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O VEREDITO, FILME DE SIDNEY LUMET, PAUL NEWMAN E DAVID MAMET...FINGIR AINDA ACREDITAR

   Roger Ebert gostava de dizer que os alunos de cinema não vêem mais os filmes de Fritz Lang, George Stevens ou William Wyler. E que mesmo de Ford ou Hawks conhecem só os mais conhecidos. Mas continuam vendo muito Hitchcock, Billy Wilder e John Huston. Well, não percebo muito de Huston ou de Wilder nos diretores atuais, mas sei que eles estudam muito o cinema dos diretores americanos que foram oriundos da TV ao vivo dos anos 50. Diretores que davam muito valor a atores e a roteiro, e não tanto a visual e produção. Aprenderam tudo nas peças ao vivo que dirigiam para a CBS e a NBC. Seus nomes são Robert Mulligan, Arthur Penn, John Frankenheimer, Sidney Pollack, Arthur Hill, Mike Nichols, Franklyn Schaffner e Sidney Lumet.  Ver os bons filmes desses homens é como ver os poucos bons filmes americanos que são feitos agora. O livro que fala da renovação em Hollywood, SEX, DRUGS E ROCKNROLL erra ao ignorar esse fato: a renovação começou em 1959, com 12 HOMENS E UMA SENTENÇA.
   Um grupo de críticos fez uma pesquisa e refez a lista dos vencedores do Oscar corrigindo as injustiças históricas. Desse modo, DR FANTÁSTICO vence em 1964 e 2001 ganha em 1968. Em 1982 não vence Gandhi e nem Richard Attenborough é o melhor diretor. Principalmente Ben Kingsley perde o Oscar para Paul Newman. Todos esses Oscars vão para O VEREDITO. Em 1982 ele concorreu a cinco prêmios e perdeu todos para Gandhi. Gandhi é um filme ok, mas o filme de Lumet é mais que isso. É provocador e parece ter sido feito hoje. Todo o bom cinema que ainda se faz está aqui. Cult em escolas de cinema, este é o filme básico para quem quer saber de onde vem o estilo de 2013. Lumet foi um super diretor.
   Já falo do filme. Antes devo dizer que nos extras do dvd vem a história da produção. Dustin Hoffman, Robert Redford e até Frank Sinatra queriam fazer o filme. O roteiro de David Mamet era disputado a tapa. Lumet escolheu Paul Newman. Ele fez o papel de forma tão visceral que ninguém entendeu o porque de ter perdido o prêmio ( na verdade perdeu pela Gandhimania que se fez na época ). Em 1985 Paul ganharia por A COR DO DINHEIRO, típica vitória de consolação. Premiaram o ator certo no filme errado.
   ( Um amigo me recorda: Nenhum ator tem tão poucos filmes ruins como Paul Newman. Pegar na locadora um filme com ele é quase certeza de acerto. Brando, Nicholson, Beatty, Depp, Brad, Clooney, Hoffman, Cruise, todos têm uma coleção assustadora de filmes muito ruins ).
   Newman é um advogado alcoólatra. Que caça clientes em funerais. Fundo do poço. Um amigo lhe dá um caso. Um erro médico que ocorreu durante um parto. Num hospital católico. O advogado que defenderá o hospital é o melhor da cidade. Papel do venerável James Mason. Paul Newman fracassa. Ele faz tudo errado, afinal, é um alcoólatra. Perde testemunhas, se atrapalha, não sabe o que fazer, sente muito medo. Um roteiro assim nas mãos de um diretor ruim viraria um melô ou uma comédia. Com Lumet não. Cheio de coragem, ele jamais negocia com o público. O filme é lento, as falas são ditas devagar, silêncios que dizem tudo entre as falas. Há várias tomadas que são inesquecíveis. Cito duas como exemplo.
   Newman vai ao hospital fotografar a vítima. Numa cena toda muda, ele se senta e pára de fotografar. Olha a moça na cama. E vemos no rosto desse maravilhoso ator o que ELE PENSA. Toma consciência de que ele tem estado errado. Algo precisa mudar. Mas o que?
   Outra cena acontece no escritório após mais um erro do advogado feito por Paul Newman. A câmera fica a meio metro do chão. Na altura dos joelhos de Paul. Paul se lamenta com seu amigo, Jack Warden. E Lumet ousa não cortar, deixa que os dois interpretem sem interrupção. A cena vai e vai e vai. A câmera não se move, não tem música, nada. Apenas texto e dois ótimos atores.
   O fim do filme é perfeito. E surpreendente. Aliás, o filme é perfeito.
   Lembro que no Oscar de 1982 torci por Gandhi. Não queria que vencesse um filme de tribunal, americano e com produção padrão. Gandhi eu vi na época. O Veredito, só agora. Sidney Lumet faz tudo o que o cinema de 2013 faz. Closes demais, iluminação escura e marrom, falas econômicas. Mas há uma diferença, o filme flui. Ficamos duas horas completamente hipnotizados.
   Não é um filme de tribunal. É sobre um homem.
   Uma frase do belo roteiro: Devemos fazer de conta que acreditamos na justiça. Porque se nem isso fizermos, nada fará mais sentido. Se desde o começo acreditarmos na injustiça, se nos acomodarmos e nem tentarmos fingir crer, bem...nada mais terá saída.
   Eu vi este filme a ainda finjo crer no cinema.

