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Michelangeli plays Chopin Berceuse Op. 57 D Flat Major

Child playing Chopin!

BERCEUSE- CHOPIN POR MAURIZIO POLLINI.

Pela cortina, atráves do tecido branco. Meio dia, sol. Uma abelha. Água em um copo. Vidro. Não, nada disso! Outro tempo: Matando aula, estou na rua. Sento no meio fio. O suor gruda nos meus cabelos ( Meus cabelos! Deus! Eu fui um adolescente de longos cabelos românticos! Vejo em fotos: eu era bonito... ). Continuo: Sentado no meio fio são três da tarde. Um sobrado ao lado, todo branco. O quarto, lá no alto. Tem uma cortina branca. Voa ao vento da tarde. Alguém lá dentro toca piano. Estranho! Não sei se era um disco. Não sei se era um pianista ou uma mulher. Mas era ela. Sempre foi. Então eu ouço. E o sinal do intervalo toca na escola, a minha, lá no fim da rua onde estou. Gritos de crianças abafam o piano. Me ergo e vou pra casa. Eu sei que ela está agora comendo seu lanche. Com sol nos cabelos. E as mãos, distraídas, passam pela boca que mastiga. Camisa branca. O tempo se foi e eu estou de volta à mesma escola. E aquele sobrado ainda existe. Mas não ela. O amor agora é outro. E a escola, aquela, apagou seu restro dentro de mim. ----------------- Ouvir esta música é tudo isto. E é mais ainda. Chopin era uma afirmação da alma diante da matéria. Sua música é uma prece. Arabescos. Cascatas de notas. Cristais. Cenas de Max Ophuls. Preciosos momentos. Pollini, um grande, está a altura da missão. A música é a mais abstrata das artes. Construção invísivel de inefabilidades impossíveis. E duram. A ferramenta é o tempo. ---------------- Postarei o viedo de um menino indiano. Seu sorriso é isto.

DINU LIPATTI TOCA CHOPIN

Dinu Lipatti, embora não tenha 10% da fama de Rubinstein ou de Horowitz, é chamado de pianista dos pianistas. Ouço um cd com 16 valsas de Chopin, e como tenho aprendido muito a escutar, percebo onde vive sua arte. -------------- Chopin é o mais dificil dos autores para piano. Além de requerer técnica para ser tocado, ele oferece uma armadilha, a ênfase exagerada no sentimento. Pianistas estrelas tendem a usar Chopin para se exibir. Ou aceleram demais para mostrar o quanto são técnicos, ou pisam no freio, a fim de exibir seus sentimentos romanticos. Chopin é romantico mas nunca fraco e é difícil de tocar, mas jamais exibicionista. A maestria do polonês vive em sua escrita, na originalidade de suas peças. Chopin é maravilhosamente criativo. Ele não cansa. Não enjoa. Não parece se repetir. O Chopin que parece sempre o mesmo, assim o parece por arte de executantes que o reduzem a floreios e dedilhados. Megulhar em Chopin é mergulhar no sempre novo. E isso é o que Dinu Lipatti nos mostra. -------------------- Ele não floreia. Ele dá a amplidão da estrutura. É Chopin no osso. Nos nervos. Um raio X do autor. Como fez, de forma mais radical, Glenn Gould com Bach, Lipatti toda Chopin ao pé da letra. É Chopin tocando o que Chopin nos deixou. Nada a mais, e nada de menos. -------------- Dinui Lipatti foi um fenêmono romeno que tomou o piano e se fez estrela. Mas morreu muito, muito cedo, em 1950, de leucemia. Tinha 33 anos. Tivesse vivido tanto quanto Rubinstein ou Horowitz, teria gravado até os anos de 1990. O que ficou dele é pouco e é o bastante. Nada a mais. Inclusive sua vida.

Ultimul recital, Dinu Lipatti, Besançon 1950, un documentar de Philippe ...

Chopin Nocturne Op.48-2 Vladimir Ashkenazy

BERNSTEIN ERRANDO FEIO

Leonard Bernstein regendo a Filarmônica de New York. Duas sinfonias de Brahm, a segunda e a terceira. Brahms é complicado. Se voce errar o tempo tudo dará errado. Um pouco mais lento e voce perde a atenção, um pouco mais rápido e se vai a emoção. A orquestra brilha, é cheia de sub tons e de timbres fasciantes. Vem então o movimento lento da segunda sinfonia e Bernstein erra feio. Ele corre, apressa, voa, exatamente onde ele deveria ter pensado, sonhado, esperado. Um dos mais belos momentos da história da música se transforma numa fanfarra abjeta. Um crime. Onde Bernstein estava com a cabeça? --------------- Isso prova que mesmo os grandes erram e que o maestro errado pode desandar até aquilo que é genial. Por sorte ouço depois Ashkenazi tocando Chopin e Chopin, um compositor sempre surpreendente, belo e nunca choroso, se revela íntegro. Que lindo isso é!

Artur Rubinstein - Chopin, Waltz Op. 64, No. 2

ARTHUR RUBINSTEIN

O toque no teclado de Rubinstein é diferente de qualquer outro. Com ele nós podemos ouvir algo que vem do tempo passado, vivo, porém distante. Ouvir o toque de seus dedos é testemunhar um som que vem do império austro-húngaro, da Polonia pré comunismo, dos cafés de antes da eletricidade. Rubinstein viveu muito, foi centenário, e suas gravações são heranças. Ele tira notas tão suaves que sentimos que elas quase inexistem, como se pudessem emudecer antes mesmo de soar. O piano em suas mãos é o piano de tempos de silêncio. ---------------- Não sei se ele foi melhor que Horowitz ou que Richter. Não toco o instrumento e portanto não tenho como saber. Mas possuo bons ouvidos e seu timbre é mais delicado que qualquer outro. Para Chopin não há igual. Chopin? Preciso falar de Chopin? O compositor polonês tem uma maldição: as pessoas o conhecem sem o conhecer. Imaginam o estereótipo do romântico choroso, quando na verdade ele foi muito mais que isso. Chopin criou enfim, o piano como o conhecemos, o instrumento da alma. O mais expressivo e o mais livre. Ele é o mais dificil de ser tocado, o mais complexo e o mais desafiador. É fácil destruir sua arte numa execução ruim, mas quando bem tocado ele alça voo. Sofrido, melancólico, fatalista, mesmo que voce não saiba, o molde de seu artista sofredor está aqui. Porém ele cria, cria beleza sem parar. Produção imensa em poucos anos de vida, Chopin é, após Beethoven, o mais gravado dos mestres. ---------------------- Rubinstein é um homem que ainda pode sentir a alma de Chopin próxima de si. Ouvir é um provilégio.