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BOHEMIAN RHAPSODY VISTO APÓS UM ANO

   O diretor é Bryan Singer, e eu não lembrava disso. Então já imagino um investidor dizendo; O sobrenome dele é Singer, ótimo para um filme sobre um cantor! Contrata! Melhor ainda! A cara desse ator....parece um mutante! Não foi Bryan Singer o diretor dos X MEN ? Contrata esse diretor já!!!!!!
  Não dá pra levar a sério um filme que coloca o Rock in Rio em 1978. Que faz canções de 1980 serem compostas antes de outras de 1977. Mas ok, isto é apenas cinema, não é um livro sobre o Queen. Mas caramba! Quem é esse cara? Um indiano com uma cabeça enorme, dentes de cartoon, corpo de boneco, e dois olhos esbugalhados. Como não rir? É o Professor Aloprado made em Zanzibar! O ator emite as falas chupando os dentes, arregala ainda mais os olhões, e pior de tudo, usa uma peruca que faz com que ele fique mais parecido com um Mick Jagger mutante que com um Freddie Mercury do cinema. Freddie não parecia baixo, seus dentes não eram tão absurdos e por favor! Ele tinha olhos comuns! Passo metade do filme rindo de tudo, parece Monty Python, como levar aquilo a sério?
  Então ele corta o cabelo e vira um mini Mercury frágil. Freddie era um gay tipo macho, este ator faz o estilo "fofo para os anos 2020". Cansei....
  Brian May e os caras até se salvam. Roy Thomas Baker, um dos maiores produtores da história, aparece no filme apenas como o "cara na cabine". E a relação de Freddie com Mary é quase a de Peter e Sininho...que fofura.
  Tudo culmina com o Live Aid. Mentem. Não fazia anos que eles não tocavam. Haviam tocado em janeiro e o Live Aid foi em julho. Em janeiro de 1985 tocaram aqui, no Rio, em julho estavam em Wembley. Pra que mudar isso?
  É uma das piores bio de rock do cinema.

GÊNIO?

   No último dia do Rock in Rio tem King Crimson. E a banda é massacrada pelos ditos críticos por ser elitista. Oh God!
   Neste tempo de "democracia do gosto" se instaura o "pecado do elitismo". O King é chato. Ok. Mas criticar elitismo? Seria hoje o Velvet Underground chamado de metido à besta? É pecado exigir do público cultura e discernimento?
   Postei video do Glenn Gould. Pianista canadense, morto precocemente em 1982. Ele tocava para si mesmo. Pegava Bach e o explorava ao vivo. Reduzia a velocidade, empacava numa nota, mudava timbres. Ia fundo em cada aspecto do compositor. Para ele o público deveria se esforçar para o acompanhar. E essa é a palavra: esforço. Me parece que qualquer pedido de esforço hoje seria elitismo. Parte-se da ideia de que o público é idiota e assim deve ser respeitado em sua folgada idiotia.
   Genialidade é sempre desconforto. Há gênios felizes, mas não existe genialidade democrática. O gênio exige aperfeiçoamento. É para poucos. É aristocrático.
   Claro que King Crimson não é genial. Mas ele exige um mínimo de concentração. De senso musical. E isso irrita os inconcentráveis sem senso.
   A burrice é a fé do século.

