Um horror.
Tudo de podre que existe no mundo hoje, nesta pequena Africa em que vivemos, habita sorrateiramente este livro. O professor em crise ( no fundo um idiota ), vigiado por colegas, pelo vizinho da filha, por todos; a filha, paralisada pela culpa daquilo que não fez; a aluna, presa no mutismo de uma geração molenga; a própria Africa, dividida em rancores históricos e tentativas de esquecimento. Todo o romance transpira desespero. Porque o que sentimos é vazio de transcendencia.
O professor não percebe o que poderia salvá-lo : a bondade. Ele é seco, estéril, um anti-pai. A filha não quer enxergar o que poderia a salvar : a absolvição. Ela não é culpada pelos crimes coloniais. E os negros não podem encarar o óbvio : vivem no rancor destrutivo. A vida torna-se uma farsa, onde ninguém escuta ninguém e onde o que acontece é negado.
Coetzee escreve muito simples. Frases e capítulos curtos, vocabulário básico. Mas escreve com elegância, descrevendo o que precisa ser visto. Seu amor aos animais está presente em todo o livro, amor que o professor tem dificuldade em aceitar, pois não é racional. Não é sexual.
Interessante perceber como para ele, David, amar está ligado a possuir carnalmente. Preso nessa armadilha, ele não percebe que assim lhe é impossível amar a filha e os bichos com os quais é obrigado a trabalhar. Amor preso a carne, portanto, amor falho e perecível. Tonto. Ele jamais amou a aluna. Ele jamais amou a prostituta que o atendia. Ele as possuia. Quando tenta expressar amor verdadeiro, é um desastre. Perde sempre.
No final, eis um bom livro de um autor central deste tempo de autores periféricos. Leia.