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AMERICAN GRAFFITTI/ SHINDÔ/ MIZOGUCHI/ MALLE/ LOACH

A ILHA NUA de Kaneto Shindô
Um dos mais estranhos filmes que já vi. Numa ilha, estéril, quente, um casal e duas crianças precisam trazer água do continente ( a ilha não tem água doce ) para manter sua horta e sua vida. A ilha nada tem de cruel, ela é linda. Mas a vida deles é absurda. O filme, que não tem diálogos, é apenas o ir e vir em canoa, subir morros íngremes com cuidado, regar a terra arenosa. A fotografia é belíssima e a trilha musical maravilhosa. O diretor, de esquerda, quer nos dizer que o trabalho impede a comunicação. Eles não têm tempo para falar. A vida se resume a manter a própria vida. O filme, com todo esse arrojo e conteúdo tem um problema: é chato. Foi enorme sucesso de arte em seu tempo. Mas cansa ver a canoa cruzando o mar e o morro sendo subido. Nota 5.
À PROCURA DE ERIC de Ken Loach
Eric Cantona foi o ponto final na galeria de cavalos selvagens do Manchester United. Não a toa, ele diz em entrevista que jogadores como ele e George Best foram expulsos do United. Futebol hoje é para almofadinhas. Cantona nunca deu certo na seleção da França. Formou ataque com Papin, mas foram tirados da copa de 94 pela Bulgaria de Stoichkov. Em 98 ele poderia ter sido campeão do mundo. Zidane e Cantona fariam maravilhoso ataque. Mas Eric brigou com todo mundo e não foi chamado. De qualquer modo, ele tornou-se um deus no United. Mito. Seu estilo misturava a força de Adriano com a volúpia de Edmundo. O caráter era de Serginho Chulapa. Há uma cena famosa em que ele pula o alambrado, invade a torcida rival e desfere socos num torcedor. Se na final de 2006 estivesse ele em campo ( parou em 99 ) Zidane teria mais um para bater no italiano. O filme, sobre carteiro fracassado que recebe visitas de Cantona, tem o esquema de filme de Herbert Ross com Woody Allen. Só que no filme antigo é Bogey quem dá conselhos para Woody. Ouvindo o ex-jogador, o carteiro volta para ex-esposa e arruma situação do filho. É um filme honesto, jamais brilhante. Ken Loach é diretor da velha esquerda britânica: ele ama a classe operária. Seus filmes têm cheiro de povo. Este não chega aos pés de Kes, mas é um triste e simpático trabalho. Ken deve ser um cara muito legal. Nota 6.
AMERICAN GRAFFITTI de George Lucas com Richard Dreyfuss, Ron Howard, Charles Martin Smith e Harrison Ford
Se voce assistir este filme hoje vai achá-lo apenas ok. Mas deixa eu te dizer o porque de sua fama. Foi o primeiro filme a idolatrar os anos 50 ( o filme é de 73. A história se passa em 59. São quatorze anos que graças a revolução de 68 parecem 50 ), foi o primeiro filme em que não existe personagem ou história central, são vinhetas que se completam. Foi também o primeiro filme grande a usar discos pop como trilha sonora ( Scorsese já fazia isso desde 70, mas eram filmes pequenos), e foi ainda o primeiro filme teen nos moldes como conhecemos até hoje: carros, sexo, medos e piadas. O filme tem trilha sonora repleta de obras-primas dos 50. Vai de Buddy Holly a Beach Boys, de Chuck Berry a Fats Domino. Tudo está lá. Os atores estão muito simpáticos, os carrões são aquilo que se chama de super-muscle-cars e o filme é de uma despretensão cativante. Com o sucesso deste filme Lucas partiria para o projeto Star Wars e sua carreira como diretor iria pro espaço. Coppolla produziu. Nota 7.
A INDOMÁVEL de Ray Enright com Marlene Dietrich e John Wayne
É sempre bom ver Wayne, mas um western quando é bom é muuuuuito bom; quando é ruim é terrível. Este é bobíssimo. Nota 1.
LUA NEGRA de Louis Malle
Após o sucesso escandaloso de Lacombe Lucien, Malle fez este tipo de Alice no País das Maravilhas jungiano. Foi um absoluto fracasso. É impossível encontrar algum sentido neste filme. Guerrilheiros matam, há uma fazenda onde velha senhora morre e fala língua inexistente, ovelhas em todo canto, um rato de estimação, uma mulher dá o seio para que a velha mame, um unicórnio falante, uma águia assassinada... e tudo isso é só a metade. No meio dos absurdos anos 70 este é dos filmes mais loucos. É ruim demais. Mas ele vai tão fundo em sua ruindade que acaba ficando em nossa memória. Malle, diretor sempre provocante, escapa dos diretores "ruins e bem loucos" da época por ter um trunfo: ele sabia dirigir. Tudo é bem filmado, bem fotografado, bem dirigido. Malle mostra a loucura, mas ele nunca perde a razão. A fotografia é do bergmaniano Sven Nykyvst. Malle era o cara. Isto não é o filme. Nota 4.
OS AMANTES CRUCIFICADOS de Kenji Mizoguchi
Que lindo filme!!!! Lembro que foi este o primeiro filme japonês que vi na minha vida ( tv Cultura, 1990 ). Fala de amor que nasce e é sacrificado. Fala da ganancia de maridos ricos e de costumes arcaicos. Fala da coragem de amar. Mizoguchi, um tipo de anti-Kurosawa, dirige com uma delicadesa de seda. O filme é cheio de portas de papel, paredes de bambú, vielas com sol. As mulheres, como em todo filme do mestre, são as heroínas. O final do filme é toque de mago. Belo e muito doloroso. Nota 9.

SELTON MELLO/ HAWKS/ JODIE FOSTER/ MIZOGUCHI/ REDFORD

NÃO TE MOVAS de Sergio Castellito com Penelope Cruz
Picaretagem braba! Uma coleção de clichés significando tédio e chatice inglória. nota zero.
