------------------ Há uma fixação pelo anus. Estouram-se ovos no cu. Essa palavra é motor do que se conta: cu. Tudo é cu. Há estupros que não são estupros, olhos que são cegos. Adultos nada percebem, o sexo do livro existe só para os muito jovens. Todo adulto é velho. Sexo como jogo brincadeira, sexo como destino. O livro é surralista porque cria um mundo onírico. O livro é ainda chocante por ser profundamente amoral. E não me deu o menor prazer. Então que os intelectuais encontrem seus sentidos na obra, quando querem eles sempre o encontram. Eu não.
AS ONZE MIL VARAS - GUILLAUME APOLLINAIRE
Apollinaire foi um poeta, famoso, do começo do século XX. Amigo de Picasso, morreu cedo, no campo de batalha, na Primeira Guerra. Como Cocteau, ele procurava atuar em várias frentes, e uma delas foi a pornografia. Apollinaire escreveu dois pequenos livros pornô e o mais famoso foi este. ---------------- Pornografia em 2024 não tem mais o sentido que tinha antes. Hoje é apenas um produto, inofensivo, geralmente de mal gosto. Ao contrário do erotismo, que dá dignidade e beleza ao sexo, a pornografia é agressão. O pornô torna o corpo um obejto de uso prático. Substituível. O erótico faz do corpo uma beleza maior, a pornografia faz do corpo nada mais que carne. O texto de Apollinaire usa todas as armas da pornografia. É sujo, é muito violento e abusa do mal gosto. Os corpos se tornam carne de açougue. As pessoas são abusadas, humilhadas, mortas. Sangue, fezes, podridão. O objetivo de Apollinaire era chocar, ir ao exagero máximo para assim liberar o amor real. Não deu certo, hoje o sabemos, mas em 1910 parecia um caminho provável. ------------------- Como leitura, em 2024, é pura perda de tempo. Não excita, não diverte e é insuportável nas suas cenas de sadismo. Tudo que voce imaginar tem aqui. É Deep Web em forma de livro. Eu odiei.
ASPECTOS DO MASCULINO - C.G. JUNG
Li este e o outro volume, o que fala sobre os aspectos femininos. Para mim não foi uma leitura muito instigante, isso porque os dois volumes são coletâneas editadas de Jung sobre o tema da força masculina e feminina no inconsciente. Anima, a força impessoal feminina que habita o inconsciente do homem, e o animus, equivalente da mulher, sendo essa uma força masculina. Grosso modo, é o lado mulher que habita a psique dos homens e o lado homem que vive na psique da mulher. Mas não vulgarize, meu lado feminino não é um eu travestido de mulher, nem mesmo é um eu mais sensível. A Anima não é uma pessoa, é, como o inconsciente, um espírito coletivo, comum a todos, puro instinto, puro hábito, pura força sem começo e sem fim. Anima que não fala, não se vê, que age como natureza, não humana e também super humana. É o desejo que sentimos pela MULHER, aquela imagem feminina que não tem rosto ou voz, a síntese de todas as mulheres e que é nenhuma sendo tudo. Procuramos em toda mulher essa MULHER e não a encontramos, pois ela vive dentro de nós mesmos, é a força que nos faz viver. Não é o que nos falta, pois ela é nós mesmos, mas é o que queremos encontrar. ------------------ Jung, como sempre faz, cita milhares de referências, filosofia hermética acima de tudo. Hermes-Mercúrio, como símblo de transformação, pois o encontro com a anima transforma o homem de dentro para fora. Jung enfatiza a necessidade desse encontro, do entrar dentro para poder haver a individuação, o encontro consigo mesmo que faz de um homem natural um homem ele-mesmo, um homem racional. Para isso é preciso criar uma ponte que faça o inconsciente ser entendido e assim reavivar toda a força da vida. ---------------- Pois vive no mais fundo caminho a força que criou vida e que existirá para sempre. Eis um tema junguiano: o inconsciente é a digital, eterma e imaterial, do criador, seja ele Deus, deuses ou o que for. O inconsciente é portanto imortal, pois ele existe em toda vida e a vida existirá após a minha ou a sua morte. Meu inconsciente, como minha anima, é igual a sua, pois ela é a sua. Apenas a sinto diferente de voce, pois é meu ego que a percebe ou a nega, e meu ego, que perecerá, sou eu e não voce. Minha história é meu ego, minha memória consciente é meu ego. O que não é ego é eterno, ou seja, a história da vida, a memória da vida, o tempo da vida. ---------------- Jung foi um suiço de língua alemã, portanto impregnado de filosofia alemã. Schopenhauer é uma influência imensa, como foi em Freud, mas Freud pega de Schopenhauer o conceito de Vontade como força que move a vida e o transforma em libido. Jung é mais sutil, ele mistura Kant e faz da vontade uma força inconsciente sem nome, uma espécie de vida surgida antes da vida, um imperativo. ----------------- Sempre bom o ler.
MARQUÊS DE SADE
Acima de tudo ele escreve mal. Os escritos do Marquês são chatos de ler e secos como lixa de unha. Pior, ele exemplifica a diferença entre pornografia e erotismo. Como acontece com Sade, a pornografia tem apenas um objetivo: explicitar um ato. Já o erotismo procura valorizar um sentimento e um desejo. Em Sade nada nos faz sentir excitação. Tudo que sentimos é mistura de irritação, pela ruindade do estilo, e espanto, pela surpresa de conhecer alguém com modo de pensar tão....adolescente! ------------------- Pois Sade lembra sempre um adolescente de 14 anos escrevendo pornografia para aliviar seu ódio aos pais. Seus ataques à Igreja, se comparados aos de Voltaire, são imbecis, suas "ofensas" à família são as mesmas de um bêbado de boteco e suas descrições do pecado são dignas de moleques falando besteiras em quarto escuro. Um homem, o alpha maximus, surra uma mulher. Ela agradece. Depois vem o resto, como esperado: sexo lésbico, sexo entre fezes, sexo com sangue, sexo grupal, incesto etc. Tudo escrito em modo pseudo científico, ou seja, chato demais. ----------------- Qual o valor de Sade então? Pois se trata de autor muito famoso! ..... Simples explicar: o valor é de quem o divulgou e o usou como ferramenta, não é um valor "de Sade", mas sim de quem propagandeou Sade. E por que o propagandeou? --------------- Autor morto a muito tempo, usar Sade não era risco de processo. Sua pornografia, se exibida ao público, liberava a pornografia feita então, contemporaneamente. Sade era um tipo de espantalho, escudo protetor e salvo conduto. Ao popularizar Sade, os surrealistas, simbolistas e góticos liberavam seus escritos. Eles sabiam que havia muita pornografia antes do tempo de Sade, e que nem mesmo um pioneiro ele era, mas o escolheram porque o próprio nome, Marquês de Sade, dava à pornografia uma aura de salas refinadas e castelos sinistros. O fato dele ter morrido preso em hospício também ajudou a ser o escolhido. -------------------- Okay, tudo isso é fato, mas ao ler sua obra o que nos aparece é um dos piores escritores famosos da história. E não deixo de pensar ser o maior crime de Sade ter recebido tal fama em lugar de tanta gente esquecida que merecia maior memória. -------------- Sade é tão ruim que nos faz ver o sexo como tédio. Impotente. Esse era seu segredo.
