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EXISTEM CANÇÕES QUE MUDAM O MUNDO. POUCAS FAZEM ISSO. ESTA FEZ.

Existem canções, poucas, raras, que podem mudar a vida de uma pessoa. Basta as escutar na idade e no momento certo. Elas nos fazem mudar nosso gosto musical, nossa maneira de ver o futuro, nosso comportamento. ARE FRIENDS ELECTRIC? do Tubeway Army, banda de Gary Numan, mudou toda a música inglesa em 1979. E aqui no Brasil, os poucos que a escutaram, enlouqueceram. Passamos a ter mania por robots, computadores, emoções sob controle, distanciamento. Era o romantismo dos anos 80 que se anunciava. Mais que Kraftwerk ou Bowie, Gary Numan anunciava que o futuro da canção era tecnológico. Seus shows, uma orgia de luzes cegantes e de presença robótica mudaram toda uma geração. -------------- Ele levou às massas aquilo que outras bandas e artistas solo não puderam levar. Sua obra antecipa o planeta sob controle e vigilância. Mas, como é seu som? -------------- É POP, mas não aquele POP eletro enjoativo que se faria moda com os Pet Shop Boys após 1985. Ao contrário dos músicos que usam synths para pareceram instrumentos "normais", Gary Numan sempre usou sintetizadores que soavam como sintetizadores. E é isso que eu amo. ---------------- Quando ouço música eletrônica eu quero que ela seja profundamente robótica, gelada, sem emoção, sem alma, desértica. E é isso que temos aqui. Nada lembra a emoção do blues ou do soul, nada parece rock como entendido em 1979. Por isso Gary Numan jamais penetrou nas paradas dos EUA. Lá ele foi considerado uma coisa sem sentido, fake. Já na Grâ Bretanha ele foi superstar. Número um em vendas entre 1979-1981. Sua nova atitude conquistou um povo que não tinha raízes soul e blues. ---------------------- Continuo amando. Ouço agora. Me amociona ( contradição não? Sua frieza é profundamente emocionante ). A bateria, real, tem ritmos simples, marciais, e a massa de teclados parece exalar gelo. A voz de Gary Numan é maldosa, mecânica, alienígena. Ele se colocava como um ET. Bowie em modo glacial. As promessas de LOW levadas ao fim. Para um moleque de 16 anos isto soou como um mantra. Quase uma ligação religiosa. Sim, se voce tem menos de 50 anos, tendo crescido em meio a tantos nomes eletro, isto pode parecer apenas curioso. Mas entenda, Gary Numan é de uma radicalidade chique abissal. Não a toa ele se viu logo num beco sem saída. E virou um aviador. Largou a música. ------------------------ A questão é: seus amigos são elétricos? Sim, são. Estão numa tela 24 horas por dia. E falam comigo por sinais matemáticos codificados. Não me importa se aquilo que vejo é real. É eletricidade. E meus olhos são hoje leitores de luz. ----------------- Existem canções que mudam o mundo e entram nele como se fossem uma invasão marciana. Ouça o modo como essa canção começa. NÃO É MÚSICA. É UM EXÉRCITO ALIEN ATERRISANDO. No primeiro acorde do teclado, um tiro de laser, uma luz feito onda sonora, voce se entrega. Genial. ------------- PS: Gary deu o passo que nós queríamos que Bowie e Ferry dessem. Em 1980 achávamos que Bowie e o Roxy Music partiriam para esse som, cada vez mais eletro e frio. Mas não. Então Gary Numan, assim como tantos outros, deu o passo.