ROCK IN RIO: RED HOT CHILI PEPPERS

   O grande problema do Red Hot sempre foi Anthony Kiedis. O que é estranho, porque todo mundo gosta dele e ele é a cara da banda. Mas todas as canções da banda me passam a impressão de serem sub cantadas. Elas pedem uma grande voz e Anthony tem apenas uma voz correta. E monótona. As canções da banda parecem menos boas do que são. E isso é por causa da voz. Ela, a voz, diminui a força da banda. Com um grande cantor elas seriam geniais.
  O show no Rio foi ótimo. Flea é o melhor baixo do mundo desde 1989. Uma mistura de Bernard Edwards com Bootsy Collins que dá uma pulsação irresistível a tudo o que ele toca. Chad é um grande batera e o novo guitarrista, Josh, é criativo, faz ruídos ótimos. E Anthony, apesar dos meus senões, é a alma californiana da coisa.
  Descobri os Red Hot em 1984 e tenho orgulho disso. Ninguém os conhecia por aqui e quem ouviu comigo, eu tentava catequizar as pessoas, não gostou. Era tempo de George Michael e de Smiths e os Red Hot propunham sol, esportes, mulheres e cores fortes. Contra o rock sombrio e posudo, chique de 1984, eles ofereciam sujeira, sexo e a lembrança do funk de Sly e de Clinton. Num mundo de Bowies e Ferrys, Anthony era Spicolli, a personagem de Sean Penn no filme que o fez famoso. O gazeteiro maconheiro.
  Mais que tudo, entre 84 e 88, foram eles que anteciparam 50% do que seria o rock dos anos futuros ( os outros 50% foram antecipados pelo REM e o Husker Du ). O futuro do rock era americano e não era de NY. Mas aqui em SP se pensava que ele era londrino.
  Na casa dos 50 anos, como eu, eles continuam os mesmos. Atrevidos. Mas amadureceram. E souberam amadurecer. Não ficam mais pelados. Preferem sons mais melodiosos. Mas ainda conseguem pular. Correr. Saltar. E nunca errar. E o swing, esse continua fantástico. No show houve pitadas de Pink Floyd, Zappa, Hendrix e Iggy, mas sempre com muito funk, muito groove, jogo de cintura eterno. E a malandrice do rap.
  Após soníferos como o 20 Seconds to Mars, os caras da Califa deram seu recado. E ele é o mesmo de seu segundo disco: um Freaky Styley.

THE WHO NO ROCK IN RIO ( E GUNS )

   Após o show, Pete Townshend dá uma entrevista para o Multishow. Completamente relaxado, Pete esbanja bom humor sem parecer engraçadinho. Ele está velho e ele está feliz. Conta que Londres em 1963 era um lixo, e que o rock e a arte nascem do lixo, da dificuldade, da pobreza material. Diz ainda que é fascinado por tecnologia, mas que essa ferramenta, surpreendentemente, afasta as pessoas. E as une também. Pete ainda segue o Baba e afirma, e é verdade, que a maioria das pessoas no ocidente detesta a palavra "Deus". Roger ( Daltrey ), não fala a palavra, quando ela surge em canções ele a substitui por "One". Pete é afirmativamente religioso. E isso explica a relação complicada que eu e muita gente tem com a banda.
  Hoje eles são despojados, mas entre 65 - 70 ele eram puro glamour. E continuam sendo um enigma. A gente lembra dos Stones como o grande show de 1972, de Hendrix em Monterey 67, de tanta gente em Woodstock, mas esquece do Who. Ou lembra deles sempre como o segundo melhor. A segunda melhor banda ao vivo, o segundo melhor show de 1968, a segunda maior banda MOD, a segunda melhor banda de Londres. Mas eles sempre foram os primeiros em muita coisa. E uma delas é o fato de ser a banda mais "à parte" da história do rock. Fracos em sucesso na parada de singles, fracos em clips, são insuperáveis em emoção espiritual. No Who original havia a mistura de força bruta e pureza de espírito que nenhuma outra banda tentava. Pete era um bêbado, louco, destruidor, frustrado, violento, mas era sempre um "puro". No rock sempre existiram puros, caras como Paul MacCartney, Donovan, Tim Buckley, mas Pete era mais profundo. Sua pureza não era aquela das crianças ou dos fofos. Era a dos santos. Dor, raiva e muita coragem.
   É a banda que mais me faz chorar. Sempre foi. Mas nunca me lembro deles quando listo minhas top five.
   A banda está melhor hoje. Muito melhor. Desde a morte de Keith em 1978 são os melhores shows do Who. Starkey, filho de Ringo e afilhado de Moon, ganhou sua primeira batera dele, é o melhor baterista do mundo hoje. E preenche bem o vazio deixado pelo maior show man das baquetas. Can't Explain começa a noite. E claro, uma lágrima cai. Pete roda o braço. Roger joga o microfone. E eles se garantem com uma banda enorme. Falar do repertório da banda é comentar o DNA do rock moderno. Eles fugiram do blues e do country da época, evitaram o virtuosismo e a psicodelia e assim abriram espaço para a emoção genuína. Não seguiam um estilo, expressavam uma fé.
  O show do Rock in Rio é um sonho. Não há momento fraco e não há "o melhor momento". São dois velhos, absolutamente velhos, tocando música de velhos e fazendo um show de antológico rocknroll. Dançam, pulam, gritam e se divertem. E não fingem. O fingimento sempre esteve longe, muito longe da banda. Roger e Pete não se dão. Agora se respeitam. Roger é um homem duro e grosso. Pete é "o artista". E isso nunca foi pose. Por isso não se dão. ( Eu amo Roger. Sem ele o Who seria muito menor. E Pete sempre soube disso, por isso o engoliu ).
  Pete anuncia os GUNS e vai embora.
  E os Guns são o outro lado da moeda. Não posso falar mal deles porque eles fazem o hard rock anos 70 que adoro. Slash e Duff são ótimos. Eles pegam o som do Aerosmith e o melhoram. Mas Axl é a coisa mais patética da história dos palcos. Gary Glitter piorado. Dá medo até. E o show não é mais que ginástica. Eles andam pelo palco, correm, caminham... Aguento 10 minutos. Chega!