O DIA EM QUE PLATÃO CALOU A BOCA
Eu percebi que o mundo havia regredido em 2012. Era uma aula de teoria literária e logo no início um aluno ergueu a voz. Bradou que era absurdo ainda se estudar Platão, pois Platão era branco, grego, europeu, de uma sociedade de escravos, portanto ele nada tinha de válido para alunos de hoje. Não consegui ficar calado e a discussão foi ridícula. Isso aconteceu na USP, curso noturno, e foi por isso que me transferi para a manhã, onde a censura é bem menor. ------------- Na época achei aquilo um ato isolado mas com o tempo entendi o que se passa desde então. É a NOVA CIVILIZAÇÃO, aquela onde a única força válida é o seu desejo. Tento explicar. -------------- Platão não pode ser aceito nesse universo novo porque para ser aceito é preciso que voce entenda que uma voz vinda de 2.500 anos atrás pode ainda ser universal. E ao aceitar isso voce precisa admitir a possibilidade de seu desejo estar errado. Ou pior, ser irrealizável. Pois a cultura, a alta cultura, sempre nos ensina a humildade. Para ler Platão voce precisa aceitar o fato de que um homem sem internet, sem TV, sem rocknroll ou RAP possa estar certo. Mais ainda, só aceita a cultura quem admite estar vazio, com fome, necessitado de sabedoria. O desejo não pensa jamais estar errado ( se é que pensa ), ele está certo em querer. Ele deseja e desejar é ter sempre certeza de um objetivo. É saber. Um saber pueril, tolo, básico, animal, uma eterna auto afirmação da vontade. ------------------- O aluno que odeia Platão está se colocando acima de toda uma cultura. O que faz com que ele faça isso não é o fato dele ter estudado Platão e ter percebido suas falhas, que são muitas, mas sim o fato de que esse aluno DESEJA que Platão nada signifique. Ele anula aquilo que não quer entender. Aquilo que não lhe parece útil para realizar seus desejos. --------------- Que desejos? Muitos, aparentemente muitos, mas na verdade apenas um: SER AQUILO QUE VOCE QUISER. É a civilização da DITADURA DE PETER PAN. --------------- Uma das mais bonitas frases do livro de James Barrie é quando Peter diz que basta imaginar para ser. Eu, se quiser imaginar, posso ser um escritor ( mesmo sem publicar nada ), um filósofo ( mesmo sem criar filosofia alguma ), Posso ser aquilo que minha fantasia-desejo declarar. Desse modo, nada se torna mais odiado e ofensivo que alguém que diga: NÃO, VOCE NÃO PODE. CRESÇA! ------------------ Essa civilização se torna deserta de adultos e de herois. Pois adulto é aquele que trabalha limites, que entende regras, que é realista. E o heroi é o que luta contra o impossível, e para vencer o impossível, o limite, é preciso que voce o entenda, que voce trabalhe contra tal limite. Nesse mundo infantil, uma pessoa pode ser sacrificada por dizer coisas óbvias, como que um filho só pode ser gerado por um macho e uma fêmea, ou falar que não existe sociedade ideal. Essas verdades irão ofender os desejos de quem quer brincar de pai e mãe ou quem vê na natureza uma sociedade do bem. ------------- Para alguém mergulhado em cultura ocidental como eu, a coisa é bastante ridícula. E perigosa. Pois o que vejo é o nascimento do momento em que toda cultura será reduzida ao utilitarismo infantil mais simples e óbvio. Livros, filmes ou música só será aceita se for útil para ajudar alguém que esteja precisando de "uma luz", uma luz para realizar seu desejo. ----------------- Desejo que é sempre uma fantasia rósea e sem perigo. ---------------- Por fim digo que nunca na história se falou e usou tanto a palavra amor. Crianças precisam de amor todo o tempo. Então vemos bancos que são do amor, cosméticos do bem, lojas que vendem amizade, fraternidade em anúncios de cerveja. É um amor bobo, vazio, castrado. É o amor da tia do jardim de infância pelo aluno. É o amor que finge anular o lucro, o comércio, o uso do desejo. Pode-se dizer que nunca fomos tão hipócritas.
O EROTISMO, CONCLUSÃO
Homens e mulheres vêm o sexo de forma diferente, e a maior infantilidade do mundo atual é querer crer que eles são iguais. Mesmo um trans, um ex-homem, mantém muitas características do sexo masculino, sendo a principal delas o modo como vê o erotismo. Mulheres são, nesse ponto, muito mais sutis, detalhistas, percebem o todo, enquanto o homem percebe apenas um detalhe. ------------- No relacionamento, homens tendem a recomeçar todo dia. Cada momento de sexo tem por objetivo parecer com o primeiro. Quando ejacula, é como se tudo zerasse. O romance, na visão masculina, o romance ideal, não teria passado, o estado de novidade, de surpresa seria eterno. Mulheres não querem isso. Elas observam, e secretamente estão o tempo todo testando o homem. Elas não esquecem, esquecimento seria imaturidade. O romance ideal, para elas, é uma longa história em crescimento dia a dia. Não importa a surpresa ou a novidade, o que importa é o acúmulo. A mulher guarda. ------------- Ao nos apaixonarmos nos tornamos eróticos. Desejo atrai desejo e é por isso que namorados recentes atraem pessoas ao redor. Ironia: quando mais atraimos pessoas, eroticamente, é quando menos as queremos. Cheios de desejo pelo amado ou amada, exalamos energia, vitalidade. Mesmo um amor sofrido, em seu começo, tem essa carga erótica que atrai. Triste ironia, isso passa. A rotina mata o amor do homem e a decepção mata o da mulher. Ao amar matamos o amor. O que era novo se torna flácido, os testes são abandonados. A relação continua por hábito, por medo, por esperança. --------------- Outra diferença: homens quando deixam de amar ignoram a mulher. Podem continuar a viver com ela, mas não sentem mais nada. A outra pessoa se torna um fantasma. Mulheres quando deixam de amar criam nojo. O homem deve sumir de sua vista. Sua presença a exaspera. --------------- As lembranças dos homens, aquelas de ex namoradas, contêm falhas. Eles recordarão apenas o que foi divertido. E dessas memórias, 90% são sexo. Já a mulher irá lembrar de tudo que não deu certo. E dessas memórias, quase nada é sexo. Se preciso for, ela fará um relatório detalhado de cada dia do namoro. Já o homem irá recordar do corpo da mulher. Do cheiro. E quase mais nada. ------------------- Homens amam com os olhos e só com os olhos. O amor faz da mulher feia, bonita. Ele focará algo de belo nela, nem que seja apenas um dedo ou uma orelha. O resto será ignorado. Na hora do erotismo, ele como que esquece dos defeitos dela. É tomado. Quase um transe. Após o gozo, cai na razão e vem a melancolia, o desejo de fugir. Mas, se apaixonado, ele logo recomeça o jogo. Um homem que ama é capaz de ficar horas e horas olhando o corpo da mulher que ele adora. Nada lhe dá maior prazer que o olhar. -------------- Já a mulher ama com a pele. Com o ouvido. Com o nariz. O que mais a seduz é o cheiro do homem. O cheiro do corpo e o hálito. Esse o primeiro teste. Se o cheiro não agrada, nada mais agradará. Depois a voz. Mulheres são seduzidas pela voz certa, o timbre grave, o falar correto. E afinal vem a pele, o toque, o calor do corpo, o envolver. Como se fosse uma casa, a mulher abre ao homem uma porta de cada vez. Mesmo tendo já dormidos juntos, mesmo já tendo feito tudo que há para se fazer, muitas portas podem ainda estar fechadas. Ela as abrirá quando quiser e se ele o merecer. Homens não são casas. São estradas abertas. ------------------------------- Por fim o ciúme. Não o neguemos, amar é ter ciúmes. Quem deseja sabe que o outro é desejado. Por instinto sabemos que amando deixamos ela mais linda, mais viva, mais forte. E ela sabe que com ela voce é mais atraente. Situação sem solução: eu a faço mais atraente, a faço porque quero que ela seja cada vez mais bela. E assim, eu faço com que os outros homens a desejem. Aí é igual para a mulher. Ela sabe que ele é agora melhor, com ela, e sabe que assim as outras o desejam, agora. A verdade: eu a quero para mim, mas me agrada, me excita saber que outros a querem. O erotismo tem sempre um componente social. Desejamos aquilo que tem valor. E quem dá valor são os outros, não eu. ----------------------- Por fim: erotismo é alegria, sempre alegria.
