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DELON

Ele foi imenso. Lindo e viril, uma combinação rara. Grande ator. Grande presença e pessoa de mistérios. Nunca foi feliz, mas não exibia sua dor. Em Alain residia um mistério: seria ele um assassino? Ou um homem como nós somos? Francês até a alma, mas italiano por direito. Somente Jean Gabin pode se comparar a ele, na hstória desse cinema tão odiável e tão apaixonante como é o francês. Não tenho muito a falar sobre Delon porque recentemente o elogiei muito. Me viciei em seus filmes agora, já veterano em ver cinema. Sua presença é o filme inteiro e poucos atores tiveram esse dom. O de hipnotizar. Voce não se importa se o filme for ruim, Delon está na tela e isso basta. ---------- Nosso mundo atual odeia individualidades. Outro como Delon se torna então impossível. Vá em paz.

NIGHT AND THE CITY ( SOMBRAS DO MAL ), UMA PEQUENA OBRA PRIMA DE JULES DASSIN

É 1950 e estamos em Londres. Cenas maravilhosas de uma cidade ainda cheia de quarteirões destruídos pelas bombas nazi. Vendedores de rua, crianças malandras, taxis soturnos, sombras, becos escuros, vielas, escadas. Bares mal frequentados e minúsculos lugares para morar. Harry Fabian se move, sempre correndo, nesses lugares. Ele foge de credores, foge de ex amigos, foge da realidade. Fabian sonha, ele quer ser grande. Rouba a esposa para jogar, rouba amigos porque tem um novo grande plano, ele se vira, se vira mal. A esposa é Gene Tierney, virtuosa e não há atriz mais bonita que ela. Nunca houve. E Harry Fabian é Richard Widmark e nunca houve ator com um rosto tão gatuno, tão pouco confiável como Widmark. Este é o filme de sua vida. Sua atuação é exultante. Basta a cena final, na rua, sua expressão consegue misturar o desamparo de uma criança com a esperteza arruinada de um bandido de quinta categoria. É inesquecível. ---------------- Fabian tem mais um plano, luta livre, entrar nesse mercado e então ficar rico. Pega dinheiro aqui e ali, passa a perna no grego que domina o negócio, consegue enganar o dono do bar onde faz bicos, um gigantesco Francis L. Sullivan, mas então...o azar...o maldito azar....------------------- Jules Dassin se sentia Harry Fabian em 1950. Fora filmar na Inglaterra para fugir do MacCartismo. E não havia em 1950 nenhum diretor americano melhor que Dassin. Ele era ousado, veloz, esperto, ele era Fabian. Depois deste filme sua carreira se faria europeia. Grandes filmes feitos na França, na Grécia e na Italia. USA nunca mais. Este Harry Fabian deu certo, mas aquele, o Harry londrino, ele fugiu e como fala na última fala: eu fugi da policia, dos ladrões, de meu pai, de todo mundo...minha vida fou uma fuga. ----------------Que belo filme!!!!!!!!

AS COMÉDIAS DA EALING

Não há nada mais inglês que as comédias da produtora Ealing. Feitas entre 1949-1955, elas têm aspecto vitoriano, sombras e lugares meio sujos, personagens excêntricos, conclusões cheias de ironia. Me sinto em casa as assistindo e sim, elas são consideradas alguns dos momentos mais brilhantes da história da arte da tela grande. Michael Balcon reuniu, como produtor, um time que trabalhava junto, diretores, roteiristas, fotógrafos que davam palpite, ideias, sugestões. Não era o humor feito para gargalhar, nada há de pastelão, mas sim aquele que mostra o absurdo da vida, a esquisitice das coisas, a hipocrisia das relações, e nos dá a alegria de saber que a vida não é tão séria assim. AS OITO VÍTIMAS ( KIND HEARTS AND CORONETS ) tem um roteiro genial de John Dighton e tem Dennis Price interpretando um jovem revoltado. Sua mãe, herdeira de um ducado, foi deserdada por ter se casado com um italiano. Ela morre em amargura, e o filho arma a morte de todos os nobres que levam seu nome, para assim ele próprio herdar ducado e castelo. O filme começa com ele na prisão, escrevendo suas memórias às vésperas de sua execução, ou seja, sabemos que o plano não deu certo. São oito vítimas, todas inescrupulosas, aristocráticas, malucas, todas feitas por Alec Guiness, e Alec, gênio, consegue fazer com que esqueçamos que todos são ele mesmo. Dennis Price, ator que foi marcado pelo azar, era alcoolatra e gay, dá um show como o assassino. Torcemos por ele. Há ainda uma Joan Greenwood que faz uma esnobe fútil e interesseira que é sua ruína. Robert Hamer dirige com gosto, tato, sabedoria. ------------------- O MISTÉRIO DA TORRE ( THE LAVENDER HILL MOB ) fala de um emrpegado do Banco da Inglaterra, Alec Guiness, que se une a um pintor modesto, Stanley Holloway, para juntos a mais dois gatunos, roubarem o ouro do banco. O plano é simples e crível e os personagens deliciosos. Como curiosidade, a primeira cena se passa no Brasil, país para onde Alec Guiness fugiu e tem Audrey Hepburn, em seu primeiro papel, tendo uma fala como Chiquita, uma menina de bar. O roteiro, de William Rose ganhou um justo Oscar e o diretor é Charles Crichton, que se tornaria professor de cinema e dirigiria no fim da vida UM PEIXE CHAMADO WANDA. É uma joia do cinema. ----------------- O QUINTETO DA MORTE ( THE LADYKILLERS ) foi refilmado pelos irmãos Coen e deu muito errado. Isso porque não há como recapturar o clima tétrico e dark de uma comédia que se parece com um filme de horror. Cinco ladrões alugam um quarto na casa de uma velhinha onde irão planejar um assalto. Para a velhinha fingem ser um quinteto de cordas. Críticos dizem que a senhora, Katie Johnson, mágica em seu único filme como estrela, representa a velha Inglaterra, calma, correta, sábia, aquela que deu certo, e os cinco ladrões são a Inglaterra que surgia em 1955, perdedora. Alec Guiness é o chefe do bando e sua atuação é uma das maiores da história do cinema. Maníaco, perigoso, asqueroso, infame, ele tem a seu lado o jovem Peter Sellers, que com topete e maneirismos faz um mod. Herbert Lom, que seria o comissário Dreyfuss na série da Pantera Cor de Rosa, é um estrangeiro mafioso de terno preto. Alexander Mackendrick, um grande diretor em todo gênero, dirigiu dando ao filme um clima soturno e tomando extremo cuidado com enquadramentos e cor. É um filme estranho, desagradável e ao mesmo tempo um prazer em rever. -------------------- Tenho ainda mais 3 filmes Ealing para ver, dentre eles dois que espero poder ver pela primeira vez a mais de 40 anos. Parabéns a Versátil por ainda nos dar esse presente.

HISTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS - LIVRO E FILME

Nem todo escritor que se presta ao cinema é ruim, mas todo escritor ruim é facilmente filmável. Isso porque toda prosa fraca se concentra em atos-ações e também em diálogos. Não há best seller ou livro esquecido que não possua ação física e conversas simples. Para um roteirista experiente, adaptar textos desse tipo para a tela é brincadeira. Edgard Allan Poe é o segundo autor mais adaptado ao cinema, e isso não prova que ele é ruim, não é, mas prova que ele é simples. Poe consegue parecer profundo para leitores superficiais e tem ares de clássico para quem não conhece literatura. Seu foco é no enredo, na ação e num certo tipo de "confissão do narrador" que explicita tudo e faz da leitura um prazer sem custo. Ele nasceu para ser filmado. ---------------- Roger Vadim é sem dúvida um dos piores diretores que já fizeram filmes. Sua fama se deveu toda a descoberta de Bardot e sua carreira, que durou incríveis 15 anos, é uma coleção de filmes mal feitos, mal escritos e mal assistíveis. Ele é impossível de se assistir. Nesta produção de 1966, feita em 3 partes por 3 diretores, sua presença estraga todo o projeto. Metzgerstein, um bom conto de Poe, é transformado não só em filme ruim, é ridículo. Tudo que ele faz é filmar sua esposa de então, Jane Fonda, em cenas pseudo eróticas e com roupas dignas de carnaval. Nada se salva nesse odiável desastre. E o pior, percebemos o quanto Jane e seu irmão, Peter Fonda, são péssimos atores. -------------------- Há estrelas que sem uma direção forte nada conseguem realizar. Jane parece uma colegial em peça amadora. Tudo aqui é execrável. -------------------- O choque é imenso quando começa o segundo conto, William Wilson. Bastam cinco segundos para percebermos a presença de um grande diretor e de um grande ator. Louis Malle dirige e o filme vibra em bom gosto, suspense e clima de horror sutil. Delon, sempre fantástico, vive assombrado pelo seu duplo, um homem com seu nome e seu corpo, porém, bondoso. Não há um só minuto de cinema menos que ótimo. São 30 minutos sublimes em seu modo de narrar e de filmar. Penetramos na mente de Delon sem precisar nos esforçar, Malle trabalha com visível prazer e superior sabedoria. ------------------ O último conto é de Fellini, e em 1966 ele vivia o auge de suas experiências com LSD. Terence Stamp foi chamado para fazer um ator freak que vai filmar em Roma e se vê às voltas com paparazzi. Tudo é 100% Fellini e nada Poe. Os famosos rostos fellinianos com seus movimentos de câmera, os exageros, e a poesia que transcende a beleza e revela amor ao mundo. Stamp, famoso então, destruiu sua carreira com drogas e iria sumir na India por alguns anos. O filme revela com despudor o que ele vivia na vida real. Não houve rosto como o de Stamp. ------------------- Essa trilogia começa com Vadim e isso destroi a chance de assistirmos Malle e Fellini em boas sensações. Se voce o assistir, salte sobre a primeira história e assista as duas seguintes.

GOODFELLAS, SCORSESE

Ontem vi esse filme pela segunda vez. Tinha visto a primeira vez em 1991. Na época ele me deixou meio louco. Ele tem um efeito de droga. Não sei se ele é um grande filme. Não sei nem se é bom. Tecnicamente é perfeito, mas o roteiro...voce nota que ele não tem um alvo, não tem diálogos memoráveis, tem montanhas de erros de continuidade, e todos os personagens parecem terrivelmente rasos. Mas há algo diabólico nele. A mistura de edição genial ( Thelma Schoonmaker, a esposa de Michael Powell ), grandes atuações, trilha sonora precisa e visual sempre rico e hiper hot ( Michael Ballhaus fez a fotografia, vindo dos filmes de Fassbinder ), toda essa sopa de talento fez deste filme algo muito, muito difícil de classificar. ------------------- Falei grandes atuações? Ray Liotta e Lorraine Bracco estão magníficos porém De Niro quase destroi o filme. Está insuportavelmente caricato. É o De Niro de anedota. Ridículo. -------------- Todo o resto brilha, muito. Mas cá entre nós, quem não atua bem em filme do cara? Só De Niro. --------------------- Scorsese faz aqui, de novo, a coisa católica: sofrer e ser salvo. É preciso sofrer. A gente meio que sofre vendo vários dos filmes de Scorsese. Mas depois sentimos que valeu a pena. A gente não sofre muito neste. Ele é sempre divertido. Tem aqueles rostos tipo Fellini. Scorsese usa a cãmera como Jeff Beck usava a guitarra, faz o que quer mas nunca à toa. ------------- Okay. É um grande filme. Lembro que na época a crítica ficou como eu: Como classificar este filme? Eu acho que ficamos assim porque é um filme sem uma só pessoa que preste. TODOS são maus, muito, muito maus. E mesmo quando Ray se regenera o que o motiva não é o bem, é o medo. ------------------ Um aluno veio tomar conselhos comigo, uns dois anos atrás. Ele estava adorando ganhar dinheiro, muito dinheiro, trabalhando pro tráfico aos 16 anos. Mas um amigo seu, o que o levara para lá, morrera e esse aluno sentia medo agora. O que fazer? Fui duro com ele. Eu disse: voce vai morrer. Não tem conversa, voce vai morrer. Então escolhe. Um ou dois anos com dinheiro e a morte, ou tentar viver na linha e duro. ----------------- Ele saiu do crime depois de 3 dias. Está vivo e trabalha. Ganha pouco, muito pouco, mas nunca se arrependeu. Diz que salvei sua vida. Goodfellas é sobre isso.

THE BIG CHILL - O REENCONTRO, FILME DE LAWRENCE KASDAN seu melhor filme

Quando feito, em 1983, filmes ainda não se valiam de músicas já famosas para conseguir criar um clima favorável. A partir da década de 90 isso se tornou lugar comum. Um filme como QUASE FAMOSOS é muito valorizado pela verdadeira chantagem emocional que ele faz usando músicas míticas. Não há como não achar uma cena linda se ele for exibida ao som de sua banda favorita. Tarantino fez toda sua carreira sabendo disso e eu ficaria aqui horas falando de filmes queridos que se valeram da verdadeira apelação musical. --------------- Em 1983 isso ainda era raro. Kasdan, diretor da turma de Spielberg, aparecia na época como novo bom diretor. Ele acabou não sendo o que se esperava, e este é seu melhor filme. Começar ao som de I Heard Through de Grapevine com Marvin Gaye ajuda muito. Amigos que estão por volta dos 35 anos recebem a notícia do suicídio de um deles. E essa morte os faz se reencontrar após cerca de 10 anos. Ex jovens universitários de 1971, 72, eles são, em 1983, adultos bem vestidos, atrás de sucesso, de dinheiro, de um rumo, sendo alguns bem sucedidos, outros não. Todos eles fumam maconha, jogam futebol, ouvem rock e assim passam o fim de semana juntos. O filme tem algo de muito bom: Não procura nada de melodramático ou sensacional. Tudo ocorre sem forçar nada. Pouco se fala da morte do amigo, pouco se chora, pouco se faz filosofia barata. Na verdade o que move o filme é o sexo, natural, inseguro, amigável. -------------- Essa naturalidade, que acabo de elogiar, é também o ponto fraco do filme. Esperamos o motivo do porque dele ter sido feito, esperamos uma explosão de raiva e de dor, e quando termina sentimos que algo foi deixado de lado. Ele não tem nenhum grande momento. ------------ Kevin Costner é o corpo enterrado no começo do filme. Suas cenas foram cortadas e assim este não é seu verdadeiro primeiro filme. Kevin Kline já era uma estrela em 1983 e ele rouba o filme facilmente. Aliás, como sempre fez. Kline é um ator adorável, um dos raros atores que consegue passar alegria genuína na tela. Glenn Close é sua esposa, e os dois são os mais ajustados e os mais ricos entre eles. Ex radicais ativistas, hoje vivem em paz. William Hurt faz algo muito raro num ator: Ser discreto sendo doentio. Ele faz um ex soldado do vietnã impotente, doido, drogado, e Hurt compõe esse personagem sem exibir o tipo "doido perigoso exagerado". Se contém, cria alguns gestos discretos recorrentes. É uma grande atuação. Há ainda Jeff Goldblum, hilário como o amigo chato e Meg Tilly é a ex namorada do cara que se matou, bem mais jovem que todos eles, de certo modo ela é o olhar da geração dos anos 80 sobre os ex hippies dos anos 60-70. Meg está natural, atraente, selvagem, apaixonante. ----------------- O enterro é ao som de you cant always keep what you want, dos Stones e eu ouço pensando que em 1969 a banda atingiu um tipo de grandeza genial que ninguém mais conseguiu. Penso também que é muito estranho um filme falar do Mítico Passado, passado esse que na época, em 1983, era velho de apenas 15 anos! Seria como fazer hoje um filme sobre "Os bons e velhos tempos de 2009!!!!" ---------------- Na verdade o mundo mudou demais entre 70 e 83. ------------------- 2024, o mundo do agora, é um mundo criado pelos caras da mesma geração dos caras do filme. Este planeta é comandado exatamente pela mesma turma, Gates, Musk, Obama, Merkel e Spielberg. Bom filme.

