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ANJOS, FANTASMAS E ESPÍRITOS

   Michael Almereyda é um famoso diretor de teatro inglês atual. Nos extras do filme que acabei de ver, ele narra um texto soberbo sobre a atriz Gail Russel e o ator Ray Milland. Tão informativos quanto poéticos, comecei a perceber que há algo de muito estranho alí. Pois bem, na última parte do extra, ele fala algo que cala fundo no meu coração: Virginia Woolf dizendo, em 1926, auge do filme sem som, que a invenção do cinema trouxe uma experiência inédita até então: a de se ver fantasmas. Pela primeira vez nós estávamos vendo gente que era pura luz, aparições irreais, espectros. Almereyda desenvolve isso, e além de mostrar que com o correr do tempo o que vemos são pessoas realmente mortas, o que deixa a observação de Virginia ainda mais verdadeira, nós, diante de um filme, somos os fantasmas, os anjos, os espíritos.
 O extra mostra então cenas de filmes sobre almas, e dentre eles, Asas do Desejo, o filme magia de Wim Wenders. A câmera rodopia entre as pessoas naquilo que imaginamos ser o modo angelical de ver a vida. Pois então, o que somos nós, ao ver um filme, senão anjos vendo algo sem ser percebido? Se as imagens do filme são de uma realidade de espectros, sem solidez, nós as vemos como anjos, olhamos mas não podemos tocar, falamos mas não somos ouvidos, torcemos mas não podemos influir.
  Incrível não? Eu jamais havia notado que vendo um filme estou no lugar de um anjo vendo a Terra. Vejo, mas não estou lá. Me coloco numa dimensão à parte. Torço. Rezo. Quero. Mas não posso agir. Os atores não podem me ver. Meu desejo não mudará o roteiro. A vida no filme acontece lá e eu vivo aqui. Olho. Rodopio. Os anjos de Berlin sou eu.
  Mas incrível ainda é uma cena do filme em que esses extras estão. Ray Milland e Gail Russel andam por uma rua inglesa de 1942. A câmera foca neles, acompanha seu passeio posicionada na frente do dois. Ao fundo vemos uma rua de paralelepípedos, casas de comércio, umas poucas pessoas vivendo seu dia a dia. A cena não tem nada de extraordinário. Uma simples cena de diálogo em um filme. Mas quando vejo essa cena, não sei o porque, penso: Espera! O que houve? Estou vendo magia aqui! Esse lugar...essa gente...são...fantasmas! Belos fantasmas, cotidianos fantasmas...que se passa? Estou hipnotizado...
  Pensei ser esse apenas um lapso meu. Mas não é que nos extras Almereyda mostra essa cena, tão banal, como momento em que a teoria dele se prova? São fantasmas. Estão mortos. São intocáveis. Mas eu os vejo como espectros de luz. Vivos. Vivendo uma vida deles, só deles. Em um local que é COMUM MAS AO MESMO TEMPO É FANTÁSTICO.
  O filme se chama O SOLAR DAS ALMAS PERDIDAS e é nele que pela primeira vez se ouviu Stella by Starlight, uma canção de Victor Young que se tornou ícone do jazz ( vc já a ouviu com Miles Davis, Charlie Parker, Sinatra, Ella, Chet... ). Nunca pensei que fosse uma canção de um filme sobre fantasmas. O roteiro fala de um casal que se muda para um casa que tem dois fantasmas. E, como diz Almereyda, é um filme muito ruim com cenas maravilhosas. Ele é todo errado, esquisito, com momentos ridículos, mas ao mesmo tempo tem duas atuações sobrenaturais ( Gail e Ray ) e os fantasmas ainda dão grande incômodo. Foi o primeiro filme da história a tratar o sobrenatural não como aventura ou comédia, mas como um fenômeno sério. Grande sucesso em seu tempo, 1944, merece ser visto por aquilo que nos provoca. E em dvd, pelo extra.
  Com ele assisti também O SOLAR DE DRAGONWYCK, primeiro filme de Joseph L. Mankiewicz, que não vale à pena, e THE GHOST AND MRS MUIR, também do mesmo diretor e que vale muito à pena. Muir é uma viúva que vai morar numa casa na praia e lá conhece o fantasma do capitão que lá vivia. É romance total e tem Gene Tierney hiper bonita e Rex Harrison estreando na América. Ver Rex é sempre prazer supremo. O filme é dos três, o melhor. Não tem nada de ruim ou menos que bom.
  Ah sim, o filme que contém a cena fantástica e os extras, O SOLAR DAS ALMAS PERDIDAS, não é de Mankiewicz. É de Lewis Allen, um diretor classe B. Ray Milland ganharia o Oscar no ano seguinte por FARRAPO HUMANO, de Wilder.

O PODER E A GLÓRIA + THE QUIET AMERICAN

   Depois de Conan Doyle e Agatha Christie, somente Shakespeare tem mais textos adaptados ao cinema que Graham Greene. E que estranho momento vive esse autor inglês! Por eu ter nascido nos anos 60, ainda peguei o final da imensa fama de Greene. Entre os anos 40 - 80, Graham Greene foi candidato eterno ao Nobel e junto à Borges, o maior dos derrotados. Para quem frequentava livrarias e cadernos culturais em 1970, 1980, Greene era figura constante. Mesmo aqui neste sub sub continente, vários de seus livros estavam sempre sendo editados. Porém hoje, em 2020, vigésimo ano da Nova Idade Medieval, há montes de jovens leitores que nunca ouviram falar de tal autor. E se conhecem vagamente o nome, é por ter ouvido falar de alguma adaptação para a tela.
   Li O PODER E A GLÓRIA. É meu quinto Greene e o mais difícil de ler. Figura engraçada esse Greene. Ele escrevia muito e dividiu sua obra em dois campos: livros sérios e livros de divertimento. O PODER E A GLÓRIA é dos sérios. O tema é árduo: estamos em algum país da América Central. Houve uma revolução socialista. Todas as igrejas foram queimadas e em seu lugar foram construídos campos de esportes. Todos os padres foram fuzilados. A população, que mal compreende o que se passa, vive em miséria terminal. O livro acompanha essa situação de dor e de inescapável inferno. Como personagens há um ex padre que foi obrigado a casar e se desmoralizar, um tenente que  DESEJA DESTRUIR TODO O PASSADO DO PAÍS E COMEÇAR TUDO DO PONTO ZERO. Há ainda um padre que tenta fugir da nação e se tornou alcoólatra. Em meio a tudo isso, temos ainda um dentista inglês e um funcionário americano de uma empresa que exporta as bananas do país. O texto é escuro, sombrio, quente, úmido, mofado, doentio, sem nenhum alívio.
  Graham Greene se converteu ao catolicismo aos 26 anos de idade. Seus livros têm por tema a dor. A culpa. E a absolvição. Acho que já deu para voce entender porque em 2020 não se lê mais Greene não é? É um autor que odeia profundamente a esquerda. Mas ao mesmo tempo não acredita na direita. Niilista? Seria simples se ele fosse um niilista anarquista. Greene estaria na moda. Mas não. Ele crê na vida como dor. Viver é para ele, sofrer, sofrer para assim poder, quem sabe, se redimir em outra vida. É catolicismo radical. E por ser assim, se aproxima de Dostoievski: A santidade possível vive nos piores dentre nós. Pois são eles os que mais sofrem.
  Aproveitei para ontem rever o filme THE QUIET AMERICAN, feito por Joseph L. Mankiewicz em 1958. Texto de Greene, claro. O filme foi feito em Saigon-Vietnã, antes da guerra, e só por isso já vale ser visto.
  Estamos em 1952, em plena guerra de independência. Tropas francesas, os colonizadores, lutam contra os guerrilheiros do norte, comunistas. Mas o filme não é sobre guerra. É, como só poderia ser em Greene, sobre culpa. Um jornalista inglês, vivido com a maestria discreta habitual por Michael Redgrave, namora uma nativa vietnamita muito mais jovem. Eles se amam. Mas surge um jovem americano e aos poucos ele conquista a menina. O inglês é tomado pelo ódio e acaba por trair o americano, levando-o à morte. No fim ele perde tudo: mulher, honra, sossego, consciência, auto estima. o redor desse drama, a situação trágica do país: de um lado a abusiva e incompetente colonização francesa, do outro os comunistas, matando franceses e vietnamitas aos montes. O jovem americano está no país movido pelo ideal ingênuo de uma terceira via: Liberdade com democracia. Sabemos no que isso ia dar no futuro. Quando o filme foi feito os americanos ainda não estavam lá. Seriam precisos 50 anos de dor para se alcançar o que o país é hoje.
   O inglês não acredita em nada. Velho europeu desencantado, ele zomba da França, teme os comunistas e acha ridículo o americano. O filme é excelente.
   Joseph L. Mankiewicz é outro grande nome esquecido. Foi o único diretor a vencer dois Oscars de diretor seguidos, e em ambos ganhando também pelo roteiro: QUEM É O INFIEL em 1949 e A MALVADA ( ALL ABOUT EVE ) em 1950. Típico americano liberal da época, ele consegue não tomar partido. Mérito de seu bom roteiro.
   Graham Greene voltará um dia? Penso que sim. Quanto maiores os erros do mundo, mais rápido as pessoas olharão para seus pontos de apoio e de estabilidade. E a alta literatura é sempre um desses pontos.