MÚSICA ELETRÔNICA

Existem 3 tipos de o música eletrônica: aquela que assume sua artificialidade e faz um tipo de arte de robots ( Kraftwerk e afins ), a que faz o digital soar como intrumentos convencionais ( Pet Shop Boys e uma multidão sem fim ), e os que procuram unir os dois mundos, são gelados e artificiais, mas sem deixar de demonstrar emoção. No começo dos anos 80 o estilo Kraftwerk dava as cartas. Yazoo, o começo do Human League, Gary Numan, Soft Cell, todos tinham a frieza, a emoção contida, o distanciamento dos alemães. E a elegância sublime também. A partir de 1985 isso mudou. O techno se tornou muito POP. Pet Shop Boys e vasto etc desenvolveram um tipo de canção que unia o grude de Abba com a instrumentação do eletrônico. Esse estilo domina o POP até hoje. 90% do que se ouve em 2022 é POP eletrônico. Refrões comuns com fundo de baterias digitais. ------------- Nos anos 90 se desenvolveu um tipo de eletro que me fascinou muito. Ele tinha o melhor dos dois mundos, a frieza e a sonoridade do eletrônico mais robótico com a emoção do punk ou do rock visceral. Na receita entrava até psicodelia, progressivo, metal, blues, jazz, tudo que fosse bom. Essa foi parte grande de minha trilha sonora entre 1994-2002. Reescuto hoje alguns desses sons e o que sinto? Imensa decepção. Parece chato. Parece datado. Parece sem valor. Pior, não tem a emoção da saudade. Dá sono. --------------- Que discos foram esses? ------------- Moby. Sua delicadeza hoje parece apenas melancolia de nerd mal amado. É infantil. Sons que remetem a berçário. Três discos do Massive Attack: Blue Lines, Protection e Mezzanine. Não são nada ruins, claro. Bons discos. Mas não encontro mais o chique que parecia abundante. Têm hoje a cara de quarentões posando em festas entediantes. Tricky e seu disco Maxinquaye, disco que em 1995 alguns chamaram de "melhor disco da história" ( a crítica inglesa é sempre uma piada ). Pop normal, nada ousado. Okay, todo disco que um dia foi vanguarda depois de um tempo parece normal. Será? os discos arrojados de Miles Davis parecem hoje normais? .... Tricky é black music bem feita, bem gravada, com sons interessantes. Mas em 2022 parece igual a tudo que toca no rádio. Appollo Four Forty tem stop the rock que é legal porque usa riff do Status Quo. De resto serve pra fazer ginástica. Moloko, aquele cd que tem fun for me. Esse é bem ruim. Pretensioso. Metido à bacana. Um saco! Daft Punk com Homework. Este cd é bom. O fundo com sons de baixo à discoteque salva o disco. Boa trilha para tomar café e andar na rua. Na verdade, e Eno sempre soube, música eletrônica não é para ouvir, é para fazer algo. Stereo MCs com connected. Bem bom. O vocal é muito bom. Perto dos outros ele parece mais viril, mais malandro. Adamski, aquele cd que tem Seal cantando killer. Deus! É muito ruim! Ouço ainda dois Fatboy Slim, os dois que mais venderam. Como parecem hoje? Divertidos. E ao mesmo tempo, como todos os outros, têm momentos de chatice braba. Chemical Brothers com exit planet e dig your own hole...em 1997 pareciam tão modernos, tão surpreendentes. Hoje são apenas uma vaga lembrança de um doce que voce engoliu e esqueceu. Não é entediante não, é apenas inútil. Estranho eu usar essa palavra, mas parece inútil. É como um carro que não anda mais. E por fim Prodigy, os melhores da época. E ainda os melhores em 2022. Porque parecem punk e não eletro. A sonoridade "moderna" não diz mais nada, mas os vocais e a atitude ainda são impressionantes. Junto à Stereo MCs, são os únicos que parecem ter tripas guts, e por isso respiram, chutam e pulam, ainda. ---------------------- Ouvi Autobahn do Kraftwerk também. Beach Boys misturado à rock alemão. É outro mundo, é o mundo onde apenas o Kraftwerk existe. Incomparável.

O QUE ANDEI OUVINDO...