IBÉRIA de Carlos Saura
É uma coleção de cenas com música e dança espanhola. A maestria de Saura em mover a câmera é aqui muito bem-vinda. O filme é aula de gosto e de melodia. Para quem gosta de som e dança é obrigatório. Nota 6.
O BANDIDO DA LUZ VERMELHA de Rogerio Sganzerla
Um filme barato, pobre, mal feito, mas que talvez seja o melhor já produzido por estes lados do mundo. Rogerio erra todo o tempo mas jamais baixa a guarda: o filme é uma explosão de som e de imagens toscas. Paulo Villaça imita o Belmondo de Godard e Helena Ignez é fatal. Welles e nouvelle vague made na boca do lixo. Nota Dez.
A BEIRA DO ABISMO de Howard Hawks com Humphrey Bogart e Lauren Bacall
Uma ode ao bom-humor. Neste roteiro de Faulkner, baseado em Chandler, nada faz o menor sentido. Os assassinatos rolam sem razão, o detetive investiga por investigar e nós, pobres expectadores, nada entendemos. Mas neste clássico do noir, nada disso importa. O que interessa é assistir ao filme como coleção de sketches, cenas independentes maravilhosamente bem feitas. Dá pra notar a alegria de Bogart em contracenar com sua nova mulher, Bacall; e notamos que tudo ali parece brilhar. Lendo livros sobre o filme ficamos sabendo que na verdade Bogart sofria pelo fim de seu segundo casamento com a violenta Mayo, mas há paixão nos olhares e isso ficou na película para sempre. A irmã ninfomaníaca feita por Martha Vickers é excelente. Nota 8.
O CHEIRO DO RALO de Heitor Dhalia com Selton Mello e Paula Braun
É uma sátira ao capitalismo? Ou trata-se de uma homenagem ao Monty Python? Este filme tem um grave problema que atinge a maioria dos filmes "esquisitos": seria um excelente curta-metragem. Mas falta história para um longa e depois de seus trinta minutos iniciais, tudo se perde. O que era um bom filme de humor torna-se uma chatice pretensiosa. Selton dá um show de humorismo, seu tipo é antológico. Nota 4.
O HOMEM DO ANO de J H Fonseca com Murilo Benicio e Claudia Abreu
A fotografia é interessante, mas tudo o que acontece é muuuuuito previsível. Do porquinho até a pirralha que vira crente, tudo é chavão e banal. Filminho que parece TV. Nota 3.
SE EU FOSSE MINHA MÃE de Gary Nelson com Barbara Harris e Jodie Foster
Antes de ser atriz adulta, Jodie foi atriz infantil da Disney. Aqui, aos 14 anos, ela faz o papel da filha que troca de corpo com a mãe. Serve como nostalgia do visual 1976: carrões, skates fininhos, bocas de sino e mobília vermelha. Fora isso..... nota 4.
O PRÍNCIPE VALENTE de Henry Hathaway com Robert Wagner, James Mason e Janet Leigh
Aventura baseada nos HQ de Hal Foster. É sobre vikings e rei Arthur, sir Gawain e o amadurecimento de jovem herói. Robert Wagner, muito jovem, está perfeito no papel, e Mason sempre faz um bom vilão. A trilha sonora de Miklos Rosza é das melhores de todos os tempos. Um velho clássico da Sessão da Tarde do tempo em que se passavam clássicos à tarde. Bem legal. Tem torneios de heróis, fugas à cavalo, traições e muita briga. Nota 7.
UM HOMEM FORA DE SÉRIE de Barry Levinson com Robert Redford, Robert Duvall, Glenn Close, Kim Basinger
Baseado em livro de Bernard Malamud, o filme, que fala de promissor astro do beisebol que desaparece após crime e recomeça já maduro, é uma parábola sobre a saga de um herói. É incrível como o beisebol é algo mágico para os americanos. Eles sentem o esporte como raiz, como nascimento, a relação deles com o jogo é como a relação de um filho com sua mãe. Eles vêem naquele diamante relvado o berço, o paraíso, o Eden. Este filme é então, meloso, nostálgico, mas mantém seu interesse graças ao bom elenco e a trilha de Randy Newman. Nota 6.
MOONFLEET de Fritz Lang com Stewart Granger, Viveca Lindfors, Joan Greenwood
Outro clássico Sessão da Tarde. É sobre contrabandistas na Inglaterra de 1750. Um menino vai morar com nobre e descobre que ele é o tal contrabandista. Lang sabia tudo. Tem lindas cenas com caveiras e tempestades. Um filme delicioso! Nota 7.
A RUA DA VERGONHA de Kenji Mizoguchi
Mizoguchi nasceu em família arruinada e viu sua irmã ser vendida como gueixa. Toda sua carreira versa sobre a condição da mulher num Japão em transição. Este é seu último filme. E é fascinante. Mostra, na Tokyo pós-guerra, a vida num bordel ocidentalizado. Não existe mais a figura da gueixa, que devia saber caligrafia, ikebama e tocar okotô. Aqui elas são simples "putas", prostitutas que se afundam em dívidas e pensam em sair "da vida". Impressiona a forma como Mizoguchi sabe enquadrar. Cada tomada é um show de imagem. Ele toma o lado das meninas, mas jamais as exibe como vítimas, elas escolheram aquela vida e pagam por sua escolha. Um filme que tem trilha sonora estranhamente de terror e que hipnotiza em sua verdade simples. As atrizes estão perfeitas: há desde a imitadora de estrelas americanas até a mãe abandonada. Um final digno para um dos três gênios do cinema japonês. Nota 9
SONATA DE AMOR de Clarence Brown com Kate Hepburn, Paul Henreid e Robert Walker
Neste hiper-novelão que trata da vida conjugal de Clara e Robert Schumann nada é muito real e tudo é exagerado e doce. Há ainda a figura de Brahms, feito sem jeito por Walker e de Liszt, feito bem por Henry Daniels. Mas, como Brown sabia dirigir, cenas como a da galinha na cozinha e o final com o concerto de despedida de Clara, se sustentam muito bem. O filme consegue ser bem-humorado mesmo tratando de compositor que morreu louco e de amor travado. Kate está magnética como sempre e Henreid faz um Schumann interessante. Tipo de filme papai/mamãe que Hollywood fazia às dúzias. Nota 6.