ROCK IN RIO 2015

   Há toda uma geração mimada que hoje faz rock. A gente nota isso no modo como eles se apresentam. O Sheppard mostrou bem isso. Uma banda bonitinha, da Austrália, imitando o pior do Fleetwood Mac. E não foi ruim. Foi um tipo de bailinho de 15 anos.
   Falei milhões de vezes que o rock é agora outra coisa. Sam Smith é rock. Visto em 2015 ele é rock. Faz soul diluído. Deve ter escutado bastante Jamiroquai. Seal. E Simply Red. Aprender a diluir com diluidores. Duvido que entenda Smokey ou Al Green. Esses caras tinham fome. E tinham fé. Sam Smith apenas canta.
   Elton John foi uma surpresa boa. Estava feliz e trouxe Dee Murray e Nigel Olsson. Solou ao piano. Bastante. E não tocou Honky Cat. Aliás seu repertório é tão rico que dava pra tocar mais duas horas só com hits. Rod Stewart envelheceu bem. Está bronzeado e bonito. Magro  e feliz. E trouxe várias mulheres ao palco. Isso ele aprendeu com Ferry. O show foi curto e ele não cantou as melhores músicas de sua carreira. Foi divertido. Ele sabe viver.
  O Motley Crue mostrou o destino do rock de arena dos anos 80.
  E o Metallica foi chato, melancólico, burocrático. Rock pesado tem de ser sincero. Não dá pra disfarçar. É excelente ou é ruim. O Faith No More foi tédio puro. Tudo neles parece mais do mesmo. Durante dez minutos parece ótimo. Depois vira martírio.
  Hollywood Vampires. Uma banda que fez rock com cara de rock. Tem visual, tem pose e tem festa. Adorei. Tocaram tudo: T Rex, Love, Spirit, Stones, Who....Alice Cooper ainda tem voz e Joe Perry está ótimo. E tá lá o Johnny....o cara sabe.
  Shows de Las Vegas são o grande lance do rock. Luzes, paetês e plumas. Dança. Tom Jones com Elvis. Ann Margret com Minelli. Isso tem sempre. Isso faz dinheiro.
  E tem as bandinhas do bem. Os bacaninhas fofos.
  Nada foi como Jack White. Ou Bruce cantando Raul.
  Foi balada.

The Hollywood Vampires with Johnny Depp at Rock in Rio 2015 Brazil (Full...



leia e escreva já!

