Fazem vinte anos que vi este filme pela primeira vez. Hoje o vejo pela quarta. E penso nessas duas décadas em quantos filmes vieram, causaram sensação e foram esquecidos em seguida. Assisti Os Sete Samurais em 1991 pela primeira vez, numa cópia horrorosa, e mesmo assim o filme me pegou. Feito em 1954, ele causou sensação no Ocidente e lançou várias idéias que logo se fizeram cliché. Até então não se faziam filmes sobre grupos de heróis, não existiam filmes com heróis que eram derrotados ( embora a derrota aqui seja parcial ) e não havia esse tipo de ação vertiginosa. Kurosawa e este filme são até hoje molde de todo filme de ação épica. É estudado quadro a quadro por todo diretor que almeja o ápice.
Em pouco mais de 3 horas, vemos uma aldeia camponesa, no Japão de 1500, ser assaltada por bando de bandidos ferozes. Cansados de sofrer, esses camponeses contratam samurais para os defender. São os sete que se unem e salvam a aldeia. Mas, é claro, o filme é muito mais.
Samurais já se vêem então como raça em extinção. Seu tempo já é passado e eles trabalham por comida. Pior, os camponeses desconfiam deles, não gostam desses assassinos profissionais e nada os une de fato. Apesar do filme ser ágil, leve, às vezes até mesmo cômico, a sombra da tragédia e da solidão paira sobre os samurais. Eles não fazem parte da comunidade.
As cenas de ação são bastante violentas e nada possuem de "heróico". Todas as mortes são feias, cruéis. As pessoas morrem como ratos, aos berros e em agonia. Kurosawa é famoso por ser um mestre em ação, por saber como ninguém usar várias pessoas em ação coordenada, mas sua violência é sempre sem glamour, árida e desajeitada. Kurosawa realmente odeia a guerra.
Cada samurai tem sua personalidade muito bem definida, mas este épico apresenta um show de Toshiro Mifune. Ele faz um samurai palhaço, bruto, sujo, sempre aos berros, com gestos simiescos. É uma criação de coragem, uma criação de originalidade plena. Não bastassem seus outros filmes, este garante o lugar de Mifune entre os quatro ou cinco maiores atores do cinema. Ele brilha e encanta sem jamais parecer querer agradar. Coisa dos deuses.
A mais lembrada cena é a longa sequencia final, feita na chuva e na lama. Ninguém filmava a chuva como Kurosawa e aqui há sua prova. Um diretor menos genial filmaria tudo do alto, colocaria música de ação e faria cortes de plano e contra-plano. Kurosawa não opta pelo fácil nunca. O som é o ruído de galope de cavalos e gritos. A ação é filmada a altura do chão. O que vemos são patas que correm espirrando lama, ouvimos gritos e berros e temos então a sensação de estar na luta em si. Os cavalos correm de lá pra cá, nossa visão é detrás do abrigo, a lama espirra e a chuva escorre. O que ocorre é confusão, mortes feias e o medo em forma de cinema.
Mas o filme não é só isso. Há a procura e escolha dos sete samurais, a aldeia sendo treinada, a floresta e seus riachos, e o final, um dos mais conhecidos e amargos do cinema. Os samurais percebem nada ter ganho, nada terem encontrado e pior, não terem mais lugar no mundo de trabalho e paz do futuro.
Kurosawa, mestre maior ( não consigo pensar em diretor maior, talvez apenas Ford e Hitchcock lhe cheguem perto ), jamais filma fácil. Cada tomada é pensada em seu melhor modo e nunca no mais simples. Mas atenção: nada é feito como exibicionismo. Se toda cena tem seu esmero e seu desafio, tudo gira ao redor da história e jamais ao redor do efeito vazio. A história anda, avança, somos levados para dentro daquele Japão e colocados ao lado daqueles personagens. Esquecemos que há um diretor-gênio por detrás de tudo aquilo. Ele não é o filme, ele faz o filme.
O tempo julga com justiça toda arte. Os Sete Samurais está sempre em catálogo. Garotos de 15 anos o descobrem em 2011. Prêmio maior não existe.
Em pouco mais de 3 horas, vemos uma aldeia camponesa, no Japão de 1500, ser assaltada por bando de bandidos ferozes. Cansados de sofrer, esses camponeses contratam samurais para os defender. São os sete que se unem e salvam a aldeia. Mas, é claro, o filme é muito mais.
Samurais já se vêem então como raça em extinção. Seu tempo já é passado e eles trabalham por comida. Pior, os camponeses desconfiam deles, não gostam desses assassinos profissionais e nada os une de fato. Apesar do filme ser ágil, leve, às vezes até mesmo cômico, a sombra da tragédia e da solidão paira sobre os samurais. Eles não fazem parte da comunidade.
As cenas de ação são bastante violentas e nada possuem de "heróico". Todas as mortes são feias, cruéis. As pessoas morrem como ratos, aos berros e em agonia. Kurosawa é famoso por ser um mestre em ação, por saber como ninguém usar várias pessoas em ação coordenada, mas sua violência é sempre sem glamour, árida e desajeitada. Kurosawa realmente odeia a guerra.
Cada samurai tem sua personalidade muito bem definida, mas este épico apresenta um show de Toshiro Mifune. Ele faz um samurai palhaço, bruto, sujo, sempre aos berros, com gestos simiescos. É uma criação de coragem, uma criação de originalidade plena. Não bastassem seus outros filmes, este garante o lugar de Mifune entre os quatro ou cinco maiores atores do cinema. Ele brilha e encanta sem jamais parecer querer agradar. Coisa dos deuses.
A mais lembrada cena é a longa sequencia final, feita na chuva e na lama. Ninguém filmava a chuva como Kurosawa e aqui há sua prova. Um diretor menos genial filmaria tudo do alto, colocaria música de ação e faria cortes de plano e contra-plano. Kurosawa não opta pelo fácil nunca. O som é o ruído de galope de cavalos e gritos. A ação é filmada a altura do chão. O que vemos são patas que correm espirrando lama, ouvimos gritos e berros e temos então a sensação de estar na luta em si. Os cavalos correm de lá pra cá, nossa visão é detrás do abrigo, a lama espirra e a chuva escorre. O que ocorre é confusão, mortes feias e o medo em forma de cinema.
Mas o filme não é só isso. Há a procura e escolha dos sete samurais, a aldeia sendo treinada, a floresta e seus riachos, e o final, um dos mais conhecidos e amargos do cinema. Os samurais percebem nada ter ganho, nada terem encontrado e pior, não terem mais lugar no mundo de trabalho e paz do futuro.
Kurosawa, mestre maior ( não consigo pensar em diretor maior, talvez apenas Ford e Hitchcock lhe cheguem perto ), jamais filma fácil. Cada tomada é pensada em seu melhor modo e nunca no mais simples. Mas atenção: nada é feito como exibicionismo. Se toda cena tem seu esmero e seu desafio, tudo gira ao redor da história e jamais ao redor do efeito vazio. A história anda, avança, somos levados para dentro daquele Japão e colocados ao lado daqueles personagens. Esquecemos que há um diretor-gênio por detrás de tudo aquilo. Ele não é o filme, ele faz o filme.
O tempo julga com justiça toda arte. Os Sete Samurais está sempre em catálogo. Garotos de 15 anos o descobrem em 2011. Prêmio maior não existe.