GIUSEPPE TORNATORE/ PETER SELLERS/ JOHNNY DEPP/ NEY MATOGROSSO/ SEAN CONNERY

  LUZ NAS TREVAS de Helena Ignez com Ney Matogrosso, Djiin Sganzerla, Paulo Goulart e vasto etc.
Nada aqui tem a ver com a realidade. E tudo é verdade. Eis o cinema! Mal feito, às vezes irritante por sua ambição e suas falas literárias. E ao mesmo tempo fascinante por seu jeito de labirinto onde todos são faunos. Na verdade: O Bandido da Luz Vermelha é o melhor filme brasileiro da história. Este, feito pela musa de Sganzerla, é sua continuação. O mundo mudou, hoje ele é mais violento, mais sem sentido, e mais crente no oculto ( estranho né? ). Em 68 o niilismo era maior e ao mesmo tempo a alegria maior. Fascinante! Ney dá um show! Carisma e o final é duca! O filme é invenção all the time. Mistura tudo. Brasil. Tem candomblé e rocknroll. Tem sexo e patifaria. Sangue com merda. E tudo parece fake, carnaval. Taba. As falas são de doer de tão ruins. Mas as imagens são magníficas. Uma das melhores falas da história: "Sempre sonhei em ter uma padaria em Cuiabá!" Hahahahahahah! Brasileiro é auto-negação. Contradição e jamais assumir nada. Ney é um diabo do ódio. O novo bandido é como são os bandidos de hoje: Nem nome tem... Lembro que quando criança eu acreditava no Bandido da Luz Vermelha. Meus primos diziam que já o tinham visto. Ele matava policiais no Caxingui. Eu botei fé. Ney canta na laje no fim do filme. Viva o Brasil! O cara é o retrato do que sobreviveu. Está com 70 anos! Mais jovem que eu e que tú. Nota Nada. Vou rever. Tem 3 histórias paralelas. Recuerdos, Ney na cadeia-inferno e o tal novo bandidode hoje. Minha alma cativa. Isso é cinema do Brasil. Disse.
   O SOM AO REDOR de Kléber Mendonça Filho
Na verdade é um documentário sociológico sobre um certo povo de uns certos quarteirões. Tudo aqui é real e nada parece verdade. Nunca vi atores tão ruins! Invenção nota zero. O filme é óbvio. Se voce quer ter uma aula de sociologia é aqui. Se voce quer um bom filme, sai correndo. Algumas cenas chocam. Pelo amadorismo. Acho que na faculdade a gente fez coisa mais bem feita hem Léo? Voce sabe, eu exijo um mínimo de competência. E o problema é: Assim como voce não se importa com um bando de dançarinos fazendo um show, o que me interessa nesse povo besta falando texto mal dito e mal ensaiado? Ver isto é tão fora da minha atenção quanto imagino ser Os Miseráveis para voce. Eu simplesmente não consegui me ligar. É muito blá blá blá. Valeu!
   BRANCA DE NEVE de Pablo Verger
Uma saída para o cinema: Vamos voltar a sentir e sem vergonha de ser bonito. O filme é todo superlativo. Imagem, trilha sonora e atores. Diverte e dá uma impressão de melancolia que não passa. Não consigo deixar de pensar nele. Cadê esse príncipe? Acorde menina! Se meus amigos o tivessem visto daria pano pra muita manga. É o melhor filme deste século de filmes banais. Está longe do espetáculo vazio ou do filminho de arte chocante e óbvio. É poesia e se comunica com todo mundo. Lindo. Nota DEZ.
   O FAROL DO FIM DO MUNDO de Kevin Billington com Kirk Douglas e Yul Brynner
Que filme bobo! Kirk, que é a única coisa boa aqui, vive em farol. Um bando de piratas invade a ilha e o filme mostra sua luta contra eles. Tudo dá errado neste filme. A ação parece falsa, a violência é exagerada, os outros atores são lamentáveis. Yul Brynner posa de "Sua alteza real Pirata". Nota 2.
   A MELHOR OFERTA de Giuseppe Tornatore com Geoffrey Rush, Donald Sutherland e Sylvia Hoeks
O diretor de Cinema Paradiso e de Malena faz seu "Hitchcock". O filme, que venceu vários prêmios italianos em 2013 e acho que ainda não passou por aqui, tem algo de Vertigo na obssessão de um homem solitário e neurótico por uma mulher misteriosa. A história se passa no mundo dos leilões de arte e é um filme bom de se olhar. Até agora não sei se o achei bom ou ruim. Há algo de muito tolo em seu roteiro. Eu simplesmente adivinhei tudo desde o começo. Mas há uma bela atuação de Rush, mais uma, e uma participação divertida do grande Sutherland. A menina é linda. E péssima atriz. Até a metade a gente torce, desejamos ver a menina, mas daí a "hitchcockerie" entra em parafuso e a coisa desanda. Nota 5.
   AS ILHAS DA CORRENTE de Franklyn J. Schaffner com George C. Scott e Claire Bloom
Se voce ama o livro de Heminguay, como eu, vai até gostar deste filme. Mas se voce não o leu, ou leu e não gostou, fuja disto. O filme é flácido, lento, sem motivo. Fala de um escultor que vive numa ilha. Recebe a visita dos 3 filhos, pescam e depois vem a ex-esposa o visitar. Ao final, uma tentativa de salvamento a fugitivos nazistas. Schaffner e Scott haviam ganho Oscars em 1970 com Patton, uma das poucas biografias do cinema que conseguem revelar o homem por detrás do óbvio. Uma obra-prima com roteiro do jovem Coppolla. Mas depois disso Schaffner só errou ( apesar do bom Papillon ). O que temos aqui é a linda fotografia de Fred Koenemkamp, o mar azul e a ilha cheia de vento e areia, e uma absoluta falta de emoção. É um filme ruim de que gosto por motivos puramente pessoais. Nota 3.
   EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA de Marc Forster com Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Dustin Hoffman e Freddie Highmore
Não sei se fica claro no filme. Quando James Barrie escreveu Peter Pan ele já era um autor de sucesso. Posto isso...Que lindo filme! Lindo não por seu visual, que é menos do que poderia ter sido, mas pela beleza de suas emoções. Depp nasceu para esse tipo de papel, o frágil sonhador. Sabemos que Barrie era mais viril que Depp, mas e daí? Como artista que é, ele cria o homem que Barrie deveria ter sido. Aqui faço uma defesa de Johnny Depp. Ao contrário de Day-Lewis que só vai na certeza, Depp erra muito, porque se arrisca sem parar. É um maravilhoso ator lúdico, um ator que parece nunca levar a sério a profissão e tenho a certeza de que ele aprendeu isso com seu amigo Marlon Brando. Brincar. Em tempo de melhores roteiros Depp teria mais chances de acerto. O tipo de filme que ele procura, a diversão-excêntrica, não tem bons roteiristas atualmente. Kate não tem muito o que fazer aqui. Julie Christie, a venerável Julie de Doutor Jivago, faz uma mãe odiosa, enquanto Dustin se mostra o rei da simpatia. É dos poucos filmes que consegue mostrar o mecanismo da criação. Forster é um diretor ao velho estilo Hawks, filma de acordo com o roteiro. Um profissional. Deveriam existir mais como ele. Nota 9.
   O RATO QUE RUGE de Jack Arnold com Peter Sellers e Jean Seberg
Filme que era hiper reprisado na velha Sessão da Tarde. Comédia sobre o menor reino do mundo, Grã-Fenwick, que declara guerra aos EUA. A intenção é perder e assim ser reconstruído pelos americanos, repetindo o que foi feito no Japão e na Alemanha. Mas tudo dá errado. Eles vencem sem querer. Sellers faz três papéis: A rainha distraída, o primeiro ministro ganancioso e o herói atrapalhado. Peter Sellers é um dos poucos atores que merece ser chamado de gênio. Jean Seberg iria para a França após este filme. Filmar com Godard um tal de Acossado. Aqui ela está ainda mais bonita. Uma boa comédia. Nota 7.
   O GOLPE DE JOHN ANDERSON de Sidney Lumet com Sean Connery, Dyan Cannon, Martin Balsam e Christopher Walken
Este filme deveria ser refilmado. Pelo que sei, é o primeiro a exibir um mundo todo vigiado por câmeras e gravadores. Claro que são aparelhos ainda primtivos, o filme é de 1971, mas Lumet já percebe o incômodo na profusão de câmeras em elevadores, lojas, entradas de prédios. Sean Connery está sensacional como o ex-presidiário que trama um assalto a edifício. Entre os comparsas vemos o jovem Christopher Walken, é sua estréia no cinema. Muito carisma e o rosto de um jovem hippie muito maluco. O filme é dos anos 70, portanto espere muito realismo, nenhum glamour e um final pessimista. Lumet já exibe sua maestria em cortes e clima, o filme combina bem com Serpico, Um Dia de Cão e Network ( que carreira teve esse Lumet!!! ). Sean rouba o filme. O sexy James Bond prova mais uma vez aqui que ninguém nunca fez machões como ele sabia fazer. A trilha sonora, datada, tem jazz misturado a toques de sintetizador, autor: Quincy Jones. Boa diversão! Nota 7.
  
  
  

ANNA KARENINA/ MARNIE/ EUGENE O'NEILL/ BLIER/ KIM KI DUK

   O RISCO DE UMA DECISÃO de Richard Brooks com Gene Hackman, James Coburn e Candice Bergen
No início do século XX, uma corrida entre cavaleiros. O filme tem uma visão sensível, os cavalos são as vítimas. Hackman, excelente, é um cowboy humanizado. Ele ama os bichos. Coburn faz seu tipo de sempre, e isso é uma benção: um putanheiro, cachaceiro, malandro. O filme, do viril Brooks, é delicioso. A ação tem porque e os diálogos são ferinos. Brooks começou como pupilo de John Huston. Seu estilo é hustoniano: direto e sem firulas. Nota 7.
   MARNIE de Alfred Hitchcock com Tippi Hedren, Sean Connery e Diane Baker
O filme mais doentio de Hitch. Fala de uma cleptomaníaca. Connery é o milionário assaltado por ela que tenta a ajudar. É um filme desagradável. Feio. Hitch vai fundo no aspecto neurótico da personagem. Ela suja as imagens, borra a música, desfaz qualquer chance de beleza. O filme resulta como um tipo de pesadelo febril. Longe de seus melhores filmes, mesmo assim é obra invulgar. Há quem o adore. Não eu. Nota 6.
   PIETÁ de Kim Ki Duk
Um filme diferente dos habituais de Duk. Aqui o visual é pobre, feio. Tudo se passa num tipo de labirinto urbano, onde um homem trabalha como torturador. Ele quebra ossos de pessoas que devem dinheiro. Sem sentimentos, sua primeira cena é uma masturbação. Surge em sua vida uma mulher que confessa ser sua mãe. Ele bate nela, a humilha... O tema é religioso, Duk é budista. Todos cumprem carmas aqui. Mas o filme é aborrecido, sem emoção, frio. Nota 2.
   A FILHA DA MINHA MULHER de Bertrand Blier com Patrick Dewaere
Blier sempre ousa. Às vezes acerta, e quando acerta faz um filme soberbo como Corações Loucos. Quando erra faz um filme irritante, como este. Dewaere é casado. A esposa morre e lhe deixa a filha de outro casamento. Ele rouba-a do pai verdadeiro e ela o seduz. Cenas de cama, nudez, tudo liberado. Sem culpas. Hoje seria pedofilia, em 1981 era apenas "bem louco". O filme é árido. Não há emoção, tudo é feito sem sentimentos e sem sentidos. No final ele fica sem sua enteada, mas já de olho numa menina de 9 anos, filha de sua nova esposa-adulta. Dewaere era ídolo do cinema francês. Aqui já mostra as marcas do vicio que o mataria em seguida. Parece um zumbi doente. Como disse, Blier é sublime ou nojento. Nota 3.
   LONGA JORNADA NOITE ADENTRO de Sidney Lumet com Katharine Hepburn, Ralph Richardson, Jason Robards e Dean Stockwell
Eugene O'Neill foi, entre 1930-1960, o rei da intelectualidade americana. Um tipo de ídolo-gurú de quem era sério. Segundo americano a vencer o Nobel, suas peças são poços de angústia, desespero, vazio. Esta famosa peça foi sua herança. Escrita, ela só pode ser encenada após a morte do autor. Isso porque ela é muito autobiográfica. Uma familia está reunida numa casa de praia. O pai é um vaidoso e muito sovina ex-ator. A mãe é viciada em morfina e mergulha na loucura. O filho mais velho é um alcoólatra raivoso. E o mais novo é tuberculoso e volta à casa após ser marinheiro ( esse é Eugene O'Neill em auto-retrato ). A peça exibe as brigas, culpas e o aniquilamento do grupo familiar. É um tipo de texto que marcou a arte americana. Até hoje americanos sérios acham que arte deve ser assim, uma longa jornada noite adentro. O filme é pesado, estático, teatral e interminável. Lumet nada faz para disfarçar sua origem teatral. O que vemos são os atores e seu texto. Kate não está bem. Ela exagera. Ralph dá um show. O pai é tolo, frio, auto-centrado, um pavão egoísta. Jason Robards nos aterra. Tem ira, tem medo, tem inteligência destrutiva. E bebe. Dean está ok. Frágil, titubeante. Tennessee Willians roubaria de Eugene a centralidade do teatro americano. A ênfase deixaria de ser masculina-problemática e passaria a ser feminina-sonhadora. O filme não é bom. Mas vale a pena. 
   ANNA KARENINA de Joe Wright com Keira Knightley, Jude Law, Mathew MacFayden
Um grande filme! Dias depois ainda está em nossa alma. Bonito, forte, bem dirigido e muito bem interpretado, é o melhor filme de 2012. Algumas de suas cenas são obras-primas em encenação. Joe sabe tudo de montagem, de fotografia, orquestra uma polifonia de rostos e de vozes que fazem sentido todo o tempo. O filme, arriscado, nunca se perde. Navega pela obra de Tolstoi sem nunca ficar a deriva. Não é perfeito, não poderia ser, Tolstoi não se presta a simplificações. Mas em termos de cinema é um triunfo. Joe Wright ainda não errou. Nota 9.
   UM PARTO DE VIAGEM de Todd Philips com Robert Downey Jr., Zach Galifianakis
Não tem graça. E pior, para quem conhece um pouco de cinema, dá para notar cada um dos plágios. Todd usa dúzias de ideias de outros filmes. Rouba, não cita. Mas, pasmem, o filme não é ruim! Graças a dois atores com carisma, voce consegue assistir toda aquela bobagem e melhor, é um filme curto. É sobre dois caras que são obrigados a cruzar 3 estados americanos juntos. Sim, Steve Martin e John Candy fizeram isso melhor em 1988... Nota 5.

