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CLINT EASTWOOD/ CLAIR/ PHILIP SEYMOUR HOFFMAN/ JENNIFER ANISTON/ SIN CITY 2/ VIVIEN LEIGH

   THE PAWN BROKER CHRONICLES ( BUSCA ALUCINANTE ) de Wayne Kramer com Matt Dillon, Brendan Fraser, Elijah Wood, Paul Walker e Vincent D`Onofrio
O começo deste filme, com dois caras conversando abobrinha, lembra pela milésima vez ao Pulp Fiction. E todo o filme vai nessa toada: humor negro, guitarras distorcidas, bastante violência. Com uma diferença, absoluta ausência de talento. Uma salada de um cara que se acha Elvis, um bando de mulheres nuas, uns caipiras toscos, carros feios, e muito sangue. Uma tentativa desesperada de ser cool que se torna apenas uma bobeira tola e vazia. Nada faz sentido e nada tem graça. Uma pena ver alguns bons atores neste lixo. Nota Zero.
   SEM DIREITO A RESGATE de Daniel Schechter com Jennifer Aniston, Tim Robbins e Will Forte.
Dificil não sentir pena de Jennifer. Uma boa atriz perdida nesta tolice atroz. Ela é uma mulher rica e infeliz que é sequestrada por um trio de idiotas. Não é uma comédia, tenta ser um drama. O roteiro é tão imbecil que chega a ser ofensivo. O cinema vai acabar. Nota Zero.
   LADY HAMILTON de Alexander Korda com Vivien Leigh e Laurence Olivier
E eis que encontramos um filme do tempo em que o cinema era coisa de adultos. Acompanhamos a saga de Hamilton, uma mulher inglesa que nos tempos de Napoleão foi da fortuna à miséria. O filme não é bom, é apenas interessante. Vivien está tão linda que consegue nos hipnotizar. Ela é o conceito do belo em forma de ser-humano. Olivier, esposo dela nesse tempo, apenas tem de lhe fazer bela companhia. Ele consegue. O jovem Olivier era um galã perfeito. Nota 5.
   CAVALCADE de Frank Lloyd com Diana Wynyard e Clive Brook
Melhor filme no Oscar de 33 está longe de ser um grande filme. Nem mesmo bom ele é. Tem três problemas que o aniquilam. É um tema muito inglês feito em Hollywood. Segundo, o roteiro tira todo o wit da peça de Noel Coward, um imenso sucesso nos teatros de então. E o mais grave, todos os atores interpretam o filme como se ele fosse mudo. Se voce quiser saber o que seja um tipo de performance antiga, velha, veja isto. O tema é a saga de duas familias inglesas, de 1899 até os anos 20. Guerras e mais guerras. Coward já sentia a proximidade de Hitler, o filme é inerte. Nota 3.
   JERSEY BOYS de Clint Eastwood 
O novo filme de Clint, passou aqui?, surpreendentemente conta a história de Frank Valli, um dos mais bregas cantores do auge do rock`n`roll. A gente sabe que Clint não gosta de rock, e assim ele passa pelo período do filme, 1952-1979, como se o rock jamais tivesse existido. Frank Valli era um cantor romântico na linha de Johnny Mathis. Estranho filme, por causa do meio italiano se parece com um filme de Scorsese. Sem brilho. Não é um filme ruim. Não é mesmo! O seu problema é o tema, pouco interessante. Nota 5.
   O ÚLTIMO CONCERTO de Yaron Zilberman com Christopher Walken, Philip Seymour Hoffman, Mark Ivanir, Catherine Keener.
Oh mais um filme de gente doente! Mais um filme frio, seco, distante, que tenta se passar por arte! Mais um filme jeca que acha que arte significa seriedade e sofrimento. Aff...Ok, todos os atores são excelentes e todos eles têm chance de brilhar. Mas...so what? Nota 4.
  SIN CITY 2 de Robert Rodriguez e Frank Miller com Joseph Gordon Levitt, Bruce Willis, Eva Green, Josh Brolin, Mickey Rourke, Jessica Alba.
Parece uma brincadeira de amigos de 11 anos que adoram sangue. E nem os belos seios de Eva Green valem o filme. Ele é um nada sobre coisa alguma. É tão fake que faz Liberace soar como Liszt. Nada entenderam do que seja filme noir. Nada sabem sobre o que seja ser sexy. Desconhecem a escrita de roteiro. Pior, não têm simancol. Nota Zero.
  O VINGADOR INVISÍVEL de René Clair com Walter Huston, Barry Fitzgerald, Roland Young e Louis Hayward
Uma festa! Baseado em Agatha Christie, o filme fala de onze convidados que hospedados numa casa isolada, vão sendo mortos um a um. Quem é o assassino? Clair foge da guerra e em Hollywood se torna um dos mais encantadores dos diretores. Seus filmes voam. São diversão em alto nível de clima e de performances. Para quem quiser lembrar do que seja cinema popular bem feito e inteligente. Nota 9.
 