FILMES NOIR, ALTMAN, DR WHO E OUTRAS COISINHAS MAIS

   RINCÃO DAS TORMENTAS de John Boulting com Richard Attenborough
Graham Greene escreveu uma obra-prima sobre um psicopata bandido que espalha violência em Brighton. É um filme extremamente invulgar. Richard tem uma atuação brilhante e o filme é perturbador. Greene gostou do filme e ele se tornou um pequeno clássico inglês.
   O AMANHÃ QUE NÃO VIRÁ de Gordon Douglas com James Cagney
Rápido e direto, eis um filme policial do velho estilo, simples e cheio de fúria. Cagney dá um show como um bandido que foge da prisão e volta logo a vida de crime. Vaidoso e violento, seu personagem é repulsivo. O filme é muito divertido.
  SANGUE DO MEU SANGUE de Joseph L. Mankiewicz com Edward G. Robinson, Richard Conte, Susan Hayward.
Quase uma obra prima. Mankiewicz foi roteirista e produtor nos anos 30 e 40, e esta é uma de suas primeiras direções. Um drama realista com altas doses de simbolismo, ele fala de um pai-mafioso que tem um filho favorito. Esse filho é preso e ao sair da prisão enfrenta a traição dos irmãos invejosos. Os atores brilham e o filme nos prende, é grande, sério, magistral. Um ano depois Mankiewicz receberia seu segundo Oscar por A Malvada.
  SEM SOMBRA DE SUSPEITA de Michael Curtiz com Claude Rains
O box 9 de Filmes Noir continua em alto nível com este filme do diretor de Casablanca. Rains é um radialista que é suspeito de assassinato. Um filme de suspense, cheio de clima. Muito bom.
  CILADA MORTÍFERA de Irving Lerner com Vince Edwards
Eis um filme duro de classificar. Voce vai achar que ele é um lixo ou uma maravilha. Lerner fez um filme barato que bebe nos filmes franceses policiais que se faziam então. É um filme boêmio, jazzy, cheio de estilo, seco e muito cool. Ou talvez seja apenas um filme muito amador.
  O PERIGOSO ADEUS de Robert Altman com Elliot Gould e Sterling Hayden.
Talvez seja este o melhor filme de Altman. Há uma alegria que paira sobre este filme, uma leveza que ilumina cada cena. Altman pega Philip Marlowe e o imagina na California de 1974. Ou seja, é o detetive moral de Chandler em meio ao sexo livre e às drogas da época. A primeira cena do filme, Marlowe e seu gato fujão, é deliciosa! Elliot Gould faz um detetive que transita pelo mundo new age da época como se estivesse sonâmbulo. Ele fala sozinho, não toca em mulheres e não gosta da violência. O filme, grande como todo filme de Altman, é original.
  RENEGADOS ATÉ A ÚLTIMA RAJADA de Robert Altman com Keith Carradine
Um bando de caipiras ladrões dos anos 30. Altman foca no dia a dia banal deles. São burros, são pobres, são limitados. E sujos. O filme tem ar de saudade, de foto amarelada. É bonito e é diferente, bem diferente. Feito em 1974, ele tem o estilo dos filmes feitos 40 anos depois.
  DENTRO DA NOITE de Raoul Walsh com George Raft, Ida Lupino, Humphrey Bogart e Ann Sheridan.
Uma obra prima. Raft é o ator principal, Bogey na época ainda não fizera O Falcão Maltês. Os dois são irmãos donos de um caminhão e a primeira parte do filme é um maravilhoso quase doc sobre a vida nas estradas. Bem realista, o filme mostra lanchonetes, policiais, cargas, toda a vida de trabalhadores pobres das rodovias. Depois Walsh se concentra numa trama de assassinato e ciúmes, o filme vira um drama noir. É um dos melhores filmes de um cara que dirigiu mais de 80 produções. Grande diversão!
  DR WHO E A GUERRA DOS DALEKS de Gordon Flemyng com Peter Cushing
Feito em 1965, este filme aproveita o sucesso da série da BBC. Mas é um filme pobre e meio brega. Uma decepção colorida.
  A DIVORCIADA de Robert Z. Leonard com Norma Shearer, Chester Morris e Robert Montgomery
Uma esposa pega o marido no flagra e  se divorcia dele. Este dramalhão deu um Oscar à Norma Shearer, uma das estrelas dos anos 30 menos lembradas hoje. Mas ela foi grande! Se casou com o produtor Thalberg e ao ficar viúva desistiu do cinema aos 30 anos. Ela era sexy e pudica ao mesmo tempo, a voz era linda e seu estilo ainda era meio cinema mudo. Exagerado. O filme é bem antiquado.
  UMA ALMA LIVRE de Clarence Brown com Norma Shearer, Lionel Barrymore e Clark Gable.
Uma moça mimada, filha de um juiz, tem um caso com um bandido. Gable esbanja mal caratismo e machismo e Norma está bem sexy. O filme é moralista, claro, mas ao mesmo tempo estranhamente safado. Não é muito bom.
 