WYLER/ JACK NICHOLSON/ AL PACINO/ LUMET/ HAWKS/ RITT/ WOODY ALLEN/ HUSTON

   REBELIÃO NA INDIA de Henry King com Tyrone Power
Sobre um soldado mestiço, que na India inglesa tem de lutar contra seu irmão, irmão que organiza rebelião anti-colonial. Aventura de primeira. King foi um daqueles diretores pau-pra-toda-obra, um tipo de diretor que a partir da nouvelle vague deixou de existir. King mais de vinte sucessos, e mesmo assim continuou a fazer filmes como este: despretensiosos, bem feitos, inteligentes, eficientes. Nota 7.
   OS PINGUINS DO PAPAI de Mark Waters com Jim Carrey e Carla Gugino
Waters surgiu como promessa de bom diretor. Parece que já se perdeu. Carrey um dia teve ambição, já se foi. Eu sempre preferi o Jim Carrey sem pretensão, mas as comédias excelentes que ele fazia não existem mais. Os pinguins são simpáticos, mas o filme é um lixo. Chega a ser revoltante como um profissional pode escrever algo tão idiota. Nota ZERO.
   BEN-HUR de William Wyler com Charlton Heston
Houve um tempo que o filme tipo 'Avatar" era assim: uma aula de história com tinturas de ação e lição de moral. Caríssima produção, longuíssimo, imenso sucesso, montes de Oscars. Heston, apesar dos ataques de um certo idiota, foi um belo ator. Passa credibilidade a um papel muito dificil. A história todos sabem: os amigos que brigam: um é judeu, outro é romano. A ênfase não é na ação, é na lenda. Bonito. Nota 7.
   A HONRA DOS PODEROSO PRIZZI de John Huston com Jack Nicholson, Kathleen Turner, Anjelica Huston e William Hickey
Uma visão meio cômica/ meio trágica da máfia. Nicholson é um matador apadrinhado pela máfia. Ele se apaixona e se casa com uma matadora polonesa. Mas a vida é cheia de surpresas... O roteiro é brilhante, e Huston, aos setenta anos dirige como um garoto. O filme recuperou o sucesso para sua carreira, concorreu a vários Oscars e fez dinheiro. Nicholson está engraçado e melancólico, faz um ítalo-americano meio burro e muito bom profissional. Turner foi uma sex-symbol de verdade. No meio dos anos 80 ela era o máximo. Mas há ainda Anjelica, fazendo a ex-esposa vingativa e o absurdo Hickey, um velhíssimo chefão, numa caracterização irresistível. Fantástico vê-lo babar e gaguejar. Nota 8.
   SERPICO de Sidney Lumet com Al Pacino
Na suja NY dos anos 70, Pacino é Serpico, um cara que sempre sonhou em ser um policial. Mas, ao começar a trabalhar ele se depara com a corrupção no meio. Al Pacino em uma de suas grandes atuações. Serpico é um tira que usa barba, brinco, faz ballet e veste batas indianas. O filme começa como uma quase comédia ácida maravilhosa, mas Serpico vai pirando e Lumet quase se perde. No final o filme se reergue e seu fim é bastante amargo. Na sequencia Sidney Lumet faria Um Dia de Cão e a obra-prima Network. Que grande diretor ele foi ! Nota 7.
   DUELO NA CIDADE FANTASMA de John Sturges com Robert Taylor e Richard Widmark
Ótimo western. Fala de ex bandido, agora xerife, que é sequestrado por seu ex comparsa. A fotografia em cores de Robert Surtees é estupenda. As paisagens são de tirar o fôlego. Sturges teve quinze anos de sucesso, sabia fazer filmes de ação. Um western que indico para fâs e para aqueles que desejam aprender a gostar deste tipo de cinema viril e sincero. Nota 8.
   E AGORA BRILHA O SOL  de Henry King com Tyrone Power, Ava Gardner e Errol Flynn
Versão da Fox para O Sol Também se Levanta de Heminguay. É bacana o retrato da festiva Paris de 1926, a Espanha aparece cheia de sol, de touros e de fiestas, mas nada há no filme do senso de tragédia de Heminguay. Mesmo assim é um filme bom, fácil de ver e sempre interessante. Ava faz uma bela Lady Brett e Errol está ótimo como o escocês bêbado. Este filme seria a salvação de sua carreira se ele não tivesse morrido pouco depois. Nota 6.
   BOLA DE FOGO de Howard Hawks com Gary Cooper e Barbara Stanwyck
É um filme de Hawks que não se parece com Hawks. E é fácil saber porque: o roteiro é de Charles Brackett e de Billy Wilder. O filme tem muito mais o estilo grosso de Wilder que o modo fluido de Hawks. Fala de inocente linguista que se envolve com moça de boate e seu cafetão. O filme é ok, mas tem um ar de conto da carochinha para adultos que jamais funciona. Uma pena.... Nota 5.
   TESTA DE FERRO POR ACASO de Martin Ritt com Woody Allen e Zero Mostel
Na época do MacCathismo, um caixa de bar é convencido por seu amigo escritor -erseguido a ser seu testa de ferro. É a melhor interpretação da vida de Allen. O seu caixa de bar que vira "autor" em nada se parece com sua persona ( embora ele solte às vezes uma piada à Woody Allen ). Ritt era um famoso diretor do bem, seus filmes sempre falavam de injustiças. Foi perseguido pelo MacCarthismo na vida real, assim como vários componenetes deste filme. É uma obra desigual, tem bons momentos e outros fracos. O final é perfeito, ao ser interrogado pela comissão do senado Woody Allen lhes dá a única resposta cabível. Por essa cena vale o filme. Nota 5.
   O SEGREDO DAS JÓIAS de John Huston com Sterling Hayden, Sam Jaffe e Louis Calhern
Uma obra-prima. Há quem o considere o melhor filme de Huston. Não sei se é, mas é tão bom quanto Sierra Madre. Aula de ritmo, fotografia, posição de câmera, atuação. O filme termina e voce já sente vontade de o rever. Foi satirizado pela obra-prima da comédia italiana, Os Eternos Desconhecidos. Caso único de obra-prima satirizada por outra obra-prima. Deu cria ainda a ao menos um grande filme: Rififi de Jules Dassin. Sensacional. NOTA DEZ.