PRESTON STURGES/ GEORGE CLOONEY/ WOODY ALLEN/ PETER O`TOOLE/ RENÉ CLAIR/ ELIO PETRI

   ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE de Roberto Santucci com Leandro Hassun e Danielle Winits
A volta da chanchada é uma boa notícia. Mas, ao contrário das comédias de Oscarito e do impagável Zé Trindade, agora a chanchada procura um público mais classe média. Assim, tudo aqui é clean, tem um jeitão Miami de ser e de parecer. Acho saudável. O cinema do Brasil desde 1960 tem esse pudor bobo de ser pop. Ora, todo cinema precisa ser pop! E quer saber? Hassun é um bom comediante. Jerry Lewis made in Brasil. O roteiro é bem bobinho, a trilha sonora luta para ser Disney, mas funciona para os casais de shopping center, tipo domingo a noite pós compras. Eu não me irritei. Nota 5.
   O ASSASSINO de Elio Petri com Marcello Mastroianni, Micheline Presle e Salvo Randone
A Folha de SP lança mais uma coleção de DVDs. E como sempre nos frustra com um monte de filmes que todo mundo tem. Mas às vezes surge algo de diferente. Como este ótimo policial noir, primeiro filme de Petri, diretor morto muito cedo, e que em sua curta carreira ganharia até Oscar, com o excelente Investigação Sobre Um Cidadão. Neste filme, do tempo em que o cinema italiano era o melhor do mundo, Mastroianni, como sempre espetacularmente sutil, faz um antiquário boa vida que é preso acusado do assassinato de sua namorada mais velha e rica. O clima do filme é existencialista, jazz na trilha sonora, fotografia de Carlo di Palma ( que depois faria os melhores filmes de Woody Allen ) e um roteiro surpreendente. É um filme que mescla Antonioni com John Huston! Mastroianni diz nos extras que ficou feliz ao ver um poster deste filme no escritório de Scorsese! É uma diversão classe A. A venda nas bancas por apenas 17 paus. Nota 8.
   LONGE DESTE INSENSATO MUNDO ( FAR AWAY FROM THE MADDING CROWD ) de John Schlesinger com Julie Christie, Terence Stamp, Peter Finch e Alan Bates
Uma mulher e três homens. Um é puro sentimento. Outro é sexo misterioso. E um terceiro é cerebral. O filme é lindo de se ver e lindo de se estar. Grande produção de 1967, não foi o sucesso esperado. A trilha sonora impressionista de Richard Rodney Bennet é magnífica! Nota DEZ.
   MULHER DE VERDADE ( THE PALM BEACH STORY ) de Preston Sturges com Claudette Colbert e Joel McCrea
Uma dieta de uma semana de filmes como este conseguiria me fazer voltar a me apaixonar pelo cinema. Feito no auge da fulgurante carreira de Sturges, conta a história, sem nenhum sentido, de uma esposa que se separa do marido para conseguir com algum home rico, bastante dinheiro para dar ao ex-marido. O sonho do marido é construir um aeroporto nos ares, feito de cordas de elástico. Faz sentido? Tem ainda um velho texano que distribui dinheiro, um bando de caçadores que caçam dentro de um trem, um casal de irmãos ricos que jogam dinheiro fora. Tudo no veloz ritmo de Preston Sturges. Uma das grandes maravilhas dos DVDs foi fazer com que Sturges fosse ressuscitado. A comédia com ele é sempre grossa, tosca, boba até, mas tudo é tão bem pensado, o roteiro é sempre tão rocambolesco que a gente acaba se rendendo e se apaixonando pelo filme. Nota 9.
   SEM ESCALAS de Jaume Collet-Serra com Liam Neeson e Julianne Moore
Tem uma bomba num avião. E um policial neurótico tem de descobrir quem é o terrorista enquanto o vôo acontece. Puxa! Este filme, nada ruim, tem todos os clichés. Mas a gente até assiste na boa, sem grandes problemas. O que irrita é a falta de humor, de leveza dos filmes de ação de hoje. Parece que há um desejo tolo de se parecer sério. Aff...nada aqui faz sentido! Pra que a seriedade? Nota 5.
   CAÇADORES DE OBRAS PRIMAS de George Clooney com George Clooney, Matt Damon, Bill Murray e Jean Dujardim
Um absoluto fiasco! Chato, vazio, desinteressante e modorrento. Tentaram fazer um filme esperto, classudo, como aquelas velhas aventuras de guerra, produzidas entre 1960/1967, filme maravilhosos, geralmente com Burt Lancaster, Lee Marvin ou James Garner. Esqueceram do principal: o roteiro. Esses clássicos tinham roteiros brilhantes, criavam frases cheias de significado, desenvolviam personagens interessantes, misturavam suspense, humor e drama. Aqui o que temos? O nada. O vácuo. Lixo. Nota ZERO.
   CASEI-ME COM UMA FEITICEIRA de René Clair com Frederic March e Veronica Lake 
Quando os nazis invadiram a França, lá se foram Renoir e Clair para Hollywood. Clair se deu melhor. Fez nos EUA excelentes filmes. Este é um dos melhores. Uma comédia mágica sobre um mortal que se casa com uma bruxa. Na verdade ela quer se vingar. Um antepassado do mortal a colocou numa fogueira nos idos de Salem. Neste filme vemos o toque de mestre de Clair, um dos mais poéticos dos diretores. Coisas voam, pessoas perdem a memória, o tempo vai e volta, tudo pode acontecer. Clair via o cinema como brinquedo, ferramenta de sonhos. O filme é um banquete de ilusões. Belo. Nota DEZ!
   O QUE É QUE HÁ GATINHA? de Clive Donner com Peter O`Toole, Peter Sellers, Woody Allen, Romy Schneider e Paula Prentiss
O roteiro é de Woody Allen. A trilha sonora, alegre e criativa, de Burt Bacharach. E a história tem as bossas e o groovy de 1965. Peter é um homem que está cansado de namorar tantas mulheres com tanta facilidade. Quer se dedicar só a uma. Sellers é seu analista, um sedutor fracassado. Woody Allen faz um jovem nerd que sonha em ser como Peter O`Toole. Romy é a boazinha namorada de O`Toole. Incrível como o mundo mudou! Peter O`Toole foi um sex-symbol sem músculos, sem corte de cabelo bacana e todo baseado em sua delicada figura andrógina e culta. Eu adoro Peter, adoro! O filme, dizem, foi uma festa de sexo e whisky, atores sem comando pouco se lixando para o pobre diretor. Very sixties. Não é um bom filme. É antes um retrato antropológico de um mundo que jamais existirá novamente. Visto assim, com olhar bobinho, o filme se faz uma bobice doce e chic. O roteiro de Woody fala daquilo que até hoje ele reescreve: sexo, sexo e sexo. Nota 6.
   OS AMORES DE HENRIQUE VIII de Alexander Korda com Charles Laughton, Robert Donat, Merle Oberon, Elsa Lanchester
Clássico inglês que deu um Oscar a Laughton. Há quem considere até hoje Charles Laughton o maior ator-gênio do cinema. Aqui ele brilha. Faz Henrique como uma vítima. Ele ama as mulheres, é seduzido por elas, e manda matar algumas....tudo como um brinquedo inocente. O filme, bonito, vai do intenso drama ( sua pior parte ), à comédia frívola, é seu melhor. Um raro é bom filme com a equipe hiper-profissional de Korda. Vale muito ver. Nota 7.