O EROTISMO - FRANCESCO ALBERONI
Leia a postagem abaixo antes de ler esta. ---------------- Seduzir para o homem não significa produzir na mulher uma sensação indelével. Significa ir para a cama. Isso não quer dizer que homens não apreciem o amor, a história do casal, a emoção que inebria. Isso significa sim que para o homem o amor passa, sempre, pelo sexo. Homens têm uma clareza sobre o que seja amizade e o que seja amor, que as mulheres muitas vezes não têm. A fantasia erótica masculina reside na cama. A fantasia feminina reside no mundo inteiro. -------------- O autor italiano fala de Foucault. Diz que o francês, como quase sempre, errou feio ao dizer que " no mundo gay masculino, a promiscuidade existe porque o namoro entre homens foi reprimido por muito tempo". Ora, diz Alberoni, mulheres lésbicas não são promíscuas com a mesma frequência que se observa no mundo gay. Porque? O motivo seria a condição do homem. Homens, heteros, sonham com mulheres que dizem sempre sim. Há no homem uma fantasia de que o sexo, o desejo, pode e deveria ser automático. Quem diz não é a mulher. O homem está quase sempre querendo desnudar, ver, conhecer, transar com a mulher. No mundo gay, onde dois homens se encontram, não há o componente feminino que diz quase sempre não. O homem se libera. O sexo se faz sem amarras. ------------- Claro que há casais gays recatados. Mas mesmo esses, em muitos casos, viveram uma inciação orgiástica. No sexo lésbico nada disso existe. Inclusive é enorme o número de lésbicas que vivem juntas toda uma vida com carinho, cuidado e proteção, mas não com aquilo que um homem chama de sexo. ------------- Será tudo isso fato? Tendo a concordar por aquilo que conheço entre meus amigos gays. Mas acho Alberoni mais incisivo quando foge do mundo do erótico e invade o mundo da sociedade como um todo. Por exemplo, quando ele diz que a diferença básica entre a sociedade americana e européia é que na América, é preciso e até se exige, que todos tenham um objetivo, um fim a ser alcançado. Na Europa esse objetivo é vago. Se valoriza mais o caminho que a chegada. Isso se reflete no erotismo. Entre americanos há pouco erotismo visível. Isso porque o sexo se torna uma meta, um goal, uma vitória a ser obtida. Na Europa se dá mais valor ao ritual, a conquista, o flerte. Não há clareza no que se quer, há apenas um querer que pode ser transitório. Na América compromissos são sempre firmados, mesmo que depois sejam oficialmente rompidos. Na Europa o compromisso pode mudar a qualquer momento. Há entre americanos o horror a mentira, e por isso o adultério é ainda muito mal aceito. Não se mente sob um contrato firmado. Esse modo objetivo e prático faz com que nos EUA exista algo que não há na Europa: o bairro gay, o bar de solteiros, o bairro de famílias. Se voce tem por ALVO o mundo gay, more onde tudo fica a mão. Se voce quer sexo casual, vá a um single bar. ---------------------------- Uma alfinetada do autor em FREUD ( pobre Freud, todo mundo anda o alfinetando )... sexo não é a base da vida. Sexo é apenas um meio que os humanos usam para obter o que mais desejam: TRANSCENDÊNCIA. Animais são dominados pelo impulso sexual. Humanos não, podem o controlar. Usam o erotismo, o amor e o sexo para tentar obter uma experiência significativa. Transcender a vida banal. No amor vive a promessa de se viver uma vida maior. --------------- Belíssimas páginas sobre a paixão amorosa. O modo como no começo do amor, e só no começo, nos tornamos maiores, mais vivos, mais inteligentes e atraímos todos porque somos profundamente interessantes. Nossa voz ganha brilho, nossa pele fica mais macia, nosso olhar seduz. Em estado de excitação, prometemos excitação para os outros e optamos por nos conter. Pelo amor somos fieis. ---------------- Um livro bom.
O EROTISMO, FANTASIAS E REALIDADES DO AMOR E DA SEDUÇÃO - FRANCESCO ALBERONI
O autor é ainda vivo. Tem 91 anos. Jornalista, sociólogo e professor. Lançou este livro em 1986. É um de seus mais vendidos livros. Mas, será que o que ele diz é ainda válido em 2021? ----------------------- Primeiro fato dito por ele: Em todo produto pornográfico masculino, em todo sonho erótico masculino, o homem é sempre um ser que seduz as mulheres por sua simples presença. No sonho do homem, as mulheres oferecem seu sexo sem que ele precise fazer nada. A mulher é, nesse mundo, um tipo de prostituta. Ela abre as pernas apenas porque ele está ali. Na verdade o homem vê a mulher, na pornografia, como uma espécie de homem-mulher. Ela age com a disponibilidade que o homem tem ao sexo. Pois não se engane, homens sonham com sexo sem ritual, sem exigências, sem o sim ou o não. É a mulher quem diz não. É ela quem decide. E em 99% das vezes ele escutará não. ---------------- Mulheres não gostam de pornografia ( ainda? será? ). Costumam rir de cenas pornô masculinas. Acham aquilo tudo tão absurdo, tão idiota que caem no riso. O equivalente ao filme pornô masculino, no mundo feminino, aquilo que as excita, é a novela de TV, a série romântica, o drama romântico, e o romance literário água com açucar. A mulher não espera mais um príncipe, mas no seu sonho "pornô", continua existindo o homem poderoso, o heroi ferido, o misterioso com um passado secreto. Observe que no mundo feminino não excita o que é rápido e objetivo. O que excita é o todo, o ambiente, o enredo, a história que anda e se desenvolve. Mulheres não se excitam com a visão do corpo fazendo sexo. Ela se excita com um cheiro, um toque, um som, e principalmente um enredo. ----------------- Isso porque o desejo masculino é como seu gozo. Ele vem em jatos. O homem se excita, atinge o gozo e então esfria, quer cessar tudo, sumir e repousar. Seu desejo e seu amor são fragmentos, que podem contar uma hsitória, mas sempre em forma fracionada. Homens amam o começo, o início, o conquistar, o conhecer. Seu desejo por infidelidade, que existe sempre, mas nem sempre se manifesta, é o desejo por algo que sempre começa, sempre é novo, pela caça. ---------------- O desejo da mulher persiste. Ela após o gozo continua quente, e após o coito deseja o abraço, o contato, o estar unido. Seu desejo, como seu amor, não é fragmentado, é uma história, um acúmulo, um progredir. Ela não ansia pelo novo, ela quer o seguro. ------------------ Mas o que eles querem? O homem quer um corpo. Por uma mulher bonita ele pode se forçar a ignorar todos os defeitos dessa bela mulher. A neurose dela será compreendida. O ciùmes suportado. Até a falta de inteligência será esquecida. Uma mulher realmente bonita será perdoada por tudo, até pela infidelidade. ----------- Já a mulher ama o poder. Basta observar que mulheres realmente bonitas se casam com quem tem algum tipo de poder ( não necessariamente dinheiro ). O político. O esportista. O milionário. O ator famoso. Mas também o homem mais popular do bairro. O chefe do crime. O palestrante de uma seita. O chefe religioso. A mulher se excita com o homem de poder porque ele tem história, mistério e autoridade. E também porque ele dá à ela algo que mora fundo em sua alma: a segurança contra o estupro. ---------------- Milan Kundera diz em um livro que Homens amam mulheres bonitas. Mulheres não amam homens bonitos. Amam homens que tiveram mulheres bonitas. ----------------- Há na mulher o medo do estupro. Sempre. Por isso o homem que mais a atrai é aquele que parece forte, intimidador, mas que ao lado dela é sempre suave, confiável, paciente. Ele afasta os estupradores, mas jamais lhe ameaça com violência. A aceitação, absurda, do marido violento, é a garantia de ser estuprada apenas por ele, e por mais ninguém. ------------------------ Continuarei a falar do livro em post próximo.
SEXO É SEXO E SEXO É ..... ( UM POST CHEIO DE PALAVRÕES AO SOM DE JOHN LEE HOOKER )
O rosto dela e o cheiro dela. O cheiro é mais. Arranhar ela e beber o que sai de dentro dela. Apertar querendo morar dentro dela e me perder de mim nela. Há muito mal nela. Zomba de mim e ri de mim. Sempre que eu vou ela vai e quando chego ela sai. Os dentes falam pra mim. O que eu quero é aquilo que vejo. O que pego. O que cheiro. Ela é uma presença que assombra minha vida. Eu quero e eu tenho: meu desejo. Eu sou dela mas não serei mais que ela é. -------------- Então chega de toda essa bobalhada. Tudo é uma questão de coxas. Da saia que ela tira e da calcinha que ela exibe com orgulho. Não a amo. Isto não é cupido, é vudu. Ela posa e se exibe na rua, no bar, no salão. Ela ama excitar homens que se deixam capturar como peixes com fome. Eu sou o bagre. Um bagre velho incapturável. Vivo no lodo desde sempre. Solitário. Comendo lagostins vermelhos. Mas ela tem o anzol. Bunda. Bunda anzol. Cheiro isca. E voz. --------------- A voz é preta como uma casa vazia numa noite sem lua. É música que nasce entre lábios imensos e língua esperta. Lábios que beijam xingando. Língua que lambe sua alma. Voz do bayou. Quente em verões e mais quente no inverno de chuva e fome. Ela me derruba mas eu me vingo nela. Ela quer uns tapas porque ela vence sempre. Quer saber se sou homem o bastante. Bebê, eu sou um bagre. Eu escorrego. -------------- Não há vencedor como não há objetivo. O desejo é o agora pra sempre. Ela ri de mim e me trai. Eu solto meus yas yas. O mojo e o boogie são a briga do pau com aquilo que me escraviza. Mas o peixe escorrega de dentro dela. E rola de rir entre as coxas. O corpo que ela tem é uma terra fértil. E eu não me canso de conhecer esse lugar sem fim. ----------------- John Lee Hooker é um cara que sacou tudo isso. Na calçada ele via as mulheres perigosas rebolarem entre os postes com sombras prateadas. Elas ondulavam sexo como ele ondula acordes tortos. A voz de Hooker é lembrança de jiló e camarão. Peixe. Pimenta e lama. Não há música melhor para a cama. Não há coisa melhor para foder. Sua vida. Ela. E voce. Todos fodidos. E fodendo. ------------- Bons sonhos bebê.
PETRONIO - SATYRICON ... eles eram como nós?