SCHLESINGER/ LUMET/ WYLER/ AUDREY/ O'TOOLE/ BETTE DAVIS/ REESE/ GLENDA JACKSON

DOMINGO MALDITO ( SUNDAY BLOODY SUNDAY ) de John Schlesinger com Peter Finch e Glenda Jackson
Poucos filmes são tão poéticos. Poéticos não no sentido de belos cenários ou lágrimas tristonhas, muito mais que isso, este filme é poesia na forma de ver o mundo, em como entende o amor, as relações e a maneira como se dá o ritmo de suas cenas. A história, que nunca é melô, fala do amor de um médico inglês por um jovem artista plástico. ( Atenção! O filme tem cenas de beijo e cama entre homens, jamais gratuitas e nunca exibicionistas. Reais. ) Mas esse jovem é livre, desapegado, e namora também uma mulher que trabalha em escritório. Todos os três sabem do que ocorre, nada é escondido. No final, num domingo, o jovem parte rumo à New York, e em cena magnífica, o médico, Peter Finch ( um ator fenômeno ) se volta à câmera e fala "conosco". Dentro dessa situação do que trata o filme? De quase nada. Jamais se mostra qualquer um dos três como um ser excepcional. Ninguém sofre como mártir do amor. E também nada há de frio ou de distanciado. Schlesinger consegue o equilíbrio perfeito: conta-nos uma história de amor que não é drama ou comédia. Talvez crônica. Visualmente o filme é perfeito. Ruas de Londres com estranhas e assustadoras figuras, uma casa de amigos que é centro do liberalismo que grassava na época ( 1971 ), as crianças fumam maconha numa cena, alegremente, e nenhum comentário moralista é feito ( aliás o filme tem também o mérito de nada comentar, deixa para nós o trabalho de analisar e pesar ). Glenda Jackson faz a mulher. Grande e famosa atriz inglesa, da tradição teatral de Peter Brook, ela logo largaria a carreira para viver. Seu desempenho é de um naturalismo inebriante. Peter Finch, que alguns anos depois ganharia um Oscar póstumo por Rede de Intrigas, domina o filme. Sem medo algum, faz um médico que se joga no amor por esse solto e etéreo jovem idealista. Sua fala que encerra o filme ( "Eu sou feliz, mas eu preferia ser feliz com ele..." ) me arrepia ao ser lembrada. Poucas vezes o cinema foi tão honesto. John Schlesinger é talvez o cineasta central da Inglaterra dos anos 60. Atingiu seu auge com o sucesso de Perdidos na Noite ( Oscars de filme e direção ) e com este filme voltou a ser indicado. Mas estranhamente sua carreira desandaria na década de 70/80 ( drogas? neuras? ). O que dá uma certa melancolia ao filme... saber que foi este o último grande filme de um cineasta de tamanho talento. Original sem ser hermético, dramático sem cair nunca no dramalhão, ritmado sem parecer futil, eis um filme profundamente adulto. Obrigatório! Nota 9.
ASSASSINATO NO ORIENT EXPRESS de Sidney Lumet com Albert Finney, Vanessa Redgrave, Sean Connery, Ingrid Bergman, Lauren Bacall, John Gielgud, Jacqueline Bisset
Um elenco all-star para nada. Apesar do luxo da bela embalagem, Lumet jamais consegue criar suspense, clima, interesse. Ficamos sentados entediados, vendo o desfile de rostos conhecidos e a solução de um crime que não empolga. Ponto muito baixo da longa carreira de Lumet. Nota 3.
L'EAU À LA BOUCHE de Jacques Doniol-Valcroze com Bernadette Lafont
Um dos jornalistas originais que formaram o que viria a ser a nouvelle-vague, Valcroze em sua estréia se mostra constrangedor. Os atores estão perdidos, as cenas são mal dirigidas, sem rumo, sem porque. Tudo parece irritantemente amador. Um desastre! Nota Zero.
COMO ROUBAR UM MILHÃO DE DÓLARES de William Wyler com Audrey Hepburn, Peter O'Toole e Eli Wallach
Um falsário tem uma obra roubada de museu por sua filha. Quem a ajuda é um pseudo-ladrão de obras de arte. A filha rouba o pai para o salvar de ser descoberto como falsário. Bem...é imenso prazer ver duas pessoas como Audrey e Peter na tela. Ela, sempre com visual de Givenchy, desfila seu tipo gracioso, e Peter, irônico, combina bem com seus modos e suas roupas. O filme se vende como diversão de classe ( um gênero de cinema que não é mais tentado, talvez por falta de público de classe ). Wyler dirige com leve interesse ( em fim de carreira, é seu penúltimo filme ). A trilha sonora, do novato John Willians, é talvez a melhor que ele fez. A longa sequencia do roubo vale o filme, o resto é meio vazio. Mas ver Audrey e Peter é sempre um prazer. Nota 6.
A NOIVA CAIU DO CÉU de William Keighley com Bette Davis e James Cagney
A Hollywood dos anos dourados ( 20/50 ) era assim: se prometia um filme X, se fazia o filme X, sem nada de mais, sem nada a menos. Cagney está durão e cínico, Bette explosiva e forte, o filme é tola, óbvia, comum diversão. Mas é também vivo, alegre, nada chato e bem feito. Assite-se com interesse sempre renovado. Fala de noiva que a mando do pai, que não quer que ela se case, é raptada por piloto de avião, falido. O avião cai no deserto e lá se dirigem a cidade abandonada. A ação não cessa, os diálogos são bem escritos e tudo parece inverossímel ( mas voce diz: e daí? ). Uma delicia escapista. Veja e relaxe... Que bom! Nota 7.
COMO VOCE SABE de James L. Brooks com Reese Witherspoon, Owen Wilson, Paul Rudd e Jack Nicholson
O fato de Owen filmar tanto mostra a falta de bons atores de sua idade. Reese não. Ela é uma boa atriz. Sabe ser tola sem ser caricata. Rudd é apenas um tonto e Jack nada tem a fazer. O filme, uma bobagem sobre amor, tem um ponto mal desenvolvido, mas que é tocado: as pessoas aqui amam, mas evitam todo o tempo falar sobre amor. São vazios, não entendem o que seja amar. Esse aspecto salva o filme da completa nulidade. Brooks é um mito da tv. Mary Tyler Moore, que ele escrevia e produzia é uma das cinco melhores e mais premiadas séries da história. Depois ele se envolveu com Taxi ( que lançou Andy Kauffman ) e Os Simpsons ( que dispensa comentários ). No cinema ele ganhou Oscar de direção com Laços de Ternura e voltou aos holofotes com Melhor é Impossível. Mas desde então ele só tem decepcionado. Tornou-se banal, comum, quase vulgar. Uma pena. Nota 3.
HELLRIDE de Larry Bishop com Larry Bishop, Michael Madsen, Leonor Watling, Dennis Hopper, Vinnie Jones
Tarantino produziu e Robert Rodriguez fez a trilha. Mas o filme é uma piada sem graça. Sobre gang de motoqueiros, nada funciona. O roteiro é bobo, as imagens vazias, tudo parece uma gozação forçada. Bishop, como um tipo de durão é lamentável. Este filme é um tipo de MACHETE que não deu certo ( MACHETE é do cacete! ). Nota Zero!