O CINEMA POPULAR

   Quem me acompanha sabe: tenho escrito pouco sobre cinema. Isso tem dois motivos, primeiro meus estudos de letras. A literatura tem me ocupado muito. E segundo é que ando meio de saco cheio de filmes. Porque?
   De 2005 a 2010 fiz minha coleção de DVDs. O que compro agora são aqueles poucos filmes geniais que ainda são lançados. Esse período de formação de meu acervo foi maravilhoso, mas, acabou. E cinema, arte visual, não é como a música ou a literatura, o cinema é em comparação uma arte perene. 
   A gente pode escutar vinte vezes em vinte dias um disco legalzinho. Mas não vai assistir vinte vezes um filme apenas legalzinho. E eu não falo de ouvir o disco no carro ou dançando, falo de ouvir com toda a atenção. Cinema não vive como um disco ou um quadro, não nos acompanha como trechos de um livro. Um filme para ter esse poder tem de ser muito especial. Eles existem, mas sua porcentagem é muito pequena. 
  E o que se faz hoje, sem preconceito, é quase sempre irrelevante. E assim meu interesse vai minguando...Sempre vou amar meus filmes, mas vou escrever mais uma vez sobre Fellini ? 
  Well...Conto tudo isso pra dizer que num DVD recém lançado de René Clair, há como extra uma entrevista de rádio que ele deu em 1960 nos EUA. Observe, é 1960, o auge do cinema de arte, momento em que os críticos tinham a certeza que os filmes populares iriam desaparecer. Pois bem, nessa corajosa entrevista, para surpresa do repórter, Clair diz que " Raros são os filmes relevantes que não fizeram sucesso de bilheteria!" 
  René Clair começa citando Chaplin e Buster Keaton, como exemplos de artistas populares em alto grau de arte e de diversão, e continua citando Ford, Hitchcock, Hawks e Wilder. O francês diz que há excessões, e Kane é o melhor exemplo, mas mais de 90% dos grandes filmes artísticos tiveram bom público! 
  Penso então que na década que lá começava, 2001, Bonnie and Clyde e Mash seriam big hits. Que Kubrick, Scorsese, Coppolla ou Woody Allen sempre tiveram público ( menos para seus piores filmes ), que Kurosawa ou Malle sempre deram lucro e que mesmo os melhores filmes de Godard tiveram uma boa platéia. Quando ele ficou chatérrimo o público se foi. E sua arte se foi com eles.
  Muito lixo é feito e vira sucesso. René Clair desmente isso. Ele conta que muito lixo é feito e vira fracasso de bilheteria. Um sucesso sempre é um bom filme. Nunca é chato, mal feito, burro ou irrelevante. O público sabe o que merece ser visto.
  Bem, talvez em 1960, antes do blockbuster, do filme lançado ANTES do boca a boca, fosse assim. Hoje há big hits realmente ruins. Mas, claro, percebo que poucos filmes de grande sucesso são absolutamente ruins. E muitos filmes de arte o são. Preconceitos que tive me impediram de ver Lord of The Rings por anos, e depois descobri que são filmes ótimos. Mas Avatar é horror puro, um lixo. 
  Diria então que devemos desconfiar do filme de arte que só dois caras viram. E entender que os melhores filmes dos bons diretores são aqueles que tiveram mais público. Sempre. 
  E jogar fora o preconceito. Uma fila na bilheteria pode ser melhor sinal que um prêmio em Berlin.

