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DWAYNE- BILL CONDON- PETER BOGDANOVICH-WIM WENDERS- GUY RITCHIE- LAWRENCE- GUERRA

   UM AMOR A CADA ESQUINA de Peter Bogdanovich com Imogen Poots, Owen Wilson, Jennifer Aniston, Rhys Ifans, Will Forte, Cybill Shepard.
A produção é de Wes Anderson e de Noah Baumbach. Tem participação, como ator, de Tarantino. Ou seja, a nata do cinema de 2015 dando uma força para Peter, o grande diretor revelação de 1971 com A Última Sessão de Cinema. E que depois fez algumas excelentes comédias doidas, como aquelas que se faziam nos anos 30. Mas aqui nada funciona. É triste ver os atores se esforçando ao máximo para dar vida a personagens tão fake. Na comédia doida tudo é fantasia, tudo é exagerado, mas havia nelas uma inteligência, nas falas, que tornava tudo "verdadeiro". Pelo exagero se chegava à verdade final das relações. Aqui as pessoas são apenas loucas. Elas correm, gritam, mentem, fogem, voltam, e fazem com que nos sintamos indiferentes. Não chegam a ser antipáticos, são apenas chatos. Penso que deveríamos achar Imogen fofa. Ela é apenas bobinha. Owen deveria ser charmoso. É apenas oco. E a pobre Jennifer deveria ser divertida. É apenas sem peso. Triste ver um filme que pensa ser chique, leve, amoral, cínico, ser apenas infantil, truncado, espertinho e ingênuo. Um fiasco! ( Atenção a Imogen. Ela será uma estrela ).
   A ESTRADA 47 de Vicente Ferraz com Daniel de Oliveira
Bom tema: o brasileiro na guerra de Hitler. Penso que Ferraz tentou construir um clima à Kurosawa. A estética a serviço do absurdo. A guerra vista como confusão, medo, dor e niilismo completo. Mas falta muito para se chegar perto do mestre japonês ( ou de Naruse ), o filme não nos envolve. Histeria e frio que nunca vira narração.
   LADY CHATTERLEY'S LOVER de Jed Mercúrio com Holliday Grainger e Richard Madden.
Filme da BBC que foi exibido em setembro de 2015. Os filmes de TV da BBC nada mudaram. A Globo os exibia nos anos 70. Eram bem interpretados, solenes, adaptações de livros escritos no período vitoriano ou eduardiano. A única mudança foi nas cores dos sets: antes eram marrons e dourados, agora abusam do azul pálido e do cinza. Continuam sendo filmes bem feitos e meio mortos. Sem fibra e sem paixão. A antítese dos filmes de Boorman, Loach, Anderson, Schlesinger ou Losey.
   EVERYTHING WILL BE FINE de Wim Wenders com James Franco, Charlotte Gainsbourg, Rachel McAdams
Os primeiros dez minutos são ótimos. Neve e mais neve no Canadá do norte. Um homem atropela uma criança. Ele é escritor e é casado. E daí vem a crise... De admirável o fato de termos um filme "de arte" que não apela para sexo explícito, cenas de violência chocante ou um discurso calcado na velha ladainha de raiva adolescente. É adulto, lento, pausado, com imagens fortes, bem pensadas e nunca gratuitas. Mas é também insuportavelmente lento, escuro, triste e sussurrado. Não se pode dizer que não deu certo, ele é exatamente aquilo que Wenders imaginou.
   TERREMOTO, A FALHA DE SAN ANDREAS de Brad Peyton com Dwayne Johnson, Carla Gugino,  Ioan Gruffud e Paul Giamatti.
É bom poder dizer que este Terremoto é muito melhor que aquele de 1974. Não é uma refilmagem, mas tem o mesmo tema. Aqui os efeitos são ótimos, a ação vem na hora certa, nunca como única meta, mas sim como consequência, e ficamos muito satisfeitos com a diversão que ele nos dá. Sim, somos uma geração que se diverte vendo o fim do mundo...Quem sabe não sejamos no fundo uma geração descrente do mundo sólido e das cidades como centro da vida....Relaxe, enjoy!
   MR. HOLMES de Bill Condon com Ian McKellen, Laura Linney.
Já falei deste filme abaixo. Holmes está senil e luta para recordar a resolução de um crime de 30 anos atrás. Enquanto isso faz amizade com um menino e cria abelhas. Um bom filme com atuações ótimas. O final é bastante memorável.
  O AGENTE DA UNCLE de Guy Ritchie com Henry Cavill, Armie Hammer e Alicia Vikander.
Esperto, chique, divertido e charmoso. Tudo que imaginamos ter sido viver entre 1958-1965. Essa foi a época dos mais luxuosos filme. E foi o tempo do bom gosto. O filme tenta copiar esse tempo. E consegue! Os atores são bacanas, a trilha sonora imita Schiffrin e Barry, e Guy até diminui sua velocidade. Tipo do filme que te deixa de boas e faz com que você se sinta mais civilizado.