Faz tempo que não revelo o que tenho escutado. Nestes últimos dias foi isso: MEDESKI, MARTIN E WOOD. Uma coletânea. Medeski é um chato. Não gosto do teclado dele. Martin é um baixista maravilhoso. O som é tipo jazz de trilha sonora de filme cool. É ok. TOUR DE FRANCE-KRAFTWERK. Alguém escreveu que os alemães perderam a graça quando passaram a usar instrumentos digitais. Exatamente isso! A genialidade do Kraftwerk era o timbre. Só eles soavam daquele modo. Quando em 1986 passaram ao digital sua sonoridade se vulgarizou. Ao vivo a coisa é ainda pior. Autobahn parece fundo de Pet Shop Boys. É o mesmo som. Já em 1975, Autobahn, mesmo escutado hoje, parece único. Este disco, de 1993, é uma decepção. PUFF DADDY- NO WAY OUT. Foi o disco mais premiado em 1997. Tem Notorious BIG, Jay Z...Sei lá...é legalzinho. BEE GEES. Uma coletânea frustrante. Os Bee Gees são uma banda frustrante. Seus discos, todos, têm sempre uma grande faixa, genial, e várias chatíssimas. Esta coletânea é inglesa, e na Inglaterra How Can You Mend a Broken Heart não fez sucesso. Então não tem essa grande canção. E nem Mr Natural, minha favorita, que só vendeu bem no Brasil. Mas há Words. Há To Love Somebody. VAN HALEN- FAIR WARNING. Reouvi tudo deles gravado de 78 até 84. A fase Lee Roth. Este é o melhor disco deles. Caramba! É bom ouvir os caras tocando tão bem! Eddie ainda não sola demais neste disco de 1980. Adoro a bateria de Alex! DEPECHE MODE 1981-1986. Os hits da primeira fase. A fase mais techno pop puro. Gostoso de ouvir. MY BLOODY VALENTINE-LOVELESS. Não parece mais ser tão irado. Mas ainda é bonito de dar gosto. ADAMSKI-PHARMACY...é aquele disco que tem o Seal cantando crazy. E o clip do cachorrinho que rolava muito na MTV. É dance eletro de 1991, grande ano do POP. ZZ TOP-3 HOMBRES. Na boa,acho chato de doer. JEFF BECK- THE GUITAR SHOP. Ouvi uns 4 discos de Jeff Beck. É meu guitar player favorito. Jeff teve o azar de não saber compor e nem cantar. Então sua carreira não tem o apelo POP que Clapton ou Page têm. Inquieto, ele toca jazz, toca eletrônico e toca até rockabilly. Adoro! FRANK ZAPPA- ZOOT ALLURES. Só consigo ouvir o Zappa de 1975-1979. É o mais POP. Foi quando ele vendia bem. Este disco tenho desde 1977! Divertido e sem o excesso de bla bla bla que em outros discos estragam tudo. BECK- ODELAY. Um dos grandes discos dos anos 90. Um festival de ideias e de ousadias. Excitante. Devil Haircut é uma das melhores coisas da história. JANE'S ADDICTION- NOTHINGS SHOCKING. Este é um dos best dos anos 80. Tem de tudo: hard rock, psycho, balada, jazz...não envelheceu um só dia. GET SHORTY TRILHA SONORA DE JOHN ZORN. cool. RUSH- HEMISPHERES. A menos cool das bandas se tornou agora chique de ouvir. E eu joguei meu preconceito no lixo. Eles são caras legais. Ouvi tudo deles gravado de 1975 à 1982. Gostei. Eles trabalham duro. Tocam bem. E são simpáticos. METTALLICA- KILL EM ALL. Por falar em perder preconceito...virei um cinquentão que ouve Mettalicca.

