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BACH, MÚSICA VOCAL. EM CONTATO DIRETO COM DEUS.
Amigos, eis a música vocal de Bach, tipo de música com a qual eu tinha preconceito, achava, sem a conhecer, que ela fosse antiga demais, deprimente, talvez insuportável. Mas ontem de noite eu finalmente a escutei, e agora entendo porque Bach é sempre chamado de o maior compositor da história. -------------- Uma cantata por dia durante vinte anos. Essa foi a produção do mestre. A igreja luterana precisava de uma nova canção para cada dia de missa. E as missas eram diárias. Além disso ele fazia música para batizados, casamentos, enterros, e música profana, para festas. Eu sempre conheci sua produção instrumental, que é maravilhosa porém fria, mas a vocal é milagrosa. ---------------- É a música de Deus. Ela realmente tem o poder de elevar. Ouvindo suas cantatas sentimos como se todo dia fosse natal. O mundo parece certo. Deus surge como inevitável. Há luz na noite, em meio ao nada surge luz nas janelas de uma igreja. E sons que vão nascendo em meio à tempestade. São pessoas que se uniram e se entenderam. A alma vive lá. -------------- Como arte em si ela é tão complexa que não há como a descrever em palavras. Dizem ser matemática pura. Dizem que esbanja lógica. O que ouço é que uma canção como EIN FESTE BURG IST UNSER GOTT ou ZION HORT DIE WACHTER SINGEN é atemporal. Parece antiga como uma catedral e ao mesmo tempo futurista. O cantor entoa uma melodia e o acompanhamento complementa harmonizando com outra melodia. Milagrosamente elas se completam. Eis a arte suprema de Bach. Harmonia vertical, camada sobre camada. O céu é seu alvo, e ele lá chega. PATREM OMNIPOTENTE, dois coros distintos mais vozes em solo e uma orquestra. Música absoluta. Bach não compõe pensando em palavras. É som, som ritmado, som harmônico, som matemático, som divino. Há quem fale em música das esferas, o som que os antigos geômetras diziam ser a harmonia que sustentava o universo em movimento. È mais que isso: é o som da criação. -------------- Não pense em tragédia. Bach acreditava em Deus de uma maneira confiante e alegre, de um modo que nos é hoje impossível. Sua mensagem exulta em luz. Para Bach pensar em Deus não significa sentir dor ou dúvida, é a alegria da vida, a confiança da alma, a vontade de prosseguir rumo ao bem. Em seus momentos de dor, eles ocorrem, sua música promete ressurreição. E ela não tarda. Pois a vida nova reside na própria música de Bach. -------------- Triste a cultura que se previne contra esta música, está morta e morta para sempre. ET RESURREXIT. Eis a música, a mais elevada das artes. Eis Bach, o compositor que não pode ser comparado aos outros.
BRUNO WALTER
Bruno Walter foi um dos três grandes maestros do século XX. No começo do som gravado, ele e Arturo Toscanini eram os dois stars. Nascido judeu na Alemanha de fins dos anos 1800, Walter foi amigo de Mahler e foi com o austríaco que ele aprendeu a reger. Quando os nazis surgiram Walter teve de fugir. Holanda, Suiça e finalmente os EUA. Comandou todas as grandes orquestras de lá. Se Toscanini brilhava pelo ritmo, Bruno Walter era o rei da força, sua ênfase era no poder da música. Ninguém regeu Mahler, Brahms, Beethoven como ele. Acabo de ouvir a SINFONIA NÚMERO 1, de Beethoven, com a Sinfônica da Columbia, com Bruno Walter regendo. Gravação de 1967, já do fim da vida de Bruno. Que posso dizer? Perfeição. Preste atenção no ataque. No modo como a orquestra explode, sob controle, nos momentos fortes. Walter dá vida à obra, obra que por sí é eterna. Dizem que nesta sinfonia o jovem Beethoven imita Mozart. Não ouço isso. Aqui ele já é Beethoven. Mozart não tem a gravidade que há nesta música. Beethoven tem sempre algo de rabugento, e isso inexiste em Mozart. Feliz, porém pesada. Atente: rabugice que dá profundidade, peso que dá valor. Adoro Beethoven. Essas característcas são positivas nele. ------------------------ Escrevo para quem ama a música mas pouco entende dela. Para novatos como eu sou. Então, dou aqui alguns nomes de maestros que são os mais importantes dos últimos 100 anos. Peço apenas que tomem um cuidado: para música do século XVIII escolham sempre austríacos ou italianos. Arturo Toscanini, Bruno Walter, Wilhelm Furtwangler, Adrian Boult, Thomas Beecham, George Szell, Pierre Monteux, Eugene Ormandy, Karl Bohm, Herbert Von Karajan, Lorin Maazel, Bernard Haitink, George Solti, Seiji Ozawa, Trevor Pinnock, Claudio Abbado, Daniel Barenboim, Leonard Bernstein, Fritz Reiner, Andre Previn, Simon Rattle, Carlos Kleiber, Neville Marriner, Erich Kleiber...óbvio que devo ter esquecido dúzias de maestros admiráveis. Mas, todos esses já escutei e reescutei. São gigantes.
