Lembro de assistir nos anos 80 um filme de Woody Allen. Em certo momento, ele entrava em pânico ao imaginar que no mundo inteiro apenas ele existia. Que tudo a seu redor era imaginação. Que o mundo que ele conhecia, todas as ideias, toda a arte e todas as pessoas, eram frutos de sua imaginação. Que tudo que existia era ele.
Sim, essa indagação filosófica é séria e é bastante intrincada. Se na indagação de Woody Allen percebemos apenas um tipo de narcisismo gigante, em MATRIX, de 1998, começamos a notar que a coisa pode ser mais profunda. O solipsismo se transforma em sonho dirigido, o mundo todo seria apenas uma ilusão, mas não uma ilusão nossa, e sim uma ilusão deles.
Eu acho que tinha 12 anos de idade quando, voltando da escola, tive uma ideia: que meus olhos viam apenas aquilo que eles já estavam prontos para ver. Que a vida era como um filme, e que tudo aquilo que não fizesse parte do filme: os técnicos de estúdio, os camarins, a rua lá fora...Não podia ser visto por meus olhos. Eu criava o filme, mas esse filme tinha um limite físico: a capacidade física de meus órgãos sensoriais.
Não confunda esse sentimento, esse pensamento, com a caverna de Platão. Na caverna vemos as sombras do mundo ideal. O mundo da verdade. No mundo do solipsismo, NADA PODE PROVAR QUE A CAVERNA NÃO SEJA UMA CRIAÇÃO MINHA E QUE AS SOMBRAS SEJAM SONHOS MEUS. Nessa corrente de pensamento, voce não existe. Eu criei sua existência. E se voce me lê agora, não tem como saber que eu exista. Eu posso ser um sonho seu. O mundo digital dá uma enorme margem a essa filosofia. Voce não tem como saber se eu sou real. Se sou homem ou mulher. Posso mentir à vontade. Mas, no solipsismo, o próprio texto que voce lê é de voce mesmo.
O mundo assim seria um espelho. Voce e voce.
Digo sinceramente que esse modo de pensar me assustou um dia. Mas hoje não mais. Porque sei que o mundo existe fora de mim. Não posso, talvez, prova-lo pela lógica, mas o intuo. E apesar de ainda às vezes duvidar de que a Guerra dos Cem Anos ou Ésquilo não sejam reais, de que o passado seja uma ficção, de que o mundo tenha começado comigo, sei que não criei Prometeu Acorrentado. E nunca teria a criatividade para inventar alguém como voce.
Mas a gente pode ir adiante. E então entramos na parte mais profunda do solipsismo...
Nossa mente é como um filtro, e isso tem sido cada vez mais provado pela ciência. Só penetra dentro de nossa mente aquilo que ela já fora programada para aceitar. É como se houvessem buracos na mente, todos quadrados, e só os quadrados fossem aceitos por ela. Tudo que fosse redondo, triangular...seria ignorado. Passaria ao largo da mente.
Esse é um tipo de solipsismo bastante aceitável por ser bastante lógico. A lógica de não se poder aceitar e participar do universo ilógico.
Pressentimos a presença desse outro mundo, o universo que nossa mente não capta, e nesse momento nos assustamos. Essa estranha percepção pode se chamar intuição ou inspiração, ou ainda êxtase. Essa sensação dá raiz a coisas como religião, poesia, arte. Todas são linguagens que lutam para expressar aquilo que fica fora da lingua, da mente, do mundo como o podemos perceber de forma sólida e temporal.
Há que se dizer que nada que não seja extenso e temporal pode ser imaginado ou visto por nossa mente. Se o universo é infinito, ele não é infinito apenas em tempo e em extensão; ele é infinito em forma e em possibilidades. É isso que a física começa a entender. O ilógico deve existir dentro do infinito. Ou que se aceite a finitude do tempo e do espaço.
Voltemos ao solipsismo mais chão.
Quando senti essa possibilidade, a da solidão absoluta, eu estava na verdade sentindo a solidão de existir no mundo. 12 anos é uma boa idade para esse primeiro choque. O cordão umbilical se partindo em sua forma espiritual. Mas nunca nada é apenas uma coisa, e então há nesse sentimento infantil, infantil no sentido de simples, direto, honesto; a raiz de um problema eterno: como vivenciar a vida do outro e do universo. Como se ligar a outra vida.
Se Descartes quer entender e provar sua existência; ao solipsismo a inquietação é a de provar a existência de vida fora do eu. Descartes nunca me disse nada porque minha questão sempre foi o outro. Estou saturado de eu e pobre de voce. E penso que essa será cada vez mais a questão de todos: Voce existe...Onde está voce....como sentir o que voce sente e pensa...Prove-me que voce é real... ( Não é engraçado que essas são as questões que jogamos para Deus!!! ).