Kraftwerk - Nummern/Computerwelt Live 1981



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AS DUAS BANDAS MAIS INFLUENTES DA HISTÓRIA

Bing Crosby foi o cantor mais influente do século XX. Foi o primeiro a entender o microfone. Cantores não haviam percebido que com o microfone não era mais necessário soltar o vozeirão. Voce podia cantar como se estivesse ao ouvido do ouvinte. Sem Bing e sua voz suava, não haveria Sinatra, nem Fred Astaire, não existiria João Gilberto e nem Roberto Carlos. Claro que mesmo após Bing continuaram a existir as vozes operísticas. Nelson Gonçalves, Tom Jones e Freddie Mercury são tipos pré microfone. No Rock leio que existiram duas bandas influentes. A primeira são os Beatles. Já disse e repito, mesmo se voce os despreza, mesmo se voce acha que Slayer ou MC5 são melhores, foram os Beatles que criaram coisas tão básicas que hoje parecem ter existido desde sempre: o próprio conceito de banda nasce com eles. Antes o que havia era um cantor e sua banda ( Elvis, Buddy Holly, Chuck Berry ). No máximo existiam grupos vocais ( The Platters, Beach Boys ) ou grupos instrumentais ( Shadows ). Os Beatles criam a ideia de banda como célula que compôe, canta, se acompanha e até mesmo produz. Eles inventam aquilo que no rock é dominante até hoje: a auto suficiência construída em três ou quatro pessoas. Secundariamente, é deles também a ideia da dupla de compositores que canta suas próprias composições, dos albuns que contam uma hsitória e até da venda de produtos licensiados. O Black Sabbath ou o Pink Floyd podem ter criado novos estilos, mas continuam sendo bandas em moldes Beatle. Revistas e sites têm cada vez mais lançado a ideia de que a segunda mais influente banda é o Kraftwerk. Dizem até que Computer World ou Trans Europe Express serão em votações futuras aquilo que Sgt Peppers e Revolver são hoje. Eu pergunto por que, e eu mesmo respondo. O Kraftwerk destroi o que os Beatles foram sem para isso voltar aos tempos de Elvis ou Johnny Cash. Primeiro: rock sempre foi e ainda é a mais emocional das expressões. Cantores gritam, choram, ofendem, gemem. Os alemães não. Nem cantar eles cantam. Segundo: Rock são instrumentos tocados com fúria, ou então com lirismo de menestrel. Os alemães não. Terceiro: uma banda tem bateria, baixo e guitarra, seja elétrica ou acústica. Na falta da guitarra, piano tocado como percussão. Kraftwerk não tem instrumento convencional nenhum. Quarto: Rock é sincero. Kraftwerk é ironia. Se os ingleses fizeram nascer toda banda, de Led à Stones, de Nirvana à Radiohead, todas usam o molde formado por cantor sincero, compositores da banda e a mistura que usa como base bateria, baixo e guitarra ( ou teclado ); o Kraftwerk nem parece ser uma banda. Lembro que nos anos 70 eram chamados de "fake". Pois não tocavam nada, apenas apertavam botões. Sem eles não haveria nada de eletrônico. Do Depeche Mode à Marilyn Mason, todos usaram as ideias que em Dusseldorf foram pensadas em 1975. Mais importante ainda, o RAP e o House foram nos anos 80, segundo os próprios caras desses estilos, inspirados por Computer World, o disco de 1981 do Kraftwerk. Até 81 fazer rap era fazer aquilo que Kurtis Blow fazia: usar bases do grupo Chic e mandar a voz por cima. Rap tinha muito piano, guitarra riscada e baixo de verdade. Após Computer World, as bases passaram a ser as de Metal on Metal, a percussão do disco alemão. Não estou exagerando. Os caras do Run DMC sempre falaram que suas vidas mudaram quando foram ver os caras em New York, 1981. Quase 40 anos!!!!! E continuamos fazendo discos que variam entre a banda-Beatles ou a produção eletrônica computadorizada-Kraftwerk. Na verdade, como notou Bowie em 1976, os melhores misturam as duas coisas. No Rock n Roll Hall of Fame, aquele clube que tem até Pat Benatar mas não tem o Jethro Tull, Kraftwerk não faz parte. Isso apenas revela que o estilo criado por eles ainda não foi absorvido. Em 2020 o Depeche Mode entrou para o clube. Os alemães não. Ontem reouvi Computer World. Ainda é inspirador. Pensei em Daft Punk. Pensei em Lady Gaga. Pensei em Rammstein.