JIM BROADBENT- MAGGIE SMITH- VINCENT PRICE- ELSA LANCHESTER- WELLMAN- FARROW- MANKIEWICZ

   LE WEEK END ( FIM DE SEMANA EM PARIS ) de Roger Michell com Jim Broadbent, Lindsay Duncan e Jeff Goldblum.
Nick Drake canta Pink nos créditos finais. E a última cena tem o trio central imitando Samy Frey, Anna Karina e Brialy na mítica dança desajeitada em Bande a Parte de Godard. Dito isso você poderia pensar que este é um filme moderninho. Não é. Ele é adulto, sério, bonito e maravilhosamente bem interpretado. Um casal inglês de meia idade vai à Paris para reavivar sua relação. Mas tudo dá errado. No processo encontram um amigo do marido, vão à festa, mudam de hotel e falam falam e falam. O roteiro, de Hanif Kureishi é inteligente. Os diálogos são espertos e sempre parecem naturais. E tudo é levado por um Broadbent patético, frágil, carente, e mesmo assim simpático; e uma Duncan insatisfeita, ácida, ansiosa e ainda bonita. Eles pedem uma chance para viver. Os atores, apaixonantes, lhes dão vida. Jeff está cômico, a gente adora ele. O filme é bem melhor do que eu esperava. É grande. Nota 8.
   VICE de Brian A. Miller com Bruce Willis, Thomas Jane e Ambyr Childers.
Uma ridícula mistura de Blade Runner com Ano 2020. O filme é assustadoramente ruim. Chega a ofender de tão fake. Burro. Bruce se aposentou. Ele tem feito filmes, mas está aposentado. Passa o tempo todo como um boneco. Ele é o dono de uma empresa que usa androides para realizar os sonhos dos clientes. Uma androide foge. O visual tem o pior dos anos 80 e o roteiro o pior deste século.
   MINHA QUERIDA DAMA de Israel Horovitz com Kevin Kline, Kristin Scott Thomas e Maggie Smith.
Desagradável, é um drama sobre uma vida fracassada. Kevin herda do pai uma casa em Paris. Mas a casa tem mãe e filha como moradoras. Ele só poderá tomar posse da herança após a morte da velha. Parece comédia...não é. Negro e árido, antipático, o personagem de Kevin é tão derrotado que chega a causar repulsa. É um filme sem prazer. Mas não de todo ruim, pois tem ótimo elenco e uma tentativa de ser profundo. Faz parte da onda de filmes que falam da maturidade. Onda que deverá aumentar cada vez mais com o envelhecimento da população mundial. China e Índia, países ainda jovens seguram os filmes teen, a Europa e parte dos EUA faz muito que passaram da idade média dos tens. Dou um 4 para este filme.
   O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD 2 de John Madden com Maggie Smith, Richard Gere, Bill Nighy e Judi Dench.
Tudo errado. O primeiro filme foi uma bela surpresa, mas este parece histérico, forçado, exagerado. A história nunca engrena, o humor é duro e as cores carnavalescas. Esqueça.
   O SOLAR DAS ALMAS PERDIDAS de Lewis Allen com Ray Milland e Ruth Hussey
Casal de irmãos compram uma casa numa praia deserta. Mas a casa tem um segredo...Que filme estranho! Não é um grande filme, mas causa uma grande impressão! Ele tem algo de muito doentio nele, parece o interior da mente de um neurótico. É feio, rígido, desagradável. E um pequeno clássico dos filmes de horror. Nota 7.
   O RELÓGIO VERDE de John Farrow com Charles Laughton, Ray Milland, Maureen O'Sullivan e Elsa Lanchester.
Um grande filme com um roteiro maravilhoso. Ray é um executivo entediado que pede demissão. Mas sem perceber ele é envolvido num assassinato. O filme mostra sua desesperada tentativa em se manter limpo. Há um clima de paranoia em todo o filme. Farrow, um diretor sempre esquisito, cria cenas inverídicas, mas sedutoras. Laughton está asqueroso, e Elsa Lanchester rouba o filme como uma artista sem talento e muita confiança. Uma diversão diferente, um filme original. Nota 8.
   CARAVANA DE MULHERES de William Wellman com Robert Taylor, Denise Darcel e John McIntire.
Wellman foi um diretor heroico. Sempre ousado, ele foi um dos inventores daquilo que conhecemos como cinema de ação. Aqui, já veterano, ele faz um western original. Um homem conduz uma bando de 100 mulheres, através de território de índios e clima hostil, até a Califórnia, onde irão se casar com um bando de pioneiros. O filme, sem nenhuma trilha musical, capta e amplifica os sons da viagem: rodas, cavalos, panelas, vento, vozes. Tudo fica como um tipo de documentário de ficção. Nada tem muita ênfase. As coisas acontecem, sem preparação, pouca cinematografia. Um filme que fracassa, é pouco interessante; mas ao mesmo tempo é um triunfo, Wellman consegue fazer acontecer. O filme é o que ele quis que fosse, um anti-western. Nota 6.
   O SOLAR DE DRAGONWYCK de Joseph L. Mankiewicz com Gene Tierney, Vincent Price, Walter Huston e Anne Revere.
Mankiewicz foi um privilegiado. Seu primeiro filme já é uma produção classe A. Após dez anos como produtor e roteirista, ele começa sua carreira de sucesso na direção com este prazeroso filme sobre maldição, sedução e diferença de classes. Daí para a frente ele ganharia quatro Oscars e faria mais de cinco clássicos do cinema ( A Malvada entre eles ). Gene, a mais linda das atrizes, é uma ambiciosa filha de agricultores que em 1844 vai morar com um primo rico. Lá ela irá cuidar da filha desse primo. Mas ele logo se torna viúvo e se casa com ela. O primo é feito por Vincent Price. E é este filme que definiu seu futuro. É hipnótica a sua atuação. Ele se equilibra bravamente entre o sublime e a canastrice. A voz sempre majestática, o olhar pura maldade. O filme, uma diversão sem fim, é clássico dos clássicos. A ver e rever sempre. Nota 9.

TS SPIVET/ WOODY ALLEN/ NICOLE KIDMAN/ WARREN BEATTY/ MARVEL/ PIERCE BROSNAN/ CARY GRANT

   THE YOUNG AND PRODIGIOUS T.S.SPIVET ( UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA ) de Jeunet com Helena Bonham-Carter, Judy Davis, Kyle Catlett e Callum Keith Rennie.
Todos sabem o enredo: no meio da nada mora uma familia esquisitinha. O filho, aos 7 anos, cria um aparelho de moto-perpétuo. Ganha um prêmio do Smithsonian e viaja só para receber o prêmio. Well...os primeiros dez minutos são excelentes. E isso se deve a fotografia e ao ambiente. Depois o filme cai muito e fica até meio chato. A América que Jeunet mostra é um país francês. Ele não chega perto do que seja o ser americano. Assim como Wenders em Paris/Texas mostrou a América alemã, Jeunet esbugalha olhos franceses sobre o deserto. O filme ameaça emocionar, Descartes não deixa. O que seria um lindo filme bobo se fosse dirigido por um Tim Burton ou um Alexander Payne, se torna com Jeunet um filme travado. Tudo é quase aqui, quase bom, quase bonito, quase triste, quase engraçado. E quase ruim. Apesar de tudo eu gostei do filme. Porque? Porque ele é bonito. Porque eu gosto muito de Helena Bonham-Carter. Porque adoro filmes on the road. E porque em meio a toda aquela baboseirinha tristinha há uma nesga de verdadeiro afeto. Há amor pelos personagens, todos eles. O que trava é essa reticência de Jeunet, essa coisa de nunca deixar a coisa subir, aquecer, deixar o sentimento perder razão e aflorar. Não darei nota.
   NOVEMBER MAN de Roger Donaldson com Pierce Brosnan e Olga Kurylenko
Brosnan é um ex matador da CIA. Ele volta a ação em complicada trama de espionagem, traição e chantagem. O filme nunca ofende a inteligência e tem ação. Pierce tem fleugma, e incrivelmente consegue convencer. É o tipo de ator que gostamos de ver. Olga é belíssima! Mas estou cansado desses filmes cheios de batidas de carro, tiros e cenários cheios de russos frios e ruins e moças magrinhas e fatais. Nota 4.
   DIZEM QUE É PECADO de Joseph L. Mankiewicz com Cary Grant, Hume Cronyn e Jeanne Crain.
A poucas semanas vi 3 filmes de Mankiewicz e falei deles aqui. Todos excelentes. Pouca gente sabe que ele foi dos raros diretores a ganhar dois Oscars no mesmo ano, por roteiro e direção. Seu ponto fraco aparece todo aqui: a verborragia. Mankiewicz escreveu alguns dos melhores diálogos do cinema, mas às vezes passava do ponto. Este filme mostra Cary como um cirurgião de sucesso que desperta a inveja de um colega. O tema é ótimo, Cary se esforça e está ótimo, mas há diálogos muito longos, muito blá blá blá dispensável e uma cinematografia pobre. Parece TV. Nota 5.
   HEAVEN CAN WAIT ( O CÉU PODE ESPERAR ) de Warren Beatty com Warren Beatty, Julie Christie, Jack Warden, Dyan Cannon e Charles Grodin.
Um grande sucesso de 1978 que concorreu a vários Oscars e venceu apenas um. É a primeira direção de Warren Beatty e dá pra perceber isso. O filme tem sérios problemas de ritmo. Ele corre a de repente fica lento. A história é refilmagem de um lindo e muito melhor filme dos anos 40. Um homem morre por engano. É devolvido `a Terra em outro corpo e vemos então seu envolvimento com gente que não sabe que ele é outro. O tema daria uma comédia hilária, mas aqui o humor só funciona com Dyan Cannonm que está ótima. Julie está perdida, o filme não é para ela, e Warren, seu namorado então, desfila charme, mas não dá risos. O filme acaba sendo uma coisa estranha, uma comédia melancólica ou um drama leve. Assisti a ele na época, num cinema cheio na Paulista. O que senti então é o que voltei a sentir hoje, decepção. Nota 5.
   GRACE DE MÔNACO de Olivier Dahan com Nicole Kidman, Tim Roth e Frank Langella.
O filme me surpreendeu, ele é bastante bom. Isso porque nada tem de biográfico. Não se trata de vermos o casamento de Grace ou sua história. É a radiografia do momento crucial de uma nação, Monaco, de um planeta, a Terra e de uma mulher, ela. Grace sente falta do cinema, sente falta dos EUA e se sente negligenciada como mulher por seu marido, Rainier. Indecisa, ela tem de tomar uma decisão. Ou desiste e retorna ao cinema, ou se assume como princesa. O momento é terrível. A Argélia luta contra a França e De Gaulle quer se apossar do principado, a França precisa de dinheiro. Grace consegue, em golpe de estream sutileza, fazer com que De Gaulle não possa agir. Como? Veja o filme! Ele tem suspense, muito drama, realismo e atores excelentes. É uma das melhores atuações de Nicole. Aturdida, presa, com raiva, com medo, tudo misturado num pacote de beleza. Voces que são mais jovens saibam, Grace Kelly foi um mito. Maior que Angelina Jolie, Madonna... Lady Di chegou perto com uma diferença, Grace era muito mais bonita, inteligente e elegante. O filme é digno dela. Nota 7.
   MAGIA AO LUAR de Woody Allen com Colin Firth e Emma Stone.
Colin é um mágico na Europa de 1920. É levado por amigo à Riviera, onde ele deverá desmascarar uma vidente impostora. É mais um filme agradável de Woody Allen. Divertido, fácil de ver, gostoso. Mostra gente rica em lugares lindos, mostra bons atores em bons papéis. Demorou para Woody trabalhar com Colin Firth, meu ator favorito do cinema de agora. E Emma Stone é bonita e boa atriz. Mas Woody tem um grande problema: seu nome. Fosse o filme de um diretor novato, todos o elogiariam. Mas é de Woody...sabe como é, a gente espera um novo Hannah, Annie Hall, Manhattan....mas não! Woody é hoje um cara de bem com a vida, aproveitando para viajar, comer, beber e filmar. Ele filma apenas o que não lhe dá trabalho, apenas prazer. Seus filmes são como pequenos contos de um autor delicioso e de pouca ambição. São para usufruir. Nota 6.
   GUARDIÕES DA GALÁXIA de James Gunn com Chris Pratt e Zoe Saldana.
Muito, muito bom! Fazia tempo que não via uma aventura tão bem construída, tão cheia de humor, ação e prazer. Porque gostei tanto? Estava pronto para odiar! Mas os personagens são legais, as cenas nunca parecem bobas, e principalmente, não há medo de viajar, de se deixar levar pela fantasia. Uma delicia de filme. Espero pela continuação! Os Guardiões são muito legais! Nota 8.

