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24 HORAS NA VIDA DE UMA MULHER E OUTRAS NOVELAS - STEFAN ZWEIG. Nós não pensamos mais. E a culpa não é da internet.

Um grande livro com algumas novelas e alguns contos desse importante autor alemão. Zweig, como voce sabe, foi na primeira metade do século XX, um dos autores mais lidos do mundo. Amigo de Freud, ele morreu no Brasil fugido do nazismo. Ler Zweig é travar contato com uma inteligência enorme. Sua prosa, rica, cheia de detalhes, profundamente psicológica, dá retratos precisos, completos, reais, de pessoas em crise. Em um conto ele explica de modo sublime, o exato momento em que duas meninas de 12 e 13 anos perdem a fé na vida e se tornam "adultas". Em outra história, ele narra a transformação de um jovem cheio de vida e de paixão em uma pessoa sem fé no futuro. Ler Zweig é aprender sobre a mente e o sentimento das pessoas. Ele é sábio. Sem jamais se exibir como mestre ou guru. Ele simplesmente narra e descreve. Com riqueza. ------------------- Agora vem à minha mente: o que houve? Porque hoje nada se escreve de tão sábio? Porque entramos na era do cinismo, como se não valesse mais a pena narrar nada, como se a vida de uma pessoa fosse isenta de interesse. Não se engane! Isso aconteceu não porque nosso mundo é pior. Não porque estamos presos na net. Não. O fato é que nossa educação, no geral, é terrivelmente pior. Falo da educação verbal, o uso da língua, o vocabulário, o saber conversar. A culpa não é da pressa, sejamos mais objetivos, a educação humanística é muito, muito pior. ------------------- Quantas palavras uma pessoa culta usa em seu dia a dia? Sem vocabulário não se transmite o que se quer dizer. O que se fala fica pelo meio. Incompleto. Nossos livros são assim. Não dizem, balbuciam. ------------------- Desse modo nossos possíveis grandes personagens não são descritos. Ficam apenas como sombras ou pior, o que ouvimos é somente a voz de autor, sempre presente, única voz que parece real. E mesmo essa, fala mal. ------------------- A educação falha, preguiçosa, pobre, vem travestida de crítica ao passado, quando na verdade é impotência diante do passado. Incapaz de se ombrear com Zweig, o autor finge desprezar Zweig. ----------------- Causa espanto o quanto mudamos! O pensamento abrangente de um autor de então nos humilha. Faziam com que a vida se mostrasse maior, mesmo em sua dor ou em sua miséria. Hoje, mesmo um autor muito bom como Houellebeq, passa o tempo dizendo o quanto nada pode ser dito porque nada faz nenhum sentido. Ele conta histórias vazias de gente vazia. E eu pergunto: porque o desespero de Kafka rendia textos densos e complexos e o de Houellebeq, mesmo sendo bom, é bom por seu vazio bem feito? A resposta é tão óbvia que parece pueril: uma falha na educação formal, um ambiente que favorece o discurso raso, uma conversação que dá valor à objetividade, mesmo que seja mal articulada. Pensamos mal porque aprendemos pouco.

ÊXTASE DA TRANSFORMAÇÃO - STEFAN ZWEIG

Stefan Zweig morreu no Rio de Janeiro em 1942. Ele e a esposa se mataram, juntos, no Copacabana Palace. Tendo fugido da Europa de Hitler, Zweig acreditou que o mundo se tornaria Nazi, que a Alemanha iria vencer e assim, apavorado, ele saiu da vida. Não estranhe, em 1942 apenas Churchill tinha a certeza de que os nazis perderiam. ---------------- Stefan Zweig, parte e amigo da cena de Viena da virada do século XX, foi um autor bastante popular. Nas décadas de 1910-1920-1930, ele era um best seller. Tanto que o cinema adorava levar seus contos e peças para as telas. Dentre sua imensa produção há de biografias, ele escreveu várias, até romances. Como todo autor de língua alemã, ele amava as descrições. Seu estilo é aquele realismo frio, que detalha a cor das paredes, a testura do tapete, os desenhos nas xícaras. Nesse mundo vienense, de seus amigos Freud e Schnitzler, o sexo é centro de tudo. Ele é dinheiro, doença e um jogo. Hoje ele não parece mais tão chocantemente real, mas sua bisavó o lia como autor " muito adulto". ----------------- Brasil, País do Futuro foi seu último livro. --------------- Neste, que acabo de ler, ele conta a história de uma menina pobre que conhece a vida dos ricos e muda seu modo de ser. É um tema nada original, aqui desenvolvido com cuidado e distanciamento. Há algo de árido nesta história, o pessimismo é absoluto. Sabemos que tudo dará errado porque deve dar errado. O destino, tema tão alemão, brinca com a jovem tímida que se perderá. Não há como não ser assim. ----------------- Eu, particularmente, não gosto desse estilo de escrita. Não há oxigênio. Eu sinto Zweig como um autor crispado. Esse seu modo saiu de moda nos anos de 1950, época que pediu autores mais livres, criativos, menos detalhistas. Mas atualmente ele tem voltado a ser lembrado. Zweig, como toda a Viena de então, se tornaram presentes na virada de mais um século, o XXI. É isso.