OZU/ MIZOGUCHI/ ALMODOVAR/ ROCK HUDSON/ DORIS DAY

A PRINCESA DAS OSTRAS de Ernst Lubistch
Mais um filme silencioso de Lubistch de sua fase alemã. É uma deliciosa história sobre herdeira milionária e seu principe. Trata-se de comédia mágica, encantadora. Os cenários, irreais, são por sí um prazer. O filme é todo alegria. Enjoy it. Nota 7.
O INTENDENTE SANSHO de Kenji Mizoguchi
Este clássico de Mizoguchi toca na maior chaga da história humana : a escravidão. Mas há mais, ele fala da relação entre mãe e filhos, entre irmãos, fala ainda da decadência e do gosto azedo de toda vingança. Visualmente trata-se de uma obra-prima. Cada cena é uma sinfonia de flores, rostos e de água. Mizoguchi, o mais feminino dos diretores do Japão, desenvolve este enredo, doloroso, triste, poético, com toques de pincel em porcelana. É um filme perfeito e que tende a ser ainda melhor ao ser revisto. O final é inesquecível. Nota DEZ.
CONFIDÊNCIAS A MEIA-NOITE de Michael Gordon com Doris Day, Rock Hudson e Thelma Ritter e ainda Tony Randall
Doris saiu de moda na era hippie. Foi chamada de a mais virgem das virgens do cinema. Mas é pura doideira freak dizer isso. Ao rever seus filmes notamos o quanto ela era sexy. É ainda o modelo de gente como Jennifer Anniston, Meg Ryan e Reese Witherspoon. Rock é um Clooney mais elegante ainda ( e mais afetado ). O filme, o primeiro dos dois, é aquela bobagem bacana sobre moça que odeia playboy e depois passa a amá-lo. O cenário é hiper colorido, Rock faz um mentiroso muito bem e Doris é deliciosa. Um clássico da sessão da tarde. Nota 7.
VOLTA MEU AMOR de Delbert Mann com Doris Day, Rock Hudson e Tony Randall
Sobre publicitário anti-ético e sua rival. É claro que acabam por se apaixonar. É claro que tudo é colorido, fake e muito divertido. E Doris não é uma chata virginal. O filme, o segundo dos dois, ainda é legal. Perfeito para uma tarde de frio. Nota 6.
LE BONHEUR de Agnés Varda
Um homem casado e feliz arruma uma amante. Ele continua feliz e a amante é feliz também. Mas ele, ingênuo e idealista, pensa que a mulher pode aceitar sua felicidade por ter duas mulheres que o amam e a quem ele também ama. Mas talvez não seja assim... de qualquer modo, ao final do filme, ele e a amante continuam felizes. Este filme, de belíssimo colorido, que tem um trio de atores lindos e contentes, não tem trama, não tem drama, não tem comédia. Ele mostra, com muita criatividade e engenho, com uma edição ágil, três adultos e duas crianças comuns e ao mesmo tempo muito especiais. Eis um clássico simples, um belo momento da nouvelle-vague. Lindo filme. Nota 7.
ABRAÇOS PARTIDOS de Pedro Almodóvar com Lluis Homar e Penélope Cruz
Já aviso: eu detestei este filme. Ele é chato, maneiroso, sem nenhum tipo de emoção verdadeira. Tudo parece forçado ou pior: previsível. Dá pra adivinhar tudo o que vai acontecer. Poderia ser uma comédia, mas é levado a sério. Imperdoávelmente vazio. Nota 1.
TOKYO STORY de Yasujiro Ozu
Após os 7 Samurais de Kurosawa, este é considerado normalmente o melhor filme japonês da história. É o filme favorito de Wenders e de vários diretores americanos moderninhos. O estilo de Ozu está todo aqui. Os atores conversam olhando para a câmera. Câmera que está sempre a altura do tatami. Ozu evita as emoções fortes, todas são sutis, mas essas emoções estão sempre presentes, batendo a porta, nos olhares e nos corpos que se encolhem. O tema é típico de Ozu : a família. Trata de dois pais, idosos, que vão à Tóquio visitar os filhos. Nenhum filho é ruim ou frio, mas eles simplesmente não têm tempo livre para os pais. Apenas a nora viúva parece os entender. Nada explode, não há nenhuma cena de dor ou de raiva, mas dentro de nós, lentamente, delicadamente, vai nascendo uma sensação de dor e de inevitabilidade. Misturando seus ingredientes, com precisão poética, Ozu nos leva para dentro daquelas casas, daqueles rostos, daquelas vidas. O filme é uma obra-prima absoluta. Ozu era um santo. Nota DEZ !!!!!!

PRESTON STURGES, ERNST LUBISTCH, THE YOUNG VICTORIA,MIZOGUCHI

O CONDENADO de Carol Reed com James Mason
Na Irlanda, revolucionários fazem assalto. O líder é ferido e o filme, escuro, sombrio, mostra sua tentativa de sobreviver na cidade suja. Reed foi um dos gigantes do clássico cinema inglês ( e autor do Cidadão Kane de lá, O TERCEIRO HOMEM ). O filme é muito forte, mas este dvd tem sérios problemas de legendagem. Nota 7.