HITCHCOCK/ POWELL/ CAROL REED/ JACK CARDIFF/

   GESTAPO de Carol Reed com Margaret Lockwood, Rex Harrison e Paul Henreid
Ando revendo filmes ingleses. Carol Reed forma, ao lado de Powell, Lean e Hitchcock, o quarteto soberbo do cinema clássico da ilha. Cada um com seu estilo definido, eles são mestres consumados e sábios em sua forma de narrar e de seduzir. Reed é o mais realista. Aqui ele narra um jogo de gato e rato entre dois inimigos, um nazista e um inglês, ambos em busca de um cientista. Rex já tem aqui desenvolvida sua forma de atuação, leve, sorridente e elegante. O filme é pura diversão e demonstra magnificamente o modo como os ingleses se percebiam a si-mesmos. Nota 7.
   E UM DE NOSSOS AVIÕES NÃO REGRESSOU de Michael Powell
Revejo os filmes menos famosos de Powell. O modo como ele e Pressburger viam a guerra tem muito a nos ensinar. Ele nunca deixa de ser patriota, afinal, este filme foi feito durante a guerra, mas o modo como ele vê os alemães é não só humano como também corajoso. Eles são gente também, diferentes dos ingleses, lutam pelo lado errado, mas não são monstros, têm alma. Aqui é narrada a missão de um grupo de aviadores que ao voltar de um bombardeio em Stuttgart são alvejados e caem na Holanda. A população holandesa os ajudará a voltar a sua terra. É um belo filme e tem retrato carinhoso do homem comum, não dos heróis. Nota 7.
   PARALELO 49 de Michael Powell com Laurence Olivier, Leslie Howard e Eric Portman
Um grupo de marujos alemães é atacado nas costas do Canadá. Seu submarino afunda e eles devem em terra conseguir voltar a Alemanha. Este é o filme que deu fama a Powell. Sucesso nos EUA, é uma linda aventura filmada no Canadá. Os alemães são individualizados, sim, há um vilão, mas também há um alemão bom. Ver este filme durante a guerra deve ter sido muito estimulante. Nota 7.
   A BATALHA DO RIO DA PRATA de Michael Powell com Peter Finch e Anthony Quayle
Aqui já estamos na fase dificil da carreira de Powell. Feito nos anos 50, o filme fala de um navio alemão famoso por afundar navios mercantes aliados nas águas do Atlântico Sul. O que se narra é sua caçada e sua agonia. Powell mostra o capitão do navio alemão como um homem honrado, quase um herói trágico. O estilo de Powell está todo aqui, ele exibe com calma e cuidado a civilidade dos homens, a camaradagem e o respeito entre os iguais. O filme emociona, mas em seu inicio pode irritar, não estamos acostumados a tanta educação! Revisto, este filme cresceu muito em meu conceito e hoje é dos meus filmes de Powell mais queridos. Estranha a sina desse diretor, a de ser querido só em revisões...todos os seus filmes me decepcionaram na primeira vista ( inclusive Red Shoes ) e se tornaram gigantes na segunda olhada. Nota 9.
   FESTIM DIABÓLICO de Alfred Hitchcock com James Stewart, John Dall e Farley Granger
Que delicia!!! É o famoso filme de Hitch sem cortes. Eu o adoro, mas Hitch não gostava dele. Um casal gay mata um amigo só pelo prazer de cometer uma obra de arte. Convidam os pais da vitima para jantar, e o corpo está dentro de um baú que é usado como mesa de jantar. Dá pra ser mais macabro? O pai come carne sobre o corpo do filho. O humor de Hitch raras vezes foi tão afiado. James Stewart entra em cena como o professor dos assassinos. E nós nos alegramos ao rever esses ator-amigo. O filme é absolutamente perfeito. Nota DEZ.
   CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO de Alfred Hitchcock com Joel McCrea, Larraine Day e George Sanders
O excesso de ação atrapalha a narrativa desta aventura de Hitch. Joel é um repórter americano que vai a Holanda cobrir a guerra. Se envolve em jogo de espionagem. Sanders é excelente, mas Joel e Day são muito peso leve, estão no filme errado. Nota 6.
   OS PÁSSAROS de Alfred Hitchcock com Rod Taylor, Tippi Hedren e Jessica Tandy
Uma mulher destrói a harmonia masculina de uma comunidade. Sim, esse é o sentido do filme. Desde a cena na loja de pássaros, até o final inesquecível, todo lugar em que ela pisa surge uma ameaça. Pássaros se juntam e passam a atacar. É um dos filmes aparentemente mais simples de Hitch e o mais absurdo ( em superficie ). Mas seus medos estão todos aqui.  O maior de todos seu pavor das mulheres. Falar de suas cenas é chover no molhado, o filme é muito conhecido. As melhores são aquela que mostra os pássaro se reunindo atrás de Tippi, e o final, eles andando em meio as pássaros que se aquietam, talvez porque ela foi vencida... Vi esta obra-prima pela primeira vez em 1973, na velha TV Tupi. Eu era criança e confesso que tremi todo o tempo. Era uma época bacana pra se assistir filmes de suspense, basta dizer que o silêncio na rua ainda existia e a iluminação lá fora era precária. Nota DEZ.
   FILHOS E AMANTES de Jack Cardiff com Dean Stockwell, Wendy Hiller e Trevor Howard
O mundo de D.H.Lawrence levado ao cinema. Numa comunidade pobre da Inglaterra, vemos uma familia de mineiros. Uma familia infeliz, onde o pai violento tem rancor pelo filho que o renega e a mãe, hiper protetora, mima esse filho que quer ser pintor. A vida desse filho é destruída pelo meio em que vive. Parece bom, mas não é. O primeiro erro é Stockwell. O outro é a falta de criatividade de Cardiff. Ele foi o grande diretor de fotografia de Red Shoes, mas como diretor nunca funcionou.  O filme é chato. Nota 3.

