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MOUSSORGSKI POR LORIN MAAZEL

A soberba orquestra de Cleveland toca, em 1979, duas obras de Moussorgski: QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO e O MONTE CALVO. Primeiro vamos a um fato: ambas as obras são para piano solo, é assim que o russo as compôs. Então quando ouvimos sua versão orquestral o que estamos escutando é tanto Moussorgski quanto o compositor que fez o arranjo para orquestra. ---------------- Rimski-Korsakov fez o arranjo para MONTE CALVO. Uma das músicas mais famosas de todo o repertório. É assustadora. É perfeita. Korsakov foi uma dos melhores arranjadores do mundo e eu o admiro também como compositor. Ele conheceu Moussorgski no fim do século XIX. Sua obra é trabalho de amor. -------------- Já QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO, tão conhecida peça quanto MONTE CALVO, é obra de Ravel. O francês é bem mais jovem e não conheceu nem o túmulo de Moussorgski. Penso que na verdade Ravel está se exibindo aqui. Toda a obra, belíssima, tem algo de Narciso. Tipo: vejamo que faço com este acorde! Hey! Olhem como sei usar TODA a orquestra!!!!--------------------------- E ele usa. Como usa! Ravel é dos meus favoritos, mas caramba!, que mania ele tem de ser grandioso!!!! Gongos, pífanos, xilofones, Ravel dá voz a todo tipo de instrumento. Barulho é sua gramática. A obra é grande, pesada, quase exagerada. Mas Ravel é Ravel. Adorei. --------------- Moussorgski morreu jovem e por ser russo autêntico pouco ligava para as regras européias de composição. Renovou a música. Era selvagem e oriental. Errava muito e respondia com um grande E DAÌ? Era genial. Pena ter vivido pouco e assim composto quase nada. Quase um louco? Não. Apenas russo. E nehum russo é 100% normal.

MÚSICA INGLESA

Um dos mistérios da história cultural é porque uma nação com tão boa literatura, a Inglaterra, tem uma música tão pobre. O maior compositor inglês é alemão, Haendel, e o único realmente nascido na ilha, que pode ser chamado de gênio, nasceu a mais de 300 anos, Purcell. Ingleses sempre amaram música, boas orquestras e boas casas de espetáculo sempre existiram. Divas da ópera ganhavam fortunas por lá, desde o século XVIII, mas os talentos da ilha não vingavam. Os ricos ouvintes importavam italianos, alemães. ---------------------- No século XX dizem ter havido um renascimento da música inglesa. Holst, Britten, Vaughan-Willians, Delius, Elgar, Walton. Ouço agora dois cds com os quatro últimos dessa lista. ---------- As Variações Enigma de Edward Elgar, talvez o mais amado compositor moderno pelos ingleses, não pelo resto do mundo; é uma obra que revela toda a fraqueza de tanta música de lá: cai às vezes em clima de fanfarra. É chata, é pretensiosa, é banal. E barulhenta. Não é longa, mas parece durar uma semana. Não diz nada, fala demais. Dizem bons autores, que ingleses amam música coral, de igreja protestante, e música de banda, de marcha militar. Elgar prova isso. Mas há Delius. Frederick Delius. DUAS PEÇAS PARA ORQUESTRA PEQUENA e DUAS AQUARELAS. Que coisa delicada, bela, sonhadora, diáfana. Emociona o modo como ele coloca os sopros sobre uma cama sutil de cordas. A harmonia que se desenrola em ondas rodopiantes. É música que lembra Debussy, mas está longe de ser uma cópia. Seria um Debussy mais sólido, mais simples, incrivelmente surpreendente. A melodia inicia e voce jamais sabe para onde ela vai. Pássaros entre folhagens. --------------- Vaughan Willians é ainda melhor. CONCERTO PARA ÓBOE é hipnotizante. Há muito de Ravel aqui. Toda orquestração, sublime, cálida, fresca, é de uma leveza etérea. Mas na segunda obra, THE LARK ASCENDING, temos quase uma epifania. Willians faz tudo soar como lembrete de imaterialidade. Genial. ------------------ Daniel Baremboin rege a Orquestra de Câmara Inglesa. Perfeitos.