EU SEI PORQUE VOCE NÃO GOSTA DE ELTON....ELTON JOHN, A BIOGRAFIA, DE DAVID BUCKLEY

   Elton John é feio. Não a feiura que pode até criar um certo interesse, como a de Alice Cooper ou de Lemmy. É a feiura medíocre. O feio que voce mal nota que existe. Isso marcou toda a vida de Elton. Ele jamais aceitou sua aparência, sempre odiou sua imagem. Em seus melhores momentos ele relaxou e quase ficou bonitinho. Em seus piores ele se auto-zombava e no processo desacreditava sua música. Se vestia de pato, de Mozart, de rei ou de Liberace. Dizia para o mundo, eu sei, eu sou ridiculo. Os fãs se sentiam incomodados, o resto olhava e pensava: -eu sempre soube, Elton é um palhaço.
  Mas não foi sempre assim, tão evidente. Esse martírio, que sempre houve, mas que se intensificou nos anos 80, foi aditivado por muito pó e muito álcool. Como aconteceu com Rod Stewart, David Bowie e Paul MacCartney, dentre muitos, a década viu a credibilidade dos reis dos anos 70 derreter. A maioria por excesso de drogas, dinheiro e puxa sacos, alguns por tédio e outros por medo de envelhecer ( o que fez com que tentassem se fingir de adolescentes ). Bowie foi dos poucos que conseguiu se reerguer. Elton, para todos nascidos depois de seu auge, permanece como um tipo de bobo rei do pop brega. Nada mais distante da verdade. Assim como Rod, que entre 69/76 foi um grande artista do folk, do rock e criou algumas das melhores letras de todo a cena, Elton foi entre 1970/1977 um grande artista. E era levado a sério. Todos os seus discos, 14 até então, dois por ano, eram ótimos e algumas de suas faixas, 3 ou 4 por disco, eram geniais. Dentre seus fãs, John Lennon, Leonard Cohen, Joni Mitchell e depois Elvis Costello. 
  Improvável sempre foi a marca de Reginald Dwight, o nome de batismo de Elton. Filho único da baixa classe média, nunca se deu com o pai, piloto de avião. Se dava com as mulheres da casa, mãe e tias. Na escola adorava todos os esportes e era bom em tênis e crickett. Baixo, gordinho, ele se isolava com livros e o piano. Teve aulas de piano clássico, mas se interessava por rock, Little Richard, Jerry Lee Lewis, e aos 15 anos começou a tocar numa banda, a Bluesology. Profissionalmente. Era 1962. Ao mesmo tempo Elton se torna um dos maiores colecionadores de discos da cidade. Gosto que ele manterá por toda a vida, ele é capaz de dizer quem toca no disco de uma obscura banda punk de 1980. E mais, qual a gravadora, onde foi gravado e a ordem das faixas. É um fato que pouca gente sabe, mas Elton até hoje continua escutando tudo de novo que surge todo ano. É seu maior hobby. 
  Em 1963 ele vai trabalhar numa editora de música. Tem 16 anos. Continua na banda, de noite. Nessa editora ele pode escutar tudo o que ela publica antes de ser lançado. Isso fará com que Elton seja sempre o primeiro cara a escutar tudo o que os Beatles recém produziram, em primeira mão. Todo o aprendizado se dá nesses anos. Piano a noite em pubs, faixas novas e fenomenais de dia. 
  Em 1968 ele sai da banda. Na editora se une a um jovem poeta chamado Bernie Taupin. Essa será a maior dupla do pop depois de voce sabe quem. Bernie escreve poemas e os passa para Elton. Elton faz uma melodia sobre os versos. Estilo de composição mais dificil, rara, que para os dois funcionou. Ainda morando com os pais, e sem nenhum envolvimento físico, Bernie, que é dos cafundós do campo inglês, vai morar na casa da mãe de Elton. Ele se torna o irmão que ele nunca teve. Hetero convicto, nunca haverá nada entre Bernie e Elton. Que na época estava noivo. Uma conversa com o cantor Long John Baldry mostrou a Elton que sua verdade era ser gay. Ele rompe o noivado e ao mesmo tempo se lança ao mundo do rock.
  1970 tem o primeiro disco. Elton John tem a capa escura para disfarçar sua falta de sex appeal. O sucesso é absoluto. Fica 44 semanas nas paradas. Your Song se torna um clássico e o LP, cheio de arranjos orquestrais do grande Paul Buckmaster, é elogiado por colegas e por críticos. Nos próximos sete anos Elton será responsável por 3% das vendas de discos em todo o mundo. Percentual só igualado em 1984 por Michael Jackson e por mais ninguém. Serão sete LPs seguidos alcançando o primeiro lugar nos EUA ( só os Beatles conseguiram isso ) e mais de 14 singles entre os cinco primeiros postos. Ele fará duas excursões por ano, quebrará, junto ao Led Zeppelin, recordes de público, e se tornará mundialmente conhecido por crianças, velhos e roqueiros. Estará em todo canto. TV, cinema, jornais, tudo. Elvis, Beatles, Michael Jackson e Elton, são os únicos quatro reais fenômenos do rock, pois mesmo os Stones, Led, U2 ou Dylan jamais conseguiram penetrar em todas as classes e todas as idades.  Sete anos em que seus rivais foram todos batidos. Gente como Eagles, Pink Floyd, Bowie, Stevie Wonder, Neil Young, Stones. 