RIMSKY-KORSAKOV, SHERAZADE
Primeira questão: é música clássica, erudita, de concerto, música séria, o que é? Como se deve nomear essa música que vai de 1400 até mais ou menos 1950? Séria não pode ser. Jamais! Além de parecer que ela detesta o humor, passa o preconceito de que toda outra música não pode ser levada à sério. De concerto? Pior ainda! Toda música tocada em palco é um concerto! Erudita? Por favor, não! Esse nome é pretensioso, chato, pedante. Clássica é o menos ruim. Sim, eu sei que clássica é apenas a música feita por Haydn, Mozart e os filhos de Bach. Feita mais ou menos entre 1750-1800, em Vienna. Mas é o nome menos ruim porque mesmo gente como Ives, Barber ou Lygeti são clássicos no sentido de que já são parte de uma tradição histórica. Música clássica pode às vezes ser até mesmo popular, tosca ou banal, mas está sempre inserida numa tradição que vem de Monteverdi e Frescobaldi. ------------------ Rimsky-Korsakov viveu no fim do século XIX e começos do XX. Ouço sua obra Sherazade numa bela versão da Orquestra de Londres, regida por Charles MacKerras. Que prazer! Korsakov é um dos mestres da orquestração. Sua música desliza e flui de modo brilhante. Ele usa todos os naipes, os metais parecem irromper do céu e as cordas jamais têm a banalidade adocicado que tanto corrompeu o romantismo. Sua composição é rica, climas desfilam sem cessar e apesar de suas constantes mudanças, a harmonia jamais é perdida. Ouvi também a Sinfonia Jupiter de Mozart, e percebo como uma má versão pode emapanar até mesmo Mozart. Numa atuação sem brilho, a Jupiter está toda lá, nota por nota, mas ao mesmo tempo não está. Um Mozart amortecido na versão seca da Sinfônica de Varsóvia. Entendo então que a música clássica está viva a partir do momento em que percebemos que a cada atuação há uma nova versão e a cada gravação havia uma tentativa de entendimento. Ouça a Jupiter só se for com algum grupo Vienense.
A LIÇÃO DE MILES DAVIS
...MAS EXISTE MILES. E ele nos diz, jamais olhe para trás.
Engraçado o fato, JAZZ nunca me recorda nada. É o anti-saudosismo. Jazz corre adiante? Ou seria a celebração do momento? Acho que não. JAZZ é só música. Pura, sem querer dizer nada mais que som. Música abstrata. Mesmo JAZZ carregado de emoção, o que NÃO é o caso de Miles, é abstrato. Nada de história, ritmo. A pulsação da vida. Agora.
Miles saiu da heroína sózinho. Se trancou num quarto numa cidade onde não conhecia ninguém. E ficou lá. Morrendo. Suando. Gemendo. E voltou. Voltou com históricas gravações de 1954. Voltou com outro som. Nú.
29 de junho de 1954. Miles entra no estúdio e sai com oito gravações. ( Para comparar, hoje Beyoncé entra com quatro produtores e cinco arranjadores e sai com uma canção após um mês ). Com Miles estão:
Sonny Rollins. Horace Silver. Percy Heath e Kenny Clark.
Sonny mandou brasa com seu saxofone redondo. Horace detonou com o dedilhado cool e discreto. Percy era o cara! O ritmo das cordas de seu baixo de vento. E Kenny, o batera dos anos 40 que inventou o jeito novo de swingar: a batida extra, fora do tom, na caixa, marca registrada, desde Kenny, de TODO baterista de JAZZ.
Os caras entraram no estúdio e tiraram seus paletós. Cigarros empestearam todo o lugar. Camels fedidos. Miles não fala nada e quando fala ele fala baixo. Os caras sabem, o cara é um duende. Ele está aqui mas nunca está aqui. Ele só fala na hora de contar: 1,2,3...e a voz é assustadora. Cavernosa.
Oleo é um estouro. Airegin é uma revelação. Doxy é uma mina. Tudo cheira a calcinhas. E a Camels fedorentos. Cada faixa é gravada em três takes.
Os caras colocam os paletós e saem. Miles entra em seu carro, um Packard preto. Sonny vai a pé. Silver anda com ele. Kenny fica no estúdio e Percy foi tomar um café na esquina.
Amanhece.
Os caras nunca morrem. Como falei, JAZZ é only music. E música baby, música não morre.
Engraçado o fato, JAZZ nunca me recorda nada. É o anti-saudosismo. Jazz corre adiante? Ou seria a celebração do momento? Acho que não. JAZZ é só música. Pura, sem querer dizer nada mais que som. Música abstrata. Mesmo JAZZ carregado de emoção, o que NÃO é o caso de Miles, é abstrato. Nada de história, ritmo. A pulsação da vida. Agora.
Miles saiu da heroína sózinho. Se trancou num quarto numa cidade onde não conhecia ninguém. E ficou lá. Morrendo. Suando. Gemendo. E voltou. Voltou com históricas gravações de 1954. Voltou com outro som. Nú.
29 de junho de 1954. Miles entra no estúdio e sai com oito gravações. ( Para comparar, hoje Beyoncé entra com quatro produtores e cinco arranjadores e sai com uma canção após um mês ). Com Miles estão:
Sonny Rollins. Horace Silver. Percy Heath e Kenny Clark.
Sonny mandou brasa com seu saxofone redondo. Horace detonou com o dedilhado cool e discreto. Percy era o cara! O ritmo das cordas de seu baixo de vento. E Kenny, o batera dos anos 40 que inventou o jeito novo de swingar: a batida extra, fora do tom, na caixa, marca registrada, desde Kenny, de TODO baterista de JAZZ.
Os caras entraram no estúdio e tiraram seus paletós. Cigarros empestearam todo o lugar. Camels fedidos. Miles não fala nada e quando fala ele fala baixo. Os caras sabem, o cara é um duende. Ele está aqui mas nunca está aqui. Ele só fala na hora de contar: 1,2,3...e a voz é assustadora. Cavernosa.
Oleo é um estouro. Airegin é uma revelação. Doxy é uma mina. Tudo cheira a calcinhas. E a Camels fedorentos. Cada faixa é gravada em três takes.
Os caras colocam os paletós e saem. Miles entra em seu carro, um Packard preto. Sonny vai a pé. Silver anda com ele. Kenny fica no estúdio e Percy foi tomar um café na esquina.
Amanhece.
Os caras nunca morrem. Como falei, JAZZ é only music. E música baby, música não morre.
UMA ESTÉTICA GAY....ALLADIN SANE E HONKY CHATEAU, BOWIE AND ELTON.
Tenho 50 anos e não tenho filho. Nunca fui casado e gosto de filmes musicais. Gay? Well...até hoje nunca tive uma experiência homossexual e acho que morrerei sem ter. Na verdade nunca senti atração por homem nenhum, embora não me impeça de saber quando um homem é bonito. Mulheres me deixam confuso e excitado. Homens não. Isso me faz pensar que é provável que não seja gay. Porque falo tamanha bobeira? Por causa de dois discos que reouvi após bom tempo. Dois discos obviamente gays, com tudo que essa palavra possa ter de exata ou de puro preconceito. Existe disco gay? Existe arte gay? Existe alma gay? Um disco que fale do amor de um homem por outro é gay, mas é arte gay? A arte pode ser gay falando de guerra ou de um carro. O rock pode ser gay em forma de heavy metal e ser muito hetero em forma de disco music. Como definir?