O QUE É SEU, OU: PORQUE VOCE DEVERIA TER CDS E DVDS

O óbvio: basta um maluco arrogante stalinista tomar o poder e todos os filmes que ele não quiser que voce veja irão desaparecer. Os filmes ou músicas que estão nos menus de redes digitais podem ser evaporados do planeta. Se o dono da Net quiser, adeus filme obscuro de 1928 ou adeus filme pseudo machista de 1970. Voce nunca mais o verá. -------------- Há filmes que voce não acha em lugar nenhum. Nem no youtube. Ter a chance de ver um filme numa rede paga, por um ou dois anos, não te faz dono desse filme. Ele sairá da rede e voce o esquecerá. Mais óbvio que tudo: foi o VHS e a fita pirata que destruíram a censura completamente e se contentar com filmes dados por serviços digitais te faz refém da vontade dos programadores. Se eles quiserem censurar voce vai fazer o que? ----------------- Lembro quando ...E O VENTO LEVOU foi retirado dos cursos de cinema nos USA. Eu imediatamente ofereci minha cópia para quem quisesse ver. Isso que fiz se chama liberdade. Eu tenho o filme e eu faço com ele o que eu quero, mesmo que um censor tente calar a obra de 1939 eu a manterei viva. --------------- Nunca confie em grupos econômicos que podem ser dominados por políticos ou pela moral do dia. Tenha seus filmes, seus discos, seus livros em casa, sólidos, livres, escolhidos por voce e eternamente a disposição de sua vontade. É isso.

SENTENÇA DE MORTE - DUCCIO TESSARI E ALAIN DELON

Enquanto um carro anda pelas ruas, de noite, ouvimos uma canção. Ornella Vanoni canta a versão italiana de Sentado a Beira do Caminho, de Roberto Carlos e Erasmo. Quando nos extras os críticos analisam este filme, essa canção é citada, a canção brasileira de Roberto "Carlôs". Essa belíssima canção dá o tom a um filme policial, que teria tudo para ser apenas mais um filme sobre vingança, mas que graças a presença de Delon, se transforma em uma obra magnífica sobre a melancolia de viver. ---------------- Ele é um matador profissional. Casado, com um filho. Ele quer largar a profissão, os mafiosos não deixam e dinamitam seu carro. A mulher e filho morrem por engano, ele resolve matar cada um dos chefes do crime. --------------- Voce já viu filmes assim. E eles eram muito ruins, às vezes bons. Este é fantástico. Por que? Porque a câmera ama Delon e o segue pelo filme inteiro. E o ator, na época, 1973, o mais famoso ator do planeta, última vez que um europeu teve esse status, consegue, de modo misterioso, pois o carisma é um enigma, fazer de cada cena algo muito maior do que ela é. --------------- Veja a cena da explosão de sua família. Delon está na janela, vendo mãe e filho indo á escola. Os dois entram no carro e ele explode. Um ator, hoje, teria dois modos de interpretar: 1- daria um berro e com lágriams nos olhos se atiraria pela janela tentando salvar os entes amados em meio às chamas. 2- Expressão de louca incredulidade e um rosto onde se vê imenso sofrimento. ----------- O que faz Delon? Ele olha e não emite um som ou produz uma expressão facial. Ele olha e no olhar está todo o segredo desse ator. Nós não sabemos o que aquele olhar diz, o que exatamente ele sente, mas "NOS INTERESSAMOS EM SABER, E ASSIM, SOMOS CAPTURADOS POR ELE". Cativos, iremos atrás dele o filme inteiro. ----------------- Outro exemplo? No que Delon se transforma após a tragédia? De novo cito duas opções; 1- Um furioso e maníaco animal assassino. 2- Um ser destruído, barba por fazer, bêbado, se arrastando em sua vingança sem esperança. Ok? O que faz Delon? Mais uma vez, nada. E tudo. O homem pós tragèdia é o mesmo em aparência e em modos, com uma única diferença: ele está só, há um vazio ao seu redor, e como sabemos disso? Pelo olhar do ator. Não, não há como eu explicar. Veja e perceba. --------------- Um dos críticos diz que viu Delon em um festival de Cinema antes de ele ser famoso, em 1956. Esse crítico morava perto, era adolescente ainda, e estava numa movimentada rua em Cannes, cheia de bares e shows. Pois bem. Ele se lembra de Delon descer a rua e súbito todas as mesas se calarem e o olharem. Entenda, não era uma estrela passando, ele era um nada então. Era o tal do carisma, da beleza irresistível, do mistério. Todos esperaram sua passagem para continuar a "agir". Esse o dom da estrela: cessar o tempo. E estrelas são raras. Ele é um dos poucos. ------------------ Entre 1965 e 1975 não houve estrela maior. Com excessão dos EUA, país que nunca aceita um ator estrangeiro, Delon foi o maior na China, Japão, Europa e sim, no Brasil, onde recordo que ele era mais famoso que Brando, Newman ou Redford. Seu nome passou aqui a ser sinônimo de homem bonito. "Esse cara parece um Alain Delon", ou então " Eu não sou um Alain Delon mas dou pro gasto". Como Steve McQueen, Warren Beaty e depois Clint Eastwood, ele era ator de falar pouco, mas seus olhos diziam mais que as mãos de McQueen ou o sorriso de Warren. ( Todo ator quieto fala com algo do corpo. Gary Cooper falava com o andar e Clint fala com certos sons que emite, gemidos, urros, bufadas ). ------------- Em 1972 Alain Delon havia feito com Zurlini A ULTIMA NOITE DE TRANQUILIDADE, um dos mais melancólicos dos filmes e uma das mais belas atuações de qualquer ator. Este policial tem o mesmo espírito. Magnético, triste e belo.