CRISÂNTEMOS TARDIOS de Kenji Mizoguchi
Nesta história de um filho de ator, ator que sofre por não ser tão bom como o pai, há todo o esteticismo belíssimo de Mizoguchi, o mais clássico dos diretores do Japão. Todo movimento de câmera é preciso e os cortes, quando há, são suaves e muito necessários. Voce observa o filme, não o assiste ou analisa. Nota 7
A ROSA PÚRPURA DO CAIRO de Woody Allen com Mia Farrow, Jeff Daniels e Danny Aielo
Um dos mais melancólicos filmes de Woody. Sua mensagem central é a de que nada nunca muda na vida real, e portanto, o que nos salva é a fantasia. O roteiro brilha em idéia, mas falha em emoção. O herói sai da tela e os personagens do filme de onde ele fugiu se revoltam. Eis Woody sendo Charlie Kauffman antes de Charlie ser moda. Mas o ator que faz o herói seduz a mocinha por quem o personagem de ficção se apaixonou. E ela, e eis o centro do filme, opta pelo ator, pelo real, e é traída por ele. No fim, uma cena magistral, Mia Farrow, totalmente desolada, assiste no cinema a Fred Astaire e Ginger Rogers e volta a viver. Um elogio ao cinema de quem realmente o entende. Nota 7.
THE YOUNG VICTORIA de Jean Marc Valée com Emily Blunt, Miranda Richardson e Jim Broadbent
Delicioso. O filme ainda não estreou por aqui e se estrear vá ver. É romantico no sentido antiquado do termo, ou seja, tem bom gosto e boas intenções. Faz bem , voce termina o filme se sentindo em paz com o mundo. Conta o início do reinado de Victoria, a rainha que fez da Inglaterra aquilo que pensamos sobre ela ainda hoje. ( E que acabou em 1960, mais ou menos ). Os atores estão muito bem, leves e bem dirigidos. Bela surpresa! ( E é lógico que eu, vitoriano que sou, me apaixonei pelo filme ). Nota 7.
AMANTES de James Gray com Joaquim Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw
Psicólogos irão gostar. Mas o mundo precisa de mais um filme sobre gente deprimida? Deprimidos do tipo mais chato, vivendo em seus ambientes de cores pastéis e pouca luz? O que nos interessa na vida banal daquele cara? Ele é apenas um mala. O filme padece da atual síndrome cabeça: confunde fazer arte com ser triste. É a arte da impotência. Nota 1. ( Sorry Leo ).
LADRÃO DE ALCOVA de Ernst Lubistch com Herbert Marshal e Miriam Hopkins
Uma festa! Se voce quer saber o que é o tal Lubistch touch, eis aqui a resposta. O filme, delicioso tipo champagne e caviar, é aula de luxo. Cheio de pequenos toques de estilo e esfuziantemente alegre. Trata de casal de vigaristas, ladrões, e fala de seus golpes e sua tentativa de enrolar uma jovem milionária. Herbert é o rei da sofisticação e Miriam está bastante engraçada. O roteiro é um festival de frases de duplo sentido, ele faísca. Os cenários têm aquele luxo irreal da Paramount dos anos trinta, tudo brilha em branco e prata. Este é um dos filmes míticos da época e demorou muito para que eu finalmente o encontrasse. Valeu esperar, não me decepcionou. Esperava diversão de classe, é o que ele é. Nota DEZ.
TINHA QUE SER VOCÊ de Joel Hopkins com Dustin Hoffman e Emma Thompson
Uma comédia romântica sobre gente comum e com mais de quarenta anos ( ele, mais de sessenta ). Ninguém tem tiques de neurótico. São sofridos, são humanos. Ele viaja para Londres a fim de assistir o casamento da filha. A nova família da ex não o aceita. No fundo da solidão, ele conhece quarentona que ainda solteira, cuida da mãe ex-doente. Ele força o romance, segue-a por uma tarde. Ela cede devagar. Duas solidões se encontram. O filme nada tem de artístico. Conta sua história, simples, com humildade. E funciona. Porquê? Neste tipo de filme é necessário que nos apaixonemos pelos personagens. Isso acontece. Emma é apaixonante. Ela se faz desajeitada, meio tímida, desiludida. Dustin é o mais humano ator de sua geração ( Nicholson faria deste personagem um bufão e De Niro o transformaria num perigo ), ele sofre, erra muito, tenta acertar e acaba nos acertando. Se voce tem mais de 40 é obrigatório. Trata-se de uma raridade : filme adulto sem ser metido. Filmes como este antes eram a regra, hoje nos surpreendem. Nota 7.
CONTRASTES HUMANOS de Preston Sturges com Joel McCrea e Veronica Lake.
Uma obra-prima. Filme favorito dos Coen, é a história, maravilhosa, de um diretor de cinema que resolve fazer um filme sobre os pobres ( nome do filme que ele quer fazer : O BROTHER, WHERE ART THOU...). Se disfarça de mendigo e cai na estrada. Mas o estúdio o segue, lhe dando toda a cobertura possível. Ele conhece atriz fracassada e acaba desistindo de sua idéia. Mas, em cena mirabolante, torna-se um mendigo de verdade e é preso numa prisão rural do sul. O filme diz todo o tempo que somente pessoas privilegiadas se interessam por filmes sobre a miséria. Quem é pobre sofre demais com essa chaga para querer vê-la nas telas. Pois bem, na prisão rural, em cena de gênio, se passa um filme para os presos. Um desenho de Mickey e Pluto. Os condenados riem e ele se pega rindo. Sua teoria desaba : o povo precisa de risos, e quanto mais cruel é sua vida mais voce necessita disso. Voltando a Hollywood ( ele escapa da prisão em cena genial e bem sacada ) o diretor fará mais uma comédia.
Preston antecipou aqui seu final de vida. Nascido em família trilionária, ele foi o primeiro roteirista a virar diretor, abrindo o caminho para Wilder e Huston. Foi educado na Europa e era um tipo de excêntrico Professor Pardal. Seu grande prazer era inventar coisas. Aliás ele ia para o estúdio de pula-pula !!!!! Mas se tornou alcóolatra e seus filmes foram perdendo a graça. Terminou pobre. Este filme, vinte anos adiante de seu tempo em estilo e malícia, começa com letreiro homenageando todos os palhaços do mundo. Nós é que somos homenageados por seu prazer. Uma obra prima absoluta, engenhoso, sempre surpreendente, vivo. É fácil notar este filme como fonte da vivacidade dos Coen. Nota DEZ!!!!!!!!!!!