Meu gosto estético está muito moldado numa certa moda que havia em 1972/1974. Eu tive 9/14 anos no auge do glitter. Se aqui a gente tinha a onipresença dos Secos e Molhados, fora daqui era a coisa de Bowie e Elton. Os anos 70 foram incrivelmente bicha louca.Começam com Lou Reed e terminam com Blondie e Abba. No meio teve Queen e Roxy Music.
Quando penso do que realmente adoro em livros, música, cinema, há uma boa quantidade de arte feita por gays. Mas penso, qual a pessoa razoávelmente culta que não terá amores por Proust, Bowie ou Andy Warhol?
Em 1973 dois discos foram lançados quase juntos. E trombaram de frente com Dark Side of The Moon e Houses of The Holy. ( Mas também com Innervisions, For Your Pleasure e Billion Dolllar Babies ). ALLADIN SANE ( a lad insane ), é o disco sem direção, caótico, que Bowie lançou no auge da loucura Ziggy. Já foi chamado de ""ö disco que os Stones não lançaram""". Besteira. O disco, estridente, tem no piano de Mike Garson seu trunfo. Nunca se escutou piano tão sofisticado em disco de rock. Garson era do jazz e seu toque parece de cristal. Ele embeleza tudo o que toca, dá profundidade. E faz de uma faixa como ALLADIN SANE uma obra-prima. Assim como LADY GRINNING SOUL, que fecha o disco, outra obra-prima que gruda na sua vida e dá sentido a seu gosto. O clip que vi na época, JEAN GENNIE, mudou toda a minha vida. Levei um banho, na infância, de glitter e nunca mais me limpei dessa purpurina. Meus olhos se abriram para a beleza rocker e espacial, delicada e desafiante de Bowie, Ronson e de Angie. A capa do disco é icônica até hoje. Há ainda PANIC IN DETROIT com sua guitarra suja e LETS SPEND THE NIGHT TOGETHER, versão superior aos Stones. Anarquia pura.
HONKY CHATEAU provou de vez que a herança dos Beatles era de Elton e não de Paul ou de John. Pop com rock e o dom de agradar a todos. Todos mesmo! Elton é oposto a Rod Stewart, seu rival naquele tempo. Rod parece feliz mesmo quando se estraçalha em jóias como Every Picture. Já Elton parece triste mesmo quando canta rocks felizes. Há algo nos olhos de Elton que sempre anunciam desencanto. Sua máxima obra-prima da beleza etérea e encantadora se encontra aqui, ROCKET MAN é uma das cinco maiores canções dos últimos 50 anos. Ela tem tudo, tristeza, esperança, desencanto, um refrão grudento, mistério, silêncio e efeitos esquisitos. E a voz de Elton, que vai crescendo com a melodia. A perfeição de forma e conteúdo. O album abre com Honky Cat, rock saltitante. O piano de Elton sempre foi percussivo, ele batuca nas teclas. I THINK I AM GOING TO KILL MYSELF é outra maravilha. Tem um dos mais bonitos refrões da carreira de Elton. E há MONA LISAS AND MAD HATTERS, uma outra obra-prima, mistura mágica de dor e de inocência.
Elton caiu como uma luva numa era de inocência pervertida e de sonhos conspurcados. Era um tempo em que a canção romântica vendia como pão quente. Meninos de 10 anos escutavam baladas doces dos Carpenters e baladas azedas de Nilsson. E baladas perfeitas de Elton John, que era o alvo de todos os outros cantores. HERCULES, nome do gato de Elton, é como um sonho. Onde achar uma canção melhor?
O segredo de Elton, e de Bowie em outro mundo e intenção, sempre foi o dom da beleza. Seus imitadores enfeiam aquilo que com os dois sempre parece perfeito, grego, apolineo. Os imitadores de Bowie, por melhor que fossem/sejam, sempre parecem desalinhados, quase feios. Os de Elton são banais. São pret-a-porter, nunca Saville Row.
Talvez seja essa a coisa gay dos dois? Um interesse na estética, seja a do exagero cafona de Elton, seja a futurista de David. Ou não?
Que importa? Música não tem sexo e nisso os dois são meus pais.
Eu amo Elton John. E amo David Bowie.
Meu gosto estético está muito moldado numa certa moda que havia em 1972/1974. Eu tive 9/14 anos no auge do glitter. Se aqui a gente tinha a onipresença dos Secos e Molhados, fora daqui era a coisa de Bowie e Elton. Os anos 70 foram incrivelmente bicha louca.Começam com Lou Reed e terminam com Blondie e Abba. No meio teve Queen e Roxy Music.
Quando penso do que realmente adoro em livros, música, cinema, há uma boa quantidade de arte feita por gays. Mas penso, qual a pessoa razoávelmente culta que não terá amores por Proust, Bowie ou Andy Warhol?
Em 1973 dois discos foram lançados quase juntos. E trombaram de frente com Dark Side of The Moon e Houses of The Holy. ( Mas também com Innervisions, For Your Pleasure e Billion Dolllar Babies ). ALLADIN SANE ( a lad insane ), é o disco sem direção, caótico, que Bowie lançou no auge da loucura Ziggy. Já foi chamado de ""ö disco que os Stones não lançaram""". Besteira. O disco, estridente, tem no piano de Mike Garson seu trunfo. Nunca se escutou piano tão sofisticado em disco de rock. Garson era do jazz e seu toque parece de cristal. Ele embeleza tudo o que toca, dá profundidade. E faz de uma faixa como ALLADIN SANE uma obra-prima. Assim como LADY GRINNING SOUL, que fecha o disco, outra obra-prima que gruda na sua vida e dá sentido a seu gosto. O clip que vi na época, JEAN GENNIE, mudou toda a minha vida. Levei um banho, na infância, de glitter e nunca mais me limpei dessa purpurina. Meus olhos se abriram para a beleza rocker e espacial, delicada e desafiante de Bowie, Ronson e de Angie. A capa do disco é icônica até hoje. Há ainda PANIC IN DETROIT com sua guitarra suja e LETS SPEND THE NIGHT TOGETHER, versão superior aos Stones. Anarquia pura.