  Bowie era seu grande rival. Porque de certo modo os dois corriam, no começo, na mesma raia. Rock glam agitado e baladas ao piano. Com uma grande diferença, crucial. Bowie queria ser um artista completo. Elton queria se divertir. Desse modo o público de Bowie era menor e fiel, o de Elton imenso, e infiel. Bowie podia se dizer bissexual. Seu público aceitava e até queria isso. Quando em 1976 Elton disse ser bissexual foi o começo de seu quase fim. A maior parte de seu público, conservador, o abandonou. 
  Elton diz no livro que Bowie nunca foi gay. Ele era um hetero que se fazia de gay para causar frisson. Já Elton era um gay que tentava esconder isso para não causar frisson. 
  Generoso, mão aberta, até os 28 anos Elton jamais havia se drogado. A partir daí ele se torna um caco. Cocaína e whisky. São os anos 80. Engraçado observar que ele nunca deixou de vender bem, o problema é que a inspiração se foi. A partir de 1979, e até 2002, Elton só lançaria albuns fracos e muito raramente algum single bom. Quanto aos shows, eles se tornaram forçados, frios, esquisitos. Sempre lotados, mas ao mesmo tempo quase constrangedores. Em 2002 ele grava The Captain and The Kid, enfim um grande disco. Os shows voltam a parecer mais reais. Ele para com as drogas, para com as fantasias, o piano volta a ganhar destaque. É um renascimento. Ele se casa, adota um filho, leiloa suas roupas mais ridiculas, e continua trabalhando ativamente em montes de instituições de caridade. É o mais dedicado dos astros de rock. Ele nunca discursa. ele vai e faz.
  Mas antes...
  Em 1971 exsitiam dois tipos de astro do rock: o glamuroso muito louco e o sofrido herói. Pelas músicas em seus discos ele poderia ser os dois. Mas no palco ele mudava. Se fantasiava para tentar esconder sua barriga, a careca e o rosto balofo. E ria, fazia piadas, pulava, conversava, festejava. Elton não tinha vergonha de ser feliz, de demonstrar prazer por estar num show. E, que ironia, isso destruia sua credibilidade!!!!!!
  Apesar de feio ele conseguia ser o maior dos astros. Mas os criticos começaram a não lhe levar a sério. Era como se um cara tão feliz não pudesse ser de verdade. Explico melhor...
  Lembro que no Rock in Rio de 1985, Rod Stewart cantou numa noite. E eu era fã de Rod ( ainda sou ). Só que aconteceu uma coisa horrível. Rod cantou Sailing rindo!!!! E eu escrevi em meu diário que Rod havia naquela noite destruído Sailing. Sailing era pra ser cantada com lágrimas nos olhos...
  Hoje sei que eu estava errado. Mas então foi minha reação. Rod Stewart perdeu a credibilidade comigo e só a readquiriu exatamente dez anos depois, quando o vi no acústico MTV. Com Elton se dava o mesmo. Ele brincava enquanto tocava Rocket Man, Ticking, Sixty Years e tantas outras. Baladas maravilhosas, de cortar o coração, lindas, tristes, e ele alí, vestido de pirata, rindo...O efeito no pessoal que o levava mais a sério era devastador. Era como se Morrissey cantasse How Soon is Now com o Village People, ou Dylan cantasse Like a Rollin Stone dançando no palco e feliz. ( Hoje eu acharia lindo, mas em 1975 isso seria inaceitável ). Rock era coisa séria, e Elton parecia não ser. 
  E não era. Era talentoso, genial até, mas sempre soube que subir num palco e poder cantar era um presente, uma sorte, uma alegria. Como parecer sofrer quando se fazia aquilo que mais se gostava? Elton era o mais anti-hipócrita possível.
  Poxa! Escrevi muito? É que eu amo Elton e este livro é muito bom. Mesmo para quem não gosta tanto, porque o autor, que já escreveu bios de Bowie, Bryan Ferry e até dos Stranglers, dá sempre uma geral no período. E nunca deixa de criticar os baixos, muitos, de uma carreira tão rica. A loucura do glam, a decadência do estúdio 53, os patéticos anos 80, o sucesso nos anos 90, a paz nos anos 2000. E o que fica é o fato de que Elton é sim um grande cara. Nada RocknRoll, um ET no meio, mas um grande cara. Fala-se de sua amizade com Lennon, com Rod ( que é seu melhor amigo ), e de suas coleções de arte. E a aventura de 1978, quando ele comprou seu time do coração, o Watfort, na quarta divisão, e o levou até a primeira e um segundo lugar...Eu tinha esquecido disso!
  Beleza de leitura.
  PS: Captain Fantastic de 1975. Esse talvez seja sua obra=prima. 
  Para quem quer quebrar o preconceito, aconselho The Tumbleweed Connection, de 1971.
  Divirta-se. E se emocione.