KRAFTWERK

   Even the greatest stars...esse refrão era usado em um comercial de calçados em 1984. E todos nós ficávamos malucos com o sopro de modernidade que lá havia. Na era do synth pop, esse anúncio avisava que os alemães de Dusseldorf eram os reis.
   Não me lembro a primeira vez que os ouvi. Deve ter sido ainda nos anos 70. E com certeza não gostei. Eu preferia Giorgio Moroder, muito mais fácil. O Kraftwerk parecia monótono. Mas mesmo assim eu já sabia, aos 14 anos de idade, que aquele som era radicalmente diferente de tudo o que havia para se ouvir. Mesmo uma banda moderna como o Velvet Underground ou o King Crimson usavam o esquema bateria, guitarra e teclado. Os timbres podiam variar, o volume, a duração das músicas, o nível de ruído, mas era rock. Sendo MC5 ou Pink Floyd, tudo era rock. Rock com folk, rock com Stravinski ou rock com jazz, mas sempre rock. O Kraftwerk não. Neles não havia sinal nenhum de blues. Nem de country. Nem de folk ou jazz. Não era rock. Não era Pop. Não era nada.
   Florian Schneider dizia que o som da banda era "música pop da Europa". Rock alemão. Um tipo de som que nada tivesse de americano. E que fosse moderno. Uma alternativa ao velho rock de sempre. Fazendo isso o Kraftwerk conseguiu exatamente o que queria. Até hoje todos sabem que música eletrônica não é rock. Mas é jovem. É rebelde. É Pop. É mais o que?
   Dentro desse mundo, o das rádios jovens, revistas Pop, shows em festivais, rock enfim, o Kraftwerk é a coisa mais revolucionária que houve e que há. Nada de guitarra. Nada de bateria. Nada de técnica exibicionista. Mais ainda: sem emoção. Sem suor. A radicalidade levada até o fim. A negação do rock dentro do rock.
  Lembro do que senti quando ouvi Sex Pistols e Clash pela primeira vez. Me decepcionei. Aquilo que era vendido como novo era apenas rock. 1977. E nesse ano a novidade era a eletrônica. Somente ela. Mais chocante ainda que ouvir, era ver o Kraftwerk. Cabelos curtos. Ternos. E aqueles instrumentos que pareciam ser computadores. Cadê o sexo drogas e rocknroll?
  Entre 1974-1988 eles foram a ponta da coisa. Mitos. Kling Klang studios. De Brian Eno e Bowie à Radiohead e Massive Attack, todos que usaram sons sintetizados, loops e o tal clima frio e glacial, são devedores de Florian e sua gang. Rap e disco, Prince e Beck, há em todos um gene alemão made in Dusseldorf.
  Florian, o ciclista, morreu. Leia a biografia da banda, fácil de achar, livro bonito. É a melhor bio de música jovem que li. E olha que li muitas! Porque a banda alemã se conectava á história do século, à arte da época, aos planos de futuro, à tecnologia de agora. Florian morreu mas não a banda. Pois ele já dizia que o Kraftwerk independia deles, humanos. O grupo continuaria para sempre, uma fábrica, um aglomerado de robots, um show de som e imagem e não de gente e instrumentos.
  Então ele não morreu. Ele nem mesmo pode morrer. O Kling Klang está lá.