HONKY CHATEAU provou de vez que a herança dos Beatles era de Elton e não de Paul ou de John. Pop com rock e o dom de agradar a todos. Todos mesmo! Elton é oposto a Rod Stewart, seu rival naquele tempo. Rod parece feliz mesmo quando se estraçalha em jóias como Every Picture. Já Elton parece triste mesmo quando canta rocks felizes. Há algo nos olhos de Elton que sempre anunciam desencanto. Sua máxima obra-prima da beleza etérea e encantadora se encontra aqui, ROCKET MAN é uma das cinco maiores canções dos últimos 50 anos. Ela tem tudo, tristeza, esperança, desencanto, um refrão grudento, mistério, silêncio e efeitos esquisitos. E a voz de Elton, que vai crescendo com a melodia. A perfeição de forma e conteúdo. O album abre com Honky Cat, rock saltitante. O piano de Elton sempre foi percussivo, ele batuca nas teclas. I THINK I AM GOING TO KILL MYSELF é outra maravilha. Tem um dos mais bonitos refrões da carreira de Elton. E há MONA LISAS AND MAD HATTERS, uma outra obra-prima, mistura mágica de dor e de inocência.
Elton caiu como uma luva numa era de inocência pervertida e de sonhos conspurcados. Era um tempo em que a canção romântica vendia como pão quente. Meninos de 10 anos escutavam baladas doces dos Carpenters e baladas azedas de Nilsson. E baladas perfeitas de Elton John, que era o alvo de todos os outros cantores. HERCULES, nome do gato de Elton, é como um sonho. Onde achar uma canção melhor?
O segredo de Elton, e de Bowie em outro mundo e intenção, sempre foi o dom da beleza. Seus imitadores enfeiam aquilo que com os dois sempre parece perfeito, grego, apolineo. Os imitadores de Bowie, por melhor que fossem/sejam, sempre parecem desalinhados, quase feios. Os de Elton são banais. São pret-a-porter, nunca Saville Row.
Talvez seja essa a coisa gay dos dois? Um interesse na estética, seja a do exagero cafona de Elton, seja a futurista de David. Ou não?
Que importa? Música não tem sexo e nisso os dois são meus pais.
Eu amo Elton John. E amo David Bowie.
MIKE NICHOLS E WHITNEY HOUSTON
Mike Nichols nos deu algumas das melhores direções de ator da história. E ele só não foi maior porque seu grande interesse não era nem cinema e nem teatro, era essa coisa chamada mulher. Mike foi um Dom Juan. Surgiu na Broadway como um jovem genial e arrogante. Logo foi para o cinema. Virginia Woolf tem alguns dos maiores desempenhos que já vi. Quem não testemunhou o milagre de ira que Elizabeth Taylor nos dá não sabe o que é uma grande atriz. Richard Burton tem seu melhor desempenho nas telas. Uma magia de ódio e de ressentimento sob falso controle. Depois Mike veio com A Primeira Noite de Um Homem, um filme NOVO em seu tempo, e que hoje ainda sobrevive como delicia de invenção e de homenagem à vida. Dustin Hoffman teve a sorte de estar nele. Depois Mike perdeu o interesse. Ficou rico, caiu na gandaia. Catch 22 foi um filme caro e flopou nas bilheterias. É um filme muito interessante. E bem doido. O brilho de Mike surgiu em algumas ocasiões, mas ele deixou de ser central. Sua morte não deixa um vazio porque ele já desocupara seu trono desde os anos 70. Repito as palavra de Forastieri: que o céu o receba com um dry martini. E uma coelhinha da Playboy.
Whitney, ao contrário de Mike que deixou um legado que faz o cinema crescer, Miss Houston destruiu a canção romântica americana. Com ela nasce a praga de se confundir cantar bem com exibir trinados e volteios vocais. A música das cantoras, mas também dos cantores, a partir de Whitney se torna fria, profissionalmente vazia. Os brilhos verdadeiros, fraseado, alcance, modulação e principalmente interpretação, passam a ser jogados no lixo. Importa muito mais um grito longo e afinado que a acariciante voz quente e complexa, pessoal de um Otis ou de Marvin. Repare: TODAS as vozes passam a soar iguais. Todas são Whitney.
Whitney, ao contrário de Mike que deixou um legado que faz o cinema crescer, Miss Houston destruiu a canção romântica americana. Com ela nasce a praga de se confundir cantar bem com exibir trinados e volteios vocais. A música das cantoras, mas também dos cantores, a partir de Whitney se torna fria, profissionalmente vazia. Os brilhos verdadeiros, fraseado, alcance, modulação e principalmente interpretação, passam a ser jogados no lixo. Importa muito mais um grito longo e afinado que a acariciante voz quente e complexa, pessoal de um Otis ou de Marvin. Repare: TODAS as vozes passam a soar iguais. Todas são Whitney.
A VIDA SEXUAL DO SELVAGEM- JULIO BARROSO
Era 1991 e meu amigo de baladas, Percy, aquele que delirava no Satã e fazia amizades eternamente futeis com todos os trapos chiques do mundo, bem, Percy me deu este livro da editora Siciliano ( existe ainda? ). Isso foi em 1991 e em 91 eu estava já bem caseiro, posando de lord dono de terras. Imaginação é uma das realidades possíveis baby.
Então volto agora mais um pouco, 1984.
Esse foi, talvez quem sabe, o ano mais admirável de minha life. Por uma montanha de motivos que talvez eu esteja com preguiça de detalhar. But...nesse ano eu me apaixonei quatro vezes, e só isso faz de qualquer ano uma coisa admirável. Mas houve mais. Descobri escritores, músicos, pintores, uma constelação. E nunca estive tão sedento de inspiração quanto então. Era uma ração de piração inspirada. Tudo de novo que rolava era meu. Eu flutuava de juventude doida. Ousava.
