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RIMAS DA VIDA E DA MORTE - AMÓS OZ

   Amós Oz faz aqui um curto relato em tamanho, mas longo em duração. Um escritor vai ser homenageado, e para quebrar a banalidade da coisa, ele imagina a vida de cada pessoa que encontra. Desse modo, a leitora de um trecho do seu livro passa a ser uma tímida fã; o crítico que tece elogios é um chato; um jovem poeta se faz um adolescente suicida, a garçonete de um café se revela uma perturbada...e vai por aí. O livro é de um realismo duro, e o prazer passa longe de sua leitura. Mas ao mesmo tempo ele revela insights profundos, mostra de forma muito simples e muito convincente a riqueza que há na vida isolada, miserável, banal e única de cada pessoa. Todos são marcados pela dor, pelo medo e pela solidão. Cada personagem está á beira do choro todo o tempo.
  Entre eles, a geografia e a cultura de Israel faz presença unificadora. Todos e tudo estão fincados no passado e no agora do país. Eles são a nação, eles são o lugar.

VIDA SEXO E MORTE

   Estou lendo um livro de Amos Oz, e nele um dos personagens diz que o contrário-complementar de vida não é morte, mas sim sexo. Isso porque o oposto de uma coisa é aquilo que existe com ela, uma não pode existir sem a outra. Não há luz sem antes haver escuridão e a luz destrói a escuridão ao mesmo tempo. Onde há luz a escuridão não há, mas onde há escuridão, a luz também não existe. Simples isso. Mas vamos à vida e morte.
  A vida quando nasce, eis o pensamento comum, traz em si a morte, seu oposto. Onde haveria vida não haveria morte. Ou se está vivo, ou se está morto. O personagem diz que não é assim. Como?
 Por bilhões de anos a vida existiu sem que a morte existisse. Os primeiros organismo vivos, os unicelulares, não morriam. Eles se dividiam em reprodução assexuada. Cada um se tornava vários e esses vários eram os mesmos que os uns. E mesmo esse um original, misturado a seus descendentes, não morria. Pode haver um vírus original que ainda vive por aí. Não há como saber, pois ele é igual a seus descendentes. Isso prova que a morte não surge no universo junto com a vida. Ao contrário da luz, que só pode existir em oposição ao escuro, ou da alegria, que só pode ser percebida em meio a tristeza; a morte passa a existir muito depois da criação da vida.
   A morte começa a existir apenas nos organismos sexuados, sejam vegetais ou animais. É com a reprodução sexual que nasce o envelhecimento dos organismos e a inevitável morte. Portanto o oposto à vida é sexo e não morte.
  Por intuição, todo poeta sabe disso. Que ao entrar na vida sexual começamos a morrer. Mas o mais impressionante é a intuição da Bíblia, onde a morte nasce com a expulsão do Paraíso, que é consequência da consciência da diferença entre os sexos. Adão perde a imortalidade ao conhecer, e o conhecimento traz o tempo que traz a morte.
  Eis um tema digno de uma vida.

O MESMO MAR - AMÓS OZ

   O estilo, a forma em que este livro é escrito é muito boa. Oz escreve capítulos minúsculos, às vezes cinco ou seis linhas, dando a cada um seu ritmo próprio. Assim, temos capítulos que parecem poemas, outros são diálogos, alguns piadas, e uns poucos mais tradicionais. Mesmo assim, o livro jamais parece confuso, é fácil de acompanhar. Oz demonstra então um poder pleno como escritor. Eis aqui um cara que sabe escrever. Pois é... e mesmo assim não se trata de um grande livro. Temo que não seja sequer um bom livro.
  Oz escreve bem como ninguém, mas o tema, aquilo que ele tem a dizer se mostra irrelevante. Essa falha é comum nos livros de já algum tempo, autores ótimos, talentosos, escrevendo livros pouco interessantes. Oz fala de um pai viúvo, um filho que anda pelo Tibet, a namorada do filho, um roteiro de cinema, Tel Aviv, a mãe que morreu de câncer, uma prostituta portuguesa, um produtor de filmes picareta. E no meio dessa fauna, que poderia ser rica e viva, o que se nota é apenas estilo, estilo e mais estilo. Os personagens não existem, não têm rosto, vida, vontade, nada. Parecem sempre falsos.
  Se Oz fez isso de propósito, ele foi bem sucedido. Conseguiu o que quis, mas às custas do leitor. Ele atingiu o objetivo, mas entregou um livro vazio.
  Amós Oz escreve bem pacas. Pena o livro não.