CONTATO de Robert Zemeckis com Jodie Foster, Mathew McCornaghy
Algumas cenas são tão infantis que dá vontade de rir. É ciência para crianças e o filme tem aquela tara por teclados e telas. Exibe nerds como heróis de nosso tempo. Mas os vinte minutos finais são mágicos. As imagens das galáxias, a viagem pelo tempo, o reencontro com o pai. Dói pensar o que este filme poderia ter sido se feito com mais coragem. Nota 5.

WYLER/GROUCHO MARX/AVANT-GARDE/RAY

INFÂMIA de William Wyler com Audrey Hepburn e Shirley MacLaine
Numa escola feminina, aluna acusa as sócias da tal escola, de terem um caso gay. Está feita a tragédia. Filme levado com bela discrição e grandes atuações. Mais um acerto desse venerável Wyler, o mais premiado diretor do cinema americano. Voce se envolve, torce e fica chocado com seu final absolutamente pessimista. nota 7.
ANDREI RUBLEV de Andrei Tarkovski
Não consigo assistir Tarkovski. Percebo sua originalidade, sua nobreza e seu realismo. Mas me irrito com sua lentidão, me perco em seus devaneios, adormeço com sua frieza. Nota 1.
ROBERTO CARLOS EM RITMO DE AVENTURA de Roberto Farias com Roberto Carlos, Reginaldo Farias, José Lewgoy
Há uma cena em que vamos dentro de um helicóptero em vôo rasante pelo Rio de 1967. É de doer : que bela cidade ela foi ! Quase sem favelas, muito verde e um trânsito ainda civilizado. Quanto ao filme : é um Help tupiniquim. Um Roberto, muito jovem e cheio de alegre ingenuidade, vive aventuras moderninhas em ritmo de nouvelle vague. Suas roupas são fascinantes e Reginaldo está hilário como o diretor de cinema doido. A trilha é uma brasa, mora! Tem desde "Eu sou terrível " até "Negro Gato". Roberto era um tipo de bom menino com roupas bacanas. Funciona, o filme é o retrato de um país que não existe mais : jovem e inocente. nota 6.
APARAJITO de Satijajit Ray
Segunda parte da vida de Apu. Ray, com dinheiro de amigos e de imóveis, criou o cinema indiano realista. As 3 partes da vida de Apu dignificam o cinema. Aqui vemos Apu adolescente, indo para a cidade grande e se tornando bom aluno. Mas o foco é sua relação com a mãe : dolorosa. O filme é menos emocionante que "O mundo de Apu", mas ainda assim é fascinante e hipnótico. Ray foi um grande poeta e suas histórias têm o encanto de fábulas. Nota 8.
UTAMARO E SUAS CINCO MULHERES de Kenji Mizoguchi
Dos três gigantes do cinema japonês, Mizoguchi é o mais nipônico. É fascinado por sexo e morte, e tudo em sua obra exibe cuidado plástico e tradição. Porém ele se perde neste confuso e inconvincente drama sobre erotismo, arte e mentira. O roteiro é mal desenvolvido e a ambição está acima da realisação. O mais fraco Mizoguchi. Nota 4.
A AVENTURA de Michelangelo Antonioni com Monica Vitti e Lea Massari
Excelente filme para quem sofre de insônia. Após 30 minutos é impossível não se adormecer. O filme tem o pior dos defeitos : fala do tédio da burguesia. E nos entedia. Nota Zero.
OS 4 PRIMEIROS FILMES DOS IRMÃOS MARX : THE COCOANUTS, OS GÊNIOS DA PELOTA, OS 4 BATUTAS e OS GALHOFEIROS. Diretores : Victor Hermann, Norman Z. McLeod e Robert Florey. Com Groucho, Harpo, Chico e Zeppo. Mais Lilian Roth e Margaret Dumont.
Uma das alegrias da vida é poder assistir os filmes dos irmãos Marx. Não é cinema, como WC Fields não o é. É mais que isso. Assistimos seus filmes como se neles encontrássemos um segredo : são uma religião. Por isso que com eles não há meio termo, ou se ama, ou nada se entende. Não existe o mais ou menos, não existe a meia fé. E minha fé é grouchoharpochicoana. Graças ao vaudeville. Seus filmes não têm história, não têm evolução. Assistimos para comungar com sua felicidade. Pois o mistério dos irmãos é esse, eles exibem uma profunda felicidade. Amar os irmãos Marx não é sinal de inteligência ou de bom gosto. É sinal de saudável espirito brincalhão. São um topo inatingível de descompromisso com tudo, de criatividade anti- correta, de brilho hedonista. Groucho fala o que pensa e o que ninguém entende, Harpo anda pela vida como um cachorro no cio e Chico é o mal-humor feliz. E nós, crentes na Marxilandia do espírito anarquista, sorrimos gratificados com o fato do cinema nos ter dado tal clarividencia. Para o mundo dos Irmãos, a vida é uma bosta e para viver bem é preciso nada se levar a sério. Os quatro primeiros filmes, da fase da liberal Paramount, são meus favoritos por serem os mais toscos. Na Metro eles ficariam um pouco presos. E palmas para Margaret Dumont, a vítima perfeita de Groucho, e atenção para Lilian Roth, símbolo belíssimo e sapeca das estrelinhas dos anos 30. Nota Um milhão quatrocentos e setenta e oito mil e sete.
A ARCA RUSSA de Alexander Sokurov
Crítica abaixo. Dizer mais o que ? Um diamante, uma porcelana de Sévres, um quarteto de Haydn, um conto de Voltaire. O filme brilha e é uma obra-prima dos anos 90. Nota Dez.