Aos 15 anos, nos anos 70, eu li a obra de Petronio, escrita no tempo de Nero, começo da grande crise do imperio de Roma. Na época fiquei confuso. Me pareceu uma mistura estranha de pornografia e texto fragmentário. Relendo agora o que mais me espanta é constatar a profunda mudança que aconteceu nesse bicho chamado Homem. ----------------- O livro fala das aventuras de um jovem. Ele e seus amigos. Basicamente o que eles fazem todo o tempo é tentar comer sem ser comido. Nos dois sentidos da coisa. Há várias cenas chocantes e talvez a mais nojenta seja a que envolve uma menina de 7 anos. Sim, 7 anos. Meninos de 10 são os petiscos ( estou citando o que Petronio escreve ), jovens de 16 os "amiguinhos". Mulheres são percebidas como objetos para o casamento e seres perigosos. Petronio não diz, mas percebemos que o sexo entre homem e mulher é bem mais complicado. Não há muito mais a se falar. Um banquete absurdo, onde se vomita para se poder comer mais, vários estupros masculinos, casas que não possuem portas, vida privada não há. Mas não sobre sexo que desejo falar. É sobre alma. ------------------ Se voce, como eu, demorou para ler os clássicos da antiguidade, teve a mesma sensação estranha que eu ao os encontrar. Lendo Homero, ou Sêneca, Platão, Cícero, Hesíodo, voce pode admirar a beleza da linguagem, a altivez do propósito, o pensamento lógico, mas voce se incomoda com algo....O que seria? Em Satyricon percebemos o que é: Eles não se olham. ------------------------------ Temos vários séculos, hoje, de autores que passam páginas e páginas se analisando. Ser autor é praticamente ser um espelho voltado a si mesmo. Em Petronio, como em todos os outros antigos, inexiste a vida interior. Eles agem. E param para pensar em como agir. Sua moral é a do estado e só do estado. Os deuses também são ação. Eles intervém. Fazem coisas. Viver era obedecer à lei e agir para sobreviver. A vida das ideias ou do espírito era como se fosse ao lado, e não dentro. O homem não olhava para dentro de si. Ele olhava ao redor. ---------- Na USP aprendi que Santo Agostinho, por volta de 500 dc, começa nosso longo processo de interiorização. A presença do divino não se encontra mais numa árvore ou no sol, mas sim dentro de nós. Para encontrar a verdade é necessário penetrar dentro de sua alma. E ela mora no coração. Nunca iremos entender a diferença imensa que isso fez. Mas temos textos comos os de Petronio. Eles nos mostram a imensa diferença entre nós e eles. ---------------------- Pois mesmo que hoje exista um Sade ou um Hitler, bandos de estupradores pedófilos ou de masoquistas escravos, sabemos que eles fazem seus crimes sabendo serem tais atos crimes. Fazem a ofensa, e PENSAM nisso. Mesmo que não sintam a culpa, racionalizam o ato infame. Não é, e nunca mais será natural. E por mais que tentem crer que o mundo pagão era "melhor", terão sempre de lutar para manter sua crença, pois suas mentes e suas almas são do pós cristianismo. Não se apagam 15 séculos. ---------- Harold Bloom gostava de falar que foi Shakespeare quem criou nosso hábito de se analisar. Mas sabemos que foi o filósofo africano, Agostinho. Tentando achar Deus dentro de si, Agostinho sem querer nos inventou. Ah.....o livro de Petronio não é bom. Sobrevive apenas por ser antigo.
O CURRÍCULO ESCOLAR E O MAL DO SÉCULO
Em 1980 o Pink Floyd pedia para os professores deixarem seus alunos sozinhos. Em 2021 eles continuam não os deixando sós. Mas agora é pior, pois eles fingem ser um deles. Bom dia baby.... ------------------------ Segundo Paulo Freire, um aluno deve ser formado para mudar a sociedade. Então nós vemos o absurdo hoje de termos em uma semana de aulas: Sociologia, que falará dos problemas do mundo, Filosofia, que dirá que o mundo é mentiroso, História, que mostrará que todo o passado vale um pote de estrume, Geografia, que exibirá a falência do planeta e Português, hora de ler críticas ao homem. Ah sim, em Biologia serão exibidas fotos de doenças venéreas. Ou seja, apenas Física, Química e Matemática fugirão da.....SOCIOLOGIA. Um aluno passa a semana tendo até cinco aulas de sociologia por dia!!!!! ----------------- O cômico e trágico em tudo isso é que não se formam revolucionários. Esqueceram que todo revolucionário é um otimista infantil e o que formam são deprimidos niilistas. Daí a epidemia de depressão e suicídio entre adolescentes. Eles são educados a odiar a civilização, a crer no homem como agente do mal, a se envergonhar daquilo que são. Não dá pra ser feliz. A culpa cristã foi substituída pela culpa racional. É muito pior. Não há absolvição e não existe céu. -------------------- O que eu penso? Ora, um aluno deveria ser ensinado filosoficamente a ser feliz e pragmaticamente a ganhar dinheiro. Apenas isso. É um crime sem perdão ver um adulto usar uma criança de 11 anos para resolver seu desejo revolucionário. Epidemia de frustrações. ---------------- Conheço uma professora que mudou sua abordagem ao ver uma ex aluna se matar. Hoje ela sabe do crime que é cometido. O mundo é ruim, o planeta vai morrer, o homem é mal, não há como não se deprimir. ---------------- Converso muito com alunos. Eles gostam de mim porque eu sei o que eles sentem. Nos anos 70 por ser muito tímido eu era como eles são hoje. A diferença é que em 1978 eu era a ínfima minoria. Hoje eu estaria na moda. Como eu, nenhum garoto de 15 anos olha para uma menina. Eu não me permitia, eles foram ensinados a não olhar. Não se deve dizer que uma menina é bonita, pois isso humilharia as feias. Mas o desejo existe e a beleza também. Qual a consequência? -------------- Tudo que é reprimido explode um dia. Vejo isso no sexo. Esqueça a época de filmes comédia dos anos 80, aqueles de escolas com garotos vendo meninas tomando banho e transado no carro. Por não exercerem o desejo gota a gota, quando há o encontro sexual ele vem acompanhado por violência. Estrangulamento, fist sex, sexo grupal, espancamento, tudo isso se torna comum hoje. É como acontecia no mundo da igreja medieval: por ser pecado o sexo vinha com culpa. Agora por não se poder desejar em público, o sexo se torna uma forma de vingança. ----------------- No público voce é doce e bonzinho. No privado um sádico masoquista. ------------------------- Não se iluda. Quanto mais reprimirem o desejo público mais haverá o sexo como violência. Como Freud dizia, e em algumas coisas ele foi brilhante, o desejo não morre jamais, ele muda de residência. ----------------- Por isso o extremo mal gosto e explicitude do funk. Se é obrigatório reprimir um simples olhar, então esse povo irá escancarar a animalidade do sexo. Farão no palco aquilo que seus filhos fazem no quarto. Uma caricatura do desejo. O hiper exagero do sexo. A mulher como prostituta e o homem como cliente ou gigolô. Um eterno faz de conta. --------------- Desde os romanos não somos sexualmente tão desinibidos. E desde a era vitoriana não somos tão hipócritas. O sexo hoje não é saudável porque ele nem mesmo é um desejo real. É uma performance. --------------- Falava de educação e agora falo de sexo. É consequência. O aluno treinado para se revoltar se tornou um deprimido, e eu sei que deprimidos têm problemas em desejar. Eles não sabem como civilizar o desejo e então o engolem. Na cama pedem tapas no rosto e corda na garganta. Saudável? Ora, não sejamos mentirosos, um menino de 16 não olhar uma bela menina com desejo também não é saudável. ------------------ Brigue com o desejo que voce irá pagar um preço terrível. Ofenda Vênus que ela te fará cego.