MALLE/ BARDOT/ WOODY ALLEN/ DEMI MOORE/ PECKINPAH/ ANTONIONI/ LUMET

DAQUI A CEM ANOS de William Cameron Menzies com Ralph Richardson
Menzies é o grande nome da história do design em filmes. Mas como diretor ele faz belos cenários. O roteiro, baseado em HG Wells, fala de sociedade surgida pós-guerra, sociedade de militares. O filme não funciona. Sem ritmo, atores mal dirigidos. Nota 2.
VIVA MARIA!!!! de Louis Malle com Brigitte Bardot e Jeanne Moreau
Tenho sérios problemas com Moreau. Talvez seja a única atriz que eu deteste. Abomino seu rosto, sua voz, o jeito como os diretores se apaixonam por ela ( porque??? ). Méritos a Godard que nunca a amou!!! Malle faz aqui seu pior filme. Bardot está desperdiçada em papel sem graça. O filme é sobre duas francesas de cabaret que participam de revolução em ditadura sulamericana de araque. Tolo, com humor bobinho e sem qualquer criatividade. Nota 1.
A ÚLTIMA NOITE DE BORIS GRUSHENKO de Woody Allen com ele e Diane Keaton
O último filme da primeira fase de Woody. Uma homenagem a todos os clichés dos romances russos e a Bergman também. Exuberante é a palavra. Se existem cenas que não funcionam, em outras ele consegue provocar gargalhadas. A música de Prokofiev, maravilhosa, é usada com sensibilidade e Keaton é comediante perfeita: uma mistura de tolice e seriedade, pretensão e avacalhação, hilária! Os primeiros vinte minutos são das melhores coisas que ele já fez, mas o final, homenagem belíssima ao Sétimo Selo é emocionante. O filme fala de suicidio, morte, Deus e Dostoievski, sempre com leveza e humor. Saudades....Nota 8.
O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS de Joel Schumacher com Demi Moore, Emilio Estevez, Judd Nelson, Ally Sheedy, Rob Lowe, Kevin McCarthy, Andie MacDowell
Muito estranho ver esse filme hoje...foi o filme da moda de 1986. O "Crepúsculo" de então. Os atores eram ídolos teen, os mais bonitinhos ( fora Tom Cruise e Kim Basinger ). O estranho é que como tudo na década de 80, ele está velho demais!!!! Aqueles jovens tãaaao yuppies, tão arrumadinhos, tão tolos com suas carreiras e sua fé no american way of life....A década de 80 negou furiosamente o ideário hippie e deu no que deu: Reagan e Thatcher. Se voce quer saber o que é um filme yuppie eis sua chance. Demi Moore era absurdamente bonita... Mas jovens de paletó em aptos de vidro e neon....Socorro!!!!! Nota 3
TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA de Sam Peckinpah com Warren Oates
Já em estado de alcoolismo avançado, Peckinpah fez este, hoje cult, drama mexicano. É sobre milionário fazendeiro que oferece um milhão para quem trouxer a cabeça de Alfredo, que engravidou sua filha. Warren, em atuação de gênio, é um pianista americano de puteiro, que parte atrás da grana, consegue a cabeça, mas pira no fim e sai matando todo mundo. O filme tem a violência real de Peckinpah, mas não tem sua energia. É um filme anestesiado, alcoólico, flácido, que se perde em algumas cenas dispensáveis. Um fracasso em 1975, foi redescoberto nos anos 90 e hoje tem a cara do cinema atual. Filme muito feio, sujo, com cenas de sexo estúpidas e desagradavelmente tosco. Ato de coragem, mas longe da genialidade do louco Sam Peckinpah. Nota 6.
BLOW UP de Michelangelo Antonioni com David Hemmings, Vanessa Redgrave, Sarah Miles e Jane Birkin
Um fotógrafo famoso e rico deveria significar poder e potência. Mulheres a seus pés deveriam significar alegria e excitação. Mas na Londres de 1966, o fotógrafo sente que esses significados se embaralharam. Fama e poder significa tédio e impotência e sexo quer dizer fuga. Em 2011 os signos estão pós-embaralhados, estão vazios. Um corpo baleado no chão ou um carro cheio de crianças cantando nada querem dizer. O filme é uma obra-prima. Jamais acaba seu assunto. Nota DEZ!!!!!!!!!
ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCE ESTÁ MORTO de Sidney Lumet com Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Albert Finney e Marisa Tomei
Lumet aos 80 anos dando um banho de juventude na molecada. Este filme é o que se pode ter de tragédia grega em nossos dias. O tema é aquele de sempre em Lumet: as cidades como produtoras de sofrimento e frustração terminal. Homens tentando fugir desse inferno. Um Dia De Cão e Rede de Intrigas são bem melhores, mas este é um filme que se feito na época certa teria uma acolhida muito mais calorosa. Deve ter sido um prazer para os atores encontrar papéis tão bons! Nota 7.

CLINT/ RICHARD BURTON/ DAVID LEAN/ SIDNEY LUMET/ WILLIAM HOLDEN

ALÉM DA VIDA de Clint Eastwood com Matt Damon Crítica abaixo. É um bom filme. Inclusive tem a coragem de deixar tudo no ar. Todas as cenas com Matt Damon são excelentes. A trilha sonora é de Clint. Há algum diretor americano atual mais irriquieto? Nos últimos dez anos ele falou de boxe, de pedofilia, de imigração, de falsos heróis e do Japão e a guerra. Tudo com seu estilo low profile, discreto, sério, sem afetação nenhuma. É o cara. Nota 7. ....................................UM DOCE OLHAR de Semin Kaplanoglu Muito elogiado, este filme mostra a bela relação entre pai e filho na Turquia. O pai colhe mel de abelhas que vivem no alto das árvores. O menino é isolado na escola e se solta com o pai. É bom ver um filme turco. Outra paisagem, outros rostos. A fotografia é bonita, o filme tem poucos cortes e boas intenções. Mas não há nada nele que não tenha sido feito antes ( e melhor ). De qualquer modo, para aqueles que começam a ver filmes agora, é recomendado. Nota 5. ...................................................................GREAT BALLS OF FIRE de Jim McBride com Dennis Quaid, Winona Ryder e Alec Baldwin Foi um aguardado lançamento no fim da década de 80 esta bio de Jerry Lee Lewis, o bombástico "novo Elvis" que arruinou sua carreira ao se casar com a própria prima de 13 anos. Dennis Quaid é tão elétrico quanto Jerry Lee, sua atuação, à cartoon, é esfuziante. Quaid, ainda jovem, é um ator que nos dá prazer em ver. Winona, beem jovem, tem aqui o melhor papel de sua desperdiçada carreira. Vê-la aqui e em seguida na bomba ridicula de Aronofski chega a ser um choque! McBride estudou no Rio. Um apaixonado pelo cinema brazuca, seus filmes são sempre muito coloridos, exagerados, vivos, quase excessivos. Este é um tipo de brincadeira festiva sobre um dos mais dionisíacos astros do rock. Alec Baldwin está muito correto como Jimmy Swaggart, o muito bem sucedido primo de Jerry Lee, um pastor evangélico. O conflito entre os dois é o melhor do filme. Se a bio de Ray Charles foi uma patuscada caretésima, e se a bio de Cash foi muito pouco rock, esta é totalmente cartoon, irreal, frenética e vazia. É obrigatório para fãs de rocknroll. Nota 7. ..........................................................................................ODEIO ESSA MULHER de Tony Richardson com Richard Burton, Mary Ure e Claire Bloom Burton faz raios caírem na Terra com este texto irado de John Osborne. É sobre raiva e desespero, sobre desencanto e machismo. Nada há de agradável ou de bonito no filme inteiro. A Inglaterra reconhece sua irrelevância neste momento ( e ao reconhecer seu fim dá seu último berro de criação ). Por que atores ingleses são tão bons? Shakespeare no breakfast? Nota 7. .............................................................................................GRANDES ESPERANÇAS de David Lean com John Mills, Valerie Hobson, Jean Simmons Os primeiros vinte minutos deste filme são das melhores coisas já feitas na história do cinema. Um clima de medo, confusão e solidão levado com maestria pelo seguro David Lean. Depois o filme deixa de ser tão genial e se torna apenas ótimo. Há quem considere este o maior filme baseado em Dickens já feito ( e sabemos o quanto a refilmagem de Cuarón com Gwyneth e Hawke é ruim...), Oliver Twist do mesmo Lean é melhor, mas este é totalmente absorvente. As cenas na casa abandonada, a relação da familia do menino, o modo como a menina o trata, tudo é inesquecível, feito com a competência de quem sabe do que fala. A fotografia é de Guy Green, fotografia da soberba escola inglesa de 1940/1960. David Lean é o mais bem sucedido diretor inglês da história, ele é o modelo e sonho de Spielberg e que tais. Eu prefiro Powell, mas dizer o que de quem fez estes filmes dickensinianos, e ainda Lawrence da Arábia e A Ponte do Rio Kwai? O homem era nobre, detalhista, perfeccionista, culto e sempre valorizava a finesse de seu público. Cinema que nos trata bem, que nos valoriza. Nota 8. ..................................................................................................................................................LADRÕES DE CASACOS de Robert Asher com Terry Thomas e Billie Whitelaw Grupo de aposentados passa a roubar estolas e casacos de peles. O objetivo é doar o dinheiro a caridade e dar nova vida a suas medíocres existências. Comédia inglesa tradicional: um pouco excêntrica, muito convencional. Os Atores a salvam e o texto é agradável. Nota 5. ....................................................EM UM MUNDO MELHOR de Susanne Bier O tema é "relevante", mas o filme é terrivelmente nórdico: anódino, bonzinho, sem tempero. Típico produto que agrada àqueles que vão ao cinema ver uma tese, um telejornal, algo de "bom", não Cinema. Não dá para se falar de direção, de atores, de falas, de alguma arte; o que se pode é falar do tema, apenas do tema. Como cinema é paupérrimo. Nota (............).................................................................... SUCKER PUNCH-MUNDO SURREAL de Zack Snyder O diretor disse em entrevista ser fã de Kurosawa. Nada aprendeu com seus filmes ( terá mesmo visto algum? ). O filme, bem moderninho, é uma mixórdia de efeitos espertos, mocinhas fashion e teorias pseudo-bem sacadas. Que saco!!!!!!! Nota Zeeeeeero! ...........................................................................................REDE DE INTRIGAS de Sidney Lumet com Faye Dunaway, Peter Finch e William Holden Quem quiser saber o que é um bom filme do moderno cinema americano veja este. Dizer mais o que? O roteiro de Paddy Chayefski é uma porrada na cara de todos nós. Não há um herói, o que há é um louco, uma ambiciosa escrota e um bom-coração bundão. A TV manda e a TV é ninguém. Lumet dirige como um gênio ( que não foi, mas chegou perto disso ), várias cenas são antológicas. Em 1976, em minha primeira noite de Oscar ( eu era uma criança... ) torci muito por este filme ( mesmo sem o assistir ), deu Rocky de Stallone... esse foi meu primeiro contato frustrante com o tal prêmio. Trinta e cinco anos depois e Lumet morre nos deixando este filme ainda vivo e relevante. E que atuação é essa de Peter Finch????? Chega a dar medo de tão poderosa!!! ( ele venceu postumamente como best actor, morreu logo após este filme ). Nota 9.