Martha Argerich Ravel Gaspard de la nuit I. Ondine

Maurice Ravel: «Daphnis et Chloé». 2ème Suite, Simon Rattle

AR FOGO TERRA ÁGUA, ELEMENTOS E MÚSICA

Eu me divirto com astrologia. Voce deve estar pensando: Como um cara que tenta parecer racional vem falar aqui de uma superstição como essa tolice astrológica? Bem, ela, a astrologia, não tem a menor base lógica, mas nos meus 40 anos de diversão parece funcionar. Ou dizendo melhor, as coincidências se acumulam. Não, não vou discorrer sobre o tema, ando neste ano de 2021 apaixonado por música e assim como na astrologia existem quatro elementos básicos, água, terra, ar e fogo, dá pra dizer que no mundo musical em cada obra há um elemento que é dominante. Eu sei que Bach era do signo de áries, portanto seu signo era do elemento fogo, mas sua música é como terra, terra marrom cheia de pedras, de raízes e com cheiro forte de folhas decompostas. Beethoven é fogo, seja o fogo que consome a lenha, seja o fogo que irrompe do vulcão e dos raios. Mozart é ar. pois ele não só voa como leva o barco adiante. Nunca sólido, ele está em todo lugar. ------------------ Tenho um CD duplo com algumas obras de Maurice Ravel e ao ouvir LA VALSE, mas não só ela, penso em como ele é aquático. Recordo que em 1988, na TV Cultura, 88 foi o grande ano dessa TV, houve um programa sobre a BELLE ÉPOQUE. Não, Ravel não é dessa época, Debussy que é, Ravel veio depois, mas no dito programa, belíssimo, há um episódio, o último, em que se descreve o fim dessa época de luxo e de prazer ( 1890-1914 ). A câmera mergulha em um lago e no fundo desse lago, iluminado por raios de sol que dançam na água, há um bar submerso. Vemos as portas de vidro, as janelas quebradas, agora com peixes, as mesas, os quadros. Creia, é das coisas mais bonitas que vi na TV. O texto, narrado por uma mulher esnobe e um homem bastante afetado, é cheio de imagens poéticas. A Primeira Guerra afundou aquele mundo de calma e de civilidade. --------------------- LA VALSE, como toda obra de Ravel, me faz lembrar dessas cenas. La Valse é, como diz o título, uma valsa vienense, mas Ravel, um dos maiores orquestradores da história, subverte o gênero. Ele desequilibra a valsa, a faz cambalear, o chão falseia. É como um valsa aquática. Entre o ritmo passeiam maremotos, peixes, ondas, marés. É lindo, mas na sequência vem DAFNIS E CHLOÉ, SUITE 2. Aí a coisa pega! Há tanta beleza aqui que o efeito em nosso coração é de torpor. O sol nasce como se fosse o primeiro sol da eternidade. A massa orquestral irrompe, há um coro de vozes distantes, tudo passeia dentro de nosso espírito. Ravel brinca com os sons, são milhares, timbres, tons, harmonias. Uma obra prima do século XX. Oceano que nos afoga e em seguida nos conduz ao sol. ALBORADA DEL GRACIOSO vem em seguida. Mais beleza, rio que não corre, chuva que não chove. Um gota de água do tamanho do universo. --------------------- No segundo CD temos Martha Argerich solo. GASPARD DE LA NUIT é das obras mais famosas de Ravel. A pianista argentina consegue tocar essa obra tão dificil. São miríades de correntes submarinas que se chocam. O piano repercute ao limite. Uma festa para os ouvidos da alma. Depois o Melos Quartet toca o QUARTETO EM FÁ MENOR. O outro lado de Ravel: mistério. Sua obra, imensa, evoca mistérios. A música, forma de arte tão abstrata, é mistério sem solução. O segundo movimento é a consumação. ------------------------ A orquestra é a de Montreal e o regente é Charles Dutoit. Bravo!