A LITERATURA E A MORTE DE DEUS

   Tenho lido a biografia de C.S.Lewis. Tenho um profundo amor por essa turma, esses ingleses que viveram entre 1890/1940, essa época de Eduardo, de George. Lewis tinha uma vida dupla, era um dos mais destacados professores de Oxford, um dos melhores críticos literários e talvez o melhor leitor de seu tempo. E ao mesmo tempo escrevia livros populares, é ele o autor da saga de Nárnia. Não por acaso, um de seus melhores amigos era outro grande professor de Oxford, J.R.R.Tolkien. O que seus contemporâneos não conseguiram entender é algo que nosso tempo, felizmente, consegue compreender um pouquinho melhor ( mas ainda com muita ignorância ), Lewis tentava unir a razão a criatividade, um casamento que foi um dia a regra entre artistas, mas que no mundo moderno havia sido cada vez mais raro. Ele e Tolkien procuravam salvar a literatura da asfixia onde ela se encontrava. Que asfixia era essa?
 Há que se dizer que nos seus primeiros trinta anos de vida foi Lewis um racionalista. Em seu diário ele diz que conseguia deixar cada coisa numa gaveta separada de seu cérebro. E mesmo a experiência na Primeira Guerra, ele esteve nas trincheiras, foi colocada em lugar seguro, longe da parte central de sua vida. 
 Ateu convicto, Lewis começou a perceber, em seus estudos literários, ele logo seria um dos melhores professores de literatura inglesa, que os autores ateus, céticos, os que colocavam todo campo espiritual de lado, tinham sempre uma prosa limitada. Esses escritores não conseguiam criar vida. Seus livros são como teatro de bonecos, os personagens jamais parecem reais, o que esses relatos transmitem é sempre a voz do autor, em total isolamento, lutando para criar vida, e sendo sempre derrotado. Porque isso acontece? Porque a criatividade desses escritores é sempre castrada, truncada, tristemente árida? E porque escritores como Sterne, Dickens, Dostoievski, Tolstoi, Balzac, Stendhal, conseguem criar tanta vida, tantos personagens que falam, agem, vivem como se fossem gente de carne e de osso? Mais que isso, porque esses escritores parecem ter tanto interesse na REALIDADE? Descrevem árvores, cidades, guerras, rostos, bichos e mares como se os conhecessem em profundidade. O que eles, assim como Huxley, Lawrence, Waugh, têm que Wolff ou Dreiser não têm?
 Lewis percebeu então que o que unia os autores criativos era a não negação do mundo espiritual. Para eles a ruptura entre razão e criatividade nunca se deu COMPLETAMENTE. Eles não dissecavam a criatividade, não extirpavam o maravilhoso da razão, em suma, e para seu espanto de ateu, eles jamais mataram Deus. Podiam blasfemar, duvidar, amaldiçoar, mas não ignoravam Deus. Lewis ficou aterrado ao se deparar com isso. Tendo Deus dentro de seu mundo, autores como Dante e Cervantes conseguiam criar como jorro, eram completamente férteis. Criar para eles não era um problema, era um dom divino, uma herança bendita. Com a morte de Deus a criação começa a ser tomada por algo de herança maldita. Ser criativo se torna uma ilusão, uma doença, um problema e deve assim ser analisado, domesticado ou negado. Como a religião, o homem da razão deve ENTENDER a criatividade a luz da razão e nunca com a colaboração da razão. Criação e razão se divorciam. Dois antagonistas. Toda criação deve ter um porque, um motivo, um símbolo. Nessa aridez a criatividade morre, daí a secura mórbida de tantos autores modernos. Fez-se com o ato criativo aquilo que se fez com o Criador. 
  O resto, que tem surpreendentes semelhanças com meu processo espiritual incompleto, deixo para futuro post.