ANTHONY MANN/ RESNAIS/ DEMY/ TOURNEUR/ ALEC GUINESS

ERVAS DANINHAS de Alain Resnais com André Dussolier e Sabine Azema
Surpreende a jovialidade de Resnais. Da turma dos pra lá de 80 é ele o que mais ousa. Plasticamente este é bastante nouvelle-vague. Mas está longe do ótimo Medos Privados ou do excelente Amores Parisienses. De qualquer modo, eis um cineasta! Nota 6.
MÚSICA E LÁGRIMAS de Anthony Mann com James Stewart e June Allyson
Na história do cinema americano, dois diretores foram terrivelmente subestimados: Dassin e este Anthony Mann. O homem fez policiais, montes de westerns, épicos e esta bio de Glenn Miller. Uma bio exemplar. Cheia de liberdades com a história, mas jamais traindo o espírito da arte do biografado. De modo leve e colorido, acompanhamos o incio de Miller, seu casamento feliz e o hiper-sucesso. Há uma cena com Louis Armstrong e Gene Krupa em boteco de jazz que é sensacional. Stewart em mais uma aula de simpatia e atuação relax. Nunca perde o tom. Nota 8.
LOLA de Jacques Demy com Anouk Aimée
É bela a França de 1960 com seus carros pequenos, os ternos e vestidos com chapéu e suas meninas bailarinas. Mas há algo de muito flácido neste exercicio de otimismo de diretor "delicado". Na história de prostituta que espera o retorno de seu grande amor, Demy homenageia Ophuls sem jamais chegar perto da leveza do mestre austríaco. Destaque aqui para bela trilha sonora de Michel Legrand e a fotografia brilhante e livre de Raoul Coutard. O filme embaralha finais felizes, mas falta sinceridade e força. Nota 5.
REDE DE INTRIGAS de Sidney Lumet com Peter Finch, William Holden, Faye Dunaway
Forte. Um roteiro irado de Paddy Chayefski joga na tv todo o fel possível. A mensagem é simples: violencia vende. O filme ganhou Oscars para Finch ( póstumo ) que está soberbo como o âncora que enlouquece, e para Faye, hilária como a ambiciosa diretora de programação. É uma excelente diversão e um filme soberbo. 120 minutos de pura raiva e de nenhum mal humor. Nota 9.
AS OITO VÍTIMAS de Robert Hamer com Alec Guiness, Dennis Price e Joan Greenwood
O British Film Institute elegeu esta comédia negra um dos dez maiores filmes ingleses da história. Não é pra tanto. Tem atuação inspirada de Guiness ( fazendo oito papéis diferentes. Foi ele quem inventou essa coisa que Eddie Murphy adora fazer ) e tem bons diálogos. Mas o assistindo reparamos no porque do pessoal do Cahiers ( Truffaut, Chabrol, Godard ) desbancar tanto o cinema inglês da época. Não há o menor sinal de criatividade na direção, não há um take arrojado, uma tentativa nova, nada. Hamer posta a câmera e deixa os atores recitarem suas falas. Felizmente eles são excelentes. Mas falta vida a este filme "chá das cinco". Nota 6.
MEU CACHORRO SKIP de Jay Russel com Freddie Muniz, Kevin Bacon, Diane Lane e Luke Wilson
Diane é linda que dói. Cada close em seu rosto é uma declaração de amor. E temos aqui um filme "de cachorro" muito acima da média desse tipo de filme. Nada de cães que falam. O filme é lacrimoso e engraçado e quem adora cães deve assistir. Como cinema é novela bem fotografada. O cachorro é rei de simpatia. Nota 6 para o filme e 10 para o cão.
A MORTA VIVA de Jacques Tourneur
No inicio dos anos 40 Val Lewton, produtor da RKO, lançou uma série de filmes baratos de horror. Na verdade não são de horror. São peças de estilo, filmes de clima, soturnos. Este fala de Voodoo em ilha tropical. Tem até macumba. Tourneur sabia dirigir de tudo. Este é divertido exemplo de cinema hiper-popular que guardava momentos de invenção. Nota 6.

REDE DE INTRIGAS ( NETWORK ) - SIDNEY LUMET

Logo após uma obra-prima chamada UM DIA DE CÃO, Lumet lança em 1976 seu filme para Oscar : NETWORK. Leva os prêmios de ator ( póstumo, para Peter Finch, ator inglês que está impressionante ), atriz para Faye Dunaway e roteiro, para Paddy Chayefski. E numa das maiores zebras do prêmio, perde filme e direção para Rocky, Um Lutador e John G. Alvidsen, o diretor do filme de Stallone. Hoje eu finalmente assisto Network e sou dominado pela força irada e hilária desse propositalmente exagerado filme que bate forte na tv.
Lumet e Chayefski começaram trabalhando em tv. E como todos de sua geração, acreditavam que a tv se tornaria cada vez mais sofisticada, fazendo com que a cultura se tornasse acessível a todo o planeta. Exatamente o que se pensava da internet. Os dois piraram quando viram, principalmente a partir dos anos 70, no que ela se tornou. Os presidentes do veículo, que viviam só para sua empresa, e que ainda tinham algum idealismo, sendo substituidos por grandes conglomerados de acionistas, que nunca pisavam na empresa e queriam apenas o lucro rápido, custe o que custar, para poder vender as ações e saltar fora.
O filme conta a história de âncora veterano que é demitido. Ao se despedir no ar, ele surta, e diz que irá se matar ao vivo na terça seguinte. A direção da tv enlouquece e lhe dá bronca. Mas o diretor é seu amigo e deixa ele ir mais uma vez ao ar para se desculpar. Dessa vez ele faz um discurso irado, expressa a raiva e a impotencia dos americanos e pede para que todos corram a janela e gritem. Numa bela cena vemos as pessoas gritando nas janelas. Está construído um campeão de audiência. Vemos pelo resto do filme, esse ex-ancora e atual profeta, enlouquecer cada vez mais, até ser morto ao vivo. Peter Finch faz esse insano com humor e entrega, e nos dá uma das mais espetaculares atuações do cinema. Morreu do coração pouco antes da entrega do Oscar, já favorito, e venceu. Mas há mais.
Faye Dunaway faz a nova diretora de programação. Uma ambiciosa mulher de negócios, sem vida pessoal, que se envolve com o velho amigo do tal profeta. É hilária a atuação de Faye. Ela revira os olhos e goza quando fala em cifras, transa falando de programação e foge alucinada de tudo que seja vida real. William Holden faz o veterano de tv que se envolve com ela. Um observador da loucura dela e do profeta. Ele tem uma frase genial : - Ela é da geração que aprendeu a viver com o Pernalonga.
Robert Duvall faz o novo chefão de departamento. Consegue dar nuances à um personagem que é repulsivamente frio. A cena em que ele perde o emprego é de antologia.
Assistimos o enlouquecimento não só do profeta, mas da própria tv. Faye negocia com grupo terrorista e lança A HORA MAO-TSÉ-TUNG. E ao final vem a transmissão da morte ao vivo.
O filme exagera. Mas se minha geração foi educada por Kojak e Flintstones, a geração que hoje tem 30 foi criada por Xuxa e Jaspion e a atual cresce com filmes pornô na internet ( onde se vê gente defecando e pisando em ratos vivos ). William Holden diz que noventa por cento da população só conhece a vida via tv. Não lêem livros ou jornais. O que a tela mostra é sua única regra de comportamento, sua educação.
Em 1976 ainda se discutia isso. Hoje sabemos que o jogo foi ganho de goleada pela tv. A internet segue seus passos. Do veículo de cultura que se imaginava nos anos 90, se tornou rede de fofocas, sexo, violencia e jogos. Vivemos pautados pela tela. Nos interessa só o que passa por ela. O resto não existe.
Paddy Chayefski constroi um roteiro exemplar. Ainda não conheço filme tão bom sobre a tv e noto que o estilo visual de todos esses filmes tipo George Clooney é decalcado deste NETWORK.
Obrigatório !