ELIA KAZAN/ WARREN BEATY/ TOTÓ/ PAUL GIAMATTI/ GAINSBOURG/ MICKEY ROURKE/ RENE CLAIR/ BERGMAN

TOTÓ PROCURA CASA de Mario Monicelli e Steno com O Grande Totó
Que humorista foi esse tal de Totó!!!! Que rosto! Não espere elaboração dele. Não espere "humor sofisticado". Totó é um palhaço, como Mazzaropi, como Renato Aragão, como Buster Keaton e o Jim Carrey dos bons tempos. Seu humor é infantil, direto, simples, e portanto corajoso. Aqui o objetivo é o riso, só o riso, se seu público não ri o humorista falhou, daí sua coragem. Neste filme ( dos primeiros desse fenômeno chamado Monicelli ) ele é um pai de familia sem casa. O filme mostra ele tentando achar lugar para morar ( tenta uma escola, cemitério e até no Coliseu ele se aloja ). Uma chanchadona que é de um doce saudosismo. Totó foi um graaaande comediante! Nota 7.
CLAMOR DO SEXO de Elia Kazan com Warren Beaty e Natalie Wood
Crítica abaixo... É mais um belo retrato da América feita por esse tão importante diretor. Warren está muito bem como o jovem aluno inocente e rico ( é seu primeiro filme ). Natalie não está a sua altura na primeira parte do filme, depois ela cresce e acaba por nos comover. Drama de primeira. Nota 8.
FAY GRIM de Hal Hartley com Parker Posey e Jeff Goldblum
Talvez um Alphaville? Uma brincadeira de Hartley que lamentávelmente não dá certo. Parker está muito sexy ! Mas que roteiro é esse???? Nota 2.
NINHO DE COBRAS de Joseph L. Mankiewicz com Kirk Douglas, Henry Fonda e Warren Oates
Pois bem... este é um filme muuuuito errado! Explico o porque. Temos David Newman e Robert Benton, os dois mais brilhantes roteiristas da época. Eles escrevem uma história sobre um cowboy ladrão e uma prisão de desajustados. O roteiro, típico da época contracultural, atira em xerifes, racistas, mulheres, westerns etc. Mas, chamam para dirigir o filme Joseph L. Mankiewicz, o diretor, excelente, de A Malvada. Um grande nome, mas um estranho no ninho!!! O que acontece então? Nada. O roteiro, cheio de boas ideias, é asfixiado numa direção acadêmica. O resultado é morno. Kirk é perfeito para esse tipo de perverso/espertinho e Fonda brinca com seu tipo de americano/Lincoln. Mas é Hume Cronyn, fazendo uma espécie de debilóide que mais impressiona. Não é uma grande comédia, mas é ok. Nota 6.
PASSION PLAY de Mitch Glazer com Mickey Rourke, Megan Fox e Bill Murray
A capa do dvd promete: Rourke como um trompetista de jazz decadente. O ambiente é Utah. Fox é uma angelical esperança de redenção e Murray um empresário sacana. Atraente né? Pois é um drama risível de tão ruim. Deve ter sido escrito por algum fã de cinema com 8 anos de idade ( o roteiro macaqueia Asas do Desejo e um monte de filmes noir dos anos 40 ), o diretor, é flagrante, pensava estar fazendo um bom filme, deve ser um nerd de 11 anos e quem o produziu crê que o público de cinema é imbecil. Megan Fox é um anjo ( ela tem asas )..... e na última cena Mickey Rourke voa com ela rumo ao céu.... se aqui descrito parece ruim, creia-me, é bem pior na tela. Chega a ser cretino. Sem nota. Faz de conta que jamais o vi.
SLOGAN de Pierre Grimblat com Serge Gainsbourg e Jane Birkin
Um publicitário conhece em Veneza Jane Birkin. Ele é casado. Se amam, mas Jane o abandona. Pois é.... eu gosto muito de Serge e este é o filme em que ele conheceu Jane. Mas que lixo é este? Serge é péssimo ator e Jane chega a rir em cena !!! O filme é constrangedor de tão amador!!! Não é um filme, é muito mais um documentário sobre um flerte. Nota 1.
PORTE DE LILÁS de René Clair com Pierre Brasseur e Henri Vidal
Em favela francesa ( sim, são barracos em ruinas ) um assassino se esconde. Fica no porão de um cantor fracassado e é ajudado por um tolo ingênuo. O filme tem belas imagens, mas se perde em sua excessiva glamurização da pobreza. Clair funciona melhor em fantasias puras, onde ele pode "levantar vôo". Nota 5.
ATRAVÉS DE UM ESPELHO de Ingmar Bergman com Harriet Andersson, Max Von Sydow, Lars Passgard e Gunnar Bjorsson
Uma obra-prima, devastadora. Retrato de uma personalidade em crise ou retrato de nossa condição desde sempre? Bergman nada enfeita, nada exagera, nada dramatiza. Faz o que ele pensa dever ser feito, sem jamais mudar de rumo. É um filme de tristeza polar, mas também de uma beleza profunda, seca, perturbadora. Nota DEZ.
A MINHA VISÃO DO AMOR de Richard J. Lewis com Paul Giamatti, Dustin Hoffman e Rosamund Pike
Uma coleção de clichés. Acompanhamos a vida de um mala por 3 décadas. Cliché: a década de 70 e suas drogas, a esposa doidona, a vida como irresponsável flerte. Segundo cliché: a segunda esposa é uma chata judia à woodyallen... Já a terceira esposa é dos tempos atuais, mais cliché: gente que só pensa em saúde e equilíbrio. No final, supremo cliché: violinos e pianinho enquanto ele sofre de doença incurável.... Os críticos gostaram? Pobre crítica! Paul Giamatti imita Jack Nicholson. Faz exatamente o tipo que ele faz desde 1983. Mas é bom ator. É imitação de bom nível. Dustin nada tem a fazer. Fica lá, como um tipo de velho tarado. A direção é franciscana: pobre. O filme já nasce velho e com cheiro de reprise do SBT. Nota 3.