MULHERES APAIXONADAS/ REGINALDO FARIAS/ WILLIS/ CLIVE OWEN/ BATMAN/ PIRATAS PIRADOS

   MULHERES APAIXONADAS de Ken Russell com Alan Bates, Glenda Jackson, Oliver Reed
A prosa de DH Lawrence desaparece aqui. E nem poderia ser diferente. Como levar para a tela a profusão de ideias, de imagens e de pensamentos tortuosos que abundam no livro? Lawrence é infilmável. Ken Russell tem aqui o momento mais famoso de sua carreira ( concorreu a Oscar de direção ). Seu estilo se faz presente: exagerado, ácido, desagradável, sem nenhuma noção. E estranhamente fascinante. Não esquecemos de suas imagens. Há uma profusão de cores, de gritos, de cenas fortes, de tentativas apaixonadas. O filme, como o livro, que é o melhor de Lawrence, fala de dois casais: um par de amigos e uma dupla de amigas. Eles se conhecem e se envolvem. Glenda está magnífica. Para quem não sabe ela foi a grande atriz da época ( 1969/1976 ),  no auge da fama abandonou o cinema para fazer politica na Inglaterra. Neste filme ela é Gudrun, a mulher que na década de 20 quer viver plenamente. Alan Bates, um de meus atores ingleses favoritos, é Birkin, um homem insatisfeito, rebelde, livre, que se envolve com a amiga de Gudrun. Oliver Reed faz o ricaço e violento amigo, que se apaixona por Gudrun. Necessário dizer que o filme passa longe do convencional. Nenhum casal chega ao namoro normal. Todos se comportam como loucos, como bichos ou como queria Lawrence, humanos estéreis em alma. O que me fez pensar no seguinte: Como o mundo mudou em dez anos! Um filme como este seria impossível em 1959. Cheio de cenas de nú frontal masculino,´tem a famosa cena dos dois amigos lutando boxe pelados. Lawrence escreveu um livro sobre a sede por um novo mundo. Lawrence queria um novo sexo, novas relações e nova religião. O filme de Russell não passa perto disso. É mais um tipo de histerismo abobado sobre um quarteto doido. Mas é um bom filme. Irritante, inflado, pedante, e forte. Nota 7.
   CRUPIÊ de Mike Hodges com Clive Owen
Em 1971 Mike Hodges fez um dos melhores filmes do cinema inglês: Get Carter, onde Michael Caine fazia um bandido extra-cool. Era uma pelicula que antecipava o cinema de Danny Boyle e de Guy Ritchie em 25 anos. Em 1973 Hodges fez o fascinante Homem Terminal, uma sci-fi cabeça que fracassou. E então sumiu. Já com 65 anos, ele volta em 1998 e faz este filme sobre um observador. O crupiê é um escritor que se coloca à parte da vida. Para ele existem dois tipos de humanos: os jogadores e os crupiês. Os jogadores vivem, jogam, se arriscam. O crupiê observa, vê o que rola. Mas o filme, fascinante, vai além disso. Ele segue regras, não mente, gosta de coisas bem feitas, corretas. Se parece muito com um cavaleiro medieval, e creio que é assim que ele se vê, um tipo de cavaleiro etéreo, com seu código de honra rigido. Hodges mostra aqui seu absoluto dominio de imagem. O filme é soberbo. Tenho absoluta convicção de que Mike Hodges foi um grande diretor. Nota 8.