MANKIEWICZ/ BETTE DAVIS/ AVA/ BOGEY/ REDGRAVE/ ALEC GUINESS

PELE DE ASNO de Jacques Demy com Catherine Deneuve, Jean Marais e Jacques Perrin
Um rei viúvo, que prometeu a esposa se casar apenas com uma mulher que fosse mais bela que a rainha, descobre que a filha é essa pessoa. O conto de Perrault adaptado em 1970 por Demy, tem música de Legrand e fotografia de Cloquet. E mesmo assim é de uma bobice exemplar. Demy foi um deslumbrado. Se apaixonou pela nouvelle vague e depois pelos hippies que conheceu em LA. Une aqui o pior desses dois mundos. Claro, é um prazer ver Marais, o ator de Cocteau, mas é pouco. Nota 2.
ESCRAVOS DO DESEJO de John Cromwell com Bette Davis, Leslie Howard e Frances Dee.
O romance de Maugham fez de Bette uma estrela. Passado em Londres, o filme conta a história do médico, de pé deformado, que se apaixona por uma garçonete, que o usa e joga fora. O filme foi um sucesso e é bom, apesar de Bette. Porque apesar deste papel ter feito dela a estrela da Warner, seu desempenho é fake. Um sotaque cockney exagerado e uma vulgaridade de carnaval. Mas vale pela boa produção. Nota 5.
QUEM É O INFIEL? de Joseph L. Mankiewicz com Jeanne Crain, Linda Darnell, Ann Sothern, Kirk Douglas e Paul Douglas.
O roteiro, do diretor Mankiewicz, ganhou o Oscar de 1949. E é brilhante! Três amigas, casadas, vão passar um fim de semana numa ilha. Longe de telefones, elas recebem de um amigo uma carta. Essa carta diz que nessa hora, o marido de uma delas está fugindo com outra. Essa outra é a estrela da escola, antiga amiga das três. Essa carta faz com que cada uma delas se recorde do seu casamento, de um momento de crise, de alguma injustiça cometida. Qual deles fugiu? Mankiewicz dirige de sua maneira segura, pausada, firme de sempre. O filme, visto pela terceira vez, se mantém como diversão de primeira. Ainda atual, ele une drama, humor e muito suspense. O elenco, como em todos os filmes do diretor, se destaca. É este o primeiro papel de Kirk Douglas. Pode ver. É ótimo. Nota 9.
A MALVADA de Joseph L. Mankiewicz com Bette Davis, Anne Baxter e George Sanders
Um dos mais famosos filmes de Hollywood, conta a história da atriz veterana que é usada por uma fã que inveja seu status. O roteiro, do diretor, tem algumas das melhores falas wit da história. E há Bette, num de seus grandes momentos que não lhe deu um merecido Oscar. Ela consegue transmitir vulnerabilidade e vaidade ao mesmo tempo. Sua voz, rouca, traz sensualidade decadente. É um papel de genialidade. Mas o filme tem mais. Tem George Sanders exalando maldade, tem suspense e uma Anne Baxter quase ao nível de Bette. É um filme maravilhoso, perfeito, histórico e deu um Oscar a Mankiewicz como diretor. E mais um como escritor. Obrigatório para quem queira saber o que significa um bom diálogo. Nota DEZ!
A CONDESSA DESCALÇA de Joseph L. Mankiewicz com Humphrey Bogart, Ava Gardner e Edmond O`Brien
A história, cheia de fel, de um diretor humilhado por um produtor. Também é a história de uma atriz, ninfo, que não dá a mínima para a fama e que se casa com um milionário impotente. O filme deveria ser forte, mas não é. Ele quer ser tão irado que passa do ponto. O drama é exagerado, as cenas na Espanha parecem falsas e até Bogey se perde. Ele não combina com o papel. Talvez seja o pior filme do diretor, apesar de ser uma obra bastante famosa. Nota 4.
O AMERICANO TRANQUILO de Joseph L. Mankiewicz com Michael Redgrave, Audie Murphy e Bruce Cabot
Um filme fascinante que encerra o pequeno festival Mankiewicz que montei para mim mesmo ( eu sei que faltaram muitos outros....fica pra outra ).  O tema é fascinante! No Vietnã de 1954, vemos um repórter inglês, frio e distante, que tenta não se envolver na guerra, se envolver com um americano comum, que surge em Saigon para fazer comércio. Os dois viram conhecidos, disputam a mesma mulher e tudo vira um pesadelo em meio a guerra dos vietcongs contra a França. Well...para quem não sabe, o Vietnã lutou contra a França até os anos 60 e quando venceu teve de lutar contra os EUA por mais dez anos. E venceu. Este filme foi filmado em Saigon, e só isso já faz dele experiência invulgar. Foi nesse ano e nessa guerra que Robert Capa morreu. Redgrave, pai de Vanessa, dá seu show costumeiro. Vemos o inglês perceber o quanto ele foi covarde, mole, inativo. Todo o filme tem jeito de documentário e na rica filmografia do diretor é um dos melhores. Foi um fracasso na época, e nesta era do dvd está sendo redescoberto. A fotografia de Robert Krasker é excelente. Nota DEZ.
A VIDA PRIVADA DE SHERLOCK HOLMES de Billy Wilder com Robert Stephens, Colin Blakeley e Genevieve Page.
Billy num de seus últimos filmes, falha terrivelmente nesta tentativa patética de filmar um caso de Holmes como um tipo de comédia realista. O filme não pega fogo. E o roteiro, algo sobre um submarino, tem um interesse nulo. Nota 1.
VIVA A LIBERDADE de Roberto Andó com Toni Servillo e Valeria Bruni Tedeschi
Lixo. Um infantil e absurdo conto sobre um senador deprimido que é substituído por seu irmão doido. Claro que ele vira um sucesso! O que há de novo aqui? Porque fazer isso de novo? Peter Sellers o fez. Jack Lemmon fez. Eddie Murphy fez. E todos foram melhores. Nota ZERO.
O PRÍNCIPE de ....com Jason Patric, Bruce Willis e John Cusak
Uma menina se envolve com drogas e o pai vai salvar ela. O pai não é Bruce. É Patric. Cenas de ação frouxas e um roteiro com falas de analfabetos. Sem nota.
UM MALUCO GENIAL de Ronald Neame com Alec Guiness
Guiness escreveu o roteiro. É sobre um pintor genial que pobre, vive de aplicar golpes nos amigos. O personagem é feio, sujo, mentiroso, mal humorado e antipático. É um filme estranhíssimo. Nada nele nos seduz. E é um filme importante e bom. Vemos a Londres suja de 1957. Uma cidade ainda em ruínas, escura, pobre, com seus primeiros mods. O ambiente salva o filme. Nota....hmmm....5.
CRIME É CRIME de George Pollock com Margareth Rutherford e Ron Moody
Uma agradável aventura da velhinha Miss Marple, a detetive amadora criada por Agatha Christie. Crimes entre um grupo de teatro, num cidade do interior inglês. Nota 5.