APENAS UM SIMPLES SHOW DE ROCK ( FINALMENTE DE VERDADE )

   Estou longe de ser um fã de Bruce Springsteen. Sou formado na escola do cinismo frio de Ferry, Bowie, Jagger e Ray Davies, e mesmo quando vou para meu lado mais terra, mais raiz, prefiro o controle reservado de The Band ou de JJ Cale. Coisa de refinamento. Mas...
   Muitas vezes, por vermos poucos shows, não compreendemos o porque de tanto sucesso de um cara. Só o disco não explica ( assim como há aquele que só o disco explica, seus shows são fracos ). Bruce nasceu para o palco, isso eu sabia, mas não imaginava que ele ainda fosse tão bom.
   Catarse sempre foi o maior segredo do rock. Se os Stones são agora uma pálida memória de algo que morreu, Bruce se mantém vivo. Seu show parece original, sem ensaio, direto, cheio de suor e de verdade. Porque?
   Sua escola não é a de Dylan. Dylan é frio e distante, sempre foi. A escola de Bruce é negra, a dos menestréis negros do campo. Nisso ele está muito perto de Van Morrison. E de Bono. Bruce e Bono fazem a mesma coisa, um esforço absoluto para levar o show a catarse. Os dois me recordam pastores batistas. A multidão é conduzida ao êxtase. Eles se matam no palco. São sempre cem por cento esforçados. Trabalhadores. Fogem da aparência de artistas. São do povo.
   Bruce não desiste. Pula, corre e nunca perde a voz. Ri muito e parece se divertir. Mas quando a canção o exige, fica sério e fecha os olhos. Bruce ao contrário de tantos, ainda leva a sério sua própria obra. Jagger canta Street Fighting Man com um bocejo. Rod canta Sailing como obrigação. Bruce canta Born in the USA como sempre, no limite.
   Ele cantou Raul...E nunca Raul me pareceu tão bom. E encerrou só, ao violão. Foram duas horas e meia em que Bruce se atirou ao público, teve o microfone desligado, beijou, levou beijos e cantou todo o tempo.
   Várias músicas de Bruce não são do meu agrado. Mas ao vivo todas parecem boas. Ou mais que isso. Fiquei de olhos molhados com Born to Run. A única comparação é com o Queen, outra banda que era sempre tudo ou nada.
   Quem viu, viu. Quem não viu...