Pois foi nesse ano que Julio Barroso morreu. E nas explosões de epifanias que eu vivia, sua morte foi uma construção vulcânica. Julio caiu da janela de seu apto no Jardim América. Pó ? Vai saber...Li isso num jornal de um cara na sala de aula da Fiam. Fazia frio e era junho. Mas, o fato é, quem era Julio?
Agora é 1981 e é sábado. Saiba que 1981 é o tempo de Gilliard e de Gretchen. E também da genial alegria de Jorge Ben, Cor do Som e do Pepeu. O Brasil, começando a se soltar, vivia o fim do sonho hippie peace and love. Viria em seguida o chic and sex. Mas... Na TV Bandeirantes Nelson Motta apresentava um programa jovem chamado Mocidade Independente. Gravado em sua boate na Faria Lima, nesse programa teve Bowie com Ashes to Ashes. Teve Arrigo Barnabé. Teve Kid Creole and The Cocoanuts. Teve Gabeira. E teve o Júlio. Com as Absurdettes, ele aparecia num cenário neon onde pintava seu rosto magro com baton. Era esquisito pacas, porque a cara dele era de raiva e o gesto de extrema suavidade. O som ao fundo era um tipo de trip dark. Me deu ansiedade. Gelada.
Na hora não notei, mas eu já conhecia Julio. Desde um ano antes, quando ele esteve na geração de redatores finais da agonizante Revista POP. Na Abril, ela era A revista. Julio escrevia sobre reggae, funk, soul, new wave e novidades africanas em geral. Julio era desbundado. Alucinado. Exagerado. Como eram os ótimos críticos musicais da época. Como eram Zeca, Okky, Ana, Zé Emilio, Valdir. Nomes que a gente lembra até hoje.
Dou um salto para agora, novembro de 2014. Aqui está o livro de Julio. Livro que não via desde muito tempo. Estava no fundo de um baú. Protegido. E meio esquecido. Vou desfolhar com voces. Let`s go...
O livro é em P/B e tem desenhos, meio africanos, um tipo de graffitti, em todas as páginas. O formato é big, retangular. Amigos de Julio escrevem textos sobre ele. O que mais falam é de sua energia, alegria e do monte de ideias que brotavam de sua cabeça. Julio era carioca, e morara em NY, no Caribe e rodara Europa. Fotos que mostram o luxo irrecuperável de 1980. Tem algumas, de Vania Toledo, com Julio, May East, Gigante, Alice, andando em alguma rua madruguenta dos Jardins, que são o fino do extra-cool. Saudades de Teddy Paez....
Textos escritos por Julio. Me surpreendo. Eu escrevo como Julio. O cara me influenciou pra caramba! Julio-Zeca-Francis, tento, sei que longe deles, tento...Os textos de Julio falam de novidades de então. Música africana, reggae, soul de vanguarda, new wave, jazz experimental, novas bandas made in Brazil. Tem alguns poemas de Julio, letras de músicas, ideias. Ele queria montar um escritório que vendesse ideias. Para quem não as tivesse. Ele adoraria viver a época da intenet. Hoje teria 60 anos.
Em 1980 Julio formou a Gang 90. Na boate do Nelson Motta, na Faria Lima. Entre aquele monte de peles de tigre fake que lá havia. Julio era DJ lá.
Aliás o livro tem uma foto do convite da Noite Brasileira de Julio em NY. Em 1979 ele foi DJ por lá. No convite tem Cassiano, Lady Zu, Gerson Combo, coisa fina, todos lá.
Voltando. A Gang se apresentou num festival de MPB da Globo. E foi vaiada. Isso em 80. Em 83 eles fariam parte da trilha sonora de uma novela da mesma Globo e estourariam. Em 84 Julio partiria. O disco da Gang, o único, que eu comprei na época e ainda tenho, é uma mistura de tudo aquilo que ele ouvia. De Blondie a tribal africano. Reggae a pré-rap. É bom mas tem um grande problema: tem a sonoridade dos discos de MPB da época. A bateria fraca, a guitarra suavizada e todo o foque em cima da voz e dos teclados. Parece fake. Fraco fake. Soft demais...but i like it !
Temos daquela geração os piores. Lulu, Herbert, Roger, Lobão....os melhores se calaram ou se perderam: Ritchie, Marina....Cazuza, Cássia, Renato....e Julio. Nada foi mais trágico que o destino dessa geração. Os medíocres restaram.
Julio, assim como meu amigo Percy, sempre vai me recordar os Jardins. É o som de um mundo que não mais existe. Então ainda era cheio de silêncio, de escuridão, de sombras e de deslumbramento chique. Percy vive em Curitiba agora, e lá é DJ. Julio foi pra onde vão os poetas eternamente jovens. E eu tou aqui. Apertando teclas e tentando manter vivo o sonho e a luz...
Postarei alguns clips do sons que Julio amava. Enjoy it.
A lição de Julio e de sua geração foi e é: Seja curioso, furioso, chique, sempre!
Então volto agora mais um pouco, 1984.
Esse foi, talvez quem sabe, o ano mais admirável de minha life. Por uma montanha de motivos que talvez eu esteja com preguiça de detalhar. But...nesse ano eu me apaixonei quatro vezes, e só isso faz de qualquer ano uma coisa admirável. Mas houve mais. Descobri escritores, músicos, pintores, uma constelação. E nunca estive tão sedento de inspiração quanto então. Era uma ração de piração inspirada. Tudo de novo que rolava era meu. Eu flutuava de juventude doida. Ousava.
Pois foi nesse ano que Julio Barroso morreu. E nas explosões de epifanias que eu vivia, sua morte foi uma construção vulcânica. Julio caiu da janela de seu apto no Jardim América. Pó ? Vai saber...Li isso num jornal de um cara na sala de aula da Fiam. Fazia frio e era junho. Mas, o fato é, quem era Julio?