MANKIEWICZ/ REX HARRISON/ BRUCE WILLIS/ BING CROSBY/ HUSTON/ SINATRA/ OKLAHOMA!

   CHARADA EM VENEZA de Joseph L. Mankiewicz com Rex Harrison, Susan Hayward e Cliff Robertson
Um velho milionário em Veneza se finge de doente terminal para avaliar a reação de suas três ex-mulheres. Mankiewicz, o grande diretor de A Malvada, famoso por seus roteiros exemplares, não consegue criar aqui o interesse para manter o filme de pé. Sua intenção é a de fazer uma sofisticada comédia levemente cínica. Cínica ela é. De qualquer modo, Rex Harrison é sempre um mestre nesse tipo de personagem. Vê-lo atuar salva o filme do meramente ruim. Nota 5.
   CATCH.44 de Aaron Harvey com Bruce Willis, Forest Whitaker e Malin Akerman
É um compêndio de cenas roubadas de filmes de Tarantino e Rodriguez. Será que esse Aaron é um pseudônimo de um dos dois? Este filme não tem história, são apenas cenas de diálogos pseudo-espertos e tiros sanguinolentos. Forest faz seu tipo "sou um pobre diabo" e Bruce Willis faz Bruce Willis. Mas... que diabos, é divertido! E dura apenas oitenta minutos. Nada de tentativa de fazer arte, nada de tristezinhos sensíveis, nada de denúncias para festivais. É apenas um filme adolescente-macho, cheio de rocknroll ( tem Bowie cantando Queen Bitch ). E eu adoro Bruce Willis!!!! Nota sei lá....cinco tá bom.
   O BOM PASTOR de Leo McCarey com Bing Crosby e Barry Fitzgerald
É um dos filmes mais detestados pelos críticos moderninhos. Isso acontece por ele ter, no Oscar de 1944, "roubado" os prêmios de PACTO DE SANGUE, a obra-prima de Billy Wilder. Que culpa este filme tem? É um bom filme otimista e tolo. Bing, muito bem, faz um padre moderno e sempre de bom humor, que é enviado a paróquia decadente para a salvar. Fitzgerald, ator irlandês que chegou a trabalhar no Abbey Theatre, é o velho padre veterano e antiquado. Acontece um milagre no filme: ele não é meloso e nem chato. Tem uma leveza, uma falta de pretensão maravilhosa. Mérito de Leo MacCarey, diretor formado em filmes de Harold Lloyd, e diretor dos irmãos Marx em Duck Soup. Bing Crosby canta Swimming on a Star...é divino!!! A perfeita canção pop. Delicioso passatempo. Nota 8.
   A BÍBLIA, NO INÍCIO de John Huston com George C.Scott, Ava Gardner, Peter O'Toole...
Um dos grandes desastres de Huston. Mas este não é um soberbo desastre, é apenas um filme muito ruim. O antigo testamento é infilmável. Ele é poesia, feito de imagens simbólicas e prosa intrincada, nada menos filmável. Mas Huston amava textos não-filmáveis. Aqui quebrou a cara. O filme é chato, longo, tolo, infantil e feio de se ver. Um caos. Nota Zero.
   JACK, O MATADOR DE GIGANTES de Nathan Juran
Na época em que este filme foi feito ( 1962 ), Ray Harryhausen era o rei dos efeitos especiais ( Ray é o ídolo de Tim Burton ). George Pal vinha logo em seguida. Pois bem, este filme tem efeitos que Não são de Ray ou de George. Portanto são efeitos muito ruins. Não possuem a perfeição de Ray e nem a poesia de George. Isso derruba esta aventura cheia de bruxos, monstros e que tais. Tudo tem jeito de carnaval e nunca de magia. Nota 2.
   ROBIN HOOD DE CHICAGO de Gordon Douglas com Frank Sinatra, Peter Falk, Dean Martin
Chicago dos anos 30. Falk e Sinatra estão em gangues rivais. Sinatra acaba por se tornar um tipo de Robin Hood da máfia. E o roteiro é só isso. Não fossem duas coisas geniais: Peter Falk faz um mafioso "italiano" hilário!!! Tudo que De Niro faria depois está aqui. A voz enrolada e as palavras saindo como cascata, os trejeitos das mãos, o modo debochado de sorrir, é uma criação maravilhosa de um grande ator. E há Bing Crosby, que faz um almofadinha nerd, que acaba por se unir ao grupo. A cena em que Sinatra e Dean ensinam a Bing como se vestir para sair é ótima. O filme, fora isso, é bastante assistível. E ainda vemos os Rat Packs fazerem seus tipos espertinhos de sempre. Nota 6.
   OKLAHOMA! de Fred Zinnemann com Gordon McRae, Shirley Jones e Gloria Grahame
Agnes de Mille fez as coreografias e isso é muito bom. As cenas de dança, infelizmente poucas, são fascinantes. Este filme mostra o porque dos musicais começarem a ruir em cinema. Deixou-se de criar musicais para cinema, e apostando no certo, se começou a transpor para a tela sucessos da Broadway. O que funciona no palco pode ser um fiasco na tela. Este filme, imenso, caríssimo, não foi um fiasco, mas foi pensado como um clássico, e nem sequer é um bom filme. Como cinema, as cenas melhores são aquelas com Gloria Grahame, que faz uma moça incapaz de dizer não a um moço. Gloria foi uma atriz original, meia feinha e muito sexy. Sua vida pessoal foi mais interessante ainda... Zinnemann que é um grande diretor, não sabe fazer um musical. Percebemos seu desconforto, ele não corta quando devia, não estica o que merece ser apreciado. Tudo isso faz deste filme uma coisa esquizo, sem rumo, artificial. Nota 4.
   MILAGRE NA RUA 34 de George Seaton com Maureen O'Hara, Edmund Gwenn e Natalie Wood
É a história do velhinho que pensa ser Papai Noel. Ele passa a trabalhar na Macy's, onde conhece mãe solteira que tem um filha sem ilusões sobre a vida. Este filme, simples e bonito, ganhou um Oscar de roteiro. Mereceu. Embora pareça apenas um filme bacaninha de natal, ele é na verdade um muito sério debate sobre o que é real e o que parece ser a verdade. Seaton, que escreveu a história, dirige tudo como um quase documentário, cenas cruas, sem muita produção. Para quem quiser ver um filme de natal sem nada de piegas ou de bobo, este é o filme. Encantador. PS: Natalie Wood, ainda criança, dá um show como a menina "realista". Gwenn faz um Santa Claus próximo do perfeito. Nota 8.