O SÍMBOLO SEXUAL SEM BONS FILMES

De todos os símbolos sexuais da história do cinema, e falo de sex symbol real, grande, imenso, Brigitte Bardot é de longe a que tem os piores filmes. Até mesmo uma sex symbol classe B como Jayne Mansfield tem um grande filme em seu currículo. ----------------- Se olharmos a história, todas elas fizeram ótimos filmes e algumas verdadeiras obras primas. Greta Garbo, Marlene Dietrich ( Marlene mais que Garbo ), estão presentes em filmes que permanecem e que ainda respiram mesmo nesta nossa era idiotizada. Rita Hayworth, Lana Turner, Lauren Bacall, Gene Tierney, todas estão presentes em filmes que brilham como joia. E mesmo uma atriz tão fraca como Kim Novak teve a sorte de estar em Vertigo e Pic Nic. --------------- Marilyn tem uma obra prima em seu currículo e mais uns 3 excelentes. E Grace Kelly não tem um só filme realmente ruim. Eu não consigo considerar Audrey uma sex symbol, mas se pensarmos nela como musa, sim, ela tem uma dúzia de filmes eternos. Na Europa há Sophia Loren, que até Oscar ganhou. Claudia Cardinale fez filmes com Fellini, Visconti, Zurlini e tantos outros. Até mesmo Stefania Sandrelli tem seus grandes legados. Gina Lollobrigida, dona também de imensa quantidade de filmes ruins, teve o mérito de estar em um grande filme de John Huston e ainda algumas comédias que são muito agradáveis. ---------------------- Na França, onde BB reinou por duas décadas, nada em sua filmografia passa do nível de curiosidade esquisita ou então filme muito, muito ruim. Seus 3 mais conceituados filmes, dois com Malle e um com Godard são obras falhas, Godard hiper valorizado e os Malle, talvez, os piores filmes franceses do diretor. Mais chato que tudo o que disse, BB é uma atriz péssima. Ainda pior que Kim Novak ou que Rita. Ela é incapaz de interpretar e sua sensualidade animal, que na época foi revolucionária, pois era a antítese de Grace Kelly ou de Marlene, agora aprece normal. Grace e Marlene envelheceram bem, sua imagem se tornou mito. BB não, exatamente por ser uma menina da casa vizinha. --------------- É claro que eu gosto de BB. Ela é bonita. É uma pessoa interessante. Nobre até. Mas posso citar mais de 10 atrizes francesas de 1960 mais bonitas que ela. -------------- Escrevi este texto nem sei porque, e talvez o que sobressaia aqui é o fato de que as sex symbol do cinema fizeram sim grandes filmes. Desde os tempos de Gloria Swanson e Claudette Colbert até os anos 70. ---------------- PS> Hoje não existe mais sex symbol pois é uma das coisas proibidas pela censura mundial. Talvez Jennifer Lopez tenha sido a última assumidamente sexy e simbólica. Se ainda existem atrizes bonitas, e há, todas seguem a linha tipo " desculpe por ser bonita, eu sou gente como voce".

DEL TORO E NOLAN DEFENDENDO O CINEMA

Guillermo del Toro e Christopher Nolan disseram recentemente que a mídia física não pode terminar. Por um motivo muito simples: preservação. Cada pessoa com sua coleção de blu ray ou dvd é um garantidor da permanência da história do cinema. Serviços de streaming ou que tais dependem completamente da pressão de assinantes, patrocinadores, modismos, e pior que tudo: censura. Sabemos que se dependesse da atual Disney, todo seu acervo de desenhos antigos seria eliminado, posto no fogo. Isso porque sua atual direção considera desenhos como Branca de Neve ou Pinóquio muito pouco inclusivos. O que Del Toro e Nolan dizem nas entrelinhas é que temem a chegada de um mundo onde a censura seja aceita. ( Esse mundo já existe no Facebook e no Instagram, mundo onde qualquer mentira dita por um lado é sempre aceita e toda indagação feita pelo outro lado é taxada de mentirosa ). ------------------------ John Ford é um dos diretores que, como uma roseira no deserto, está lentamente desaparecendo. E o motivo não é o fato dele exibir índios sendo mortos. É sua exaltação da virilidade. No mundo de Ford, até as mulheres são viris e isso, para aqueles que detestam toda exibição de coragem e de pensamento individual, é insuportável. Cada cowboy é um país. --------------------- A lista de diretores de cinema em vias de desaparecimento é imensa. E cabe a gente como eu a tarefa de fazer com que seus filmes sobrevivam. Até a chegada de uma geração mais democrática. Não é questão de ser um curador de seu dvd player, é mais que isso, é ser dono de uma cinemateca particular. Preservar ...E O VENTO LEVOU sem cortes e Billy Wilder com suas frases "ofensivas". Grosso modo, manter o lado adulto da arte dos filmes.

MÚSICA RUIM E FILMES COMUNS

Estava com uns amigos conversando, quando de repente eu falei: Incrível como a música hoje é tão ruim, tão constrangedora, que aquilo que antes parecia muito ruim, hoje parece uma coisa tão boa. Dei um exemplo cantando: " Sai da minha aba sai pra lá...." Sim, citei o SPC, Só Pra Contrariar. -------------------- Imediatamente vieram à cabeça canções como Pimpolho, Carrinho de Mão, Haja Amor. Luiz Caldas e Salgadinho pareciam ser muito bons. É saudosismo? Sim, é. ( Apesar que as pessoas que estavam comigo variavam entre os 30 e os 35 anos, ou seja, em 1995 elas eram bebês ). ---------------- Não é apenas saudosismo. É questão de comparação. As letras se esforçavam para ter alguma beleza e a alegria era genuína. Pablo Vittar, DJ qualquer coisa, MC qualquer "inho" ou a nova cantora top não são alegres, são histéricos. Eles fingem alegria em meio ao desespero. É uma euforia agressiva, violenta, pornográfica, alegria em que os dentes não surgem em sorriso, eles surgem em mordidas. -------------- O pagode dos anos de 1990 procurava a alegria e a malandragem sem crime, e o sertanejo tentava atingir a verdade do peão. Filhos de um país que ainda ensinava a ler e a escrever, eles conseguiam falar alguma coisa. A realidade era narrada em forma de anedota. Ouvindo agora, em meio a tanto lixo, é isso que percebemos: eles sabiam falar. -------------------- A música que os substituiu não diz mais nada. A voz, sempre balbuciante, repete ao infinito um refrão que não faz sentido nenhum. Nada narram porque nada conseguem observar. Desprovidos de linguagem verbal, tudo que eles fazem é afirmar sensações primárias. " Tou louco", " Estou com desejo", "Quero voce", "Vamos transar". Usando uma lingiagem ainda mais simples que aquela que escrevi, eles nada mais têm a dizer. São apenas animais que se guiam pelo instinto geral. -------------------- No pagode de 95 havia um esforço para narrar. O Pimpolho é uma personagem maravilhosa e a Abelha que deseja pousar na sua Flor é um conto malicioso. A alegria nascia no prazer de se descrever. Eram letrados. ------------------------- Na música feita nos USA ou na Europa se dá o mesmo. Por isso que hoje qualquer rock star dos anos 70, mesmo os mais banais em seu tempo, aqueles que nós detestávamos, parecem ser cool. Falo de ABBA, de DR HOOK, de DOOBIE BROTHERS, de Barry White, Hall and Oates, entre centenas. Nomes que em 1978 eram chamados de brega, lixo, dejetos, primários, e que hoje parecem ser " o cara". Porque isso aconteceu? --------------------- Nas linhas de Kiss you all over-Exile, ou de When you are in love with a beautiful woman - Dr Hook, o que se vê é uma letra que conta alguma coisa, que descreve algo e melodias feitas com extremo profissionalismo. Não esqueçamos: na época dos grandes estúdios de gravação, para uma canção ser gravada era preciso ser muito profissional. Daí a valorização daquilo que era desprezado então. Perto das canções de 2023, refrões que se repetem ao infinito, sem arranjos, sem desenvolvimento, sem introdução, uma coisa banal como Dancing Queen passa a ter ares de arte Pop. ----------------- Não se engane. Em 1978 ABBA era lixo escutado por tias sem gosto. Pop de bom nível era Elton John e Paul Simon. Donna Summer e Grace Jones não eram nem mesmo consideradas. Eram música para quem não ligava para música. ---------------------- Voce pode dizer o mesmo sobre o cinema. Filmes comuns em 1974 são tratados hoje como arte e filmes muito ruins se tornaram cult. Por que? Não se engane. O motivo se deve ao muito, muito baixo padrão deste século.

