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EMANUEL AX TOCA HAYDN
Meu crítico favorito de música diz que, para alguém que possui algum conhecimento musical, é impossível confundir Haydn com Mozart. Eu, durante muito tempo, não percebia muita diferença entre os dois. Mas agora, e ouvindo este cd isso ficou bem claro, percebo que, como diz o autor, Carpeaux, Haydn é do período clássico, um pré-romântico, enquanto Mozart é anterior. Em Mozart não há nada de revolucionário, ele é mestre naquilo que já havia; Joseph Haydn cria formas novas e se torna assim um inovador. Ironia: o mais calmo e pacato dos homens foi um inovador em sua arte. -------------------- O que ouço são 5 sonatas para piano. Ax é considerado um dos maiores pianistas deste século. O som brilha. Haydn nunca é trágico. Sua música, clara, sempre revela o caráter que dizem ter Haydn: ela é bondosa. De tudo que já ouvi, ninguém parece tão isento de maldade, ironia, agressividade ou vaidade como Haydn. Sua música sempre transmite correção. É dificil explicar em palavras, mas é como se mesmo em temas melancólicos, houvesse em sua música sempre a certeza do bem. Não em seu sentido de igreja, mas no sentido de que a vida é boa e os homens são bons. Haydn, voce sabe, abriu o caminho para a vinda de Beethoven, logo a seguir e quase ao mesmo tempo. E nós sabemos, com Beethoven estamos no domínio do terrível. Ouvir os dois em sequência é ir da luz ao escuro sem perder o sublime. Não fiz esse experiência ainda.
A SALVAÇÃO DA ARTE E DA MINHA CIVILIZAÇÃO. ... JOSEPH HAYDN- MISSA DE SANTA CECÍLIA.
Um colosso! A obra, PRIMA de fato e merecimento, já começa nos assombrando. O coro, imenso, assalta nossos ouvidos e cativa nossa alma. Inteira. Haydn foi mestre de Beethoven, e de Mozart antes. Seu "azar" foi ter vivido entre os dois. Mas ele é tão genial quanto ambos. Seu "problema" é ter tido uma vida pacífica. Não há nada de sensacional para se dizer sobre a biografia de Haydn. E é por isso que ele é menos considerado que os outros dois. Um precioso detalhe: a música de Haydn, toda ela, exala bondade. Em Beethoven sempre sentimos algo de "mal" em sua beleza. E em Mozart convive a sensação de beleza com um ar de narcisismo. Haydn não. Sua música é inocente. Sempre linda, muitas vezes genial, sempre com bom coração. -------------- Haydn inventou a sinfonia e deu ao quarteto status de arte perfeita. O que mais se pode querer? Eugen Jochum rege a orquestra da Rádio da Baviera, em 1959, e a beleza se faz imensa. É a Missa de Haydn. Coros triunfantes, violinos viris, metais angélicos, vozes que se criam em camadas de som que caminham ao céu. Paraíso em forma de música. O coro, que belo!, murmura e se eleva, entra em júbilo, se compadece, e revive. Toda a cerimônia sagrada da Missa Católica em sua expressão máxima. ------------- Não temos consciência disso, mas durante 600 anos, sim, seiscentos longos anos, foi a Igreja Católica que, sozinha, manteve viva a cultura do ocidente. Do ano 400 até o ano 1000 de nossa Era, foi nos conventos e igrejas, abadias e monastérios que se guardou como tesouro os livros de Platão, Aristóteles, Homero, Cicero e vasto etc. E depois foi dentro da fé católica que se deu o reviver da filosofia, da pintura, da arquitetura e da música. Primeiro na música coral e depois no orgão, por fim na orquestra. O que entendemos por nossa música é filha da arte eclesiástica. Sem essa meia dúzia de padres e monges fieis, provávelmente hoje teríamos outro tipo de música e de arte em geral. ( Ciência também, mas essa é uma outra longa história ). -------------- Pois esta missa é um dos ápices dessa jornada. Do KYRIE ao AGNUS DEI, uma jornada completa. Deus do céu! Essas vozes são testemunhos de uma presença. O que me resta é agradecer por poder ouvir.
3 MOMENTOS DA MÚSICA E DA MENTE.
Esta postagem é feita apenas de suposições. Li algumas coisas sobre música, conheço a história da ciência e da filosofia, mas não sei tocar instrumento algum. Pior, não leio música...
Me parece que podemos brincar e usar os 3 vídeos que postei abaixo para entender as mudanças de mentalidade que aconteceram no mundo ocidental nos últimos 250 anos. Meu professor de psicologia diz que o homem de 1800 nada tem a ver com o homem de 2017. Penso que ele usa esse pensamento para poder dizer que a religião é obsoleta. O que tenho certeza é que a mente racional muda, o costume muda, mas nossas necessidades vitais e nossos medos são os mesmos. Seja em 2020 seja em 200 AC.
