É um mundo irrecuperável. Jamais saberemos como eram os homens que cantavam estas histórias. Mas podemos os intuir. Por exemplo, eles riam de cenas que hoje nos causam horror. E achavam natural atos como vingança, tortura e estupro. Não necessariamente justos, naturais.
Certo também que os sentimentos eram expressos de um modo que hoje seria chamado de histérico. Dor e alegria eram plena e completamente exteriorizados. A vida interior era muito menos secreta. A vida era vivida em público, a solidão era castigo.
E existiam os deuses. Muitos, muitos deuses. Se Netuno era o deus do mar, ainda tínhamos deuses das ondas, das praias, dos rios, dos lagos, das fontes. O que me leva a perceber que toda ação da natureza tinha uma força que a movia, essa força era um deus. Deuses vingativos, ciumentos, cruéis e muito, muito amorais. Eles exigiam respeito, obediência completa, e muitas oferendas.
Os homens tinham alma, mas ao morrer todos iam para o Hades, o inferno. E os animais eram todos feios, feras, bestas. A hospitalidade era divina, e negar hospedagem era um dos maiores pecados. Estrangeiros eram bárbaros, a cidade era um orgulho e os antepassados deviam ser venerados.
E nasciam heróis. Homens com sangue de deus.
E este livro, delicioso, uma das obras mais divertidas que li na vida, fala deles. E dos deuses.
São várias histórias de humanos envolvidos com deuses, amados e vingados por eles, transformados em árvores, bichos, pedras. Daí o nome Metamorfoses. Cenas de extrema violência descritas em detalhe: sangue e tripas, miolos que escorrem, olhos que são arrancados. E sexo, deuses que seduzem moças virgens, heróis que estupram, raptam. E nós lemos tudo isso, com prazer. A tradução, de Vera Lúcia Magyar, conseguiu manter ritmo, as cenas fluem, rodam, avançam. Sagas que são canções.
Ovídio conviveu com os nobres romanos. Sua vida transcorreu no tempo em que Jesus vivia na Galiléia. É o auge do império Romano. A confiança é total. Há uma certeza de eternidade em cada cena. O poder da permanência.
Ainda se discute, hoje, se os romanos realmente acreditavam nos deuses. Dizem agora que o único deus que era levado a sério era Lares, deusa protetora do lar. Penso que a forma cristã como entendemos a fé seria para eles incompreensível. Assim como nunca vamos compreender deuses tão imorais. O modo como os romanos se relacionavam com eles nos será sempre mistério. O que sabemos é que cumpriam rituais, sacrificavam bichos e faziam pedidos. No mais...não sabemos.
Todos deveriam ler este livro.
Certo também que os sentimentos eram expressos de um modo que hoje seria chamado de histérico. Dor e alegria eram plena e completamente exteriorizados. A vida interior era muito menos secreta. A vida era vivida em público, a solidão era castigo.
E existiam os deuses. Muitos, muitos deuses. Se Netuno era o deus do mar, ainda tínhamos deuses das ondas, das praias, dos rios, dos lagos, das fontes. O que me leva a perceber que toda ação da natureza tinha uma força que a movia, essa força era um deus. Deuses vingativos, ciumentos, cruéis e muito, muito amorais. Eles exigiam respeito, obediência completa, e muitas oferendas.
Os homens tinham alma, mas ao morrer todos iam para o Hades, o inferno. E os animais eram todos feios, feras, bestas. A hospitalidade era divina, e negar hospedagem era um dos maiores pecados. Estrangeiros eram bárbaros, a cidade era um orgulho e os antepassados deviam ser venerados.
E nasciam heróis. Homens com sangue de deus.
E este livro, delicioso, uma das obras mais divertidas que li na vida, fala deles. E dos deuses.
São várias histórias de humanos envolvidos com deuses, amados e vingados por eles, transformados em árvores, bichos, pedras. Daí o nome Metamorfoses. Cenas de extrema violência descritas em detalhe: sangue e tripas, miolos que escorrem, olhos que são arrancados. E sexo, deuses que seduzem moças virgens, heróis que estupram, raptam. E nós lemos tudo isso, com prazer. A tradução, de Vera Lúcia Magyar, conseguiu manter ritmo, as cenas fluem, rodam, avançam. Sagas que são canções.
Ovídio conviveu com os nobres romanos. Sua vida transcorreu no tempo em que Jesus vivia na Galiléia. É o auge do império Romano. A confiança é total. Há uma certeza de eternidade em cada cena. O poder da permanência.
Ainda se discute, hoje, se os romanos realmente acreditavam nos deuses. Dizem agora que o único deus que era levado a sério era Lares, deusa protetora do lar. Penso que a forma cristã como entendemos a fé seria para eles incompreensível. Assim como nunca vamos compreender deuses tão imorais. O modo como os romanos se relacionavam com eles nos será sempre mistério. O que sabemos é que cumpriam rituais, sacrificavam bichos e faziam pedidos. No mais...não sabemos.
Todos deveriam ler este livro.