O COMBOIO DO MEDO ( SORCERER ), FILME DE WILLIAM FRIEDKIN

Primeiro fato: o cinema de Friedkin é desprovido de humor. É um cinema crispado. Segundo fato: O SALÁRIO DO MEDO, filme frances de Henri Georges Clouzot era tão amado, tão idolatrado, com merecimento, que refilmar tal filme era uma temeridade. Os críticos olhavam o novo filme com olhar desconfiado. Terceiro fato: Nunca um filme foi lançado em momento tão errado. Sorcerer estreou uma semana após STAR WARS. Com custos altíssimos ele fracassou. Prejuízo que destruiu a carreira de Friedkin. ---------------------- Era 1977 e na turma dos novos grandes talentos, Friedkin era mais quente que Coppolla, Scorsese ou Bogdanovich. OPERAÇÃO FRANÇA ganhara todos os Oscars antes do CHEFÃO de Francis Ford Coppolla e fora Friedkin quem abrira as portas de Hollywood. Depois mais um big sucesso: O EXORCISTA. E então quatro anos para fazer este fracasso. A crítica na época odiou o filme, chamando-o de confuso, frio, raso. Hoje ele tem status de obra prima. ------------ Nos extras vejo dois comentários brilhantes: 1- A quantidade imensa de grandes filmes dos anos de 1970 que foram fracassos então, e que vistos hoje são tidos como geniais. 2- Aquela semana de julho de 1977 mudou o cinema para sempre. Se SORCERER houvesse sido um sucesso, Hollywood continuaria apostando tudo em filmes adultos, mas STAR WARS venceu e mudou o cinema. Pelos próximos 40 anos, tudo seria feito para agradar o público de Star Wars. -------------- Como é o filme? Ele é muito diferente do filme de Clouzot. Felizmente. SALÁRIO DO MEDO, feito em 1954, é um dos 10 maiores filmes de aventura e suspense já feitos. É irretocável. O filme de Friedkin usa o livro e não o filme como guia. No filme francês já começamos na vila miserável onde ocorrerá a aventura. Neste filme, vemos tudo que levou os quatro protagonistas aquela situação. Críticos reclamaram em 1977 que o filme tem poucos diálogos. Esse é um dos seus méritos, é um filme duro, sem sentimentos exagerados. Há uma cena, polícia contra terroristas em Israel, que usa câmera tremida, cortes velozes, foco aberto...parece o estilo moderninho de 2023. Feito em 1977. Impressiona muito. -------------------------------- Friedkin se exibe à vontade. Sabe tudo de cinema. Quando o filme muda para a América do Sul a miséria se torna opressiva. Dizem ser nessa hora que o público odiou o filme. Well....filmes dos anos 70 hoje parecem tão bons porque os filmes de hoje são muito ruins. Tudo aqui é exemplo disso. O que em 1977 parecia superficial ou gratuito, hoje parece maestria e talento puro. Os persoangens sofrem muito, voce sente o calor tropical vendo as imagens, se sente preso ao lugar com os atores, e então começa a ação. ------------------ Se voce já viu o filme antigo francês a surpresa não será tanta. É onde os dois mais se parecem. Mas caramba! Que cenas soberbas essas!!!! A travessia da ponte!!!! A explosão da árvore!!!!! É incrível!!!!! E o final, horrivelmente pessimista. ------------- O elenco é brilhante, com destaque para Roy Scheider, vindo direto de TUBARÃO. Ele compõe um derrotado ao estilo Humphrey Bogart em Sierra Madre. Sem o imitar, faz uma versão anos 70 do "perdido no fim do mundo". É um desempenho a não esquecer. -------------------- Friedkin tinha este como seu maior filme e seu fracasso desandou sua vida. Não só ele, mas o cinema nunca mais foi o mesmo após julho de 1977. Han Solo venceu.

LUA DE PAPEL - PETER BOGDANOVICH. COMO FAZER VOCE SE APAIXONAR POR UMA PERSONAGEM

Peter Bogdanovich era apaixonado pelo cinema clássico americano, aquele feito entre 1930-1945. E dentre seus diretores mais amados, dois se destacavam: John Ford e Howard Hawks. Ele também amava, claro, o cinema europeu e apesar de seu americanismo, o estilo de Peter era muito mais próximo de Jean Renoir que de Ford ou Hawks. Isso porque não importava muito à Peter o tema, o fio da história, o climax. Seu foco era o personagem. Como em Renoir, tudo era pretexto para mostrar o caráter dos seres que viviam em seus filmes. E também como em Renoir, mesmo seus vilões eram pessoas "gostáveis". Não há gente ruim em seus filmes. Mas há maldade, uma condição que independe de quem a produza. É como se o mal acontecesse, apesar de ninguém ser realmente ruim. É um cinema risonho, mesmo quando triste. E os filmes de Bogdanovich estão sempre próximos da melancolia, mesmo quando são comédias. ------------------- Foi feito em preto e branco, uma fotografia absurdamente bela de Laszlo Kovacs, observe a profundidade das cenas, tudo em foco o tempo todo, sua vista se aprofunda nas paisagens do Kansas, planas a se perder. É visualmente, um dos mais lindos filmes dos anos 70 e um dos mais simpáticos. -------------- Ano de 1935. Na primeira cena há um big close do rosto de Tatum O'Neal. Já percebemos: visualmente é um filme perfeito. Então olhamos as primeiras cenas: o enterro da mãe da criança, o homem que vem ao enterro ( provavelmente o pai da criança, feito, muito bem, por Ryan O'Neal, pai de Tatum na vida real ). Ele terá de levar a menina à tia, em outro estado. Até então o filme parece OK, nada mais que isso. Então ele dá um golpe e obtém dinheiro que seria da menina. Ela percebe e na lanchonete diz à ele: Voce me deve 200 dólares! ------------ Pronto. Como bem nota Peter nos extras do filme, nessa fala o público é conquistado. A partir daí nos apaixonamos pelo filme porque nos apaixonamos por Tatum O'Neal. É, talvez, a mais eletrizante atuação infantil em um filme americano em todos os tempos. Não a toa ela é até a hoje a ganhadora de Oscar mais jovem da história, apenas 10 anos em 1973. -------------- Os dois passam a rodar pelas estradas aplicando golpes. Ele sempre simpático ao estilo Clark Gable, ela sempre esperta e querendo ser aceita por ele, ao estilo...Tatum O'Neal. Ele se apaixona por uma vigarista, Madeline Kahn, a menina os separa numa intriga bem feita, roubam bebida ilegal, fogem da polícia, e então chegam ao destino. O final é perfeito e não conto como é. ----------------- Paper Moon foi um grande sucesso em seu tempo e hoje não parece velho porque em 1973 ele já fora feito como peça de museu. Não é uma comédia, não é um drama, não é uma aventura. É uma observação, acurada, próxima, sobre personagens adoráveis e que jamais são bobos, melosos ou forçados. A menina não é doce e nem mesmo boazinha, mas é justa, correta, sabe o que é certo. Ele é apenas um homem tentando sobreviver. Não há uma só cena emocional entre pai e filha enjeitada. Mas sabemos que ele a ama, apesar de odiar isso. E ela...ela precisa dele. ------------- Nos vemos desejando ver qual o próximo golpe, para onde eles irão agora e ficamos tristes quando o filme termina. Queremos conviver com os dois. O que mais um filme precisa nos dar?