Maurice Ravel - Pavane for Dead Princess

PAVANA PARA UMA CRIANÇA DEFUNTA - MAURICE RAVEL

Ravel dizia que o título fora escolhido apenas pelo som das palavras, a música nada tem a ver com morte ou criança. Então ela tem a ver com o quê? ------------------- Mistério. Ela abre uma porta em sua mente. Um reino aquático, sem tempo ou solidez. Verdes entre azuis. Um momento entre momentos mas é um momento que se perpetua. Espere! Bergson! Esta música dura! Poucos minutos que são como outro universo. Nada acontece ou tudo já ocorreu. Morte? Nascer? Absoluto. De resto apenas o silêncio.

TCHAIKOVSKI, VIVALDI, RAVEL E A CARMEN

No tempo em que ainda se consumia regularmente discos de música clássica, pessoas que hoje seriam chamadas de poser, exibiam em seus racks, LPs lustrosos das Quatro Estações de Vivaldi, do Bolero de Ravel, da Carmen de Bizet e talvez um Beethoven. Mas diriam, com aquele ar sonhador de pessoa sensível, que Tchaikovski era seu favorito. Vejam só... logo o velho Piotr Ilytch T. ---------------------------- A música de Tchaikovski é insuportável. Tudo nele é mel. Voce ouve uma melodia cheia de auto piedade, chorosa, e pensa: Deus, que porcaria!, mas Piotr Ilytch é sensível não é?, então o que ele faz? Derrama ainda mais mel, mais pétalas de rosas e transforma o que é ruim numa insuportável sacarose. A sinfonia conhecida como Patética, mesmo em versões das melhores orquestras, é de uma pobreza atroz. É música de cinema. A música de cinema padrão, aquela que exige emoções à forceps, tem sua origem aqui. Tento ouvir, faço força para aguentar, mas não consigo!!!!! São montes de violinos chorosos, tudo afirmando e reafirmando: Eu, Tchaikovski, sofro!!!! Oh!!!!! Como eu sofro!!!!!!--------------------------------------- Sua música para ballet é ainda pior. Mas essa eu nem tento ouvir. A abertura 1812 é medíocre. Salva-se, devo confessar, seu hiper famoso concerto para piano. A orquestração é banal, mas esse concerto dá a chance a que um grande pianista se exiba, e se ele for bom, irá se exibir e brilhar. ------------------------- Por que Piotr Ilytch Tchaikovski agradava tanto? Well....ele é romantico. Mas não o romantico tipo Schumann ou Wagner, o romantico satânico, que é feroz, que anda no limite; ele é romantico tipo ramalhete de flores, lençois de cetim, lágrimas de amor, ele é o romantismo que todo mundo conhece e se sente confortável dentro. Esse o segredo, Tchaikovski é confortável. Mas não pra mim! Ele me irrita. --------------------------------- Por fim, uma dica: Para pessoas que como eu, não entendem muito de música, mas querem aproveitar o que há de melhor, prestem atenção no que um compositor coloca no fundo da orquestra, no que ele harmoniza. Quando digo que Tchaikovski é pobre, digo isso porque ao fundo dos violinos melados não há nada. Toda a orquestra toca a mesma melodia exagerada. No máximo um metal dando uma leve harmonizada. É música fácil, sem segredos, exposta, simplória. Quando voce ouve Beethoven, nota que ao fundo da melodia principal, há um tecido de acordes, e notas, e harmonizações que não se esgotam. Tchaikovski, como acontece na música POP, tem uma melodia, e tudo é apenas essa melodia. Se ela for boa, como acontece na melhor POP Music, voce adora, desde que ela não dure mais de 3 minutos, porém, se ela for ruim, voce a descarta em dois segundos. Música clássica não é assim. Tchaikovski é. E como suas melodias são o mais ridículo acúmulo de lágrimas e açúcar que já ouvi, eu o descarto. ------------------------- Citei no título Vivaldi, Ravel e Bizet....eles são bons.