KIAROSTAMI/ BINOCHE/ DEPARDIEU/ BECKER/ GROUCHO/ SCORSESE/ CLAIR/ DASSIN/ ROSSELINI

CÓPIA FIEL de Abbas Kiarostami com Juliette Binoche e Willian Shimell
Eric Rhomer ( de quem gosto ) fez filmes em que as pessoas falam e "nada acontece". Mas Rhomer tem um segredo: seus personagens são gostáveis. Torcemos por eles. Um americano ( quem? Linklater? ) fez um filme em que um casal conversa. É uma versão teen de Rhomer. Aqui temos Kiarostami fazendo uma versão adulta de Linklater ( se não for Linklater, sorry... ). Binoche continua bonitona. Shimell é ok. Mas o filme é um pé no saco! Motivo: os dois são detestáveis! O crítico de arte é de uma frieza nojenta e Juliette faz a típica divorciada amarga. São reais? Sim, são. O jogo de ocultamento/revelação é bem sacado? Sim, é. Mas e daí? Tudo se perde ( inclusive uma atuação perfeita de Binoche ) numa antipatia, uma chatura insuportável. Quando o personagem feminino desaba ao fim do filme, tudo de pior num relacionamento e num certo tipo de cinema cabeça vem a tona. É duro! Mas vale uma notinha pela atuação de Juliette. Nota 3.
DUCK SOUP de Leo McCarey com Margaret Dumont e os Irmãos Marx
Após o porre de sentido, de relevância e de seriedade vazia de Kiarostami, nada como a falta de senso de Groucho, Chico e Harpo para nos salvar. Este é o filme "politico" dos Marx. Freedonia que é governada por Groucho e entra em guerra "porque o campo de batalha já foi alugado". Amar os Marx é saber que viver é não fazer sentido. Nada neles faz sentido, nada. Seus filmes são carnavais sem enredo e comissão de frente. Duca! Nota DEZ!!!!!!!!!!!!
QUEM BATE A MINHA PORTA? de Martin Scorsese com Harvey Keitel
É o primeiro filme de Martin. Começou a ser filmado em 1965, e foi encerrado só em 68. Todo o seu estilo já está aqui: câmera em movimento, retrato de jovens perdidos, música pop. Impressiona o fato de que é um filme ainda moderno, lembra o estilo de Tarantino, Ritchie e vasto etc. Como todo novato Scorsese erra ao dar mais valor às imagens que ao roteiro, o filme às vezes se perde em sua história. Mas é uma refrescante visão de um imenso talento em seu nascimento. Nota 6.
O CÍRCULO VERMELHO de Jean-Pierre Melville com Alain Delon, Bourvil e Gian Maria Volonté
Por falar em Tarantino... Mais um dos filmes vigorosos de Melville. Mundo de ladrões, policiais e cabarets baratos. É um filme frio, duro, com uma contida violencia sempre latente. Delon é perfeito nesse papel de bandido sem alma. Melville foi um gigante, seus filmes jamais envelhecem. Virilidade em dose cavalar. Nota 7.
A BELEZA DO DIABO de René Clair com Gerard Philipe e Michel Simon
Finalmente vejo um filme em que o talento de Philipe me é exibido! Para quem não sabe é ele o grande mito do teatro e cinema francês. Morreu jovem... Aqui ele faz Mefistófeles, numa adaptação, em ritmo de farsa, do mito de Fausto. Simon é outro ator de gênio e é um prazer vê-lo em seus pulinhos de diabo bem-humorado. Clair, um dos cinco gigantes da França, tem o amor sincero pela poesia onírica do cinema. Sabia filmar sonhos e delirios. É uma obra invulgar, solta, febril e irreverente. Mas às vezes ela se perde em sua ambição. Clair era maior quando mais simples. De qualquer modo, é maravilhoso que filmes como este sejam lançados em dvd. Nota 6.
MINHAS TARDES COM MARGUERITTE de Jean Becker com Gerard Depardieu e Gisele Casadesus
Gerard Depardieu quando quer é um grande ator! A prova está aqui, neste filme que passou em nossas salas em Abril e que quase ninguém viu. Porque filmes tão bons quanto este são tão pouco vistos? Porque são adultos? Ou porque não são sensacionais? Não apelativos? É um filme discreto, elegante, simples, solar e muito feliz. Tudo o que hoje não dá ibope. Depardieu é um "burro", um homem de inteligência limitada, um bronco. Ele conhece uma velhinha que ama ler e os dois se tornam amigos. Nesse processo ele não se torna mais inteligente, mas adquire confiança em si. Tudo no filme funciona. Os amigos do bar, a namorada jovem, e principalmente a relação de Depardieu com a mãe não-maternal, mostrada em flash-back. O modo como Depardieu fala e se move, suas mãos imensas e suas hesitações são trabalho de gênio. Eu não gostava muito dele, mas este filme mudou meu conceito. É também um dos raros filmes de agora que consegue mostrar a verdadeira França e o verdadeiro francês. Espero que os americanos não o refilmem. Fariam do personagem central um viciado ou um caso psico, e da velhinha uma louquinha tarada. Fariam desta pequena jóia um filme "sensacional". Jean Becker é filho de um dos meus diretores favoritos, Jacques Becker. Os filmes que ele tem feito ultimamente são todos assim: maravilhosos. Veja!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Nota 9.
O RETORNO A CÂMARA 36 DE SHAO LIN de Lau Kar Leung com Gordon Liu e Johnny Wang
Produção do mitico estúdio Shaw Bros. Liu, espetacular, faz comédia como um mentiroso que se torna mestre de Kung Fu e salva trabalhadores de patrão cruel. Kill Bill é dedicado a Liu, um mito chinês. Lutas fantásticas num filme que dignifica o cinema pop. Os chineses viam o cinema como circo, como festa. É isso que temos aqui, uma festa. Nota 7.
ALEMANHA ANO ZERO de Roberto Rosselini
Em 1947, em ato de coragem, Rosselini foi a Berlin, filmar a vida na cidade vencida. O filme sempre irá impressionar: Berlin é um imenso lixão, onde pessoas esfomeadas vendem o que possuem. Temos aqui um ex-nazista, moças prostitutas, ex-professor pedófilo, velho agonizante. E principalmente um menino perdido, retrato da Alemanha de então, que rouba, foge, tenta se comunicar e acaba por matar seu pai. É um dos filmes mais tristes já feitos. O cinema de Rosselini continua a ser influência num certo tipo de cinema de hoje ( os iranianos, os palestinos, os africanos ), é cinema da pobreza, da crueza, e da ausência de emoção. Rosselini tenta ficar a distância, observa e não se envolve. O que salta aos olhos hoje é o absurdo de destruição que se fez em Berlin, creia, a cidade ficou completamente destruída. Nota 7.
PROFANAÇÃO de Jules Dassin com Melina Mercouri e Anthony Perkins
Primeiro: Dassin é um super diretor! Seja em policiais ou em dramas, seja em comédias ou em noir. Aqui ele pega a história de Fedra e a coloca na Grécia moderna, no mundo dos milionários armadores ( Onassis? ). Melina é a esposa de rico armador que se apaixona por seu enteado. Perkins, o jovem e frágil ator de Psicose, faz o enteado. A trilha é de Mikis Theodorakis, maravilhosamente trágica. Dassin vai fundo na tragédia grega, sem medo e sem pudor. O que vemos é a destruição de todos pela força da paixão cega. Mas a habilidade de Dassin é tanta que o filme nunca perde ritmo, suas imagens e sua edição dando suspense ( e nervosa beleza ) ao todo. Melina nasceu para esses papéis: seu rosto é máscara de tragédia. Anthony Perkins traz o desamparo de menino mal amado. O filme é poderoso. Nota 8.

ONDE VIVEM OS MONSTROS/BULLIT/DIRTY HARRY/RENE CLAIR

ANASTASIA de Anatole Litvak com Ingrid Bergman e Yul Brynner

Chatíssimo sucesso do cinema que décadas depois teve mais sucesso ainda, como desenho Disney. Ingrid ganhou seu segundo Oscar e Yul está especialmente canastrão. Um filme para mocinhas românticas, apenas isso. Nota 2.