MASSIVE ATTACK MEZZANINE, E CERTOS CLIMAS ANGÉLICOS

   Prove ouvir Mezzanine vendo na tela de sua TV o filme de Victor Sjostrom, A Carruagem Fantasma. O filme é silencioso, de 1920, sim, cem anos. Observe como voce terá a impressão de que o som dos Massive Attack foi escrito e pensado pra esse filme. Isso porque é a mesma sensibilidade que orquestra as duas obras:
  O inefável, pequenos ruídos que nascem e desaparecem, sombras que escondem algo que não pode ser visto. Não será. O disco, de fins do século XX, dialoga com o filme, do começo do mesmo século.
  Foi o século que cumpriu obediente tudo o que o século XIX queria: o espírito e suas coisas foram tiradas da luz e conduzidos à sombra. Lá ficaram, produzindo ecos e sombras.
  Todo o album bebe em Low, o famoso lado B de Bowie. Mas também é Kraftwerk. Trans Europe Express. E se mira em NEU! e mais algumas luzes obscuras e que pirilampam por aí. Foi um ápice soturno e que, para surpresa de todos, deu em nada. No século XXI, tempo histérico e que abomina o vazio e o silêncio, o Massive Attack não tem vez. Este século é iluminado, colorido, estridente, veloz, e absolutamente tolo. O som de Mezzanine flerta com o silêncio, o vazio e o vácuo. Tudo o que um cara de 2020 mais teme.
  Há uma profunda elegância neste album. O menos que é mais e um mais que sempre parece menos. Cada toque de percussão faz nossa cabeça tremer, mas essa cadência é incompleta. Cada uma de suas canções é vazia de conclusão. É um som que fica suspenso em suspense. Não é gótico, pois o gótico pesa como pedra, é antes uma sombra, ou a luz na tela de um filme silencioso. Leve como a alma de um inseto.
  Inertia Creeps sintetiza o disco.
  

A MAIS IDEALISTA DAS BANDAS.

   Não há consenso sobre onde o movimento romântico começou. Uns dizem ter sido nas ilhas, mais especificamente na Escócia, outros, a maioria, diz ter sido na Alemanha. Depois se espalhou pelo mundo. A característica principal do romântico é o sentimento de solidão. Mas podemos também falar do egocentrismo, da sensação de perda, da busca por transcendência, da valorização das coisas jovens, puras, naturais. Não lembro quem disse a bela tese de que o corpo ansia por criar alma.
   O Kraftwerk é o mais romântico dos grupos musicais de seu tempo e nisso nada há de irônico no que falo. A máquina encontra alma nas mãos desses alemães que desejavam, e conseguiram, criar um tipo de música POP que fosse 100% europeia. Da Alemanha seu som aportou na Inglaterra e de lá para a França e Bélgica. Hoje, escutando dois de seus discos, os dois melhores, percebo que a música eletrônica é a mais romântica dentro do Pop ou do Rock. O lado B do vinil de Autobahn é das coisas mais poéticas já gravadas. Assim como o lado B do Low de Bowie ( que é filho direto deste ), os discos de Ultravox, Eno, Radiohead, Yazoo, Cocteau Twins, e tantos outros, têm esse clima de "altas montanhas isoladas", de solidão alpina, de doença que isola, de ansiedade por transcender. Na América o rock sensível usa violão e é não-romântico, antes é comunitário, idealista. A América é sempre Whitman.
  Mas não a Europa. E os alemães de Dusseldorf criaram um universo de novos timbres e de uma nova sonoridade. O lado B de Autobahn e no Radioactivity inteiro são um enorme poema sobre o romantismo. No sintetizador eles encontram o melhor instrumento para criar paisagens imaginárias, sempre geladas e sempre solitárias. O homem contra o mundo acompanhado por um instrumento e mais nada, um instrumento excessivamente artificial e ao mesmo tempo tão tênue como a eletricidade.
  A beleza é sempre perfeição e o lado B de Autobahn é perfeito. Não existe erro na gravação do Kling Klang estúdio. Um iceberg onírico. Paisagem de sentimentos negados. A Alemanha é um ideal incômodo. É o Kraftwerk é seu símbolo.