Começo por Haydn, mas antes devo dizer que o século luminoso começa com Bach. Ele escreveu para a igreja luterana, para Deus, e se via como um simples funcionário. Mas Bach cria a afinação que conhecemos, inventa a arte da fuga e a harmonia moderna. Ele vivia como um homem do século XVII, mas sua arte, pura invenção, pura fórmula, é do século XVIII. E Haydn é, com Mozart e Haendel, o gênio do século.
Se eu tivesse que explicar a mente do século XVIII diria que é a inteligência racional à procura da beleza. E belo era aquilo que iluminava. Ou seja, é um tempo que ama a clareza. Podemos colocar aí o amor pelo espelho, o ouro, as fontes, os lagos, o sol e as cores claras. Mas devemos destacar acima de tudo a ARTE DA CONVERSA. Dizer com clareza aquilo que se pensa e expor com brilho o que se sente. É o tempo do nascimento do romance, é o tempo da luz. A música de Haydn é toda esse mundo. Ela é clara, leve, limpa, correta. Se desenvolve racionalmente, sem exagero na emoção, em busca da beleza. E a beleza se chama perfeição. A união da inspiração com a técnica.
Em fins do século, com Goethe, Napoleão e Beethoven, se anuncia a mudança. A beleza será sublime e o sublime significa o exagero. A emoção deve ser exagerada, amplificada, esticada e ampliada. A música se torna grande, oceânica, vasta. É tempo que ama a sombra, o inverno, a lua, o oceano e o veludo negro. A beleza se confunde com a expressão do coração. O compositor escreve para si mesmo. Seu desejo é mostrar sua alma ao mundo.
Coloco Schonberg como o homem do século XX. A beleza ainda existe, mas ela vem dentro da angústia. O belo agoniza no âmago da alma e a alma está dilacerada. A busca não é mais pelo belo, é pela verdade. A Verdade se torna o fetiche. O artista busca expressar a verdade total. E por não poder compreender a vida, expressa a incompreensão. A música se torna a busca de uma verdade final. Tudo é tentado porque essa verdade pode estar inclusive no ruído, ou no silêncio absoluto. É um tempo que pensa ser corajoso, verdadeiro, profundo. Mas talvez seja apenas assustado. Desamparado.
Me parece que podemos brincar e usar os 3 vídeos que postei abaixo para entender as mudanças de mentalidade que aconteceram no mundo ocidental nos últimos 250 anos. Meu professor de psicologia diz que o homem de 1800 nada tem a ver com o homem de 2017. Penso que ele usa esse pensamento para poder dizer que a religião é obsoleta. O que tenho certeza é que a mente racional muda, o costume muda, mas nossas necessidades vitais e nossos medos são os mesmos. Seja em 2020 seja em 200 AC.
Começo por Haydn, mas antes devo dizer que o século luminoso começa com Bach. Ele escreveu para a igreja luterana, para Deus, e se via como um simples funcionário. Mas Bach cria a afinação que conhecemos, inventa a arte da fuga e a harmonia moderna. Ele vivia como um homem do século XVII, mas sua arte, pura invenção, pura fórmula, é do século XVIII. E Haydn é, com Mozart e Haendel, o gênio do século.
Se eu tivesse que explicar a mente do século XVIII diria que é a inteligência racional à procura da beleza. E belo era aquilo que iluminava. Ou seja, é um tempo que ama a clareza. Podemos colocar aí o amor pelo espelho, o ouro, as fontes, os lagos, o sol e as cores claras. Mas devemos destacar acima de tudo a ARTE DA CONVERSA. Dizer com clareza aquilo que se pensa e expor com brilho o que se sente. É o tempo do nascimento do romance, é o tempo da luz. A música de Haydn é toda esse mundo. Ela é clara, leve, limpa, correta. Se desenvolve racionalmente, sem exagero na emoção, em busca da beleza. E a beleza se chama perfeição. A união da inspiração com a técnica.
Em fins do século, com Goethe, Napoleão e Beethoven, se anuncia a mudança. A beleza será sublime e o sublime significa o exagero. A emoção deve ser exagerada, amplificada, esticada e ampliada. A música se torna grande, oceânica, vasta. É tempo que ama a sombra, o inverno, a lua, o oceano e o veludo negro. A beleza se confunde com a expressão do coração. O compositor escreve para si mesmo. Seu desejo é mostrar sua alma ao mundo.
Coloco Schonberg como o homem do século XX. A beleza ainda existe, mas ela vem dentro da angústia. O belo agoniza no âmago da alma e a alma está dilacerada. A busca não é mais pelo belo, é pela verdade. A Verdade se torna o fetiche. O artista busca expressar a verdade total. E por não poder compreender a vida, expressa a incompreensão. A música se torna a busca de uma verdade final. Tudo é tentado porque essa verdade pode estar inclusive no ruído, ou no silêncio absoluto. É um tempo que pensa ser corajoso, verdadeiro, profundo. Mas talvez seja apenas assustado. Desamparado.
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