ONDE VIVEM OS MONSTROS de Spike Jonze

Descubra a criança que há em você.... Não seria melhor descobrir o adulto que procura nascer ? Pois tudo hoje nos ajuda a "descobrir a criança" ! Somos geração do talco e das fraldas. Não nos cansamos de revisitar o mundo idealizado da meninice. Haja !!!!! O filme nada me surpreendeu, eu já adivinhava que haveria um início cheio de fôlego e uma gradual perda de pique até o final mais ou menos. Sina de diretores formados por clips, uma incapacidade total de contar histórias longas. O visual remete às séries infantis inglesas dos anos 60/70, tipo A FLAUTA MÁGICA...Spike andou as assistindo. Adorei os dez minutos iniciais, depois deu muuuuuito sono.... Nota 4.

NA TRILHA DOS ASSASSINOS de John Frankenheimer com Don Johnson e Penelope Ann Miller

Policial estilo anos 80. Detetive fracassado investiga crimes. A ação é ok. Frankenheimer foi um dos grandes entre 62/72, de repente desandou. Mas isto é bem divertido. E bastante imbecil. 5.
O ÚLTIMO BOY SCOUT de Tony Scott com Bruce Willis
O irmão mais jovem de Ridley fez na sequencia dois bons filmes, este e AMOR A QUEIMA ROUPA. O estilo é cheio de luz, cores, brilho e reflexos, ou seja, publicitário. Mas Bruce nunca esteve tão bem ( lí que Tarantino acha Willis grande ator ) fazendo seu tipo azarado cornudo. O filme diverte muito, tem cenas de ação centradas nos stunt e não em efeitos. Enjoy, é um dos melhores filmes pra homem dos anos 90. Nota 8.
THE LAST WALTZ de Martin Scorsese com The Band
Na história do cinema dois filmes disputam o prêmio de melhor show já gravado, este e STOP MAKING SENSE de Johnathan Demme com os Talking Heads. São completamente diferentes. Demme fez um filme modernista, minimalista e esquizo; Martin nos dá um filme que reflete aquilo que é The Band, o filme é direto, simples, objetivo. Fala todo o tempo sobre a amizade. Como música é nota dez, como cinema é 7.
BULLIT de Peter Yates com Steve McQueen, Robert Vaughn e Jacqueline Bisset
O moderno filme policial nasceu com Dirty Harry, mas dois anos antes Bullit abriu o caminho e fez melhor. Nada é mais cool que este filme. Tudo aquilo que ligamos ao que é ser cool está aqui. Em sua trilha sonora ( jazz de Lalo Schifrin, pra mim a melhor trilha de policial da história ), nos carros ( muscle cars, o de Steve é um clássico ) roupas, cenários, silêncios, ressacas. Basta assistir os primeiros cinco minutos de Steve em cena para se entender tudo o que era cool em 1968 e é ainda hoje. Aliás hoje o estilo Bullit é mais cool ainda !
O filme, cheio de ação e com muito poucos diálogos, segue um policial rebelde ( Steve ) investigando coisas da máfia e de política. Tudo com as ruas de SanFran de fundo e Miss Bisset, dona de beleza surreal, enfeitando o apto de Bullit. Yates, diretor inglês muito bacaninha da época, nunca deixa a câmera parada. Ela corre, voa, treme e ginga. Há uma perseguição de carrões pelas ladeiras que dá até frio na barriga. O filme foi hiper sucesso de bilheteria e é um clássico. O tipo de filme que Soderbergh adoraria assinar. Esperto, frio, elegante, viril, ritmado, enfim, cool. Steve McQueen merece seu título, o rei do cool. Nota DEZ !!!!!!!!!
DIRTY HARRY de Don Siegel com ELE.
...é seu dia de sorte ? Depois que Clint disse isso nunca mais o cinema foi o mesmo. Se voce é um dos infelizes que nunca o assistiu e resolver conhecer este lixo delicioso, saiba que para entender a importancia disto é preciso saber que tudo o que voce assistir aqui foi feito pela primeira vez por Harry, o sujo. O sangue, o som do Magnum 44, um policial metendo bala nos meliantes sem dó, a frieza, o politicamente incorreto. Harry mata e mata sem nenhum problema de consciencia, e isso na época causou indignação. Observe como o filme tem poucos tiros. Espertamente eles notaram que um único tiro causa mais impacto que duzentos. E que tiros ! Nós vibramos com eles ! É um filme podre, sujo, muito feio, de humor pesado, cheio de furos no roteiro. Mas é inesquecível, empolgante, viciante. Clint cria um mito moderno e deixa como cria uma penca de heróis ( de Rambo até Matrix, todos têm algo de Harry ). Nota 9.
MAGNUM 44 de Ted Post com Clint Eastwood e Hal Holbrook
Harry em seu segundo filme ( ele é também responsável pela praga das continuações ) enfrenta gangue de policiais justiceiros. O inicio do filme é hilário, um close gigantesco na arma de Harry. O filme é mais ambicioso que o primeiro, mas tem menos suspense. A violência é maior, o impacto menor. Nota 6.
MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS de Alain Resnais com Pierre Arditi, Andre Dussolier, Laura Morante, Lambert Wilson
Resnais melhorou com a idade. Aos quase noventa anos ele domina uma leveza sem igual. Este filme fala do grande tema deste tempo : solidão. Consegue não ser piegas, não ser triste e não ser tolo. Adultos tentando fugir desse fantasma. Não conseguem. O filme é belíssimo. Nota 9.
POR AMOR de Sam Raimi com Kevin Costner, John C Reilly e Kelly Preston
Muita gente não entendeu o porque de Raimi amarrar os melhores anos de sua carreira ao Homem-Aranha. Porque ? Este filme ajuda a responder. Porque Raimi é banal. Este filme tem duas horas de cenas sem qualquer sinal de criação. Tudo é óbvio, previsivel, novelesco. E o tema é bom : jogador veterano recorda sua história de amor enquanto joga sua última partida. ( Baseball ). Costner até não está tão mal, mas o filme é idiota. Começo a pensar que todo diretor de série sabe o que faz ( ou o que não faz ). Talvez Raimi, Bryan Singer, Chris Columbus e agora Christopher Nolan e Gore Verbinski sejam apenas isso mesmo, diretores de séries. Nota 2.
O TEMPO É UMA ILUSÃO de Rene Clair com Dick Powell e Linda Darnell
Clair fugiu dos nazistas e foi filmar nos EUA. Se deu bem. Seus filmes lá são ótimos. Este fala de jornalista que recebe jornal do dia seguinte, ou seja, ele sabe tudo o que vai acontecer antes que aconteça ! Típico tema de Clair : fantasioso e feliz. O filme pede por atores melhores. Um Cary Grant o transformaria em ouro puro, Powell é apenas um tipo de Adam Sandler elegante. Mesmo assim é boa diversão. Nota 7.
FESTIVAL EXPRESS de Al Eamon
Inacreditável !!!! Em 1970 botaram num trem um bando de músicos e os soltaram on the road no Canada para fazerem shows. A idéia era um Woodstock itinerante. É lógico que tudo deu errado. Os hippies enfrentavam a policia, queriam ver os shows de graça. O produtor faliu e os músicos continuaram fazendo a excursão for fun. Muita bebida, muita droga, muito som. O Grateful Dead até que está bem. Era sua fase mais country, mais pop. Buddy Guy é um desastre. Tem ainda o Flying Burrito Brothers sem Gram Parsons, tocando Lazy Day. Nota mil pra eles. Mas tem também a chatérrima Janis Joplin dando seus gritos de sempre. The Band salva tudo : 3 canções de arrasar. Mas o melhor são os bastidores. Músicos totalmente junkies. Um retrato da proto-história do pop. Nota 5.
PS: Meirelles fazendo um filme sobre Janis com a filha do grande Caleb Deschanel ? Tô fora !!!!!