   POSSESSÃO de Neil LaBoute com Gwyneth Paltrow e Aaron Eckhart
O filme se passa entre ratos de bibliotecas. Vemos livros, manuscritos raros, estantes repletas. É o mundo fechado dos eruditos, dos pesquisadores, dos amantes de letras. E paralelamente se mostra a vida de poetas românticos de 1850. É o ambiente que mais adoro. Mentalmente é onde vivo.  Mas tenho de confessar a verdade: fora isso o filme nada tem a dizer. Fica sendo um tipo de Ghost para ratos de biblioteca. Não tem um porque, não faz sentido, não emociona. É um absoluto fiasco. La Boute sempre foi um enganador. Nota 2.
   CÓDIGO PARA O INFERNO de Harold Becker com Bruce Willis e Alec Baldwin
No cinema em 1998 já era fraco. Em dvd agora é quase um nada. Bruce, de quem gosto, vinha do mega sucesso de Sexto Sentido e fez este policial bobo, filme que tenta criar emoção com as figuras de um policial decadente e uma criança autista. A trama é muito fraca, pior, inverossímil, e Bruce não pode usar o que tem de melhor, seu humor. Becker foi um dia uma promessa...fez pluft...Nota 3.
   PIRATAS PIRADOS de Peter Lord
Animação sobre piratas bem doidos. Divertidíssimo! O filme é uma explosão de bom-humor e de gozação saudável. Leve e colorido, ele cumpre plenamente seu propósito: fazer rir sem jamais parecer grosso. Os tipos são todos bem delineados e as tiradas funcionam em tempo exato. Mais uma grande animação.  7.
   BATMAN de Leslie H. Martinson com Adam West e Burt Ward
Quem em criança viu Batman jamais irá conseguir levar a sério um herói de malha justa e capa negra de morcego. É uma figura ridicula, seja aqui ou seja com Tim Burton/ Chris Nolan. Este é o longa que nasceu com o sucesso da série de TV. Visto hoje ele é chato pacas. Nota 3.
   ASSALTO AO TREM PAGADOR de Roberto Farias com Reginaldo Farias
Um grande sucesso do cinema brasileiro e uma aventura que ainda funciona muito bem. Um trem é assaltado. Acompanhamos o destino dos assaltantes. O ambiente é a favela. O filme faz pensar: o que mudou? Estão lá os barracos e o povo mal vestido. A diferença é que hoje a favela não tem mais o jeitão rural que tem aqui. Vemos árvores e porcos nas vielas e muita criança pelada. Hoje a violência cresceu, os barracos têm TV e geladeira. Uma mudança de atitude: aqui todos querem sair da favela, têm vergonha de viver nela. Hoje há um orgulho, uma "alegria" por ser favelado ( da comunidade ). Isso significa o que? Aumento de auto-estima ou comodismo? Eu não sei. Um fato: em mais de 40 anos elas continuam lá. O povo que lá vivia em 1966 lá continua. O filme tem ação e drama, é bom. Nota 6.
   O MONGE de Dominik Moll com Vincent Cassell
Lixo. Num mosteiro um monge milagreiro se envolve com sexo. O mal invadiu o lugar, em quem esse mal vive? Logo percebemos que o mal está no monge que lá foi criado. Não espere nada de sério. O filme tem um tom pomposo, mas é raso como um pires. Pior de tudo, é chatíssimo! Nota ZERO.