O MAIS ICÔNICO DOS FILMES GAYS: REBEL WITHOUT A CAUSE, FILME DE NICHOLAS RAY COM JAMES DEAN. ( QUE ATOR HOJE NÃO IMITA JAMES DEAN? )
O filme começa numa longa, e muito aborrecida, sequência numa delegacia. Clichés sobre clichés são derramados sobre nossos ouvidos. Isso porque hoje, em 2021, estamos realmente cansados dessa conversa de "meus pais não ligam pra mim". Mas em 1955, isso era uma enorme novidade. Okay, já disse que a sequência é chata, mas lá está James Dean e nós logo sentimos o óbvio: ele é Ethan Hawke. Jared Leto. Joaquim Phoenix. E um inesgotável etc. Fato muito interessante: a geração de Jack e Al e Warren amava James Dean mas não o imitava de modo tão explícito. A geração que começou nos anos 90-2000 repete cada gesto, cada olhar, cada tom de voz do ator de 1955. ------------- James Dean, como por exemplo Joaquim Phoenix ou Christian Bale, durante todo o filme, nunca se senta num sofá simplesmente. Ele coloca as pernas no encosto e deixa a cabeça pendendo junto ao chão. James Dean não atira uma pedra ao longe, ele estica o braço atrás das costas e joga a pedra por detrás do pescoço. Ao abrir uma porta ele nunca pega a maçaneta e abre a porta, ele se joga contra a porta, torce o pulso e abre a porta se atirando ao espaço seguinte. Não há um único gesto de Dean que não seja "criativo". Ele interpreta o ato de fumar um cigarro como um malabarismo original. Ele não é apenas um ator, atua como artista. Não haveria o Coringa sem James Dean. ( Aliás seu raro riso no filme é Coringa em 100%. Um ruído de dor e de raiva ). -------------- Tudo que atores como Phoenix consideram cool nasceu aqui. -------- Eu escrevi abaixo sobre a hora certa de morrer? Bem....se vivo James Dean, pasmem!, teria a idade de Clint Eastwood!!!!! James Dean poderia estar vivo e ter feito filmes com Quentin Tarantino e Sidney Lumet. Talvez fosse ele o cara do Ultimo Tango. Ou não. Talvez ele não tivesse sido mais que um tipo de Montgomery Clift, o primeiro ator moderno do cinema, Clift o foi, mas morreu em 1967 doente e junkie, uma caricatura de si mesmo. James Dean morreu na hora certa. E levou Marlon Brando com ele. Pois há uma teoria que diz que Brando perdeu toda a motivação assim que Dean morreu. Fato: Brando foi um gênio enquanto Dean viveu. Competitivo ao extremo, Marlon precisava de alguém que corresse em sua raia. Outro fato: Brando nunca foi um adolescente. Mesmo em The Wild One ele parece adulto. James Dean não teve tempo de fazer um adulto. Outro fato interessante: Brando é perigoso sempre. James Dean não parece perigoso. Ele é carente. O tempo todo. Jovens de 2021 não são mais Marlon Brando. Não lembram em nada o rebelde feroz de The Wild One ou o Kowalski de Um Bonde Chamado Desejo. Mas eu convivo com bandos de James Dean todo dia. Jovens de sexualidade confusa, ressentidos, calados, quietos, deprimidos, sem onde ficar. Eu falei sexo? -------- Nicholas Ray era gay. Nos reprimidos anos 50. Se casou com Gloria Grahame, uma atriz mega sexy, eu a adoro, sou louco por ela, que era ninfo e bissexual. Sal Mineo, James Dean e Natalie Wood são os 3 astros deste filme. Dean morreria no ano seguinte. Sal Mineo, gay, teria uma vida de drogas e muita dor e seria assassinado nos anos 60. Natalie Wood teria casos com toda Hollywood, de Sinatra à Warren Beaty e morreria afogada no começo dos anos 80. Não se sabe até hoje se foi suicidio ou assassinato. ----------------- Faz pouco tempo que assisti um filme que tinha Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Kirk viveu mais de 100 anos. Doris chegou aos 97. Bacall aos 85. Os 3 morreram nesta década. Não há contraste maior entre os dois elencos. -------- Voltando a Ray, ele é o cara que fez Johnny Guitar, aquele western sobre duas lésbicas que se odeiam por se amarem. Sim, o cara era foda. E o que Nick Ray nos dá aqui? Um imenso filme gay. ----------------------- Na delegacia James Dean conhece Sal Mineo. E Mineo tem uma das atuações mais comoventes da história. Em cada cena nós vemos com clareza pornô o modo como ele se excita e se derrete na presença de Dean. A boca úmida à espera dos beijos e o coração aos pulos. Há uma cena que me fez gargalhar, e eu imagino como Nicholas Ray deve ter se divertido em ver os censores de Hollywood não perceberem nada...Sal Mineo encontra Dean no portão de casa e enquanto fala vai aproximando seu rosto de anjo do rosto de dor sem solução, de James Dean. Sal não fala, balbucia. Então James Dean entra em casa e o que vemos? O pai de Dean caído na escada com uma bandeja. USANDO UM AVENTAL ROSA COM FLORES AZUIS!!!!! Eu comecei a rir muito. É inacreditável. Então vem uma longa sequência que se traduz no desejo de Dean para que o pai seja menos maricas. ------------- Natalie Wood é outro caso perverso e delicioso. Ela passa todo o filme com uma expressão de quem precisa devorar um homem JÁ! E troca, alegremente, o namorado morto pelo desconhecido James Dean ( quem não ? ). O modo como Dean e Wood se beijam é extremamente 2021: ele pega a mão dela e a leva com ele. Sem palavras se beijam. E é isso. ------------- Estamos a séculos do elaborado flerte de Cary Grant ou Gary Cooper. -------------- Já para o fim do filme, Wood e Dean vão à uma casa abandonada. E, claro, cheio de ciúmes, Sal Mineo pede para entrar. Se forma um ménage. Dean é dos dois. Mas Sal é sadico. A turma do cara que morreu vem bater nele. Uma curra. Óbvio. Ah sim! Dennis Hopper tá na turma. Sendo o que sempre foi: um sádico maluco. -------- Posso ainda falar do beijo na boca que Natalie Wood dá no pai. E como ela fica furiosa quando ele não aceita o beijo. A menina precisa de um homem. Qualquer homem---------- Pouco antes de morrer o namorado de Natalie Wood, o chefe da gang que não aceita Dean e Sal por eles serem gays, só um bobo não nota isso, confessa que "gostou de conhecer Dean"....e morre no penhasco. Um macho que não aceita seu impulso gay latente e se pune por isso....kkkkkk....estou brincando? Ora, o filme é uma imensa brincadeira! Imagino como, na casa de Ray, ele e Gloria não riram pacas da seriedade das críticas dos jornais. ---------------------- Sociologicamente o filme é um monumento. Fala da primeira geração rica, a primeira leva de adolescentes na história do mundo a não ser obrigada a trabalhar desde os 14 anos. E com tempo livre, sem onde gastar sua energia, se perdem em dor, tédio e no futuro, em rock n roll. Nicholas Ray viu, genialmente, que haveria um outro componente, a carência emocional-sexual. Hormônios não gastos em esforço de trabalho ou guerra seriam soltos em desejo sexual febril. O filme é sobre um triângulo: um gay, um bissexual e uma ninfomaníaca. Exatamente como eram Ray, Gloria e James Dean. Como eram Marlon e Clift. -------------------- Uma comédia.