ELMER GANTRY de Richard Brooks com Burt Lancaster e Jean Simmons
O filme ataca um dos calcanhares de Aquiles da América : a religião. Deu o Oscar de ator à Burt e ele brilha como um malandro que se torna pastor. Nos irritamos com sua falsidade, mas ao mesmo tempo, nos apaixonamos pelo seu carisma. Burt lhe dá várias facetas, o que faz de seu desempenho exercício fascinante. Mas a direção de Brooks é crispada, séria demais, veemente em excesso, pesada. O prazer em se ver o filme se esvai na direção dura de Brooks. Nota 5.
HANGMAN'S HOUSE de John Ford
Filme pseudo irlandês, da fase muda de Ford. Tem belo trabalho de fotografia e se assiste com belo interesse. Mas está longe das obras-primas do mestre maior. Nota 6.
LES AMANTS de Louis Malle com Jeanne Moreau e Alain Cuny.
E Malle continua sua obra sobre a culpa. A não-culpa, no caso. Uma chatíssima burguesa entediada tem um amante. Diverte-se com ele como quem compra um novo casaco. Mas o marido, esteta chato, convida o amante e a amiga da esposa a passarem um fim de semana na mansão do casal. No caminho a esposa infiel conhece jovem e arruma um novo amante. Nada de culpa e nada de drama. Malle é um grande diretor : mostra o tédio e jamais nos entedia. O filme flui lindamente e tem uma fotografia em p/b brilhante ( de Henri Decae ). Moreau, atriz que não me agrada, está aqui sensual e muito bem. O filme arrisca em seu final : o apaixonar-se dos dois tem todos os hiper clichês de uma nova paixão. Sentimos enjôo. Mas funciona, vemos toda a tolice do se apaixonar por tédio. As cenas são plasticamente belíssimas, mas o que eles dizem é chocantemente tolo. O filme se faz comédia estratosférica. Malle sabia tudo. Nota 7.
PAL JOEY de George Sidney com Frank Sinatra, Kim Novak e Rita Hayworth
O azar de Kim Novak foi seu contrato com a Columbia. Ela era muito mais do que o studio acreditava. De qualquer modo ela esteve em dois anos em Vertigo e em Pic Nic. E neste Pal Joey, onde ela rouba o filme. Linda e vulnerável. Sinatra é um cantorzinho mulherengo fracassado, que tem sua grande chance ao conquistar viúva rica ( Rita muito abatida ). O filme tem na trilha "My funny Valentine", "The lady is a trammp" e "Bewitch", todas de Rogers e Hart. Precisa mais ? São três das maiores canções já escritas. Mas o filme sofre de um roteiro pouco inspirado, bobo. Melhora quando Kim aparece mais e Sinatra se humaniza. Em tempo : no filme Frank conquista toda mulher que deseja. Sua teoria é : trate a mulher sempre como ela não espera. A bonita como se fosse feia, a feia como bonita; a deusa como vagabunda, a vagabunda como deusa; a séria como palhaça e a palhaça com seriedade. Isso é puro Sinatra ! Nota 6.
A PARTIDA de Yojiro Takita
Fuja deste chatíssimo exemplo de filme vazio e sem porque. Deve agradar ao tipo de público bonzinho. Mas é exemplo do vazio absoluto de idéias e de projetos do atual cinema japonês. Chato pacas!!!!! nota zero.
A FRONTEIRA DA ALVORADA de Philippe Garrel com Louis Garrel e Laura Smet
O diretor, séculos atrás, foi namorado de Nico. Este filme recorda isso. Tem os piores tiques moderninhos dos anos 70 levados aos xoxos anos 2000. O filme é uma imensa crise existencial que só pode interessar a quem a vive e nunca a nós que a assistimos. Exemplo de filme masoquista. nota zero.
AVANT-GARDE
Houve um momento na história do cinema em que ele precisou se definir. Ou se assumia literatura, ou se fazia arte plástica. Venceu a literatura, e o cinema que hoje conhecemos tem história. Tem enredo, personagens e narrativa pessoal. Esta coleção de dvds, mostra a vertente derrotada, a turma que via no cinema algo próximo a fotografia e a pintura, imagens, puras imagens em movimento. Se alí fosse percebido algum sentido literário seria por mero acidente. ( Aliás, uma pintura pode contar uma história. Mas não é o principal. O que define a pintura é sua realidade como imagem, como puro visual. E isso lhe justifica, lhe basta. )
O que vemos nestes videos são curtas de artistas que filmaram imagens em movimento. Alguns são completamente aleatórios, outros possuem enredo, mas todos têm o fascínio da imagem solta, livre, sensual. Se os video-clips tivessem alma seriam assim. ( E a gente nota que todo diretor de clips assistiu e estudou estes filmes ! ). Que filmes são estes ?
Man Ray é o que mais me tocou. São quatro curtas desse irriquieto fotógrafo americano, que viveu a boemia francesa como poucos. A ESTRELA DO MAR é uma das maiores obra-primas que já assisti. São cenas de um prazer imenso, de absurda sensualidade, onde toda imagem é uma nova surpresa. Mas os outros três mantém o mesmo nivel : maravilhosamente surreal. Mas há mais. Hans Richter com cenas de força e de ritmo vertiginoso, Charles Cheeler e suas tomadas de Manhattan baseadas em Whitman, BALLET MECANIQUE de Léger, famosíssimo curta que merece a fama que tem, há ainda a obra-prima de Germaine Dullac LE COQUILLE ET LE CLERGYMAN, filme encantador como sonho e como viagem de ópio, BRUMES D'AUTONNE de Dimitri Kirsanoff, com imagens de melancolia obsedante. E esse burlesco CHATEAU DE DÉ de Man Ray, que é um monumento ao nada. Todos são fantásticos, como continentes perdidos, um mundo cinematográfico abandonado, porém é mundo vivo, moderno, instigante e transgressor. Conhecer estes filmes é ver aquilo que esta arte poderia ter sido, aquilo que em seu inconsciente ela quer ser : livre. Impossível dar nota a tal monumento. Assita e se surpreenda.