KUROSAWA/ CLINT/ DE PALMA/ ELIA KAZAN/ BRANDO/ LOACH/ OLIVIER/ MANKIEWICZ

O ÚLTIMO VÔO de Karim Dridi com Marion Cotillard e Guillaume Canet
Chato... é sobre mulher que procura marido perdido em deserto africano. Soldado da legião estrangeira vai a ajudar. Ela pilota avião. Podia ser uma boa aventura. Mas não há interesse, ritmo, suspense, nada. E a personagem de Marion é rasa como de resto são todos os diálogos. Um pé no saco. O filme é de 2010 e acho que não passou aqui. Nota ZERO.
SUGATA SANCHIRO de Akira Kurosawa
Eis o primeiro filme do mestre. Feito em 1943, antes da bomba, vemos o Japão ainda de tamancos e kimono, de muita gente e paredes de papel. O roteiro fala de mestre de Judô ( uma nova arte ) que desafia os mestres de Jiu Jitsu ( a arte tradicional ). Curto e simples, é um belo filme. Nota 6.
O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS de Don Siegel com Clint Eastwood
Um soldado Yankee ferido, se abriga em escola feminina no sul rebelde. Ele seduz cada uma das alunas, mas o ciúmes das meninas e a vaidade do soldado faz com que tudo caia em violência e horror. O filme tem um belo clima gótico e realmente sentimos que ele caiu numa cilada, que será castrado. Mas ao mesmo tempo falta mais ousadia a Siegel. Nota 5.
HI, MOM de Brian de Palma com Robert de Niro e Gerrit Graham
Auge da contracultura. De Niro é um cara que filma as janelas vizinhas para fazer um filme pornô. Mas depois o filme explode em faíscas: ele participa de uma peça: Seja Negro Baby! A peça é aquele tipo de espetáculo cruel em voga naqueles tempos irregrados. O público é atacado, humilhado, e agradece por isso. É o segundo filme de Brian de Palma. Mal feito, tonto, sem rumo, solto, tolo. E mesmo assim, fascinante. Um adendo: o que se pode hoje em Londres? E em Madrid? E na Grécia? Grana. Emprego. O que se pedia em 1970? Um mundo novo. Liberdade absoluta, paz e socialismo. Algo recuou. Nota 5.
O VELHO QUE LIA ROMANCES DE AMOR de Rolf de Heer com Richard Dreyfuss e Hugo Weaving
Que bom ator que é Dreyfuss!!! Aqui ele faz um latino americano e realmente, sem nenhuma caricatura, ele se torna um latino americano do Amazonas! Richard Dreyfuss foi uma estrela nos anos 70 ( Tubarão, Contatos Imediatos ), mas ele foi sempre tão cool que jamais ligou muito para sua fama. Ainda é grande, muito grande.... Este bom filme ( e que não passou aqui ), fala de onça que mata pessoas na Amazônia. Dreyfuss é um homem velho que sempre viveu isolado, amigo dos índios e que lê livros banais de amor. Ele e alguns amigos ( e Hugo nunca esteve tão bem ) vão à caça. O filme é lento, respeitoso, nada new age. Uma bela surpresa! Nota 6.
UM BONDE CHAMADO DESEJO de Elia Kazan com Vivien Leigh, Marlon Brando, Karl Malden e Kim Hunter
Eis o gênio em ação. Brando cria o ator de hoje no fim dos anos 40. Sua atuação é tão violenta e sensual que causa espanto. Mas Vivien também está genial como a delicada Blanche Dubois, a falida dama que vai morar com a irmã em New Orleans e afunda na sordidez. Veja o modo como Brando repete o tal "código napoleonico", observe a riquesa dos cenários, os olhares patéticos de Leigh. Os diálogos de Tennessee Willians são poesia de primeira. E temos Kazan, o homem que entendia o significado da tal "crise familiar". É um filme para ser visto e estudado. Nota 9.
CINCO DEDOS de Joseph L. Mankiewicz com James Mason e Danielle Darrieux
Durante a segunda-guerra, mordomo da embaixada inglesa vende segredos militares aos nazistas. Tudo ocorre na neutra Ankara. E o filme sabe usar o clima turco. Mas tem mais: sabe criar suspense, sabe tirar proveito do rosto de James Mason ( e poucos atores sabem fazer canalhas tão bem ). Há uma frase que nos toca. O espião diz que vende segredos apenas pelo dinheiro. Seu sonho é fugir para o Rio. Diz ter visto uma vez, de um navio, um homem de smoking branco, fumando um cigarro em varanda sobre o mar, no Rio. Para ele, aquele era o homem mais feliz do mundo. Ele quer ser como ele. Não consegue. Ou quase. Mas o filme faz o que promete, é diversão de primeira classe. Nota 8.
MEU NOME É JOE de Ken Loach com Peter Mullan
Este fez sucesso em Cannes e deu prêmio de ator a Peter. Passa-se em Glasgow. Ele é um frequentador dos AA. Treina time de futebol e vive do seguro desemprego. Enamora-se de médica e tenta ajudar amigo envolvido com drogas. Loach é um homem a moda antiga. Ele se preocupa com o mundo real. Seus filmes falam do que acontece de verdade, ele não divaga. Uma informação: nos anos 60 havia uma corrente de criticos que odiavam Bergman. Diziam que seus filmes só podiam interessar a burgueses bem de vida com problemas existenciais recorrentes do tédio de se ter a barriga cheia. Que a vida real não era aquela. O tempo mostrou que aquela também era a vida real. Mesmo que de suecos ricos. Mas o que me incomoda hoje é que não se mostra mais a vida de gente pobre e normal. Sempre que se mostra um pobre ele é um traficante, um tarado serial ou uma prostituta. Parece que todo pobre americano é personagem de comédia ou louco perigoso. E todo pobre britânico seria um cara de filme de gangster. Isso não acontece com Ken Loach. Ele ainda crê na humanidade individual de cada personagem. Joe é rico em emoções, é comovente sem ser piegas e enfrenta o mundo da droga sem jamais parecer um personagem de cinema. O filme, verdadeiro e poético ao mesmo tempo, é obrigatório para quem perdeu a crença na força do cinema. Eu tenho a certeza de que é para filmes como este que ele foi criado pelos Lumiere. Um detalhe: o time de futebol joga com as camisas da Alemanha de 74. Assim, rimos aos ver o grosso do time correr com a camisa 5 de Beckembauer e o gordão com Muller às costas. Depois eles roubam uniformes e cometem aquilo que o técnico rival chama de "sacrilégio". Jogam com as sagradas camisas do Brasil de 1970. Pelé e Rivellino são citados. Escoceses pobres respeitam e idolatram a amarela camisa dos "deuses"da bola. Me parece que isso nos ensina algo. Nota 9.
O DIVÓRCIO DE LADY X de Tim Whelan com Laurence Olivier, Merle Oberon e Ralph Richardson
Fog em Londres. Fog tão forte que a cidade pára. Um casal que não se conhece fica em mesmo quarto para passar o fog. Ela se apaixona por ele, ele pensa que ela é casada.... Vemos uma comédia dos anos 30 para obter 3 coisas: alegria, calma e bem estar. Pessoas bonitas e bem vestidas em locais luxuosos esbanjando dinheiro e bons modos, dizendo frases alegres e espertas e sendo todo o tempo adoráveis. Este filme tem tudo isso. E ainda nos dá o prazer de ver Olivier fazendo Cary Grant e Ralph Richardson em seu jeito levemente louco de ser. Ver filmes como este é como tomar champagne gelada em noite de luar a beira-mar. Felizmente eles existem. Nota 7.