Kraftwerk - Autobahn 1975 Tomorrows World TV Programme



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KRAFTWERK PUBLIKATION, A BIOGRAFIA, uma história sociocultural da música eletrônica feita para as massas. - DAVID BUCKLEY

   Primeira coisa: Causa espanto para um brasileiro ver o modo como os ingleses vêm os alemães. Pontuais, metódicos, frios, bem educados, corretos.
  Segunda coisa: Que eu nunca havia percebido: a assumida habilidade inglesa em vender. O modo como eles pegaram a música dos negros americanos e a empacotaram pra venda. O mesmo aconteceu com o eletrônico. Os ingleses, a partir de 1978, pegam o Kraftwerk e o tornam vendável. Ou melhor, pegam o som dos alemães e com vocais convencionais o tornam inglês. Surge o synth pop, o techno pop. O som da Londres de 1978-1984.
  Este é o melhor livro sobre rock que já li. Porque não é um livro de rock. É sobre o mundo de hoje. Fala sobre sociologia, moda, ciência, dinheiro, comportamento, casas noturnas e o futuro possível. Começa na segunda-guerra, fala do preconceito contra os alemães, sobre a música eletrônica erudita dos anos 40-50, sobre hippies, sobre a Europa e sua música pop, sobre a cena alternativa de Dusseldorf nos anos 70, sobre Bowie, sobre Iggy, cinema, baladas noturnas, hip hop, acid house, industrial, jungle, a imprensa musical, visual de capas de disco, a Factory, Andy Warhol, ciclismo...São 260 páginas de bela diagramação e de muita, muita informação.
  Florian e Ralf são o Kraftwerk. Formaram a banda em 1970. Nasceram em famílias ricas, muito ricas. E tiveram a grande sacada: a Alemanha não tem blues, country, soul, nada. O equivalente alemão à isso é a arte dos anos 20. O cinema de Murnau e de Lang. O expressionismo. A escola da Bauhaus. Brecht. Stefan George. E a música de Stockhausen, Pierre Schaffer. Então, primeiro ainda com bateria e flauta, e depois só com synths, eles criaram a maior revolução da história do pop. Música pop que nada tinha em comum com o rock, o blues, o soul. Sem introdução, sem refrão, sem solo, sem emoção, sem "amor", sem solos, sem suor e em princípio, sem empatia. A coragem foi imensa e os ataques impiedosos. Karl e Wolfgang vieram com a percussão. Todos com formação clássica.
  Ainda hoje há quem chame música synth de "não música". Imagine então em 1972! Os alemães eram odiados ou recebidos com risos. Sua música era coisa de crianças. Uma piadinha. Estariam esquecidos em dois anos. Isso não aconteceu, claro, e em 1974 Autobahn começou a construir seu público. ( Autobahn é seu quarto disco ). Algumas pessoas, muito à frente de seu tempo, perceberam a beleza daquela austeridade, o encanto da simplicidade. Mas não, não vou ficar aqui descrevendo a saga. É uma saga. Saga sem drogas, sem dramas, sem historinhas bobas. Eles evitaram a imprensa, evitaram as fotos, jamais desejaram virar "estrela". Até nisso eram contra o rock normal. Foram mais radicais que o punk. Porque o punk ainda é rock.
   Na extrema lógica do grupo, o robot pode os substituir no palco. o Kraftwerk será eterno, porque quando eles se forem os robots ainda estarão no palco.
   Uma das mais belas coisas do livro é o set do DJ Rusty Egan, de uma casa de Manchester em 1980. São 100 músicas fantásticas que exemplificam o pop de hoje, 2016. Temos ainda o depoimento de Madonna, que os viu ao vivo em 1978 e criou ali todo seu conceito de palco e de som. Buckley nos mostra alguns dos vários "roubos" feitos em cima de faixas do Kraftwerk, e exibe a decadência do pop, a partir do momento em que os sintetizadores se tornam digitais.
   Os momentos epifânicos são vários e acho que a gravação do clip de Trans Europe Express seja o mais lindo.
   Encerro aqui e digo que voce tem de ler este livro.