A VIRGEM E O CIGANO- D.H. LAWRENCE

   O problema de Lawrence sempre foi as paredes. Ele as odeia. O espaço livre, sem muros, sem portas e sem paredes, esse seria seu paraíso. Todo livro seu é em síntese a tentativa de se destruir uma parede. E Lawrence sabia que as piores paredes eram aquelas feitas de carne e de alma. O sexo era para ele uma tentativa de derrubar a parede do corpo. O sexo uniria duas esferas ao destruir uma inibição: a corporal. Tradição, politica, igreja, costume, educação, contra tudo que significasse "muro" Lawrence se insurgia.
  Neste livro, sufocante, há uma familia. O pai foi abandonado pela esposa que fugiu com jovem amante. Deixou as filhas para trás. O pai cria as duas meninas com tias e avós. A velha avó, cega, domina a casa. Casa onde tudo é ressentimento, máscara, convenção e inveja. Surge então uma carroça cigana, e a irmã mais jovem irá sonhar com a liberdade. O sexo espreita.
  D.H. Lawrence nasceu em meio pobre. Casou-se com alemã ebuliente e seus livros sempre provocaram escândalo. A tuberculose marcou sua vida. Ele morreria com 45 anos, em 1930. Lutando pela vida, Lawrence viajou por México, EUA, India, Marrocos. Criou uma religião pessoal, um tipo de irmandade de almas onde Deus era a união das vidas da Terra. Glorificava tudo o que era livre, primitivo, não-civilizado. Sabendo de seu pouco tempo de vida, escreveu muito, com pressa. Mais de 50 livros.
  Lawrence não teve a calma para desenvolver a arte que sua ambição pedia. Mas nos deu de presente algumas páginas vitais, exageradas, coloridas, cheirosas, arriscadas. É hoje um dos autores "fora de moda". Ele ficou no limbo dos artistas que colocavam o idealismo acima de tudo. Nosso tempo abomina todo ideal. Harold Bloom pensa que Lawrence um dia voltará a ser "da moda". Penso que não. Nosso caminho será cada vez mais fragmentado, diminuto e sofista, o mundo dos grandes arroubos de coragem e de sonhos livres será código estranho e com o tempo indecifrável.
  Lawrence, se lido aos 15,16 anos pode dar um belo impulso a vida de seu jovem leitor. E se lido mais tarde pode recordar algo de precioso que há na vida. A vontade de ser voce-mesmo. Para Lawrence, o mais certo dos bens. E o único modo de justificar uma vida.

O ARCO-IRIS - D.H.LAWRENCE

Ninguém enfrenta uma folha em branco se não possuir uma grande ambição. Seja de notoriedade, dinheiro, auto-satisfação, relevância.
James Joyce tinha a ambição de abarcar toda a complexidade do século XX. Marcel Proust queria desvendar o interior da consciência. Balzac possuia a ambição de expor toda a sociedade francesa de seu tempo, e Stendhal queria descobrir a gênese de nossos sentimentos. Tolstoi se propôs a tarefa de mostrar o dilema do homem perante sua existência e Eliot queria exibir o vazio espiritual do homem moderno ( e depois indicar sua redenção ). Todos eles tinham talento para cumprir sua ambição. Eles se deram uma missão e conseguiram "chegar lá".
Mas existe outro tipo de autor. O esbanjador. Aquele que se deu uma tarefa menor que seu talento. Este se torna um tipo de gênio do estilo, da maneira de escrever. Henry James era assim. Sua ambição era imensa, a de compreender o homem sem lugar, em transição, mas seu talento era tão vasto que ele poderia ter partido para vôos ainda maiores.
E existe ainda um terceiro tipo de autor. É aquele que se dá um titânico trabalho, mas que apesar de possuir talento, seu dom jamais consegue chegar às alturas de sua ambição. Lawrence é um exemplo dessa sina.
O que ele queria ? Escrever os grandes livros que mostrariam a decadência da civilização ocidental. Fazer o resgate da religião pagã, do xamanismo e do sexo como sagrado ritual de ligação do homem com a natureza. Seus livros têm tudo isso e conseguem nos fazer entender suas idéias. Mas ele é incapaz de nos fazer senti-las. Não sentimos ira, não ficamos desorientados, nada há de mistico ou mágico em sua escrita, e pior, lhe falta sensualidade. Isso porque Lawrence escreve mal. Ele se repete, anda em circulos, procura revelações e não as atinge. Falha. Ironicamente, o autor do sensualismo sofre de impotencia verbal.
Mas isso não significa que ele não seja ótimo. É invulgar, corajoso, ansioso, forte. Mas a ambição que o moveu ( como sucedeu também com Durrel, Heminguay, Fitzgerald ou Updike ) é muito maior que seu talento.
Talvez seja essa a maior infelicidade que um autor possa ter.
PS: Quem quiser conhecer Lawrence não leia este O Arco-Iris, vá direto a Mulheres Apaixonadas. Lá voce vai encontrar essa contradição Lawrenciana em seu máximo. Uma exuberãncia de ideias e de propósitos mesclados a uma certa incapacidade de estar a altura de seus propósitos.