ULYSSES/ BRANDO/ LUMET/HENRY FONDA/RESNAIS

ULYSSES de Joseph Strickland com Milo O'Shea e Barabara Jefford
Um filme difícil. Se você não conhece o livro de Joyce nem tente assistir este filme. Strickland levou vinte anos procurando quem o financiasse. O filme, muito bem interpretado, é quase incompreensível. Mas tem alguns momentos que recordam a força demoníaca de Joyce. O monólogo de Molly, ao final, é maravilhoso. Prosa poética erótica extraordinária. Não posso dar nota a este filme. É único.
O ÚLTIMO TANGO EM PARIS de Bernardo Bertolucci com Marlon Brando, Maria Schneider e Jean-Pierre Leaud.
O filme é um poema sobre a coragem. A coragem de Bernardo por fazer um filme tão burguês numa época em que todo cinema italiano era político e furiosamente de esquerda. Coragem de Brando por fazer de Paul sí-mesmo, dando a nós, generosamente, sua alma e suas fraquesas. Coragem de Maria, por se desnudar sem glamour e por jogar no lixo, sem afetação, seu possível estrelato. Coragem do público, por transformar em sucesso um filme tão triste. Ele analisa a loucura do amor e sua destruição. Ele mostra o vazio existencial e a irremediável solidão. E ainda antecipa a falência da política e do próprio amor verdadeiro. Que mais voce pode querer ? E ainda nos dá um milagre : Marlon Brando. Nota DEZ !
INFERNO NA TORRE de John Guillermin com Paul Newman, Steve McQueen, William Holden, Faye Dunaway, Fred Astaire e Jennifer Jones
Que elenco!!!! E que filme ruim!!!! Mas é divertido. Vemos chamas, vemos gente correndo, música de espetáculo, atores que amamos. É o tipo de super-produção da época : a grana era gasta em caras famosas e não nos efeitos. Nota 5.
OS PICARETAS de Frank Oz com Steve Martin, Eddie Murphy, Heather Graham
Adoro este filme. Vivêssemos em tempos de comédia teria sido um grande sucesso. É a história do diretor ruim e fracassado ( Martin, excelente !) que usa ator doido e paranóico ( Eddie, maravilhoso ! ) em filme de ficção à Ed Wood. Engraçado e nunca apelativo, o roteiro, de Martin é criativo e afetivo. Oz é um diretor subestimado, ele não tem um só filme ruim. Nota 7.
A ÉPOCA DA INOCÊNCIA de Martin Scorsese com Daniel Day-Lewis, Michelle Pfeiffer, Winona Ryder
O livro de Edith Wharton é um dos que mais me deu prazer ao ser lido em dois dias em 2005. É obra-prima de estilo e de elegância. O filme não. É frio, distante, vazio. Scorsese não acredita no que mostra e se perde. Parece desistir. Nota 5.
RETORNO A HOWARDS END de James Ivory com Emma Thompson, Anthony Hopkins e Helena-Bonham Carter
Este sim. Ivory nasceu para fazer este filme. A primeira parte é uma obra-prima. Tudo funciona a perfeição. Você se vê completamente envolvido pelo lugar e pelas personagens. Depois ele perde um pouco de força, mas no geral é um muito grande exemplo do mais alto requinte em visual e escrita. Os atores estão soberbos ! Nota 8.
12 HOMENS E UMA SENTENÇA de Sidney Lumet com Henry Fonda e Lee J. Cobb.
Um juiz chama os jurados a sua sala. Eles irão decidir o destino do réu. O filme, todo passado numa sala, mostra os 12 discutindo a sentença. Nós nada sabemos do réu. E terminamos o filme sem saber se ele é inocente ou não. O que se discute não é isso. Se discute a certeza - como condenar alguém sem ter absoluta certeza de sua culpa ? E como ter certeza de alguma coisa ? O roteiro de Reginald Rose, habilmente nos mostra isso, nada é o que é, tudo pode ser discutido.
Este é o primeiro filme de Lumet e é considerado sua obra-prima. Não sei se é seu melhor, mas é coisa de imenso talento. 90 minutos numa sala com 12 homens desagradáveis. E queremos mais !!! A habilidade de Lumet ( e do câmera, Boris Kaufman, o cara que fez L'Atalante ) é espantosa. Vemos rostos suando, bocas falando, roupas molhadas, mãos. E ouvimos as vozes : e que vozes... há o tímido, o racista, o narciso, o vendedor, o infantil, o velho. E há Fonda, ator único, ator que é a imagem da correção, da inteligência calma, do espírito nobre. O filme empolga, diverte, faz pensar e conquista nossa total adesão.
Sempre votado um dos 100 mais da América, merece sua imorredoura fama. É obrigatório !!!! Nota DEZ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AS NEVES DO KILIMANJARO de Henry King com Gregory Peck, Susan Hayward e Ava Gardner
Um caçador está morrendo na África. Ele relembra seu grande amor. Passamos pela Espanha, por Paris e pela Riviera. Caçadas, touradas, bebedeiras e guerras. Vários trechos de Heminguay são habilmente misturados. O filme é quadrado mas é boa diversão. Nota 6.
AMORES PARISIENSES de Alain Resnais com Sabine Azema e Agnes Jaoui
Até os anos 80 todo diretor era aposentado aos 60. Minelli, Capra, Wilder, Wyler, Stevens, Ford... todos foram chamados de velhos e ultrapassados aos 60. De repente tudo mudou, e Eastwood, Altman, Manoel de Oliveira, Lumet e Woody Allen ( dentre muitos outros ) conseguem filmar até o fim. E bem ! Resnais tem 85 anos. E se mostra aqui de uma jovialidade e leveza maravilhosas ! Ele, que começou nos anos 50 com filmes muito sérios e graves, faz aqui um divetido filme sobre pessoas que nada fazem de especial. Apenas vivem. Mas gostamos de vê-las, de escutar seus diálogos. O filme, feito quase ao mesmo tempo que o "Todos dizem eu te Amo" de Woody, também usa trechos de canções pop para explicar sentimentos. É um efeito que encanta : funciona muito bem. Os atores exalam simpatia ( Sabine mais que isso ) e é obra de inspiração. Resnais está tendo um belo fim de vida !
E pensar que Bergman desistiu aos 60.......