Agora é 1981 e é sábado. Saiba que 1981 é o tempo de Gilliard e de Gretchen. E também da genial alegria de Jorge Ben, Cor do Som e do Pepeu. O Brasil, começando a se soltar, vivia o fim do sonho hippie peace and love. Viria em seguida o chic and sex. Mas... Na TV Bandeirantes Nelson Motta apresentava um programa jovem chamado Mocidade Independente. Gravado em sua boate na Faria Lima, nesse programa teve Bowie com Ashes to Ashes. Teve Arrigo Barnabé. Teve Kid Creole and The Cocoanuts. Teve Gabeira. E teve o Júlio. Com as Absurdettes, ele aparecia num cenário neon onde pintava seu rosto magro com baton. Era esquisito pacas, porque a cara dele era de raiva e o gesto de extrema suavidade. O som ao fundo era um tipo de trip dark. Me deu ansiedade. Gelada.
Na hora não notei, mas eu já conhecia Julio. Desde um ano antes, quando ele esteve na geração de redatores finais da agonizante Revista POP. Na Abril, ela era A revista. Julio escrevia sobre reggae, funk, soul, new wave e novidades africanas em geral. Julio era desbundado. Alucinado. Exagerado. Como eram os ótimos críticos musicais da época. Como eram Zeca, Okky, Ana, Zé Emilio, Valdir. Nomes que a gente lembra até hoje.
Dou um salto para agora, novembro de 2014. Aqui está o livro de Julio. Livro que não via desde muito tempo. Estava no fundo de um baú. Protegido. E meio esquecido. Vou desfolhar com voces. Let`s go...
O livro é em P/B e tem desenhos, meio africanos, um tipo de graffitti, em todas as páginas. O formato é big, retangular. Amigos de Julio escrevem textos sobre ele. O que mais falam é de sua energia, alegria e do monte de ideias que brotavam de sua cabeça. Julio era carioca, e morara em NY, no Caribe e rodara Europa. Fotos que mostram o luxo irrecuperável de 1980. Tem algumas, de Vania Toledo, com Julio, May East, Gigante, Alice, andando em alguma rua madruguenta dos Jardins, que são o fino do extra-cool. Saudades de Teddy Paez....
Textos escritos por Julio. Me surpreendo. Eu escrevo como Julio. O cara me influenciou pra caramba! Julio-Zeca-Francis, tento, sei que longe deles, tento...Os textos de Julio falam de novidades de então. Música africana, reggae, soul de vanguarda, new wave, jazz experimental, novas bandas made in Brazil. Tem alguns poemas de Julio, letras de músicas, ideias. Ele queria montar um escritório que vendesse ideias. Para quem não as tivesse. Ele adoraria viver a época da intenet. Hoje teria 60 anos.
Em 1980 Julio formou a Gang 90. Na boate do Nelson Motta, na Faria Lima. Entre aquele monte de peles de tigre fake que lá havia. Julio era DJ lá.
Aliás o livro tem uma foto do convite da Noite Brasileira de Julio em NY. Em 1979 ele foi DJ por lá. No convite tem Cassiano, Lady Zu, Gerson Combo, coisa fina, todos lá.
Voltando. A Gang se apresentou num festival de MPB da Globo. E foi vaiada. Isso em 80. Em 83 eles fariam parte da trilha sonora de uma novela da mesma Globo e estourariam. Em 84 Julio partiria. O disco da Gang, o único, que eu comprei na época e ainda tenho, é uma mistura de tudo aquilo que ele ouvia. De Blondie a tribal africano. Reggae a pré-rap. É bom mas tem um grande problema: tem a sonoridade dos discos de MPB da época. A bateria fraca, a guitarra suavizada e todo o foque em cima da voz e dos teclados. Parece fake. Fraco fake. Soft demais...but i like it !
Temos daquela geração os piores. Lulu, Herbert, Roger, Lobão....os melhores se calaram ou se perderam: Ritchie, Marina....Cazuza, Cássia, Renato....e Julio. Nada foi mais trágico que o destino dessa geração. Os medíocres restaram.
Julio, assim como meu amigo Percy, sempre vai me recordar os Jardins. É o som de um mundo que não mais existe. Então ainda era cheio de silêncio, de escuridão, de sombras e de deslumbramento chique. Percy vive em Curitiba agora, e lá é DJ. Julio foi pra onde vão os poetas eternamente jovens. E eu tou aqui. Apertando teclas e tentando manter vivo o sonho e a luz...
Postarei alguns clips do sons que Julio amava. Enjoy it.
A lição de Julio e de sua geração foi e é: Seja curioso, furioso, chique, sempre!
LET`S GET LOST, UM DOC DE BRUCE WEBER SOBRE CHET BAKER
Flea anda pela praia e ri. É a música que o faz rir e Flea sabe tudo de tudo que vale a pena escutar. Questão de cintura. Bruce Weber, que sabe tudo de imagem ( melhor fotógrafo de moda ), mostra mais uma vez o que a gente sabia que ele sabia. Mas Bruce ama música também e então eu entendo que suas fotos são músicas em revelação. Bruce Weber fez os mais belos clips da mais bela fase da MTV ( Pet Shop Boys e Chris Isaak ). O coração de Bruce Weber é de Chet. E Chet Baker é o trompetista branco que queria ser preto. O cantor de jazz que desejava morrer de tanto amar. Este documentário, que posto inteiro para voces, é de 1991. E voce sabe, 1991 foi um dos mais lindos dos anos. A beleza vence a morte. Sempre.
Ah meu amor! 1988 foi o mais amoroso dos anos. Eu te dava rosas menina. E escutava Bizet e Chet toda manhã. Manhãs que eram vividas em êxtase frio, o inverno foi cruel, e chuva que grudava em mim. Suas mãos eram brancas e os seios pareciam de seda. Meu amor, eu me emocionava apenas pensando no céu. Descobri Zorba, descobri Waugh e encontrei Lorca. E mais que tudo eu mergulhei no mel de voce. E Chet Baker cantou para nós dois.
Vejam o documentário.
A vida sempre pode ser melhor. Apesar de toda dor que se faz.