AMOR, MEDO, SEXO, DÚVIDA E MORTE
Antes de ler este escrito seria bom voce ler o que escrevi sobre A Rainha de Sabá abaixo. Procure. Rode uns 15 posts atrás. --------------- Fui educado para o amor. Crescendo em lar cristão, vendo os filmes que vi, as novelas e os livros que li, aos 12 anos eu já sabia muito bem qual era a sensação do amor. Uma deliciosa dor. Mãos suadas, calor no coração, borboletas no estômago. A amada era uma deusa. Promessa de paraíso na terra. Eu sofria muito. Muito mesmo. Mas sempre havia uma canção, um filme, um poema para me consolar. O mais legal de tudo era SENTIR UMA NOBREZA SENTIMENTAL nisso. Eu estava em ótimas companhias. Dante e Camões eram meus avôs. Amar era o diploma que me dava direito a me considerar bom e um humano completo. A razão aceitava essa situação. Tudo no mundo apontava para minha certeza. ---------------- O sexo dentro dessa vida era parte da nobre certeza. Por amar e por ser bom, pois o amor é sempre bom, o sexo era também bom. E até mesmo belo. O sexo era parte do amor, apêndice dele, Eros, deusinho sacana. Tudo muito bonitinho, higiênico e de bom tom. Minhas doces amadas eram irmãs espirituais de mim mesmo. Admiradas. -------------- Bom....se voce acha que este texto é para glorificar tudo isso voce realmente não me conhece. Pois sempre houve algo de podre nessa equação. Afinal, Dante amava uma menina de 9 anos e Camões era um sátiro. Uma das maiores tolices que um dia acreditei é aquela que diz que o AMOR como o conhecemos foi criado no século XII pelos menestréis da Provence. Belo modo de elitizar algo que sempre existiu. Ou voce acha que um azteca ou um celta não sentiam amor? E não falo do amor pelos deuses ou pelos filhos, falo do amor sexual. Sentiam? -------------- Há aqui um maldito puritanismo. É como se ao dizer que nosso amor fosse invenção de poetas nos livrássemos da carne. Pois agora vou te falar do inferno e ele vive na sua carne. E esse inferno é conhecido pelos homens desde antes da escrita. Ao contrário do amor romântico, esse amor não precisa de pena e de papel para existir. -------------------------- Dizem os partidários do amor-romance-inocente, que gregos e romanos NUNCA sentiam esse tipo de amor. Triste e burra confusão: eles não ESCREVIAM sobre esse amor. E não escrever não prova que não o sentiam. E posso dizer porque: Eu quando o sinto não consigo escrever sobre ele. Por que? Porque é um sentimento tão carnal e sanguíneo que a razão foge apavorada. Não há verso, tese científica ou esquema filosófico que dê conta dele. É um amor que ri da razão. --------------- Nesse amor voce não admira a mulher que te envenena. Voce a odeia. E a deseja. Ela não é como voce, ela nega aquilo que voce é. Existe para destruir todo seu passado e questionar toda sua certeza. No mundo só ela existe agora, e vem daí a morte. Pois assim como a morte, ela obscurece todo interesse que não seja ela mesma. O mundo se torna noite. Não há escrita. Não há dia. E voce sabe ser uma presa e não caçador. Voce é outro. ------------ Blake, Rimbaud, tentaram traduzir esse encontro para a língua escrita. Não conseguiram. --------------- Pois ela é um corpo. Ela é a vitória do corpo e portanto a vitória da vida. Contradição: ao encarar essa morte voce se faz mais vivo. Ela é uma perna e voce é sua mão. Ela é um cheiro e voce é um ouvido. O mundo é o corpo que ela exibe. Ela é só isso, carne, e sendo carne ela é REAL. Esse encontro te revela a REALIDADE DA VIDA. Uma fome e uma febre de querer comer. Tudo de ilusório que existe em todo amor inexiste neste encontro. Pois o que voce quer é aquilo que voce vê. Tudo que a vida promete é o encontro com ela. Homem e mulher em seu mais básico momento. A saga que movimenta a vida. ------------- No título eu escrevi a palavra dúvida. Não tenho a menor dúvida do que escrevo, mas esse encontro coloca em xeque tudo aquilo que voce é. Por isso ele é tão necessário e por isso essa Rainha de Sabá surge sempre de um reino distante do seu. Ela traz em si um mundo que voce desconhece. Ela tem perfumes, gostos e vozes que voce jamais ouviu antes. Ela era aquilo que voce temia ou desprezava, e que hoje é todo seu universo. Por isso a raiva, o ódio por ela. E por isso a abertura de um outro EU MESMO. ------------- Deixe-se.
SEXO EM 1981
Vivo cercado por adolescentes. Me espanta o fato de que todos eles acham que nos anos 80 o mundo era uma espécie de bacanal romano. Essa ideia vem de algumas coisas muito mal digeridas, por eles: Xuxa seminua em meio a crianças as 10 da manhã, propagandas machistas que eram comuns na época, revistas de mulher pelada, o hábito de se olhar mulheres na rua. Pode ser isso, eles dizem que é, mas eu penso que o motivo é outro. --------------------------- Observe: hoje voce não deve olhar uma moça passar na rua, mas voce pode se masturbar com as fotos dessa mesmo moça na internet. Conheço mais de uma mulher que já me deu bronca por eu ousar olhar sua bunda na rua, mas que me mandaram nudes alegremente. A sensação que tenho é que hoje existem dois mundos: No mundo das ruas, no mundo real, todos são vigiados; no mundo da net, por incrível que pareça, tudo é permitido ( não é, já fui censurado várias vezes por questões políticas, mas para eles, de esquerda, tudo parece permitido ). --------------- Desse modo, na rua ou no trabalho, há que se ter um código de conduta. Nos anos 80 as ruas tinham um código muito mais flexível e por isso eles imaginam ser tudo então permitido. Meus caros, em 1981 se transava muito menos que hoje. Mas o clima nas ruas era bem mais " de paquera", por isso a confusão. O que hoje se faz em rede virtual era feito olho no olho. O tinder era a rua Augusta no sábado de noite. ------------------------ Ia-se de carro à Augusta e ficavamos a noite toda congestionando o trânsito. Os carros, abertos, paravam para paquerar. Havia até um program de rádio que passava recados em tempo real: " O cara do carro azul está querendo o fone da menina do Corcel branco". Pegava-se fone, essa era a vitória. Depois se telefonava e se tentava sair. Após uns dois meses talvez houvesse sexo. Era assim. --------------- Mas o comportamwento masculino era arrogante, alegre, exuberante. Usei 3 palavras hoje mal compreendidas. Sexo era alegria. Diversão. Era o brinquedo dos adultos. Graças a seriedade atroz dos vídeos pornô, temos toda uma geração que pensa o sexo como ato de violência. Ou performance esportiva. ------------------ A pornochanchada era a imagem a ser alcançada. Aquele era o ideal erótico de uma época. E na pornochanchada se ri muito, se faz piada, se alivia o peso de ser adulto. Fato inegável: minha jovem namorada não entende que eu veja o sexo como algo engraçado. Ela confunde esse humor como irresponsabilidade ou simples bobeira. Pois para ela e sua geração, sexo é aquilo que eles assistem desde os 10 anos em sites pornô: tapas na cara, estupros fingidos, tempo cronometrado, pressa, ansiedade. Falei fingidos? Sim. Um grande fingimento. --------------------------- Como aconteceu com o rock, o sexo também se tornou algo mecânico e meio triste. Eles não sabem disso, porque só conhecem o sexo como ele é para eles. Não entendem que sexo era escape, era fantasia e não performance e sempre rimava com riso.
SER HOMEM. SOBRE UMA FALA DE CAMILLE PAGLIA
Houve um tempo, anos 80-90, em que Paglia era a líder das feministas. Mas, por ser mais complexa do que o desejado, ela é hoje incompreendida pelas atuais moçoilas iradas. Este é um tempo que não admite a dúvida. Só se aceita gente que afirma coisas de modo radical e sem nenhuma sofiticação. ------------------------------------- Pois bem. Leio uma fala, linda, de Paglia. Ela diz que os homens tiveram de matar parte de seus sentimentos. E que esse foi um processo doloroso. Fizeram isso para poder defender suas mulheres e filhos. Pagaram o preço da amputação emocional. Paglia termina dizendo que "feministas são incapazes de reconhecer isso". O que ela diz é para mim de uma obviedade cristalina. Mas para a geração que grunhe e nunca raciocina, é apenas uma ofensa. -------------------------------- Em vez de comentar Paglia, descreverei uma cena que se repetiu milhares de vezes na minha casa: São 3 horas da manhã. Faz 8 graus nesse inverno paulistano de 1980. Garoa e ventania. Meu pai, sob 40 graus de febre, espirra e tosse. Se veste e se lava. As 4 horas ele tem de abrir a padaria. Sai para a rua, liga o carro que insiste em não dar a partida. Ouço o motor se afastar. No meu peito eu sinto pena e alívio. Pena dele e alívio por ele existir. Meu pai voltará só as 6 da tarde. Suando e de mal humor. Ele partiu, de madrugada, enquanto eu, minha mãe e meu irmão ficamos na cama quente, viramos de lado e voltamos a dormir. ------------------------------------------- Centenas de milhares de anos atrás, debaixo de neve, no escuro, homens saíam da caverna para caçar. E mais recentemente, eles tinham de defender filhas do estupro. Para poder viver nesse mundo, feito de medo, sangue, facas, violência sem fim, suas emoções tiveram de ser contidas, apagadas, foi a tal da mutilação de que fala Paglia. Creia, o preço foi alto. Perdemos muito da capacidade de ouvir, compartilhar, ser delicado. Não havia escolha. Era a mutilação ou a morte. ---------------------------------- Hoje não precisamos mais nos mutilar. Podemos viver em casa, cultivando flores e ouvindo música folk. Estamos reaprendendo a ser inteiros. Ah....claro....isso se voce for de classe média e viver em um país civilizado. Vai contar isso para um homem que vive no meio do crime, da guerra ou da fome total. --------------------- Eu desenvolvi algumas das emoções amputadas porque tive um pai que FEZ O TRABALHO SUJO. Se ouço ópera e leio poesia, é porque antes de mim um homem duro, agressivo e sem frescuras entrou na luta. Foi trabalhar no frio e na febre, ignorando o próprio coração que ansiava por cama, calor e até mesmo carinho. Sentir gratidão por esses herois é uma obrigação. Atacar esse tipo de homem é imperdoável.