ROCK IN RIO

   Michael Jackson, Madonna e Prince colocaram o POP numa nova época e com isso transformaram o velho rock em coisa para sempre PROUSTIANA. O rock deixou de ser a ponta da lança e virou madeleine que sempre remete a alguma sensação do passado. Porque mesmo os meus alunos de 12 anos, quando gostam de rock, ficam naquela coisa de "detestar os anos 2013 e amar o que deveria ter sido SEATTLE-BEATLES-WOODSTOCK-VELVET UNDERGROUND. A coisa congelou e é irrelevante. O futuro passa longe do rock. Virou jazz, virou blues. Pode ser até sincero, emocionante, mas é SEMPRE coisa derrotada, passada, mofada e levemente preconceituosa.
   Não há diferença entre um show de Elton Juhn e algum cantor de piano com 20 anos. Só as rugas e a quantidade de boas canções. Todas as cantoras fofas de violão e de cabelinho são idênticas a Joni Mitchell ou a Rickie Lee Jones. A única diferença é que Joni era melhor. Se em 1980 ser velho era copiar alguma coisa com mais de dois anos, hoje ser "jovem" é se parecer com algo que tem mais de 30 anos. Esquisito pacas! O rock é a trilha sonora daqueles que não aceitam a passagem do tempo.
   É claro que alguns shows são bacaninhas! Mas chamar um show de rock de "divertido, bacana ou super-interessante" revela sua falência. Rock tinha de ser revoltante, surpreendente e visceral. Ou não era rock, era pop. Por isso que os caras se detonavam. A exigência dionisíaca era imensa.
   Nunca esqueci de uma matéria de Ezequiel Neves escrita em 1981. Ele tinha ido a Londres e comentava os shows que vira por lá. Falava dos "novos" Duran Duran, Classix Nouveaux, Visage e Ultravox. Reclamava que eram shows ensaiados demais, sem suor, limpos, shows sem erros, sem riscos. Dizia que eles copiavam Bowie só na superficie. Pois bem. Hoje, em 2013 posso dizer, eles eram o futuro.
   Nerds não namoram. E nunca parecem ser sexys. O rock é hoje música do cara que tira 10 em física. Como pedir para essa música voltar a ser sexy, solta, doida e livre? A galera rebelde está ligada em esporte e não mais em som. O cara que foge de casa, que namora todas, que se mete em encrencas, esse dá uma importãncia enorme a esporte, e quando escuta música é algo para o acompanhar no skate, no surf, na moto ou na briga. Nunca será rock. Nos anos 80 além de MJ, Madonna e Prince surgiu um novo fenômeno jovem, o esporte como moda. Basquete, surf, skate, bike, snow, esses passaram a ditar visual e comportamento. O rock os seguiu. E ficou mofado. Porque nunca os alcançou. Música de esporte passou a ser o RAP. Ou eletro. E só.
   A ligação do rock com o corpo se foi nesse momento. A coisa libertária e cheia de gozo que havia em Jagger, Iggy Pop, Jim Morrison e mais uma multidão, foi perdida. O rock passou a ser a música de Morrissey, do cara que no máximo se masturba no quarto. E esse cara é sempre um fraco. O nerd viu nele sua salvação. O rebelde riu e puxou o carro. O tempo anda. Morrissey se lamenta e sonha com Oscar Wilde.
   Diante de Jay Z, Justin ou Beyoncé, o rock "rock", o rock que sonha em ser Beatles, Led Zeppelin ou Bowie, sabe que seu tempo passou. Ele fica parecendo pequeno, nada potente, fútil. Porque no mundo que agora, sem o disco e o CD, é feito de show e de imagem digital, competir com esses shows tipo LAS VEGAS-DISNEY-CABARET é impossível. Três caras com guitarra, baixo e bateria nada podem contra trinta dançarinos e um bom cantor.
   Porque esses caras têm talento. E cantam pacas! E o principal: Eles têm sangue nos olhos. Vieram do gueto. Trabalharam duro. E seguem a tradição pop de Marvin Gaye e de Diana Ross. A essas vozes uniram o puteiro de Madonna. Eis a modernidade. Que pode ser muito bonita. Mas nada tem a ver com rock.
   Pois voce acha que o BOB DYLAN nascido em 1990 tá cantando o que? Ele canta a saudade da route 66, ele canta a solidão de seu quarto de teen, ele canta a redoma de seu amor triste. Mas sabe, se for sincero, que nasceu tarde demais. Se Dylan foi um futuro, esse cara é agora um passado que virou madeleine.