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HARD TIMES, LUTADOR DE RUA, A DIFICULDADE DE SE TORNAR UM HOMEM ( CADA VEZ MAIOR )
É sempre doloroso e difícil se tornar um homem. Como é se tornar uma mulher ou um homossexual. É dificil crescer. Eu demorei 55 anos para saber o que significa ser um homem. Hoje me sinto um. E como tudo aquilo que importa, não há discurso verbal que possa explicar isso. ( Wittgeinstein não errou ). Assisti ontem um filme que me fez pensar sobre isso. Lutador de Rua, feito em 1975 por um dos discípulos de Clint Eastwood, Walter Hill. ----------------- A primeira cena já é exemplar do que estou falando aqui. Estamos em 1935 e um trem chega numa cidade pequena. Ele vem beeeeem devagar, quase parando. Um homem desce do trem em movimento, tranquilo. Ele é pobre, mas tenta se vestir de modo descente: paletó, boné, sapatos. Uma valise a mão. Anda, nada cool, apenas é um cara que anda e o filme começa. Por todo o filme ele não modificará seu modo de agir e de ser. Não conta coisa alguma sobre seu passado, não se vangloria, não é violento ( mas vive de lutas de rua ), não é romântico ( mas sua vida é ), não precisa de ninguém ( mas faz atos de amizade ). Imediatamente percebo que em 1975 ainda havia filme desse tipo, com homens. O ator é Charles Bronson, e mesmo não sendo bom ator, ele tem o corpo para esse tipo de personagem. Que corpo? Ele é feio. Tem traços grossos. Parece pesado. Cheio de cicatrizes. Não há ator assim em 2022. ----------------- Seu equivalente hoje seriam Vin Diesel ou Jason Statham. Mas observe. Vin Diesel é malhado. Seu corpo não é real. Seu rosto é de adolescente envelhecido e inchado. E seus filmes, me divirto vendo Velozes e Furiozos, são apenas video games. Aprender a ser homem vendo Vin Diesel é aprender a ser fake. Jason Statham é muito, muito melhor. Gosto muito dele. Mas nos seus melhores filmes ele é tão cool, feito para parecer tão admirável, que ele se torna um MODELO e nunca um SER HUMANO. Inatingível. -------------- Mas ainda se fazem filmes mais realistas com atores feios. E desses é melhor nem falar. Eles, todos, não são modelos de homem, são antes modelos de fracassos no processo de crescimento. Mostram a crise, a impossibilidade, o eterno retornar ao começo. São filmes que SABOTAM o tornar-se homem. Quando não criticam abertamente esse desejo biológico. ( Nosso corpo biológico tende ao amadurecimento. É um fato animal e até vegetal. ) ---------------- Provável voce nunca ter ouvido falar de Robert Ryan. Ele é o maior ator não estrela da história. Fez papeis de boxeador, bandido, cowboy, bêbado. tudo entre 1940-1973. Ryan foi o homem mais real do cinema. Mas havia também Bogart. John Wayne, Mitchum, Widmark, Gary Cooper, James Stewart, Peck, todos modelos de masculinidade. Lee Marvin. Clint Eastwood, Nicholson, Sam Shepard, às vezes Al Pacino. A partir dos anos 70 isso foi acabando. Surgiu o novo homem, aquele exemplificado por Dustin Hoffman, Woddy Allen e Richard Dreyfuss. Sensível, inseguro, em crise sem fim. Fizeram ótimos filmes, mas enterraram o cinema como modelo de masculinidade. Pior, fizeram com que esse modelo se tornasse uma piada. Rambo e Schwaza se fizeram na vida com piadas. A virilidade como brincar de ser macho. Nada menos viril que brincar. Mesmo que seja brincar de ser homem. Neste filme, Lutador de Rua, há também James Coburn, e Coburn é um homem até debaixo do oceano. Ele tem a voz e a presença que todo homem queria ter. ------------------- Coburn é um malandro de rua que organiza lutas clandestinas, Bronson luta bem e os dois se associam. Problemas acontecem, os dois rompem e ao final, como em 90% dos filmes desse tipo, Bronson vai embora. Detalhe: dá seus ganhos para Coburn, ele quer apenas o necessário para ir à próxima cidade. --------------- Nômade, solitário, duro, coração de ouro que nunca é exibido, correto nos modos mas sem afetar, trabalhador duro. Esse o modelo. E lembro de um fato: esses atores são de uma geração que viveu dificuldades materiais. Isso molda caráter. Endurece. Cria cicatrizes que voce supera e se fortalece ou afunda em auto piedade. Não houve escolhas para eles. Tiveram de seguir adiante sem pensar muito. -------------------- Os filme de Walter Hill são sempre sobre luta. Uma pessoa tentando vencer. Nunca foi um grande diretor e com o tempo se tornou um mal diretor. Mas entre os anos 70-80 fez vários bons filmes. Este é muito bom.
EU CONTRA VOCE. EU COM VOCE.
O ser humano é muito original. É um animal gregário, que necessita estar em grupo, que só é feliz
quando conectado à seus semelhantes, mas ao mesmo tempo ansia por ser único, diferente, original.
A contradição existe desde pelo menos o começo do cristianismo. Na igreja sempre houve a ideia de
rebanho unida aos mártires que se destacavam do grupo, ou aos homens que se isolavam no deserto ou
em cavernas.
Observo agora que em sociedades muito primitivas não existe a ideia de isolamento. Entre indios do
Brasil não se verifica o homem que ansia por sair do grupo, e mesmo na Grécia antiga, nada era pior
que o ostracismo. Ser expulso do grupo era pior que a morte.
Os EUA foram criados conscientemente com a ideia dessa contradição. Sua constituição prega a união
democrática e ao mesmo tempo garante a individualidade. É uma obra perfeita modernista. Pois desde o
romantismo há essa luta interna explícita: fazer parte e ser único, estar sendo apoiado e ser livre.
Se a conciência da morte nos faz humanos, o conflito entre eu e eles nos faz modernos.
Assisti ontem um filme novo com Vin Diesel. O tipo da aventura bem feita que toca em assunto sério. O
tipo de filme que mais gosto hoje, POP e pensante. No filme ele é um soldado morto. Volta à vida com
tecnologia de ponta. Até aí nada demais. Mas ele não sabe que sua memória é manipulada. Implantam novas
memórias nele TODO DIA. A cada novo dia ele crê ter sido casado e que sua esposa foi morta. A cada dia
implantam em sua cabeça um novo assassino, para que desse modo ele mata a cada dia um alvo diferente.
Tenho um amigo, sábio em tecnologia, que trabalha com INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. Para ele não há dúvida: o
mundo do futuro nos dará a vida eterna e esse mundo será perfeito. Chips apagarão emoções dolorosas e a
tristeza será algo tão arcaico quanto o canibalismo. Mas...e o filme toca nesse ponto, mas e se eu quiser
ser triste? E se eu quiser lembrar da dor? E se eu desejar morrer? Haverá nesse mundo o ponto máximo de
conflito entre o TODO e o EU. E sinto que o EU terá de se radicalizar para sobreviver.
Em 2020 há muito de histeria. Meus amigos mais livres vêm nas máscaras símbolo de domínio. Os mascarados
seriam as primeiras ovelhas do novo mundo. Não acho tanto. Continuo achando que há muito de acidental em
tudo que acontece aqui e agora. Mas a luta está explícita: eu e nós, voces e o que é só meu.
O filme se chama BLOODSHOT e o recomendo.
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