Uma amiga se inquieta com esses pensamentos. Fica perturbada. Não há por que, amiga. A busca da verdade do outro é uma busca muito mais fértil que a busca masturbatória do eu. Procurar na vida e no mundo a prova de que voce não está só.
Não conheço mais bela jornada.
Sim, essa indagação filosófica é séria e é bastante intrincada. Se na indagação de Woody Allen percebemos apenas um tipo de narcisismo gigante, em MATRIX, de 1998, começamos a notar que a coisa pode ser mais profunda. O solipsismo se transforma em sonho dirigido, o mundo todo seria apenas uma ilusão, mas não uma ilusão nossa, e sim uma ilusão deles.
Eu acho que tinha 12 anos de idade quando, voltando da escola, tive uma ideia: que meus olhos viam apenas aquilo que eles já estavam prontos para ver. Que a vida era como um filme, e que tudo aquilo que não fizesse parte do filme: os técnicos de estúdio, os camarins, a rua lá fora...Não podia ser visto por meus olhos. Eu criava o filme, mas esse filme tinha um limite físico: a capacidade física de meus órgãos sensoriais.
Não confunda esse sentimento, esse pensamento, com a caverna de Platão. Na caverna vemos as sombras do mundo ideal. O mundo da verdade. No mundo do solipsismo, NADA PODE PROVAR QUE A CAVERNA NÃO SEJA UMA CRIAÇÃO MINHA E QUE AS SOMBRAS SEJAM SONHOS MEUS. Nessa corrente de pensamento, voce não existe. Eu criei sua existência. E se voce me lê agora, não tem como saber que eu exista. Eu posso ser um sonho seu. O mundo digital dá uma enorme margem a essa filosofia. Voce não tem como saber se eu sou real. Se sou homem ou mulher. Posso mentir à vontade. Mas, no solipsismo, o próprio texto que voce lê é de voce mesmo.
O mundo assim seria um espelho. Voce e voce.
Digo sinceramente que esse modo de pensar me assustou um dia. Mas hoje não mais. Porque sei que o mundo existe fora de mim. Não posso, talvez, prova-lo pela lógica, mas o intuo. E apesar de ainda às vezes duvidar de que a Guerra dos Cem Anos ou Ésquilo não sejam reais, de que o passado seja uma ficção, de que o mundo tenha começado comigo, sei que não criei Prometeu Acorrentado. E nunca teria a criatividade para inventar alguém como voce.
Mas a gente pode ir adiante. E então entramos na parte mais profunda do solipsismo...
Nossa mente é como um filtro, e isso tem sido cada vez mais provado pela ciência. Só penetra dentro de nossa mente aquilo que ela já fora programada para aceitar. É como se houvessem buracos na mente, todos quadrados, e só os quadrados fossem aceitos por ela. Tudo que fosse redondo, triangular...seria ignorado. Passaria ao largo da mente.
Esse é um tipo de solipsismo bastante aceitável por ser bastante lógico. A lógica de não se poder aceitar e participar do universo ilógico.
Pressentimos a presença desse outro mundo, o universo que nossa mente não capta, e nesse momento nos assustamos. Essa estranha percepção pode se chamar intuição ou inspiração, ou ainda êxtase. Essa sensação dá raiz a coisas como religião, poesia, arte. Todas são linguagens que lutam para expressar aquilo que fica fora da lingua, da mente, do mundo como o podemos perceber de forma sólida e temporal.
Há que se dizer que nada que não seja extenso e temporal pode ser imaginado ou visto por nossa mente. Se o universo é infinito, ele não é infinito apenas em tempo e em extensão; ele é infinito em forma e em possibilidades. É isso que a física começa a entender. O ilógico deve existir dentro do infinito. Ou que se aceite a finitude do tempo e do espaço.
Voltemos ao solipsismo mais chão.
Quando senti essa possibilidade, a da solidão absoluta, eu estava na verdade sentindo a solidão de existir no mundo. 12 anos é uma boa idade para esse primeiro choque. O cordão umbilical se partindo em sua forma espiritual. Mas nunca nada é apenas uma coisa, e então há nesse sentimento infantil, infantil no sentido de simples, direto, honesto; a raiz de um problema eterno: como vivenciar a vida do outro e do universo. Como se ligar a outra vida.
Se Descartes quer entender e provar sua existência; ao solipsismo a inquietação é a de provar a existência de vida fora do eu. Descartes nunca me disse nada porque minha questão sempre foi o outro. Estou saturado de eu e pobre de voce. E penso que essa será cada vez mais a questão de todos: Voce existe...Onde está voce....como sentir o que voce sente e pensa...Prove-me que voce é real... ( Não é engraçado que essas são as questões que jogamos para Deus!!! ).
Uma amiga se inquieta com esses pensamentos. Fica perturbada. Não há por que, amiga. A busca da verdade do outro é uma busca muito mais fértil que a busca masturbatória do eu. Procurar na vida e no mundo a prova de que voce não está só.
Não conheço mais bela jornada.