MIZOGUCHI/BOETICHER/OS ELEITOS/WILDER

A MONTANHA DOS SETE ABUTRES de Billy Wilder com Kirk Douglas
Escrevi mais longamente abaixo. O inferno da midia já existia em 1952. Um jornalista antológico feito por um Kirk muito inspirado e uma pobre vítima num big-brother do inferno. Filme fiasco em seu tempo, hoje é considerado obra-prima. Nem tanto. nota 7.
JUVENTUDE TRANSVIADA de Nicholas Ray com James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo.
O que é ser adolescente ? Bem... nada mudou. Ser isolado/ não compreendido/ querer algo sem nome/ amar sem saber amar. Dean foi um criador- este filme é seu testamento. Todo ator jovem de hoje o imita ( inclusive e principalmente na vida pessoal ). Todos falam seu evangelho. O filme é muito fraco quando Dean não está em cena. Com ele, somos hipnotizados. nota 6 para o filme.
CONTOS DA LUA VAGA de Kenji Mizoguchi
Ele foi antes da segunda guerra o mais querido diretor do Japão. Após a guerra foi chamado de velho e jogado ao canto. Este filme, dos anos 50, é sua volta por cima. Um filme politico e feminista, que é também um poema sobre fantasmas e amor. Algumas das cenas têm uma beleza plástica inesquecível. Mizoguchi nunca corta se puder não cortar. Um mestre. nota 9.
OS ELEITOS de Philip Kauffman com Sam Sheppard, Dennis Quaid, Ed Harris, Fred Ward, Barbara Herschey, Jeff Goldblum.
O melhor filme americanos dos anos 80 e um dos melhores dos últimos quarenta anos. John Ford habita esta épica aventura sobre heroísmo, fracasso, fama e amizade. Chuck Yeager, aviador real, torna-se mito, mito daquilo que a América gostaria de ser e não pode ser mais ( jamais ). Para se ver, rever, trever e decorar. nota DEZ!!!!!!!!
AVANTI ! de Billy Wilder com Jack Lemmon e Juliet Mills
Um milionário americano, apressado e ranzinza, vai a Itália recolher o corpo do pai para enterrá-lo em seu país. Conhece a filha inglesa da amante de seu pai e se apaixona por ela e pela Itália. O contraste entre Itália e América nada tem de novo. Mas Wilder, em mais um de seus fracassos, conduz esta comédia com muita leveza e finesse. Um prazer ver Lemmon trabalhar e uma diversão fofa e que jamais nos trata como idiotas. nota 6.
EXTASE de Gustav Machaty com Hedy Lamarr
Nos anos 30, na Austria, Hedy foi lançada como atriz sexy neste filme. Uma das piores coisas que já assisti. Hiper pretensioso, rígido, muito mal interpretado, ridiculo. nota ZERO!
SETE HOMENS SEM DESTINO de Budd Boeticher com Randolph Scott, Lee Marvin e Gail Russel
Lee Marvin faz história neste western. Com longo lenço verde, ele traz à tela um vilão inteligente, simpático, glamuroso. Rouba o filme e cada cena com ele é uma festa. Este filme, considerado pelos críticos-cineastas da Nouvelle-Vague, uma obra-prima, é de uma simplicidade absoluta. A história, com poucos personagens e maravilhosos cenários, se desenvolve exata, sem atropelos, sem lentidão, econòmica. Budd, aventureiro-diretor-toureiro, dirigiu dúzias de bons filmes baratos. Este é o melhor. Nota 9.
MULHERES DA NOITE de Kenji Mizoguchi
Em sua época de má fama, Mizoguchi dirigiu este filme, muito triste, sobre prostitutas no Japão devastado pela guerra. Apaixonado pelos filmes italianos do neo-realismo, Mizoguchi faz a versão nipônica de Rosselini. Os escombros do que restou de Osaka e Tokyo são fascinantes : o Japão como uma imensa favela, dominada por ladrões, putas e contrabando de drogas. O filme é muito bom, mas sua força embrulha o estômago. nota 7.
UNDERDOG de Frederick de Chau
Cumpre o que promete. E é assim nosso cinema atual : como um produto numa gôndola, ele tem um rótulo onde se diz : drama-romantico/ quadrinhos/ arte/ aventura. Se a lata matar o apetite por cinema ( matará esse apetite por duas horas ), sua função estará cumprida. Colou. Este cola. O herói é simpático, tem uma adolescentizinha bonitinha, uma liçãozinha de moral. Valeu. nota 5.

3 grandes ( e muito influentes para os dias atuais ) filmes.

A MONTANHA DOS SETE ABUTRES.
Filme de Billy Wilder com Kirk Douglas. Este era o filme favorito de Wilder. Talvez por ter sido seu mais odiado filme e imenso fracasso. A partir dos anos 80 começou a ser reavaliado, se tornando um de seus mais importantes filmes. Mas porque foi tão incompreendido e hoje é tão atual ? Vamos a sua história : Douglas é um repórter fracassado que trabalhando num jornaleco de uma cidadezinha do Novo Mexico vê a chance de dar a volta por cima. Um homem está soterrado numa mina indígena. Prolongando a agonia do resgate ele poderá monopolizar jornais, rádio e tv, pois o que vende é desgraça, e se ele fizer dessa desgraça uma novela a audiência será gigantesca. Douglas passa a atrapalhar o resgate, iludir a vitima, corromper os politicos. No final, tudo dá errado, mas não há catarse no filme. Todos e tudo continuam tão podres como sempre. Wilder prova que todo comediante é um grande pessimista. Este filme, que nada tem de engraçado, desnuda o verdadeiro Billy, o artista que viu o nazismo de perto, o fim do império aus´tríaco, a degeneração da civilização européia. Nada dá alivio na tensão deste filme : o repórter é um verdadeiro filho-da-puta ( não há melhor definição ). Sua alegria com a súbita fama é revoltante. O xerife da cidade é um ladrão e o empreiteiro, um pau-mandado. A esposa do acidentado é uma vagabunda e a população da cidade aproveita a´notoriedade do lugar para faturar. Um circo grotesco se forma ao redor da tragédia. O final, em que sempre esperamos algo de xaroposo ou consolador, é duro, amargo e forte. Nada alivia. Kirk Douglas faz a perfeição o reporter. Ele nasceu para esse tipo de egoista cinico. Um forte retrato do mundo do espetáculo, onde o maior espetáculo é aquele que conjuga dor/morte/absurdo. ( Vide acidente da Air France ).