VOCÊ NÃO SERÁ DONO DE NADA. E SERÁ FELIZ. ( ESTRANHAMENTE ESTA FRASE NÃO É UMA AMEAÇA, É UM SLOGAN DO BEM )
Quem me lê a tempos sabe que escrevi, cerca de dez anos atrás, textos onde eu dizia que o mundo moderno nos fazia viver como mochileiros. Sem endereço, sem posses, sem rumo. O que eu não esperava é que o futuro viesse tão depressa. ---------------------------------- A frase acima, VOCE NÃO SERÁ DONO DE NADA. E SERÁ FELIZ, é a frase do primeiro encontro de Davos. Faz mais de uma década. Na época ninguém deu bola. Essa hora chegou. Embutida nela, há algumas outras afirmações: voce não será dono de sua vida. Voce não será dono do seu desejo. E ser feliz é uma obrigação. ------------------------------ A briga hoje não é entre esquerda e direita. Os donos do poder riem muito dessa bobagem. A briga é entre a ALEGRIA E A IRRITAÇÃO. Entre a PASSIVIDADE E A AÇÃO. Entre a PREGUIÇA E A VONTADE. -------------------------------- Fique alegre e pregue a igualdade e a fraternidade. Faça ioga e origami. Plante uma flor. Abrace uma árvore e faça sexo virtual. Não se preocupe. Nós vamos cuidar de voce. Nós somos do bem. Brigue em seu video game. Deixa que a gente briga por voce. Vamos te dar tudo que voce precisa. ----------------------------------------------------------------- Eliminemos os irritados. Esses chatos que ficam querendo estragar nossa bondade. Esses seres obsoletos que insistem em ver rachaduras onde nada é menos que perfeito. Eliminemos esses irriquietos. Que vêm segundas intenções onde não há. Que não querem ficar em casa sossegados. Que acham que podem negar o bem. ------------------------------------------- VOCE NÃO SERÁ DONO DE NADA. Que tal um pouco de psicologia básica? A criança vira autônoma quando toma posse de seus brinquedos. Ou antes, ao entender que suas feses são suas. Na puberdade, o menino toma posse de seu pênis. Ser humano e ser ativo, ser um indivíduo é tomar posse de coisas e de seu corpo. VOCE NÃO SERÁ DONO DE NADA. ----------------------------------------- ALDOUS HUXLEY estava certo. Um pouco de SOMA ( a droga do livro admirável mundo novo ) e todos ficam numa boa. SOMA em 2021 não é química, é o mundo virtual. Esse mundo nos diz, todo o tempo, que o futuro será inclusivo. Todos serão irmãos. Ninguém será diferente de ninguém. Embutido nesse mundo vem a negação da originalidade. A padronização. E a tal FELICIDADE. ------------------------------ E SERÁ FELIZ. Essa frase me causa arrepios. A obrigação à felicidade nos deprime. Então penso que "eles" adoram o suicídio. Que se auto eliminem aqueles que não se adaptarem. Problema nenhum. Mas que não venham estragar nossa feliz diversidade. ----------------------------------------- Faz algum tempo que o mundo se preparava para isso, e confesso que não percebi. Foram anos e anos de filmes que condenavam a masculinidade ativa, a coragem sem pudor, a agressividade. Transformaram o homem ideal em nada mais que um tipo de bonequinho Toy Story temperado por um humor de Charlie Brown ancião. Esse homenzinho não deseja ser dono de nada. Principalmente de seu destino. Seu sonho é ter alguém que cuide dele. E é aí que entra a mulher, a grande prejudicada na equação moderna. ----------------------------------------- Feministas, como lembra sempre a cancelada Camille Paglia, nunca quiseram tomar o lugar do homem. O que elas queriam era estar em condições iguais. Apenas isso. Ser DONA DE SUA VIDA. Mas, no mundo em que VOCE SERÁ DONO DE NADA, a mulher pula do NADA PODER do passado, direto para o NADA TER do presente. A mulher se torna livre, mas SEM POSSES. A modernidade a guia. Ela se esvazia. Nem mulher, nem homem. Nem animal e nem objeto. O que ela é? E SERÁ FELIZ. É isso. A mulher hoje tem a obrigação de ser feliz. E livre. E nova. E revolucionária. Pobre pessoa... --------------------------------------------------- Eu disse que não é esquerda e direita. Em 1989 o coumunismo perdeu e fim. Falar nessa divisão é preguiça mental. O que há é O MUNDO DOS CONTENTES e o MUNDO DOS IRRITADOS, como disse antes. Nada deixa esse NOVO MUNDO mais assustado que ver um líder da VELHA ESCOLA. Um cara que fala todo o tempo para voce ser DONO DE COISAS. DONO DE SUA VIDA. NÃO CAIA NESSA DE TODOS SÃO IGUAIS. FALE O QUE PENSA. DANE-SE O QUE OS OUTROS ACHAM. ----------------------------------------- O mundo da FELICIDADE precisa de gente como os líderes da França, de Portugal ou da Itália. Gente absolutamente neutra, sem opinião, que segue a onda. Líderes que não são donos do próprio cargo que ocupam. Putin ou Trump estragam a coisa. ( não discuto aqui sua competência, falo de sua postura ). São individualistas. São machos então. -------------------------------------- O machismo é uma coisa deplorável e já aos 12 anos eu o odiava quando o percebia em meu pai ou na escola. Mas hoje se chama machismo aquilo que é simples virilidade. Dom humano que existe também nas mulheres. É o que nos fez sobreviver a feras e invernos. No mundo onde VOCE NÃO TEM POSSES, a virilidade estraga a harmonia, pois a virilidade deseja o poder, ela quer ser dona de coisas, nem que seja do próprio pau. ------------------------------------------- Eu sou um caçador e por isso acumulo presas. Nem que sejam substitutos: livros, cds, objetos. Eu sou um lavrador e guardo coisas: comida, roupas, minha casa. Eu sou HUMANO e como tal, sou furioso, agressivo, competitivo, irracional, e também sou criativo - protetor. Não posso ser feliz por obrigação. Não posso ser feliz não tendo posses. Nem que essa posse seja MEU FILHO, MINHA FACA OU MEU DESTINO.
A FILOSOFIA NA ALCOVA - MARQUÊS DE SADE
Que lixo medonho! Não falo isso por moralismo, em tempo de filme pornô on line a pornografia de Sade é apenas mais do mesmo. Incesto, crueldade, sujeira, muito sexo anal, homossexualismo de monte, pedofilia, está tudo aqui e dito de modo nú e crú. Mas...que coisa chata! Sade não tem erotismo, é pornografia mecânica. As pessoas são artefatos de madeira que transam sem parar.
Entre as ladainhas sexuais há a política de Sade. Ele xinga Jesus Cristo, e com isso xinga família, lei e ordem. Parece um adolescente bem louco de 14 anos em sua primeira farra de sexo, alcool e cocaína. O raciocínio de Sade é primitivo, bárbaro: tudo vale e viva o crime! Ele defende o assassinato, o roubo, a morte de bebes, sexo com os pais etc etc etc...O que me espanta é gente séria o ter em conta. Sade não é sequer um escritor ruim, ele não é um escritor. O que ele faz é propaganda. Como disse, um jovem querendo irritar papai e mamãe. Ele xinga.
O tédio se revela até nessa mania, boba, de usar a antiguidade como álibi. Roma fazia isso, a Grécia fazia aquilo, então também posso fazer, eba! Esse tipo de autor sempre faz isso, escolhe no supermercado da história o que lhe absolve. Pega de Roma os bacanais, mas se esquece da obrigação militar; traz dos gregos o homossexualismo, mas "esquece" a noção de virilidade do cidadão. Falar que Cristo era um efeminado que foi sodomizado pelos sábios judeus é apenas uma ofensa tola. Nada significa.
Lendo Sade percebo uma ironia dos tempos atuais: conservadores defendem noções de estado e família que na verdade são modernas, e os radicais defendem um tipo de liberdade que na verdade é tão antiga quanto é a barbárie. Todo anarquista sonha com um mundo tribal, mas ele esquece que esse mundo era o reino do medo e da violência como ato legal e cotidiano. Todo conservador sonha com o mundo da civilidade dos costumes, a continuidade do mundo dos avôs, mas ele se esquece que esse mundo não existe mais, e que a história, que ele defende, não pode regridir.
Sade era nada mais que um sintoma.
UM POST DIFÍCIL: LOLITA- NABOKOV. UMA OBRA PRIMA QUE NÃO É NADA DAQUILO QUE VOCÊ PENSA.
É muito difícil escrever sobre Lolita. Não só pelo seu tema espinhoso. Mas também por ser uma obra muito, muito complexa. Os filmes péssimos feitos com base no livro, até Kubrick se perdeu e fez uma chatice sem fim, apenas deturparam o texto do romance. Então vamos deixar claro certas coisas que são óbvias mas que muita gente não sabe:
1- Nabokov nunca gostou de meninas. É até ridículo falar isso, mas ele amava mulheres que tinham um jeito de nobreza perdida, e todas eram profundamente intelectuais.