Ah meu amor! 1988 foi o mais amoroso dos anos. Eu te dava rosas menina. E escutava Bizet e Chet toda manhã. Manhãs que eram vividas em êxtase frio, o inverno foi cruel, e chuva que grudava em mim. Suas mãos eram brancas e os seios pareciam de seda. Meu amor, eu me emocionava apenas pensando no céu. Descobri Zorba, descobri Waugh e encontrei Lorca. E mais que tudo eu mergulhei no mel de voce. E Chet Baker cantou para nós dois.
Vejam o documentário.
A vida sempre pode ser melhor. Apesar de toda dor que se faz.
A VIDA E O AMOR NA VIDA E PARA A VIDA
Então voce anda pelas ruas com aquela música de George Gerswin na cabeça. Na verdade voce canta ela baixinho e até arrisca uns passos de dança numa rua mais vazia. Seus sentidos estão afiados e voce repara num jardim que nunca notara antes. As pessoas parecem menos feias e a tarde tem uma cor insuspeita. É estranho notar que seus amigos nunca te pareceram tão "bacanas". São grandes caras! Afinal, sua vida tem um objetivo, e ele está diante, atrás e ao seu lado. Falar sobre esse objetivo seria um pecado. Então voce anda e canta. Voce ama.
E amando voce não está mais aqui. E todo mundo percebe isso. Voce é outro. E só voce sabe que esse outro é o verdadeiro voce. Porque amar é o que nos liberta, nos define e nos faz viver. Todo o resto é morte em vida. Ou na melhor das hipóteses, distração fútil do ato de esperar.
Mas existem armadilhas. Pois o mundo nega o amor. De várias formas. As mais sutis: o tempo que se encurta e voce não consegue a ver como gostaria. A dúvida do ciúme: voce não confia no amor e acha que ele é fraco. O egoísmo: voce exige que o amor dela seja sempre maior que o seu. Voce pensa ser digno de mais amor que aquele que voce tem para dar. As pessoas ao redor: alguém diz que voce é ingênuo, outro fala que o amor não existe....Eis a grande batalha!
O MUNDO grita desde sempre nos ouvidos de todo aquele que ama: O amor é uma ilusão! Uma armadilha! Uma tola invenção!
E contrariado tudo em voce responde: Mas ele está em mim! E é mais verdadeiro que minha própria existência! Ele é a própria existência!
E seu amor, que precisa e deve ser defendido, se vê em luta. É esse o Dragão. É isso que os cristãos chamam de a Tentação. Acuado, quase desiludido, vem a hora de lutar a única luta que vale a pena. A luta pela salvação do Amor. Isso define tudo, ou voce desiste ou voce persevera. E vence.
Porque amar nunca foi TER quem voce ama. Amar é conseguir fazer sobreviver em voce O AMOR. Permanecer amante mesmo na ausência. Jamais desacreditar da força, da verdade e da eternidade do amor. A vida é isso. A alegria é assim. Viver só vale se for desse modo. Sim, é uma lei.
Mas O MUNDO... antes eram familias que lutavam contra o amor. Guerras que desuniam, costumes que o impediam, tabús ou pecados. Heresias. Agora é a dúvida. Gente irá te dizer que Amor é Sexo, modo bonito de nomear um ato animal. Gente vai te dizer que Amor é interesse. Outros vão falar que ele não existe, é um conto da carochinha como é Deus ou a alma. Todos esses esqueceram o que o amor é, ou pior, nunca o conheceram. Mas eles te enfrentam, te tentam, te confundem.
Persevere. Se voce perder o amor tudo será perdido. Lute.
A gostosa que dança nuna diante de voce não é o amor. É um desejo. E o desejo vem e morre. É temporal, é falível e promete muito pouco. Quem amou sabe que o sexo NÂO é amor. É brinquedo, prazer delicioso, jogo de aparências, disputa por posse. Sedução. O amor nunca é jogo e jamais uma sedução. Ele sempre se mostra como verdade e acontece sem plano ou trabalho. Destino. Confirmação.
Leio um texto de Pondé, não é de hoje, em que ele analisa o filme de Malick. Aquele com Ben Affleck. É disso que ele trata. Os críticos, incrível como os críticos de hoje têm baixa cultura, nada entenderam. O filme fala da descoberta do amor, da luta entre a matéria e o amor, da grande batalha.
Porque tudo conspira, ao contrário do que dizem os new age, CONTRA o amor. O mundo abomina os amantes. Abomina sua passividade, a negação que eles demonstram da ambição mundana, sua indolência preguiçosa, sua ingenuidade perigosa. E cabe a todo amante SALVAR o amor. Lutar por ele.
A vida é isso. Tão somente isso. É a verdade de Rumi, de São Francisco, de Buda, de Juan de La Cruz, dos poetas e dos músicos, de Chagall, é a verdade daqueles dois deitados na praia as quatro da manhã na chuva...
AN EXPERIMENTAL FUSION OF HIP-HOP AND JAZZ: JAZZMATAZZ
Vindo do gueto e assimilado pelo branco-chic, o hip-hop fez o mesmo caminho que o jazz. Questão de ritmo, assim como Armstrong deu improviso e beat a melodia music-hall, o rap deu colagens, batidas e ginga ao velho pop mofado. E o improviso, em letras e em levadas. Substituíram as imensas lapelas dos paletós zoot pelos medalhões de metal. E o sapato bicolor virou tênis grandão. Mas o que é inevitável sempre acontece, o rap se uniu ao jazz, durou pouco o movimento, mas foi bom demais!
Este disco, o primeiro de GURU mexeu com minha cabeça e com meus quadris. A trilha do final do século XX, a minha trilha, é essa. O disco faz uma mistura irresistível: é rua e gueto e ao mesmo tempo é chique e muuuuuuito metidão! As batidas são do hip-hop, a voz é do rap, os temas são revolucionários, mas tudo é temperado com solos, reviravoltas do mais puro jazz. Como resultado uma trilha contemporânea, trilha do mundo que une a mais abjeta bosta ao mais límpido estilo. Lixo clean, a combinação do mundo agora.