SATYAJIT RAY/CARNÉ/WHALE/CLAIR

PATHER PANCHALI de Satijajit Ray
Aquela casa e aquelas´pessoas não saem de minha cabeça... Poesia de primeira de um cineasta genial ( e raro ). nota Dez !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
FAUSTO de Friedrich Murnau
As imagens, imensas, insanas, cheias de sombras e brumas, são fascinantes. O filme não está a altura dos melhores de Murnau, mas é forte como um sonho ruim. nota 7.
O MONSTRO DA BOMBA H Inoshihiro Honda
Assisti com meus pais na tv aos 7 anos. Morri de medo e nunca o esquecí. Jamais o reencontrei, pois não sabia sequer seu nome. Eis que um amigo joga-o em minha mão ! Coisas da vida... thrash muito divertido ! nota 6.
THE OLD DARK HOUSE de James Whale com Melvyn Douglas, Boris Karloff, Charles Laughton, Raymond Massey.
O tipo de filme em que voce diz : Eba!!!! Gente presa em casa de horror ! Whale era um diretor fantástico! O filme é muito engraçado e transborda inteligência. ( Para quem não sabe, James Whale foi retratado por Ian McKellen em Deuses e Monstros ). Um prazer ver este raro filme cheio de gays não assumidos, frases hilárias e um discreto terror elegante. nota 8.
FROGS de George McGowan com Ray Milland e Sam Elliot
Sapos, rãs, cobras e até tartarugas atacam humanos na Flórida. Quem viu não esquece. É ridículo. O ataque do jacaré é digno de Hermes e Renato. Mas é também delicioso. Tem uma loucura de anos 70- brega, exagerado, risonho e terrível. nota 7.
TRÁGICO AMANHECER de Marcel Carné com Jean Gabin, Jules Berry e Arletty
Pessimismo, romantismo, fatalismo. Este é o tal do "realismo poético" que os franceses criaram nos anos 30. Filmes em que eles pareciam adivinhar o que aconteceria com a França diante do nazismo. O cinema noir americano chupou tudo daqui. O filme é um viagem pelo desespero amoroso de um homem. É belo, trágico e ultra chic. nota 9.
SOB OS TETOS DE PARIS de René Clair
A França nasceu para fazer filmes como este : malandros, prazerosos, sensuais. Tudo brilha em Clair, ele ama seus tipos boemios, suas mulheres charmosas, seus quartos de pensão barata. O filme sorrí bonachão e pisca para nós. É como pastis, patê e souflé. nota Dez!!!!!!!!!!!!!!!!
MOUCHETTE de Robert Bresson
Uma porrada. Ao ver o filme, sob forte emoção, escreví que a menina se torna uma heroína, e que o filme é genial ao conseguir mostrar isso. Agora penso outra coisa : ela não se tornou uma heroína, ela não despertou de sua letargia : ela afunda de vez e rola como pedra à água que a engole !!!!! Um filme que desperta duas interpretações tão opóstas só pode ser mágico. nota 9.
TROVÃO TROPICAL de Ben Stiller com o próprio, Robert Downey jr, Jack Black e Nick Nolte
Eu odiei este filme ! É talvez o pior filme que já assistí ( com excessão de Speed Racer e Evita que são imbatíveis ). A história, que apresenta várias possibilidades, é desperdiçada num roteiro frouxo, tolíssimo e infantilóide. Downey está hilário, Black tem finalmente um papel engraçado para brincar, mas... são desperdiçados com situações mal construídas, pouco engraçadas, abortadas ao meio. Quando deixam, quando não cortam para Stiller, quando deixam os dois se soltarem, o filme ameaça subir e decolar; mas não, tudo é frustrado com alguma reviravolta tola, com alguma macaquice infame, com burrice enlatada. Cansei de Ben. Ele tem um pecado mortal para todo humorista : vaidade. Vaidade assumida ( pois vaidosos todos são ). Foi o que detonou Eddie Murphy e é a não aparente vaidade que faz com que gostemos de Will Smith ou Jim Carrey. Já Ben insiste em ser engraçado-arrumado, azarado-musculoso, neurótico-com namorada. Ele não se esculhamba, não se apalhaça de vez, não se ridiculariza. Fica essa coisa mais-ou-menos ridiculo, mais-ou-menos palhaço, mais-ou-menos mal sucedido... e ele se torna um mais-ou-menos sem graça. nota 1.
DESEJO E REPARAÇÃO de Joe Wright com Keira Knightley e uma soberba Vanessa Redgrave
Revejo. E confirmo : grande filme. Adulto, bem escrito, com atuações adequadas e uma cena ( aquela na praia ) dificílima de se fazer e onde o diretor prova saber tudo. Nota 8.