JUVENTUDE TRANSVIADA
Filme de Nicholas Ray com James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo e Dennis Hopper.
Cenas em delegacia. Três jovens são entrevistados pelo serviço social. Natalie é uma filha que ama demais o pai e não é aceita por ele. Mineo é um garoto rico porém sem contato com os pais, e Dean é um desajustado que vive mudando de cidade. Seu pai é um fraco maricas, dominado pela esposa. Dean estréia na escola, é amado pelo personagem de Mineo e cria inimizade com a gang da escola. Vem a muito famosa cena do racha e o final, belo e dramático, em mansão abandonada. O filme inaugura o tipo de drama adolescente que seria chavão por cinco décadas seguintes. E ainda vemos nele traços daquele filme independente americano dos anos 90 e 2000. Mas porque ele é ainda tão atual, tão válido ? Vamos a apreciação: primeiro o fantástico Sal Mineo. Na época ele era namorado do diretor Ray e a bandeira que ele dá é flagrante. Seu personagem se apaixona por Dean e passa todo o filme sofrendo por esse amor gay irrealizado. Como isso passou na ferrenha censura de 1955 é um mistério! Seu rosto de baby, seus modos de efebo, tudo nos deixa surpresos e faz parte da imensa riqueza do filme. Filme, longe de ser perfeito, que afunda nas cenas dos "adultos" e que tem a minha muito querida Natalie Wood canastrona e mal definida. Ela compromete, e compromete muito. E tem, acima de tudo, James Dean.
Existe uma teoria que diz que Marlon Brando só foi Marlon Brando duas vezes : no Chefão e Último Tango, feitos no mesmo ano, para provar que ainda era o maior; e entre 50/56 com o objetivo de suplantar primeiro o gênio Montgomery Clift, e depois para esmagar o absurdamente carismático James Dean. E o que faz aqui James Dean ? Ele faz miséria! Cada cena com ele, cada pequeno gesto de mãos, toda expressão facial, a maneira de pular palavras, engolir as sílabas, balbuciar pensamentos, tudo nele nos deixa abismados, aturdidos, estupefatos. Ele sobra no filme, sobra naquela época. Todos lá parecem ser gente de 1955, mas Dean, como Brando na época, parece ser atemporal. Ele é de 55, mas é também um jovem louco de 67, um rebelde de 77, um bacana de 87, um esportista irriquieto de 97, um astro teen de 2007. Creia, sua influência é tamanha que não há ator desde então que não o tenha estudado, imitado, encorpado. Nicholson, Pacino, Cage, Depp, e todos os outros. Eles falam como Dean ( aquela voz grave e baixa, frases ditas devagar, pensamentos emitidos pelo meio, não sorrir, mas não ser sério, um ar de sofrimento superado, um charme de bad boy sensível ). Mas o mais fantástico é que eles não imitam James Dean apenas na técnica de atuar. Johnny Depp fazendo o pirata não é Dean, mas Johnny Depp numa entrevista é James Dean! A voz é a mesma, o olhar é o mesmo, o tédio identico, as roupas são as que JD usaria. ( JD e JD...). É como se todo ator americano desde então sonhasse em ser genial como Brando, mas fosse na vida pessoal um clone de James Dean. Assista este filme e deixe seu queixo cair. No mais, um comentário sobre Nick Ray : ele se tornou ídolo de Goddard e depois de Wim Wenders. Dá pra entender o porque. Este filme tem movimentos de câmera e angulações que antecipam o cinema dos dois e até mesmo o video-clip. Ray, bissexual, rebelde, esquisitão, fez aqui seu filme mais niilista. Por fim, uma tragédia: Dean morreria no ano seguinte numa Porsche Spyder. Aos 24, com apenas 3 filmes. Natalie morreria afogada aos 40, após uma vida de álcool e droga. E Sal Mineo se mataria aos 30. O que foi este filme ? Uma radiografia do que viria a seguir, para eles mesmos e para a América.
CONTOS DA LUA VAGA
Filme de Kenji Mizoguchi. Se o filme de Wilder mostra o espetáculo desagradável do mundo atual e se o filme do mito James Dean mostra o espirito desconfortado em que existimos, esta obra de Mizoguchi mostra o conflito entre dinheiro e alma e a guerra entre mulher e homem. No Japão do século XVI, assolado por cruel guerra civil, acompanhamos dois homens; um artesão ambicioso e um outro que sonha ser um samurai. Vemos então o que acontece. Massacres, ingratidões, muita crueldade ( a morte da esposa chega a ser insuportável ), estupros e assombrações. O filme começa como um libelo socialista contra o dinheiro e termina como poesia metafisica à favor das mulheres. Mizoguchi, o mais japonês dos cineastas, filma cenas de rara beleza. A travessia do lago, a princesa-fantasma seduzindo o artesão, e o final: a sequencia do retorno ao lar, momento de triste e absurda beleza poucas vezes vista igual. Um maravilhoso e inesquecível filme-poema, comentário sobre tudo aquilo que importa na vida. O diretor, ele mesmo dono de biografia dramática ( a irmã foi vendida como gueixa para salvar a familia da fome ), filma tudo com deliberada precisão. Poucos cortes, poucas fusões e uma câmera sempre leve, flutuando, observando. Este amado filme ( dos mais amados da história do cinema ) fica como documento de uma sensibilidade muito refinada, inteligente e de profundo amor às mulheres. São elas as guardiãs da sabedoria. Os homens, tolos, precipitados, erram todo o tempo, elas remendam nossos farrapos. Mizoguchi crê nessa idéia, demonstra-a com perfeita beleza e faz uma obra inesquecível.