Branford Marsalis toca aqui. Sola free. Donald Byrd também. O trompete cheio de bossa. E o vibrafone de Roy Ayers embeleza a melhor faixa. Há ainda Courtney Pine e Ronny Jordan. E N'Dea Davenport. Uma festa soturna, o ambiente do som é dark, sombrio e muito frio.
Estamos em 2013. Reouvir Guru com o McSolaar continua a ser um instigante prazer. Sabe né: Le Bien et Le Mal.
Bota pra tocar e escuta aí:
Este disco, o primeiro de GURU mexeu com minha cabeça e com meus quadris. A trilha do final do século XX, a minha trilha, é essa. O disco faz uma mistura irresistível: é rua e gueto e ao mesmo tempo é chique e muuuuuuito metidão! As batidas são do hip-hop, a voz é do rap, os temas são revolucionários, mas tudo é temperado com solos, reviravoltas do mais puro jazz. Como resultado uma trilha contemporânea, trilha do mundo que une a mais abjeta bosta ao mais límpido estilo. Lixo clean, a combinação do mundo agora.
Branford Marsalis toca aqui. Sola free. Donald Byrd também. O trompete cheio de bossa. E o vibrafone de Roy Ayers embeleza a melhor faixa. Há ainda Courtney Pine e Ronny Jordan. E N'Dea Davenport. Uma festa soturna, o ambiente do som é dark, sombrio e muito frio.
Estamos em 2013. Reouvir Guru com o McSolaar continua a ser um instigante prazer. Sabe né: Le Bien et Le Mal.
Bota pra tocar e escuta aí:
PARA MEU AMIGO FABIO PAGOTTO- HARVEY E COLIN DAVIS
Meu amigo Fabio Pagotto escreve no Facebook um texto lindo sobre o filme HARVEY. E para minha surpresa, uma galera enorme responde ao seu texto, entoando homenagens a esse soberbo e sublime filme de Henry Koster. Do que trata? James Stewart faz um frequentador de botecos. Sempre sorridente e otimista, ele tem a companhia de um coelho gigante, Harvey. Claro que o filme jamais mostra o coelho, o cinema em 1950 ainda tentava ser adulto. A familia, repressora, acaba por internar Stewart. É quando acontece a sua maravilhosa fala ( o roteiro, genial, é de Mary Chase ). Fabio transcreveu a fala inteira. Harvey é um pookah, espirito mítico da Irlanda que acompanha os bêbados e os ingênuos. Nessa fala o personagem de Stewart fala do coelho, da alegria da vida, dos amigos que ele e Harvey sempre encontravam. Impossível não se emocionar.
HARVEY é um cult, foi o filme favorito de James Stewart ( um cara que fez mais de 20 graaaaandes filmes ), e percebo que manteve todo o poder de emocionar. Isso após 63 anos!!!
Falando em Grande Arte, Colin Davis morreu. Se depender da Folha, isso é menos importante que a inauguração de uma loja. O Estadão deu meia página bem cheia. Falou quem ele era e o que fez. Davis foi parte da última grande geração de maestros. A geração de Abbado, Masur e Maazel. Últimos nomes de uma turma que estudou com os maestros ícones, aqueles que regeram no tempo de Strauss, Ravel e Mahler. Colin Davis teve a honra de redescobrir Berlioz e deixar obras primas em Mozart. Sua geração foi a primeira a saber usar os estúdios de gravação. Davis deixa mais de 300 albuns. Sabemos que o sublime se foi.
A vulgaridade manda no mundo como nunca antes. Blá!
ARETHA E WHITNEY
Belo texto no Estadão sobre Whitney Houston. O autor, que é americano, fala que nos EUA ele seria vaiado se dissesse o óbvio: Whitney era uma cantora ruim, fabricada, fria, sem qualquer sinal de verdadeiro talento. O canto que ela emitia nada tinha dela-mesma, era banal e poderia ser confundido com o canto de qualquer outra cantora de seu tempo. Pior, ela institui esse tipo de cantor hiper-produzido, exibicionista e vazio. Um canto sem emoção, sem pensamento, sem personalidade. O sonho da indústria: linha de montagem de vozes.
O autor ( Lee...o que mesmo? ), conta que a madrinha de Whitney, Aretha Franklyn, não foi ao enterro e disse que Whitney era uma estrela. Só isso, uma estrela, não uma cantora. E como uma estrela moderna, ela torrou 100 milhões em drogas. Drogas usadas com o único objetivo de se drogar.
Aretha Franklyn era/é uma grande cantora. Tem tudo aquilo que Whitney nunca nem sonhou em ter. Personalidade, sentimento genuíno e pensamento. Cada canção de Aretha traz a marca de tudo aquilo que ela pensa, vive e sente. Uma voz sem igual, única, como únicas eram as vozes de Ray Charles, Wilson Pickett ou de Otis Redding. Aretha canta, e canta e canta. Toda a saga negra na voz. Confundir sua voz com a de qualquer outra cantora é impossível. E essa marca se chama arte.
Ouvir Whitney é uma experiência vazia de significado. Escutar Aretha é uma aprendizagem. Na morte de Whitney, pobre moça, os louvores são de sua madrinha, a inigualável Aretha Franklyn.
O autor ( Lee...o que mesmo? ), conta que a madrinha de Whitney, Aretha Franklyn, não foi ao enterro e disse que Whitney era uma estrela. Só isso, uma estrela, não uma cantora. E como uma estrela moderna, ela torrou 100 milhões em drogas. Drogas usadas com o único objetivo de se drogar.
Aretha Franklyn era/é uma grande cantora. Tem tudo aquilo que Whitney nunca nem sonhou em ter. Personalidade, sentimento genuíno e pensamento. Cada canção de Aretha traz a marca de tudo aquilo que ela pensa, vive e sente. Uma voz sem igual, única, como únicas eram as vozes de Ray Charles, Wilson Pickett ou de Otis Redding. Aretha canta, e canta e canta. Toda a saga negra na voz. Confundir sua voz com a de qualquer outra cantora é impossível. E essa marca se chama arte.
Ouvir Whitney é uma experiência vazia de significado. Escutar Aretha é uma aprendizagem. Na morte de Whitney, pobre moça, os louvores são de sua madrinha, a inigualável Aretha Franklyn.
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