JULES E JIM

Jules e Jim é o casal fofinho da Vila Madalena que brinca de pega pega na rua Aspicueta. Vestidos sempre de branco, parecem manter uma eterna virgindade e se envolvem com uma mulher mais esperta que faz deles o que quer. O filme, bom, é profético. Conheço centenas de Jules e Jim e Catherine na vida real de 2023. São os bobalhões do políticamente correto. Veganos e pacifistas tolos usados pelos poderosos que riem deles. O que importa para Jim é apenas Jules e o que importa a Jules é Jim. Catherine se aproveita. ------------ O filme é leve e livre e claro e do bem. Truffaut era um cara legal. Todo jovem que come seu almoço considerando a validade do que engole vai se identificar com tudo que o filme tem. E veja bem: Para um filme que gira em torno do amor, ele é estranhamente infantil. Os 3 são assexuados. Jim age como menino de 11 anos e Jules parece estar na andropausa. ùnicos momentos adultos são os velhos filmes sobre a guerra. -------------- Catherine é a mãe dos dois. Ela cuida deles. E transa com outros. Que deprê!

O GABINETE DO DOUTOR CALIGARI E O TEMPO QUE PASSA

------------------- Perturbador pensar que em 1979, ano em que vi este filme pela primeira vez, O GABINETE DO DOUTOR CALIGARI tinha "apenas" 57 anos, menos que minha idade hoje. O filme alemão estava para 1979 como 1966 está para 2023. Ou seja, Beatles e Stones nos são tão antigos como Caligari era para 1979. Mas não! Claro que não. O Caligari que vi, na TV Cultura, no quarto com meu irmão, tinha já em 1979 a presença de uma coisa morta. Todos os atores, nascidos no século XIX, pareciam assombrações. Para nós, eu aos 16 anos e meu irmão com 13, o filme pareceu como adentrar numa tumba. O mal estar foi tão grande que nós dois falamos ao mesmo tempo: Muda de canal. Estou me sentindo mal!!!! ------------------ Cenários tortos, aspecto de sujeira, escuridão, o sonâmbulo louco, o mundo como lugar onírico, pesadelo. O filme de Robert Wiene grudou na lembrança como a tradução fílmica da doença mental. Revisto ontem ele me pareceu pálido. Está longe de ser o melhor filme expressionista. Sua fama é maior do que ele mesmo é. Murnau, Lang e Leni fizeram filmes melhores. ---------------- Falo agora: Filmes de Keaton, Chaplin e mesmo Nosferatu ou Fausto não têm esse aspecto de coisa morta. Revisto isso se mantém. Caligari tem a estranha capacidade de nos fazer conscientes de sua época. E eu acho esse um ponto contra o filme. Ele está morto. É morto. E a arte verdadeira nunca morre. Ela pode parecer antiga, velha, assustadora, mas jamais morta. ----------------- Em 1979 o filme pareceu tão remoto não por ter 57 anos, mas por ser o que ele é: em estilo, em imagens, em ação uma coisa anciã, podre, ida ao esquecimento. Coisas que hoje têm 57 anos, coisas de 1966 parecerão tão remotas se forem cadáveres como Caligari é. Citei Beatles e Stones e voce sabe: Revolver e Aftermath podem ser cartas amareladas, mas ainda são e serão cartas que muitos querem ler e reler. Estão palpitando de vida. --------------------------- O tempo é o engima que mais me interessou por toda a vida. Pois a vida é tempo e estar vivo é sofrer sua força. Eu penso no tempo, eu odeio o tempo, eu tento o ignorar, eu o amo, eu procuro estar em outro tempo. Ele é presente e é outro sempre. Caligari é um eco que desaparece assim que escutado. -------------- Leia bem o que eu falei: ele é morto. Ele é podre. Mas ele tem algo que venceu: são imagens malditas típicas de 1890, não de 1922, que assombram. E creia, dois meninos de 16 e 13 anos, vivendo nos multi coloridos anos 70, não estavam preparados pra essa assombração. PS: o melhor filme expressionista é A CARROÇA FANTASMA de Sjostrom.

O CONTRÁRIO DO AMOR NÃO É O ÓDIO, É O TÉDIO. A NOITE, DE ANTONIONI, UMA OBRA PRIMA IRRETOCÁVEL

Um elevador desce, estamos em Milão e é 1960, a Itália vive, junto com o resto da Europa Ocidental, um boom de crescimento que nunca mais se repetirá. Então o que vemos é uma cidade em obras, uma classe de novos ricos, um mundo novo. É nesse ambiente que se faz o milagre do cinema italiano, uma geração de cineastas, atores, filmes, sem igual. O que me leva a pensar que o cinema, por ser indústria, floresce no momento em que uma nação cresce economicamente. Na dicotomia entre o passado que se vai e o futuro que é construído há uma inspiração que se faz visível no cinema. Aconteceu isso com a Europa entre 1945-1970, a China dos anos 90, o Japão do pós guerra, a Coreia deste século, o Brasil de 1955-1970. Os EUA nos anos de recuperação da grande crise de 1929 e depois no apogeu dos anos 50-60. Todos esses países viveram seu grande cinema no momento de crescimento financeiro. Não se faz grande cinema em crise econômica.. -------------- A NOITE é uma obra prima perfeita e conto o porque. ------------------ Um homem morre na cama de um hospital de luxo. E não me lembro de ver cena mais triste de uma morte em hospital em filme nenhum. Ele é visitado por um casal amigo, Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau. Ele é escritor e acaba de lançar um livro. O amigo que morre tenta se mostrar bem, mas a dor vem e o ataca. Se despedem. Faz sol lá fora, servem champagne, nunca morrer foi tão limpo e tão chique. -------------- O casal reage de duas formas diferentes à morte. Ela sai antes do quarto, incapaz de suportar a cena. Irá andar a esmo por Milão, perdida na periferia da cidade que ainda apresenta amplos espaços vazios. Acontece uma briga de jovens gangues, um bar de madeira, pobre, e rapazes soltando foguetes em campo aberto. Ela liga para ele e o marido vem a buscar. --------------- Enquanto isso o marido quase faz sexo com uma paciente louca no hospital. No carro ele conta isso à ela. A esposa não reage.---------------------- No apartamento dos dois há a primeira cena magistral. Na banheira e depois se vestindo, sutilmente, Jeanne Moreau tenta seduzir o marido. Ele não percebe. Ou finge não perceber. O rosto que Jeanne faz é, sem dúvida, a melhor coisa que essa grande atriz fez em cinema. Um momento de tamanha sutileza que ficamos impressionados. Todo um diálogo dito sem uma só palavra. O olhar de Jeanne se abre, na esperança do amor, mas se fecha, conformado, ao perceber que o desejo se foi. Antonioni sempre coloca a mulher como aquela que percebe antes. ----------------- Então os dois vão ao lançamento do livro do marido, passam por uma boate, e depois à uma festa na mansão de um milionário. Na festa, ela se isola, liga para o hospital e fica sabendo que o amigo acaba de morrer. E então vê o marido beijar a filha do dono da casa. O marido, pouco se importando com a a esposa, seduz e é seduzido por Monica Vitti, a filha do milionário. A festa, cheia de jazz, à beira da imensa piscina, é povoada de risos, diálogos entrecortados, gente que bebe. --------------- Chove, e como vingança, a esposa quase fica com um playboy. Mas não. Ao mesmo tempo, filha do dono da casa desiste do marido, ao saber ser ele casado. E Marcello, enfim, reencontra a esposa ao amanhecer. Partem da mansão e param no campo. -------------------- Vem então, talvez, o maior momento da admirável carreira de Mastroianni. Ele tenta salvar o casamento e abraça a esposa procurando reviver o desejo. Tarde demais, ela não reage mais. Fico muito emocionado com a atuação de Marcello aí. O rosto dele mostra o profundo desespero de alguém que se deixou matar pelo tédio. Ele não a ama mais, mas procura, para se salvar, salvar a relação terminal. Vem então uma certeza: O contrário do amor não é o ódio, pois o ódio nos une à alguém. É o tédio, pois ele mata o outro e nos destroi com ele. Sem uma só palavra, Antonioni e Marcello nos dizem isso. Não me lembro de filme com modo mais belo de mostrar a morte do amor. ---------------- Deitado sobre Jeanne, sujo de barro, Marcello fica quieto. Tudo cessou. A câmera se afasta e mostra o campo vazio. O filme acaba. Eles terminaram. Não há mais nada a fazer. Absolutamente perfeito. ------------------ Sim meus caros. Uma obra prima. O cimema italiano quando acertava era imbatível. Obrigatório. PS: E há uma carta, que ela lê, na cena final, que é a coisa mais bela sobre o amor já dita em cinema. Foi o persoangem de Marcello quem a escreveu. Mas ele não lembra de a ter escrito.....