GINGER ROGERS/ROGER RABBIT/WANDA/RIO LOBO/ STEVE MARTIN

En cas de Mal-heur de Autant-Lara com Jean Gabin e B.B.
Que bomba insuportável ! De todas as grandes musas do cinema ( Marlene, Garbo, Rita, Ava, Marilyn, Deneuve, Loren ) ninguém fez piores filmes que Bardot. Foi contra este tipo de lixo que Godard e Truffaut se ergueram. Nota zeroooooooooooooooooooooo!
Vivacious Lady de George Stevens com Ginger Rogers e James Stewart
Agradabilíssima comédia. O tipo de roteiro que Clooney, Reese, Spacey, Hanks, Os Coen, dariam a alma para ter. Passatempo que não te chama de idiota. 7.
The Rocky Horror Show com Tim Curry e Susan Sarandon.
Finalmente assisto o mitico Rocky Horror. Curry tem uma das maiores atuações do cinema. Sua entrada em cena, como o vampiro ultra-glitter-marc bolan-gay é antológica! Se Velvet Goldmine tivesse algum senso de humor ele seria assim. No mais, espero que voces saibam a história deste musical: um fracasso na estréia que se tornou cult, ficando vinte anos em cartaz na mesma sala, onde os fãs assistiam interagindo com a história. Há quem o tenha visto mais de cem vezes. Nota 6.
Um Rei Em NY de John Landis com Eddie Murphy e Arsenio Hall.
No período 73/93 se fizeram toneladas de grandes/excelentes comédias. Esta é uma das melhores. Todos já a viram, todos já gargalharam. Puro prazer e uma atuação histórica de Eddie lembrando o melhor de Alec Guiness. As cenas na barbearia e na igrja são antológicas.
Inesquecível. Nota 9.
Uma cilada para Roger Rabbit de Robert Zemeckis com Bob Hoskins e Christopher Lloyd.
Todos conhecem este filme. Resistiu ao tempo? Sim, resistiu, e é essa o único julgamento válido a qualquer obra de qualquer arte : resistiu ao tempo? nota 7.
Um Peixe Chamado Wanda de Alexander MacKendrick com John Cleese, Kevin Kline, Jamie Lee Curtis e Michael Palin.
Ele começa devagar. E vai crescendo, ficando cada vez mais doido, mais exagerado, atingindo ao final um frenesí de loucura e humor irresponsável. O trabalho de Kline beira a perfeição e todo o elenco brilha estupidamente. nota 8.
Alien de Ridley Scott com Sigourney Weaver, Tom Skerrit e John Hurt.
Segundo filme de Scott. Bela carreira tem esse inglês. No teste do tempo, Alien sobreviveu? Mais ou menos. Não provoca medo ou nojo, pois nos acostumamos a pornografia de visceras e sangue aos borbotões. Mas mantém seu clima claustrofóbico e a elegancia de uma direção enxuta e matemática. nota 7.
Rio Lobo de Howard Hawks com John Wayne.
Último filme de Hawks. É seu pior. Um western comum em que só se destaca a simpatia de Wayne. nota 5.
Longa Jornada Noite Adentro de Sidney Lumet com Kate Hepburn, Ralph Richardson, Jason Robards e Dean Stockwell.
A terrível peça de Eugene O'Neill levada inteira por Lumet. O filme é muito desagradável, árduo´,cruel, sem concessões. Mas há Kate. Mágica. Em minutos ela passa da estrema fragilidade para pura maldade egoísta; de jeito de criança para uma velha anciã. Tudo feito sem qualquer esforço. por ela o filme vale ouro. ( robards também dá seu show de sempre, como o filho alcoólatra ) nota 6.
Star Wars de George Lucas com os dois robots e mais alguns robots de carne e osso.
O filme que inaugurou a total simplificação do cinema ( com Tubarão ). Os atores estão interpretando como se fossem robots, os robots são os astros. O texto chega a ser ridículo e algumas falas com sua pseudo filosofia oriental, beiram o ridiculo. Tudo é infantil, jogado na tela sem qualquer senso de elegancia, ritmo ou psicologia de personagem. Lucas ( péssimo diretor) mal sabe cortar as cenas. Então o porque do sucesso?
Star Wars surge no auge do cinema deprê, intelectualizado, paranóico. Dá ao público a estética infantil da publicidade, o clima de tv e a profundidade das hq. A música de Willians, a foto de Gil Taylor e a batalha final ( uma obra-prima de montagem ) resgatam suas gritantes falhas. Para o bem ou para o mal, este filme antecipa tudo que se fez nos últimos 30 anos. 5.
O Panaca de Carl Reiner com Steve Martin.
A melhor comédia de Martin ( o que não é pouca coisa ). nota 9.
Oliver! de Carol Reed.
Reed é o genial diretor de vários filmes ingleses sobre o sub-mundo londrino, sobre a vida dos pequenos malandros derrotados. O chamaram para dirigir este imenso ( longo, caríssimo ) musical. Venceu quilos de oscars em 68, derrotando o 2001 de Kubrick. Mais uma das papagaiadas do prêmio. Este musical é tudo aquilo que um musical não pode ser : pesado, arrastado, sem simpatia. Mas faz cair o queixo sua cenografia: john Box ganhou o único oscar justo com seus imensos cenários. Uma maravilhosa Londres vitoriana, cheia de córregos, pontes, vielas, barracos e centenas de figurantes. O tipo de cenário que hoje seria inviável. Fariam tudo digitalmente, barateando os custos e frustrando sensibilidades mais afinadas. É o cenário que Tim Burton não pode fazer em seu último filme. nota 4.
A Roda da Fortuna de Joel e Ethan Coen com Tim Robbins, Paul Newman e Jennifer Jason Leigh.
Chatíssimo filme. Os Coen quando tentem fazer algo profundo sempre se tornam chatos. Perdem a leveza e o humor se torna óbvio. nota 2.
A Culpa é dos Pais de Vittorio de Sica.
Vittorio entendeu o que os homens são. Ninguém no cinema conseguiu como ele, mostrar a dor sem culpados, a injustiça sem vilões, como fazemos o mal sem perceber e como sofremos sem poder evitar a dor. Seus filmes são peças de música, poemas de água e fogo, encadeamentos lógicos e simples daquilo que a vida sempre é e sempre será.
Este é seu primeiro grande filme. Uma criança perdida entre seus pais. A total incomunicabilidade que existe entre o adulto e a criança ( mesmo que o adulto a ame, ela sempre será INACESSÍVEL). O filme dói, o filme exalta, faz recordar e é absolutamente delicioso. Mostra como ser criança é dificil, como ser pai é errar sempre, como amar é em vão, como a solidão é constante. Um filme de hoje e de amanhã, o sonho de Salles, Meirelles, Almodovar iranianos e chineses. Só não leva dez por ser modesto, um ensaio para as quatro obras-primas absolutas que Vittorio faria em seguida. nota 9.



RENOIR/LOLITA/TRUFFAUT/KIRK DOUGLAS/LUMET

MULHER COBRA de robert siodmak
um clássico kitsch, referencia para Almodovar e filmes como Hairspray. os atores são hilários de tão ruins, os cenários são dignos da Imperatriz Leopoldinense e a história fala sobre maldições, erotismo e mitos. nota 1.
POSSUÍDOS de william friedkin
ashley judd no quase pior filme de todos os tempos. um filme que ofende qualquer inteligência mediana, com seu mix de modernices vazias, sustos previsíveis e diálogos de retardados. ZERO.
A CARRUAGEM DE OURO de jean renoir com anna magnani.
de todos os grandes é renoir o mais hiper-valorizado. seus filmes são bons, a regra do jogo é excelente, mas jean jamais é um gênio como muitos dizem. este é um filme de bela fotografia, humor leve e festeiro e com bonita mensagem pró-liberdade. mas não é genial ou especial. 6.
LOLITA de stanley kubrick com james mason, peter sellers, shelley winters e sue lyon.
todo aspecto político do delicioso livro de nabokov inexiste neste freudiano filme de kubrick. inexiste o humor que faz do livro uma obra genial e divertida, inexiste o barroquismo da linguagem do dandy nabokov, o que resta? uma lolita velha demais ( no livro ela tem 12 aparentando 11, aqui parece ter 17 ), um james mason sublime ( ele carrega o difícil personagem com leveza e humor- deve ter lido e entendido o livro ), um sellers asqueroso ( ter perdido o oscar é um vexame do prêmio ) e um clima geral de pesadelo e paranóia que o romance não tem.
mesmo com esses senões, é um filme adulto, bonito e que hipnotiza ( te conduz a algum lugar). 7.
O GAROTO SELVAGEM de truffaut.
seco e simples, truffaut dá a sensação de ter feito algo como um documentário de uma época em que não existia o cinema. nestor almendros dá um show de fotografia. 4.
DUELO AO SOL de king vidor com jennifer jones e gregory peck.
é western portanto é bom. uma ópera a cavalo, um história que beira o ridículo em seu exagero de taras e emoção. jennifer jones chegava a ser um crime de tão bonita e peck está ruim como sempre. mas se vê com prazer... nota 5.
ELEIÇÃO de alexander payne.
payne, coen, burton, hanson, wenders, clint, ridley, scorsese, wall e, o cinema de hoje tem alguns nomes interessantes, seu maior problema são atores ( muitos poucos tem algum carisma, o que abre campo para absolutas nulidades ) e o público atual, que não tem nenhuma sofisticação cinematográfica. este filme, com a maravilhosa reese witherspoon ( tenho um caso de paixão com ela- a melhor comediante de sua geração ) é uma diversão para adolescentes que- milagre- não fede a burrice e histeria. seu único defeito é que sua vilã ( reese ) que deveria ser irritante se torna adorável. nota 6.
MARCHA DE HERÓIS de john ford com john wayne e william holden.
o homero do cinema em filme menor. mas um filme menor de ford é um filme gigantesco para qualquer outro diretor. aqui ele trabalha com sua mitologia de heroísmo, liberdade e solidão. wayne está especialmente bem. filme para quem sabe o que significa uma palavra como virilidade. 7.
MACBETH de orson welles
talvez esta seja a melhor adaptação de shakespeare para a tela. um filme muito barato, um cenário apenas, poucos atores. sombras e escuridão, movimentos exatos de camera, falas claras e bem ditas, clima e emoção. uma aula de requinte, de cuidado, de perfeição. jeanette nolan como lady macbeth chega a arrepiar. 8.
ROMANCE E CIGARROS de john turturro com james gandolfini, kate winslet, susan sarandon. alguém precisa avisar kate que seu tipinho sujo já deu. ela faz sempre o mesmo personagem ( a gorducha gostosa ). este é um musical chato, vazio, pesadão, insuportável. ZERO.
EQUUS de sidney lumet com richard burton e peter firth.
lumet sabia filmar neuroses. este texto de shaffer foi imenso sucesso teatral em todo o mundo ( aqui feito por paulo autran e ewerton de castro ). burton está meio sonolento, mas sua voz era tão poderosa que ele leva o duro personagem do analista cansado com facilidade. um filme obrigatório para psicólogos, filósofos ou cinemamaníacos. um filme do tempo em que havia público sério para filmes simples, sem enfeites desnecessários. uma delícia intelectual. 7.
A SEREIA DO MISSISSIPI de truffaut com jean paul belmondo e catherine deneuve.
françois truffaut era fanático por hitchcock e aqui tenta fazer um filme de hitch. tenta criar um clima de vertigo. erra feio e dá vexame. o filme ´e aquilo que o mestre alfred nunca foi- chato. 1.
CAR WASH de michael schultz.
filme barato de latinos e negros dos loucos anos 70. a trilha sonora tem um arraso de ritmo e tudo aquilo que os filmes de tarantino e soderberg têm: funky. 3.
FUGA ALUCINADA de john hough com peter fonda.
um sub- vanishing point. 3.