KRAFTWERK PUBLIKATION

começando a ler a biografia do KRAFTWERK.
a banda mais influente de todos os tempos...talvez...
posso já dizer que é a bio mais bem escrita editada e informativa que li
fascinante a descrição da ALEMANHA pós segunda guerra
a criação do pop alemão
ao contrário dos EUA, da Inglaterra, frança...a Alemanha não tinha nada de cultura pop até 1969
mas tinha muita ALTA CULTURA
o kraftwerk nasce da música eletro acústica erudita
PIERRE SCHAFFER KARLHEINZ STOCKHAUSEN
e eles criam o anti rock:
sem suor sem cabelão sem guitarra sem gritos
mais importante: sem EGO
ANÔNIMOS
hoje em 2016
ELES ESTÃO EM CASA.

kraftwerk live oct. 1978



leia e escreva já!

ROCK NA ALEMANHA OCIDENTAL

   Faust, Neu, Can, Kraftwerk, Amon Dull, Nektar, Tangerine Dream, Karthago, esses alguns dos nomes do Krautrock. Posto um documentário da BBC. Gritos usados como instrumento. Enquanto uma bateria repete um beat, um músico varre o estúdio: eis a música, o beat e o ruído da vassoura que vira melodia. Um japonês fala enquanto o ritmo se repete. Rock sem riff, sem solo, sem refrão. Viagens espaciais. Como diz um deles, nem Inglaterra e nem EUA. E nem Alemanha: Space. Outros mundos, alucinações. 
  Radicais. O auge do terrorismo europeu. Bombas como mensagens. Barulho como poesia. O exagero sideral do romantismo. Além do óbvio. Em 1968 o rock já parecia esgotado. Eles foram além. Ninguém nunca mais foi tão além.
  Iggy aparece no doc da BBC. Em uma ilha tropical. Iggy sempre foi antenado e em 1975 já pirava com esses sons. "Porque era diferente. Nada de rocknroll ou de country..." Eram elegantes, frios, rebeldes, loucos, inesperados, monótonos e viciantes.
  E são os avôs do que se faz de mais esperto hoje.
  Veja.

revolucionários de verdade

Em 1981, diz o líder do Run-DMC, ele e seus amigos foram em NY assistir um show do Kraftwerk. O que viram naquela noite mudou sua vida para sempre.
Saíram daquele clube com um novo conceito de som e de show. Não era mais necessário ter uma banda, não era necessário fazer um show com instrumentistas. Tudo era possível e nada era obrigatório.
O século xxi nasceu em Dusseldorf com o Kraftwerk. No show de 81, os 4 integrantes, de pé com sua maquinária, apertavam botões em lugar de tocar instrumentos. Um telão ao fundo mostrava imagens aleatórias e o palco era ocupado por máquinas. Nada de suor, gritos ou reis da guitarra.
Na história do pop pós Elvis, só existiram duas bandas profundamente inovadoras : O Velvet Underground e o Kraftwerk.
O Velvet mostrou que para fazer um som de alto valor não é preciso tocar bem. Trouxe o ruído, o inesperado, o desagradável e o doentio para o pop. E os alemães mostraram que guitarras e percussão eram desnecessárias.
Ambos foram heróicos. Do Velvet veio desde Stooges até White Stripes. Do Kraftwerk veio do Grandmaster Flash até os vários estilos eletrônicos de hoje.
Procure o tal show no Tube : Kraftwerk- pocket calculator; e depois veja o nascimento do mundo atual em 1980, com Grandmaster Flash e os Furious Five com planet rock. Delire!