O FILME MAIS CHATO DA HISTÓRIA: O ANO PASSADO EM MARIENBAD, ALAIN RESNAIS

Consigo imaginar facilmente gente como Cacá Diegues ou Glauber, se sentindo muito superior ao bradar: Este filme é genial! Abaixo os filisteus! ------------ O filme mais chato do mundo era Lincoln do Spielberg ou aquele do PT Anderson sobre petróleo. São muitos. Mas Marienbad inaugura o filme chato que quer ser chato e tem prazer em ser chato. Filme igreja: ele capta fiéis. E eles amam a purgação que o filme lhes dá. ------------ Atenção! Eu falei "Filme Chato" e não filme ruim. Resnais não fez aqui um filme ruim, ele fez um filme que amola, enche o saco, chateia. Mas que não pode ser chamado de ruim, pois tem imagens lindíssimas ( de Sacha Vierney ) e exala uma elegância chique que nos faz admirar. ------------ Me lembro de uma propaganda de perfume, nos anos 90, quando ainda se podia ser chique, em que se copiava este filme. Era lindo e era engraçado. Qual perfume? Chanel? Gautier? Não lembro... --------------- Eu li um romance de Alain Robbe-Grillet, o autor deste roteiro, nos anos 70. Se chamava PROJETO PARA UMA REVOLUÇÃO EM NEW YORK. Nos anos 70 ainda se editavam livros do tal Nouveau Roman, e Robbe-Grillet era o mais famoso deles ( mas quem ganhou o Nobel foi Butor ). Grillet tinha por objetivo fazer um romance inumano, onde não houvesse gente e sim apenas objetos. Um romance sobre cadeiras, paredes, mesas. Sem ação. Sem enredo. O filme é quase isso, mas Resnais tinha outra aspiração. --------------- Façamos uma experiência: peço que voce recorde agora um amor de seu passado. Lembre do rosto da pessoa. Da voz. E daquilo que ele ou ela fazia. Observe agora: ela está presa dentro de voce. Morta. E é isso que Resnais exibe no filme: aquele palácio é a memória do homem e a mulher foi seu amor. Presa e preso dentro dessa memória, tudo ali se torna uma repetição ao infinito. Não pode haver ação, pois uma lembrança está encerrada, e portanto tudo nela já morreu, terminou. Nossa memória seria um túmulo. --------------- Não se pode chamar de ruim um filme que nos faz pensar isso. Mas nada impede de o chamar de chato. Afinal, ler Kant é bem chato e mesmo assim ele é genial. ----------------- Há quem diga que este é um filme de vampiros, que todos são mortos-vivos, e portanto se trata de um filme de terror. Não nego isso. Como disse, tudo que mora em nossa memória está morto. Os personagens posam, não interpretam, porque não podem mudar-viver-evoluir, estão presos para sempre numa postura fria e sem futuro. Não era isso que o roteirista queria, ele planejara que pessoas e coisas fossem o mesmo, iguais, centrais em condições idênticas, mas Resnais foi além e mostrou que a memória faz de tudo um objeto. ---------------- No mais o Nouveau Roman fracassou porque se voce faz um livro onde não há pessoas, onde tudo são coisas, ora...o leitor fará do homem que escreveu o texto persoangem e heroi do romance. --------------- 1961, ano deste filme, foi momento de onanismo de quem se considerava um aristocrata da mente. Havia em pleno apogeu Bunuel, Antonioni, Godard, Kubrick, Bergman, Cassavetes, Truffaut, e no seu começo Pasolini e Tarkovski. Entre esses nomes que citei tem muito filme bom e Bergman é um de meus ídolos, mas no geral, em 1961, Hitchcock, Huston, Hawks, Wise, e o cinema popular em geral, faziam coisas bem mais interessantes. E mesmo na França, Melville e Malle eram mais instigantes que Godard e Truffaut. --------------- Sim, ele é chato como são Stalker ou 2001. Na verdade é mais chato que esses dois. Mas não dá pra dizer que ele é ruim.

SOBRE UM HOMEM E SUA GRANDE VIDA

Merian C. Cooper. Provável voce não conhecer esse homem. Nasceu em 1893. Foi piloto de bombardeio na Primeira Guerra. Dado como morto quando seu avião foi derrubado na Alemanha. Foi a pé de volta à França. Então foi defender a Polonia dos comunistas. Outra vez derrubado, na Russia. Preso em campo de concentração bolchevique, passou 8 meses cavando trilhas na neve. Viu morrer uma média de 3 prisioneiros por noite. Escapou e andando foi para a Alemanha. De volta à New York, começou a filmar documentários. No Irã, filmou a saga de uma tribo que cruza milhares de quilômetros na neve para achar pastagens para suas cabras. Ele foi junto, gravando tudo. Fome, doenças, sangue nos pés. Imagens de um mundo que não existe mais. Depois foi à Africa. Tribos que jamais haviam visto um homem branco. Depois a Tailândia. Um mundo ainda com tigres, elefantes e gente nunca vista. Sem medo, ele filmava os tigres a dois metros. E corria...Então, a guerra outra vez. Como voluntário, foi defender a China do Japão. Bombas japonesas sobre escolas. Crianças massacradas. Ele voava e jogava bombas sobre as bases japonesas na China. Dessa vez não caiu. ------------------- De volta ao lar, um dólar no bolso. O que fez? Foi trabalhar na RKO. Fez King Kong. E depois foi produtor dos filmes de John Ford. Ford, que não respeitava ninguém, o via como um igual. Mundo de gente dura, de gente que não perdia tempo. Esse foi e é Merian C. Cooper. ------------------ No DVD de King Kong há um documentário sobre ele, duas horas. Depois Peter Jackson diz que é King Kong seu filme favorito e, que coisa cool, ele refaz os efeitos do filme de 1933. Um trabalho meticuloso, árduo, dificil, mágico. Alguém diz: um diretor de cinema, hoje, passa a vida revendo os filmes de gente que passou a vida vendo filmes. Eles conhecem a vida em terceira ou quarta mão. Mas a geração de Cooper não. Antes de fazer seu primeiro filme eles viviam. Assim, quando mostram a vida eles não mostram aquilo que viram em um filme, eles mostram aquilo que viveram. Quando Jackson mostra uma selva ou uma batalha, ele usa aquilo que viu em um filme. Quando Ford ou Hawks mostram uma guerra eles mostram aquilo que viram ao vivo. Por isso os personagens parecem sempre mais completos. Não são criados tendo em vista o personagem de um filme visto aos 18 anos no cinema. Para a primeira geração do cinema, todo personagem é baseado em uma pessoa da vida real. ---------------------- Agora voce conhece Cooper.

