Manuel Bandeira luta para ser simples. O que ele quer, e isso é muito dificil de obter, é atingir a clareza de uma criança. Não nos iludamos, escrever complicado é menos dificil que ser simples. E por favor, jamais confunda simples com pobre.
Se ele fala de uma maçã, começará descrevendo essa maçã diante de suas reverberações. A maçã recordará sangue, coração e seio. Mas na escrita ele vai despindo a fruta de tudo o que ela não é. Bandeira faz o contrário daquilo que o modernismo faz. Os modernos pegam o simples e o esfacelam, Bandeira pega o multi e faz dele aquilo que sempre foi, o simples objeto.
Desde sempre Manuel Bandeira foi doente. A morte sempre esteve perto de sua vida. E apesar de ter conseguido chegar a velhice, o momento da descoberta da doença o marcou para sempre. A vida perante a morte fez dele um homem que só poderia ver o que era importante-crucial. Sem tempo a perder, ele passa a buscar a verdade, mais ainda, ele busca a vida e não o simbolo. Se voce pode morrer amanhã ( condição de todos nós, só que mais urgente nele ), tudo se torna mais real. No fio da navalha as coisas se fazem mais preciosas.
Então ele olha, e vê o que se pode ver com o olho. A maçã é uma maçã e por ser uma maçã ela se faz única em seu caráter. Ela não é lembrete de algo maior, não é sinal de caminho rumo a sentidos maiores. Ela é o fim em seu começo. Maçã.
Para se ler Bandeira tenha isso em mente. Se ele fala de Pasárgada, a terra onde ele é amigo do rei, é só isso que ele quer falar, é a terra onde ele é amigo do rei. Não procure na terra e no rei outras terras e outros reis. Simplifique e filtre. O poema é sobre um poeta triste que deseja ir a uma cidade boa.
Mas apesar de sua busca pela simplicidade, que nega o modernismo complicado, Bandeira tem um aspecto que lhe dá radical modernidade. O desconforto com a poesia. Ele precisa fazer poesia porque ele sente a necessidade de criar sentido. Mas ao mesmo tempo, preso num ceticismo feroz, ele vive a coisa tão moderna da banalização das coisas. Eis o conflito. Fazer poesia é dar relevãncia às coisas, é restituir à palavra seu peso e seu valor; mas como fazer isso sendo um descrente radical? Fazer poesia que nega simbolos é uma contradição. É moderno enfim.
Vários de seus poemas não se parecem com poemas. Não pense que isso é feito para parecer moderno, ousado, original. É na verdade a busca do poema sem artificios, sem enfeites, direto e limpo como uma maçã. O modo infantil de ver as coisas. Tudo é o que é e portanto torna-se digno de atenção.
Contrário de Drummond, que sempre tem aspecto de trabalho, de coisa burilada, Bandeira trabalhava arduamente para parecer não-trabalhado, como se seus escritos fosse fáceis e francos. Um original, ele nos ajuda a ver, a ver sem julgar, sem procurar significados, sem trabalhar a mente. Ele nos fala do "antes da poesia ser pensada", do ser não-poeta, do que vem antes da inspiração. È certo e lógico que ele não conseguiu seu intento. Uma criança não escreve como ele e seu "simples" dá ensejo a vastas complicações. Mas ele é daqueles artistas, raros, que nos fazem pensar sobre suas buscas: "Que bela tentativa!"
Se ele fala de uma maçã, começará descrevendo essa maçã diante de suas reverberações. A maçã recordará sangue, coração e seio. Mas na escrita ele vai despindo a fruta de tudo o que ela não é. Bandeira faz o contrário daquilo que o modernismo faz. Os modernos pegam o simples e o esfacelam, Bandeira pega o multi e faz dele aquilo que sempre foi, o simples objeto.
Desde sempre Manuel Bandeira foi doente. A morte sempre esteve perto de sua vida. E apesar de ter conseguido chegar a velhice, o momento da descoberta da doença o marcou para sempre. A vida perante a morte fez dele um homem que só poderia ver o que era importante-crucial. Sem tempo a perder, ele passa a buscar a verdade, mais ainda, ele busca a vida e não o simbolo. Se voce pode morrer amanhã ( condição de todos nós, só que mais urgente nele ), tudo se torna mais real. No fio da navalha as coisas se fazem mais preciosas.
Então ele olha, e vê o que se pode ver com o olho. A maçã é uma maçã e por ser uma maçã ela se faz única em seu caráter. Ela não é lembrete de algo maior, não é sinal de caminho rumo a sentidos maiores. Ela é o fim em seu começo. Maçã.
Para se ler Bandeira tenha isso em mente. Se ele fala de Pasárgada, a terra onde ele é amigo do rei, é só isso que ele quer falar, é a terra onde ele é amigo do rei. Não procure na terra e no rei outras terras e outros reis. Simplifique e filtre. O poema é sobre um poeta triste que deseja ir a uma cidade boa.
Mas apesar de sua busca pela simplicidade, que nega o modernismo complicado, Bandeira tem um aspecto que lhe dá radical modernidade. O desconforto com a poesia. Ele precisa fazer poesia porque ele sente a necessidade de criar sentido. Mas ao mesmo tempo, preso num ceticismo feroz, ele vive a coisa tão moderna da banalização das coisas. Eis o conflito. Fazer poesia é dar relevãncia às coisas, é restituir à palavra seu peso e seu valor; mas como fazer isso sendo um descrente radical? Fazer poesia que nega simbolos é uma contradição. É moderno enfim.
Vários de seus poemas não se parecem com poemas. Não pense que isso é feito para parecer moderno, ousado, original. É na verdade a busca do poema sem artificios, sem enfeites, direto e limpo como uma maçã. O modo infantil de ver as coisas. Tudo é o que é e portanto torna-se digno de atenção.
Contrário de Drummond, que sempre tem aspecto de trabalho, de coisa burilada, Bandeira trabalhava arduamente para parecer não-trabalhado, como se seus escritos fosse fáceis e francos. Um original, ele nos ajuda a ver, a ver sem julgar, sem procurar significados, sem trabalhar a mente. Ele nos fala do "antes da poesia ser pensada", do ser não-poeta, do que vem antes da inspiração. È certo e lógico que ele não conseguiu seu intento. Uma criança não escreve como ele e seu "simples" dá ensejo a vastas complicações. Mas ele é daqueles artistas, raros, que nos fazem pensar sobre suas buscas: "Que bela tentativa!"