3 diretores da França : Carné, Clair e Bresson

A cultura francesa é visceral em mim. Pois se os britânicos despertam minha admiração, se os americanos me divertem, são aos franceses que devo meus ódios e amores mais persistentes. É na França, naquela França que conhecí aos 13 anos e que sei que hoje está defunta, é nessa terra que encontro tudo o que desperta meu senso de boemia, de sensualidade e de inconformismo.
Vejamos 3 filmes que reví agora, dos 3 diretores que considero os mais fascinantes do país tricolor.
TRÁGICO AMANHECER de Marcel Carné, com Jean Gabin, Jules Berry e Arletty. O roteiro é de Jacques Prévert, e Prévert é um grande poeta. Ter Prévert no roteiro é como ter Murilo Mendes escrevendo filme no Brasil. Neste filme vemos um homem : um trabalhador braçal. Ele se apaixona. Mas não confia em seu amor. Acaba matando e se matando. O que é o filme ? É sobre a incapacidade de se ser feliz. Mas é muito mais : é sobre Gitanes fumados por Gabin- de um modo viril que nem mesmo Bogart foi capaz; é sobre quartos sujos, cheios de sombras e com colchões no chão; é sobre bares sórdidos esfumaçados; chuvas frias em madrugadas ansiosas e amorosas; vielas tortas que prometem romance infeliz; sobre moças indolentes que traem sem querer; sobre prédios de escadas em caracol onde vizinhos espionam; sobre pobreza e a tentativa de ser digno; sobre perder.
Carné era um gigante. Assina cada fotograma com estilo, beleza simples, sombras e brilhos; e movimenta o filme em suaves nuances de música e poesia. Carné crê na nobreza dos protagonistas, acredita no seu público, no gosto desse público e dá de presente uma obra-prima fatalista, profundamente pessimista, derrotista e apaixonadamente bela.
SOB OS TETOS DE PARIS de René Clair, com Modot e Prejean. Clair... o melhor diretor que a França nos deu. O mais parisiense, o mais gaiato, o mais feliz... amoroso Clair ! Foi dele o primeiro filme que assistí em dvd, exatamente este filme, que agora revejo... uma festa ! Do que trata este filme ? Um moço que vende partituras nas ruas se apaixona por uma romena desempregada. Entre batedores de carteiras e malandros profissionais eles se envolvem e namoram. O filme quase não tem uma história, mas as coisas não param de acontecer. Tudo nele é leve, elegante, alegre, profundamente feliz. René Clair ama a vida... ama a mulher que sorrí, as danças no bar, os copos de licor, os colchões de palha, as janelas abertas para a noite, as calçadas de pedra, os acordeões, a boemia e os amigos que se abraçam e fingem brigar. Clair ama viver, sabe viver e ama filmar. E cheio de música e de malandragem gentil, seu filme nos enche de bom-humor e nos faz ter um sorriso feliz.
Carné e Clair são dois lados da França. Em Carné há a pretensão, a poesia, o teatro, o romantismo trágico francês. Nele há Racine, Proust e Sartre. Em Clair há o descaramento, a ironia, a leveza elegante da França. Moliere, Stendhal e Rabelais.
Mas por fim existe Robert Bresson. O enigma Bresson. Meus mais queridos críticos dizem que no cinema existem 3 enigmas : Ozu, Dreyer e Bresson. São diretores que não se parecem com nada, que não podem ser julgados, não podem ser criticados e que são amados com fanatismo e odiados com persistência. Se no triste século vinte existissem santos, os 3 teriam asas. Pois seu cinema é feito de bondade, paciencia e amor à humanidade.
MOUCHETTE é de Bresson. Do que trata ? Uma menina. Muito pobre. Judiada por todos. Mas ela também não é nada simpática : joga barro nas amigas e não reage a nada. Seu pai é idiota, a mãe está morrendo. Ela é seduzida por um caçador epilético. É isso. Bresson usa seu método : atores amadores que não podem atuar - atente : eles não são ruins, e nem bons, nem frios são- não atuam, apenas estão lá, dizendo suas falas. A fotografia é bonita, mas os locais são feios. Trilha sonora não há. Portanto, é um filme árido, difícil, exigente. Então porque ele me tocou ?
Pelo seu final ? Onde ao assistir a cruel matança de coelhos numa caçada, a menina tem um estalo e percebe, finalmente, a crueldade da vida e de sua vida ? E Bresson nos mostra- por breves segundos- o momento em que uma vítima idiota se transforma numa heroína ? Ou será ao fato de que o único interesse dos filmes de Bresson é a santidade ? E que neste filme ele consegue nos mostrar, com simplicidade e rara emoção, o momento em que a menina se torna humana ( rolando na terra ) e imediatamente, morre ? ( na água, no mais belo suicídio do cinema ). Qual o segredo deste filme ? Sua imensa originalidade ? Uma originalidade modesta, despojada, portanto, real e sem possibilidade de ser copiada ou ultrapassada ? Como dar uma nota para um filme que nos mostra aquilo que a vida tem de mais real/ trágico/ banal ?
Com Robert Bresson se fecha o triangulo da alma francesa : se Carné é a literatice, a pintura e a poesia; se Clair é a malandragem, o sensualismo e a alegria; Bresson, como Rousseau, como Montaigne, como Flaubert, é o moralista, o crente racional, o radical, o homem de fé.
Num país que nos deu diretores tão maravilhosos como Tati, Clement, Vigo, Renoir, Chabrol, Godard ou Malle ( dentre vários outros ), ninguém é tão autenticamente francês como o poeta Carné, o boemio Clair e o filósofo Bresson.