ELIA KAZAN/ WARREN BEATY/ TOTÓ/ PAUL GIAMATTI/ GAINSBOURG/ MICKEY ROURKE/ RENE CLAIR/ BERGMAN

TOTÓ PROCURA CASA de Mario Monicelli e Steno com O Grande Totó
Que humorista foi esse tal de Totó!!!! Que rosto! Não espere elaboração dele. Não espere "humor sofisticado". Totó é um palhaço, como Mazzaropi, como Renato Aragão, como Buster Keaton e o Jim Carrey dos bons tempos. Seu humor é infantil, direto, simples, e portanto corajoso. Aqui o objetivo é o riso, só o riso, se seu público não ri o humorista falhou, daí sua coragem. Neste filme ( dos primeiros desse fenômeno chamado Monicelli ) ele é um pai de familia sem casa. O filme mostra ele tentando achar lugar para morar ( tenta uma escola, cemitério e até no Coliseu ele se aloja ). Uma chanchadona que é de um doce saudosismo. Totó foi um graaaande comediante! Nota 7.
CLAMOR DO SEXO de Elia Kazan com Warren Beaty e Natalie Wood
Crítica abaixo... É mais um belo retrato da América feita por esse tão importante diretor. Warren está muito bem como o jovem aluno inocente e rico ( é seu primeiro filme ). Natalie não está a sua altura na primeira parte do filme, depois ela cresce e acaba por nos comover. Drama de primeira. Nota 8.
FAY GRIM de Hal Hartley com Parker Posey e Jeff Goldblum
Talvez um Alphaville? Uma brincadeira de Hartley que lamentávelmente não dá certo. Parker está muito sexy ! Mas que roteiro é esse???? Nota 2.
NINHO DE COBRAS de Joseph L. Mankiewicz com Kirk Douglas, Henry Fonda e Warren Oates
Pois bem... este é um filme muuuuito errado! Explico o porque. Temos David Newman e Robert Benton, os dois mais brilhantes roteiristas da época. Eles escrevem uma história sobre um cowboy ladrão e uma prisão de desajustados. O roteiro, típico da época contracultural, atira em xerifes, racistas, mulheres, westerns etc. Mas, chamam para dirigir o filme Joseph L. Mankiewicz, o diretor, excelente, de A Malvada. Um grande nome, mas um estranho no ninho!!! O que acontece então? Nada. O roteiro, cheio de boas ideias, é asfixiado numa direção acadêmica. O resultado é morno. Kirk é perfeito para esse tipo de perverso/espertinho e Fonda brinca com seu tipo de americano/Lincoln. Mas é Hume Cronyn, fazendo uma espécie de debilóide que mais impressiona. Não é uma grande comédia, mas é ok. Nota 6.
PASSION PLAY de Mitch Glazer com Mickey Rourke, Megan Fox e Bill Murray
A capa do dvd promete: Rourke como um trompetista de jazz decadente. O ambiente é Utah. Fox é uma angelical esperança de redenção e Murray um empresário sacana. Atraente né? Pois é um drama risível de tão ruim. Deve ter sido escrito por algum fã de cinema com 8 anos de idade ( o roteiro macaqueia Asas do Desejo e um monte de filmes noir dos anos 40 ), o diretor, é flagrante, pensava estar fazendo um bom filme, deve ser um nerd de 11 anos e quem o produziu crê que o público de cinema é imbecil. Megan Fox é um anjo ( ela tem asas )..... e na última cena Mickey Rourke voa com ela rumo ao céu.... se aqui descrito parece ruim, creia-me, é bem pior na tela. Chega a ser cretino. Sem nota. Faz de conta que jamais o vi.
SLOGAN de Pierre Grimblat com Serge Gainsbourg e Jane Birkin
Um publicitário conhece em Veneza Jane Birkin. Ele é casado. Se amam, mas Jane o abandona. Pois é.... eu gosto muito de Serge e este é o filme em que ele conheceu Jane. Mas que lixo é este? Serge é péssimo ator e Jane chega a rir em cena !!! O filme é constrangedor de tão amador!!! Não é um filme, é muito mais um documentário sobre um flerte. Nota 1.
PORTE DE LILÁS de René Clair com Pierre Brasseur e Henri Vidal
Em favela francesa ( sim, são barracos em ruinas ) um assassino se esconde. Fica no porão de um cantor fracassado e é ajudado por um tolo ingênuo. O filme tem belas imagens, mas se perde em sua excessiva glamurização da pobreza. Clair funciona melhor em fantasias puras, onde ele pode "levantar vôo". Nota 5.
ATRAVÉS DE UM ESPELHO de Ingmar Bergman com Harriet Andersson, Max Von Sydow, Lars Passgard e Gunnar Bjorsson
Uma obra-prima, devastadora. Retrato de uma personalidade em crise ou retrato de nossa condição desde sempre? Bergman nada enfeita, nada exagera, nada dramatiza. Faz o que ele pensa dever ser feito, sem jamais mudar de rumo. É um filme de tristeza polar, mas também de uma beleza profunda, seca, perturbadora. Nota DEZ.
A MINHA VISÃO DO AMOR de Richard J. Lewis com Paul Giamatti, Dustin Hoffman e Rosamund Pike
Uma coleção de clichés. Acompanhamos a vida de um mala por 3 décadas. Cliché: a década de 70 e suas drogas, a esposa doidona, a vida como irresponsável flerte. Segundo cliché: a segunda esposa é uma chata judia à woodyallen... Já a terceira esposa é dos tempos atuais, mais cliché: gente que só pensa em saúde e equilíbrio. No final, supremo cliché: violinos e pianinho enquanto ele sofre de doença incurável.... Os críticos gostaram? Pobre crítica! Paul Giamatti imita Jack Nicholson. Faz exatamente o tipo que ele faz desde 1983. Mas é bom ator. É imitação de bom nível. Dustin nada tem a fazer. Fica lá, como um tipo de velho tarado. A direção é franciscana: pobre. O filme já nasce velho e com cheiro de reprise do SBT. Nota 3.

ZAZIE/STAR TREK/JULIA ROBERTS/KILLSHOT

SERESTEIRO DE ACAPULCO de Richard Thorpe com Elvis Presley e Ursula Andress
O mais famoso filme de Elvis. Uma chatice. Nunca tinha notado como Elvis tem caras e bocas idênticas as que fariam a glória de Bowie e Ferry. Glamour. Mas o filme é tão chato! nota 1.
O AMERICANO TRANQUILO de Joseph L. Mankiewicz com Michael Redgrave e Audie Murphy. Eis um grande desastre. Mankiewicz, excelente diretor e roteirista, erra totalmente neste filme baseado num soberbo livro de Graham Greene. Passa-se no Vietnã pré-americano, o Vietnã-francês. Trata de ciúmes, americanismo e europeísmo. No filme se perde tudo: não há politica, não há humor negro. Há uma versão de John Boorman, com Pierce Brosnam e Brendan Fraser que é igualmente ruim. O genial Redgrave está perdido aqui. nota 1.
KILLSHOT de John Madden com Mickey Rorke e Diane Lane.
Miss Lane continua absurdamente bonita. Rourke continua escolhendo mal seus filmes. E agora chega: filmes de FBI, petrodólares, ex-agentes...cansou!!!!! nota zero.
STAR TREK de JJ Abrams com uns caras.
Vamos falar a real ? Vamos parar de bobagem ? Uma diversão como esta não pode ser criticada por alguém que fala sobre cinema. Seu objetivo é o mesmo da TV ou do Hopi Hari : o máximo de emoção com o minimo de risco. Deve ser analisado não em termos de roteiro, atuações ou direção. Deve ser julgado como investimento e retorno. Voce gasta uma grana para ter bom acompanhamento para pipocas e Coca, para ter emoção fácil, saudável e limpa. Voce recebe o que pediu. Como num grande parque, num circo ou na Disney. Analisado como cinema, cinema pop, ele é previsível, idêntico a dúzias de filmes anteriores. Apenas um fato : pra que atores ? Desenhos animados fariam tudo o que eles fazem e melhor. nota... qualquer uma. Não faz a menor diferença. O que conta é que a sala estava cheia.
O EXTERMINADOR DO FUTURO de McG com Bale, Sam e Moon
Tudo que foi dito acima vale para este. Com um agravante : o diretor tenta fazer cinema, não consegue, irrita. Bale se tornou uma caricatura. Diverte pouco. Dou nota : zero.
DUPLICIDADE de Tony Gilroy com Julia Roberts e Clive Owen
Adorei o inicio. Promete muito. Parece que será aquilo que o filme ridiculo de Brad e Jolie deveria ter sido. Tem classe, agilidade e algum bom humor. O diálogo parece ser acima do nível rasteiro de hoje... mas então... o diretor se deslumbra e se perde. Começa a destruir tudo o que "parecia" e vemos o que o filme é : veículo para a volta de Julia, única real estrela de sua geração. Ela não compromete, já Owen começa a saturar : ele tem duas únicas expressões, usa-as com constância de relógio. Uma bela fotografia. nota 4.
BANDEIRANTES DO NORTE de King Vidor com Spencer Tracy
De Bogart à Brando, de Sean Penn à De Niro, todos dizem que Tracy é o maior. Eu não gosto de Tracy. Este filme, do muito importante Vidor, é aborrecido, racista, ultrapassado. nota 1.
ZAZIE NO METRÔ de Louis Malle com Catherine Demongeot e Philippe Noiret
Após tantos filmes ruins, algum alivio vem da França. Deste mítico filme de Louis. Faça-se justiça à Malle, ele foi o melhor cineasta da época da nouvelle vague. Tinha o anarquismo de Goddard com o apuro de Resnais. E uma poesia que remete a Clair e Cocteau. Que filme é este ? Impossível dizer!!!! É uma versão de Alice de Lewis Carrol passada na Paris de 1960? É uma homenagem à Keaton, Chaplin e aos irmãos Marx? É o pai dos melhores video-clips? E dos filmes dos Beatles? É um filme sem sentido nenhum ? É tudo isso junto! É o mundo visto pelos olhos de uma criança feliz. É a única tentativa na história do cinema de se fazer aquilo que seria um filme dirigido por uma criança. Por Zazie. Malle consegue. Viva!!!! nota 8.
VIRTUDE FÁCIL de Stephen Elliot com Jessica Biel e Colin Firth
Eu adorei este filme bobo. Ainda não passou em nossas telas e duvido muito que passe. É uma adaptação de um texto de Noel Coward pelo diretor de Priscilla, rainha do deserto. Jessica não compromete ( não gosto dela, acho-a esquisita, bocuda ) e Colin ( de quem sempre gosto ) está excelente. Trata de uma tradicional familia inglesa, que recebe o retorno de seu filho, casado com uma "moderna" americana. O conflito, em tom de ironia, se dá. A mãe não aceita a moça e ela não aceita a vida na mansão campestre. Coward obteve imenso sucesso com esta peça. Ela era tudo o que ingleses e americanos queriam assistir : cinica, leve e cheia de inteligencia. E hoje? Existe público para um filme onde tudo de melhor que acontece está vinculado àquilo que é dito e não àquilo que é feito ? Onde tudo é refinado, sutil, sub-entendido? Gostaria muito que sim, e é sintomático uma entrevista de Jessica em que ela diz ter sido "um prazer dizer aquele texto tão inteligente. Pena hoje não falarmos assim!" O público entendirá ou se entediará ? Músicas de Coward abrilhantam o filme ( e algumas de Porter também ) e todo o resto do elenco está delicioso ( com excessão do filho, um fraco e bobinho menino ). No fim, o filme vai se acinzentando e se torna um bom drama de final risonho ( mas não feliz ). Adorei. É um prazer, uma raridade e com certeza será um lindo fracasso. nota 8.