2- O livro não tem nenhuma cena erótica e é tão bem escrito que você mal percebe quando ele está descrevendo uma cena de masturbação.
3- Humbert Humbert, o narrador, é uma pessoa bastante fantasiosa. Tudo o que sabemos é aquilo que ele nos conta. E o que ele percebe é aquilo que ele quer perceber.
4- O tema do livro não é a tara, é a América. Lolita fala do deslumbramento de um emigrante da Europa central por uma americana jovem, muito jovem ( ela tem 12 anos e um metro e quarenta de altura ).
Lançado em 1956, e ainda acho um milagre ele ter sido editado, Lolita se tornou um best seller de escândalo. Penso na quantidade de gente que pensou estar comprando pornografia e comprou um romance poético. Sórdido, imoral, cruel e às vezes até mesmo repugnante, porém sempre poético. A linguagem é hipnótica. Nabokov escreve com toda sua potência. Ele escreve como uma força da natureza.
A história você conhece: ele chega a América, se casa com a mãe de Lolita, a mãe morre e ele e a criança partem numa viagem pelos motéis do país. Os capítulos em que os USA são descritos são maravilhosos. Humbert sente ódio e amor pela nação jovem e brega, linda e óbvia, vulgar e inesgotável. Os USA são Lolita. Uma ninfeta ( Nabokov criou esse nome neste livro ) que mistura sujeira e saúde, voracidade e ignorância, praticidade e inocência.
Humbert narra e mesmo assim, se voce prestar atenção, verá onde suas mentiras surgem: ele diz que Lolita o seduziu, mas lemos que ela chora de manhã, tenta escapar e é chantageada por ele. Estamos diante de simples rapto. Lolita é orfâ, não tem ninguém no mundo, Humbert se aproveita disso. Eles transam o tempo todo. Ele diz que ela é indiferente. Estupro é a palavra. Humbert é asqueroso. E mesmo assim lemos com prazer tudo que ele diz. Milagre de grande autor: seguirmos as palavras de um pulha.
O livro é delicioso. O livro é revoltante. Lolita não é adorável. Ela é uma menina com poucos banhos e muita fome. Apenas uma ninfeta. Nabokov descreve o que é uma. Seria uma menina que olha para adultos com curiosidade. Apenas isso. Ah sim, antes que acusem o autor de machista: há na história a plena sensação de como é difícil ser desejada. Os homens são descritos como maduros homens frustrados ou meninos cheios de espinhas loucos para transar. Humbert é interessante como personagem, mas voce jamais iria querer o encontrar na vida. Quanto à Lolita...ela nunca parece real. A olhamos pelos olhos de Humbert, e ele jamais a viu de fato.
Muito se fala sobre a coragem de Joyce ou Kafka por escreverem os livros difíceis que escreveram. Mas este ex nobre russo teve uma coragem de titã ao lançar este romance. Não usarei a palavra imoral. Mas ele vai fundo contra o tabu. E para deixar tudo ainda mais complicado, Lolita o chama de pai.
Nabokov percebeu como estrangeiro a hiper sexualização dos EUA. E viu que essa sexualização vinha via adolescentes. Não esqueça que 1956 é o ano de Elvis e do rock n roll. Lolita é lançado no tempo de Good Golly Miss Molly e de Be Bop a Lula. Já naquele tempo meninas de 12 anos pensavam em transar todo o tempo, e algumas faziam a coisa em moitas e banheiros públicos. Adultos ficavam loucos em meio à essa liberalidade. Queriam fazer parte da festa. Humbert enlouquece no processo. É o scholar europeu, o professor que escreve livros sobre poesia francesa, que mergulha na vertigem sexual do país novo, muito novo, jovem, muito jovem, caipira, muito caipira. Lolita TINHA de ter 12 anos. Fosse uma garota de 18 ou 19 a mensagem e a loucura não seria tão clara e tão poderosa. A Europa, sábia e morta, com seus 3000 anos de cultura se deixa levar pelo desejo americano, desejo que tem apenas 456 anos. Posso ir mais longe e dizer que Humbert está morto. Ele nunca viveu. Nasceu sem nascer. Lolita é viva. E por isso lhe escapa. Mesmo no ato sexual ela nunca está presente.
Lolita foi nos anos 60 chamado de o melhor livro do século. Um milagre de escrita refinada. Nem tanto. Mas...caramba! Que grande livro!!!!
1- Nabokov nunca gostou de meninas. É até ridículo falar isso, mas ele amava mulheres que tinham um jeito de nobreza perdida, e todas eram profundamente intelectuais.
2- O livro não tem nenhuma cena erótica e é tão bem escrito que você mal percebe quando ele está descrevendo uma cena de masturbação.
3- Humbert Humbert, o narrador, é uma pessoa bastante fantasiosa. Tudo o que sabemos é aquilo que ele nos conta. E o que ele percebe é aquilo que ele quer perceber.
4- O tema do livro não é a tara, é a América. Lolita fala do deslumbramento de um emigrante da Europa central por uma americana jovem, muito jovem ( ela tem 12 anos e um metro e quarenta de altura ).
Lançado em 1956, e ainda acho um milagre ele ter sido editado, Lolita se tornou um best seller de escândalo. Penso na quantidade de gente que pensou estar comprando pornografia e comprou um romance poético. Sórdido, imoral, cruel e às vezes até mesmo repugnante, porém sempre poético. A linguagem é hipnótica. Nabokov escreve com toda sua potência. Ele escreve como uma força da natureza.
A história você conhece: ele chega a América, se casa com a mãe de Lolita, a mãe morre e ele e a criança partem numa viagem pelos motéis do país. Os capítulos em que os USA são descritos são maravilhosos. Humbert sente ódio e amor pela nação jovem e brega, linda e óbvia, vulgar e inesgotável. Os USA são Lolita. Uma ninfeta ( Nabokov criou esse nome neste livro ) que mistura sujeira e saúde, voracidade e ignorância, praticidade e inocência.
Humbert narra e mesmo assim, se voce prestar atenção, verá onde suas mentiras surgem: ele diz que Lolita o seduziu, mas lemos que ela chora de manhã, tenta escapar e é chantageada por ele. Estamos diante de simples rapto. Lolita é orfâ, não tem ninguém no mundo, Humbert se aproveita disso. Eles transam o tempo todo. Ele diz que ela é indiferente. Estupro é a palavra. Humbert é asqueroso. E mesmo assim lemos com prazer tudo que ele diz. Milagre de grande autor: seguirmos as palavras de um pulha.
O livro é delicioso. O livro é revoltante. Lolita não é adorável. Ela é uma menina com poucos banhos e muita fome. Apenas uma ninfeta. Nabokov descreve o que é uma. Seria uma menina que olha para adultos com curiosidade. Apenas isso. Ah sim, antes que acusem o autor de machista: há na história a plena sensação de como é difícil ser desejada. Os homens são descritos como maduros homens frustrados ou meninos cheios de espinhas loucos para transar. Humbert é interessante como personagem, mas voce jamais iria querer o encontrar na vida. Quanto à Lolita...ela nunca parece real. A olhamos pelos olhos de Humbert, e ele jamais a viu de fato.
Muito se fala sobre a coragem de Joyce ou Kafka por escreverem os livros difíceis que escreveram. Mas este ex nobre russo teve uma coragem de titã ao lançar este romance. Não usarei a palavra imoral. Mas ele vai fundo contra o tabu. E para deixar tudo ainda mais complicado, Lolita o chama de pai.
Nabokov percebeu como estrangeiro a hiper sexualização dos EUA. E viu que essa sexualização vinha via adolescentes. Não esqueça que 1956 é o ano de Elvis e do rock n roll. Lolita é lançado no tempo de Good Golly Miss Molly e de Be Bop a Lula. Já naquele tempo meninas de 12 anos pensavam em transar todo o tempo, e algumas faziam a coisa em moitas e banheiros públicos. Adultos ficavam loucos em meio à essa liberalidade. Queriam fazer parte da festa. Humbert enlouquece no processo. É o scholar europeu, o professor que escreve livros sobre poesia francesa, que mergulha na vertigem sexual do país novo, muito novo, jovem, muito jovem, caipira, muito caipira. Lolita TINHA de ter 12 anos. Fosse uma garota de 18 ou 19 a mensagem e a loucura não seria tão clara e tão poderosa. A Europa, sábia e morta, com seus 3000 anos de cultura se deixa levar pelo desejo americano, desejo que tem apenas 456 anos. Posso ir mais longe e dizer que Humbert está morto. Ele nunca viveu. Nasceu sem nascer. Lolita é viva. E por isso lhe escapa. Mesmo no ato sexual ela nunca está presente.
Lolita foi nos anos 60 chamado de o melhor livro do século. Um milagre de escrita refinada. Nem tanto. Mas...caramba! Que grande livro!!!!
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