MOBY DICK E A FRAUDE

Não pense que o excesso de filmes de HQ, biografias ou "baseados em fatos reais" seja um acaso. O mundo nunca foi tão covarde e produzir algo que já tem um nome, uma grife, já é conhecido, já existe, é muito mais seguro. Um projeto sobre o cantor X ou sobre a tragédia Z, traz em si uma garantia de repercussão que um roteiro totalmente original não traz. Fazer um filme baseado em título literário famoso também garante alguma repercussão. -------------------- Grandes livros não dão grandes filmes. É uma verdade que tem várias excessões mas que mantém média alta. Os grandes romances da história não dão grandes filmes, e muitas vezes nem mesmo filmes bons ou passáveis. Cervantes, Stendhal, Hugo, Balzac, Proust, Joyce, Thomas Mann, Faulkner, Heminguay, Flaubert, nenhum desses autores tem um filme que lhe faça justiça. Alguns são desastres absolutos, DOM QUIXOTE, outros deram filmes até que interessantes, mas completamente infieis ao livro. Penso em Heminguay cujo ILHAS DA CORRENTE é um bom filme, mas bastante distante do romance. ------------------- Mesmo autores contemporâneos sofrem no cinema. Bellow, Updike, Roth, jamais tiveram um filme digno de sua obra e Tom Wolfe teve a sorte de ver OS ELEITOS-the right stuff, ser um muito, muito grande filme. Chegamos pois às excessões. TOM JONES é um filme digno do livro e que capta algo de sua verve. Shakespeare tem alguns filmes que souberam usar sua obra e que não passam vergonha quando comparados ao original. ( Porém há uma reparação: teatro é mais adaptável ao cinema que o romance ). Dois nomes se destacam: Jane Austen, que se dá muito bem em fimes e Henry James, o que é uma incrível surpresa, haja visto que sua obra é tão interiorizada. Penso que Austen se adapta bem por ter algo que o cinema ama: bom enredo, e James foi um caso de sorte, os filmes que deram certo foram escritos por gente que realmente o entendia. ------------------------ Chegamos ao tema: MOBY DICK. Há uma versão de John Huston que luta por ser fiel e não consegue ser. Huston tem como último filme de sua obra o filme OS MORTOS, um milagre de filmagem baseda em conto superlativo de James Joyce. Mas MOBY DICK não pode ser filmado. Quem o leu sabe disso, o romance de Herman Melville é um pesadelo feito de escuridão e de linguagem bíblica. Tudo nele parece uma acusação e não há modo mais perfeito de se entender a raiz da civilização americana que esse livro. Transpor MOBY DICK para a tela é impossível. Em imagens a riqueza verbal se torna um tipode cliché gótico. Eu gosto do filme de Huston, mas é uma falha que entretém, sempre uma falha. ---------------- Ontem vi outra versão do livro, um filme que era muito raro mas que o DVD nos trouxe de volta. Feito pela RKO em 1930, dirigido por Lloyd Bacon, o filme traz John Barrymore como Ahab e ver Barrymore é sempre um prazer gigantesco. Mas o filme, como é? ------------ Se voce leu o livro irá rir agora. Ahab é o atlético capitão de um navio, beberrão e mulherengo ( ou seja, é Barrymore ), que se apaixona por linda moça do porto de New Bedford. Ela corresponde e tudo parece bem. Mas a baleia arranca sua perna e ele se torna amargo. Sim meus queridos, MOBY DICK se torna uma hsitória de amor trágico. Mas!!!!!! Eu não posso atacar o filme e não devo. Porque ele é bom, é divertido e tem um saboroso gosto gótico. Os cenários são perfeitos, têm neblina, parecem sujos, escuros, úmidos. O filme cheira a bar de porto, a rum, a maresia. E mesmo a baleia é feita com surpreendente convencimento. Os efeitos são bons para sua época. O filme, malandro, usa o nome famoso e nobre: MOBY DICK, para atrair seu público, mas de MOBY DICK nada tem. Nada mesmo!!! Ou melhor, tem uma baleia e um cara chamado Ahab. Fazem o mesmo hoje com filmes que usam nomes como NICK FURY, FAUSTO, ROMEU E JULIETA, MILES DAVIS, OSCAR WILDE e que nada têm a ver com seu título. --------------------- Por falar em Oscar, vi Dorian Gray, a versão de 1946 e devo dizer, um belo filme de suspense, mas é tão Oscar Wilde quanto ZORBA O GREGO é Kazantzakis. Nada. Oscar Wilde sem artificialismo e fortes tintas gays é tão vazio como fazer biografia de ídolo do rock sem paixão por música e longas cenas musicais. Opa! É o que se faz.

DU BARRY WAS A LADY ( DU BARRY ERA UM PEDAÇO ), O CINEMA COMO DIVERSÃO COMPLETA

Dentro de um club na NY de 1943. Em apenas vinte minutos de filme já temos assistido a piadas, boas, de Zero Mostel, apresentações da banda de Tommy Dorsey, com o fantástico Buddy Rich antecipando Keith Moon em vinte anos. Houve ainda Red Skelton como um funcionário apaixonado pela cantora da boate, Lucille Ball, aqui linda, como a cantora, um número dela perfeito. Gene Kelly já surgiu como um dançarino acrobático também apaixonado por ela. Em vinte minutos ouvimos grandes canções, excelentes números de dança, rimos e ouvimos bons diálogos. Roy Del Ruth, o diretor, mantém um ritmo acelerado, quase de cartoon. Então Red Skelton ganha na loteria e fica milionário, e a cantora que pensa aceitar casar só com quem for rico, poderá ser dele. Ou não? O que digo ainda é que o filme se muda para a corte de Louis XV !!!! Onde Skelton é o rei, Kelly um revolucionário e Lucille se torna Madame du Barry. A coisa não para. Ele lutam, correm, flertam, gritam, cantam, alucinam e voltam a 1943. Poxa...... Por que não fazem mais filmes tão completos? Eles simplesmente pegaram a melhor banda da época, os comediantes entre os melhores, um grande roteirista, juntaram tudo com canções de um gênio, Cole Porter, e então ofereceram isso às massas. E em embrulho para presente, sem nenhuma pretensão, sem tentativas de transcender o gênero, sem nada que não fosse diversão, suprema e colorida diversão. Ver este filme é como ver um desenho do Pernalonga com hora e meia de duração. E esse é um dos maiores elogios que alguém possa fazer. ----------------- O filme saiu em DVD, box de musicais. Nota dez.