rápidinho-, comentários e notas

.QUEIME DEPOIS DE LER dos Coen. Em ano muito ruim, se destaca fácil. nota 8.
VICKY CRISTINA BARCELONA de Woody Allen. Um tipo de Eric Rhomer pop. Woody acerta na leveza, Scarlet naufraga, Bardem brinca e Penelope estraçalha. nota 8.
AGENTE 86 de alguém que não importa. Uma lástima. nota zero.
THE READER de Daldry. Com Winslet. Kate está caricatural. Sua alemã parece uma alemã feita por uma inglesa. O filme aborrece e agita sempre um cartaz onde se lê : arte! - pois não o é. Trata-se de presunção do pior tipo. Risquem o nome de Daldry do meu caderno. nota 1.
CLUBE DOS PILANTRAS de John Landis com Belushi. Nunca foi dos meus favoritos. Penso que John Belushi nunca fez um filme a altura de seu potencial. nota 3.
YOUNG MAN WITH A HORN de Michael Curtiz com Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Filme sobre jazz. É baseado na vida de Bix Beiderbecke. Kirk se esforça, mas voce percebe que o diretor não entende de jazz. E nem se interessa. nota 2.
O MAIOR AMANTE DO MUNDO de Gene Wilder. Um tímido americano caipira se torna o novo Valentino. Gene dirige sem inspiração. Parece Mel Brooks de segunda mão. 3.
O IRMÃO MAIS ESPERTO DE SHERLOCK HOLMES de Gene Wilder. nota zero.
EXPRESSO DE CHICAGO de Arthur Hiller com Gene Wilder, Jill Clayburgh e Richard Pryor. Funciona. Muito agradável, é o que chamo de pop honesto. Assume o que pretende e o atinge. nota 6.
CENAS EM UM SHOPPING de Paul Mazursky com Woody Allen e Bette Midler. Um casal discute a relação num shopping. Só isso. O filme é um tipo de análise pop para trintões. Mazursky surgiu em 1970 como enorme promessa. Ficou pelo caminho. Nota 3.
OURO É O QUE OURO VALE de Walter Graham com James Coburn. Faroeste de humor. Mas o pastelão passa do ponto. fuja!!!!!! zero.
SARGENTO YORK de Howard Hawks com Gary Cooper.
York fez enorme sucesso na época da segunda guerra e deu a Cooper seu oscar. Conta a saga de um caipira que se torna herói. Sem querer e sem ter noção do que faz. Ele é um tipo de Garrincha da guerra. Todos que me acompanham sabem do meu amor pelo cinema falsamente simples de Hawks. Quem já tentou fazer qualquer tipo de arte sabe que o mais dificil é transformar o grande trabalho em prazer. Parecer fácil o que é dificil. Hawks sempre consegue isso. Relaxar e deixar rolar. Mas York não me agrada. Há algo de muito carola, de muito falso aqui. Provavelmente Hawks se sentiu pressionado pelo clima de guerra e fez um filme travado. Um anti-Hawks. Gary Cooper está muito bem. nota 3.
A CONDESSA DESCALÇA de Joseph l. Mankiewicz com Bogart e Ava Gardner. Bem... Mankiewicz é o maravilhoso diretor de clássicos como A Malvada e O Fantasma Apaixonado. É considerado um mestre do diálogo, da interpretação. Mas este muito pretensioso filme erra em sua análise do que seria Hollywood. Conta a história de uma espanhola que via publicidade se torna grande estrela. Mas ela é ninfomaníaca e se casa com principe italiano impotente. Bogey está sobrando neste filme. Ava está bonita. Mas o filme não evolui. 3.
A IDADE DA REFLEXÃO de Michael Powell com James Mason e Helen Mirren. Escrevi um comentário mais longo sobre este delicioso filme abaixo. Procure. Se voce achou que o pintor feito por Bardem no filme de Woody é muito chavão, veja James Mason neste filme. Aqui vemos aquilo que um pintor realmente é. Helen resplandece. Sua sensualidade é uma aula para JessicasBiels e NataliesPotmans. Ela é de carne e osso. E brilha como o sol deste filme feliz. Mais uma dentre a dúzia de obras-primas de Powell. Nota DEZ.
O FIO DA NAVALHA de Edmund Goulding com Tyrone Power, Gene Tierney e vasto etc. O livro de Someset Maugham é uma deliciosa novela pop que fala da falta de sentido da vida. O personagem, Larry, volta da guerra traumatizado e roda o mundo atrás do nirvana. Lí o livro já 3 vezes e se trata de um best-seller com suprema habilidade e vasta ambição. O filme pega tudo isso e transforma numa pecinha escolar sobre ciúmes e dor de cabeça. Chato e ofensivo. Um detalhe: Power interpretou dois de meus mais amados personagens : larry aqui e o narrador de O sol também se Levanta. O fato de ele afundar os dois filmes diz muito sobre o que Hollywood é. nota 1.
A FACA NA ÁGUA de Roman Polanski. Trata-se do primeiro longa de Polanski, feito ainda na Polonia num maravilhoso preto e branco. 3 personagens e aquele clima claustrofóbico do qual ele é mestre. ( aliás, Roman já nasce mestre aqui. o filme tem a segurança de um veterano ). Casal dá carona a jovem e o leva para velejar. Nasce o suspense. Todas as enquadrações de cameras são belíssimas, os atores estão muito bem orientados, e a história nunca se trona monótona e nos hipnotiza. Um filme muito barato, muito simples, muito original e totalmente acessível de um diretor que nos daria a obra-prima Chinatown. nota 8.
QUEM MATOU LEDA? de Claude Chabrol com Bernadette Lafont e Jean Paul Belmondo. Crítica escrita abaixo. Leia que vale a pena. O filme é direto, vibrante, profundo e inesquecível. Fotografia de Decae genial e um Belmondo divetidissimo. nota 8.
AS DIABÓLICAS de Clouzot com Simone Signoret. Foi refilmado com Sharon Stone e Isabelle Adjani. Um desastre essa refilmagem. Este é asfixiante, paranóico, muito habilidoso e um prazer absoluto. nota 7.