Nós homens fazemos tudo por uma mulher bonita. A beleza de uma boca ou de um seio nos transforma em tolos, asnos ou em heróis e poetas. Mulheres são diferentes. Elas sabem zombar de bíceps ou de belos lábios masculinos. Elas sabem que atitudes são mais importantes que pernas bem feitas. Este maravilhoso filme de Zurlini TAMBÉM é sobre isso.
Existem filmes que são belos por seu argumento. Outros por suas imagens. Mas alguns poucos são belos por um personagem. É este o caso. Danielle, um homem melancólico, um perdedor consciente e proposital, feito com gênio por Alain Delon, é desses personagens que carregam um filme direto para nosso coração. Raras vezes se mostrou com tamanha beleza a saga de um homem sensível sendo massacrado pelo mundo moderno. O filme chega a provocar dor.
Delon é um homem que chega a Rimini. É um viajante, um ser calado, um estrangeiro em seu próprio país. Anda a esmo e vemos então que ele dará aulas num liceu. Estamos no auge do radicalismo italiano ( 1972 ) e de cara ele diz a classe que para ele "esquerda ou direita são iguais, talvez os fascistas sejam apenas mais estúpidos". Mas o filme não é politico ( ou é? ). Logo vemos que ele é casado e que sua esposa é infiel, fato que lhe provoca indiferença. Na aula ele sente atração por uma calada estudante, belíssima, e essa é sua perdição. Ela namora o playboy bad boy da cidade e é também uma prostituta. Delon/Daniele imaginará ser ela um tipo de alma para ser salva. Ele acabará encontrando aquilo que sempre desejou: a primeira noite de tranquilidade, o sono sem sonhos, a morte.
Nesse processo ele fará amizade com três malandros. A vida desses homens é carteado e prostitutas ( e penso em como o cinema americano é incapaz de exibir com naturalidade, sem crime ou neuras, essa vida tão masculina de bordéis e garotas de programa ). O filme tem cenas muito reais e bem feitas de boates e festinhas em apartamentos que mais se parecem com motéis. Nada é julgado e nada cai na chanchada, estamos longe do mundo de virgens de quarenta anos.
Ruas com chuva, um inverno que penetra a roupa, casas em demolição, pinturas e afrescos. Há uma cena chave em igreja onde existe uma pintura de Della Francesca. Delon, que é um professor de arte, descreve como aquela obra foi feita e o que ela significa. Na descrição da obra ( tão pequena, tão simples, tão sobre-humana ), vemos a descrição de Delon/Danielle, do que ele pensa ser a estudante/prostituta e mais: do próprio Valerio Zurlini, o mais delicado dos diretores da Itália. Uma cena perto do fim, em que ele e um amigo vão à casa abandonada é cena de antologia. A prova de que o cinema pode ser arte de nobreza viril.
Poucos filmes são tão tristes. Poucos são tão reais. Aqui a tristeza não é a tristeza da excessão. Não é o drama de junkies, de doentes terminais ou de bandidos de favela. É a tristeza de um homem que não possui conexões, que viveu e viajou demais, que descrê de tudo e que pensa, por um momento, ter encontrado uma fonte de vida nova. O que ele encontra é a tranquilidade. Para sempre. Eis um grande filme!
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a primeira noite de tranquilidade
Ele é um novo professor. Começa a dar aulas numa nova escola. Ele é niilista. Em sua primeira aula diz que os comunistas são insuportáveis e os fascistas idiotas ( isso em um tempo 72, em que todo italiano do bem era obrigado a ser comuna ). Nessa escola ele se apaixona e tem caso com aluna. Ela é uma prostituta de luxo. Suicida. Bela como o impossível.
Ele é Alain Delon. Seu professor é feito com um olhar de Stendhal e uma voz com ecos de Proust. Caminha para o absoluto desastre, e não se importa com isso. Tudo em sua impressionante atuação diz : a vida nada vale... E tudo em sua atuação nos seduz.
Valerio Zurlini, o poeta da desesperança, dirigiu este poema em forma de cinema. Lindo, triste, doído. Sonia Petrova faz a aluna. Uma jovem que consegue ser mais triste que o professor. Mas não pense que o filme é deprimente ou choroso. Nenhuma lágrima. nenhuma reclamação, nenhum gesto de desespero. Melancolia confortável.
Um filme para se guardar no peito e se rever por toda a vida e com um final perfeito.
Ele é Alain Delon. Seu professor é feito com um olhar de Stendhal e uma voz com ecos de Proust. Caminha para o absoluto desastre, e não se importa com isso. Tudo em sua impressionante atuação diz : a vida nada vale... E tudo em sua atuação nos seduz.
Valerio Zurlini, o poeta da desesperança, dirigiu este poema em forma de cinema. Lindo, triste, doído. Sonia Petrova faz a aluna. Uma jovem que consegue ser mais triste que o professor. Mas não pense que o filme é deprimente ou choroso. Nenhuma lágrima. nenhuma reclamação, nenhum gesto de desespero. Melancolia confortável.
Um filme para se guardar no peito e se rever por toda a vida e com um final perfeito.
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