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ONDE OS VELHOS NÃO TÊM VEZ- CORMAC McCARTHY

   Rei, Deus e Familia. No lugar do Rei, teu ego. No lugar de Deus, o dinheiro. Sai a familia e entra a midia. Teu lider é voce mesmo. E voce vai ter de se virar com sua própria lei. Tua ética, tua moral e tua transcendência é o dinheiro quem te dá. E sua familia são os seres da midia. Uma familia na qual voce nunca se sente aceito. Falemos a verdade: derrubamos "mitos", colocamos algo de melhor no lugar?
   Um assassino. Que pouco se lixa em morrer. Um xerife. Velho. Que ainda pensa em familia e Deus. Mas que começa a saber: o Diabo venceu. Um caçador. Que acha dinheiro. O deserto e a violência.
   Sim, voce já viu a obra-prima dos Coen. O livro é quase igual. Mas o livro tem os pensamentos do xerife. Do velho. Que não tem mais vez.
   Harold Bloom considera McCarthy o melhor escritor da América hoje. O cinema o adora. Nos últimos anos é moda o adaptar à tela ( e DeLillo também ). Ele escreve naquele estilo aparentemente fácil. Muitos "e", e muitos "então". E então voce lê e lendo então percebe que o estilo se torna dificil e violento e então te incomoda e perturba.
   Quem não vive em meio a escritórios de vidro e restaurantes da moda sabe: o mundo perdeu qualquer noção de moral e de preço. Ninguém teme o castigo, ninguém pensa na consequência de coisa alguma. Todo rei foi deposto. Pai, mãe, policial, guru, poeta. Deus é money. Nas pseudo-religiões o que se procura é dinheiro e só se respeita quem o tem. E o cara da bandinha, o ator, a socialite são a familia que nos resta.
   Nesse mundo a violência manda. Não a violência da guerra. Pior. A violência cotidiana, banal, infame, sem regras, sem código, sem linguagem. Cormac MacCarthy saba disso. A violência não tem língua. Ela nos é anterior a linguagem. É viscera. E se Deus foi criado para sublimar a violência, sem Ele ela está solta. Daí a besta manda.
   Vida real:
   Meninos chutam meninas, cospem em meninos. Uns caras vendem droga na porta da escola. Livremente. Crianças dançam com as bundas inexistentes voltadas para o ar. E aos 11 anos se exercitam em cópulas imaginárias. Garotos de 16 assistem e riem. Elas colocam a língua entre os lábios. Um pombo tem suas asas quebradas e é afogado numa torneira. Três meninos cercam um outro e levam o celular. No banheiro, quatro meninas surram uma outra que ousou se vestir diferente. Tudo vale porque inexiste o medo do preço. O único medo é o de não ter dinheiro. E para se ter dinheiro é preciso ser forte, temido, respeitado.
   A única questão importante que nos restou: a violência. O resto é perfumaria.
   Neste livro cada linha é um tiro.